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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 63-83 OUT.

2009

REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E DE


GOVERNANÇA E SUA ANÁLISE A PARTIR DA
WEBSPHERE ANALYSIS1

Mario Procopiuck Klaus Frey

RESUMO

Com o presente artigo propõe-se uma discussão sobre a Policy Websphere Analysis como abordagem
metodológica de análise de arranjos organizacionais e suas relações expressas no ciberespaço, buscando
explicitar lógicas de políticas públicas em contexto de redes de políticas. Sob essa abordagem, serão
apresentados resultados de uma pesquisa que buscou apreender e interpretar a lógica relacional, sustenta-
da em valores e normas subjacentes aos arranjos organizacionais, das práticas sociopolíticas destinadas a
viabilizar a difusão social de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) em Porto Alegre e Curitiba.
Será apresentada a morfologia reticular de tais arranjos, por meio de gráficos construídos a partir de sítios
de Internet e hyperlinks, que, em essência, constituem-se em meios representativos de potenciais espaços de
interação política e de valores sociopolíticos comunicados por organizações articuladas em arranjos de
governança representados na esfera virtual. Entendemos que a mais importante contribuição da Policy
Websphere Analysis para a compreensão da esfera pública contemporânea, pelo menos até este momento,
consiste na possibilidade de delineamento dos novos espaços de apresentação e discussão de informações,
idéias, ações e projetos, tendo estes espaços crescente importância para a atuação das redes de políticas em
processos de governança pública.
PALAVRAS-CHAVE: Policy Websphere Analysis; Hyperlink Analysis; Social Network Analysis; Redes
Sociotécnicas de Políticas; governança pública.

I. INTRODUÇÃO websphere analysis como abordagem metodológica


capaz de explicitar a formação e articulação de
Este artigo pretende contribuir para a discus-
redes de políticas públicas apoiadas na Web. O
são sobre as possibilidades de análise de arranjos
estudo de complexos contextos sociopolíticos em
organizacionais e suas relações expressas no
que se articulam diferentes atores para concreti-
ciberespaço, enfatizando o potencial da policy
zar ações junto a comunidades locais passa a re-
querer sofisticadas abordagens metodológicas, de
cunho tanto qualitativo quanto quantitativo. É
1 Este artigo está baseado em resultados dos projetos de importante que tais abordagens permitam levar em
pesquisa Governança e redes sociais na era digital, sob consideração aspectos sociológicos, políticos,
coordenação do Professor Klaus Frey e financiado pelo tecnológicos e ideológicos que sustentam e dão
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
sentido aos fluxos informacionais estruturantes de
Tecnológico (CNPq); Redes técno-sociais e a gestão demo-
crática da cidade, com coordenação-geral da Professora arranjos organizacionais sob lógica reticular.
Tamara Egler (cf. EGLER, 2006), que contou com o apoio Nesses arranjos, a interatividade comunicati-
do Fundo Regional para o Desenvolvimento da Internet
para a América Latina e o Caribe (FRIDA-LACNIC); e da
va passa crescentemente a catalisar forças com
Dissertação de Mestrado em Gestão Urbana, de Mario potencial de gerar, ampliar e democratizar novos
Procopiuck, apresentada na Pontifícia Universidade Cató- espaços de governança pública emergentes da for-
lica do Paraná (PUC-PR) (cf. PROCOPIUCK, 2007). Uma mação de constelações sociopolíticas compostas
primeira versão deste artigo foi apresentada no Seminário por atores públicos, semipúblicos e privados, to-
Temático 25 – Políticas públicas: métodos e análises –, do dos com interesses diversos, mas convergindo
XXXI Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), reali-
para determinadas esferas da vida sociopolítica.
zado entre 22 e 26 de outubro de 2007, em Caxambu, Mi- Nessa perspectiva é que, em termos teóricos, pro-
nas Gerais. põe-se, neste artigo, a abordagem da Policy

Recebido em 2 de fevereiro de 2009.


Aprovado em 25 de fevereiro de 2009.
Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 17, n. 34, p. 63-83, out. 2009
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REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E DE GOVERNANÇA

Websphere Analysis para a identificação, delinea- Analysis como instrumento analítico capaz de re-
mento e análise das emergentes esferas públicas alçar a dinâmica relacional típica de políticas
virtuais que se formam em torno de políticas pú- conflitivas que se desenvolvem em contextos
blicas específicas. sociopolíticos crescentemente interativos e nos
quais diferentes tipos de atores buscam alcançar,
Como tentativa de melhor compreender a rea-
ao mesmo tempo, resultados particulares e coleti-
lidade das estruturas relacionais delineadas no
vos. A Policy Analysis permite, pois, abordar si-
ciberespaço por organizações atuantes na política
multaneamente as inter-relações institucionais, os
de difusão social de Tecnologias de Informação e
processos políticos e o conteúdo da política arti-
Comunicação nas cidades de Curitiba e Porto Ale-
culada.
gre, o presente artigo, com base na análise de da-
dos obtidos em pesquisa empírica, tem por obje- A Policy Analysis compreende procedimentos
tivo: 1) apresentar métodos de aplicação da abor- metodológicos que visam identificar e apreender
dagem Policy Websphere Analysis para identifi- elementos formadores ou constitutivos da com-
car, visualizar e analisar as novas configurações plexa esfera de ação sociopolítica em distintas ati-
de redes sociotécnicas de políticas; e 2) apresen- vidades analiticamente manejáveis. O enfoque da
tar e analisar uma rede de atores de governança, Policy Analysis permite descrever as relações in-
procurando compreender as relações, expressas ternas e os contornos externos, por mais tênues
no ciberespaço, entre organizações do setor pú- que sejam, das redes político-administrativas com-
blico, do setor privado e do terceiro setor com postas por diferentes tipos de atores pertencentes
relevância para a governança no âmbito da políti- ao setor público, ao setor privado e à sociedade
ca em questão. civil organizada.
II. ABORDAGEM TEÓRICO-CONCEITUAL A abordagem em questão permite a observa-
PARA O ESTUDO DAS REDES SOCIOTÉC- ção de microprocessos sem ignorar sua inserção
NICAS DE POLÍTICAS em macroprocessos de elaboração e execução de
políticas e de programas articulados em uma es-
Nesta seção do trabalho são inicialmente apre-
fera pública ampliada. Com isso, facilita a identi-
sentados alguns fundamentos da análise de políti-
ficação das instituições envolvidas, das perspecti-
cas públicas; na seqüência, é discutida a aborda-
vas estratégicas por elas adotadas e dos fluxos de
gem das redes de políticas públicas como
diferentes recursos que as ligam e as tornam
ferramental de análise das novas práticas de
interdependentes em processos sociopolíticos
governança em sistemas sociais policêntricos; fi-
particulares, para cujas características o foco de
nalmente, pretendemos formular o atual desafio
análise é voltado.
inerente ao estudo de redes sociotécnicas de polí-
ticas. A Policy Analysis, portanto, tem por objetivo
uma melhor compreensão da complexidade
Com vistas a explicitar efeitos e explicar leis e
relacional, cada vez mais interativa e dinâmica, do
princípios próprios das políticas, os estudos en-
sistema político-administrativo em ação, ou seja,
volvendo políticas públicas no Brasil, principal-
na elaboração e execução de políticas públicas.
mente até as últimas décadas do século passado,
Além disso, oferece importantes instrumentos
tenderam a ser descritivos e com distintos graus
avaliativos desenhados especialmente para a ob-
de complexidade analítica e metodológica. Muitas
tenção de subsídios para o aprimoramento da ges-
vezes foram conduzidos de modo dissociado de
tão pública e dos processos políticos ao permitir
macroprocessos, centrando-se em
pôr em evidência o posicionamento dos diferen-
microabordagens tendentes a realçar análises es-
tes atores e os efeitos de suas decisões no seu
truturais com foco voltado para instituições, ou
entorno relacional.
procuravam delinear processos de negociação res-
tritos a políticas setoriais específicas (FREY, 2000, Com este enfoque da Policy Analysis, é pos-
p. 213-214). sível, por conseguinte, ampliar a abrangência ana-
lítica, superando limitações impostas pelas abor-
Mais recentemente, como alternativas
dagens que se restringem a considerar isolada-
metodológicas para a investigação de políticas
mente a dimensão institucional (polity) ou a di-
públicas, foram propostas novas abordagens,
mensão político-processual (politics) da política.
como o fez Frey (2000) ao tratar da Policy

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A Policy Analysis caracteriza-se justamente por Essas regras constituem-se em condicionantes que
permitir a confluência dessas duas dimensões e servem de diretrizes para o comportamento es-
seu tratamento concomitante com a dinâmica das tratégico dos atores políticos, voltado ao delinea-
ações estratégicas envolvidas em redes (FREY, mento e execução de ações formais e informais
2000; MARQUES, 2003, p. 18), sendo estas desses atores em determinada esfera ou setor da
estruturadas com lastro em valores simbólicos que política.
interferem nos fins da articulação coletiva, nos
Considerando concomitantemente o conteúdo
fluxos materiais e imateriais e nos meios
material que define o escopo de uma dada política
relacionais, utilizados com propósitos voltados ao
e seu âmbito institucional, que interfere na sua
alcance de objetivos conjuntos em dados contex-
lógica e dinâmica processual, torna-se possível
tos sociopolíticos.
identificar e analisar as configurações de redes
A abordagem das redes de políticas, por um temáticas, de maior ou menor grau de abertura. A
lado, oferece bases teórico-conceituais que per- estrutura relacional típica das redes de políticas é
mitem a apreensão, com maior grau de objetivi- passível de se revestir de identidade própria, fren-
dade, de processos e estruturas na elaboração e te a outras configurações, pela possibilidade da
execução de políticas públicas, os quais ocorrem participação ser tendencialmente mais ampla e
em um ambiente político de crescente fluidez aberta. O fluxo de entrada e saída de atores, cada
institucional. Por outro lado, passam a oferecer um com seus diferentes pontos de vista sobre os
ferramental metodológico que permite apreender resultados, tende a tornar as interações fluídas e
relações empiricamente observáveis e, a partir dis- formar uma ampla gama de centros instáveis de
so, representar agrupamentos (clusters), proces- tomada de decisão. Em contrapartida, há menos
sos de intercâmbio de recursos, fluxos de influ- contatos formalmente institucionalizados entre
ências, interdependências de metas e objetivos; e, grupos e governos – portanto, menos regras for-
finalmente, analisá-los sob as diferentes perspec- mais a serem necessariamente seguidas. Logo,
tivas dos atores envolvidos. Com isso, é possível tendem a existir tentativas de imposição de pon-
definir e analisar posicionamentos dos atores co- tos de vista e/ou negociações de compromissos
letivos ou individuais na respectiva estrutura no processo de tomada de decisão, uma vez que a
reticular, sendo esta estrutura constituída a partir unanimidade é raramente possível. Os canais de
da confluência de interesses condicionados por comunicação são caracterizados por os atores
valores coletivos comuns e, pelo menos parcial- poderem expressar publicamente suas opiniões,
mente, conflitantes. sem, contudo, possuírem qualquer garantia de que
serão seguidos pelos demais. Isso dependerá da
Em termos metodológicos, sob a perspectiva
força de convencimento de seus argumentos e da
das redes de políticas, em primeiro lugar, é identi-
credibilidade e reputação institucional ou pessoal
ficado o conteúdo a partir do qual se define o con-
de cada ator. Nas redes temáticas abertas, a re-
texto e o escopo em que os jogos políticos são
compensa dos atores reside na possibilidade de
travados e, subseqüentemente, é possível a apre-
influenciarem os resultados da política.
ensão de ações colaborativas relacionadas a pro-
cessos interativos convergentes para determina- Diante de tais características é mais provável
das assuntos ou interesses. Ao tratar processual- que nessas redes a elaboração de políticas de ca-
mente tais interações, como constitutivas do ci- ráter público seja mais plural e com tendência a
clo das políticas, as redes de políticas podem ser maiores possibilidades de conflitos. Aliado a isso,
vistas sob influências de conjuntos de regras for- elas tendem a desenvolver-se geralmente em no-
mais e informais que governam as interações en- vas áreas em que inexiste um grupo dominante e
tre o Estado e os interesses organizados. Essas onde não há instituições formalmente estabelecidas
regras, nesse processo, podem ser qualificadas que possibilitem a exclusão de interessados
como instituições por normalmente serem de na- (BLOM-HANSEN, 1997, p. 676; EVANS, 1998;
tureza geral, basearem-se em práticas e significa- KLIJN, 1999; ZURBRIGGEN, 2005). Nas novas
dos compartilhados, serem de conhecimento da arenas públicas interativas em surgimento, os ato-
maioria dos atores e por se estruturarem e estabi- res buscam, portanto, interferir estratégica e arti-
lizarem-se em decorrência de repetitivas interações culadamente em diferentes dimensões da política
em redes (MARCH & OLSEN, 1994, p. 250). com vistas a formular, defender e selecionar cur-

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sos de ação destinados à resolução de problemas As redes de políticas, assim, podem ser vistas
em questões substantivas da vida sociopolítica. É como relacionadas a sistemas simbólicos. Nessa
importante frisar que, nesse contexto, de acordo linha, Pierre Bourdieu (2005, p. 9; cap. V), ao
com Windhoff-Héritier (1987), Prittwitz, (1994) descrever os sistemas simbólicos, os vê como
e Frey (2000, p. 221-222), mesmo que, em geral, instrumentos de conhecimento e de comunicação
as barreiras de acesso às redes de políticas do mundo social. Neles, pois, as estruturas
costumeiramente sejam baixas, se comparadas relacionais simbólicas condicionam as relações
com as estruturas institucionalizadas da política, sociais e exercem um poder estruturante dos pro-
existem redes em que o número de envolvidos cessos de interação nos respectivos campos so-
tende a ser pequeno e as barreiras de acesso, al- ciais ou, no caso de redes de políticas públicas,
tas. campos de políticas. O poder simbólico que
permeia os processos de construção da realidade
Nessas estruturas de organização para articu-
tende, então, a atribuir um sentido ao mundo so-
lação sociopolítica, conseqüentemente, os atores
cial. As estruturas simbólicas permitem também
deixam de ser representados como simples con-
uma concepção tendencialmente homogênea quan-
juntos amorfos de participantes em eventos isola-
to a relações lógicas que tornam possível a con-
dos. Em termos analíticos, passam a ser conside-
cordância de se chegar a um “consensus acerca
rados ativamente a partir da gênese de sistemas
do sentido do mundo social que contribui funda-
relacionais que ganham forma e consistência no
mentalmente para a reprodução da ordem social”
decorrer do tempo, originando complexas estru-
(idem, p. 10); permitem também o surgimento de
turas de governança com identidade própria em
solidariedades sociais resultantes dos agentes sen-
torno de conteúdos específicos de políticas que
tirem-se participantes de dada função social. Esta
lhes interessam. Nessas estruturas, com diferen-
função social não se limita a uma mera função de
tes níveis de coesão relacional, o posicionamento
comunicação, mas assume uma autêntica função
e as capacidades de articulação de cada agente
política. Por conseguinte, os símbolos constitu-
individual para afetar os resultados coletivos nas
em-se em “instrumentos por excelência de
decisões políticas são os meios disponíveis para
integração” (idem, p. 9) e servem, pois, de ele-
interferir no curso de suas próprias ações e das
mentos importantes para a articulação de conhe-
dos demais atores. Nesse ponto, justamente, sur-
cimentos e a comunicação na estruturação do sen-
ge a lógica interativa das ações estratégicas indi-
tido do mundo social.
viduais frente aos propósitos coletivos.
Como em qualquer outro espaço social, a in-
Essas esferas da política, por tais razões, pas-
serção numa rede de políticas públicas significa,
sam a ser concebidas como sistemas reticulares
portanto, de um lado, identidade sociopolítica e
sociopolíticos abertos em que os agentes que as
moral, baseada em valores compartilhados, e com
integram não atuam isoladamente, mas são mutu-
isso a possibilidade de atuação solidária, de outro,
amente influenciados em função da disponibilida-
é resultado de relações de poder que se manifes-
de de recursos, de interesses e de estratégias que
tam numa luta política permanente, “luta ao mes-
condicionam a dinâmica de negociação na formu-
mo tempo teórica e prática pelo poder de conser-
lação e execução das políticas e iniciativas. Os
var ou de transformar o mundo social conservan-
mútuos intercâmbios, em conseqüência das de-
do ou transformando as categorias de percepções
pendências de recursos durante as interações,
desse mundo.” (idem, p. 142). Estar em redes de
acabam por consolidar uma estrutura relacional
políticas significa, portanto, também submissão a
específica e estruturar o contexto simbólico em
um campo de forças, isto é, a “um conjunto de
que as redes de políticas estão inseridas. Não é
relações de força objectivas impostas a todos os
suficiente, portanto, levar em consideração, em
que entrem nesse campo e irredutíveis às inten-
consonância com uma visão estruturalista das re-
ções dos agentes individuais ou mesmo às
des, “os sítios identificáveis de influência e de
interações directas entre os agentes” (idem, p.
poder”, mas ao mesmo tempo é preciso contem-
134). A análise de redes de políticas públicas pre-
plar “a dimensão simbólico-cognitiva e discursiva”
tende justamente captar essa dinâmica relacional
subjacente à estrutura de governança da rede
que caracteriza esse peculiar campo de forças
(GUALINI, 2005, p. 293).
sociopolíticas.

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Entretanto, na análise de redes de políticas, isto pela viabilização de interações na Internet, aca-
é, na captação da dinâmica e da lógica das esferas bam por se configurar em elementos estruturais
relacionais articuladas em processos particulares básicos nas relações entre sítios eletrônicos
imersos em amplos contextos sociopolíticos, o (websites) na rede mundial de computadores.
foco pode concentrar-se nas dimensões sociais,
Nos estudos das relações sociais, os hyperlinks
técnicas ou simbólicas das relações estabelecidas.
deixam de ser considerados simples dispositivos
As redes simbólicas merecem especial atenção,
tecnológicos e passam a ser vistos como um emer-
principalmente pelas possibilidades por elas ofe-
gente canal de informação e de comunicação
recidas para a análise das relações políticas, haja
interativa pelo qual valores passam a ser transmi-
vista que “a política é o lugar, por excelência, da
tidos entre sítios. Os hyperlinks passam, então, a
eficácia simbólica, acção que se exerce por sinais
ser vistos como elementos estruturais simbólicos
capazes de produzir coisas sociais e, sobretudo,
representativos de relações entre atores na Internet,
grupos” (idem, p. 159). Alain Touraine (1969, p.
expressando virtualidades de colaboração e de tro-
66) chega a afirmar que, no contexto sociopolítico,
ca de informações entre diferentes entidades que
“a ação é inconcebível sem o emprego de expres-
se estruturam no ciberespaço em redes represen-
sões simbólicas”.
tadas por tais dispositivos tecnológicos. Além dis-
As redes de políticas passam a ser vistas, en- so, passam também a constituir-se em ferramen-
tão, como representação de espaços relacionais tas por meio das quais a qualquer cidadão é per-
simbólicos que atribuem sentido ao conteúdo es- mitido traçar suas rotas particulares de navegação
tratégico e às ações individuais e coletivas de ato- na Internet em função de seus próprios interes-
res envolvidos em políticas de caráter público. ses. Desta forma, quanto mais bem organizados,
Essas redes, quando associadas a estruturas de mais significativos e com maior número de
redes sociais (meios relacionais em que agentes hyperlinks, em maior número serão as alternati-
sociais articulam-se entre si por intensa comuni- vas disponibilizadas para os cidadãos buscarem
cação e intercâmbio de recursos para formação e informações no ciberespaço.
mobilização de grupos de interesses para execu-
Estudos têm evidenciado que os enlaces entre
ção de propósitos comuns) e às redes técnicas
os sítios da Internet não são distribuídos
(infra-estruturas técnicas viabilizadas pelas novas
randomicamente no ciberespaço, mas passam a
TICs como meios interativos de intercâmbio de
constituir comunidades ou agrupamentos
recursos em ações relacionais) permitem o
(clusters), que expressam identidades em contex-
surgimento das redes sociotécnicas de políticas.
tos simbólicos específicos nessa ampla esfera vir-
Com a expansão da Internet, que ganhou for- tual (cf. PARK; BARNETT & NAM, 2002;
ça na década de 1990, ganham força correntes de WALKER, 2002; PARK, 2003; PARK &
estudos das redes sociais que passam a tratar das THELWALL, 2003; FRY, 2006; HEIMERIKS &
relações entre diferentes tipos de agentes nesse BESSELAAR, 2006; ROSA; FREY &
novo ambiente comunicacional interativo, surgin- PROCOPIUCK, 2007; PROCOPIUCK & ROSA,
do daí trabalhos que abordam as redes 2009). Nessas comunidades virtuais têm origem
sociotécnicas, explicitadas mediante o mapeamento as redes sociotécnicas de políticas, passíveis de
de hyperlinks como meios de suporte de relações serem explicitadas mediante o mapeamento dos
políticas e sociais entre atores (cf. PARK; nós (simbolizados pelos sítios eletrônicos) e dos
BARNETT & NAM, 2002; FOOT et alii, 2003). enlaces (representados por hyperlinks) que os
Tecnicamente, os hyperlinks são conceituados interconectam. Esse mapeamento permite deline-
como mecanismos que estabelecem conexões que ar e explicitar cenários simbólicos singulares – o
vão de uma página da Internet a outra, ou de uma que se denomina websphere – construídos a partir
página a um arquivo, mas normalmente a do compartilhamento de valores ou interesses
interconexão ocorre entre páginas. O acionamento comuns entre os atores. No caso da identidade da
do hyperlink é feito mediante um clique que abre websphere ser determinada pela vinculação dos
ou mostra um navegador da Internet. Normalmen- atores a um dado conteúdo de política, a partir de
te, os hyperlinks são também usados para baixar sua lógica relacional, tem origem uma rede
arquivos (download) ou abrir programas de cor- sociotécnica de política, com contornos própri-
reio eletrônico. Esses dispositivos tecnológicos, os. Nessa rede, sob diferentes perspectivas, po-

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REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E DE GOVERNANÇA

dem ser identificadas posições estruturais dos di- construídos, logicamente relacionados, e passí-
ferentes atores, centrais ou periféricos, bem como veis de serem individualmente captados e inter-
captadas suas ações e intenções estratégicas de- pretados. Uma policy websphere situa-se como um
claradas em direção ao conteúdo temático das meio informacional e, ao mesmo tempo, de ex-
ações pretendidas ou efetivamente empreendidas. pressão de articulações estratégicas voltadas à
obtenção de legitimação e integração reflexiva em
Nessa linha, a idéia-base da Websphere Analysis
meio a outros distintos processos institucionais
ganha relevância e, portanto, justifica-se agregá-
implexos em amplos contextos de relações
la às bases da Policy Analysis e da Análise de
sociopolíticas. Os papéis expressos na policy
Redes Políticas, chegando, deste modo, à abor-
websphere em tais contextos explicitam, assim,
dagem da Policy Websphere Analysis. Esta passa,
modos de participação em um universo que inclui
assim, a articular perspectivas políticas, socioló-
e transcende a ordem institucional. Nessa esfera
gicas, tecnológicas e comunicacionais no
da manifestação sociopolítica no ciberespaço, são
ciberespaço com vistas a apreender e interpretar
virtualmente dispostos e passíveis a serem locali-
realidades sociopolíticas virtualizadas ou
zados acontecimentos coletivos, incluindo ações
atualizadas nessa esfera pública relacional amplia-
passadas, presentes e perspectivas estratégicas
da. Sob as premissas do conceito da policy
futuras dos atores nelas envolvidos. As informa-
websphere, recorrendo às técnicas da Social
ções que circulam na websphere registram a me-
Network Analysis, torna-se possível analisar as
mória de valores compartilhados pelos atores e
características dos atores que a compõem, o
servem para informá-los e atribuir legitimidade às
macro-ambiente simbólico por ela delimitado, bem
ações desenvolvidas coletivamente. Em relação ao
como a distribuição espacial e posicional dos ato-
futuro, nelas são estabelecidos amplos quadros
res em função de relações de poder dentro de uma
de referência para ações coletivas vindouras.
rede de política (cf. PROCOPIUCK, 2007;
PROCOPIUCK & FREY, 2007). A Policy Em termos práticos, as fronteiras da policy
Websphere Analysis, portanto, permite descrever websphere são delimitadas pela estrutura relacional
e analisar essas novas configurações de esferas formada por um conjunto de sítios vinculado a
públicas e processos políticos interativos no âm- um conteúdo temático específico dentro de um
bito do ciberespaço, revelando o papel facilitador contexto espacial e temporal sob investigação. Os
da tecnologia na promoção de novos espaços pú- sítios eletrônicos relacionados ao objeto ou ao tema
blicos que ganham expressão a partir da repre- da pesquisa são identificados, capturados no seu
sentação de relações ocorridas na realidade con- contexto, indexados digitalmente, preferencialmen-
creta, que apenas tornaram-se possíveis ou mais te com alguma periodicidade para análises retros-
efetivas por meio do uso da Internet. pectivas, contemporâneas e/ou para projeções de
cenários futuros. Dessa base de dados relacionais
III. DEFINIÇÃO DE POLICY WEBSPHERE
são extraídas informações que, por meio da apli-
Conceitualmente, na policy websphere, que cação de técnicas de quantificação e de classifi-
funciona como uma macro-unidade de análise, a cação, são transformadas em metadados utiliza-
Internet deixa de ser vista como uma simples co- dos para expressar propriedades das relações en-
leção de sítios eletrônicos, e passa a ser concebi- tre os atores. As redes de políticas que permeiam
da como um conjunto interconectado de recur- o ambiente sociopolítico definido pela policy
sos digitais que se expandem por múltiplos sítios websphere passam a representar topologias soci-
e são considerados relevantes ou relacionados a ais e políticas nas quais diferentes atores, com
um “objeto”, um tema ou uma política específica. suas perspectivas sociais e ideológicas, estão
Essa perspectiva possibilita a análise de realidades implexos em ações coletivas articuladas por siste-
delineadas em função de conteúdos temáticos, mas de governança com identidades e sentidos
sendo as relações entre produtores e usuários próprios que os distinguem dos outros.
mediadas e potencializadas por elementos estru-
IV. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DE
turais característicos dos sítios eletrônicos, os
COLETA E PROCESSAMENTO DE DADOS
chamados hyperlinks.
Para o embasamento metodológico foi toma-
Uma policy websphere pode ser concebida
do como suporte o processo descrito por Fábio
como uma matriz que traduz, no ciberespaço,
Duarte (2002, p. 246), que compreende a apreen-
conjuntos de significados socialmente

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são de uma realidade fática e sua transcrição para composição da rede a ser delineada venha a refle-
o universo informacional e, com base nisso, pre- tir características relacionais do ator inicial, haja
vê a geração de modelos, a captação, a filtragem e vista que este exerce influências que determina-
a organização de informações expressas no rão a inclusão dos demais atores na rede. Por tal
ciberespaço (“desterritorializadas”) para a cons- motivo reveste-se de grande importância a esco-
trução e representação de um universo lha de um ator, ou de um conjunto de atores, com
informacional em um ambiente computacional características relacionais significativas quanto à
capaz de representar aspectos essenciais da reali- aderência à temática em exame e à base territorial
dade. Disso segue a necessidade de sua delimitada. Neste sentido, a literatura adverte que
“reterritorialização”, agora de caráter a qualidade dos dados obtidos pelo método “Bola
informacional, em que dados são organizados em de Neve” é condicionada por uma criteriosa sele-
modelos, que, por sua vez, podem ser articulados ção do ponto de partida natural para a coleta de
para a reconstrução de processos sociais e políti- dados, que bem represente as características das
cos, ou sujeitos a simulações, que podem visar a relações entre os atores dentro da população estu-
conhecer o espaço abrangido sob condições pre- dada (SCOTT, 2000; HANNEMAN & RIDDLE,
sentes, futuras ou hipotéticas. 2005).
A principal preocupação inicial da pesquisa foi Sob tais premissas, procurou-se identificar uma
buscar meios de obter dados relacionais sob de- instituição com atuação representativa na formu-
terminada função capaz de mantê-los coerentes e lação e execução de políticas de difusão social de
consistentemente organizados. Com esta finalida- TICs em âmbito local. Com este objetivo foi dado
de, foi desenvolvido um programa em ACCESS início a levantamentos na Internet, por meio da
para armazenamento e processamento de infor- utilização da ferramenta de buscas Google, e
mações provenientes dos sítios eletrônicos. Nes- acessados os sítios eletrônicos de instituições lo-
se banco de dados, foram registradas as relações calizadas em Curitiba e atuantes na política de di-
representadas pelos hyperlinks que conectam tais fusão social de TICs. Na análise, e com apoio em
centros nodais de informações no ciberespaço. A conhecimentos prévios dos pesquisadores, foi
extração de medidas relacionais foi realizada por considerada a representatividade das suas relações
meio do programa UCINET (cf. ANALYTIC com outras instituições em nível local, regional,
TECHNOLOGIES, 2002a) e a geração de grafos nacional ou internacional, expressas no
mediante utilização do programa NetDraw (cf. ciberespaço.
ANALYTIC TECHNOLOGIES, 2002b). Toda a
A partir de tais procedimentos, decidiu-se ini-
coleta de dados relacionais foi realizada entre os
ciar os trabalhos de coleta de dados a partir do
meses de julho e agosto de 2006 e teve, como
sítio do Instituto Curitiba de Informática (ICI).
fonte exclusiva de consulta, a Internet.
Este instituto é o principal fornecedor de infra-
O conteúdo da política tratado pela pesquisa estrutura, representada por equipamentos e pes-
foi definido como “difusão social de TICs” e o soal técnico especializado, para atender às neces-
espaço geográfico abrangeu as cidades de Porto sidades da Prefeitura Municipal de Curitiba que
Alegre e Curitiba. Curitiba foi definida como a ci- envolvam a aplicação de TICs para condução de
dade de início da pesquisa e, dentro dela, como políticas públicas locais. Aliado à representatividade
ponto de início da coleta de dados (ou de primei- do ICI na condução da política local de difusão
ra ordem), buscou-se identificar uma instituição social de TICs, ao analisar seu sítio eletrônico, foi
com atuação relevante na política em estudo. também constatado o registro de vários projetos
e um número significativo de hyperlinks que o
Depois de definida a temática, a cobertura ge-
conectam com importantes instituições públicas,
ográfica, desenvolvido o sistema para registro e
privadas e do terceiro setor envolvidas com tais
estruturação de dados, o universo da pesquisa foi
políticas em âmbito local e supra-local.
delimitado por meio da aplicação da técnica deno-
minada “Bola de Neve”, ou Snowball, cujo Em termos procedimentais, desde o ponto ini-
detalhamento operacional é descrito abaixo. Na cial da coleta de dados, os hyperlinks identifica-
aplicação desse método, há tendências de que a dos nos sítios pesquisados eram acedidos e, de-

69
REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E DE GOVERNANÇA

pois de analisados, classificados estruturalmente quisa. A definição de cada um desses três tipos de
como relacionados ao conteúdo temático da pes- hyperlinks consta do Quadro 1, a seguir.

QUADRO 1 – CATEGORIAS RELACIONAIS ENTRE ATORES

FONTE: Os autores.

Com suporte nas premissas classificatórias ficação com fundamento nos conceitos trazidos
definidas no Quadro 1 foi aplicado o método “Bola no Quadro 1. Das três possibilidades de classifi-
de Neve”. Neste processo, após identificação e cação, eram selecionados aqueles sítios cujos ato-
classificação dos hyperlinks – que partiam do sí- res enquadravam-se na categoria atores nuclea-
tio eletrônico de primeira ordem – pertencentes res. Estes passavam então a constituir-se em
aos atores nucleares, eram todos enquadrados referencial para aceder os sítios de terceira or-
como apontando para sítios de segunda ordem de dem. Em relação a estes, eram aplicados os mes-
atores nucleares, de parceiros temáticos ou de sim- mos critérios classificatórios a que se submete-
ples hyperlinks de referência, como representado ram os de segunda ordem. Esse procedimento foi
esquematicamente na Figura 1. aplicado sucessivamente até o esgotamento das
possibilidades de surgimento de novas instituições
Depois de acedidos todos os sítios apontados
que preenchessem as condições para serem in-
por aquele de primeira ordem, eram então avalia-
cluídas na ordem seguinte.
dos os respectivos conteúdos e feita a sua classi-

FIGURA 1 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DO PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS

FONTE: Os autores.

70
REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 63-83 OUT. 2009

Dos sítios pertencentes aos atores nucleares neste quadro passaram a constituir o substrato
foram registrados os dados institucionais arrola- analítico por meio do qual foi possível classifi-
dos e definidos no Quadro 2, que se configuram car, segundo a tipologia expressa no Quadro 1,
como atributos individuais dos atores. Os dados as relações de cada um dos 311 sítios
coletados de acordo com as diretrizes trazidas pesquisados.

QUADRO 2 – ATRIBUTOS INDIVIDUAIS DOS ATORES NUCLEARES PESQUISADOS

FONTE: Os autores.

Derivada da convergência de iniciativas – trazidas pelo Quadro 1, foi definida uma quarta
espelhando ações ou projetos em execução nas categoria relacional chamada de parcerias em ações
cidades de Porto Alegre e/ou Curitiba – dos atores e projetos, definida no Quadro 3.
classificados em qualquer das três categorias

QUADRO 3 – CONVERGÊNCIA DE ATORES PARA PARCERIAS EM AÇÕES E PROJETOS

FONTE: Os autores.

71
REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E DE GOVERNANÇA

Na categoria definida no Quadro 3, o critério sociopolíticos é a Conferência Mundial sobre a


básico utilizado para enquadramento dos Sociedade da Informação de 2005, como pode
hyperlinks foi a constatação de atuação concreta ser verificado no seguinte excerto: “Além dos
da organização por eles apontada em ações ou pro- embates naturais que surgem com a questão do
jetos de difusão social de TICs em Porto Alegre e/ acesso à informação, o evento tornou-se simboli-
ou Curitiba. Sob esse critério, portanto, foram camente sensível em razão da escolha do local
consideradas as relações tanto de atores nucleares para essa segunda fase da Conferência. O para-
e parceiros temáticos quanto de hyperlinks de re- doxo é evidente: a Tunísia, conhecida pelo des-
ferência. respeito constante de liberdades individuais, in-
cluindo restrições severas à veiculação de infor-
V. FORMAÇÃO DE UMA POLICY WEBSPHERE
mação na Internet, recebe atualmente os delega-
A PARTIR DE UMA REDE DE DIFUSÃO SO-
dos de vários países para uma conferência sobre
CIAL DE TICS.
acesso à informação.
Uma policy websphere pode emergir a partir
Em razão desses paradoxos, a Anistia Interna-
de relações cooperativas previamente existentes
cional, tradicional militante na defesa dos direitos
em redes de políticas públicas ou impulsionada
humanos, lançou uma campanha em seu website
por eventos específicos que originam um proces-
com o objetivo de acabar com as restrições à li-
so de articulação via Web. Como exemplo de um
berdade de expressão e ao acesso à informação
processo de sedimentação de normas e valores
no país. O website da ONG conta atualmente com
com a finalidade de consolidação de uma esfera
um longo relatório de monitoramento sobre a pro-
Web de política pode ser tomada a V Oficina de
teção de direitos humanos na Tunísia” (A TUNÍSIA
Inclusão Digital, de 2006, que deu origem à Car-
E A CONFERÊNCIA INTERNACIONAL, 2005).
ta de Porto Alegre: Por um compromisso com a
Inclusão Digital no Brasil, elaborada sob as dire- As intenções e recomendações expressas por
trizes do Plano de Ação da Cúpula Mundial so- tais movimentos sociopolíticos culminam por se
bre a Sociedade da Informação, de 2003, que, tornar referência para a formação e o reconheci-
por sua vez, busca o desenvolvimento de uma mento de domínios de políticas e, como diretri-
Sociedade da Informação que inclua a todos, per- zes, para a mobilização e estruturação da ação de
mitindo o amplo acesso às TICs. Nessa mesma atores articulados para a consecução de iniciati-
linha, mais recentemente, na Conferência Mundi- vas e projetos comuns, como é o caso da difusão
al sobre a Sociedade da Informação, realizada em social de TICs; ou, indo além, como se depreende
duas etapas, em Genebra (2003) e em Tunis do seguinte trecho: “[...] é preciso reconhecer que
(2005), uma pluralidade de atores globais reuniu- as contradições do mundo atual permitiram, pelo
se para a redefinição de papéis e regras de menos, uma unificação no discurso das ONGs li-
governança exercida sobre a Internet, o livre aces- gadas à proteção de direitos humanos e as suas
so à informação, com discussões sobre exclusão irmãs preocupadas com o acesso à informação.
e inclusão digital, dentre outros assuntos. Assim, de repente, defensores de prisioneiros po-
líticos e especialistas em propriedade intelectual
Movimentos e eventos como os citados cons-
viram-se lado a lado e pisando sobre o mesmo
tituem-se e buscam instituir sistemas de referên-
barco” (idem; sem grifos no original).
cias estruturados por intermédio da adoção de es-
tratégias simbólicas pelas quais os agentes líderes Contribuindo com tais objetivos de mobilização
do movimento procuram explicitar a sua visão do para a ação, a Internet, como canal interativo de
mundo social, dos problemas ou tópicos de inte- comunicação, tem se transformado em uma are-
resse, de modo a definir claros contornos do seu na de intensiva expressão intencional e espontâ-
espaço de atuação. Com isso, intentam mobilizar, nea de identidades organizacionais específicas,
catalisar e coordenar esforços coletivos para a ação que, ao serem agregadas, correlacionadas e
sociopolítica dentro de estruturas emergentes de adjungidas, passam a definir e a representar macro-
governança para definição de diretrizes globais de ambientes sociais e políticos que influenciam e
referência e de suporte a iniciativas locais, que, são influenciados pelas ações individuais e coleti-
de outro modo, tenderiam a permanecer isoladas vas dos atores que os integram. Nesse ambiente
ou desconectadas. Exemplo desse tipo de estraté- estruturado pelas TICs, “grupos sociais se adap-
gia de ação simbólica de reforço de valores tam de modo a elevar sua interconectividade, con-

72
REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 63-83 OUT. 2009

solidar sua identidade e fortalecer sua capacidade figura resultou do mapeamento das relações de
para atuar em um mundo cada vez mais 31 atores nucleares com atuação na rede de difu-
interdependente” (FREY, 2005, p. 184). são social de TICs nas cidades de Porto Alegre e
Curitiba. Nela passam a ser representadas, além
O conhecimento dos atores envolvidos, de suas
do espaço geográfico e do conteúdo da política
posições relativas, de temáticas abrangidas por
inicialmente delimitados, organizações atuando em
seus interesses e de suas intenções e ações estra-
diversos outros segmentos de ações sociais e em
tégicas permitem explicitar e compreender a lógi-
diferentes contextos locais, nacionais e internaci-
ca dos arranjos de governança que lhes dão sus-
onais.
tentação dentro de domínios de políticas. A partir
disso, as redes de políticas passam a revestir-se Na Figura 2, os losangos amarelos espelham
de identidade temática e a permitir a identificação as diferentes áreas de interesses (conteúdos
e análise de concentrações de atos, do processo temáticos ou de políticas) para as quais são
de sedimentação de normas e valores comuns e a direcionados hyperlinks originados nos sítios dos
distribuição de recursos em ações e projetos de- atores nucleares. O tamanho dos losangos é dire-
senvolvidos intencionalmente e concretizados tamente proporcional ao número de hyperlinks que
mediante ações articuladas em que se ajustam pers- recebem dos demais atores. A espessura das li-
pectivas políticas, sociais e ideológicas. nhas é diretamente proporcional ao número de
hyperlinks que partem do sítio eletrônico de cada
As propostas e ações entre os atores que com-
uma das instituições nucleares em direção a ou-
põem a emergente policy websphere, em que se
tras organizações cujo foco está direcionado para
inserem as redes sociotécnicas de políticas, aca-
diferentes políticas ou áreas de interesse. Ressal-
bam por expressar certas uniformidades quanto a
ta-se que, para não comprometer a nitidez da fi-
intenções e objetivos. Estes, depois de publica-
gura, foi definido o número máximo de 15 rela-
mente declarados e difundidos, tendem a se auto-
ções refletidas em um único enlace. Deste modo,
impor aos seus emissores e passam a regular suas
há proporcionalidade entre o número de relações
ações no contexto social. Com isso, havendo a
e a espessura somente até este limite. Na realida-
definição da identidade da própria policy websphere
de, o número de relações por instituição pode che-
e, à conta das relações assentadas em regras e
gar a 37, como é o caso da Prefeitura de Porto
valores particulares compartilhados pelos atores
Alegre em relação à Política de Difusão Social de
que a constituem, podem caracterizar e definir
TICs, como detalhadas quantitativamente na
identidades próprias de redes sociotécnicas de po-
sociomatriz representada no Quadro 4.
líticas que nela inserem-se e entrelaçam-se.
A Figura 2, de pronto, exemplifica o surgimento
VI. REPRESENTAÇÃO DA TOPOLOGIA DA
de uma variedade de áreas de interesses às quais
POLICY WEBSPHERE QUE ENVOLVE
as organizações estão vinculadas. Tal figura, ao
UMA REDE DE DIFUSÃO SOCIAL DE TICS
definir a topologia da policy websphere, bem ex-
A leitura e o mapeamento dos sítios, o registro pressa “que o espaço social é um espaço
e interpretação das missões institucionais, dos ob- multidimensional, conjunto aberto de campos re-
jetivos e dos relatos vinculados às ações sociais lativamente autônomos” (BOURDIEU, 2005, p.
desenvolvidas por conjuntos de organizações em 153), ocupados por uma diversidade de atores com
dado campo da política, tornam possíveis, além interesses centrados em diversos aspectos de dada
do descortinamento de amplos movimentos esfera de ação sociopolítica. A emergência desses
sociopolíticos, a identificação e avaliação daque- diversos campos, partindo da consideração dos
las que acabam por se destacar dentro de domíni- interesses individuais das instituições que os inte-
os ou redes sociotécnicas de política. Com a aná- gram, decorre do fato de “que certos interesses
lise das relações estratégicas empreendidas e serão comuns a todos os membros de uma cole-
mantidas por organizações com ações no âmbito tividade. Por outro lado, muitas áreas [...] só te-
de uma policy websphere, sob a qual redes rão importância para alguns tipos. Estes últimos
sociotécnicas de políticas ganham contornos, po- implicam uma incipiente diferenciação, pelo me-
dem ser delineados universos de valores sociais e nos no sentido em que se atribui a esses tipos um
políticos, conforme representado graficamente na significado estável” (BERGER & LUCKMANN,
Figura 2. A policy websphere representada por essa 1985, p. 90).

73
REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E DE GOVERNANÇA

FIGURA 2 – WEBSPHERE EM QUE ESTÁ IMPLEXA A REDE DE DIFUSÃO SOCIAL DE TICS EM PORTO
ALEGRE E CURITIBA

FONTE: Os autores.

Em meio à diversidade de políticas ou áreas de dos 31 atores considerados como nucleares na


interesse expressas na Figura 2, surge naturalmen- rede de difusão social de TICs de Porto Alegre e
te, como resultado do próprio método empregado Curitiba para diferentes políticas ou áreas de inte-
para a coleta de dados, a rede de política de difu- resse que compõem a policy websphere. Os quan-
são social de TICs com posição central na policy titativos e percentuais relativos às políticas de di-
websphere, recebendo 57% de todas as 442 rela- fusão social de TICs estão destacados pelas colu-
ções mapeadas. No Quadro 4, é demonstrada a nas acinzentadas da sociomatriz abaixo.
distribuição desse número de relações que partem

QUADRO 4 – POLÍTICAS OU ÁREAS DE INTERESSE DOS ATORES NUCLEARES


ATORES NUCLEARES

74
REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 63-83 OUT. 2009

ATORES NUCLEARES

FONTE: Os autores.
NOTAS: * A) Difusão Social de TICS; B) Indústria, Comércio e Serviços; C) Educação; D) Cultura; E) Desenvolvimento
Comunitário; F) Comunicações; G) Saúde; H) Ensino de Xadrez; I) Combate à Pobreza; J) Outras 23 áreas com
oito ou menos relações;
** O número que aparece antes do nome do ator corresponde ao setor a que ele pertence: 1) Público; 2) Privado; e 3)
Terceiro Setor.
*** Significado das siglas e abreviações: Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura; Porto Alegre-Pref. – Prefeitura Municipal de Porto Alegre; CDI-PR – Comitê para Democratização da Informática;
FPD – Fundação Pensamento Digital; CELEPAR – Companhia de Informática do Paraná; PROCERGS – Companhia de
Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul; BTelecom – Brasil Telecom S.A.; PROCEMPA – Companhia
de Processamento de Dados do Município de Porto Alegre; ICI – Instituto Curitiba de Informática; CEX – Centro de
Excelência de Xadrez; Unisys – Unisys Brasil Ltda.; CEMINA – Comunicação, Educação e Informação em Gênero; APC
– Associação Paranaense de Cultura; NET – NET Brasil; Curitiba-Pref. – Prefeitura Municipal de Curitiba.

Em relação à Figura 2 e aos dados quantitati- ras das redes, e mesmo extrapolando a configu-
vos expressos no Quadro 4, considerando os fins ração de amplos domínios políticas, “em termos
das ações voltadas essencialmente à elevação das de sua funcionalidade social externa não preci-
possibilidades de acesso a melhores padrões lo- sam ser integradas em um único sistema coeren-
cais de qualidade de vida de indivíduos de menor te. Podem continuar a coexistir com base em de-
poder aquisitivo, verifica-se que há certa correla- sempenhos separados. Mas, [reflexamente], en-
ção e convergência entre a política de difusão so- quanto esses desempenhos podem ser separados,
cial de TICs e as políticas de educação, cultura, os significados [emanados de todas as ações co-
desenvolvimento comunitário e combate à pobre- letivas que representam] tendem para uma cons-
za que integram a policy websphere que se ciência pelo menos mínima [do contexto, ou do-
explicitou. Esses espaços de convergência dentro mínio, social mais amplo em que se inserem]...”,
de amplos domínios de políticas sociais aproxi- com tendência a aumentar à medida que cada ator,
mam-se do que Volker Schneider e Raymund Werle com diferentes interesses, compartilha com ou-
(1991, p. 98-99) descrevem como a configura- tros seus significados em relações de “reciproci-
ção de um campo em que diferenciadas, mas re- dade dotadas de sentido nos processos de
lativamente estáveis redes de políticas estruturam- institucionalização” (BERGER & LUCKMANN,
se e sobrepõem-se umas às outras no 1985, p. 91) de amplos valores sociopolíticos so-
processamento de problemas relacionados a polí- bre os quais estrutura-se determinada sociedade.
ticas específicas. Essas redes, contudo, não são
Na Figura 3, são representadas as cidades em
subsistemas nitidamente delineados, pois muitas
que estão localizadas geograficamente as institui-
vezes acabam por transcender os limites clássi-
ções que fazem parte da policy websphere repre-
cos do domínio de uma política específica e por
sentada pela Figura 2. No Quadro 5, são
se sobrepor relativamente a outros domínios, sem
quantificados os hyperlinks recebidos e que par-
que haja, contudo, prejuízo quanto à identificação
tem de cada uma das principais cidades represen-
do próprio domínio ou das próprias redes.
tadas na Figura 3. A partir da sociomatriz-base da
A complexidade das relações envolvendo di- qual se originou a Figura 3, foram excluídas to-
versas áreas de interesse ou políticas, como as das as linhas ou colunas que apresentassem
evidenciadas pela Figura 2, para além das estrutu- somatório igual ou menor a quatro relações por

75
REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E DE GOVERNANÇA

enlace. Como resultado, foi mantida a represen- quadro abaixo são computados todos os tipos de
tação de 88% das relações (=538÷608), ou seja, relações entre os sítios. Isso significa que entre
deixaram de ser contempladas apenas 70 relações. um par de sítios podem estar sendo contabilizadas
É importante notar que tanto na rede quanto no diversas relações.

FIGURA 3 – REDE DE CIDADES ABRANGIDAS

FONTE: Os autores.

QUADRO 5 – RELAÇÕES ENTRE CIDADES

FONTE: Os autores.

76
REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 63-83 OUT. 2009

VII. REDE SOCIOTÉCNICA DE POLÍTICA DE Na Figura 4, os diferentes tamanhos dos


DIFUSÃO SOCIAL DE TICS IMPLEXA NA losangos amarelos variam em decorrência do nú-
WEBSHPERE mero de instituições que participam da execução
do respectivo projeto ou ação. Utilizando a termi-
De modo sintético, a representação da rede de
nologia específica da Social Network Analysis, as
política viabilizada pela Figura 4, de acordo com
áreas dos losangos são proporcionais ao in-degrees
parâmetros trazidos por Alain Touraine (1969, p.
de cada ação ou projeto. Os círculos simbolizam
63), permite, ao considerar as orientações
as organizações participantes na execução das
normativas que indicam os fins buscados pelos
ações ou projetos. A diferenciação do tamanho de
atores, definir o sentido das relações entre sujei-
cada um dos círculos é diretamente proporcional
tos e objetos de sua ação, bem como definir as
ao número de ações ou projetos em que cada uma
posições relativas entre sujeitos no processo de
das organizações participa: ou seja, ao out-degree
interações. Isso tudo, além de indicar a amplitude
de cada um dos atores2. Também, na Figura 4, há
e a capacidade de ação dos sujeitos quando se
a classificação das organizações correspondente
trata de avaliar as articulações internas à rede
ao setor a que pertencem. Os círculos verdes iden-
sociotécnica de política que veio à tona. A ampli-
tificam organizações públicas; os azuis, organiza-
tude temática é representada pela Figura 2, ao passo
ções do setor privado; e os vermelhos, organiza-
que a amplitude geográfica tem representação na
ções do terceiro setor.
Figura 3.

FIGURA 4 – REDE DE AÇÕES E PROJETOS EM PORTO ALEGRE E CURITIBA

2 O out-degree mede a expansividade de um ator na rede, flete a popularidade de um nó, que, por sua vez, é expressa
ao passo que o in-degree mede a receptividade ou popula- pelo número de vezes que um ator é eleito por outros
ridade desse ator (IACOBUCCI, 1997, p. 126). O in-degree dentro da rede (WASSERMAN & FAUST, 1997, p. 170;
pode ser denominado também de degree prestige, que re- 202).

77
REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E DE GOVERNANÇA

A rede acima aproxima-se do que Erik-Hans Além de permitir visualizar a macroestrutura


Klijn (1999, p. 30) chama de conjuntos de organi- da rede da política de difusão social de TICs nas
zações agrupadas em torno de conjuntos de ações cidades de Porto Alegre e Curitiba, a Figura 4 tam-
específicas nas quais agentes sociopolíticos ten- bém serve como referencial para explorar, em ní-
tam atingir objetivos em torno de um propósito vel micro, quem nela participa e a quais idéias,
concreto em que são intercambiados recursos, al- concepções e valores cada instituição vincula-se,
mejando a obtenção de resultados estratégicos in- sendo estes subjacentes a cada projeto ou ação
dividuais e, ao mesmo tempo, comuns aos parti- representados. Em essência, a rede representada
cipantes. materializa um cenário de ação em que cada agen-
te constitui-se em auxiliar, parceiro ou colabora-
A consideração de ações concretas para a ava-
dor para os demais participantes de cada uma das
liação da ação social, segundo Alain Touraine
65 iniciativas. Considerando qualquer dessas ini-
(1969, p. 19), é importante, já que uma ação soci-
ciativas isoladamente, é possível notar que cada
al somente pode existir se estiver orientada para
organização participante, em função dos proces-
certos objetivos e orientações coletivas concre-
sos de interação que as originaram, tem suas pers-
tas. Não basta, portanto, que seja tratada somente
pectivas objetivas e subjetivas contempladas, en-
em termos de intenções individuais; por se tratar
tretanto, em diferentes graus e com diferentes ato-
de processo essencialmente coletivo, a ação soci-
res. Agora, se considerados atores com participa-
al em rede é sustentada por sistemas de relações
ção em mais de uma iniciativa, é evidenciado a
interativas geradoras de inovação, criação e atri-
sua interação com outros diferentes atores e em
buições de sentidos capazes de despertar e mobi-
diferentes situações, sendo as formatações obser-
lizar novos atores por meio de sistemas simbóli-
vadas resultado das peculiaridades intrínsecas de
cos que ganham corpo a partir de realizações com
cada projeto ou ação; desta maneira, tais relações
reflexos concretos sobre a vida de pessoas que
de interatividade geram um profícuo espaço para
convivem em determinada comunidade.
o intercâmbio de conhecimentos e experiências.
Na Figura 4, os losangos amarelos espelham
Nesse processo interativo espelhado pelas
ações ou projetos em que há convergência de es-
ações executadas conjuntamente pelos atores ar-
forços de duas ou mais organizações. A partir da
ticulados em rede, agora em nível macro,
rede de difusão social de TICs, é trazido à tona um
descortina-se um ambiente em que há mescla de
espaço interativo emergente da interação de diver-
diferentes perspectivas subjetivas desses agentes.
sos atores vinculados em virtude de uma iniciativa
Com isso, é possível gerar uma estrutura em rede,
que se constitui em ponto de convergência que
interinstitucional e “extra-individual”, revelada a
assegura unidade do funcionamento do sistema de
partir da conjunção de diferentes valores sociais,
ação visando alcançar objetivos específicos em prol
políticos e ideológicos, resultante da participação
de determinada comunidade.
de atores pertencentes aos setores público, priva-
Ao se considerar as intenções estratégicas im- do e terceiro setor. Nesse ambiente, cada um des-
plícitas dos atores, a Figura 4 permite visualizar tes três grupos de agentes comparece com suas
globalmente uma estrutura de governança baseada próprias regras e valores que os distinguem polí-
em relações que condicionam uma constelação de tica e socialmente. As diferentes perspectivas
organizações em torno de projetos dos quais parti- normativas que influenciam a conduta dos atores
cipam. Também é evidenciada, à conta do número pertencentes a cada um dos setores representa-
de projetos em que participam, a posição relativa dos neste ambiente relacional esboçado acabam
de cada uma dessas organizações dentro da rede por se ajustar e se conformar ao serem materiali-
em questão. Outra informação trazida pela figura é zadas em ações e projetos que revertem resulta-
a simbolizada pela importância relativa de cada ins- dos concretos no seio das comunidades locais em
tituição ou iniciativa; a medida in-degree, neste caso, que se desenvolvem. Neste sentido, dão origem a
expressa, de um lado, a capacidade de mobilização um espaço para constituição de representações
das organizações iniciadoras em favor de suas idéi- meta-sociais, conforme processo descrito por
as e propostas e, de outro, a atratividade ou reputa- Peter Berger e Thomas Luckmann (1985, p. 91),
ção de cada instituição na rede sociotécnica ou, que poderão determinar características peculia-
respectivamente, das próprias idéias e propostas e res que distinguirão a rede sociotécnica de políti-
da sua força de articulação e integração. ca de difusão social de TICs em Porto Alegre e

78
REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 63-83 OUT. 2009

Curitiba perante outras redes estruturadas a partir ções. Por outro lado, fortalece sua imagem perante
de temáticas ou delimitações geográficas distin- os demais membros do grupo ao expressar sua iden-
tas. tidade” (TOURAINE, 1969, p. 70).
Na Figura 4, verificando as diferentes cores Agora, por outro lado, analisando o número
dos nós, pode ser constatada e contabilizada a par- de ações e projetos em que cada uma das organi-
ticipação relativamente equilibrada dos três seto- zações representadas na Figura 4 participa, tem-
res em termos numéricos nos 65 projetos e ações se que 103 (71%) tomam parte de apenas uma
das, ao todo, 142 diferentes organizações. Dentre iniciativa; 15 (10%) participam em duas; nove
essas organizações, 46 (32%) pertencem ao setor (6%), em três; e 17 (12%) estão vinculadas a
público; 47 (33%) ao setor privado; e 49 (35%) quatro ou mais iniciativas. Essa relativamente bai-
são integrantes do terceiro setor. Este equilíbrio xa amplitude de participação em diferentes inicia-
relativo dos setores na composição da rede revela tivas pode ter diferentes explicações: por um lado,
uma tendência que cada vez mais caracteriza o o fato da política de difusão social de TICs não ser
provimento de bens sociais e de serviços públicos a única que merece atenção da maioria das organi-
básicos: um maior peso do setor privado, o que zações envolvidas, ou até de se constituírem em
traz, de um lado, mais recursos e possibilidades organizações que têm tal participação como “aces-
de suprir as necessidades sociais crescentes, mas, sória” das suas principais atividades ou fins
de outro, aumentam também as possibilidades de institucionais (o que deve ser o caso, sobretudo,
uma ingerência ou predominância dos interesses de empresas privadas que atuam motivadas primor-
econômicos na execução de políticas públicas. dialmente pela idéia da responsabilidade social
Esta observação tem uma peculiar relevância no corporativa); de outro lado, o fato de algumas or-
caso de projetos de difusão social de TICs, uma ganizações constituírem-se em atores iniciantes do
vez que para as empresas de telecomunicações, respectivo campo de política, ou, ainda, o fato de
não por acaso as empresas mais ativas nesta área, se dedicarem única e exclusivamente a um projeto
a ampliação do acesso às TICs é diretamente vin- ou atividade em função da sua própria precarieda-
culada com seus interesses econômicos. de institucional (o que é uma condição de muitas
organizações não-governamentais, sobretudo num
Analisando a Figura 4, quanto à distribuição
campo novo como é a difusão social de TICs).
geográfica entre as duas cidades estudadas, ago-
ra com foco nas ações e projetos, verifica-se tam- Independentemente do motivo que levou a
bém a existência de certo equilíbrio numérico, mas maioria das organizações a se envolverem em ini-
com pequeno viés em favor de Porto Alegre: 30 ciativas únicas, figura-se, em si, como aspecto
(46%) das iniciativas são conduzidas nesta cida- importante dentro da política, o fato de que tais
de e 27 (42%) em Curitiba, sendo que oito (12%) organizações foram movidas a se inserir em um
abrangem ambas as cidades. ambiente de sociabilidade com finalidade de atuar
cooperativa e efetivamente em busca de resulta-
No caso específico da política de difusão so-
dos concretos em benefício de comunidades lo-
cial de TICs nas cidades de Porto Alegre e
cais. Neste ponto, abre-se uma importante pers-
Curitiba, os níveis de participação e de interação
pectiva para o desenvolvimento de outros estu-
em ações conjuntas indicadas na Figura 4, por si
dos mais aprofundados para buscar explicações para
só, sugerem terreno fértil para internalização e
a realidade que se descortinou; por exemplo, com
externalização de normas e valores entre as orga-
o objetivo de avaliar se há uma tendência de
nizações participantes e, portanto, entre as diferen-
envolvimento de tais organizações com maior nú-
tes localidades. A atuação conjunta dos atores pa-
mero de iniciativas com o decorrer do tempo. Nes-
rece indicar que estes estão mutuamente orienta-
sa linha, há interessante estudo empreendido por
dos para demandas de ordem social; senão, sinali-
Peter Spink (2000), que oferece importantes
za ao menos a superação da ação puramente indivi-
parâmetros comparativos quanto ao número de
dual por atuações cada vez mais coletivas. De qual-
entidades envolvidas em iniciativas sociais no Bra-
quer modo, há indicação da emergência de algum
sil.
grau de sociabilidade e identidade compartilhada,
uma vez que “o ator se identifica com um grupo, a Finalmente, quanto à participação em iniciati-
um sujeito coletivo; superando assim, sua indivi- vas, expressando propriedades posicionais na rede,
dualidade compartilhando normas, valores, inten- destacam-se, no quesito centralidade, a

79
REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E DE GOVERNANÇA

PROCEMPA – Empresa de Tecnologia da Infor- no aprimoramento dos processos de governança,


mação e Comunicação de Porto Alegre –, com aumentando sua eficiência, mas também a trans-
nove participações, e as prefeituras de Porto Ale- parência e as possibilidades de participação de-
gre (10) e de Curitiba (14), no setor público; no mocrática.
setor privado, têm maior relevância o Banco do
O universo simbólico retratado pela policy
Brasil (seis), a Microsoft (seis) e a Brasil Telecom
websphere e, dentro dela, pelos referenciais indi-
(nove). No terceiro setor, sobressaem-se a Fun-
viduais e coletivos que orientam as ações articula-
dação Pensamento Digital (oito) e o Instituto
das por redes sociotécnicas de políticas emergen-
Curitiba de Informática (13 participações). Im-
tes, é resultado da expressão de valores comuns
portante notar que a Fundação Pensamento Digi-
institucionalizados e da sua publicização nos síti-
tal e, por conseqüência, as ações e projetos em
os eletrônicos que o compõem. Estes sítios, como
que participa contam com amplo envolvimento de
lugares de expressão de normas e valores
atores privados e do terceiro setor, ao passo que
institucionais, apresentando relações que conver-
aqueles desenvolvidos pelo Instituto Curitiba de
gem para atividades e projetos comuns, sendo
Informática contam com o envolvimento princi-
passíveis de serem mapeados pelo rastreamento
palmente da Prefeitura Municipal de Curitiba.
dos hyperlinks que os entrelaçam no ciberespaço,
VIII. CONSIDERAÇÕES FINAIS passam a estruturar e a fundamentar uma identi-
dade simbólica da policy websphere que eles inte-
Pretendeu-se neste artigo demonstrar o poten-
gram. No ciberespaço, tendo como mecanismo
cial da Policy Websphere Analysis em contribuir
de sua gênese a utilização das potencialidades
para a compreensão do novo ambiente interativo
trazidas pelos hyperlinks, cada policy websphere
do ciberespaço no que tange à sua influência so-
passa a representar uma topografia passível de
bre as redes de políticas públicas ou de governança,
ser navegada e investigada por qualquer interes-
as quais, diante do esgotamento do modelo
sado em função daquilo que julga importante quan-
“estatocêntrico” de gestão pública, tornaram-se
to a informações correlacionadas e disponibilizadas
cada vez mais dominantes tanto nas práticas de
relativamente à temática e aos contornos geográ-
gestão como nas reflexões teóricas sobre estas.
ficos que lhe interessam.
As reflexões teóricas empreendidas neste tra-
Dentro de um contexto de ação social mais
balho, bem como as recentes pesquisas empíricas
amplo, em que se concretiza a atuação política
realizadas3, demonstram o surgimento de relações
das instituições, a importância das ações de cada
interinstitucionais que anteriormente não existiam,
uma delas tende a ser avaliada em consonância
mas que ainda são pouco percebidas como rele-
com o foco que demarca a configuração de de-
vantes em processos de governança. A policy
terminada rede e sob diferentes matizes sociais e
websphere mostrou-se não apenas um conceito
políticos assumidos dentro da matriz operacional
capaz de descrever esta nova realidade (de uma
da respectiva policy websphere, que a circunscre-
crescente interconectividade no espaço virtual),
ve temática e geograficamente; logo, a análise de
mas acabou revelando uma dimensão normativa,
redes, em virtude do foco específico de investi-
com perspectiva prescritiva, ao permitir identifi-
gação ser direcionado para aqueles aspectos da
car estruturas de poder e estratégias
realidade escolhidos como objeto de pesquisa, ten-
informacionais distintas adotadas pelas diferentes
de a considerar apenas parcialmente a dinâmica
instituições, além de situações de exclusão e gar-
de atuação de determinada organização num am-
galos em relação aos fluxos informacionais e
plo e complexo ambiente sociopolítico.
comunicacionais. Neste sentido, a Policy
Websphere Analysis mostrou-se como uma ferra- Essa consideração apenas parcial da realidade
menta capaz de auxiliar os tomadores de decisão ocorre em conseqüência dos critérios utilizados
para a definição da pertinência a certa área temática
e/ou geográfica; da importância relativa de cada
3 No Programa de Mestrado em Gestão Urbana, da PUC-
atuação sobre a configuração de diferentes redes
em que determinada organização envolve-se; e dos
PR, no início de 2007, houve a conclusão e defesa de duas
dissertações que tratavam, num caso, de políticas de difu- papéis e funções que nelas desempenha. Diante
são social de TICs (PROCOPIUCK, 2007), e, no outro, de disso, as múltiplas redes em que certa organiza-
política ambiental (ROSA, 2007), recorrendo ambas ção pode participar concomitantemente tendem a

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 63-83 OUT. 2009

apresentar diferentes morfologias em diversos vas tecnologias em arranjos interinstitucionais de


níveis de diferenciação e configurados em função governança pública.
dos contornos de núcleos temáticos e/ou geográ-
Concluindo, entendemos que a mais importante
ficos.
contribuição da Policy Websphere Analysis para a
Diante de tais observações, a perspectiva da compreensão da esfera pública contemporânea,
policy websphere, como abordagem capaz de de- pelo menos até este momento, consiste na possi-
linear macro-ambientes sociopolíticos em que se bilidade de delineamento dos novos espaços de
inserem as redes sociotécnicas de políticas, ganha apresentação e discussão de informações, idéias,
crescente relevância para a análise de políticas ações e projetos, tendo estes espaços crescente
públicas cuja elaboração e execução ocorrem cada importância para a atuação das redes de políticas
vez mais sob a influência e com o apoio das no- em processos de governança pública.

Mario Procopiuck (mario.p@pucpr.br) é Doutorando em Administração pela Pontifícia Universidade


Católica do Paraná (PUC-PR).
Klaus Frey (klaus.frey@pq.cnpq.br) é Pós-Doutor em Planejamento Urbano e Regional e em Políticas
Públicas pela Technische Universitaet Berlin (TUB), da Alemanha, e Professor Titular da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34: 347-354 OUT. 2009
ABSTRACTS

PUBLIC POLICY AND GOVERNING NETWORKS AND THEIR ANALYSIS THROUGH


“WEBSPHERE ANALYSIS”
Mario Procopiuck and Klaus Frey
This article presents a discussion on Policy Websphere Analysis as a methodological approach for
analysis of organizational arrangements and the relationships they express through cyberspace, in an
attempt to make the logics underlying political policies within the context of political networks explicit.
Through this approach, we present the results of research aimed at apprehending and interpreting
the relational logic of sociopolitical practices meant to facilitate societal dissemination of information
and communication technologies, as sustained through the norms and values underlying organizational
arrangements, in Porto Alegre and Curitiba. We present a reticular morphology of such arrangements,
using of tables that have been put together through websites and hyperlinks and which, in essence,
constitute the representative means for potential spaces of political interaction and the socio-political
values communicated by organizations that are articulated in governance arrangements represented
in virtual space. In our view, the most important contribution made by Policy Websphere analysis, at
least until the present, consists of the possibility for delimiting new spaces for the presentation and
discussion of ideas, actions and projects. These spaces have acquired an ever –greater importance
in political networks’ actions in processes of public governance.
KEYWORDS: Policy Websphere Analysis; Hyperlink Analysis; Social Network Analysis; socio-
technical political networks; public governance.
REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34: 357-365 OUT. 2009
RÉSUMÉS

RÉSEAUX DE POLITIQUES PUBLIQUES ET DE GOUVERNANCE : UNE ANALYSE À


PARTIR DE LA WEBSPHERE ANALYSIS
Mario Procopiuck et Klaus Frey
Cet article présente un débat sur la Policy Websphere Analysis comme une approche méthodologique
d’analyse de composition organisationnelle et ses relations figurant dans le cyberespace. Nous
cherchons à expliciter le raisonnement de politiques publiques dans le contexte des réseaux de
politiques. Par cette approche, sont présentés les résultats d’une recherche qui visait à saisir et à
interpréter la logique relationnelle, appuyée sur des valeurs et des normes sous-jacentes aux
compositions organisationnelles, des pratiques sociopolitiques destinées à rendre possible la diffusion
sociale de technologies d’information et communication (TICs) à Porto Alegre et à Curitiba. Nous
présentons la morphologie reticulaire de ces compositions, au moyen de graphiques élaborés à partir
de sites Internet et hyperlinks qui constituent essentiellement des moyens représentatifs d’espaces
possibles d’interaction politique et de valeurs sociopolitiques transmis par des organisations articulées
dans des arrrangements de gouvernance représentés dans la sphère virtuelle. Nous comprenons que
la contribution la plus importante de Policy Websphere Analysis pour la compréhension de la sphère
publique contemporaine, au moins jusqu’à maintenant, consiste en la possibilité de définition des
nouveaux espaces de présentation et de discussion d’informations, idées, actions et projets, car ces
espaces sont de plus en plus importants pour l’action des réseaux de politiques dans des processus
de gouvernance publique.
MOTS-CLÉS : Policy Websphere Analysis ; Hyperlink Analysis ; Social network Analysis ; réseaux
sociotechniques de politiques; gouvernance publique.

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