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Geraldo Medeiros de Aguiar

2ª Edição
Olinda-PE
2007
Copyright© 2006 Geraldo Medeiros de Aguiar
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Editor
Tarcísio Pereira
Editor Assistente
Joaquim Sávio de Medeiros
Diagramação
Maria do Carmo de Oliveira
Capa e Ilustração
Tiago Aguiar
Revisão
Ana Prosini

A282a Aguiar, Geraldo Medeiros de, 1938-


Agenda 21 e desenvolvimento sustentável: (caminhos e
desvios) / Geraldo Medeiros Aguiar. – Recife: Ed. do Autor,
2006
109. : il

1. MEIO AMBIENTE – BRASIL. 2. MEIO AMBIENTE –


PERNAMBUCO. 3. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL –
BRASIL. 4. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL –
PERNAMBUCO. 5. POLÍTICA AMBIENTAL – BRASIL. 6.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO. I. Título.

CDU 504
CDD 363.7
PeR-BPE

Editora Livro Rápido - Grupo Elógica


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Olinda-PE CEP: 53230-290
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2
DEDICATÓRIA

A Mauricéa Marta B. Wanderley que, nestes 30


anos me acompanha nas lutas, nos desafios e no amor.
A meus filhos: Milena e Eugênio Moutelík de
Aguiar e a Tiago e Lucas Wanderley de Aguiar que de
forma permanente me inspiram a escrever e editar meus
ensaios.
Ao mestre e amigo Manuel Figueroa Lazarte
que, mesmo distante, muito contribuiu para minhas
investigações sobre os temas em epígrafe, a meu dileto
ex-aluno Roberto Tiné e ao caríssimo companheiro
Vantuil Barroso Filho minhas homenagens pelos
contrapontos às minhas idéias.

AGRADECIMENTOS

A Josemyr Geraldo Bezerra pela presteza, pela


determinação e pela desinteressada colaboração para a
publicação deste livro. A Tiago W. de Aguiar, pela
digitação e pela criatividade na confecção da capa com
parâmetros joviais de sua contribuição e a meus ex-
alunos, Luiz Moura, Cristina Ferreira, Saulo Farias,
Adriana Galantin e a todos que me incentivaram a
realizar este trabalho.

3
ÍNDICE

PREFÁCIO .......................................................................05

APRESENTAÇÃO .................................................................. 14

PARTE I. ENFOQUES DAS AGENDAS 21...........................25

PARTE II. TEORIA DO DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL ...................................................................... 45

PARTE III. IDÉIAS PARA UM MODELO AUTÔNOMO DE


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ........................... 66

- O BRASIL NO CONTEXTO DE UM DESENVOLVIMENTO PARA


SI.........................................................................................................................................67
- PREMISSAS PARA UM MODELO POLÍTICO DE DESENVOLVIMENTO
AUTÔNOMO....................................................................................................................72
- A POLÍTICA DO PODER NACIONAL DA ESG......................................................77
- A REPRESSÃO AO CAPITAL PRIVADO STRANGEIRO.....................................81
- O DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL VISA HUMANIZAR A
EXISTÊNCIA....................................................................................................................89
- O MONOPÓLIO ESTATAL DOS FATORES ECONÔMICOS BÁSICOS............89
- A DEFESA DA INDÚSTRIA NACIONAL AUTÊNTICA.........................................92
- A OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO NACIONAL.......................................................92
- A REFORMA AGRÁRIA...............................................................................................95
- AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DE PLENA SOBERANIA...........................101
- A EDUCAÇÃO POPULAR PARA O DESENVOLVIMENTO...............................104
- A CULTURA DO POVO..............................................................................................106
- A SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL COM AS NAÇÕES EM LUTA PELA
LIBERTAÇÃO POLÍTICA............................................................................................108
- A INTEGRAÇÃO SULAMERICANA........................................................................111
- O MODELO...................................................................................................................114

BIBLIOGRAFIA .....................................................................146

O AUTOR.................................................................................159

4
PREFÁCIO

A obra de Geraldo Medeiros de Aguiar “Agenda 21


e Desenvolvimento Sustentável. (Caminhos e Desvios)”
promove a necessidade de repensar no Brasil as políticas
públicas desde novas perspectivas e categorias de análises.
Nesse trabalho, o autor dialoga com os leitores através de
um texto organizado em três partes. Na parte I, registra, em
detalhes, o conjunto de compromissos assumidos pelo Brasil
frente à sua sociedade e à comunidade internacional para
administrar o país seguindo objetivos de bem-estar social e
sustentabilidade ecológica em beneficio das atuais e futuras
gerações. Nesse propósito, apresenta os enfoques
dominantes na Agenda 21 da ONU, resultante da
Conferência do Rio de Janeiro em 1992, na Agenda
Brasileira, no mega-evento Rio + 10 da ONU, na Agenda de
Pernambuco e nas de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho.
Na parte II, sintetiza os aspectos mais salientes da
Teoria do Desenvolvimento Sustentável e recorre a
ilustrações gráficas para facilitar a visualização de sua
lógica e de seus argumentos.
Todavia, é na parte III de sua obra que o autor
recorre a seus amplos conhecimentos e experiências
profissionais para dialogar com os leitores sobre sua nova
proposta para implementar, no país, as bases de um Modelo
Autônomo de Desenvolvimento Sustentável. Caso seja
adotado, permitirá ao governo resolver, em simultâneo, os
graves problemas do crescimento, do desemprego e da
pobreza que atingem amplas regiões do país e
particularmente os estados e municípios do Nordeste.

5
Em sua essência, a proposta de Geraldo Aguiar
objetiva a abertura programática de três “janelas” para
relacionar as interações do desenvolvimento nacional com a
economia internacional, com a economia pública do Estado
Brasileiro - que se expressa através das políticas e dos
programas administrados pelas entidades governamentais –
e, finalmente, com a própria sociedade. Nesse ponto, o
autor, consciente da necessidade de avançar até um
desenvolvimento nacional sem pobreza, desemprego nem
exclusão social, propõe adotar novas formas de organização
institucional para pôr em funcionamento, em grande escala,
um conjunto de reformas destinadas a regularizar no país o
império de três ordenamentos institucionais para reger a
economia privada capitalista, a economia pública e, em
particular, a economia social-comunitária onde, para
além dos requerimentos do mercado, seja possível articular
os esforços de: governo e sociedade para gerar os empregos
e as rendas que a sociedade requer.
As contribuições de Geraldo Aguiar configuram
aportes valiosos para integrar, no futuro, as bases de uma
nova Teoria Geral destinada a orientar os processos de
desenvolvimento, sem pobreza nem desemprego. Vale
recordar que diversos centros intelectuais da América Latina
participam, na atualidade, da gestação dessa teoria, cujas
idéias fundamentais remontam aos tempos pioneiros da
CEPAL, até fins da década dos anos 40. Como todo
processo cultural, as idéias de uns se integram, por
mecanismos desconhecidos, com as idéias dos outros
independentemente de geografias e de tempos históricos.
Simplesmente acontecem e são a simples expressão da
criatividade humana e de uma consciência crítica que se
expande em toda a região. Para compreender a

6
transcendência das idéias de mudança social que se
discutem na atualidade latino-americana, apresenta-se, em
continuação, uma breve referência sobre sua evolução
histórica a partir da obra de Adam Smith.
Desde seu nascimento no século XVIII, a economia
clássica postulava que o progresso das nações devia
encontrar-se nos contextos de livre mercado onde a ação dos
indivíduos, na procura de alcançar seus próprios objetivos
de lucro e de benefício pessoal criaria condições para o
progresso de todos, sempre e quando o estado mantiver
papéis subsidiários, limitando sua ação ao campo exclusivo
de certas funções gerais: defesa, moeda, obras públicas e
serviços sociais essenciais. Por suas concepções filosóficas e
políticas, naquela escola de pensamento econômico, o
indivíduo era o epicentro do desenvolvimento social, e a
figura do empresário assumia papéis de protagonistas no
destino e no progresso das sociedades. Esse eixo
fundamental do pensamento doutrinário do liberalismo
permanece, até o presente, como essência da economia
capitalista.
Todavia, com o devir dos anos 30, o capitalismo,
como sistema, viu-se superado pela maior crise registrada
em sua história: desmantelou a produção, o emprego e as
rendas das sociedades mais ricas, desatando ondas intensas
de desconfiança na durabilidade do próprio sistema. As
idéias de Keynes, principalmente, abriram novos cenários
para superar a crise e avançar até a estabilidade do sistema
mediante um conjunto de novos instrumentos de auto-
regulação econômica, monetária e financeira. A partir
daqueles anos, o estado e o empresariado privado
passaram, em conjunto, a ser reconhecido como sujeitos

7
econômicos de importância primordial para estabilizar e
consolidar a expansão do sistema ao longo do tempo.
A partir da década de 80, o capitalismo avançou até
novas dimensões de globalização financeira em escala
planetária. Os avanços da ciência e da técnica propiciaram
mudanças revolucionárias nos campos: das comunicações,
da produção, da circulação e da distribuição. Novas formas
de organização empresária aceleraram os processos de
concentração do capital em escala internacional. Novos
produtos financeiros e novos fluxos de monetarização da
economia internacional potenciaram os circuitos do
financiamento para além da evolução dos intercâmbios na
economia real. O desmonte ou queda do socialismo de
estado na URSS até fins dos anos 80 jogou o espaço global
para a expansão hegemônica do capitalismo.
Nesse vertiginoso processo de transformação e
globalização econômica, as dimensões de uma nova crise
social apareceram no horizonte dos anos 90, e seus efeitos
começaram a projetar-se sobre as sociedades de países
centrais e periféricos. O mundo do emprego experimentou
profundas mutações, e só aqueles países que puderam
financiar programas de assistência ao desemprego
escaparam ao desastre da pobreza, mantendo razoáveis
níveis de estabilidade social. Na maioria dos países do
mundo, e, particularmente naqueles mais dependentes, a
inexorável revolução tecnológica, a globalização financeira
do capitalismo e as políticas adotadas sob o rigor do
pensamento único instituído no Consenso de Washington,
com sua seqüela de processos associados, estão produzindo
profundas alterações nas estruturas produtivas agravando as
dimensões do desemprego e gerando situações de exclusão
social e pobreza para milhões de pessoas.

8
Por tratar-se de processos irreversíveis, o capitalismo
globalizado, ao acelerar simultaneamente os avanços do
progresso técnico e a concentração da produção e da
propriedade na forma de mega empresas transnacionais
distribuídas sobre todas as áreas geográficas do mundo para
controlar a expansão dos mercados, expandiu a desocupação
em escala global e agravou a obsolescência da força de
trabalho desempregada, abrindo novos cenários de crises
sociais irreversíveis, é dizer, sem retorno às situações do
passado.
Em tais contextos, a economia ortodoxa perdeu sua
capacidade de propor políticas apropriadas para reconstruir
os equilíbrios sociais. Governos e sociedades do mundo
sofrem, em maior ou menor grau, situações permanentes de
crise, desestabilizando os sistemas sociais. Impõe-se, com a
devida urgência, imaginar e adotar novas formas de
organização social dentro das dobras do próprio sistema
capitalista para evitar males maiores que afetarão,
inexoravelmente, a base de sustentação ecológica e a
governabilidade dos próprios sistemas sociais. Dadas às
condições objetivas e a correlação de forças sociais que
imperam na atualidade, as idéias de resolver os conflitos
mediante processos revolucionários de mudança de sistema
social, por muito tempo, ficarão como expressões de utopias
inalcançáveis.
Na busca de novas alternativas de organização social
dentro do sistema capitalista, aparece, desde diversas
regiões do mundo, a proposta de organizar uma nova
economia social-comunitária sob a co-responsabilidade do
estado e a ativa participação e responsabilidade das
próprias representações das sociedades locais. A
implementação de novos mecanismos de gestão

9
comunitária, para incorporar-se aos processos produtivos
destinados a mercados internos e externos, poderá reforçar
os aportes que o estado e as economias privadas
empresariais de livre mercado vêm realizando para
harmonizar as relações econômicas e sociais. Essas idéias
configuram, em conseqüência, uma importante contribuição
ao invocar a própria sociedade na resolução dos principais
problemas que afetam seu destino.
As novas idéias de mudança social assumem sua
particular transcendência na América Latina, continente que
no curso dos últimos 25 anos assistiu à duplicação do total
de pessoas em situação de pobreza. Nesse contexto histórico
e geográfico, os aportes que Geraldo Aguiar vem realizando
no propósito de apresentar novas alternativas para superar a
grave situação existente no Brasil adquirem importância
significativa. Seus trabalhos se integram, naturalmente, aos
aportes que outros intelectuais vêm realizando e, em
conjunto, incitam a pensar em novas formas de organizar a
economia para colocá-la, realmente, a serviço da sociedade.
As idéias em gestação pressupõem que, para superar
a pobreza e o desemprego, os governos e sociedades
precisarão recriar novas formas de organização econômica
que introduzam maior flexibilidade no ordenamento
institucional para dar origem a três regimes econômicos
complementares que possibilitem garantir, a todas as
famílias, o emprego, a disponibilidade de renda social básica
para uma vida digna, os serviços sociais essenciais e a
sustentabilidade ecológica de longo prazo para beneficio das
gerações do presente e do futuro.
Ao avançar nessa direção, consolidar-se-ão no tempo
as bases de uma Teoria Geral para superar a exclusão, a
pobreza e o desemprego, assegurando o crescimento da

10
produção, o fortalecimento do capitalismo competitivo, o
exercício de tarefas ativas do Estado e, fundamentalmente, a
participação das comunidades locais na resolução de seus
próprios problemas.
Pelas características de irreversibilidade que
assumem os atuais problemas econômicos e sociais nas
escalas mundiais, não serão os proletários do mundo os
encarregados de liderar os processos destinados a
transformar a sociedade. Provavelmente, essa gestação
histórica ficará nas mãos dos técnicos, dos professores, dos
empregados público, dos mestres, dos empresários, dos
agricultores e dos operários que, no curso dos últimos anos,
por império do progresso e de múltiplas circunstâncias,
transitam como silenciosas maiorias até novas situações de
pobreza, desemprego e exclusão social.
Pela potencialidade de energias humanas que
contêm, essa nova força social estará destinada a
impulsionar no futuro os processos de transformação que as
sociedades reclamam. Interessa destacar, como ironia da
história, que as idéias programas que administram os
partidos políticos tradicionais, as organizações sindicais e as
próprias entidades do governo responsáveis pela questão
social não conseguem sequer compreender a significação
política que assumem os imensos contingentes de população
que, dia a dia, ingressam em seus novos contornos de
pobreza e exclusão. Configuram, de fato, uma nova
realidade social sem teoria. Não obstante, por suas
magnitudes e transcendência, a pobreza do presente será,
amanhã, a base de sustentação dos processos políticos que
desenham o futuro de nossos países.
Para resolver os problemas econômicos e sociais, se
os governos da região conseguir pôr em marcha às novas

11
idéias de organização econômica e institucional que nesse
texto propõe Geraldo Aguiar, serão possíveis,
simultaneamente, avançar também na modernização do
sistema político, objetivo ainda pendente de realização na
generalidade dos países. Com efeito, sem desemprego nem
pobreza, os pobres ficarão livres, ganharão sua liberdade de
expressão, não terão necessidades de recorrerem aos
biqueiros políticos nem de condicionar a vida de suas
famílias em favor dos partidos políticos que,
permanentemente, abusaram de sua condição de indigência.
Seus votos poderão expressar-se em liberdade de
consciência e, mediante programas sistemáticos de alcance
universal em matéria de educação e saúde, as famílias
poderão exigir níveis mais elevados de representação
política elegendo candidatos dotados de ética, capacidade e
compromisso social. Com a introdução das reformas que se
propõem no plano econômico e institucional, poderá surgir
em nossos países uma nova sociedade, mais preparada e
exigente, em condições de negociar de forma consensual
com o estado e o setor privado, as alternativas para construir
um país melhor.
Ao concluir este prefácio, agradeço a oportunidade
de, mais uma vez, dirigir-me ao público brasileiro e reitero
minha confiança no caráter criativo da obra de Geraldo
Aguiar que agora se submete à consideração dos leitores.
Resta só desejar que as idéias aqui expostas pelo autor
possam chegar às autoridades do governo que, em última
instância, têm em suas mãos a possibilidade de agir com
oportunidade e inteligência para atenuar os problemas de
que padece a sociedade brasileira.
Buenos Aires, Maio de 2004.

Manuel Figueroa Lazarte

12
Manuel Figueroa Lazarte é Contador Público pela Universidade de
Tucuman (Argentina). Funcionário da ONU. Autor dos Livros: O
Problema Agrário no Nordeste do Brasil; Crise nas Economias
Regionais; A Economia do Poder e o Desafio Argentino. Um Modelo
Autônomo de Desenvolvimento. (Citados na bibliografia).

“Quem, nos dias de hoje, quiser lutar contra a mentira e a


ignorância e escrever a verdade tem de superar ao menos
cinco dificuldades. Deve ter a coragem de escrever a
verdade, embora ela se encontre escamoteada em toda
parte; deve ter a inteligência de reconhecê-la, embora ela
se mostre permanentemente disfarçada; deve entender da
arte de manejá-la como arma; deve ter a capacidade de
escolher em que mãos será eficiente; deve ter a astúcia de
divulgá-la entre os escolhidos”.

BERTOLD BRECHT

13
APRESENTAÇÃO

A proposição do Autor é contribuir para seus leitores


adotarem uma consciência crítica abrangente com vistas ao
desenvolvimento sustentável e as agendas 21 da ONU,
Brasileira e, muito em particular, a de Pernambuco e as
locais de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho quanto a seus
caminhos e desvios.
Para tanto, o plano de trabalho está dividido em três
partes fundamentais:
A primeira trata dos enfoques das agendas 21 da
ONU oriunda do mega evento Rio 92 passando pela Agenda
21 Brasileira e o grande evento da Rio+10 da ONU (África
do Sul) até a de Pernambuco e, principalmente, as locais de
Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho.A segunda visa à teoria
do desenvolvimento sustentável, de forma sinótica e
esquemática, para na terceira parte se formularem as idéias
para um Modelo Autônomo de Desenvolvimento
Sustentável.
Nesta apresentação, vale chamar a atenção do leitor
para a contextualização que se faz e se qualifica de
caminhos e desvios das agendas 21.
Os caminhos estão explícitos nos textos que
constituem as duas primeiras partes do presente livro, e os
desvios se apresentam no fato de as agendas 21,
particularmente, a Brasileira, a de Pernambuco e as locais de
Ipojuca e do Cabo Santo Agostinho se omitirem de
apresentar cenários em umbrais de pelo menos 50 anos
ou saídas com vistas a uma antropolítica frente às
turbulências que se dão no Sistema Mundo do Capitalismo

14
que, sinoticamente, podem ser apresentadas da seguinte
maneira:

1. FIM DOS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS (2015 A


2025). Energias alternativas e de biomassa com vistas à
produção de células combustíveis de hidrogênio. Quais os
cenários para o Brasil, o Nordeste, Pernambuco e Região
Metropolitana do Recife (RMR)?
2. CASSINO GLOBAL. Desregulamentação ou
regulamentação unilateral dos mercados com especuladores
de toda ordem (bancos, fundos de pensões, paraísos fiscais,
seguradoras, etc.) organizados para a manipulação
financeira, via Internet, em meta rede mundial de interações
tecnológicas e de turbulências. Quais situações se
prospectam para o Brasil e nele o Estado e a RMR?
3. RELAÇÃO CAPITAL/TRABALHO. O capital,
hoje, é global e excludente no Sistema Mundo do
Capitalismo. O trabalho é local, fragmentado, descartável,
com tendência ao obsoletismo. A hipótese 20/80, ora em
construção pelo sistema, tende a aumentar a pobreza ao
extremo no processo de exclusão social a partir do
fundamentalismo de mercado idealizado pelo G8. O que
fazer para mitigar tal tendência nos níveis local, estadual,
regional e nacional?
4. IMPACTO OU CRISE ECOLÓGICA.
Comprometimento da Biosfera e da vida no planeta.
Esgotamento dos recursos naturais ou bens livres. Guerra
mundial dos ricos contra os pobres a partir da
unilateralidade dos EUA, como centro do sistema, no
processo incessante de acumulação de capital, cujo
metabolismo se resume em duas forças motrizes: o lucro e o

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poder. Quais suas implicações no Brasil, em Pernambuco e
na RMR?
5. REDES CRIMINOSAS GLOBAIS. Paraísos
fiscais e jogos como fonte de lavagem de dinheiro. Tráfico
de drogas e de armas sob salvaguarda do judiciário e com
alianças estratégicas com o estado nos países cêntricos e
periféricos. Papel dos celulares e laptops nas redes
criminosas. Como pode uma Agenda 21 Local apreender ou
ter visão de tal problema?
6. REVERSÃO DO ESTADO OU ESTADO EM
REDE. Formação dos megablocos sob a égide de redes
financeiras internacionais. Ligação do Atlântico com o
Pacífico na América do Sul. Obsoletismo dos estados
federados do Brasil. Formação de mega blocos econômicos
com tendência a erradicar os estados nacionais. Criação de
estados em rede. Como fazer tais cenários nas agendas 21
locais?
7. TRANSFORMAÇÃO CULTURAL. A Internet
aberta e a Internet fechada. As mídias: faladas, escritas,
televisivas e cinematográficas. Agências de informações
controladas. Manipulações de símbolos e códigos culturais.
Como ficam: a RMR, o Estado de Pernambuco e o Brasil
nesse processo à luz das agendas 21 locais e de uma ética
das aparências?
8. A BIOTECNOLOGIA E A BIOSEGURANÇA. A
Engenharia genética e a privatização da vida. Ignorância e
descaso de todas as considerações bioéticas e morais. A
biologia molecular e a concepção da estabilidade genética.
A simbiogênese. A ética da clonagem. A biotecnologia na
agricultura. Transformação da vida em mercadoria. Como
podem as agendas 21 locais abordar a visão dessa atual
problemática?

16
9. AS RESISTÊNCIAS GLOBAIS. A situação das
lutas no mundo. As questões do fim do petróleo e a
escassez da água potável em nível mundial e o perigo de sua
privatização. A dívida externa e a rapina das riquezas dos
países periféricos pelo império e o G8. A luta contra a
exclusão social, a fome e a miséria na nova ordem ou
desordem mundial. Os movimentos das mulheres para outra
mundialização. A militarização do mundo e as novas
condições para a paz. Polarização capitalismo central
(imperial) versus capitalismo tardio dos países emergentes
ou periféricos. O projeto hegemônico Norte Americano, sua
unilateralidade e a posição do Brasil, da China, da Índia, da
África do Sul e da União Européia. Tribunal Internacional
de Inadimplência versus BIRD. Organização Internacional
de Finanças versus FMI. Organização pela
Responsabilidade Empresarial. Pesquisas e Iniciativas de
Emissão Zero (ZERI). A economia do hidrogênio
(CÉLULA COMBUSTÍVEL) e o processo de
descarbonização. Nas Ecocidades e nas regiões
metropolitanas do Brasil. Como podem as agendas 21
abordar essas resistências mundiais?
10. AS TENDÊNCIAS DEMOGRÁFICAS DO
BRASIL. Perigo de regressão populacional e fragmentação
nacional. A Amazônia, o principal alvo do Império e do G8.
Devem ou não as agendas 21 ignorar tais cenários?
11. UM MODELO AUTÔNOMO DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PARA O
BRASIL E ESPAÇOS AUTÔNOMOS (RMR). Vale
discutir e incorporar tais modelos nas agendas 21 desde o
nível nacional ao local?

17
São esses desafios que levaram o Autor a explicitar
suas idéias para um Modelo Autônomo de Desenvolvimento
Sustentável que a seu ver jamais poderia ser desviado ou
omitido nos enfoques e nos conteúdos das agendas 21.
Considerando-se que o Complexo Industrial-
Portuário de Suape faz parte da estratégia nacional de
ligação intermodal de transportes e de logística entre o
Atlântico e o Pacífico, juntamente, com Itaqui/Madeira
(MA) e, secundariamente, Pecém (CE) e Aratu (BA), é de
convir que, neste século 21, todas as medidas de
sustentabilidade da economia, do ambiente, da sociedade, da
política, da cultura e da integração do Brasil em blocos
econômicos regionais (MERCOSUL/AMERCOSUL)
passam necessariamente de forma direta ou indireta por esse
eixo estratégico da política econômica nacional que tende
a consolidar aqueles empreendimentos ou complexos
industrial-portuários. È bom lembrar que Pecém e Aratu
estão longe do que já são os complexos industriais
portuários de Itaqui e de Suape como retroportos para
receberem navios de quarta a sétima gerações.
Tanto o Estado de Pernambuco quanto a Região
Nordeste do Brasil devem ter imbricado em suas agendas 21
os impactos positivos e negativos para a sustentabilidade da
nação brasileira, oriundos daqueles empreendimentos ou
complexos transdisciplinares, multifuncionais e
multisetoriais em todas as dimensões da sustentabilidade do
desenvolvimento regional, do estadual e, principalmente, do
local nos municípios de Ipojuca, Cabo de Santo Agostinho e
Região Metropolitana do Recife.
Sabe-se que o Complexo Industrial-Portuário de
Suape será um dos destinos do sistema intermodal de
transporte supracitado que partindo dos portos peruanos e do

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porto chileno de Arica chegarão aos portos do Atlântico na
Região Nordeste e, especialmente, a Itaqui, no Maranhão, e
a Suape em Pernambuco, passando pelas conexões das
ferrovias: Norte-Sul, Carajás, Transversal Leste (projeto da
VALEC, que tem início em Estreito (MA) e término em
Salgueiro-PE) e da Transnordestina e, ainda, com as devidas
conexões dos sistemas hidroviários dos rios: Amazonas,
Tocantins-Araguaia, Parnaíba e São Francisco, sem aqui se
mencionar as rodovias estaduais, as Br, as estradas
peruanas, chilenas e bolivianas que viabilizarão a dita
ligação e a integração intermodal de transportes sul-
americana.
Por outro lado, a supradita ligação também colocará
a maior província mineral do planeta, que é Carajás no
interior do Brasil, e, particularmente, no Nordeste. É de se
convir que Carajás, que hoje fomenta a economia brasileira
para fora criando empregos em outros países (na medida em
que as matérias-primas são exportadas sem incorporação do
trabalho dos brasileiros), possa, ainda, até meados do século
XXI, voltar-se para dentro com vistas à formação e à
consolidação de uma nação para si em contraponto à nação
para outras, que agora vivemos.
Dentro do presente cenário, todas e quaisquer
estratégias para as agendas 21 locais, na RMR, passam
direta ou indiretamente pelos fenômenos, fatos, ações e
atividades que se dão e se darão com o projeto vertebrador
do Complexo Industrial-Portuário de Suape inserto nos
municípios de Ipojuca e do Cabo de Santo Agostinho como
uma área institucional de alta importância para o
desenvolvimento sustentável.
É ingênuo ignorar tal cenário ou subestimar os
efeitos para frente e para trás e os impactos em Ipojuca,

19
Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco e Nordeste do Brasil
do supra mencionado Complexo. De há muito, o Município
de Ipojuca deixou de ser apenas mais um município
decadente da zona canavieira ou Mata-Sul de Pernambuco
para se tornar um dos municípios que mais recebem
investimentos no Estado, não somente na indústria, mas
também, em infra-estrutura além de aumentar sua
arrecadação no Estado. A própria inserção do Município na
Região Metropolitana do Recife deu-se pelo fato de sediar o
Complexo, em tela, caso contrário estaria em condições de
mais um município da zona da mata, como é o caso de
Vitória de Santo Antão, Goiana e outros municípios da
região da mata atlântica.
Nesse contexto, as agendas 21 locais deveriam ter
como foco mitigar, através de suas estratégias, os efeitos
perversos que possam advir da influência do Complexo de
Suape e voltar-se para todo e qualquer ponto forte ou
oportunidade que dele possa advir para a sustentabilidade
dos municípios, muito em particular, no ordenamento
territorial urbano e rural com vistas à sustentabilidade do
desenvolvimento local.
No momento já se tem de forma, ainda incipiente, a
integração ferroviária entre Santos (SP) e Antofagasta, no
Chile, passando pela Bolívia, pelo Paraguai e pela
Argentina.
Entre muitas outras considerações para as agendas
21 locais de Ipojuca e Cabo Santo Agostinho, cabem, aqui,
destacar as seguintes:

1. Rigorosa fiscalização da sociedade civil sobre os


Planos Diretores de cada um dos municípios oriundos da
obrigatoriedade da Lei 10.257/01 (Estatuto da Cidade), que

20
devem ser divulgados em todos os recantos dos municípios
visando à mobilização das sociedades locais em torno das
propostas que tratam da sustentabilidade de seus
aglomerados urbanos de conformidade as estratégias das
agendas 21 locais e da supracitada Lei, conhecida como
Estatuto da Cidade.
2. Sejam definidas, institucionalizadas e adotadas
formas efetivas de cooperação interinstitucional entre a
gestão do Complexo Industrial-Portuário de Suape e os
municípios de Ipojuca e do Cabo de Santo Agostinho no
sentido de assegurar as necessidades, condições políticas e
institucionais para implementação das agendas 21 locais em
todos os seus aspectos, abrangências e dimensões.
3. Seja reforçado o processo de descentralização das
políticas públicas, ambientais e urbanas, respeitando-se a
subsidiaridade e a delegação de funções das transferências
de recursos que competem aos municípios em tela e a gestão
democrática nos aglomerados urbanos sustentáveis, segundo
os princípios do Estatuto da Cidade e de suas respectivas
agendas 21 locais. Considera-se, também, indispensável a
recomendação da articulação, compatibilização e integração
das políticas e ações públicas federais com as estaduais e a
do Complexo Industrial-Portuário de Suape que afetam o
desenvolvimento urbano dos municípios e a da RMR.
4. Com respeito aos investimentos do tipo que se dão
no Complexo Industrial-Portuário de Suape, deve-se dar a
devida atenção ao que reza a Agenda 21 Brasileira quando
afirma “os investimentos programados por eixos de
desenvolvimento contribuem para redesenhar a
configuração territorial do país, na medida em que tais
investimentos são seletivos, privilegiando espaços
dinâmicos e relegando as áreas de baixo dinamismo ou

21
estagnadas. Isso acentua as tendências de concentração da
população urbana nas áreas metropolitanas e aglomerações
urbanas, reforçando os desequilíbrios da rede de cidades e
agudizando os problemas sociais, urbanos e ambientais dos
grandes centros - particularmente porque os investimentos
feitos ou programados nesses eixos também não levam em
conta os danos ambientais decorrentes”.
5. Há de se convir que os municípios citados
venham, no futuro próximo, realizar cenários frente aos
desvios, apontados nas turbulências do Sistema Mundo do
Capitalismo e, muito em particular, quanto ao metabolismo
do capital em seu processo incessante de acumulação e as
resistências mundiais que batem de frente com suas forças
motrizes (lucro e poder) e, também, contra a hipótese 20/80
do Sistema (apregoada pelos neoliberais) tendo-se como
exemplos os acontecimentos as lutas sociais de Seatle,
Quebec, Bangcoc, Praga, Barcelona, Gênova, Johanesburgo,
Davos, Porto Alegre I e II, Bamako, Bombaim e outras
cidades.

As idéias têm como premissa básica uma ampla


estratégia alternativa que segundo Wallerstein resume-se
em:

1. “Expandir o espirito de Porto Alegre”, ou seja,


fomentar e promover, ao máximo, movimentos ou eventos
anti-sistêmicos com vistas a: clareza intelectual das ações
anti-sistêmicas no processo de transição; ações militantes o
mais amplas possível de mobilização popular; defender
alterações fundamentais de contenção ao processo
incessante de acumulação de capital em curto, médio e
longo prazos. O espirito de Porto Alegre deve inserir-se

22
naquilo que se convencionou chamar de “coligação arco-
íres” de Jesse Jackson, “esquerda plural” dos movimentos
franceses e “frente ampla(Brasil) ou frente amplio” em toda
América Latina. O FUNDO SOCIAL MUNDIAL (FSM)
criado em Porto Alegre espelha e reflete essa estratégia.
2. “Usar táticas eleitorais defensivas”, isto é, ter a
convicção de que vitórias eleitorais não transformarão o
mundo mas não podem e não devem ser negligenciadas por
serem mecanismos que podem politizar e proteger
necessidades das populações excluídas ou dominadas por
elites irresponsáveis. Para tanto, fazer valer do nível local ao
mundial o espirito de Porto Alegre onde ficou explícito que
as eleições quando vitoriosas são apenas táticas defensivas
no processo de transição do sistema mundo capitalista e há
que se cobrar as promessas de campanhas.
3. “Promover incessantemente a democratização”
seja pela participação seja pela representação política e,
principalmente, pelo viés racial. Pressionar, ao máximo, as
exigências sobre: mais saúde, mais educação, mais renda
vitalícia, mais seguro desemprego, mais segurança
alimentar, mais segurança social, mais infra-estrutura social,
mais habitação e mais tudo que possa inibir as
possibilidades do aumento do lucro e do poder pelo
metabolismo do capital gerido pelos capitalistas em seu
processo incessante de acumulação.
4. “Fazer com que o centro liberal seja fiel às suas
preferências teóricas” pregando a emigração e a imigração
em grande escala e o mais livre possível, a abertura das
fronteiras geográficas, a não-salvação dos empresários que
fracassam nos mercados, pagar auxílios- desemprego,
subsidiar a formação educacional, praticar economia-
solidária, abolir e limitar, em muito, o acordo de patentes,

23
criar empregos ou ocupações e redistribuir rendas. Promover
e fomentar toda e qualquer mobilização popular em torno
dos direitos legais e direitos humanos dos cidadãos e das
chamadas minorias.
5. “Fazer do anti-racismo a medida definidora da
democracia”, isto é, pregar e praticar, com veemência, a
democracia racial como essência da democracia
participativa e da democracia representativa. Coscientizar as
populações, por todos os meios, de que o “racismo é o
modo primário de distinguir entre aqueles que têm direitos
(ou mais direitos) e os outros, os que não têm ou têm menos
direitos” no dizer de Wallerstein.
6. “Avançar na direção da desmercantilização”.
Segundo Wallerstein “a principal coisa errada no sistema
capitalista não é a propriedade privada, que é apenas um
meio, mas sim a mercantilização, que é o elemento
essencial da acumulação de capital”. O modelo na janela
interna e na janela do estado explicita como avançar nessa
direção.
7. “Recordar sempre que vivemos na era de
transição do sistema mundo existente para algo diferente”.
Com tal atitude, pretende-se buscar novas alternativas de
desenvolvimento e enfatizar que a única alternativa que de
fato não existe é continuar fora das contradições da
estruturas em crise do sistema mundo capitalista que com
certeza vai se bifurcar. Essa recordação demanda do cidadão
a necessidade de avaliar e dissecar as propostas e blefes
daqueles que advogam e fomentam o status quo do sistema
mundo em plena crise sistêmica. No dizer de Morin há que
se lutar por um mundo relativamente democrático e
solidário com vistas a um cenário de antropolítica.

24
PARTE I. ENFOQUES DAS AGENDAS 21

“A alfabetização ecológica estimula o pensamento


sistêmico – o pensamento que se estrutura em torno de
relações, contextos, padrões e processos – e os projetistas
ecológicos pregam a transição de uma economia baseada
nos bens para uma economia de serviços e fluxo. Numa tal
economia, a matéria circula continuamente, de modo que
o consumo líquido de materiais brutos se reduz
drasticamente. Como vimos, a ‘economia de serviços’ e
fluxo ou de ‘emissão zero’ também é excelente para o
negócio. À medida que os resíduos se transformam em
recursos, geram-se novas fontes de renda, criam-se novos
produtos e aumenta-se a produtividade. Com efeito, ao
passo que a extração de recursos e a acumulação de
resíduos fatalmente chegarão, mais cedo ou mais tarde,
aos seus limites ecológicos, a evolução da vida demonstrou
por mais de três bilhões de anos que, nesta casa
sustentável que é o Planeta Terra, não existem limites para
o desenvolvimento, a diversificação, a inovação e a
criatividade”. FRITJOF CAPRA.

Sob a luz ou o enfoque do meio ambiente nenhum


país do planeta é periférico. As soluções ambientais dizem
respeito a todo e qualquer ente humano independente do
lugar em que ele esteja. Nesse enfoque, não cabem as
noções de 1º. 2º. 3º e 4º mundos. Haja vista os efeitos dos
fenômenos: “El Niñho”; “buraco de ozônio” sobre a
Antártida; “chuvas ácidas”; e do chamado “efeito estufa”.
Por esse motivo, a Rio 92 ou Conferência das
Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento aprovou a Agenda 21 com quatro seções

25
e 40 capítulos além de duas declarações. O sentido de
AGENDA empregado é de intenções, desígnios, desejo de
mudanças para um modelo de civilização em que predomina
o equilíbrio ambiental e a justiça social entre os estados e as
nações.
Sinoticamente, a estrutura da Agenda 21 da ONU é
a seguinte:
Seção I – Dimensões Sociais e Econômicas. Essa
seção compreende os seguintes capítulos:

01) Preâmbulo
02) Cooperação internacional para acionar o
desenvolvimento sustentável dos países em
desenvolvimento e políticas internas correlatas
03) Combate à pobreza
04) Mudança dos padrões de consumo
05) Dinâmica demográfica e sustentabilidade
06) Proteção e promoção das condições de saúde
humana
07) Promoção de desenvolvimento sustentável dos
assentamentos humanos
08) Integração entre meio ambiente e
desenvolvimento na tomada de decisões.

Seção II – Conservação e Gerenciamento dos


Recursos para o Desenvolvimento. Compreende essa
seção 14 capítulos (09 a 22) que tratam dos seguintes
assuntos:

09) Proteção da atmosfera


10) Abordagem integrada do planejamento e do
gerenciamento dos recursos terrestres

26
11) Combate ao desflorestamento
12) Manejo de ecossistemas frágeis: a luta contra a
desertificação e a seca
13) Gerenciamento de ecossistemas frágeis:
desenvolvimento sustentável das montanhas
14) Promoção do desenvolvimento rural e agrícola
sustentável
15) Conservação da diversidade biológica
16) Manejo ambientalmente saudável da
biotecnologia
17) Proteção dos oceanos, de todos os tipos de mares
- inclusive mares fechados e semifechados - e das zonas
costeiras e proteção, uso racional e desenvolvimento de seus
recursos vivos
18) Proteção da qualidade e do abastecimento dos
recursos hídricos: aplicação de critérios integrados no
desenvolvimento, manejo e uso dos recursos hídricos
19) Manejo ecologicamente saudável das substâncias
químicas tóxicas, incluídas a prevenção do tráfico
internacional ilegal dos produtos tóxicos e perigosos
20) Manejo ambientalmente saudável dos resíduos
perigosos, incluindo a prevenção do tráfico internacional
ilícito de resíduos perigosos
21) Manejo ambientalmente saudável dos resíduos
sólidos e questões relacionadas com os esgotos
22) Manejo seguro e ambientalmente saudável dos
resíduos radioativos.

Seção III. – Fortalecimento do papel dos grupos


principais. Essa seção trata dos seguintes tópicos:

23) Preâmbulo

27
24) Ação mundial pela mulher, com vistas a um
desenvolvimento sustentável e eqüitativo
25) A infância e a juventude no desenvolvimento
sustentável e eqüitativo
26) Reconhecimento e fortalecimento do papel das
populações indígenas e suas comunidades
27) Fortalecimento do papel das organizações não-
governamentais: parceiros para um desenvolvimento
sustentável
28) Iniciativas das autoridades locais em apoio à
agenda 21
29) Fortalecimento do papel dos trabalhadores e de
seus sindicatos
30) Fortalecimento do papel do comércio e da
indústria
31) A comunidade científica e tecnológica
32) Fortalecimento do papel dos agricultores.

Seção IV. - Meios de implementação. Nessa 4ª e


última seção da Agenda 21, há como interesse os seguintes
temas:

33) Recursos e mecanismo de financiamento


34) Transferência de tecnologia ambientalmente
saudável, cooperação e fortalecimento institucional
35) A ciência para o desenvolvimento sustentável
36) Promoção de ensino, da conscientização e do
treinamento
37) Mecanismos nacionais e cooperação
internacional para o fortalecimento institucional dos países
em desenvolvimento
38) Arranjos institucionais internacionais

28
39) Instrumento e mecanismo jurídico internacional
40) Informação para tomada de decisões.

A Agenda 21 da ONU (publicada pelo Senado


Federal) fecha com duas declarações, a saber:
Declaração de princípios com Autoridade não -
Juridicamente Obrigatória para um Consenso Global sobre
Manejo, Conservação e Desenvolvimento Sustentável de
Todos os Tipos de Florestas;
Declaração do Rio Sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento com seus 27 princípios.
Não obstante a existência da Agenda 21, da ONU, é
conveniente que o Brasil na elaboração da sua própria
agenda, coloque a existência e adequação daquela Agenda à
sua realidade particularmente, quanto aos seguintes
aspectos:

1. Impactos da deteriorização ambiental na


sociedade e na economia com vistas a:

a) Cidades sustentáveis
b) Agricultura e agronegócios sustentáveis
c) Infra-estrutura e integração regional
d) Gestão de recursos naturais com ênfase especial
aos recursos hídricos de água doce
e) Redução das desigualdades entre regiões e entre
pessoas
f) Educação, saúde, entretenimento e ecoturismo em
termos de melhoria da qualidade de vida dos brasileiros
g) Ciência e tecnologia no desenvolvimento
sustentável das diferentes regiões brasileiras.

29
2. Estratégias para a inserção do Brasil em um
pacto internacional para o desenvolvimento sustentável
com foco nos aspectos de:

a) Interdependência oriunda do processo de


globalização
b) Agenda para negociações com os países cêntricos
c) Condições de inserção em um novo pacto
internacional para o desenvolvimento sustentável
d) Agenda instrumental para o desenvolvimento
sustentável
e) Democracia global inserta em uma ética
multicultural.

A partir do conceito de sustentabilidade, a Agenda


21 da ONU estabelece para si e todas as demais agendas 21
vários princípios dos quais se apresentam, a seguir, aqueles
mais totalizantes:

a) Precaução, ou seja, agir com cautela na medida


em que as decisões públicas e as decisões privadas devem se
guiar por uma concreta precaução inserta em uma avaliação
para prever danos ao meio ambiente e possíveis
conseqüências de várias opções.
b) Prevenção, sob a assertiva de que é menos
custoso prevenir a degradação, a poluição e a depredação do
ambiente do que mais tarde consertar ou ajustar o estrago. À
luz desse princípio se preconiza o controle ambiental
integrado, isto é, antevisão de possíveis situações
conflituosas e perigosas que podem ser reconhecidas e
evitadas.

30
c) Poluidor pagador, em que o responsável pela
degradação, pela poluição e pela depredação ambiental deve
se responsabilizar pelos custos de mitigar ou remediar os
estragos causados.
d) Cooperação, quando as pessoas devem se
envolver na formulação de planos, programas e projetos de
ações ambientais com vistas à precaução e à prevenção.
e) Trabalhar dentro do ecossistema, princípio que
mostra os sistemas naturais fechados e neles a necessidade
da reciclagem. Considera, também, a capacidade de
suporte de cada ecossistema com vistas à sua
sustentabilidade.
f) Igualdade intra e entre gerações, isto é, relações
entre pessoas e não de um padrão mínimo. Em princípio,
visa à eficiência econômica dentro da integridade ambiental
para induzir a igualdade entre gerações, ou seja, a geração
atual deve assegurar que a saúde, a biodiversidade e o uso
intensivo do meio ambiente sejam mantidos ou melhorados
em benefício das gerações futuras.
g) Gestão pelo resultado, que subtende uma
abordagem ativa e não reativa às ameaças e oportunidades
dos problemas ambientais. Aponta para a prevenção dos
problemas em contraponto a desenvolver curas ou sintomas.
Exige criatividade sobre as questões de gerenciamento
ambiental.
h) Compromisso com a melhoria contínua para
manter o esforço, ao longo do tempo, com vistas aos
objetivos de alcançar os resultados. Requer avaliação de
todo e qualquer impacto potencial de todas as atividades a
serem implementadas.
i) Responsabilidade, tanto em termos éticos quanto
políticos para manter a transparência das decisões e ações à

31
população afetada. Subtende oferecer oportunidades para
que a comunidade opine sobre as políticas, os princípios e
os valores que guiam o processo decisório.
j) Democracia, onde a vontade das pessoas deve ser
respeitada de forma a não ideologizar os problemas
concretos, mas sim politizá-los, principalmente no controle
do dinheiro público e ou coletivo.
l) Subsidiaridade, onde as decisões nacionais que
afetam as comunidades locais devam ter em conta as
características locais e os desejos comunitários.
m) Transparência, isto é, a tomada de decisão deve
ser clara, explícita e pública. Em quaisquer circunstâncias,
as decisões que afetam o meio ambiente não podem e não
devem ficar em segredo ou indisponível àqueles que são
afetados.

Espelhado na AGENDA 21 da ONU, o governo do


Brasil criou, em 1997, a Comissão de Políticas de
Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional –
CPDS, com o objetivo de elaborar a AGENDA 21
Brasileira e redefinir o modelo de desenvolvimento do
Brasil e, conseqüentemente, de suas regiões, de seus estados
e de seus municípios. Para tanto, a CPDS realizou, em 1999,
seis grandes oficinas de trabalho e vinte e seis debates
estaduais com participação de mais de 3500 representantes,
sobre os seguintes temas:

- Cidades sustentáveis
- Agricultura sustentável
- Redução das desigualdades sociais
- Ciência tecnologia e desenvolvimento sustentável

32
- Planejamento ambiental e manejo sustentável dos
recursos naturais
- Infra-estrutura e integração regional.

Esses temas continuaram não somente em discussão,


mas, principalmente, em sistematização de todas as
propostas já apresentadas à Presidência da República em um
documento final da AGENDA 21 Brasileira com vistas a
seu encaminhamento ao Congresso Nacional para refletir
um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil.
Vale salientar que a Agenda 21 Brasileira não é e
não será um plano de governo, mas uma proposta de
estratégias que visa subsidiar e orientar as ações
governamentais e as ações privadas de forma a adaptá-las,
no tempo e no espaço da totalidade nacional, ao sentimento
da população brasileira, devidamente articulada e em
simbiose com a população do mundo.
Os princípios da Agenda 21 Brasileira servem de
paradigmas para os estudos de impactos ambientais (EIA)
e relatórios de impactos ambientais (RIMA), que são
obrigatórios para toda grande intervenção no meio ambiente
do País e, principalmente, como guia das agendas 21
estaduais e locais e para a formulação de planos diretores,
objeto da Lei 10.257, conhecida como Estatuto da Cidade.
Na ocasião da realização do Rio + 10, na África do
Sul, somente o Estado de Pernambuco havia elaborado
sua Agenda 21, muito embora vários municípios brasileiros
já fizessem, ou estejam elaborando suas agendas locais.
Considerando o conceito de desenvolvimento
sustentável que tem imbricado: gerar riqueza e melhorar na
distribuição localmente; preservar a natureza com vistas à
qualidade de vida; considerar as gerações futuras;

33
estabelecer prioridades em função de interesses sociais
coletivos e, fundamentalmente, mudar a natureza da
contradição entre produção e consumo, tendo como meta a
conservação ambiental e o combate à miséria a partir de
suas causas, foi que se elaborou a Agenda 21 Pernambuco.
A agenda, em tela, como decorrência da Agenda 21
da ONU (Rio 92) e da Agenda 21 Brasileira, tem como
objetivo formular e explicitar as estratégias desejadas pela
população do Estado de Pernambuco com vistas ao
desenvolvimento com sustentabilidade neste Século XXI.
Estratégias que visam mitigar os efeitos perversos do
globalismo no quadro de: abertura dos mercados;
competitividade; automação ou robotização do processo de
produção de bens e serviços; incorporação das ciências e das
tecnologias como fatores de produção e suas
conseqüências pela lógica do capital; exclusão social;
desemprego em massa e depredação do meio ambiente não
somente na totalidade nacional, mas, principalmente, no
Estado de Pernambuco.
Para tal mister, a Agenda 21 Pernambuco, mesmo
timidamente, abre os espaços para a construção das agendas
21 locais, cujo desenvolvimento local ou municipal passa a
ser uma estratégia operativa e metodológica onde, a partir de
uma democracia participativa radical. Nela busca-se a
integração do econômico, do social, do técnico, do
ambiental e do político para com o ajuste demo-ecológico
na sustentabilidade do desenvolvimento, agora, sob a égide
da Lei nº 10.257 de 2001 ou Estatuto da Cidade.
As agendas 21 locais permitem que os municípios
definam, através de um processo contínuo de princípios e
responsabilidades, as ações necessárias para:

34
a) Melhorar a qualidade de vida da população,
respeitando a cidadania e o meio ambiente
b) Implantar melhorias na administração das cidades,
garantindo um futuro melhor para as novas gerações
c) Orientar a elaboração dos orçamentos locais para
finalidades e aplicações estratégicas, usando melhor e
desperdiçando menos os recursos naturais e orçamentários e
as receitas municipais
d) Ampliar as responsabilidades e as possibilidades
de participação da sociedade na definição das políticas
municipais
e) Orientar o uso adequado dos recursos naturais e
orçamentários às ações locais na busca do desenvolvimento
sustentável
f) Melhorar a distribuição da renda no nível
municipal ou local.

As agendas 21 locais estão, em muito, facilitadas


pelo Estatuto da Cidade (Lei 10.257 de 10/07/2001), que
regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal de
1988. Segundo o Estatuto, as cidades com mais de 20.000
habitantes são obrigadas a ter um Plano Diretor que, em
umbrais de 10 anos, devem ser atualizados. Esse Plano deve
ser compulsoriamente consubstanciado em Lei Municipal.
A partir dele é que se elabora o Plano Plurianual do
Município e seu correspondente Orçamento Participativo,
também, respaldados por lei municipal. Dessa forma, abre-
se oportunidade para que as estratégias das agendas 21
locais sejam implementadas pela supracitada Lei.
A sociedade brasileira tem conhecimento das
famílias de normas ISO 9000 e ISO 14000 da OIN
(Organization for Standatization) com sede na Suíça. As

35
primeiras são paradigmas para a qualidade, e as segundas,
para as questões ambientais. Também vem ao encontro dos
princípios da Agenda 21 o Certificado SA 8000 (sigla em
inglês de Social Accountability 8000), que é uma nova
norma de responsabilidade social para empresas. Os tópicos
desse novo Certificado resumem-se no seguinte:

- Não empregar trabalho infantil e não admitir


fornecedores que o empreguem
- Não empregar nenhum tipo de trabalho forçado
nem admitir fornecedores que o empreguem
- Não permitir desigualdades de salários para
homens e mulheres em mesmas posições
- Não permitir discriminação de raça, sexo, religião,
orientação política e opção sexual nas contratações, nas
promoções, no acesso a treinamentos, etc..

Para maiores detalhes sobre SA 8000, consultar o


site www.cepaa.org
Em agosto-setembro de 2002 foi realizada em
Johanesburgo na África do Sul a Cúpula Mundial sobre
Desenvolvimento Sustentável (Rio+10) com vistas a fazer
um balanço da década em que foi elaborada a Agenda 21 na
ECO-92, no Rio de Janeiro, e seus respectivos resultados.
Em termos sinóticos, existem os seguintes
indicadores, na década perdida do ambiente, segundo a
Folha de São Paulo de 24/08/2002:

a) Clima, efeito estufa. Em 1990, lançava-se


5.827.000.000 de toneladas de CO² na atmosfera, e em 1999
essas emissões chegam a 6.097.000.000 de toneladas
sabendo-se que apenas 78 países haviam ratificado o

36
Protocolo de Kyoto, cujo maior emissor os EUA se negam
a ratificar.
b) Energia. Em 1992, o consumo de energia foi
equivalente a 8 trilhões de toneladas de petróleo/ano. Esse
indicador subiu para 9 trilhões/ano em 2000.
c) Biodiversidade. Até 1992, estimava-se que cerca
de 180 espécies de animais haviam sido extintas e outras mil
estavam ameaçadas de extinção; os atuais levantamentos
revelam que 24 espécies de vertebrados foram extintas 1780
espécies de animais e 2297 de plantas estão ameaçadas
desde 1992 até 2002.
d) Florestas. Em 1990, havia 4 bilhões de hectares
de florestas e, em 2000, essa área foi reduzida para 3,9
bilhões, isto é, uma devastação correspondente a área do
Estado de São Paulo, de Minas Gerais, do Rio de Janeiro e
do Espírito Santos juntas.
e) Água. Em 1990, a população mundial usava 3.500
km³ de água doce/ano, e em 2000 o consumo total chegou a
4.000 km³ ou seja, aumentou em 12.5%.
f) Agricultura. Em 1987, utilizavam-se no planeta
14,9 milhões de km² (297 ha para cada grupo de 1000
pessoas) na produção agropecuária, e em 1997 essa área
subiu para 15,1 milhões de km², ou seja, 259 ha para cada
grupo de mil pessoas.
g) Pobreza. Em 1992, o número de pessoas vivendo
com até US$ 1,00 /dia era de 1,3 bilhão, e, em 2000,
melhorou para 1,2 bilhão, sem se levar em conta a inflação
do dólar no período.
h) População. Em 1992, viviam no planeta 5,44
bilhões de pessoas; a estimativa, em 2002, é de 6,24 bilhões,
isto é, um crescimento de 13% no decênio.

37
i) Dívida externa. Em 1990, os países
subdesenvolvidos deviam US$ 1,456 trilhões a seus
credores, e, em 1999, a cifra subiu para US$ 2,569 trilhões.
j) Ajuda externa ao desenvolvimento sustentável.
Em 1992, os países ricos cooperavam com 0,36% de seu
PIB para os países pobres, esse investimento caiu para
0,22% no que pese o compromisso dos países ricos no Rio
92 de aumentá-lo para 0,7%.

Com vistas à realização da Cúpula Mundial sobre o


Desenvolvimento Sustentável, em Johannesburg, o WWI
(Worldwatch Institute ) que, no Brasil, é associado à UMA
(Universidade Livre da Mata Atlântica) apresentou ao
mundo, via INTERNET, no site www.wwiuma.org.br, e
publicou o livro Estado do Mundo, com o objetivo de
advertir os estados nacionais e a humanidade, como um
todo, sobre as ameaças à natureza pelos efeitos da
acumulação de capital à custa de processos depredatórios de
exploração da natureza via extorsão dos recursos naturais e
humanos.
Como exercício escolar, a diligente aluna Cristina
Ferreira Montenegro Torres contextualizou o livro, acima
citado, e o resumiu da seguinte maneira:

Capítulo 1 - O estado do mundo, dez anos após o Rio


“Rio-92 foi o primeiro encontro internacional de
importância que analisou conjuntamente as questões
ambientais e desenvolvimentistas. Dez anos depois, uma
avaliação do Estado do Mundo mostra que nenhuma destas
áreas se saiu bem. O meio ambiente continua a ser
desvalorizado e cada vez mais degradado, apesar de alguns
avanços encorajadores. E após uma década de

38
prosperidade em grande parte do mundo, o desenvolvimento
está cada vez mais distante para muitas nações pobres – e
de certa forma pode estar se decompondo em nações mais
ricas. Esta visão geral conclui que será necessário um novo
conceito de desenvolvimento – um que seja criado em torno
da saúde ambiental e do avanço social para todos os
povos”.

Capítulo 2 - Desenvolvendo a agenda da mudança


climática
“Com um Governo Bush nos Estados Unidos e
ministros europeus novamente assumindo posições
antagônicas quanto ao aquecimento global, será que
Joanesburgo 2002 repetirá Rio-92? O mundo, porém, não
ficou parado na década desde a assinatura e ratificação da
Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança
Climática. Pelo contrário, a ciência, economia, comércio e
política da questão climática evoluíram de tal forma que
poderão ajudar a desenvolver a agenda”.
Este capítulo analisa a primeira década do tratado,
examina suas “dores de crescimento” sob o Protocolo de
Kyoto e explora os obstáculos potenciais para seu
desenvolvimento futuro”.

Capítulo 3 - A agricultura de utilidade pública


“Os delegados da Rio-92 identificaram três objetivos
amplos para os sistemas alimentícios e agrícolas: assegurar
um suprimento alimentício adequado e acessível, prover
meios de vida estáveis e rentáveis para as comunidades
agrícolas e rurais, e construir uma saúde ecológica. Em
geral, nossos sistemas alimentares avançaram além destas
múltiplas funções na última década. Porém os agricultores

39
e cientistas agrícolas, em muitas partes do mundo, estão
começando a perceber como reestruturar a forma de
produzirmos os alimentos para melhor atender às funções
múltiplas delineadas no Rio, enfocando menos os
ajustamentos químicos e tecnológicos e mais as vantagens
dos processos ecológicos que ocorrem no campo”.

Capítulo 4 - Reduzindo nosso ônus tóxico


“A recém assinada Convenção de Estocolmo sobre
Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs) assinala uma das
conquistas-chave da década, desde a Rio-92. Encorajada
pelo positivismo da Convenção de Estocolmo e tratados
associados cobrindo os temas do uso de produtos tóxicos,
do comércio e dos resíduos, a comunidade global hoje
enfrenta um desafio duplo: reformar um gigantesco setor da
economia industrial e ao mesmo tempo lidar com as
imensas quantidades de materiais tóxicos já produzidos e
existentes, seja como lixo ou como produtos circulando na
economia. Serão necessárias formas mais seguras de
realizar negócios e atender às necessidades humanas com
materiais, produtos e processos que reduzam, e não
aumentem, o ônus tóxico global”.

Capítulo 5 - Redirecionando o turismo


“À medida que o Século XXI se desenvolve, as
pessoas cruzam o planeta em ritmo sem precedentes,
buscando novas experiências, “redutos” remotos, ou
simplesmente locais ensolarados para relaxar e
reenergizar. De certa forma, viagens e turismo tornaram-se
a maior indústria mundial, gerando receitas significativas e
milhões de empregos em muitos países, particularmente no
mundo em desenvolvimento. Apesar de seu potencial,

40
entretanto, o turismo também tem seu lado negativo – com
impactos na cultura, meio ambiente e economias locais.
Este capítulo analisa algumas das vantagens e
desvantagens do turismo, como também algumas das formas
mais excitantes pelas quais governos, o setor turístico e os
próprios viajantes estão ajudando a direcionar o turismo
para um futuro mais sustentável”.

Capítulo 6 - Repensando a política populacional


“O acelerado crescimento populacional é
freqüentemente considerado como a raiz de muitos
problemas ambientais e sociais, desde o uso predatório dos
recursos até a pobreza persistente. Todavia, o crescimento
populacional, contínuo por todo o mundo em
desenvolvimento, poderia ser visto de forma mais precisa
como sintomático de problemas mais profundos, inclusive a
falta de acesso a tratamento da saúde e planejamento
familiar, discriminação de gênero e pobreza persistente.
Quando mais pessoas do que em qualquer outra época da
história da humanidade entram em idade reprodutiva,
torna-se essencial a redefinição de uma política
populacional como empreendimento do desenvolvimento
social”.

Capítulo 7 - Debelando as lutas por recursos


“Ao invés de incrementar o desenvolvimento
sustentável, a riqueza de recursos naturais freqüentemente
provocou ou facilitou a ocorrência de conflitos violentos
nos países em desenvolvimento. Nos últimos anos, a
comunidade internacional esforçou-se para lidar com o
desafio dos “diamantes de guerra” em Angola, República
Democrática do Congo e Serra Leoa. Outros recursos como

41
petróleo, madeira, ouro, cobre, café, etc. também foram
utilizados para comprar armas, fomentar guerras civis e
financiar a corrupção. A extração de recursos
freqüentemente causou efeitos ambientais e sociais danosos
a populações locais, gerando, às vezes, atritos em larga
escala que levaram à violência. Este capítulo descreve a
experiência com as lutas em disputa de recursos durante a
última década e recomenda políticas para evitá-los”.

Capítulo 8 - Redefinindo a governança global


“Rio-92 determinou vários acontecimentos na
governança internacional, incluindo novos tratados sobre
mudança climática e diversidade biológica, criação da
Comissão das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Sustentável, e seções da Agenda 21 dedicadas a questões
mais amplas de reforma institucional, financiamento e
participação pública. Mas, alguns anos depois, foi criada a
Organização Mundial do Comércio baseada numa visão
muito diferente da direção futura da economia global”.
Este capítulo analisa o histórico das reformas da
governança ambiental, acordadas no Rio, na reversão do
declínio ecológico, e descreve como a Cúpula Mundial
sobre Desenvolvimento Sustentável poderá ser utilizada
para impulsionar iniciativas que tornarão mais eficaz a
governança global em prol do desenvolvimento
sustentável.”
A Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento
Sustentável (Rio+10), realizada em Johannesburgo, teve
representantes de 191 países. Nela foram aprovados dois
documentos: a Plataforma de Ação de Johannesburgo e a
Declaração Política, destinados a criar um modelo de
desenvolvimento sustentável alicerçado no progresso

42
econômico, na justiça social e no cuidado ambiental. A
Declaração alerta a humanidade para a disparidade crescente
que separa ricos e pobres e que ameaça a prosperidade
mundial. Destaca, também, a necessidade de uma
democracia global e instituições multilaterais. Quanto à
Plataforma de Ação, dá-se ênfase aos seguintes pontos:

a) Água e saneamento. “Reduzir à metade de agora


até 2015 a proporção de entes humanos que não podem ter
acesso à água potável ou comprá-la e a proporção de seres
humanos que não tem acesso a meios de saneamento.”
b) Proteção de recursos naturais. “Aplicação da
Convenção sobre Biodiversidade e redução significativa do
ritmo atual de empobrecimento da diversidade biológica de
agora até 2010.”
c) Pesca. “Manter e estabelecer as reservas a um
nível que permita obter um rendimento máximo sustentável
até 2015.”
d) Produtos químicos. “Assegurar uma
administração racional dos produtos químicos ao longo de
todo o seu ciclo de vida de maneira que, antes de 2020, os
modos de utilização e de fabricação não tenham efeitos
nocivos significativos sobre a saúde dos humanos.”
e) Energia. “Incentivar e promover a elaboração de
programas que sirvam de apoio às iniciativas regionais e
nacionais tendentes a acelerar a passagem para modos de
consumo e produção sustentáveis.”
f) Fontes de energia. “Diversificar o abastecimento
energético, desenvolvendo tecnologias inovadoras menos
poluentes e de melhor rendimento recorrendo a
combustíveis fosseis, assim como a tecnologias baseadas em

43
energia renováveis, incluindo a energia hidrelétrica, e sua
transferência aos países em desenvolvimento.”

Vale salientar que os assuntos, aqui tratados, estão


intimamente ligados aos Investimentos Externos Diretos -
IEDs” não somente naquilo que diz respeito ao resgate de
carbono, mas também, ao fortalecimento do papel do
comércio exterior e da promoção da produção industrial
discutidos na Conferência Mundial sobre
Desenvolvimento Industrial Ecologicamente Sustentável
realizada, em outubro de 1991, em Copenhague.
Convém lembrar que o Brasil, com o apoio dos
países do Caribe e da América do Sul, na Rio+10, foi
enfático em afirmar que, para o desenvolvimento sustentável
o melhor que se tem a fazer é remover os obstáculos que se
opõem à sustentabilidade. Dá como exemplo, o
protecionismo, as barreiras comerciais e as salvaguardas dos
países cêntricos, em vez de simularem a alavancagem do
desenvolvimento induzido de fora para dentro. O propósito
desse posicionamento está na premissa de que os países
pobres devem por si só amplificar o alcance de iniciativas
capazes de, por conta própria, assumirem a responsabilidade
por sua promoção social, política, econômica e ambiental.
É importante advertir e alertar o leitor sobre o
fato de que ou se cuida da natureza e se evitam as
alterações da natureza, socialmente produzidas, ou a
humanidade viverá, cada vez mais, catástrofes sociais da
natureza de intensidades incontroláveis e impensáveis.

44
PARTE II. TEORIA DO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL

“Pela exploração do mercado mundial, a burguesia


imprime um trabalho cosmopolita à produção e ao
consumo em todos os países. Para desespero dos
reacionários, ela retirou da indústria sua base nacional.
As velhas indústrias nacionais foram destruídas e
continuam a sê-lo diariamente. São suplantadas por novas
indústrias, cuja introdução se torna uma questão vital
para todas as nações civilizadas, indústrias que não
empregam mais matérias-primas nacionais, mais sim
matérias-primas vindas das regiões mais distantes, cujos
produtos se consomem não somente no próprio país, mas
em todas as partes do globo. Em lugar das antigas
necessidades, satisfeitas pelos produtos nacionais, nascem
novas realidades que reclamam para sua satisfação os
produtos das regiões mais longínquas e dos climas mais
diversos. Em lugar do antigo isolamento de regiões e
nações que se bastavam a si próprias, desenvolve-se um
intercâmbio universal, uma universal interdependência
das nações. E isso se refere tanto à produção material,
como à produção intelectual. As criações intelectuais de
uma nação tornam-se propriedade comum de todas. A
estreiteza e o exclusivismo tornam-se cada vez mais
impossíveis; das inúmeras literaturas nacionais e locais,
nasce uma literatura universal”. K. Marx e F. Engels.
Manifesto Comunista. Escrito em dezembro de 1847 –
Janeiro de 1848 e publicado em Londres em fevereiro de
1848.

45
O texto supra parece ter sido escrito hoje, século
XXI quando se vive o chamado processo de globalização,
cujas características distintivas são:
a) Integração dos mercados financeiros mundiais
b) Crescente presença de empresas transnacionais
na economia do país
c) Internacionalização das decisões
d) Incrível mobilidade de massa de capitais
financeiros e sentidos especulativos
e) Manipulação da política monetária e cambial
f) Mobilidade das empresas transnacionais sem
compromisso com os países que sediam suas atividades
g) Constrangimento do poder dos estados nacionais;
h) Fabricação de diferentes partes do produto em
diferentes países à custa de baixas remunerações “marketing
clearing”
i) Relações intracapital ou (cachos de empresas)
“producer-driven”
j) Incrível velocidade de transmissão de dados e
informações que fazem a dimensão espacial-demográfica
perder importância e com impactos instantâneos
k) Obsoletismo do emprego com transformação no
conceito de ocupação e geração de uma incontrolável
exclusão social a partir de entes humanos supérfluos ao
sistema capitalista
l) Obsoletismo da superestrutura, isto é, do direito
positivo e a ele contrapondo um direito em rede e a
arbitragem, ou ainda, o “direito reflexivo e o direito social”.

A economia mundo do sistema mundo capitalista


dá-se, hoje, com as relações dialéticas concentração versus
fragmentação e exclusão versus inclusão. De um lado,

46
assiste-se a necessidades de “network” em forma de
“TEAMNETs” (empresas de transposições de fronteiras)
que basicamente decidem o que, como, quando e onde
produzir os bens e serviços em forma de marcas e redes
globais que forçam o processo de concentração nas
cadeias de produção. Do outro lado, a participação no
mercado “market share” e o processo de acumulação
incessante de capital levam as organizações a terceirizar,
franquear, associar-se e agir em multinível, dando
oportunidades a uma grande quantidade de organizações
menores (fragmentação), que alimentam as cadeias
produtivas do sistema mundo do capitalismo.
Imbricado à nova contradição supra estabelece-se
outra que se explicita no desempenho estrutural crescente
dentro de uma dinâmica de uma queda de preços dos
produtos em níveis globais na tentativa de incluir aqueles
que estão à margem do consumo oriundos do processo de
exclusão pela ausência de emprego provocado, também,
pelas intensas inovações tecnológicas dentro ou fora dos
arranjos produtivos locais, “clusters” ou nichos de
localização espacial e especializada.
Diante de tais contradições, as organizações levam
às ultimas conseqüências a estratégia do suprimento
intrafirma “intra-firm sourcing” em empresa-rede
“network” globais. As conseqüências dessa estratégia fazem
multiplicação do trabalho urbano informal flexível em
detrimento do trabalho jornal. Por todos esses motivos, os
cidadãos passam a recriar e reinventar sua própria
ocupação ou seus autonegócios na medida em que o
emprego some e ele tenta sobreviver no processo de
exclusão social em massa ou buscar proteção no sistema de
cooperativas e de multiníveis ou, ainda, empresas

47
comunitárias.
Na lógica da economia mundo ou economia do
poder (militar, monetário e comunicação) no sistema mundo
capitalista, o fracionamento das cadeias produtivas, vital
para as organizações, incorpora e desenvolve bolsões de
trabalho mal remunerados, em nível global, com
tendências cada vez maiores de concentração de renda e
exclusão da maioria absoluta dos contingentes populacionais
tanto nos países centrais como, principalmente, nos
periféricos. É importante discernir que o sistema mundo
capitalista a partir do G7 é, agora, um império que domina
a totalidade econômico-social-espacial do planeta. Não tem
limites: temporal; social; espacial; e independe do estado-
nação como base de poder, como aconteceu na economia
mundo do capitalismo onde o imperialismo (europeu e
norte americano) tinham como base o centro do poder,
precisamente, o estado-nação ou o estado intervencionista.
Desconhecendo onde começa e termina sua área
influência e dominação transnacional, o império do sistema
mundo capitalista, provoca um novo código de ética
multicultural, onde não mais se separam as esferas
públicas e as esferas privadas, podendo, em conseqüência,
impulsionar forças motrizes que tendam a um direito à
cidadania global e a uma renda mínima para uma
sobrevivência digna do cidadão. Esta hipótese é o
contraponto do principio de exclusão, ora existente, onde
80% da população mundial se tornam descartável para que o
sistema mundo capitalista possa sustentar apenas os 20%
que são do sistema, e o controla na perspectiva de decidir
quem sobrevive e quem deve desaparecer por causa da
“destruição criadora”, maquinada pela atual estratégia
neoliberal, monetarista e consumista do império.

48
Sabe-se que as causas do fenômeno do globalismo
são várias, outrossim, vale mencionar aqui as duas
principais:

a) a crise do padrão monetário mundial decidido


unilateralmente pelo governo Norte-americano, em 1971,
com a insustentabilidade da paridade dólar-ouro;
b) os choques do petróleo de 1973/1974 e de
1978/1979, que desnivelaram os preços relativos da
produção dos bens e serviços, em escala global, com
radicais descontroles nas balanças de pagamentos dos
países.
No intricado processo da crise, dar-se-á início à
transformação de empresas multinacionais em empresas
transnacionais. Observa-se a conversão das ciências e das
tecnologias em meio básico de produção de bens e
serviços, em toda a ordem econômica mundial, dando como
resultado o decrescente ciclo de vida útil dos bens e o
acúmulo de lixo e poluição ambiental de toda ordem. Daí
surge, ainda, de nível global, um novo padrão de
estratificação no processo de acumulação de capital e em
seu incessante rendimento em forma de lucro via capital
financeiro e rentistas, com radical aprofundamento das
desigualdades entre pessoas e entre países, oriundos dos
novos fluxos de: intercâmbios comerciais; pagamentos;
tecnológicos; informações; entre economias nacionais e
economias regionais e entre capitais mercantis, financeiros,
produtivos e rentistas.
Frente a tais fenômenos, a nova ordem (e os novos
paradigmas) do processo de produção do modo capitalista
passa a ser condicionada pelos seguintes fatores:

49
a) Radicais diferenças entre os países cêntricos (G8)
e a semiperiferia e a periferia do sistema mundo do
capitalismo.
b) Emergência e consolidação de novo paradigma da
“especialização flexível da produção” “pós-fordista” em
“revolução da gestão do conhecimento”, que relativiza as
vantagens comparativas dos países que fazem parte da
semiperiferia e da periferia do sistema mundo capitalista.
c) Padrão de estratificação relacionada à dinâmica da
oferta e da procura pós-investimentos diretos e indiretos no
âmbito do sistema financeiro internacional, que geram
capacidades produtivas de bens e serviços sob a égide das
transnacionais, agora organizadas em: muitos centros;
cadeias; redes; organicidade; processos; interação; muitos
canais decisórios e recursos de informações.

Estreito monitoramento do sistema por organizações


mundiais, tais como: OMC, FMI e BIRD, sob a égide do
único país que tem plena soberania e pleno poder de doar
sentido ao sistema mundo capitalista que são os EUA e seu
consorte G8, onde suas ordens são convalidadas para o
sistema mundo.
A partir do cenário acima, há que se buscar uma
inserção do Brasil no sistema mundo capitalista, sem
sacrifício da identidade nacional e com sustentabilidade
em termos de desenvolvimento. Para tanto, não se deve
olvidar que a dimensão econômica do globalismo se
reificada pode levar a um tipo de reducionismo que oculta
outros fatores de ordem política, cultural e ambiental.
Por isso é que a inserção do Brasil não pode se dar
nos termos dos EUA ou da União Européia, mas, talvez,
como a da China, a da Rússia e a da Índia. Para tanto, há

50
que se garantirem condições mínimas de
interdependência e de soberania para decidir a doação de
sentido que devem ter a política e a economia nacional, sem
interferências externas, como as do FMI, do BIRD e mesmo
as dos EUA.
Os conceitos de nação, estado e soberania estão
imbricados aos processos econômicos, sociais, políticos e
culturais na medida em que: i) a nação expressa no meio
político a integração de pessoas com a mesma identidade
coletiva, com a mesma historicidade e base econômico-
cultural; ii) o estado aponta para um ordenamento e controle
induzido pela expansão do capital para estabelecer a
unificação de estruturas de poder territorial com aplicação e
regras de direito válidas para todo e qualquer habitante cujo
contorno institucional, político, burocrático e jurídico deu-
se no século XIX; iii) a soberania trata do poder de mando
numa determinada sociedade, política, econômica, social e
cultural, que é julgado exclusivo, independente, inalienável
e supremo. Está relacionada à essência da política expressa
internamente pela ordem, e externamente pela guerra.
No contexto do sistema mundo, induzido pelas
transnacionais, no processo de globalização, as contradições
do capital e, principalmente, do capitalismo apresentam uma
forte tendência para o crescente esvaziamento das regras ou
normas do direito constitucional dos estados nacionais
frente aos novos esquemas regulatórios e, também, das
novas formas organizacionais e institucionais
supranacionais refletidas pela tendência da formação dos
megablocos econômicos.
No pensamento de WALLERSTEIN, há no sistema
mundo do capitalismo as seguintes tendências que apontam
à agonia do sistema mundo capitalista que o leva para sua

51
bifurcação discipativa ou sua substituição:

a) Desruralização do mundo
b) Crise ecológica mundial
c) Democratização do mundo
d) Reinvenção ou reversão do estado-nacional
e) Militarização e autodestruição das forças
produtivas
f) Financeirização do capital com o abandono da
produção de riquezas.

Todas essas tendências batem de frente ou se opõem


às forças motrizes do sistema mundo capitalista, que são o
lucro e o poder, ambas resultantes do processo de
acumulação incessante de capital.
Diante da situação, sinoticamente aqui apresentada,
procuram-se indicar algumas premissas para um cenário
mais otimista e de hominização a partir de parâmetros e
paradigmas para a sustentabilidade econômico-social dos
entes humanos.
Frente a esse contexto histórico do sistema mundo
capitalista, veio à luz a Comissão Bruntland que a partir de
pressupostos éticos de solidariedades: intergerações,
intragerações e interespacial elaboraram o seguinte conceito:
“desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as
necessidades do presente sem comprometer a capacidade
das gerações futuras satisfazerem as suas próprias
necessidades”.
Pelo visto, esse conceito imbrica ao processo
desenvolvimentista a continuidade e a permanência da
qualidade de vida e das oportunidades no tempo,
incorporando uma perspectiva de longo prazo na realidade

52
como totalidade complexa e, no dizer de Edgard Morin, “o
homem não é uma entidade isolada em relação a esta
totalidade complexa: é um sistema aberto, com relação de
autonomia/dependência organizadora no seio de um
ecossistema”.
Uma visualização esquemática do desenvolvimento
sustentável pressupõe no processo desenvolvimentista uma
área de intersecção de três círculos (sistemas) que refletem o
nível ou o grau de compatibilização entre as três dimensões
representativas com maior e melhor eqüidade, conservação e
racionalidade econômica.
Note-se, esquema nº 1, que o padrão de consumo, a
distribuição de renda e o progresso técnico condicionam
todo o sistema de desenvolvimento sustentável.

53
Esquema nº 1.
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Padrão de Consumo

Elementos
Ausência de Conservacionistas
Realismo
Elementos de Econômico
Eqüidade Social

DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

Degradação Pobreza e
Ecológica Desigualdade
Social

Elementos de
Progresso
Racionalidade Técnico
Distribuição
de Renda

Ainda, nesse esquema, vê-se que o desenvolvimento


sustentável se conecta com os sistemas de:

54
a) Ausência de realismo econômico
b) Pobreza e desigualdade econômica
c) Degradação ecológica
d) Equidade social
e) Conservacionistas
f) Realidade econômica.

No esquema n° 2, o estilo do crescimento e o estilo


do desenvolvimento econômico-social condicionam a
sustentabilidade ecológica na medida em que as relações
que se dão entre as formas: da organização da economia; da
sociedade e das condições dos ecossistemas, em que se
situam, estão devidamente ordenados pelos componentes
apresentados.

55
Esquema nº 2.
COMPONENTES DO ESTILO DE DESENVOLVIMENTO E
ECOLOGIA

Padrão Estrutura Padrão de


Tecnológico Produtiva Consumo

POTENCIAL DE IMPACTO

Dinâmica Dinâmica
Econômica Demográfica

ECOSSISTEMA
Capacidade de auto-reprodução dos
recursos renováveis. Ritmo de
exaustão dos recursos não-renováveis

d Qualidade ecológica

56
Subentende-se que, no estilo de desenvolvimento
apresentado no esquema n° 2, seu padrão tecnológico está
voltado para reduzir a taxa de exploração da natureza e de
emissão de efluentes na forma como poupa e recicla
recursos não-renováveis criando inclusive substitutos para
os mesmos. Por essas características se espera que o
desenvolvimento sustentável reduza a pobreza e a
desigualdade social entre as pessoas, construa uma
emulação no seio da competitividade econômica, conserve
os recursos naturais e os ecossistemas, reduza as
desigualdades espaciais e organize a sociedade em termos
de democratização das instituições e organizações.
Tendo-se a certeza de que o planejamento
estratégico situacional é o instrumento do conhecimento
prospectivo que aponta para a construção do futuro desejado
pelos autores sociais se apresenta o esquema nº 3 que, ao
retomar as Leituras de Planejamento Estratégico, (trabalho
do Autor, 71 p.) os insere na teoria da complexidade, onde a
incerteza e a indeterminação diante do futuro é, segundo
MORIN,“a ordem que se alimenta da desordem para a sua
própria organização, sem nunca chegar a esgotá-la
totalmente.” Ver esquema nº 3.

57
Esquema nº 3.
MOBILIZAÇÃO DOS AUTORES

Consulta à Produção
Sociedade Estudos Básicos Técnica / Científica

Eu
o
Outro

Conselho Estratégias e
Político Momentos para
Ação na Situação

Conteúdo Propositivo

EU
O
OUTRO

G C

P = Plano
G = Governabilidade
C = Capacidade

58
Conectando a teoria do desenvolvimento sustentável
com a teoria da complexidade, o planejamento, como
instrumento, tem os seguintes desafios:

a) Visão de totalidade
b) Abordagem inter ou transdisciplinar
c) Complexidade da articulação de múltiplas
dimensões, tais como: i) econômica; ii) ecológica; iii)
sociocultural; iv) tecnológica; v) epidemiológica e vi)
político-institucional
d) Sinergias e impactos cruzados entre as dimensões
na abordagem temporal (intercâmbios atuais e futuros) e na
abordagem espacial (articulação entre o local e o global)
e) Negociação de interesses entre as gerações atuais
e futuras
f) Articulação entre necessidades imediatas e
perspectivas de longo prazo
g) Escolha política e racionalidades técnicas
h) Multiplicidade e diversidade de atores sociais e
seus respectivos interesses.

Observe-se, ainda, que no esquema nº 3, além de se


doar ao processo de desenvolvimento sustentável uma visão
metodológica ampla, imbrica-se postulados de processo
participativo de formulação e negociação dos atores sociais,
e, também, o tratamento e a sistematização de informação
para aderência e compreensão da realidade. Dessa forma, o
esquema nos remete para um campo de forças impulsoras e
restritivas ao desenvolvimento sustentável. Por essa razão se
apresenta o esquema nº 4, que dá uma idéia de contexto do
campo de forças com vistas ao conteúdo propositivo do

59
planejamento estratégico situacional do desenvolvimento
sustentável. Ver esquema nº 4.

Esquema nº 4
CONTEXTO DO CAMPO DE FORÇAS

Forças Impulsoras X Forças Restritivas


Oportunidades X Ameaças
Pontos Fortes X Pontos Fracos
Efeitos para Frente X Efeitos para Trás

Problemas Potencialidades

CAMPO DIMENSIONAL SITUACIONAL

Político Momentos:
Econômico Explicativo
Tecnológico Normativo
Sóciocultural Estratégico
Ambiental / Tático Operacional
Ecossistêmico
Institucional-
Administrativo

Plano Estratégico
(Conteúdo Propositivo)

60
Esquema nº 5
AÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.
Redução da Pobreza

Geração de Geração de
Emprego Renda

Alta Dinamismo da
Capacidade de Economia
Arrecadação do
Economia
Social /
Comunitária
Reestruturação
do Estado

Competitividade Alta / Ampliação


Elevados Alta
do Mercado
Investimentos Distribuição
Interno
de Renda

Rearranjos Avanços Melhoria Aplicação da


Institucionais Tecnológicos Educacional Infra-Estrutura

Elevação dos Investimentos


Públicos

61
Esquema nº 6
AÇÕES PARA ALTERAR A REALIDADE NA PERSPECTIVA DE
NO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ENFRENTAREM-SE
OS PROBLEMAS E APROVEITAR AS POTENCIALIDADES

Instrumentos Espaço
Metodologia / organização. / Setor

Como
Estudos Básicos do Onde fazer?
Campo de Forças fazer?

Propósito
Problemas Unificador
Imagens
Ações
Objetivos
Eu
O Outro O que fazer? Com
Para
quem quem
fazer? fazer?
Potencialidades
Que alcançar
no futuro?
Realidade / situação (realidade
desejada)

Observe-se que as ações explícitas no esquema nº 5,


além de quebrar os círculos viciosos, também, apontam para
pressupostos de como se pode e se deve romper com a
situação de periferia e de exportação dependente com
aplicação do mercado interno ou MERCOBRASIL a partir
da ênfase ou combate à pobreza; à distribuição de renda; à
reconstrução do estado; aos avanços tecnológicos; à
melhoria educacional e à aplicação da infra-estrutura.

62
A inteligibilidade do esquema nº 5 é complementada
pela interpretação do esquema nº 6. Este focaliza ações para
alterar a realidade na perspectiva do desenvolvimento
sustentável, tendo-se em foco o enfrentamento e a análise
dos problemas com vistas ao aproveitamento das
potencialidades nas múltiplas dimensões vistas pelo
planejamento estratégico no âmbito das ações prioritárias.
Ressalve-se, ainda, que, na abordagem agregada do
processo de trabalho para o planejamento estratégico do
desenvolvimento sustentável, o mesmo tem a ver, também,
com os seguintes tópicos:

a) Análise do contexto com identificação das forças


impulsoras e forças restritivas ou das oportunidades e
ameaças
b) Processo técnico de consulta à sociedade e a
especialistas
c) Análise de interação entre as dimensões em
termos de causalidade dos problemas e potencialidades.

Vale lembrar que o esquema nº 7 permite uma visão


sistêmica dos ambientes ou dimensões do sistema de
desenvolvimento sustentável. Note-se que no ambiente
humano se especificam as condições: socioeconômicas;
demográficas; culturais e dos mercados. No ambiente ou
dimensão natural ou da natureza, as condições estão na:
biotecnologia; edafologia; biodiversidade ou, ainda, em toda
biosfera. No ambiente ou dimensão técnico-cultural cuja
instância de uso se dá: no espaço; na infra-estrutura; na
biomassa; nas máquinas simples ou complicadas e na
biotecnologia. No ambiente ou dimensão da produção, as
condições ou aspectos importantes descansam no: trabalho,

63
empregabilidade; desenvolvimento eco-agro-industrial;
indústria concentrada geralmente de bens de produção;
serviços de desenvolvimento; serviços institucional-
administrativos e turismo. Todos esses ambientes ou
dimensões estão conectados ao ambiente informacional e
do conhecimento à luz de conexões, trocas, mudanças e
redes transdisciplinares.

64
Esquema nº 7
VISÃO HOLÍSTICA DOS AMBIENTES NO SISTEMA DO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Ambiente Humano
Condições:
• Sócioeconômico
• Demográfica
• Psicossocial
• Política-Cultural
• Mercadológica
Ambiente Natural * Ambiente
Técnico Cultural
Condições: Ambiente da
• Ecossistema Informação Condições de uso:
• Biosfera e Conhecimento • Do espaço
• Biodiversidade • Políticas • Da Infra-estrutura
• Redes
• Edafoclimática * • Cibernética
* • Da biomassa
• Morfológica • Da energia
• Urbano • Aeroespacial • Das máquinas
• Recursos • Ciência • Da biotecnologia
• Naturais • Tecnologia

*
Ambiente da Produção
Condições:
• Trabalho e empregabilidade
• Eco-agroindustrial
• Indústria concentrada
• Serviços de desenvolvimento
• Turismo
• Infra-estrutura
• Institucional-administrativa
* Conexões e trocas
entre os ambientes.

65
PARTE III. IDÉIAS PARA UM MODELO
AUTÔNOMO DE DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL

Procura-se, agora, definir uma estimativa de


tendências prováveis para o Brasil a partir da perspectiva do
autor que, como brasileiro e nordestino, representa seu
ponto de vista, condicionado pela estrutura conceitual da
crítica abrangente na esperança de que o mesmo não se
confunda com o etnocêntrico que é próprio aos modos de
pensar dos países hegemônicos. A crise intestina por que
passa o Brasil desde 1974 até os dias de hoje (junho de
2006) é, sem dúvida, uma das grandes manifestações que
atestam que o sentido de nossa economia é ditado pelos
atuais credores internacionais e, particularmente, pelo Fundo
Monetário Internacional e o Secretário do Tesouro Norte-
americano. Claro que a crise tem como suporte interno a
baixíssima taxa de integração social no Brasil, onde as
disparidades de renda entre as pessoas e entre os estados e
regiões da federação tornaram o País o mais inequalitário na
América Ibérica, quiçá no mundo. Essa iniqüidade ou
desigualdade que caracteriza a distribuição da renda priva o
Brasil de condições internas política e militares necessárias
à magna tarefa de consolidar seu processo democrático e o
impossibilita de manter, no nível de Estado, e de continente
sul-americano, um sistema integrado de defesa econômico-
político-militar para a questão da dívida externa e da
consolidação de um destino próprio para a América Latina,
principalmente o continente sul-americano. No momento, a
disparidade de rendas ainda não invalida o conceito de
nacionalidade, mas tende para isto.

66
O BRASIL NO CONTEXTO DE UM
DESENVOLVIMENTO PARA SI

Na medida em que não se tem consciência da


diferença entre "estar no mundo" e “ser no mundo", ou
ainda, entre "uma nação para outras" e "uma nação para
si", comete-se o erro crasso de se sobrepor o técnico ao
político e, portanto, de dar margem a feitos "insignes", tais
que "manutenção da ordem" e "manipulação" dos números
pelos que estão no Poder. É por ter o sentido de sua
economia ditado pelos credores internacionais e pelos
interesses das grandes empresas multinacionais - que
mantêm e sustentam os seus cônsules no Estado Brasileiro -
que a Nação, prostrada, é o exemplo típico de uma "nação
para outras". Esses interesses alimentam em todo o Brasil o
falso conceito de "segurança nacional com
desenvolvimento" que outrora alguns militares, arvorando
ainda concepções retrógradas da Escola Superior de Guerra
(felizmente hoje bastante renovada e modernizada frente aos
objetivos nacionais permanentes), "em nome da Segurança
Nacional", condenaram, em tempo pretérito, o País à
dependência externa e à insegurança interna. Hoje o Poder
Judiciário assume caráter de entulho e serve de barreira à
autêntica democratização do País na medida em que sustenta
privilégios e faz valer e imperar a injustiça. Pressionadas de
fora para dentro, as classes que detêm o poder nesse sistema
politico-econômico inequalitário procuram ludibriar a nação
sob o manto da irresponsabilidade e incompetência de
políticos profissionais, burocratas e tecnocratas que tratam
dos problemas do País, como se fossem problemas
particulares de uma empresa de vida útil limitada. Para
tanto, iludem e logram a boa fé dos brasileiros, dilapidando

67
seus recursos humanos e naturais. Com esses
procedimentos, encobrem a realidade nacional, preparam o
caos e criam números fantasiosos com o objetivo precípuo
de obterem o consenso político dos incautos. Procuram,
também, encobrir as relações que asseguram a dependência
nacional mediante vinculações e associações de interesses
de classes com os credores internacionais e as empresas
multinacionais e transnacionais.
Subestimam e reprimem as ações de todos os
representantes das classes espoliadas e oprimidas desejosas
de liberar a estrutura econômica nacional, no sentido de
humanizarem a existência dos indivíduos e obterem a plena
soberania. Enfim, o atual Estado brasileiro, através dos
representantes dos interesses alienígenas, procura negar o
fato de que "nenhum país atrasado consegue superar a fase
histórica alienada, senão pela reforma das estruturas
econômicas, retirando do capital estrangeiro o poder de
que desfruta mediante o qual forja a trama de domínio
econômico de onde deriva, para a parte subordinada, a
inevitável consciência alienada. A alienação intelectual da
comunidade subdesenvolvida se patenteia na incapacidade
de dirigir por si mesma os seus negócios, explorar em seu
exclusivo benefício às riquezas do solo, traçar por conta
própria o projeto de atuação internacional” (Alvaro Vieira
Pinto). Além do mais, os políticos profissionais, os
burocratas e os tecnocratas, incentivados pelos estratos mais
reacionários das classes patronais brasileiras, procuram
confundir a nação com teorias do tipo da "dualidade básica
da economia" ou dos "dois Brasis" e, até, a de
“colonialismo interno”.
Os enfoques à luz das teorias colonialismo interno e
dualismo econômico - levam fatalmente a movimentos

68
regionais separatistas. Do ponto de vista da nacionalidade, a
problemática das desigualdades regionais, no conjunto
nacional, como também a da disparidade de renda ou
expoliação entre as classes que detêm (ou não) o capital,
podem e devem ser analisadas à luz da divisão regional e
social do trabalho. Não se aceita a tese dos "dois Brasis"
separados no espaço geográfico. O "Brasil atrasado" está
tanto no Sul e no Sudeste como no Norte, no Nordeste e no
Centro-Oeste. Estão separados, sim, mas no tempo social
onde as classes sociais atuam em fases distintas de um só
processo histórico e, mesmo sendo antagônicas, coexistem
umas ao lado das outras, separadas pelos seus respectivos
interesses. Tanto no Sul e Sudeste como no Norte, Nordeste
e Centro-Oeste existem forças de grupos e classes sociais
retrógradas empenhadas em expoliar as classes
trabalhadoras com vistas a servir aos fins do capital
internacional e do nacional.
O conceito e a teoria do "colonialismo interno"
invalidam os "fatos peculiares a o sistema de circulação dos
bens das pessoas, assim como a estrutura jurídica e os
vínculos sociológicos que ligam os espaços atrasados aos
mais desenvolvidos". Existe, de fato, no conjunto nacional,
um caráter de transitividade das relações hegemônicas entre
as regiões, o que não pode suceder nas relações metrópole
colônia. Nestas, inexiste a categoria de transitividade, pois a
colônia não pode exigir meios de encurtar a distância que a
separa da metrópole. No caso das clamorosas e perversas
desigualdades regionais e da exploração de classes no
Brasil, são lícitas e dignas todas as reivindicações pelas
classes dominadas e espoliadas, tanto do Sul e do Sudeste,
como do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste, por atos e
ações políticas revolucionárias.

69
Essa opinião se fundamenta no fato de que, no plano
político-militar, a Revolução Brasileira necessita de um
posicionamento crítico e ativo de suas Forças Armadas
sobre a realidade brasileira e de seu papel de mantenedoras
da soberania nacional em termos de resistência nacional sul-
americana e, quiçá, latino-americana de tal forma a impedir
ações de invasão e retaliações armadas ou não de países
cêntricos. Acredita-se que só dentro dessas condições
poderá a vanguarda revolucionária brasileira - muito longe
ainda de ser definida - preservar as possibilidades de uma
composição para o País, como também para o continente
sul-americano ou mesmo latino americano. Para tanto, o
Brasil dispõe de viabilidade nacional e permissividade
internacional, particularmente se unido econômica, política
e militarmente aos demais países sul-americanos tais como
Argentina, Peru, Colômbia e Venezuela e, talvez, México,
este liderando os países da América Central. De modo que,
assim, acha-se necessário que o Brasil se democratize e
conduza uma política que viabilize uma relação adequada e
legitima entre, de um lado, as elites dirigentes do Estado e
das Forças Armadas e, de outro, as classes trabalhadoras do
País. Somente desse modo serão criadas as condições de
complementaridade capazes de induzir a autodeterminação.
É preciso ter consciência de que o Brasil, para alcançar essa
liderança latino-americana ou sul-americana, não pode nem
deve imitar os Estados Unidos da América do Norte
porquanto não cabe, em hipótese nenhuma, em nosso
planeta, outros Estados Unidos, pois, se com um, já se tem
toda essa problemática bélica e imperial no continente, que
haverá de ser se permitir a entrada de outro?
Confrontado com esses fatos, só resta ao Brasil,
imbuído do firme propósito de se tornar "grande potência",

70
a possibilidade e a viabilidade de trilhar um novo caminho:
a via político-ecumênica, ou seja, cooperativista com os
demais países latino-americanos, particularmente os sul-
americanos. O MERCOSUL é um passo substantivo nesse
sentido desde que sua integração comece pelo político-
social e não pelo econômico como sói acontecer. Acredita-
se que cabe ao Brasil reeditar, de forma moderna e
contemporânea, a "homonia" ou "hominização" ideada por
Alexandre, o Grande, em seu vasto império helenístico. Essa
"homonia" se traduz nas relações igualitárias que devem se
desenvolver sob a liderança do Brasil no movimento de
autodeterminação dos povos lbero-americanos. Para tanto,
necessário se faz que a viabilidade nacional, a
permissividade internacional, o desenvolvimento nacional e
seu sistema de participação cultural, econômica, política e
militar com os demais povos do continente sejam
substancialmente melhorados e desenvolvidos. Parece,
portanto, que a viabilidade de o Brasil vir a ser uma "grande
potência" latino-americana ou, simplesmente, sul-americana
está condicionada por uma ecumenização planejada e
gradual nos campos político, social, militar, cultural, de
participação e econômico. Essas relações ecumênicas devem
opor-se ao etnocentrismo europeu, japonês e norte-
americano sobre o continente. Talvez a solução resida na
busca e na luta pelo culturalismo cêntrico, apregoado e
defendido por Darcy Ribeiro e Hélio Jaguaribe. Opina-se
que a China é, potencialmente, uma nação com a qual o
Brasil pode e deve fazer uma sólida aliança política,
econômica e militar para o porvir do ecumenismo da
América - Ibérica em seu processo de autodeterminação e
libertação.

71
Convém explicitar a necessidade de a política
econômica brasileira visualizar e fomentar as organizações
em rede. Essas florescem na medida em que as formas
convencionais de organizações não respondem
apropriadamente à doação de sentido da sociedade da
informação ou do conhecimento, ou ainda, pós-industrial.
Com a reinvenção e o obsoletismo da categoria de emprego,
a sociedade reticular aponta para um mundo sem empregos
e para a expansão de autonegócios em multiníveis.
Outrossim, a inserção do Brasil na sociedade reticular é
tema para um outro ensaio. Aqui, apenas afirma-se que as
atividades do "agribusiness" brasileiro demandam as
vantagens organizacionais das redes com o sentido de
transposição de fronteiras, as conhecidas "TEAMNETs".

PREMISSAS PARA UM MODELO POLÍTICO


DE DESENVOLVIMENTO AUTÔNOMO

A luz da complexidade, segundo Demo, “autônomo


não é o que pode separar-se, isolar-se, incomunicar-se, mas
o que carece de complemento e atualização para manter-se
em horizonte próprio. Autonomia é sua negociação, não sua
conclusão. Só é possível ser autônomo com referência aos
outros, nunca sozinho. A complexidade, ao mesmo tempo
em que estabelece a noção de um todo, esparrama-se à toa.
Constitui dependência negociada, pois sujeito não é o que
exclui o outro, mas o que com ele convive sem perder-se,
nem apenas dominar”.
A partir do conceito acima explicitado, seguem
algumas premissas da política:

72
O objetivo de aumento do Produto Interno Bruto
(PIB), de forma satisfatória e ritmo adequado, de modo a
garantir o bem-estar e o emprego da população em níveis
nacional, regional, estadual e municipal, mediante a
utilização eficiente e efetiva dos recursos naturais e
humanos, com a desconcentração da renda e a soberania
nacional pode e deve ser considerado. Nesse objetivo, fica
explícito que o aumento do PIB deve necessariamente ser
acompanhado de uma autêntica igualdade entre os estados e
as regiões que constituem a República Federativa do Brasil.
Também não é aceitável o processo de acumulação de
capital à custa da depredação do patrimônio nacional e à
custa da extorção da mão-de-obra.
A estratégia básica será totalmente voltada para a
endogenia ou mercado interno com vistas à reconstrução e à
construção de uma "nação para si" de maneiras a:

a) incorporar o trabalho nacional, regional, estadual


e municipal ao País
b) aumentar a participação das massas no processo
político em níveis nacional, regional, estadual e municipal
c) assegurar o pleno uso ou emprego dos recursos
naturais (particularmente quanto ao seu auto-uso ou auto-
emprego)
d) reformar a estrutura agrária e ocupar
racionalmente os espaços vazios do Brasil Central e da
Amazônia, principalmente com brasileiros
e) interiorizar o processo de industrialização e
urbanização em termos nacional, regional, estadual e
municipal
f) dar acesso à população rural e suburbana aos
serviços básicos de saúde e educação

73
g) preservar e manter a forma, o conteúdo e as raízes
espaciais da cultura popular em todo o território nacional
h) dar acesso à oportunidade de negócio e ao
emprego ou à promoção a todo e qualquer cidadão
brasileiro, independentemente de cor, sexo e nível cultural
i) modificar e redefinir os meios de transporte
j) utilizar e conservar a energia em termos nacional,
regional, estadual e municipal
1) manter a política internacional de plena soberania
e solidariedade a todas as nações e países em luta pela
libertação política e econômica.

A poupança. Este aspecto do modelo deve ser


totalmente voltado para a poupança interna fundamentada
na estratégia supramencionada. A inflação deve ser
controlada e aceita com vistas a estimular a poupança. Deve
ser abolido todo e qualquer sistema de correção monetária.
A tecnologia. Deve ser criado e fomentado um novo
sistema para a redefinição e a criação de uma tecnologia
própria ou nacional para a implementação da estratégia
acima formulada, com ênfase especial no aproveitamento
racional dos recursos humanos e naturais de que dispõe o
país segundo os distintos aspectos regionais e estaduais. Na
medida do possível, desenvolver a biotecnologia e a
informática em todas as suas aplicações consideradas de
ponta. Deve-se, também, dar especial atenção às tecnologias
de conquista espacial e de armas estratégicas enquanto não
houver um sério programa mundial de desarmamento. Saber
escolher e usar a tecnologia alienígena.
A demografia. Definição precisa de expansão
demográfica para atender à estratégia anteriormente citada,
particularmente quanto à ocupação dos imensos espaços

74
vazios e à interiorização do desenvolvimento urbano e
industrial. Dar ênfase à ocupação econômica do bioma
cerrado de forma sustentável, de modo a integrar as regiões
Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste sem esquecer sua
complementaridade e sua articulação com a Região Sul.
Ocupar de forma sustentável e estratégica a Região
Amazônica.
O sentido da economia. O sentido da economia
nacional deve ser ditado pelas necessidades da população, e
nunca pelos vínculos externos da economia, como se dá no
momento atual. Para tanto, os setores dinâmicos da
economia devem ser controlados pelo Estado. Deve-se,
ainda, fomentar todas as formas associativistas, espontâneas
e induzidas. Espacialmente, as atividades econômicas serão
fomentadas junto às fontes de matérias-primas segundo
princípios de atendimento, primordialmente do mercado
interno, complementaridade de usos, simultaneidade de
ações e escala mínima de operações. Deve-se buscar a
erradicação da agricultura semimercantil e das chamadas
atividades informais.
O planejamento e a organização. O sistema de
planejamento deve ser situacional descentralizado por
deliberações consultivas em níveis municipal, estadual,
regional e nacional. Deve apresentar, além do caráter
setorial, o espacial e temporal, e estar voltado para o
objetivo e estratégia do modelo com vistas ao bem-estar das
massas brasileiras. Deve ter, ainda, o objetivo de, a médios e
longos prazos, anular as desigualdades regionais. Ao atingir
o circuito inferior da economia, deve procurar a ascensão
econômica social e política das classes sociais atualmente
espoliadas. Adotar medidas e metas espaciais de apoio e
fomento às atividades associativistas, estatais e à autêntica

75
empresa privada nacional, em sistema de autogestão, para o
auto-uso ou auto-emprego dos recursos naturais e pleno
emprego da força de trabalho em níveis nacional, regional,
estadual e municipal.
O pacto social e as classes sociais como agentes.
Todo o modelo deve alicerçar-se em um forte pacto social
baseado numa aliança dos setores modernizadores da
burguesia privada e estatal, e numa natural aliança entre o
proletariado e os agricultores. Deve participar desse pacto
social importante parcela do estrato social da "intelligentsia"
nacional e parte da classe média ou pequena burguesia
através de seus setores modernizadores civis e militares.
O caráter essencial do modelo. Programar a
estratégia sugerida com ênfase inicial nas reformas sociais
na endogenia e na autonomia da nação, para criar e
proporcionar condições de um desenvolvimento nacional
autônomo com vistas à "um ethos revolucionário social e
nacional racionalmente estruturado". No campo
internacional, dar início ao ecumenismo universalizador e
equalizador; no campo interno, erradicar todos os tipos de
discriminações sociais, particularmente a grande
desigualdade social existente.
A situação do Estado. Deve o Estado, necessária e
obrigatoriamente, representar os interesses nacionais, a
partir de um ponto de vista endógeno à realidade brasileira,
e assumir, antes de tudo, um papel de legitimização social
do novo pacto e, secundariamente, acumular capital.
A situação das Forças Armadas e seu
fortalecimento. Como agentes de defesa externa da Nação
e, em colaboração com outros países, do continente sul-
americano, a nova situação das Forças Armadas deve atingir
um nível de modernização capaz de inviabilizar qualquer

76
propósito de invasão ou ocupação vinda do exterior e,
também, de impedir conflitos do tipo da Guerra das
Malvinas. Devem estar preparadas para apoiar as
negociações do Itamaraty no que toca à dívida externa ou a
outras questões dessa magnitude e inviabilizar qualquer tipo
de ameaça à Nação ou ações de aventureiros mercenários do
tipo dos "contras" nicaragüenses, financiados por países
hegemônicos (EUA) com vistas a anular pela força o que se
ganhou na mesa de negociações. Deve as Forças Armadas
ser providas endogenamente de insumos e armas para a
defesa do País e do continente sul-americano. O modelo de
relações em que devem ser pautadas as relações entre as
Forças Armadas e os demais países sul-americanos pode ser
do tipo ecumênico, universalizador e igualitário.
O meio ambiente. Deve ser conceituado como a
parte da natureza a ser preservada e respeitada de tal forma a
permitir que os seres humanos possam tirar dela todas as
vantagens inerentes ao pleno uso dos recursos naturais sem
violentá-la. Em um país como o Brasil, o meio ambiente e
seus ecossistemas não podem ser vistos de forma irrealista
ou romântica. Devem ser enfocados sob um ângulo crítico
para o desenvolvimento nacional à luz dos avanços
tecnológicos e das ciências exatas, naturais e sociais. Ao
invés de violentar a natureza, convém utilizá-la de modo
racional e ordenado em benefício de sua mais valiosa e
preciosa riqueza: o ser humano.

A POLÍTICA DO PODER NACIONAL DA ESG

Benevides, em seu tratado de “Ciência política” (3ª


edição) desenvolve o tema em epígrafe em 28 capítulos que
vão muito além dos horizontes da disciplina “Análise da

77
realidade brasileira contemporânea” na medida em que
está voltado para o seu marco geral e sem compromisso com
o Estado brasileiro propriamente dito.
Para se ter uma idéia concreta e oficial da política do
poder nacional brasileiro, é necessário recorrer-se a
Doutrina da Escola Superior de Guerra (ESG), criada
pela Lei nº 785 de 20 de agosto de 1949, que advoga para si
o estudo da segurança nacional e a formulação de um
método para seu planejamento estratégico e da ação política
com vistas aos fins a atingir e aos meios a empregar.
As bases para atuação da ESG são segundo sua
Doutrina as seguintes:

“1. A razão de ser da Escola Superior de Guerra é


o estudo do Brasil, buscando conhecê-lo melhor para
melhor servi-lo. A Segurança Nacional é tema fundamental
e o estudo do Desenvolvimento — nele inserida a Justiça
Social — é indispensável pela interdependência natural.
2. O Interesse Nacional, traduzido em Objetivos
Nacionais Permanentes compatíveis com os reais e
duradouros interesses do Povo brasileiro, proporciona o
referencial maior para os estudos da Escola Superior de
Guerra.
3. Os estudos desenvolvidos pela Escola Superior
de Guerra terão caráter integrado e serão enfatizados com
base no Poder Nacional e na busca de opções estratégicas
para sua aplicação. Serão conduzidos auscultando nosso
passado e à luz da análise prospectiva, de âmbito nacional
e internacional, mediante conceitos de Teoria do Poder,
consideradas a viabilidade de seus resultados e a sua
coerência com os Objetivos Nacionais Permanentes.

78
4. A Doutrina da Escola Superior de Guerra evolui
em sintonia com as conquistas do conhecimento humano e
com a estrutura político-estratégica do País. Reflete os
valores éticos, de fundamentação transcendental,
caracterizadores do espírito democrático, consolidado ao
longo da história pátria, e operacionaliza-se mediante
terminologia consentânea e metodologia de planejamento e
decisão aplicável à gestão nos diferentes níveis da vida
nacional.
5. A metodologia de planejamento e decisão levará
em conta a essência democrática da gestão social, que
impõe racionalidade dialógica à aplicação de meios para a
consecução dos Objetivos Nacionais e determina a
necessidade de participação dos diversos níveis da
administração e dos diferentes segmentos da sociedade.
6. Para conduzir o Brasil à posição de destaque
que, por capacidade, poder e potencial, deverá alcançar
entre as mais prósperas nações do mundo, é preciso que a
Vontade Nacional seja expressada por elites nacionais, nas
quais se inserem as diversas lideranças de compromisso
democrático, conscientes de suas responsabilidades perante
o povo, cujo caráter e índole impõem que o Brasil
represente um fator de harmonia atuando num mundo de
conflitos e tensões.
7. O fortalecimento da Vontade Nacional é
instrumento essencial à realização do Bem Comum. É
preciso que todo o Povo — e cada pessoa — compreenda a
necessidade de participar na promoção do Bem Comum e
de exercitar o direito de usufruir dos resultados
conquistados de forma progressiva, segura e justa e em
prazo factível.

79
8. O papel da Escola Sureior de Guerra na sua
qualifiquação de Instituto de Altos Estudos, é contribuir
para o aperfeiçoamento da sociedade brasileira , mediante
a pesquisac e o debate de opções político-estratégicas e
democráticas que possam servir como subsídios para a
solução dos problemas nacionais’.

Ainda, segundo a Doutrina da ESG as


características que lhe dão marca são:

“— Humanista — considera o homem como valor


supremo na sociedade e centro de todas as preocupações
para o qual devem ser orientadas as instituições, as
políticas e as estratégias.
— Brasileira — objetiva atender às necessidades da
realidade brasileira e aos valores nela incorporados, quer
como fontes de identidade nacional, quer como padrões
inspiradores de políticas e de estratégias.
— Realista — Ela é realista, por ter como critério
para avaliar seus conceitos a realidade brasileira,
entendida, não como algo imutável, mas como um processo
histórico, em permanente devir. Por isso a Doutrina é
flexível, modificando-se para ser mais fiel à realidade, ao
povo e aos valores que a fundamentam. Ela é integradora
pois resulta de processo de elaboração coletiva. Por tudo
isso constitui o instrumento de ação democrática para a
transformação da sociedade brasileira, com vistas ao Bem
Comum.
— Espiritualista — considera o homem na sua
globalidade, a um só tempo espírito e matéria.
— Democrática — propugna a organização da
sociedade pluralista sob a forma de um Estado de Direito,

80
onde o Poder emane do povoe sejam asseguradas as
garantias fundamentais da pessoa humana. Nessa visão
democrática, o Estado deve estar a serviço do homem, a
quem cabe o direito e o dever de participar ativa e
permanentemente das decisões nacionais.
— Adogmática — a Doutrina da ESG não propõe
dogmas, mas, ao contrário, estimula o livre debate em torno
de suas ideias e proposições, Jamais se considera perfeita e
acabada pois está sempre sujeita a críticas e revisões.

Em face dessas características, a ESG tem


repensado sua Doutrina com liberdade acadêmica,
desvinculada dos governos que se vão sucedendo,
constituindo-se isto numa garantia de isenção,
profundidade e validade de suas pesquisas e, assim, de
contínuo aprimoramento de suas conclusões”.

A REPRESSÃO AO CAPITAL PRIVADO


ESTRANGEIRO

O capital estrangeiro especulativo equivale sempre a


uma forma de alienação do trabalho do povo brasileiro. É
por isso que o humanismo-nacionalista ou patriotismo têm
como conteúdo ideológico, para emancipação econômica e
política do País, a repulsa ao capital estrangeiro,
particularmente, o especulativo.
O capital estrangeiro, em sua maioria, não passa de
uma ficção econômica, constituída graças à legislação
colonial, que permite a um mínimo de doação inicial
acrescentar volume imensamente maior de capital gerado no
País, para formar, em conjunto o que a lei considera "capital
estrangeiro", assegurando-lhe o direito de remeter lucros

81
para o exterior. As empresas estrangeiras operam na verdade
com o dinheiro aqui arrecadado, tendo o seu magro
dispêndio primitivo regressado ao país originário, depois de
haver montado a máquina pneumática de sucção do dinheiro
do povo. Exemplo claro desse fato foi que levou o
entrególogo Fernando Henrique Cardoso a não somente
privatizar o capital nacional, mas principalmente aliená-lo a
muitas das empresas estrangeiras, de forma a subtrair a
ocupação ou emprego dos brasileiros e criar empregos para
os anacionais que passaram a comandar as empresas antes
nacionais que já em tempos pretéritos obrigaram a estatizar
aquelas sucatas para apossarem-se das divisas ganhas pelo
Brasil no período da 2ª Guerra Mundial.
A novidade e periculoside do capital estrangeiro
principalmente o especulativo ou financeiro está sempre em
seu caráter de determinar o sentido da economia brasileira
independentemente dos interesses e necessidades nacionais
e, particularmente, do povo. Essa é a razão de se argumentar
que, enquanto o capital estrangeiro for vital para o país, não
se deve recebê-lo sem um rigoroso controle. A frase tem
sabor evidentemente paradoxal, mas tem um sentido
profundo, sério e sólido. Significa que, enquanto o Brasil
estiver nas fases vitais de seu desenvolvimento, é que se
torna imperiosa a substituição dessa espécie de capital por
outra, a nacional. Quando o país tiver alcançado a fase em
que domina e tem autonomia de sua economia, em que a
submete à lei da própria totalidade, pode se quiser receber
capital de fora, que já então não tem meios de se impor
como força política e fundamento de atitudes político-
ideológicas. Por isso cabe dizer que só se deve receber o
capital de fora quando dele não mais se precisa. Não se deve
agora receber o capital estranho exatamente porque é vital,

82
ou seja, com rigor etimológico, significa a vida, que, em tal
caso, seria dada por outrem, quando é evidente que quem
deve dar a vida são os brasileiros.
Para fazer frente aos entregologos, adeptos ou
paladinos do capital estrangeiro, os críticos têm como
teorema central da teoria humanista-nacionalista do
processo brasileiro, o seguinte: é sempre em última análise o
trabalho das massas que financia o desenvolvimento do
Brasil. Mesmo quando, em fase inicial, o capital entra como
fator decisivo, na verdade, a expectativa dos lucros e do
poder que irá obter à custa do trabalho do povo é o que
explica a presença dele, logo, é na verdade o trabalho do
povo o fator fundamental do desenvolvimento. A ficção do
desenvolvimento econômico ajudado de fora deve ser
denunciada como simulação de vantagens das elites para
encobrir a realidade da exploração. Os arautos do capital
privado estrangeiro apregoam a impossibilidade de o povo
organizado pelo seu estado nacional impulsionar o
desenvolvimento do País sem ajuda externa, tais as somas
exigidas para instalar as obras de base. Cumpre a
consciência crítica de a realidade brasileira contemporânea
contestar o raciocínio de que a consciência do dominador se
utiliza, fundada em teorias econômicas estrangeiras
procedentes das áreas dominantes, propositalmente forjadas
para servir à exploração das nações subdesenvolvidas.
Não se deve se emocionar quando se ouvem as
lições desses cientistas nem se inquietar sobre o bom
fundamento de suas conclusões. Sabe-se que a ciência em
que fulguram como catedráticos abalizados é produto
ideológico da situação de domínio de sua classe e de seu
grupo nacional. Quando se lêem os escritos dos pontífices
do entreguismo, dos entrególogos e ideólogos do

83
colonialismo, não se deve comover-se com os argumentos
que acaso apresentem contra o modo de pensar crítico,
porque tudo o que dizem decorre de premissas que são
exatamente aquilo que se está pondo em dúvida. Não é de
admirar que se refutem, ou nem sequer se dêem a essa pena,
limitando-se a sorrir por sua inocência, diletantismo ou
petulância. Da parte crítica, o que se faz é pôr em questão a
totalidade de sua ciência, mostrando que se trata de um caso
de alienação cultural, de reflexo do saber alheio. Em ultima
análise, se é o trabalho do povo que vai pagar, com
acréscimo, o capital emprestado para as obras fundamentais
do desenvolvimento, isso quer dizer que as fontes dos
recursos são na verdade internas, pois se o pagamento é
feito sobre o que emprestam, tem-se de fazê-lo com o
capital que se gera aqui mesmo, sob forma de trabalho das
massas.
Na atual estrutura econômica brasileira, tudo está
organizado para favorecer o desenvolvimento impulsionado
pela contribuição do capital estrangeiro. Nada há de
admirar, portanto, se, ao observar a realidade, os analistas
simplórios concluem por considerar indispensável a
participação do capital externo. É evidente que assim tem de
ser, se tudo foi preparado para isso. Mas basta que se
conceba a possibilidade de outra estrutura econômica no
País, para se compreender que nela os recursos internos
seriam suficientes para promover o desenvolvimento, sem
recorrer à colaboração e, portanto, sem a dependência, do
capital alienígena. Indiscutivelmente, sem o capital externo
não se pode manter essa estrutura que aí está, mas nada
impede que o País dirigido por nova consciência política de
seu destino histórico, organize sua economia de modo a
transformar imediatamente a força de trabalho da população

84
em origem de recursos para obter os meios de se
desenvolver, com a intermediação apenas do capital gerado
em seu interior e possuído exclusivamente por quem só tem
interesse no progresso nacional.
Basta, por conseguinte que o governo com o
respaldo do Estado brasileiro decida executar diferente
política econômica para encontrar meios de obter
internamente, e externamente em operações não onerosas de
governo a governo, os capitais necessários aos
empreendimentos básicos, pois na verdade é sempre o
trabalho das massas que financia o desenvolvimento do
País. A PETROBRÁS e a ELETROBRÁS são claros
exemplos dessa assertiva como foram no passado a CVRD e
a TELEBRÁS. A intervenção do capital privado estrangeiro
principalmente o financeiro é indébita e procura parasitar
um processo social que pode ser feito mesmo sem ela, uma
vez que os fatores objetivos requeridos estão aqui. A
periculosidade do capital colonizador atinge o grau máximo
no comércio externo de investimentos, representado pelas
companhias de crédito, financiamentos e investimentos em
favor da instalação de novas empresas estrangeiras, porque,
em tal caso, trata-se não apenas da simples ocorrência do
mal, mas da presença do transmissor do mal. No caso de
aceitá-lo há que se ter rigoroso controle como se faz na
China.
Terão de ser sumariamente proscritas, no mesmo ato
pelo qual o poder nacional retira dos bancos estrangeiros a
capacidade de receber depósitos de residentes no País,
suprimindo-se, assim, a forma mais grave de alienação
econômica, a do dinheiro em espécie que é, em muito,
incluso em sistemas de lavagens com destino aos paraísos
fiscais mantidos pelos países hegemônicos. O sofisma do

85
desenvolvimento do país pobre à custa dos outros, os ricos,
somente se sustenta pela falta de reflexão sobre o simples
fato de que o capital nem aqui nem lá fora caiu do céu, não
nasceu espontaneamente, mas deriva do trabalho das massas
assalariadas, se o povo brasileiro trabalha o suficiente para
remunerar com altos juros o investimento externo aqui
aplicado, se a mais valia nacional se mostra capaz de
retribuir e restituir o capital investido se pode produzir
bastante capital para pagar o capital recebido, devolvendo-o,
em prazo extremamente curto, ao país de origem, e
passando a remeter daí por mesma necessidade que obriga o
País a libertar-se da alienação internacional de seu trabalho.
A sustentabilidade do desenvolvimento faz-se sentir
no âmbito interno sob forma de rápida elevação de padrão
de vida das massas, pela valorização do trabalho, do qual
devem auferir os frutos legítimos. Somente a remodelação
da estrutura econômica, modificando coletivamente as
condições de vida das massas, conduzida por uma política
nacional conseqüente, resolverá os problemas sociais do
momento. Não há que contar com outro meio. A simples
caridade nada constrói objetivamente senão asilos,
orfanatos, hospitais e reformatórios e a eterna escravidão.
Deixa intactas as verdadeiras causas das infelicidades
sociais, que só serão anuladas com a efetiva alteração das
bases materiais da existência das massas, o modo de
trabalho, o regime de produção a que se acham submetidas.
O espírito de lucro privado será forçado a ceder lugar ao
espírito do interesse coletivo. É engano pensar que o simples
aumento dos índices de produtividade dos bens de consumo,
a elevação dos salários, a munificência dos serviços sociais
postos à disposição dos trabalhadores pelas empresas
consigam resolver os problemas vitais que os afligem.

86
Poderão atenuar as agruras do momento, mas serão sempre
medidas caritativas, que medeiam sem curar, diante de
lucros que em verdade se referem a um capital nacional
reposto em lugar do estrangeiro, já devolvido, então de fato
o capital necessário ao País está aqui, potencialmente, sob
forma dos fatores que o produzem.
São impedimentos de ordem institucional,
decorrentes da falta de consciência política nacional, por sua
vez decorrente da falta de participação das massas no
processo político, que impossibilitam o capital potencial de
se constituir em força econômica atual para tornar o País
autônomo. Se há geração interna de capital para pagar com
altos juros aquele investido de fora, e, se não houvesse, este
não seria investido, então há capital para ser utilizado pelo
próprio País. Cabe ao governo referendado pelo Estado
promover pela política nacional o aproveitamento do
trabalho do povo como origem dos recursos internos,
suprimindo o lucro estrangeiro e a ação de seus agentes,
nativos ou forâneos, sempre desmoralizadores do esforço do
povo.
A avassaladora invasão dos investimentos alheios,
que agora funcionam como mecanismo esvaziador do
capital nativo nas empresas nacionais estabelecidas há muito
tempo, deve ter um paradeiro, porque se está configurando
para o País um dilema fatal que se apresenta a toda nação
dependente, em rápido esforço de desenvolvimento e
próxima do ponto em que divisa a possibilidade de alcançar
o nível de plena independência econômica e soberania. É o
dilema que surge quando se indaga do destino a dar aos
lucros do capital estrangeiro aplicado em nossa economia.
Dois caminhos se abrem, e só dois: ou esses lucros são
remetidos para fora, entregues aos especuladores e

87
investidores estrangeiros; ou, por diversas modalidades, são
reinvestidos no País. No primeiro caso, temos a exploração,
a sangria, o depauperamento, a servitude. No segundo,
produz-se o alargamento da área de dominação estrangeira.
Dessas alternativas não há como fugir, tendo ambos
os desfechos desfavoráveis para o país subdesenvolvido. Se
os lucros são remetidos, o capital, ao cabo de algum tempo,
retorna ao país de origem, e o que fica é uma bomba de
sucção indefinida de novas quantidades de capitais
constantemente gerados pelo trabalho das massas nativas na
empresa estrangeira. Daí em diante, toda vez que essa
fábrica produz uma unidade de certo produto aqui
consumido, origina ao mesmo tempo um quantum de lucro,
desnecessariamente enviado para fora, a fim de pagar aquilo
que chamamos a dívida infinita e impagável contraída com
o investidor alienígena. Nenhuma reflexão sobre o problema
dos capitais estrangeiros pode ignorar este princípio: a
vantagem ou a nocividade de tais capitais têm de ser
medidas pelo projeto emancipador que a consciência crítica
das massas já é capaz de conceber.

O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
VISA HUMANIZAR A EXISTÊNCIA

No regime em que vive o povo brasileiro o simples


enunciado da idéia de "sacrifício do povo", a exigência de
"apertar o cinto”, constitui crime político-ideológico, e só
explicável quando se encontra em representantes da
consciência ingênua reacionária e de apátridas. Repetidas
vezes se tem declarado que o subdesenvolvimento do País
se identifica com a desumanização da existência do povo. O
ser humano do país atrasado é um ente desprovido de sua

88
essência humana, tal o estado de miséria, ignorância e
enfermidade em que vive. É um ser alienado de si mesmo,
não possuidor daquilo que o deveria definir como ser
humano. Esse conceito tem valor capital para interpretar a
realidade brasileira contemporânea e equacionar os seus
problemas. Não se deve jamais esquecer que as realizações
econômicas, políticas e ambientais são momentos de um
processo pelo qual o ente humano se aproxima de sua
essência, para chegar algum dia a possuí-la em sua
plenitude. A política do desenvolvimento sustentável em
bases nacionais constitui o verdadeiro humanismo. É o bem-
estar do povo todo que inspira a política do
desenvolvimento sustentável em alicerces nacionais, não o
de uma fração social, mesmo sendo esta livre de filiações
estrangeiras. Sua indiscutível origem interna não lhe
assegura privilégios para espoliar o restante da população.

O MONOPÓLIO ESTATAL DOS FATORES


ECONÔMICOS BÁSICOS

Não é possível pretender alterar consideráveis


aspectos da superestrutura econômica, fazendo passar
importantes setores de produção para as mãos da iniciativa
genuinamente nacional, se aqueles empreendimentos se
conservam fora do comando político interno da sociedade.
A posse, por agentes estrangeiros, e mesmo por particulares
nacionais, dos instrumentos e insumos básicos da produção,
representados pela energia elétrica, pela telemática básica,
por combustíveis líquidos e sólidos, por jazidas de minérios
essenciais, bem como a sua exploração e comércio,
impedem o poder político do povo de aproveitar em seu

89
benefício exclusivo a potência econômica corporificada
nesses instrumentos.
O monopólio estatal de todas as fontes de energia e
dos grandes recursos minerais impõe-se como medida
fundamental de toda política nacional. Não se admitem
distinções nessa matéria. Nos países em desenvolvimento
somente o Estado como agente político da sociedade está
em condições de fazer frente a tão formidáveis
investimentos. Se as indústrias sediadas no País não
pertencem de fato ao País, ou seja, se não estão em seu
poder todos os fatores produtivos, deve-se, para efeito de
apreciar o grau de avanço do processo de libertação
econômica, considerar tão inexistente essa industrialização
quanto se estivesse localizada fora de seu território e apenas
para que remeta mercadorias.
A indústria estrangeira ê sempre indústria no
estrangeiro. Sem dúvida, o emprego da mão de obra local e
o adestramento técnico nativo contribuem para estabelecer
certa diferença entre um caso e outro, e dar um mínimo de
valor útil à indústria estrangeira implantada no País. Mas na
prática esse proveito torna-se imperceptível, e mesmo em
alguns casos ilusório, comparado com as ruinosas
conseqüências que tem para o curso geral do
desenvolvimento nacional a entrega de nossa indústria ao
capital estrangeiro. É uma política que não contribui para
suprimir as servidões econômicas, antes as multiplica e as
reforça. Cria a falsa consciência industrial, a que julga haver
o país se agigantado porque ostenta um parque fabril
relativamente desenvolvido e promissor. Na verdade, essa
industrialização não constitui senão a expansão estrangeira
sobre o País. Não caracteriza o próprio desenvolvimento,
mas o desenvolvimento dos outros em terras brasileiras.

90
Significa que se exporta a mão de obra nacional sem sair-se
do território, mas fazendo sair, isso sim, os lucros que
advêm do trabalho dela.
Está claro que todo trabalho sempre traz vantagens e
deixa no Brasil resultados úteis, por exemplo, melhoria das
condições de vida da classe operária desenvolve sua
consciência social, leva as fábricas estrangeiras a pagarem
impostos às instituições de previdência, consome matérias
primas nacionais etc. Mas, na perspectiva de um
pensamento sociológico e político, e não apenas econômico
esses fatos são secundários, enquanto o essencial está em
saber se ao lado, de certos efeitos valiosos que possam
alegar, não ocultam malefícios reais ao processo da
emancipação, impedindo o País de executar uma política
econômica que, dando os mesmos favoráveis resultados,
tenha como finalidade última conquistar a plena autonomia.
Para isso faz-se necessário que lhe seja conferido o
monopólio íntegro, sem fissuras ou subterfúgios, da
produção de energia e de sua distribuição às indústrias
particulares e aos serviços públicos. Toda fonte de riqueza
que, por seu crescimento, alcance desmesurado poder de
coação social, precisa ser colocada sob o controle do Estado,
isto é, do povo politicamente organizado, para não se
converter em instrumento de exploração e empobrecimento
das massas. É exigência do momento histórico, no regime
vigente, uma defesa da sociedade, a qual, se não a praticar,
corre o perigo de aumentar rapidamente suas pressões
internas e chegar ao ponto explosivo.

91
A DEFESA DA INDÚSTRIA NACIONAL
AUTÊNTICA

Significando a industrialização a mudança


qualitativa da sociedade mediante a qual se aparelha para
levar a cabo as fases superiores da cadeia de atos
produtivos, de modo a engendrar em seu interior a totalidade
do produto, essa radical diferença de estrutura importa em
completa utilização por ela mesma dos recursos de que
dispõe, e evidentemente obriga a cessar a prática colonial de
exportar as matérias-primas minerais para serem elaboradas
alhures. A industrialização é sinal de desenvolvimento
porque indica que a comunidade nacional se aparelhou para
fabricar por si e para si os bens materiais de que necessita
A nação precisa ter o completo comando de seu
aparelho econômico, para conduzir a sua industrialização
em condições que excluam a espoliação por parte de outra.
Com essa observação, patenteia-se um aspecto da teoria da
industrialização que, não fosse aclarado, poderia induzir a
enganoso julgamento e ocasionar graves confusões nas
propostas da política nacional. Quer-se referir ao fato de não
ser qualquer industrialização que significa o real progresso
da sociedade a uma etapa superior de desenvolvimento, mas
somente aquela que é feita mediante o integral
processamento das operações fabricadas pelos verdadeiros
agentes e atores do processo nacional de desenvolvimento.
Favorecer a entrada da indústria estrangeira é
favorecer a saída do trabalho nacional. É degradar o valor
humano do operário nacional. A situação do habitante do
País pobre não lhe permite constituir-se em forças capaz de
criar o País autônomo.

92
A OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO NACIONAL

A ocupação das áreas desabitadas do País faz parte


da nova teoria política, que não mais dissocia o fato
histórico dos fundamentos geográficos. A existência desse
problema constitui uma peculiaridade do Brasil, por sua
extensão e sua diversa densidade demográfica constituída de
um povo novo. Há um componente geográfico nos temas
sociológicos nacionais, que impossibilitam as
generalizações irrefletidas e deve precaver contra abstrações
imprudentes, obrigando a mencionar as disparidades
regionais, as diferenças demográficas e as inconcebíveis
diferenças de renda entre as pessoas como categorias sempre
presentes em qualquer análise da realidade.
Reclama-se a devida atenção para as desigualdades
regionais e a concentração de renda pessoal porque é o meio
de denunciar quaisquer manobras de agentes do capitalismo
internacional ou mesmo de algum empresário nativo
destinado a conservar o desnível, vantajoso para esses
exploradores, mas repudiado pela consciência nacional, cujo
objetivo supremo está em promover a igualdade do
desenvolvimento econômico-social-ambiental e do bem-
estar humano em todas as regiões do País. Tudo tem de ser
feito para extinguir as disparidades o mais breve possível. A
condição para isso, entretanto, está em partir do
reconhecimento de tais disparidades. Se as medidas
governamentais forem tomadas ignorando esse dado
objetivo, determinarão ao invés de extinção o
exarcebamento.
A postura político-ideológica nacional deve incluir
como ponto primordial de seu programa a ocupação
territorial e deve colocar todas as grandes questões

93
econômicas, ambientais e sociais na perspectiva que as
associa intimamente à diversidade demográfica e à
existência de correntes migratórias internas relacionadas
com a presença de enormes espaços vazios no interior, com
o crescimento vegetativo global da população e as imensas
distâncias entre os grupos humanos. Convém observar que a
realidade objetiva da distância manifesta um dado específico
da fisionomia social e ambiental do Brasil, que falta a quase
todas as comunidades dos países metropolitanos, de
pequenas dimensões, e em conseqüência não figura na
meditação de seus sociólogos e filósofos.
No país pequeno, a distância é sempre concebida
entre ele e os outros, distantes dele. Para o país pequeno,
distante é outro país; para o Brasil, distantes são os
aglomerados humanos do povo brasileiro, incluso os
indígenas. Para o primeiro, distância quer dizer diferença,
para o Brasil, quer dizer identidade. Nesse caso, a
distância é interior a todos os habitantes no território
brasileiro. Esse fato determina um significado existencial
único, original, distinto quanto à vivência e ao pensamento
da distância, que jamais o pensador metropolitano dos
países pequenos será capaz de alcançar. Admitir que para o
Brasil a distância não separa, mas liga, é coisa dificilmente
concebível pela mentalidade do pensador europeu e japonês.
Para o país menor, a idéia de distância contém a nota de
diversidade entre os pontos distantes, mas no caso do Brasil
transporta ao contrário o sentido de identidade entre os
locais afastados um do outro, pois são implicitamente
concebidos como pertencentes ao mesmo ser nacional.
Não é um hábito a consciência social pensar a
distância entre os brasileiros e entre povos de outro país. À
distância para os brasileiros não é uma relação externa; o

94
brasileiro é distante de si mesmo e não dos outros. A
familiaridade com o espaço, o hábito de pensar nos longos
afastamentos, a convivência normal com remotas
populações patrícias e a métrica social e cultural que daí
deriva tudo isso é específico da existência dos brasileiros e
os distingue das comunidades de limites estreitos. Hoje, não
tem cabimento pensar na imensidão do Brasil e imaginá-lo
vagamente em sua pujança futura. A percepção que se deve
ter obrigatoriamente do espaço disponível é a preocupação
de melhor ocupá-lo e utilizá-lo. Vivendo esse novo estilo de
pensar, o modo crítico, percebe que precisa ocupá-lo
rapidamente, é essa "ocupação antecipada”, ou "pré-
ocupação" que se apresenta ao espírito como
"preocupação" política.

A REFORMA AGRÁRIA

Por reforma agrária entende-se o conjunto de


medidas que visam a transformar a existência das massas
que vivem no agro, diante da alteração de suas relações de
produção, modo de trabalho e regime de propriedade da
terra, integrando-as no movimento geral de ascensão do
nível de vida do País, ou seja, incorporando-as ao processo
do desenvolvimento. É um tema de grande complexidade,
não admite ser tratado na forma simplificada e dogmática
que lhe desejam dar muito daqueles que por ela propugnam
para se opor às tendências progressistas do
desenvolvimento, que ameaçam abalar-lhes o mundo de
crenças e de interesses materiais e na verdade seriam
incapazes de dizer em que consiste ou como fazê-la.
A diferença nos modos de trabalho nas relações de
produção entre a cidade e o campo, decorrente da divisão

95
social do trabalho, constitui uma contradição na estrutura da
sociedade, ainda hoje, não resolvida, e condiciona em cada
um desses setores modalidades particulares ao
desenvolvimento sustentável das respectivas forças
produtivas. Considerando-se o País como o Brasil, onde as
formas de trabalho rural se encontram entre as mais
adiantadas, por um lado, e entre as mais atrasadas, pelo
outro, o desnível entre o avanço do processo do
desenvolvimento em seus aspectos industriais, por isso
urbano, e em seus aspectos agrários, torna-se cada vez maior
e mais visível.
A desigualdade alcançou presentemente a um ponto
tal que veio a se constituir em elemento da consciência
coletiva. Só agora isso acontece e se deve ao processo de
desmoralização do progressivo afavelamento do chamado
setor urbano do desenvolvimento. Por isso, nos dias atuais
começa a surgir como tema imperioso a questão da
existência agrária, e impostergável a necessidade de alterar a
presente situação. Tendo o País alcançado significativo nível
de desenvolvimento industrial urbano, a contradição entre
este e o do campo assume tamanho vulto que começa a
penetrar a consciência do trabalhador rurícola, forçando a
classe dos senhores de terra a se preocupar com o problema.
Sabendo que o término das presentes relações de produção
será também o fim de seu domínio e das vantagens
excepcionais de que desfruta, a classe senhorial verifica que
precisa antecipar-se a todos, propondo, antes que outras
forças sociais o façam, uma reforma agrária, que conterá,
sem duvida alguma, restrições aos seus atuais privilégios,
mas deixando-a ainda em condições confortáveis.
Para atenuar a contradição entre o trabalho citadino e
o do agro deve-se discernir a solução razoável mediante um

96
conjunto de medidas políticas que transformem as relações
de produção e o regime de propriedade da terra a que está
acorrentado o trabalhador do campo. Esse ê o objetivo. As
particularidades do método são numerosas e implicam
medidas econômicas, jurídicas, assistencialistas, entre as
quais avulta em primeiro lugar a divisão do latifúndio e o
confisco pelo Estado das propriedades inaproveitadas para
serem entregues aos agricultores sem terra ou com pouca
terra e, ademais, a posse legal da terra por aquele que a
cultiva, a associação dos produtores em organismos
coletivos de produção, a mecanização do trabalho, a
melhoria da habitação familiar, o fornecimento de energias
rurais, o crédito efetivo para custeio das safras, o acesso
fácil aos mercados consumidores, a facilidade de transporte,
a alfabetização das populações, a higiene e a assistência
médica. Essas ações resumem-se em dois pontos: suprimir
as relações de servitude, ainda existentes, e incorporar o
campo ao mercado nacional, do qual ainda está em larga
margem semi-ausente.
É importante frisar que numerosos componentes do
processo de reforma agrária estão situados fora do campo,
dizem respeito ao progresso da industrialização, que
fornecerá as bases de utilização de fertilizantes e defensivos,
da mecanização da lavoura, da eletrificação agrícola. São
fatores que determinam pressões econômicas internas,
exigindo o alargamento do mercado consumidor, a divisão
dos latifúndios, e muitas outras medidas que vem dar um
paradeiro ao sistema colonial ainda em grande parte vigente.
A inadiável transformação da vida agrária apresenta
condições objetivas para gerarem dentro e fora do agro, à
premissa teórica que permitem deduzir o elenco de medidas
prática como conteúdo de uma só consciência crítica, a que

97
reflete a totalidade do processo de desenvolvimento no grau
em que agora se encontra. O problema agrário consiste,
antes de tudo, em transformar as relações de produção no
trabalho do campo, com o fim de elevar o padrão de
existência do operário agrícola e do agricultor. A essência
social do problema comanda todos os demais aspectos. A
reforma agrária tem por fim, fundamentalmente, humanizar
a existência do trabalhador da gleba, o que só será
conseguido modificando-se o atual sistema de trabalho e a
posse da terra.
É ingênuo, e quase ridículo, esperar que a reforma
agrária no Brasil possa ser promovida pelo governo federal
ou pelo estadual, constituído em sua maior parte de
latifundiários, ou tendo nessa classe as suas raízes políticas.
Se isso pudesse acontecer, seria coisa inaudita na historia,
ver-se uma classe decretar a restrição de seus privilégios
sociais, por abnegação para com os desesperados. A não ser
que se apresentem condições para fazê-lo por via
revolucionária, somente quando o desenvolvimento da
consciência nacionalista nas massas do agro, conjugado ao
movimento dos trabalhadores urbanos, conseguirem elevar
as assembléias 1egislativas e aos postos de direção um
número suficiente de legítimos representantes dos
agricultores, será lícito esperar o projeto racional de reforma
agrária. Antes disso, ter-se-á de assistir apenas a grosseiros e
mistificadores ensaios de “reformas", insinuadas pela classe
de grandes proprietários ou por instituições de simples
socorro espiritual, que visam na verdade diminuir um pouco
a ameaça de irrupção das massas dos sem-terra, supondo
que se antecipam a seus anseios, realizando-os antes que
elas mesmas o façam com sua própria força.

98
A verdadeira transformação da existência do
homem do campo somente será realizada quando se tiver
reunidos em todos os setores do País as forças sociais que a
possam levar a efeito. Ora, essas forças são, no próprio
campo, as massas rurais, mas são, também, as massas
urbanas, em cuja consciência se apresenta como medida
consentânea com seus interesses, e justificada pela ideologia
progressista que naturalmente adotam.
Tratando-se de derrocar os privilégios da classe
dominante no campo, os latifundiários e seus serviçais, não
é possível contar senão com a força das massas oprimidas
no campo e na cidade, associada aos setores de outras
classes para os quais haja igualmente interesse em ver
promovido à reforma agrária. Pensar fora desse molde é
fazer do tema objeto de considerações morais e cair na
simploriedade de apresentar um problema social como se
fosse um dever de consciência moral. A mudança na
existência agrária, representando a troca do padrão de vida
do contingente humano mais extenso da comunidade
nacional, é tarefa que incumbe às massas como força
consciente, a que trarão valioso concurso alguns setores de
outras classes sociais a quem a humanização da vida no agro
também possa interessar.
A reforma agrária constitui aspecto particular do
processo geral da sociedade, do movimento transformador
de todas as suas estruturas, e não se realiza apenas pela ação
da fração social diretamente interessada, mas pela
comunidade toda, em seu conjunto. Permanecendo
dominante a figura do grande latifundiário, do escravocrata,
do "coronel" prepotente e retrógrado do fazendeiro ausente,
do usineiro, do arrendatário explorador, da empresa
estrangeira açambarcadora da produção, conservado o

99
sistema de crédito privilegiado a certas áreas e conjunturas,
distribuído como munificência do poder aos apaniguados
por políticos descomprometidos e corruptos, desprovido o
interior de vias de penetração e circulação mercantil, o
estado de pauperismo agrário em nada seria modificado pela
simples declaração jurídica de propriedade de diminuto
pedaço de terra, logo fraudada em seus efeitos libertadores
por manobras econômicas que a anulariam como medida
progressista. A posse de terra por seus reais trabalhadores,
os colonos que aí labutam só terá valor de passo inicial para
modificar as condições reais de vida se for acompanhada
das demais medidas que assegurem a abertura do mercado, a
quebra da atual correlação entre a oferta e a procura de mão-
de-obra e a instituição das relações capitalistas nas áreas
onde ainda não existem.
A divisão e a posse da terra são medidas justas e
indispensáveis, mas, por si só, incompletas. A elas têm de
seguir-se muitas outras, impostas pelo processo econômico
total do País, porque a reforma agrária não se reduz a um
problema jurídico apenas, mas de cunho existencial, diz
respeito ao modo de ser do homem que trabalha a terra,
modo de ser que reflete a etapa vigente do processo de
desenvolvimento. Não se deve esquecer que o quadro de
espantosa desumanidade como se apresenta a existência do
trabalhador rural representa um modo de ser do homem; e
um tipo de existência. Para abolir tal situação, tem-se de
indagar as causas que a explicam. Verifica-se que elas são
basicamente de ordem econômica, as relações de produção e
o regime de trabalho, tendo por cobertura formal um sistema
de relações jurídicas e uma constelação de valores éticos,
que se destinam a justificar o estado vigente. Para suprimir
esse quadro, humanizando o ente humano do interior, há que

100
abolir todas as causas que se conjugam para estabelecer o
atual modo desumano de existir.
A reforma agrária não resulta de um decreto, mas da
conquista de novo momento de um processo. Não depende
da decisão intelectual, mas da dinâmica dos fatores reais da
sociedade inteira. Não há, a rigor, reforma "agrária”, pois
não se trata de reformar o campo, mas a totalidade da
realidade nacional. E no âmbito da sociedade como um
todo, do processo de desruralização e não, isoladamente, no
das suas áreas agrícolas, que se tem de pensar o problema
agrário. Não é a legislação que determina a reforma agrária,
é a efetiva ocorrência de uma reforma da realidade da
existência humana e das relações de produção no campo que
se manifesta sob as espécies de lei agrária.

AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DE PLENA


SOBERANIA

O supremo traço distintivo da realidade da nação


subdesenvolvida é a ausência de soberania. No plano
internacional suas ações são comandadas pelo sistema de
forças que a domina. Não tem expressão própria, pois não
figura como sujeito histórico livre e sim como reflexo da
nação soberana a que está ligada por dependência
econômica. Não constitui um ser para si, não enuncia no
plenário mundial uma opinião onde retrate a vontade do
povo, mas acompanha docilmente a do grupo de que não
sabe se desvincular. O país subdesenvolvido tem uma
diplomacia de etiqueta, só para uso de cerimônia, para
representação formal no plano internacional. Não lhe traz
benefícios, e, mesmo, talvez, em alguns casos contra o
propósito de seus executantes individuais, tão fascinados

101
que disso não se apercebem só lhe acarreta servitude e
aumento de exploração. Dessa forma, o aparelho que
deveria servir à comunicação internacional dá em resultado
a incomunicabi1idade do país, pois aqueles que por ele
falam não são realmente porta-vozes do que têm a dizer.
A alienação, quase universal, de seus representantes
diplomáticos leva a nação subdesenvolvida a se constituir
em ser histórico afônico que ninguém de fora escuta, porque
o que tem a dizer não lhe chega aos ouvidos, e o que ouve é
apenas o eco da palavra alheia. O mais grave, porém, é que
a privação de soberania não arrasta apenas o país à fase
caudatária do protagonismo alheio nos prélios
internacionais, mas importa na intromissão da potência
dominante na vida interna da nação pobre, especialmente
pela influência que exerce sobre as deliberações de sua
política econômica. Se o primeiro aspecto representa o
caudilismo da nação dominada, o segundo corporifica o
imperialismo da nação dominante. Em ambos os casos,
existem uma razão comum para essas inadmissíveis
atitudes: a ausência de soberania, de que padece a nação
subdesenvolvida.
O livre exercício de todas as modalidades de
domínio é permitido pelo primarismo do desenvolvimento
nacional. Por isso, qualquer movimento que signifique
elevação na escala do desenvolvimento torna-se sinônimo
de aquisição, ao menos potencial, de soberania. Se o
incremento dessa qualidade define o processo de
desenvolvimento, deve-se medir o grau de avanço da
realidade nacional pelo teor de independência demonstrada
pelo país no trato internacional. Breve chega-se ao ponto no
qual se romper a falsa correspondência entre o interior,
pleno de atividade, e a vida de relação mundial, débil,

102
incolor, inexpressiva, obediente aos interesses da nação
hegemônica.
Aproxima-se de uma crise, certamente produzida por
algum ato mais violento da pressão imperialista, em que de
repente o País percebe achar-se dotado de alto poderio
internacional e resolver agir em concordância com a
consciência desse fato. Por enquanto, porém, persiste o
descompasso e a falta de correspondência, sem embargo de
um ou outro fraco e confuso pronunciamento, de algumas
pretensões ainda abstratas, mais significativas como
alvissareiros sintomas de futuras virilidades do que como
operações capazes de trazer imediatos resultados úteis. À
medida que progride o desenvolvimento, articula-se contra
ele manobras de pressão externa, que por algum tempo são
infelizmente bem sucedidas.
A existência de uma camada de empresários e de
políticos ligados ao capital externo assegura aos interesses
estrangeiros uma corte de emissários e agentes internos com
forte poder de decisão. Dirigindo setores vitais da política
financeira ou diplomática do País, imprimem-lhe
naturalmente os rumos que satisfazem suas convicções e
conveniências, em alguns indivíduos com tranqüila
consciência de servir realmente à nação. Somente quando se
investe dos predicados de nação soberana, ou seja, quando
as forças autenticamente nacionais se apossarem do
comando do processo econômico e financeiro, chega-se ao
grau superior do desenvolvimento, caracterizado pela
condição de "desenvolvimento para si". Até lá, está-se
realizando um desenvolvimento controlado por estranhos, a
serviço deles; na verdade, estar-se efetuando um
"desenvolvimento para outro", desenvolvendo-se até o
ponto, e no ritmo em que não ponha em perigo a supremacia

103
das atuais grandes potências, particularmente do G8.
Convém não esquecer que o Brasil figura entre as três
únicas nações do mundo atual que possuem condições de
alcançar o plano máximo de grande potência, mediante
rápido e iminente desenvolvimento como é exemplo a
China.
Sua extensão, riqueza de recursos e possibilidade de
mercado interno credenciam-no a tanto, e disso melhor
sabem os outros do que os próprios brasileiros. Não é sem
motivo que consideram o Brasil como espaço econômico a
ser imediatamente ocupado, antes que mesmo dele os
brasileiros tomem conhecimento e posse. Enquanto
permanecer na etapa de economia periférica, complementar
das economias capitalistas dominantes, viver-se-á um
processo econômico reflexo, servindo preferentemente aos
dominadores e só secundariamente aos próprios interesses.
Esta situação de complementaridade econômica espelha-se
no comportamento de servitude política internacional e de
subserviência diplomática.

A EDUCAÇÃO POPULAR PARA O


DESENVOLVIMENTO

O desenvolvimento se acompanha sempre de um


processo de transformação qualitativa da consciência
nacional. Tal consciência está em relação dialética com as
modificações objetivas da realidade: de um lado, é
produzida pelo grau de apropriação do real por parte da
comunidade, para seu benefício, mas, por outro lado, o
domínio da realidade depende da percepção que a
consciência social tem do estado da realidade e da lógica
dos acontecimentos. A educação, consistindo no processo

104
pelo qual se expande e multiplica a consciência social útil,
tem de ser fundamentalmente popular.
O desenvolvimento implica o progresso da
consciência, e este se acelera pela educação, mas para que
isso aconteça faz-se necessário que a educação vise à
totalidade das massas trabalhadoras e se descaracterize cada
vez mais como privilégio das elites. A educação de que o
país em esforço de desenvolvimento necessita é assunto
eminentemente político, e deve ser definida sob a inspiração
de justa teoria sociológica do processo nacional, pelos
representantes políticos da consciência comunitária. A
escola e a universidade não podem fazer a revolução de que
o Brasil precisa, simplesmente porque é a revolução que
tem de fazer a escola e a universidade de que o Brasil
precisa.
A escola não faz a revolução porque a revolução
tem de ser feita nela; logo, será conduzida por outras forças,
que nela terão de operar a transformação indispensável. É
inútil e ingênuo esperar que a universidade se reforme a si
mesma, por iniciativa exclusiva dos elementos que a
compõem, professores e alunos. Não existe na historia
exemplo de tal fato, de um grupo de privi1igiados no país
subdesenvolvido onde a educação ê um benefício de classe,
de etnia e de raça, a rigor, até os alunos o são, instalados
num castelo de sinecuras, honrarias e vitaliciedades, abrir
mão dos proveitos em que se reclinam a assumir o papel de
fator de vanguarda no processo social.
A função proveitosa que a universidade deve
desempenhar tem de lhe ser imposta de fora para dentro,
pelas forças políticas, particularmente as massas
trabalhadoras organizadas, que, ao impulsionar a alteração

105
da sociedade, a transformarão em órgão cooperante no
desenvolvimento do País.
Na situação de subdesenvolvimento, caracterizado
pela inevitável alienação cultural, a universidade não passa
de simples ornamento social, cenáculo de marginalizados
cultos e de ociosos mais ou menos instruídos. Em tal estado,
a universidade não é exigida como força propulsora da
comunidade, pois os elementos que objetivamente movem o
processo nacional, justamente porque são ativos, estão
situados fora daquela área, não precisam ir ali aprender
como fazer o que de útil estão fazendo. A universidade,
mero requinte de luxo da classe dominante para alojar seus
rebentos intelectuais, permanece à margem do movimento
social, pois não tem nele qualquer papel a desempenhar.

A CULTURA DO POVO

A teoria do desenvolvimento e a pratica política que


lhe corresponde constituem por si nova forma de cultura
com raízes nacionais. A anterior, que se identificava, na
visão crítica, com "a cultura" pura e simples, correspondia à
fase de nosso desenvolvimento, que, com razão, denomina-
se colonial ou semicolonial. Seus traços marcantes foram a
alienação do saber, mimetismos, a transplantação, o horror
aos problemas brasileiros, o modismo metropolitano.
Admitindo-se que o transplante e a alienação, foi um modo
de ser inevitável dado à etapa de dependência econômica em
que o país vivia e vive, compreende-se que só agora, quando
se ingressa na fase de desenvolvimento, está-se em
condições de produzir de modo consciente, e em forma
crítica, aquilo que antes desejava fazer, exprimir o próprio
ser, mas objetivamente não conseguia, porque não dispunha

106
de condições para criar instrumentos intelectuais autônomos
que permitissem interpretar sua realidade. Somente agora se
abre para a cultura brasileira uma era de existência original,
onde a produção cultural começa a ser feita para satisfazer a
exigência da nação. Existir para os brasileiros, é exprimir
seu próprio ser, tal é o fim da nova cultura que o
desenvolvimento propicia.
São inevitáveis que se constituam diferentes estilos
artísticos, inéditos modos de pensar, linguagem própria,
criações arquitetônicas pictóricas e cinematográficas de
caráter novo e original, na sociedade que rompe o cerco
histórico. A conquista de um destino livre representa, por si,
feito de tal magnitude, pelo que custou de trabalho, luta e fé,
que se oferece como manancial de infinitas criações
culturais. Para a nação em fase de eclosão de suas potências
criadoras, ver-se a si mesma como o ser que se fez o que é
agora e constitui "motivo" artístico inesgotável. A cópia de
sentimentos que sugere é inédita, não se compara em nada
ao que experimentava quando se entregava aos motivos
a1heios. O mesmo se dá com qualquer forma de arte
sensível as novas condições de existência do povo. Fica
como prova de alienação e arcaísmo o culto dos valores
estéticos anteriores, os que pertenceram a artistas que, na
falta de intensa motivação nacional, autêntica e superior, ou
se apegavam ao folclórico, ao colorido dos aspectos
elementares da vida popular, ou iam buscar a inspiração nas
classes cultas dos países metropolitanos ou hegemônicos.
A genuína cultura nacional não constitui, a rigor,
um item do programa nacionalista, porque, em verdade,
resulta dele. Mas, representa um resultado dialético, que
reflui sobre a causa, modifica-a contribuindo para torná-la
mais eficiente. A cultura nacional não deve ser entendida

107
apenas como expressão resultante das condições da
existência nacional, pois constitui fator eminentemente ativo
do processo de desenvolvimento pelo qual se engendra essa
própria existência. Sendo autêntica, nela se refletem, nas
modalidades e estilos que assume as reivindicações
populares, nela se manifestam os projetos de ação social que
a comunidade sugere, nela vêm à luz os novos valores, os
ideais nascentes que começam a reclamar vigência na
consciência coletiva. Nesse sentido, deflui da cultura um
efeito positivo sobre o processo do desenvolvimento, o qual
ê decisivamente influenciado pelas representações
ideológicas, pelas teorias, idéias e exigências artísticas que
esse mesmo processo permite produzir. Há, pois, uma
relação dialética de ação recíproca entre os aspectos
espirituais do desenvolvimento, representados pelas idéias e
produtos da criação cultural e os aspectos materiais em que
se corporificam as transformações da realidade. Como o
desenvolvimento, vai surgindo a consciência crítica mais
rigorosa, exigente e exata. A cultura do povo, exprimindo
essa consciência em crescimento, desempenha papel
unificador, pela forma como apresenta à consciência social a
imagem de sua realidade. A unidade de cultura que o
processo nacional tende a produzir representa no plano da
consciência social aquilo que é a totalidade do País no plano
objetivo.

A SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL COM AS


NAÇÕES EM LUTA PELA LIBERTAÇÃO POLÍTICA
E ECONÕMICA

O esforço que o País deve empreender para


conquistar sua plena autonomia não se realiza num espaço

108
histórico vazio, nem se reduz a um combate singular entre
ele e uma potência dominante, que o subjuga. Representa
uma façanha nacional, tendo por cenário a totalidade
mundial, onde outras comunidades se empenham
igualmente na luta pela libertação. Não pode deixar de
figurar na carta de princípios nacionalistas a solidariedade
com as nações que se acham em condições semelhantes às
do Brasil e porfiam em alcançar para si os mesmos bens que
almejam. Deve, pois, ser estabelecido o princípio de integral
apoio a essas nações, com as quais convém estabelecer
vínculos de amizade e auxílio, organizando, em forma de
parciais sistemas de forças internacionais, blocos de
inf1uências nas assembléias mundiais a fim de defender os
interesses comuns.
Neste momento, quando tantas comunidades do
continente africano se levantam e proclamam sua autonomia
política e forcejam por afirmar a independência econômica,
é dever dos brasileiros estreitarem os laços de solidariedade
com tais nações, e com as demais do mundo periférico, para
travar em conjunto a luta que é de todas contra os mesmos
adversários. O processo da realização objetiva da unidade
dos povos e das classes, na parte do mundo onde se acha
corporificado na dominação imperialista, evolui em função
das relações que as áreas periféricas são obrigadas a manter
com os centros dominantes. Como tais relações não são
fixas, mas formam, elas próprias, um processo, será em
função deste que se desenvolverá o outro, o das relações de
congraçamento entre as nações menores. Pelo fato de
estarem todas elas, de um modo ou de outro, cativas da
mesma influencia espoliadora, será pelo teor de liberdade
que cada qual venha a conseguir que se deverão apreciar
suas possibilidades de se associar com outras nações de

109
igual situação, para efeito de um desempenho mundial
unificado. O conceito de humanismo-nacionalista tem de ser
interpretado como os procedimentos pelos quais os países se
integram num internacionalismo autêntico, o das nações em
luta pela humanização da vida de suas populações.
O nacionalismo como sinônimo do humanismo
concreto, ao afirmar-se e consolidar-se em seus princípios,
conduz, assim, o país a identificar-se com um
internacionalismo que não o destrói, não revoga nenhuma de
suas teses, não substitui nenhuns de seus ideais, antes
encontra nessa nova etapa a plena realização daquilo que
pregava. O País não se desfigura, nem renuncia a nada do
que a específica ao se solidarizar com outros que segue o
mesmo caminho e procuram atingir os mesmos fins. Quando
houver conquistado a condição de pleno desenvolvimento,
sob a direção do pensamento humanista-nacionalista, o País
terá trilhado um caminho histórico diverso daquele seguido
pelas atuais potências dominantes. Estas precisam fazer-se
imperialistas para galgar a culminância a que chegaram. Por
isso terão de ser derrotadas no sistema que instituíram para
vencer, tal situação devem sofrer alterações internas que as
tornem membros pacíficos, respeitáveis e úteis da vindoura
totalidade universal de nações. Mas os países que se
elevarem a completa autonomia pela via do humanismo-
nacionalista, tendo abolido ao longo da sua marcha histórica
todas as formas de espoliação de suas próprias massas
trabalhadoras, chegarão ao plano de desenvolvimento
superior inocentes de qualquer crime contra a humanidade,
contra nações mais fracas e, desse modo, integrar-se-ão, sem
violências recíprocas, na sociedade ecumênica futura, onde
terá definitivamente cessado toda espécie de exploração
humana.

110
Não há de ser, é claro, o tipo de associações
internacionais atualmente existentes, mas nova espécie de
comunidade, na qual cada membro se integra por se haver
despojado do aparelho da dominação que exercia sobre
outros povos ou sobre as classes trabalhadoras de seu
próprio âmbito. Quando se observa o atual panorama do
mundo periférico e verifica-se por toda parte um vigoroso
surto nacionalista, deve-se compreender a concordância
ideológica de todos esses movimentos e o sincronismo com
que se desenrolam como efeito de uma causa semelhante
atuando sobre todos os países subdesenvolvidos.
O nacionalismo aparece como fenômeno
internacional constante porque é a resposta dada por toda
nação atrasada à agressão partida do mesmo adversário de
todas elas, o centro dominante. A uniformidade da resposta
explica-se pela identidade do estímulo. Desse modo, quando
cada país constrói seu projeto de existência autônoma
visando embora unicamente à servitude particular de que
padece, está contribuindo para a atuação congênere de todos
os demais, está igualmente libertando os outros. Os atos de
cada um que se liberta libertam ao mesmo tempo os outros,
e isso em virtude de destruírem a nefasta hegemonia e
hierarquia preestabelecida, própria do sistema imperialista.

A INTEGRAÇÃO SULAMERICANA

Do ponto de vista do humanismo nacionalista dos


povos ibéricos sul-americanos a integração passa necessária
e obrigatoriamente, em primeiro plano, pela integração
social para, em seguida ou simultaneamente pela integração
econômica.

111
Manuel Figueroa, em recente trabalho (fevereiro de
2006), intitulado “El desafio sadamericano. Integración
social y desarrollo” afirma textualmente que “los teóricos
de la integración no asignaron la debida importancia al
hecho de que en un sistema capitalista, la economía no
integra las riquezas reales o potenciales de las naciones,
sino que tan solo integra los negocios reales o potenciales
que puedan formalizarse sobre tales riquezas”. Chama
atenção, ainda, para “los grandes negocios pertenecieron y
pertenecen, básicamente, a empresas transnacionales que
operan con lógicas centradas en el poder económico, en la
maximización de la ganancia y en la concentración del
excedente, la exclusiva dimensión económica de la
integración nunca pudo ser funcional a las necesidades de
bienestar y equidad que reclaman nuestras sociedades”.
No supra citado trabalho FIGUEROA argumenta que
“la integración sudamericana lejos de configurar una
opción política, representa el único camino posible para
que el conjunto de sus naciones pueda ganar masa,
densidad y existencia real en el universo actual
caracterizado por el predominio de los EEUU y la
participación de grandes núcleos regionales de poder
surgidos entre países de América del Norte, Europa y
Asia”.
Em seus argumentos ele mostra que para a
integração dos países da América do Sul “el centro el
proceso de integración para el desarollo será diferenciar
las potencialidades de cada país, dimensionar sus ventajas
comparativas dinámicas y plasmar consensos que tornen
posible modernizar, de forma equitativa, las estructuras
productivas de cada país. El propósito central de la
Comunidad Sudamericana de Naciones (CSN) será instituir

112
estrategias de desarrollo que posibiliten, a cada país,
avanzar, selectivamente, en algunos de sus procesos
estratégicos de producción, ampliar sus beneficios
mediante el comercio compensado intraregional, potenciar
la competitividad de sus sectores productivos estratégicos
mediante ganancias de escala que amplifique las
perspectivas de participación en el mercado mundial,
construir sus redes de infraestructura y asegurar el mayor
bienestar posible a sus respectivas poblaciones para
reducir las brutales diferenciaciones sociales hasta hoy
existentes”.
De forma virtuosa argumenta, também, sobre como
“los gobiernos tendrán que acordar dentro de la CSN, sus
respectivas políticas respecto al capital extranjero y
consensuar roles y responsabilidades tanto del que se
inyecta en la región como financiamiento extraregional
como del que participa directamente mediante el complejo
de empresas transnacionales o en asociación con el capital
nacional. De igual modo, los gobiernos tendrán que adoptar
también políticas compatibles para sustentar los necesarios
equilibrios entre los sectores privados de los diferentes
países abriendo amplios espacios para promover la
participación de las pequeñas y medianas empresas
nacionales de forma individual, asociada, cooperativa o
orgánicamente articuladas con las grandes empresas
nacionales e internacionales a fin de asegurar su
competitividad en el espacio global”.

Em termos sinóticos, o pensamento de FIGUEROA


é uma resposta clara sobre o porquê da ALADI, do
MERCOSUL, e do PACTO ANDINO não terem, até o
momento, alcançado seus fins e como seguem por fora ou

113
ao lado do contexto de esperança da integração tão desejada
e necessária aos povos sul-americanos e quiçá latino-
americanos. Não vale insistir pela integração sul-americana
ou latino-americanas capitaneadas ou dirigidas pelas
empresas transnacionais.

O MODELO

“A unidade essencial da América Latina decorre,


como se vê, do processo civilizatório que nos plasmou no
curso da Revolução Mercantil – especificamente, a
expansão mercantil ibérica -, gerando uma dinâmica que
conduziu à formação de um conjunto de povos, não só
singular frente ao mundo, mas também crescentemente
homogêneo. O processo civilizatório que opera em nossos
dias, movido agora por uma nova Revolução Tecnológica
– a termonuclear -, por mais que afete os povos latino-
americanos, só poderá reforçar sua identidade étnica como
um dos rostos pelo qual se expressará a nova civilização. É
até muito provável que engendre a entidade política
supranacional que, no futuro, será o quadro dentro do
qual os latino-americanos viverão o seu destino”. Darcy
Ribeiro.

As formas de exploração dos recursos naturais, nas


diferentes regiões do Brasil, determinam as características
das atividades econômicas e demandam o racional
aproveitamento desses recursos, com vistas a ajustar,
gradativamente, a economia e a demografia às condições
ecológicas dominantes em cada uma delas. É mundialmente
conhecida a depredação dos recursos naturais do Brasil,
muito em particular, os da Amazônia, onde satélites

114
artificiais têm fotografado incomensuráveis incêndios, cujas
nuvens de fumaça têm alterado e limitado o tráfego aéreo
para cidades do Norte e do Centro-Oeste. A depredação
deixa de ser um problema regional e nacional e assume, por
sua alarmante incidência e sua rápida extensão, um caráter
de problema internacional, pôr desequilibrar o ecossistema
do planeta e, em decorrência, pôr em perigo a sobrevivência
da humanidade, da flora e da fauna indistintamente.
O processo de acumulação de capital na base da
destruição, da deteriorização e da depredação dos sistemas
ecológicos e da violência à natureza que acontece em todas
as regiões brasileiras deve ser detido e evitado. Não se pode
e nem se deve aceitar que, no País, crie-se e expanda-se
atividade econômica sem respeito à natureza e à ecologia.
Note-se que se trata de respeito e não de subordinação à
natureza. Não se quer, nesse particular, ser confundido
com os reacionários que, sob o pretexto dos condicionantes
ecológicos, querem e desejam uma economia primitiva, ou
seja, a volta às cavernas. Respeitar a natureza é ter uma
atitude responsável para com a ecologia, é conhecer e
pesquisar as leis da natureza para colocá-las sob o controle
humano sem violentá-la. A transformação da natureza é
necessária, o que é condenável e intolerável é a violência ao
sistema ecológico e a depredação do meio ambiente, através
de unidades produtivas agrícolas e industriais, bem como de
sistemas de esgotos sanitários e de determinados aterros ou
de poluição de cursos d'água e lençóis hídricos, seja através
de dejetos ou agrotóxicos de um modo geral, sem falar na
maior violência à humanidade: a erosão dos solos por vias
hídricas, eólicas, e lavradios.
No caso específico da Região Nordeste, as
autoridades, tanto federais como estaduais e municipais,

115
devem, urgentemente, definir uma política para a
preservação do meio ambiente, fundamentada em práticas
de conservação dos solos, principalmente pelo manejo das
áreas irrigadas susceptíveis de salinização e de um sistema
energético integrado (SEI), onde se tenha o cuidado de
obter alta efetividade no uso dos recursos naturais
disponíveis nas unidades produtivas agrícolas, não somente
pela importante reciclagem dos restolhos e resíduos da
agricultura e da agroindústria, mas também pelo
fornecimento de energia, fertilizantes, rações e alimentos.
Não se pode e nem se deve permitir que, numa importante
atividade agrícola como a cajucultura, desperdice-se perto
de um milhão de toneladas de pseudo-frutos,
importantíssimos para a alimentação humana e a animal.
Esse exemplo pode ser estendido às outras atividades
frutícolas, como o coco, a manga, etc, assim como à
rizicultura, à cotonicultura e, principalmente, às atividades
ligadas ao cultivo da cana-de-açúcar.
À medida que a política aqui sugerida surta seus
efeitos, pode e deve ser estendidas às demais regiões onde o
problema da reciclagem de resíduos e restolhos agrícolas,
bem como o da erosão e da salinização dos solos não são tão
relevantes como no Nordeste do Brasil. Vale deixar claro
que uma política de preservação de solos e de sistema
energético integrado redundará, não somente em
substanciais resultados econômicos, como também na
melhoria da qualidade de vida através da otimização do uso
dos recursos naturais; despoluição do ambiente; conservação
e aumento da produtividade dos solos; e geração de
oportunidades de emprego no agro e na urbe.
No âmbito dos condicionantes ecológicos do
desenvolvimento sustentável, observa-se, no Brasil, a total

116
ausência de um planejamento energético ao nível de
unidades produtivas no que concerne aos serviços de
desenvolvimento. É inadmissível que uma unidade
produtiva agrícola (UPA), de caráter individual ou jurídico,
tenha acesso a certos serviços, como crédito, extensão rural,
preços mínimos, etc., sem apresentar ou respeitar normas
definidas por um sistema de planificação energético para
conservação do ambiente e da produtividade dos solos. Por
todos esses motivos, é que se julga o setor público (federal,
estadual e municipal) como o principal responsável pelo
caos administrativo e a depredação do meio ambiente
nacional. Sua omissão enseja e facilita a violência que hoje
se pratica contra a natureza. No Nordeste, em vez de as
UPAs utilizarem o recurso natural mais abundante, a energia
solar, geradora de excelente fotoperiodismo, de forma
eficaz, deixam, pelo contrário, que esse recurso deteriore os
solos quando ficam descobertos e expostos a essa intensa e
incomensurável fonte de energia, que tanto serve para fazer
produzir como para destruir o que há de mais precioso para
a existência humana - o solo agrícola. É lastimável e
incompreensível a não-otimização do uso da energia solar
no Nordeste, no Norte e no Centro-Oeste do Brasil, não
somente para a agricultura, mas também, para outros usos.
Na política que aqui se propõe, é imprescindível
estabelecer e fazer respeitar normas, padrões e
procedimentos para se atender a qualquer UPA (pelos
serviços de desenvolvimento dos governos: federal, estadual
e municipal), relativos a estudos sobre seu potencial
energético, em termos de reciclagem de resíduos e restolhos
e de energia (biodigestores, gasogênio, eólica, solar,
hidráulica, elétrica e dendroenergia).

117
No caso específico do semi-árido brasileiro (situado
no Nordeste), a política voltada para o desenvolvimento
sustentável deve ser concebida mediante a ampla
compreensão dos fenômenos limitativos que incidem na
economia do semi-árido, e não na do Nordeste como um
todo. Impõe-se uma distinção precisa entre as políticas para
o semi-árido brasileiro, para as terras úmidas e para os
cerrados nordestinos. O semi-árido nordestino (que é o
único tropical do planeta) exige, para seu desenvolvimento
sustentável o ajuste de sua economia à demografia ao
estudo, ao controle e à gestão do fator hídrico, que deve
doar sentido para toda e qualquer atividade que visa o
problema econômico e social do próprio semi-árido e da
totalidade do Nordeste.
A análise do semi-árido brasileiro,
independentemente da Região Nordeste, revelará à nação e,
muito em particular, aos nordestinos, que o potencial dessa
área não é tão limitado como afirmam as oligarquias da
Região ou como pensam os brasileiros em geral. As áreas
passíveis de irrigação no semi-árido são, sem dúvida,
privilegiadas no contexto da agricultura nacional; aquelas
não-apropriadas para irrigação devem ser equacionadas num
rigoroso enfoque onde se tenha em conta os ajustes da
economia e da demografia à ecologia de forma racional,
frente às questões econômicas e sociais.
Convém, hoje, não mais confundir o semi-árido
brasileiro com a Região Nordeste do Brasil. Esta tem terras
úmidas tão boas quanto as melhores das Regiões Sudeste e
Sul do Brasil. O motivo de elas não serem tão produtivas
quanto às das supracitadas regiões descansa, muito mais, na
organização social da produção, dada pelas classes patronais
agrícolas, do que nas qualidades e potencialidades das terras

118
ou dos recursos naturais. Note-se, ainda, que as terras
úmidas do Nordeste são altamente privilegiadas pela infra-
estrutura de transporte, energia e portos marítimos, tanto
quanto as do Sul e as do Sudeste. Em verdade, as classes
sociais que as detêm são retrógradas, vivendo e
enriquecendo, cada vez mais, à custa das chamadas "secas"
nordestinas, que nada têm de emergenciais, pois fazem
parte, apenas, do semi-árido brasileiro. As secas periódicas e
naturais do semi-árido podem, inclusive, deixar de ser
flagelos para se tornarem fator positivo para um melhor
equilíbrio ecológico da área e de sua exploração mais
racional, através da racionalização de seu uso e
domesticação de sua flora e fauna nas áreas não-irrigáveis e
intensificação do manejo científico das áreas irrigadas.
Neste século, particularmente, nos últimos 30 anos,
inicia-se e consolida-se o processo de transformação do
Brasil agropastoril para o Brasil urbano-industrial.
Essa mudança dá-se com as modificações
resultantes das ações de natureza política de uma sociedade
atomizada para uma sociedade organizada com
marginalização política da principal força produtiva, que são
os trabalhadores brasileiros, ou melhor, a classe proletária
em seu sentido mais abrangente. Claro está que todo esse
processo dá-se à custa da ideologia industrialista, cuja base
fundamental é igualar ou identificar a atividade primária ou
agrícola com o subdesenvolvimento. Outra característica
essencial da transformação está no processo de transferência
de recursos da agricultura para as atividades urbano-
industriais.
Os conflitos entre o agro e a urbe, na mudança do
Brasil agropastoril para a situação urbano-industrial, podem
ser explicitados sinoticamente, conforme segue:

119
a) Grande dispersão espacial da produção agrícola,
que impede o controle de excesso e de escassez de produtos.
b) Tabelamentos dos preços dos produtos agrícolas,
ao nível do varejo, e limitação da exportação através de
mecanismos de quotas.
c) Confisco cambial, quando as relações de troca
eram favoráveis aos agricultores e, mais ainda, a constante
cobrança de impostos de exportação dos produtos agrícolas.
d) Sistema de preços voltados para o abastecimento
urbano sem qualquer mediação para a estabilização da renda
no meio rural.
e) Política agrícola ditada pelo imediatismo do
governo com fortes sintomas de penalização da agricultura
como um todo.
f) Intervenção do governo no mercado de produtos
agrícolas pela política de preços mínimos e de estoques
reguladores do Estado.
g) Incentivo ao segmento semimercantil com fortes
traços de se financiar a miséria em níveis suportáveis e
intensificar o processo de desruralização.
h) Educação desfocada do rural e indigência dos
recursos humanos ligados ao setor agrícola pelo esforço
privilegiado à industrialização, mesmo inserta em processo
de acumulação de capital à custa da exploração da mão-de-
obra e da destruição do patrimônio nacional entendido
como biomas.
i) Desigualdade de tratamento estatal entre as
populações urbanas e do agro com respeito aos serviços de
desenvolvimento e sociais básicos com absoluto viés
político em favor das atividades econômicas e sociais
urbanas.

120
j) Disputa por investimentos em capital social básico
ou economias externas entre o agro e a urbe com resultados
amplamente favoráveis ao que se convencionou chamar de
processo de urbanização em vez de processo de
desruralização.

Nos conceitos básicos da economia política, busca-


se, agora, apresentar um conjunto de idéias que possam
conformar, para o Brasil, um modelo autônomo de
desenvolvimento sustentável, que deve ser exaustivamente
contextualizado e enriquecido pelo leitor.
Para tal propósito se procura situar a transformação
dos espaços e das relações de produção e circulação dos
bens e serviços no processo de mundialização ou de
globalização da economia a partir de três aberturas ou
janelas no sistema mundo do capitalismo.
A abertura externa trata da economia privada
capitalista sob a égide das multi e transnacionais em termos
da competitividade que lhe é inerente, assim como da
exclusão social. Toda essa economia é visível e mensurável
nas áreas dinâmicas do Brasil e, em geral, associada às
diretrizes internacionais do Fundo Monetário Internacional,
do Banco Mundial e da Organização Mundial do Comércio.
Em termos do Poder Nacional, o Estado Brasileiro está
atrelado aos ditames das organizações supracitadas que são,
em última instância, as executoras da vontade política do
chamado G7 ou G8, quando se inclui a Rússia.
No outro lado e em contraponto à janela externa, há
a abertura interna que tende a consolidar, no Brasil, uma
economia social-comunitária ou solidária, com profunda
descentralização e inclusão social em quase todos os
espaços letárgicos do país.

121
Acredita-se que entre essas duas aberturas há que se
lutar, com todos os meios democráticos, para se alcançar ou
se criar uma abertura ou janela para o Estado Brasileiro
visando a uma economia pública na qual se possa mediar a
transferência de renda da janela externa para a interna com
vistas à inclusão social. Admite-se que a abertura do
Estado possa exercer o controle da política econômica
com esse mister e estabelecer, para tanto, a gestão pública
nacional para a construção da política-social.
Nas instâncias da economia política, há que se ter
atenção para as duas revoluções, que se dão de forma
simultânea, no sistema mundo do capitalismo, que são: a
revolução técnico-científica e a revolução informacional
ou do conhecimento. Na medida em que o Estado
Brasileiro possa mediar e controlar os efeitos dessas duas
revoluções mundiais com vistas a uma economia pública
pode e deve proceder, de imediato, as seguintes reformas:
do Judiciário; econômica (tributária/fiscal); política e
agrária.
Os impactos de tais vontades políticas, pelo Estado
Brasileiro, dar-se-ão no sistema do desenvolvimento
sustentável com radicais medidas de:

a) Investimento, crescimento e desenvolvimento.


b) Competitividade, conhecimento e gestão.
c) Sustentabilidade, desburocratização e eqüidade.
d) Inclusão social, descentralização e geração de
emprego e de renda.

O esquema da página seguinte apresenta, de forma


sinótica e diagramática, as iterações e interações das
variáveis do Modelo, aqui proposto, e que implicam um

122
dado território (nacional ou, ainda, região e áreas-programa)
a partir de Entes Comunitários insertos ou não nos
Conselhos Municipais de Desenvolvimento Sustentável
(CMDS), hoje, existentes em todos os municípios brasileiros
ou, ainda, em organismos regionais tipo Sudene.
Vale salientar que os Estados Brasileiros possuem
vários meios legais para implementar tal modelo pelo lado
da abertura do estado com vistas à abertura interna e,
nesta, a economia social-comunitária, haja vista a lei
10.257/2001 (Estatuto da Cidade), o Código Florestal, o
Projeto Crédito Fundiário, o Programa Fome Zero, além das
linhas de crédito como o PRONAF e o microcrédito.

123
124
Também, os fundos constitucionais do Norte, do
Nordeste e do Centro-Oeste (FNE, FNO, FCO) poderiam
voltar-se totalmente para edificar e consolidar a economia
social-comunitária ou solidária proposta no modelo. Carece
ao Estado Brasileiro criar e implementar um forte programa
habitacional para as classes pobres e médias de todo o
território nacional. Ambiciosos programas: habitacional,
saneamento e de infra-estrutura implicariam geração de
empregos e de redistribuição de renda para grandes parcelas
das populações hoje excluídas ou desempregadas pela
recessão econômica no país. Em nosso documento
“Contribuição a uma Política de Recursos Humanos com
Vistas à Inclusão Social.” (elaborado para ONG Centro de
Educação e Cultura do Trabalhador Rural – CENTRU.
Recife, 2003) aponta-se um grande número de iniciativas
para se implementar e se consolidar a abertura do estado
no que trata da economia pública e da economia social-
comunitária, também, proposto no modelo autônomo de
desenvolvimento sustentável na abertura interna do
processo de globalização ou de mundialização da economia.
Há de se convir que a revolução técnico-cientifica
existente hoje, no sistema mundo do capitalismo, se bem
controlada em nível nacional pelo Estado Brasileiro pode e
deve implicar crescimento econômico em todas as aberturas
apontadas com efeito na produtividade do trabalho, na
competitividade e na sustentabilidade dos investimentos.
Pelo lado da revolução informacional e do conhecimento,
entre outras medidas, pode o Estado incluir a população para
acesso às infovias a partir de um padrão próprio de TV
digital com vistas às modificações e mudanças nas já
existentes TVs analógicas de forma a permitir o acesso da
população brasileira, de maneira massiva, à Internet.

125
Certamente, a implementação de uma economia
pública permite que incomensurável parcela da economia
social-comunitária ou solidária tenha acesso ao
MERCOBRASIL e ao comércio exterior, hoje, quase
totalmente sob a égide da economia privada capitalista,
em particular, pelas empresas transnacionais que funcionam
no país gerando pouco emprego e transferindo, para fora,
muita renda. Nessa economia, o Estado é bastante limitado
em suas decisões e controles na medida em que ela é ditada
de fora para dentro através do FMI, da OMC e do BIRD.
No que diz respeito às reformas previstas, no
Modelo, a Reforma do Judiciário implica o maior avanço
da reforma do Estado desde 1988 (ano da Constituição), ou
seja, transformar o Poder Judiciário do Brasil para ordenar a
República Federativa que no cumprimento das normas
constitucionais puna todos aqueles plutocratas e
tecnoburocratas que abusam do poder, os envolvidos no
mau desempenho no exercício da função pública, os
cleptocratas ou corruptos de todas os matizes, os que traem
a nação, aqueles que lavam e desviam dinheiro,
contrabandeiam e lidam com o tráfico de drogas e de órgãos
humanos e, mesmo, de pessoas, e todos os mafiosos além
dos que subvertem e transgridem a legislação social não
somente a previdenciária, mas a do trabalho, a do ambiente
e a tributária/fiscal.
Certamente, com um Poder Judiciário transparente,
reformado, recuperado e recriado do ponto de vista da
justiça, da ética e da cidadania surge às condições para se
administrar as políticas e a economia pública na certeza de
que há um compromisso visceral do Judiciário com os
objetivos nacionais permanentes e atuais (ONP e ONA).
Objetiva-se, ainda, ter justiça social para a construção de um

126
Brasil Grande de Incluídos em contraponto ao atual Brasil
Nanico de uma irresponsável e alienada elite segregadora e
excluidora do povo brasileiro onde, também, o Judiciário
contribui para a impunidade dos plutocratas e cleptocratas
de todos os matizes.
Augura-se, portanto, uma Reforma do Judiciário que
aponte para:

a) Um controle externo por um Conselho Nacional


de Justiça capaz de planejar políticas nacionais e corrigir
desvios éticos nos poderes da Nação.
b) Uma moderna e célere administração.
c) Uma revisão da legislação infraconstitucional.
d) Uma estrutura democrática onde as defensorias
públicas possam de fato atuar em favor da grande massa de
brasileiros totalmente privados de direito e de cidadania.

Almeja-se, inclusive, que as defensorias públicas


possam fortalecer e exercer o papel de legitimar a economia
social-comunitária na abertura interna do processo de
globalização ou mundialização da economia.
A Reforma Econômica (tributária/fiscal) já está em
andamento e, na medida em que seja descentralizada e
racionalizada ao nível dos municípios, em muito contribuirá
para a abertura do Estado que, a partir da economia pública,
possa implementar, de fato, a economia social-comunitária
na abertura interna prevista no Modelo e inserta no processo
de globalização econômica.
Para tanto, há que se desonerar a produção de bens e
serviços, ampliar a capacidade produtiva do país e
incorporar ao MERCOBRASIL (mercado interno) o vasto
contingente de indigentes e pobres que, por falta de

127
oportunidades e pela violência dos ricos contra os pobres e
do próprio Estado contra os pobres, leva-os a engrossar a
violência urbana e rural existente hoje no Brasil, e que toma
porte de uma guerra civil não-declarada. Cabe, portanto, à
reforma econômica (tributária/fiscal) assegurar à população
condições econômico-sociais de bem-estar, de equidade e de
geração de emprego e de renda e, principalmente,
transferência de renda dos ricos para os pobres e não o
inverso que ora se dá.
Note-se que do ponto de vista financeiro o Brasil é
detentor de um sistema financeiro estatal e privado capaz de
assegurar e doar sustentabilidade ao Modelo, bastando, para
tanto, colocá-lo a serviço do país.
A Reforma Agrária sem dúvida é a base sobre a
qual se pode e se deve instituir e solidificar a economia
social-comunitária não somente para ampliar a produção,
mas também, a segurança alimentar, a segurança do
abastecimento, a gerar empregos e a garantir aos sem terra e
aos minifundiários o direito de receber terra e crédito do
PRONAF, PCF, fundos constitucionais (FNO, FNE e FCO)
e de outras fontes públicas e fontes privadas com vistas a
uma vida digna no meio rural brasileiro e, muito em
particular, na grande Região Nordeste.
Em complemento à reforma agrária, cabe ao Estado
patrocinar e financiar a infra-estrutura necessária, a
capacitação técnica local dos projetos, habilitar os créditos,
assistir as comunidades e acabar com a influência dos
especuladores, açambarcadores, e políticos tradicionais e
conservadores ou neutralizá-la na medida em que solidifica
uma democracia participativa local. Há que se implementar
a plataforma da política de reforma agrária proposta pelo
Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva, quando

128
afirma: “A reforma agrária é instrumento indispensável de
inclusão social, num país de grande concentração de renda
como o nosso. Associada aos demais instrumentos
convencionais, incluindo uma política auxiliar de crédito
fundiário para regiões e setores específicos ela é
estratégica para enfrentar a crise social e fomentar as
cooperativas, a agricultura familiar e a economia
solidária”.
“A aceleração do processo de reforma agrária e um
programa de recuperação dos assentamentos já efetuados
são indispensáveis para aumentar o emprego na agricultura
e proporcionar segurança alimentar aos trabalhadores e
suas famílias”.
“A expansão e integração da produção de
alimentos, ao lado da consolidação das diversas formas e
níveis de organização produtiva dos beneficiários,
desempenhará um papel central na regularização dos fluxos
de abastecimento nas esferas local, regional e nacional.
Sem prejuízo de outras formas que possam ser utilizadas em
situações determinadas, o instrumento central de obtenção
de terras para a reforma agrária será a desapropriação por
interesse social, nos termos do que estabelece a
Constituição Federal”.
“A elevação da eficácia da reforma será alcançada,
também, por meio da ampliação da participação dos
beneficiários em todas as suas fases e da implantação de
sistemas de financiamento e comercialização que
contribuam para viabilizar economicamente as unidades
produtivas criadas” (Inserto no site do então candidato à
Presidência da República na Internet).
Sendo urgente e necessária, a Reforma Política que
aqui se pretende é a de submeter às ações do Estado

129
brasileiro ao amplo controle político da sociedade civil em
contraponto ao atual controle das elites que nos 500 anos de
história (a partir da invasão européia) no, hoje, território da
República Federativa do Brasil, mostrou-se totalmente
irresponsável para com o povo brasileiro, defendendo,
apenas, seus mesquinhos interesses e os dos países que
representavam (Portugal, Inglaterra, França e, hoje, EUA).
Melhor explicitando, deseja-se na reforma política que a
sociedade civil organizada participe da definição dos
grandes objetivos nacionais seja nas decisões seja na
implementação das medidas decorrentes, a fim de que os
instrumentos se afinem com os propósitos, e a prática se
ajuste à retórica conforme pregavam Teotônio Vilela e
Raphael Magalhães no Projeto Brasil no Senado Federal.
O Partido dos Trabalhadores, agora no poder, tem
explícito em seu programa a necessidade da reforma
política, porém de maneira muito tímida, ou seja, em dois
parágrafos (63 e 64), omitindo o papel que tem para se ter
de fato e de direito, no Brasil, uma democracia
representativa a partir da consolidação de uma forte
democracia participativa, com origem e prática nos
municípios onde os Entes Comunitários devem ter efetiva
participação. O modelo em discussão parte do princípio de
que só haverá, no Brasil, uma democracia representativa
quando seu pressuposto básico, que é a democracia racial
e participativa, esteja devidamente implementada desde o
nível local ao nacional. Também, a questão dos gêneros
deve ser objeto da reforma política.
Vale lembrar que a proposta de reforma política do
governo FHC, explícita no documento Avança Brasil p. 277,
se devidamente revisada, vai ao encontro das proposições do
modelo autônomo de desenvolvimento sustentável e, em

130
muito, contribuirá para sua implementação. As diretrizes ali
explícitas não são para serem desprezadas e sim para serem
melhoradas e ampliadas (do ponto de vista dos excluídos)
no Governo Lula ou do Partido dos Trabalhadores.
Dentro do modelo em discussão, cabe ainda
aperfeiçoar as políticas que regulam a economia privada
capitalista de forma a compatibilizar sua lógica de
maximização do lucro e do poder, no processo de
acumulação incessante de capital, com os inalienáveis
interesses do Brasil. Há que se ter, também, especial atenção
para as empresas estatais e paraestatais (públicas) brasileiras
a partir dos interesses do povo e, principalmente, dos
excluídos.
É preciso controlar, com o máximo rigor, os marcos
de regulamentação e de controle que possibilitam o sistema
empresarial, particularmente o financeiro, cumprir com as
obrigações que as regras lhes impõem em termos de
tributação, previdência, trabalho, social, ambiental, respeito
ao cliente e, principalmente, de remessa de lucro ilegal ao
exterior. Deve-se, em tese, doar-se especial atenção àquelas
empresas que criem muitos postos de trabalho e que são
solidárias com o bem-estar da sociedade brasileira. Nos
dispositivos de controle e de regulamentação das empresas
ou organizações insertas na economia privada capitalista,
devem-se administrar critérios e objetivos de eqüidade entre
os diversos setores sociais. Propõe-se que os
endividamentos externos, oriundos das operações das
empresas capitalistas, sejam mantidos, no âmbito das
relações privadas e jamais do setor público, como sói
acontecer. Necessita-se de amplo rigor contra a evasão fiscal
e um controle rigoroso da remessa de lucro, royaties,
serviços e dividendos gerados, no país, para o exterior. Em

131
nenhuma hipótese, deve-se privilegiar uma empresa
estrangeira ou transnacional em detrimento daquela que,
autenticamente, é nacional, como aconteceu com os
governos dos entrególogos Fernando Collor de Melo e
Fernando Henrique Cardoso, que serão julgados pela
história.
Para melhor entendimento das presentes idéias,
segue-se um esquema sistêmico do que aqui foi apresentado,
de forma sinótica, para futuros desdobramentos, leituras e
contextualizações.

132
SISTEMA
MUNDO CAPITALISTA

SISTEMA AUTÔNOMO
DO DESENVOLVIMENTO ESTRATÉGIAS DE
LUCRO E PODER
TRANSFORMAÇÕES
ABERTURA DO ESTADO
ECONOMIA PÚBLICA
CONTROLE DA PRODUÇÃO E
CIRCULAÇÃO GESTÃO
PÚBLICA NACIONAL

DESBUROCRATIZAÇÃO DEMOCRACIA
PARTICIPATIVA

REFORMA DO CRESCIMENTO REFORMA


JUDICIÁRIO (INVESTIMENTOS) POLÍTICA
REVOLUÇÃO
TÉCNICO-CIENTIFICA
COMPETITIVIDADE SUSTENTABILIDADE

ORDENAMENTO
CONSTITUCIONAL MODELO DESCENTRALIZAÇÃO

AUTÔNOMO DE
IDH
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL NOS REDISTRIBUIÇÃO
DE
TERRAS
REFORMA TERRITÓRIOS
ECONÔMICA SEGURANÇA
RECUPERAÇÃO REFORMA ALIMENTAR
E SOCIAL
DA JUSTIÇA E FISCAL AGRÁRIA
TRIBUTAÇÃO EQUIDADE EMPREGO ASSOCIAÇÕES SOCIAIS
COMUNITÁRIAS

COMÉRCIO INVESTIMENTOS
CADEIAS
EXTERIOR PRODUTIVAS

REVOLUÇÃO INFORMACIONAL
DESCENTRALIZAÇÃO

ABERTURA EXTERNA ABERTURA INTERNA


ECONOMIA PRIVADA CAPITALISTA ECONOMIA SOCIAL-COMUNITÁRIA
EXCLUSÃO SOCIAL INCLUSÃO SOCIAL
TERRITÓRIOS DINÂMICOS TERRITÓRIOS LETÁRGICOS

133
Na organização do esforço de planejamento
estratégico do desenvolvimento sustentável autônomo, não
se trata de fixar uma estrutura formal para a planificação,
mas estabelecer as bases sobre as quais o sistema deve ser
organizado. É dizer, definir QUEM participa, QUAL É O
PAPEL de cada um dos diferentes participantes, QUE
RELAÇÕES devem existir entre esses participantes e
COMO DEVEM conduzir-se.
Para concretizar um planejamento estratégico
situacional capaz de promover a superação de uma nação
para outras para uma situação de uma nação para si, torna-se
necessário rever muitos conceitos da economia clássica e da
neoclássica em situação de neocolonialismo, como sejam:

a) A categoria de MATÉRIA-PRIMA que, para os


brasileiros, não pode ser entendida somente como insumo
ou matéria intermediária para a confecção de alguns
produtos. Deve, sim, ser apreendida como substância capaz
de absorver trabalho humano vivo ou pretérito. Nesse caso,
convém verificar se seu caráter é renovável ou não. No
caso de ser renovável, trata-se necessariamente de um
produto vivo da natureza ou do agro; não sendo renovável, é
um produto mineral. A partir desse conceito e do caráter da
matéria-prima, pode-se deduzir que, quando se exporta
determinado mineral estratégico ou mineral escasso ou
mesmo produtos agrícolas in natura, está-se exportando
uma determinada quantidade de trabalho que poderia ser
agregada ao produto final no próprio país. Na medida em
que isso não acontece, a exportação de matéria-prima
significa a alienação da capacidade de trabalho nacional.
Isso é muito grave quando se exportam matérias-primas
básicas ou estratégicas e se importam produtos

134
manufaturados oriundos delas. Nesse caso, a alienação é
dupla: exportação de capacidade de trabalho nacional e
importação do trabalho agregado de terceiros;
b) DESEMPREGO. É outra categoria que,
praticamente, não existe em países subdesenvolvidos ou
periféricos como o Brasil. O imaginário do brasileiro não é
levado a acreditar que uma pessoa que está desempregada já
tenha uma determinada qualificação profissional, posto que
perdeu seu emprego e aguarda ou busca nova oportunidade,
isto é, possui uma determinada aptidão técnica. No contexto
econômico, desemprego não pode ser entendido apenas
como falta de emprego, mas como o resultado de
exoneração, demissão ou destituição de função. No Brasil,
esses casos existem no Sul e no Sudeste e são insignificantes
no Norte, no Nordeste e no Centro-Oeste. O que existe, de
fato, são pessoas não-qualificadas que buscam emprego
muitas vezes pela primeira vez. Em geral, carecem de
atributos de qualificação ou de aptidão técnica e
profissional. Uma coisa é estabelecer uma política de
emprego para desempregados; outra é criar empregos ou
oportunidades de negócios para pessoas não-qualificadas e
que nunca trabalharam. Exportando matéria-prima e
permanecendo a mão-de-obra ociosa, embora se possa,
eventualmente, convertê-la em bens utilizáveis, o país
subdesenvolvido ou periférico incide em duplo erro:
despoja-se de sua riqueza insubstituível, alienando o
trabalho de beneficiamento da matéria-prima, e importa o
trabalho agregado do país que a industrializa. Acontece,
com esse duplo erro ou alienação, que o país
subdesenvolvido ou periférico, além de reduzir seu
potencial de trabalho, relega seu povo e seus futuros
operários qualificados à condição de semoventes, vegetando

135
no plano de uma política de salários aquém do nível de
subsistência. Para o país subdesenvolvido ou periférico, o
problema não consiste em saber se a exportação de minérios
produz ou não divisas, mas saber se produz ou não trabalho.

Para completar o sistema conceitual supra, vejamos


o que acontece com os conceitos de uso dos recursos
naturais, particularmente o conceito de UTILIZAÇÃO DE
FATORES.
Opina-se que esse conceito não pode ser utilizado
nos países subdesenvolvidos tal qual é apresentado pela
economia dos países desenvolvidos ou do ponto de vista
etnocêntrico, pois contém numerosos aspectos que somente
a investigação a partir de um ponto de vista nacional ou
crítico abrangente pode descobrir.
Sob a rubrica de utilização de fatores, ou de uso dos
recursos naturais, ocultam-se diversas modalidades de
aproveitamento dos bens de um país, que podem ser
utilizados em proveito próprio e alheio. Segundo Álvaro
Vieira Pinto, pode-se ver que:

a) SUBUTILIZAÇÃO OU SUB-USO. Consiste no


aproveitamento parcial da riqueza existente a partir da
capacidade industrial já instalada ou da mão-de-obra
oferecida. É a modalidade quantitativa do uso. Caracteriza-
se pela utilização dos chamados fatores produtivos em
quantidade inferior ao máximo possível. A capacidade
ociosa inclui-se nessa modalidade de uso. O país
subdesenvolvido usa apenas uma pequena parte de seus
recursos naturais disponíveis, sendo impedido de aumentar o
aproveitamento desses bens por motivos de ordem: i)
política, por pressão dos países hegemônicos que procuram

136
manter um baixo nível de utilização; ii) econômica, pela
debilidade da acumulação interna de capital; e iii) técnica e
científica, pela ausência do conhecimento de suas reais
possibilidades e da extensão e da variedade dos bens
naturais.
b) SEMI-UT1LIZAÇÃO OU SEMl-USO.
Consistem na utilização completa dos recursos naturais para,
apenas, alguns dos fins de produção, ficando outros
entregues à ociosidade ou à demanda de bens, a ser satisfeita
pela importação de matérias-primas ou de produtos
acabados. Nesse caso, temos a modalidade de MAU USO
ou MÁ UTILIZAÇÃO, que se definem pela presença
simultânea do conveniente aproveitamento de certos
recursos e a falta de interesse por outros desconhecidos, mal
usados ou não-aceitos, sendo substituídos por equivalentes
importados. A semi-utilização dos chamados fatores
produtivos ocorre freqüentemente nas novas indústrias
implantadas no país para explorar alguma riqueza nativa. É
oportuno ressaltar, porém, que esse procedimento se
acompanha da importação de máquinas estrangeiras ou de
alguns insumos que poderiam ser produzidos internamente,
embora parcialmente, fato que ocasiona a imobilização dos
implementos, artigos, acessórios etc. que o planejamento de
tais indústrias pretende importar e não produzir no país.
c) PSEUDO-UTILIZAÇÃO OU PSEUDO-USO.
Esse conceito concerne à utilização de qualquer recurso
natural do país pelo capital estrangeiro. Do ponto de vista do
desenvolvimento nacional, trata-se, de fato, de um FALSO
USO, porquanto, aparentemente, o recurso está sendo
aproveitado pelas condições econômicas em que se realiza
essa atividade, falseando assim o uso para si das riquezas do
país. Mesmo no uso dos recursos naturais, estes são

137
utilizados em seu exclusivo proveito; tudo se passa como se
destruísse a riqueza, anulando-a, transformando-a para
outros, aviltando, assim, o valor de trabalho nacional.
Exemplo típico desse pseudo-uso no Brasil: a exploração e a
transformação da bauxita em Barcarena, no Pará, e em São
Luís, no Maranhão, onde são alienados não somente o
trabalho agregado que poderia ser implementado nos
lingotes de alumínio exportados, mas, principalmente, da
energia gerada pela maior e mais importante hidroelétrica
brasileira, que é Tucurui. A falta de confiança que os povos
periféricos ou subdesenvolvidos manifestam em sua
capacidade, seu pessimismo para o futuro, alegando não
disporem de meios para elevar seu nível de vida porque
foram mal dotados pela natureza e não têm capacidade de
trabalho, são responsáveis pelo clima desfavorável que
resulta do aproveitamento inadequado dos bens naturais. Por
isso mesmo, viça, no povo, uma ideologia reacionária que se
explicita em complexo de inferioridade e ausência de auto-
estima.

Do desalento proveniente desse complexo do


imaginário brasileiro, resulta a marginalização do povo, que
passa a viver sob a constante pressão ideológica daqueles
representantes da ciência estrangeira a serviço de
exploradores que, além de comentarem, divulgam e
propagam a idéia de ESCASSEZ DE RECURSOS e a
dificuldade em mobilizar os recursos que o povo possui. A
noção do pseudo-uso dos recursos naturais, ao se converter
em ideologia social, gera o estado de espírito coletivo que
lhe corresponde e, por conseguinte, o câmbio, chegando-se à
nova situação de PLENO USO desses recursos que abre o
caminho para outra perspectiva ideológica - a consciência

138
crítica da comunidade ou da nacionalidade. Então,
rompem-se os grilhões que se impõe às comunidades,
sugestionando-as a não crerem na existência de bens
aproveitáveis e na efetividade de seu esforço e de seu
trabalho. É por isso que o país subdesenvolvido ou
periférico necessita conhecer, por si mesmo, os bens
naturais de que dispõe e mobilizar seus próprios cientistas
para descobrirem a realidade nacional e proporem a
proteção do uso de seus recursos naturais. Sabe-se que, sob
o manto da hipócrita autoridade de uma ciência
supostamente neutra ou impessoal, escondem-se a
rapinagem do capital estrangeiro, seus interesses políticos-
imperialistas e suas manobras para manter o domínio sobre
a consciência das elites alienadas e mal esclarecidas dos
países periféricos ou subdesenvolvidos.
A programação da pesquisa científica, originalmente
destinada a criar a consciência positiva dos países atrasados,
é uma tarefa urgente e constitui uma superestrutura
relacionada com os princípios básicos de exploração e
aproveitamento dos recursos dos países em seu proveito
próprio.
A mobilização desses recursos requer dois tipos de
medidas: uma de infra-estrutura e outra de superestrutura
As medidas de infra-estrutura visam à plena
apropriação dos recursos naturais pelo povo,
representado por seu Estado e a quem compete a posse das
fontes de energia. Em conseqüência do crescimento
anárquico da produção, do enfraquecimento e da imprecisão
dos mercados, das pressões externas, da falta de
planejamento científico, dos impedimentos de toda ordem, a
economia dos países atrasados é naturalmente levada a
desbaratar significativamente as próprias possibilidades

139
produtivas, resultando disso uma parte da capacidade
ociosa, a qual, se fosse utilizada, daria aos países sem
nenhuma necessidade de novas inversões, o imediato
aumento dos recursos produtivos que, por falta dessa
orientação, permanecem inaproveitados. Por isso, é
importante investigar, com cuidado, em cada ramo de
atividade, quais são e onde se localizam esses recursos
mal utilizados e aproveitá-los. É óbvio que a mobilização
desses recursos só pode ser feita por meio de uma política
de libertação nacional, pois a economia subjugada ao capital
estrangeiro, como ocorre atualmente no Brasil, não tem
nenhum interesse em explorar essas possibilidades latentes
na economia nacional, preferindo, em vez disso, aumentar
as inversões externas que ampliam a área de dominação.
No Brasil, já existem todas as condições para se
planejar nas condições aqui apontadas. A atualização da
capacidade ociosa define uma diretriz política que só poderá
ser executada por um governo com autodeterminação. No
contexto do Nordeste do Brasil, espera-se que os governos
estaduais possam, em nível nacional, dar os primeiros
exemplos. Entretanto, parece que, em nenhum momento,
estão prestes a seguir a política aqui explicitada, o que é
muito frustrante para os nordestinos e mesmo para todos os
brasileiros críticos. Essa política implica obrigatoriamente o
fortalecimento dos recursos de que dispõe o país e, portanto,
a liberação da economia nacional do jugo ou do domínio
estrangeiro. Forma parte, ainda, do elenco das medidas de
infra-estrutura, a incorporação da mão-de-obra ao processo
produtivo. Tudo isso pode e deve acontecer no chamado
processo de globalização, que não é o mesmo de
internacionalização.

140
Esse ponto de vista permite considerar o problema
da planificação da mobilização dos recursos naturais e
humanos sob a ótica de dois novos conceitos que devem
servir para interpretar os fatos particulares da nação: a
AUTO-UTILIZAÇÃO e a HETERO-UTILIZAÇÃO ou
HETERO-USO.
Esses dois vocábulos híbridos evidenciam a
conveniência ou não do uso de determinados recursos
naturais, em dado momento, ou seja, determinam se eles
podem ser utilizados em exclusivo proveito nacional ou,
caso contrário, em proveito de outro país. A conceituação do
uso dos recursos naturais de um país considerado atrasado
não se limita ao aspecto quantitativo nem consiste em
investigar, em que extensão e volume são eles valorizados
ou mensurados. É preciso atentar para o aspecto qualitativo
e indagar QUEM se beneficia com seu uso.
O exame dos aspectos qualitativos revela, pois, esse
dado essencial. Não basta que se defina a utilização dos
recursos brutos nacionais. É indispensável que os efeitos
desse aproveitamento permaneçam integralmente no país
sob a forma de impulso ao processo de desenvolvimento
sustentável.
As noções supracitadas são de importância
fundamental para identificar os perigos que oferecem os
estudos e os projetos a respeito da mobilização da
capacidade ociosa existente nos vários setores da economia
nacional, os quais apresentam simples aspectos
quantitativos, ocultando o verdadeiro conteúdo da questão,
qual seja, saber se o uso de sua capacidade, até o momento
marginalizado, será efetuado em benefício do povo ou
contribuirá para piorar a situação subserviente.

141
Essas breves considerações visam fornecer meios
teóricos para o planejamento estratégico situacional, que
inclui a noção do futuro desejado em contraposição ao
futuro lógico. A noção de FUTURO DESEJADO, para ser
adequadamente utilizada, exige criatividade e síntese.
Implica valoração, demanda julgamento de valor e definição
de fins e necessidades. Requer capacidade para lidar com
elevado número de variáveis independentes que necessitam
articulação, ordenamento, interação e iteração.
Após essas breves considerações sobre o Modelo
Autônomo de Desenvolvimento Sustentável, comenta-se, a
seguir, o diagrama de seu Sistema de Gestão com vistas a
que o leitor possa, de forma sistêmica e holística, apreender
as conexões do Modelo.
No diagrama, que se apresenta a seguir, colocam-se,
no centro do sistema, os atributos, as dimensões e os
códigos para o Modelo funcionar com as devidas
interconexões com os sistemas: cultural, filosófico e
inovacional. Busca-se, também, a interatividade com as
habilidades gerenciais empresariais e com as adaptações
nas esferas: pública, privada e solidária e as necessárias e
imprescindíveis mobilidades e conectividade com as
percepções: macro-sistêmica, micro-sistêmica e
institucional-administrativa, com objetivos explícitos de
conversibilidade, ubiqüidade e globalidade ou totalidade no
Sistema Autônomo de Desenvolvimento Sustentável.
Acredita-se que o diagrama é auto-explicativo, dispensando
maiores comentários.
As idéias, para o supracitado Modelo, são um
convite a toda e qualquer pessoa a trazer sua crítica e
contribuição criativa e responsável socialmente para o
desenvolvimento sustentável de um Brasil Grande de

142
Incluídos em contraponto a este Brasil Nanico de exclusão
social, de expropriadores e segregacionistas de todas as
matizes ocidentais internas e externas.
Para concluir, convém lembrar que o sistema mundo
capitalista passa pelos seguintes dilemas:

a) Acumulação incessante de capital em declínio e


sob ajustes de baixar os custos de produção, descobrir novos
produtos e encontrar novos compradores no que pese o
processo cada vez mais intensificado de exclusão social
b) Legitimação política em declínio cujos ajustes
estão nas lutas de classes, na participação política em
eleições e na redistribuição de impostos pelos estados
nacionais em crises pela tendência de formação de mega
blocos econômicos
c) Agenda cultural indefinida caracterizada por
ajustes entre individualismo versus hedonismo econômico,
universalismos versus racismo-sexismo e multiculturalismo
cultural versus transgressões das fronteiras culturais.

Note-se que os dilemas supracitados se dão ou estão


insertos nos seguintes clivares do sistema mundo do
capitalismo:

a) Na TRÍADE onde a União Européia, Estados


Unidos e Japão buscam harmonizar suas contradições no
âmbito dos conflitos de mais competição e monopolização
de mercado, dentro do sistema mundo do capitalismo e entre
os estados nacionais na busca do processo incessante de
acumulação de capital ou perseguição ao lucro e ao poder a
custa de tudo e de todos em desenfreado consumismo

143
b) No CONFLITO NORTE-SUL. No Norte além da
tríade estão todos os países desenvolvidos da OCDE sob a
hegemonia do G7 e, no Sul, os países tampões, os países
entrepostos e os países espectros (no dizer de Rufin) além
das terras de ninguém do norte da África, da Colômbia e do
Haiti. O Brasil, no fórum da OMC, lidera o G20 em contra
posição ao G7 e a OCDE. Desse conflito fazem parte,
também, as instituições internacionais opressoras dos países
pobres como são exemplos o FMI, o BIRD, a OMC e a
própria ONU cujo Conselho de Segurança é manipulado
pelos Estados Unidos
c) No CONFLITO DAVOS-PORTO ALEGRE. De
um lado está o Fórum Econômico Mundial (FEM)
formado pelos mais renomados capitalistas do mundo e de
representantes dos estados nacionais, criado em 1971 em
Davos, na Suíça. O FEM é conhecido popularmente como o
“espírito de Davos”. Do outro lado o Fórum Social
Mundial (FSM), criado em 2001 na cidade de Porto Alegre,
no Brasil, e que em janeiro de 2006 está em sua sexta edição
em Bamaco no Mali (África), site www.fsmmali.org em
Caracas na Venezuela (América do Sul e Caribe) site
www.fundosocialmundial.org.ve e em Karachi no Paquistão
(país islâmico) na Ásia. Saliente-se que o FSM reúne mais
de 250.000 participantes na busca de uma nova ordem
mundial em um cenário de antropolítica. Em contraposição
ao FEM o FSM é conhecido como “o espírito de Porto
Alegre”.

144
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158
O AUTOR

Geraldo Medeiros de Aguiar.


Engenheiro Econômico e Mestre em
Engenharia e Administração de
Empresas (MSc) pela Escola Superior de
Economia de Praga (República Tcheca).
Tem seus diplomas revalidados como
Economista na Universidade Federal da
Paraíba, e o de Mestre em
Administração na Universidade Federal
Rural de Pernambuco.
Possui longa experiência no setor público além de
ter participado do quadro técnico e ter trabalhado como
Consultor em grandes empresas privadas. Têm publicado
mais de 70 ensaios e trabalhos científicos incluindo-se entre
eles: livros, ensaios, relatórios técnicos e trabalhos em
equipe. Tem obras publicadas em co-autoria ou não, em
revistas científicas no Brasil e, ainda, na República Tcheca,
Polônia, República da Eslováquia, e na Nicarágua (relatório
da missão técnica ao Trópico Seco Nicaraguense
apresentado a OEA).
Palestrante em mais de 50 conferências em várias
universidades brasileiras e Professor convidado em mais de
25 cursos de pós-graduação. Teve prática como agricultor
inovador (premiado pelo INCRA por duas vezes como
agricultor modelo) e fez parte do quadro de técnicos e de
dirigentes da Superintendência do Desenvolvimento do
Nordeste (SUDENE) durante 22 anos. Participou como

159
Conferencista, de vários seminários regionais e nacionais.
É autor do livro Agriculturas no Nordeste (Vozes,
1985) e, co-autor das obras: Estudo de problemas
brasileiros (UFPE, 1971); Aspectos gerais da
agropecuária do Nordeste (volume 3 da Série Projeto
Nordeste, SUDENE, 1984); Políticas econômicas setoriais
e desigualdades regionais, (UFPE-PIMES/ SUDENE /
IPEA, 1984) e Política fundiária no Nordeste
(Massangana, 1990); O Nordeste futuro (SUDENE, 1988).
Em diferentes ocasiões foi Consultor da FAO,
OEA, BID e IICA através de contratos específicos e
temporários. No momento é Professor Universitário e
Consultor Autônomo. Dá aulas em cursos de: pós-
graduação; graduação; seqüencial e de especialização
profissional. Foi Assessor Técnico do Centro de Educação
e Cultura do Trabalhador Rural- CENTRU. É Consultor da
FADURPE.
Quando contratado, faz palestras ou ministra
conferências em seminários ou oficinas de trabalho no
Brasil, muito em particular, nos estados da Região Nordeste
da qual é grande conhecedor transdisciplinar. Atende pelo
telefone 0xx81 3088-1477 telefax 0xx81 3326-6428 e
celular 081 9972-8025 e e-mail gmaguiar@yahoo.com.br
Tem currículum vitae detalhado e atualizado no
sistema LATES do CNPQ, protocolo 8307025653862771,
cujo site é: www.cnpq.br

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