O documento discute a relação entre trabalho e subjetividade à luz das mudanças no mundo do trabalho na contemporaneidade. Analisa como o capitalismo flexível influencia a subjetividade do trabalhador através da precarização do trabalho e da flexibilização das relações trabalhistas a partir da década de 1970. Argumenta que essas transformações comprometem o desenvolvimento da experiência do trabalhador e sua capacidade de se relacionar com o mundo externo e compreender seu papel como indivíduo e ser social.
O documento discute a relação entre trabalho e subjetividade à luz das mudanças no mundo do trabalho na contemporaneidade. Analisa como o capitalismo flexível influencia a subjetividade do trabalhador através da precarização do trabalho e da flexibilização das relações trabalhistas a partir da década de 1970. Argumenta que essas transformações comprometem o desenvolvimento da experiência do trabalhador e sua capacidade de se relacionar com o mundo externo e compreender seu papel como indivíduo e ser social.
O documento discute a relação entre trabalho e subjetividade à luz das mudanças no mundo do trabalho na contemporaneidade. Analisa como o capitalismo flexível influencia a subjetividade do trabalhador através da precarização do trabalho e da flexibilização das relações trabalhistas a partir da década de 1970. Argumenta que essas transformações comprometem o desenvolvimento da experiência do trabalhador e sua capacidade de se relacionar com o mundo externo e compreender seu papel como indivíduo e ser social.
TRABALHO E SUBJETIVIDADE: uma discusso luz do trabalho na contemporaneidade
Iraneide Pereira da Silva 1
Resumo: Na contemporaneidade, o entendimento do fenmeno do trabalho perpassa por temas como sua precarizao, suas formas atuais de constituio, suas condies objetivas e sua relao com a constituio da subjetividade do trabalhador. Nesta perspectiva, este artigo objetiva discutir a relao trabalho e subjetividade sob o olhar das relaes de trabalho constitudas mais recentemente. Trata-se de um estudo bibliogrfico que se baseia na anlise dos estudos sobre o trabalho: Marx (2006), Harvey (1994), Antunes (1995), Antunes (2005) e sobre a subjetividade no contexto do trabalho na contemporaneidade: Alves (2011), Sennett (2006), Pags et all. (2008) e Dejours (1994). Os autores estudados indicam que esta captura no se d apenas no plano individual, mas principalmente na intersubjetividade, ou seja, na existncia do ser social. Outra constatao que a forma do capitalismo atual influencia a subjetividade do trabalhador por meio de aes para sua ampliao e manuteno, ocorridas a partir da dcada de 1970 no mundo e de 1990 no Brasil vem comprometendo o desenvolvimento das experincias e vivncias das pessoas com seu trabalho e consequentemente no permitindo que de forma satisfatria e saudvel elas consigam relacionar seu mundo interno com o mundo externo e desta forma compreender seu papel como indivduo e como ser social por meio do trabalho. Palavras-chave: Trabalho. Subjetividade. Toyotismo. Capitalismo Manipulatrio. Psicodimmica do Trabalho.
1.Introduo Pode-se dizer que o trabalho tem cada vez mais uma funo central na ao e sociabilidade humana. Desde os estudos sobre O Capital realizados no sculo XIX por Karl Marx, a busca pelo entendimento deste elemento social tem sido objeto de vrias cincias, como a sociologia, a economia, a antropologia, o servio social e a psicologia na tentativa de, sob diferentes ngulos, compreender as influncias no s na acumulao de capital, consequentemente como um fenmeno econmico, mas tambm nas suas implicaes nos indivduos, notadamente na sua subjetividade. Na contemporaneidade, o entendimento do fenmeno do trabalho perpassa por temas como sua precarizao, suas formas atuais de constituio, suas condies objetivas e sua relao com a constituio da subjetividade do trabalhador. Nesta perspectiva, este artigo objetiva discutir a relao trabalho e subjetividade sob o olhar das relaes de trabalho constitudas mais recentemente. Trata-se de um estudo
1 Doutoranda do Programa de Ps-graduao em Administrao PROPAD, curso de Doutorado. Aluna da disciplina Trabalho na Contemporaneidade 2012.02 do Programa de Ps-Graduao em Servio Social ministrada pela Prof a Juliane Peruzzo.
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bibliogrfico que se baseia na anlise dos estudos sobre o trabalho: Marx (2006), Harvey (1994), Antunes (1995), Antunes (2005) e sobre a subjetividade no contexto do trabalho na contemporaneidade: Alves (2011), Sennett (2006), Pags et all. (2008) e Dejours (1994). Desta forma, os autores estudados indicam que esta captura no se d apenas no plano individual, mas principalmente na intersubjetividade, ou seja, na existncia do ser social. Outra constatao que a forma do capitalismo atual influencia a subjetividade do trabalhador por meio de aes para sua ampliao e manuteno, ocorridas a partir da dcada de 1970 no mundo e de 1990 no Brasil, quais sejam a reestruturao produtiva, a flexibilizao do trabalho, novas relaes de trabalho, o medo constante do desemprego e os trabalhos de curto prazo, comprometendo o desenvolvimento das experincias e vivncias das pessoas com seu trabalho e consequentemente no permitindo que de forma satisfatria e saudvel elas consigam relacionar seu mundo interno com o mundo externo e desta forma compreender seu papel como indivduo e como ser social por meio do trabalho.
2.Trabalho na Contemporaneidade
Podemos conceber trabalho como a ao humana que lhe prov sobrevivncia e realizao. O pensamento marxiano nos revela que o trabalho alm de ser estabelecido a partir da relao homem e natureza, nos informa que ele particulariza a funo social do mesmo e do homem, pois segundo Marx (2006, pp. 211-212) antes de tudo o trabalho um processo entre o homem e a natureza [...]. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo, modifica sua prpria natureza [...]. Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha que ele figura na mente sua construo antes de transform-la em realidade. No fim do processo de trabalho aparece um resultado que j existiu antes idealmente na imaginao do trabalhador (MARX, 2006, pp. 211- 212). Alm deste aspecto de relao com a natureza o trabalho se apresenta no s como a base da atividade econmica, mas tambm uma categoria que faz referncia ao prprio modo de ser dos homens e da sociedade, sendo visto como uma categoria central para o entendimento do prprio fenmeno humano-social (NETTO e BRAZ, 2006). Contudo, o trabalho alienado tem distanciado o homem, no geral, desses objetivos, pois o modelo capitalista de acumulao de riqueza tem fragmentado o processo de pensar a ao do trabalho de sua execuo, como aconteceu no processo fordista de acumulao e mais recentemente no regime ps-fordista. 3
As alteraes ocorridas no modelo fordista/taylorista de acumulao acarretaram transformaes no mundo do trabalho (ANTUNES, 1995; ANTUNES, 2005; CASTEL, 1998; HARVEY, 1994). Novos regimes e prticas de relaes de trabalho emergiram buscando maior adaptao ao novo cenrio de competitividade e flexibilidade do processo de produo. O sistema fordista de acumulao de capital que se consolidou at a segunda metade dos anos 70 entra em declnio em funo, principalmente, da diminuio dos nveis de produtividade, da saturao da norma social de consumo e do desenvolvimento do trabalho improdutivo (SILVA, 2001). Esse declnio demandou um novo sistema de acumulao, considerando agora um perodo de incertezas e mudanas na sociedade. As mudanas deram lugar a um modelo mais flexvel de acumulao, que desestrutura as relaes de trabalho estabelecidas at ento e solicita uma reestruturao produtiva em vrios setores da economia. Outro aspecto delineado por essa reestruturao o crescimento dos empregos no setor de servios, caracterizado por condies mais precrias em aspectos como remunerao, garantias de emprego e relaes de trabalho. Para Harvey (1994, p.140) Acumulao Flexvel (...) marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos produtos e padres de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produo inteiramente novos; novas maneiras de fornecimento de servios financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovao comercial, tecnolgica e organizacional. A acumulao flexvel envolve rpidas mudanas dos padres do desenvolvimento desigual tanto de setores como entre regies geogrficas, criando, por exemplo, um vasto movimento no emprego no chamado setor de servios (HARVEY, 1994, p.140).
Este autor tambm refora que a acumulao flexvel parece implicar nveis relativamente altos de desemprego estrutural, rpida destruio e reconstruo de habilidades (qualificao), ganhos modestos (quando h) de salrios reais e o retrocesso do poder sindical uma das colunas polticas do regime fordista. Ainda de acordo com Harvey (1994), essa acumulao flexvel caracterizada pelo surgimento de setores de produo inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de servios financeiros, novos mercados e taxas altamente intensificadas de inovao comercial, tecnolgica e organizacional, o que demanda novas formas de utilizao da fora de trabalho, tais como a utilizao de contratos temporrios de trabalho, o contrato part time, a terceirizao de mo-de-obra, a criao de sindicatos de empresa, entre outras prticas de flexibilizao. neste cenrio de flexibilizao das relaes de trabalho que se situam as anlises dessa proposta de pesquisa. 4
As condies de acumulao flexvel criaram uma nova estrutura no mercado de trabalho. Com o aumento de mo-de-obra excedente (desempregados ou subempregados), os detentores do capital puderam tirar proveito e impor, como as estratgias predatrias de competitividade, novas formas de utilizao dessa mo-de-obra, por meio de subcontratao, contratos de curto prazo, trabalho em tempo parcial, utilizao de autnomos e treinandos de baixos salrios e com subsdios do governo, diminuindo a parcela dos empregados com maior segurana no emprego, perspectivas de promoo e reciclagem profissional, alm de direitos trabalhistas garantidos. Uma transformao no cenrio produtivo mundial a convergncia de empregos industriais tradicionais para o setor de servios, cujas caractersticas so de maior precariedade, no que se refere organizao coletiva e aos direitos do trabalho, do que aquelas que o emprego industrial possui. Estudos como os demonstrados por Carvalho Neto (2001), Castells (2002) e Trigo (1998) informam que os novos empregos dos anos 90 foram criados em servios como comrcio, finanas, transportes, sade, educao, publicidade e propaganda, administrao pblica e privada, comunicaes, artes e cultura, lazer, lanchonetes, supermercados, hotis e turismo, via de regra, com baixos salrios e pouca qualificao. Segundo Pochmann (2000), o setor tercirio o principal responsvel pela expanso das ocupaes nos segmentos no organizados com representao sindical, com nove em cada dez postos de trabalho gerados no perodo 1989/1995 se concentrando nos centros urbanos, apresentando, tambm, uma expanso relativa das ocupaes urbanas. Ressalta-se que os estudos de Antunes (1995), Pochmann (2000), Carvalho Neto (2001) apontam, para um processo de crescente precarizao dos empregos e das condies de trabalho, precarizao esta manifesta, por exemplo, nos baixos rendimentos, na elevada rotatividade, no reduzido poder de negociao e participao dos trabalhadores nos processos de reestruturao das empresas, aspectos ligados ao novo modelo de acumulao flexvel de capital e flexibilizao no mundo trabalho o que fatalmente vo influenciar no s nas polticas voltadas para os trabalhadores como na subjetividades destes indivduos. Desta forma, percebe-se que na contemporaneidade est inserido num cenrio que reverbera nos indivduos de forma mais firme e com maiores implicaes e entend-las faz parte da inquietao na busca por repostas de quem busca ampliar a compreenso sobre o trabalho e subjetividade.
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3. Trabalho e Subjetividade
Buscar entender a relao estabelecida entre trabalho e subjetividade buscar compreender de que forma as aes postas pela organizao influenciam na constituio dos pensamentos, condutas, emoes e aes que expressam a subjetividade do indivduo. Na tentativa de ampliar esta discusso Alves (2011) expressa como o esprito do toyotismo e o capitalismo manipulatrio, ou seja, como nesta forma atual de acumulao do capital, a subjetividade do trabalhador est sendo capturada. O autor discorre sobre os valores-fetiche, expectativas e utopias de mercado, a partir do conceito de inovaes sociometablicas, constitudas pelas mudanas no metabolismo social que contribuem para o novo clima ideolgico (e emocional) dentro das grandes empresas, expressando-se como uma tempestade ideolgica de valores, expectativas e utopias de mercado buscando formar o novo homem produtivo do capital (ALVES, 2011, p.89). Nesta perspectiva, Mzros (2002) nos lembra que no controle sociometablico, o capital ao se articular e consolidar permite a estruturao de um comando singular das oportunidades de vida dos indivduos segundo o lugar em que os grupos sociais fazem parte e segundo a estrutura hierrquica de seu comando e acrescenta que a razo principal por que este sistema forosamente escapa a um significativo grau de controle humano precisamente o fato de ter, ele prprio, surgido no curso da histria como uma poderosa na verdade at o presente, de longe a mais poderosa estrutura totalizadora de controle qual tudo o mais, inclusive seres humanos, deve se ajustar, e assim provar sua viabilidade produtiva, ou parecer, caso no consiga se adaptar (MZROS, 2002, p.58). As formas de disseminao das inovaes sociometablicas mais utilizadas pelas organizaes se baseiam em: treinamentos em empresas, polticas governamentais, currculos escolares, aparatos miditicos da indstria cultural e as igrejas, cristalizando-se na forma de noes, vocbulos e conceitos que interferem nas aes humanas e na sua subjetividade. A nova lngua do capitalismo neoliberal influenciam e tentam falar por ns nas instancias de produo e reproduo social, apresentando valores-fetiche apresentam contedos vocabular-locucionais do imperialismo simblico, permitindo que a linguagem social se dissemine, por meio da mdia, propiciando maior intensidade e amplitude de atuao (ALVES, 2011, pp. 89-91) 6
Este contexto faz com que se esperem novos comportamentos do trabalhador, como a colaborao e atitudes pr-ativas com os valores do capital, visando a criao de novos terrenos ideolgicos e de reforma das conscincias, fazendo com que critrios de produtividade e desempenho saem do universo da empresa e se disseminam pela sociedade, impregnando os operadores com atitudes de colaborao, simulacro de pessoalidade e de uma mentalidade pr-ativa, requisitos valorizados pela grande empresa (ALVES, 2011, p. 94). Na sua obra Alves (2011) contextualiza o cenrio das transformaes do mundo do trabalho, mas no apresenta claramente o conceito de subjetividade, desta forma, para as discusses deste artigo considera-se subjetividade o espao do mundo interno do indivduo (espao interno) que se relaciona com o espao do mundo externo (sociedade) (DAVEL e VERGARA, 2009). Este conceito consonante com a viso de Alves (2011a) quando informa que ao dizermos subjetividade, ocultamos, no plano discursivo, uma verdade essencial: a subjetividade intrinsecamente intersubjetiva. O homem acima de tudo, uma individualidade social [e que ] a captura da subjetividade a captura da intersubjetividade e das relaes sociais constitutivas do ser genrico do homem (ALVES, 2011, p.14). Levando-se em conta o aspecto central que o trabalho possui na sociabilidade humana 2 , embora no seja seu nico elemento, percebe-se que cada vez mais ele vem tomando espao nas discusses sobre sua reverberao sobre o indivduo. Considerar este aspecto refletir sobre a relao e influncia do trabalho na constituio da subjetividade do trabalhador. Segundo Dejours (2004, p.1) na questo da relao trabalho-subjetividade deve ser considerado que o trabalho aquilo que implica, do ponto de vista humano, o fato de trabalhar: gestos, saber-fazer, um engajamento do corpo, a mobilizao da inteligncia, a capacidade de refletir, de interpretar e de reagir s situaes; o poder de sentir, de pensar e de inventar e que o real do trabalho sempre se manifesta afetivamente para o sujeito, a se estabelece uma relao primordial de sofrimento, experimentada pelo sujeito, corporificada o que contribui e influencia na construo de sua subjetividade. Dejours (2007a) destaca ainda que a conduo das aes organizacionais apresentadas decorrente da reestruturao produtiva e da flexibilizao do trabalho ocorrida nos anos 1990 geram sofrimento nos trabalhadores. A relao entre trabalho e subjetividade se d tambm a partir do sentido ontolgico que o trabalho possui. Neste sentido o homem na execuo do seu trabalho, no s modifica a natureza, mas modifica a si mesmo.
2 Para ampliao da discusso da centralidade do trabalho indica-se OFFE, 1989; LESSA, 2002. 7
Considerando s modificaes no mundo do trabalho a partir da poltica neoliberal, no poderamos desconsiderar suas reverberaes na subjetividade do trabalhador, pois o medo constante do desemprego, os trabalhos de curto prazo, a flexibilizao no processo de trabalho e sua consequente precarizao leva ao que Sennett (2006) considera como um impedimento para que as pessoas desenvolvam experincias e vivncias com seu trabalho ou construam uma narrativa coerente para suas vidas a partir dele, influenciando assim nos aspectos subjetivos de quem trabalha. Em sua pesquisa Richard Sennett reflete sobre o novo contexto e as novas relaes de trabalho constitudas no capitalismo moderno e suas implicaes no carter individual do trabalhador. Ele indaga sobre os valores pessoais como a lealdade e os compromissos mtuos provenientes das relaes de trabalho mais contemporneas, percebendo que estes se apresentam de forma efmera, baseado na flexibilidade, na necessidade de adaptao s exigncias de mercado e das organizaes, O autor chega concluso que no possvel construir um carter permanente num capitalismo flexvel, pautado na inexistncia de metas de longo prazo, relaes que podem mudar conforme a necessidade da organizao, pois como se sabe relaes duradouras, valores duradouros necessitam de instituies duradouras e isto no possvel numa sociedade em que estas instituies so desfeitas ou continuamente so reprojetadas conforme a necessidade de adaptao s demandas de mercado (SENNETT, 2006) Pags et all. (2008) suscitam questionamentos sobre os aspectos relacionados subjetividade do indivduo a partir da sua vivncia na organizao. Sabe-se que, dada a centralidade do trabalho na sociedade neocapitalista, tendo a organizao como locus desta centralidade, ela vem ampliando seu poder numa sociedade que baseia sua sociabilidade a partir do espao organizacional. Os autores ainda informam que questes como ideologia, controle dos indivduos, fragmentao, captura da subjetividade, estes so alguns dos pontos discutidos em sua obra. Acrescenta-se a este contexto o que os autores discutem sobre os laos psicolgicos que ligam o indivduo organizao, os quais esto presentes nos discursos dos sujeitos atravs das analogias feitas por eles do trabalho na empresa como droga. Droga esta que os fazem ser aceitos, no serem abandonados por este ser abstrato denominado: organizao, gerando sentimentos ambguos de amor e dio. Esta droga tambm os excita e os conduz a continuar no jogo onde o sucesso se transforma no motor que pode os levar ao prazer, pois eles esto sempre condenados a vencer. 8
Este jogo psicolgico tambm os coisifica, fazendo-os perder a identidade, gerando nos funcionrios a percepo que toda ao e desmando da empresa normal na medida em que por projeo e introjeo o indivduos acabam captando as qualidades da organizao (PAGS et all. 2008) o que influencia em sua subjetividade. Outro aspecto a ser considerado na construo da relao subjetividade e trabalho que este e continuar central em face da construo da identidade e da sade, da realizao pessoal, da formao das relaes entre homens e mulheres, da evoluo da convivncia e da cultura. Desta forma, o trabalho faz parte da condio humana e deve ser investigado sob diferentes olhares e concepes que o analisaram ao longo da histria da humanidade, considerando que o mesmo assume diferentes sentidos conforme os contextos (DEJOURS, 2007). Como elemento central da vida humana o trabalho se constitui num espao de prazer e sofrimento, pois para Dejours, Abdoucheli & Jayet (1994) o sofrimento inevitvel e ubquo. Ele tem razes na histria singular de todo sujeito, sem exceo. Ele repercute no teatro do trabalho ao entrar numa relao, cuja complexidade j vimos, com a organizao do trabalho. Para Dejours (1992), o sofrimento se baseia na luta do sujeito contra foras que o direcionam para a doena mental. Isto se deve, em certa medida, organizao do trabalho, que pode desenvolver o sofrimento psquico nos indivduos durante a realizao de suas tarefas na organizao. Para o autor tais conflitos so resultantes das tentativas de adaptao entre a organizao e o desejo individual. Desta forma, a organizao do trabalho exerce uma ao sobre o indivduo e afeta o aparelho psquico, criando um bloqueio na relao homem/trabalho. Assim, para Dejours (1992, p. 52) o sofrimento comea quando a relao homem-organizao do trabalho est bloqueada. J para Enriquez (2001) reforando seu pensamento sobre a centralidade do trabalho no equilbrio psquico dos trabalhadores afirma que o homem sem trabalho ou no reconhecido em seu trabalho, ou ainda no encontrando nenhum interesse em seu trabalho, est prximo da depresso e comumente chega a este ponto de ruptura. Pois o trabalho, em nossa sociedade, o modo privilegiado de fazer uma obra (por menor que ela seja), de existir, de ter (ou de pensar ter) uma identidade. O trabalho , atualmente, o melhor mtodo para vencer a loucura (ENRIQUEZ, 2001)
Neste contexto, considerando o pensamento de Marx (2004) ao afirmar que a essncia do ser humano est no trabalho. O que os homens produzem o que eles so e que o 9
indivduo tem o direito de viver alm do trabalho (LAFARGUE, 2003), a totalidade do ser humano se dar a partir dos aspectos relacionais existentes entre o tempo de trabalho e o tempo de no trabalho e ambos contribuiro para a constituio de sua subjetividade.
4. Consideraes Finais O trabalho alm de ser um processo estabelecido entre o homem e a natureza, constitui-se tambm na categoria que faz referncia ao prprio modo de ser dos homens e da sociedade. Nesta perspectiva, faz-se necessrio ampliar a discusso sobre as caractersticas do trabalho na contemporaneidade e suas implicaes na subjetividade do trabalhador na atualidade. A partir da exposio de ideias dos autores que buscam entender melhor a relao entre o trabalho e a subjetividade, percebe-se que contemporaneamente a forma flexvel de acumulao do capital (HARVEY, 1994) e o capitalismo manipulatrio (ALVES, 2011) criaram as condies para a constituio de novos comportamentos e atitudes que permitissem a captura da subjetividade dos trabalhadores. Os autores estudados indicam que esta captura no se d apenas no plano individual, mas principalmente na intersubjetividade, ou seja, na existncia do ser social. Outra constatao que a forma do capitalismo atual influencia a subjetividade do trabalhador por meio de aes para sua ampliao e manuteno, ocorridas a partir da dcada de 1970 no mundo e de 1990 no Brasil, quais sejam a reestruturao produtiva, a flexibilizao do trabalho, novas relaes de trabalho, o medo constante do desemprego e os trabalhos de curto prazo, comprometendo o desenvolvimento das experincias e vivncias das pessoas com seu trabalho e consequentemente no permitindo que de forma satisfatria e saudvel elas consigam relacionar seu mundo interno com o mundo externo e desta forma compreender seu papel como indivduo e como ser social por meio do trabalho.
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