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FEDERAÇÃO

ACIO
AL DOS SI
DICATOS DA EDUCAÇÃO

Sindicato dos Professores nas Comunidades Lusíadas

Relatório de Dezembro de 2009

Síntese de problemas do Ensino Português no Estrangeiro

1. Assistência médica

Desde 2004, ano em que foi terminado, por decisão do ME, o contrato com a
caixa privada de cujos serviços os professores de EPE tinham até à altura usufruído,
passando-se, ao abrigo dos acordos comunitários, ao regime de inscrição nas caixas
médicas estatais dos países de acolhimento através da ADSE, inscrição essa feita
mediante entrega do impresso E-106, autenticado pela entidade anteriormente referida,
que as condições de assistência médica dos professores de Português no estrangeiro se
têm deteriorado visivelmente, dado os atrasos verificados no reenvio do supracitado
impresso, atrasos esses que se registam anualmente.
Embora o ano lectivo no sistema do EPE tenha o seu início oficial a 1 de
Setembro, os serviços da ADSE nunca enviam o citado formulário, indispensável para a
inscrição nas caixas médicas dos países de acolhimento, antes de fins de Outubro ou até
mesmo meados de Novembro, o que significa que durante cerca de dois meses os
professores ficam sem direito a assistência médica, e, no caso de surgir alguma
emergência, vêem-se obrigados a assumir privadamente a totalidade dos custos.
Além do acima exposto é de fazer notar que durante o tempo em que se
encontram sem cobertura médica a situação dos docentes é, politicamente,
extremamente irregular, dado serem funcionários públicos portugueses que trabalham
no estrangeiro, sendo assim o Estado Português o responsável pelo cumprimento das
regras vigentes nos países de acolhimento, que obrigam à cobertura médica durante todo
o tempo de residência.
Já não é possível encontrar explicação para esta situação deplorável, uma vez
que se trata apenas de uma questão burocrática que já há muito deveria estar resolvida,
uma vez que os professores preenchem e enviam, através das coordenações, o impresso
necessário até fins de Julho, não havendo portanto razão válida que justifique os atrasos,
visto que o impresso em questão apenas necessita de ser autenticado e reenviado aos
docentes.

2. Avaliação

O novo regime jurídico para os professores de português no estrangeiro,


Decreto-Lei nº165-C/2009, publicado a 28 de Julho de 2009, predispõe, no Art.23º, a
avaliação dos docentes e as menções qualitativas (quotas) do mesmo.
Dado o sistema de quotas ser absolutamente inaceitável e rejeitado pelos
sindicatos que representam os professores de EPE, não será feita no presente documento
qualquer outra alusão ao mesmo.
No que diz respeito à avaliação do desempenho propriamente dita, há que
criticar o carácter unilateral da mesma, já que se pressupõe ser feita unicamente por um
indivíduo, o coordenador ou coordenadora. Ora, deixar um passo importante na carreira
do professor dependente apenas do critério de uma pessoa não pode ser recomendável,
dado tal procedimento poder dar azo a favoritismos e preferências.
Se realmente se deseja uma avaliação de carácter justo terá de existir, além do
coordenador, uma outra entidade avaliadora, preferivelmente externa, que garanta a
imparcialidade do processo.
É além disso essencial que existam, para o processo de avaliação, directrizes
comuns para os vários países, não sendo correcto que cada coordenação imponha,
individualmente, critérios próprios, evitando que se repita o que, lamentavelmente, tem
vindo a suceder nos últimos nos relativamente ao processo de renovação de contratos,
em que cada coordenação tem adoptado critérios completamente díspares, exigindo-se
por exemplo no Luxemburgo apenas a apresentação de um relatório crítico e na
Alemanha mais de oito itens diferentes, englobando planificações, testes, grelhas e
critérios de correcção, etc.
Deverão também ser tomadas precauções no respeitante a aulas assistidas, e
deverá também ser determinado se as mesmas são ou não necessárias para a avaliação
do docente. Existem já exemplos negativos do passado, em que coordenadores de
alguns países entenderam ser necessário assistir a aulas para efeitos de renovação de
contrato. Além de em vários casos os professores não terem sido avisados com a
necessária antecedência, não houve, depois da aula, nenhum comentário sobre a mesma,
não tendo os docentes recebido posteriormente nenhuma apreciação escrita sobre a
assistência em questão.
Em princípio, e para efeitos de avaliação, só deveriam ter lugar assistências no
caso de sérias e fundamentadas dúvidas sobre a actuação do professor, devendo, nesses
casos, ser o mesmo notificado com a devida antecedência sobre a assistência e
finalidade da mesma, sendo indispensável o posterior registo escrito, com conhecimento
dado ao professor, sobre a aula assistida.

3. Créditos Sindicais

No ano lectivo de 2007/2008 não foram concedidos à direcção do SPCL


quaisquer créditos para o exercício de actividade sindical.
No passado no lectivo a direcção do SPCL recebeu apenas 11 horas de créditos,
sendo essa redução horária manifestamente insuficiente para todo o trabalho que um
sindicato de professores no estrangeiro tem a desenvolver.
Com sócios na Suíça, Alemanha, Luxemburgo, Espanha, Andorra, França e
Bélgica, é impossível, com um número de créditos tão reduzido, fazer as reuniões
necessárias e angariar mais sócios, isto além da necessidade de estar presente em
reuniões em Portugal.
Os professores no estrangeiro têm o mesmo direito à representação e apoio
sindical que os seus colegas em Portugal, sendo por isso extremamente incorrecto que
aos seus representantes sindicais não seja concedida a possibilidade de exercer com
disponibilidade de tempo as funções previstas.
No presente no lectivo, apesar de o requerimento a esse respeito ter sido enviado
atempadamente, não foram concedidos, até à data, quaisquer créditos sindicais ao
SPCL.
4. Concursos

Os concursos para colocação de professores no EPE realizam-se sempre em


datas muito tardias, não levando em conta as datas do início do ano lectivo nos vários
países de acolhimento serem muitas vezes diferentes da vigente em Portugal. Nos casos
da Suíça e Alemanha há várias regiões e estados em que as aulas se iniciam na segunda
semana de Agosto.
Colocações tardias de professores fazem reduzir o número de matrículas de
alunos e geram desinteresse nos encarregados de educação, além de não causarem boa
impressão junto às entidades escolares dos países de acolhimento.

5. Deslocações dos Professores ( reposição de gastos)

No sistema de EPE é normal um professor leccionar, semanalmente, em três ou


quatro escolas em localidades diferentes.
As despesas de deslocação são repostas segundo o custo do transporte público
que o professor, em princípio, deve usar.
Porém, nos casos em que o transporte público é inexistente ou insuficiente para
garantir a pontualidade, é permitido, mediante requerimento, o uso de viatura própria.
Mas, discriminatoriamente para os docentes que usam transporte privado, a
tabela de pagamento devido por quilómetro não se encontra actualizada, continuando
em vigor aquela utilizada em 1998, sendo por isso urgente a revisão e actualização das
tabelas referentes aos custos de utilização de viatura própria.
Têm-se também, de modo inexplicável, verificado, nas coordenações dos
diferentes países, fortes disparidades no sistema de reposição dos gastos respeitantes a
deslocações, sendo por vezes os professores insuficientemente informados sobre o
funcionamento e as datas em que devem apresentar os custos.
Também neste caso devem existir directrizes comuns aos vários países.

6. Férias e interrupções lectivas

Tem havido, especialmente por parte das coordenações da Espanha, Andorra,


Suíça e Luxemburgo, interpretações erróneas da legislação sobre este ponto e que têm
colocado os professores em situações injustas.
Efectivamente, e com especial destaque para a Suíça, onde é normal um
professor leccionar em mais de um cantão, foram os docentes em questão informados de
que só poderiam optar pelas férias do cantão onde leccionam mais horas no caso das
férias de fim de ano lectivo. Nos outros períodos, Natal e Páscoa, teriam de dar todas as
aulas, em todos os cantões, dado não se tratar de férias, mas interrupções lectivas.
Ora tal atitude é profundamente discriminatória. Além de o professor não poder
optar por ensinar num cantão ou vários, por isso depender exclusivamente do horário
atribuído, vê-se ainda obrigado a ficar com as interrupções lectivas extremamente
reduzidas, por ter de assegurar as aulas em todas as zonas.
Há ainda a acrescentar que a distinção entre férias e interrupções lectivas só
existe no sistema escolar português. Em todos os países do EPE existe unicamente o
conceito férias, e as escolas e secretarias das mesmas encontram-se encerradas durante
esses períodos.
Portanto, não é legítimo que se exija aos professores que estejam ao serviço
quando as instalações escolares que utilizam não se encontram em funcionamento, e
dado que nem nas embaixadas e consulados há disponibilidade de instalações para
efectuar, por exemplo, cursos de formação durante as referidas “interrupções lectivas”,
o que se impõe na realidade aos professores é que permaneçam em casa até que as
escolas reabram novamente, negando-lhes a liberdade de deslocação, se tal o desejarem.
Os Artigos 27 e 27 A do Decreto-Lei nº 165-C/2009 , que não levam em conta a
realidade no estrangeiro ,necessitam de urgente revisão para evitar injustiças, ou, no
mínimo deverão ser dadas instruções às coordenações em questão para que os
professores atingidos por esta problemática não sejam prejudicados.

7.Horários

A distribuição de horários pelos professores deve ser clara e transparente. Na


atribuição dos mesmos deve ser objectivo a redução ao mínimo possível de deslocações
entre escolas e cursos, para evitar o desgaste causado no professor por deslocações
prolongadas.
Não deve haver secretismo na distribuição de horários. Reuniões individuais
para esse fim, como são actualmente convocadas em Andorra, são inaceitáveis.
Deve também ser exercida restrição no número de horários incompletos, dado os
mesmos prejudicarem os docentes na contagem de tempo de serviço e na remuneração.
Em países como a Suíça, França e Reino Unido, onde o número de horários incompletos
é bastante alto, comparativamente aos outros países do EPE, deverá ser pensada uma
reestruturação da rede horária para evitar o actual problema.
Nenhum horário deverá ser inferior a 18 horas, salvo excepções devidamente
fundamentadas, pois é esse o número de horas mínimo para garantir a subsistência do
professor.
As horas constantes no horário deverão ser completas. A atribuição de horários
de 20 horas e meia ou de 21 horas e meia, como acontece em França, é inaceitável e
incompreensível.
Os horários devem, na sua elaboração, levar em conta as necessidades dos
alunos e os condicionamentos causados aos mesmos pelos horários das escolas dos
países de acolhimento. Assim, deverá haver, da parte das coordenações, maior
flexibilidade e compreensão para as sugestões dos professores no concernente a
modificações dos horários propostos. Inflexibilidade neste ponto, da parte do
coordenador ou coordenadora, não serve os interesses do ensino, visto conduzir na
prática à redução do número de alunos.

8.Qualidade de Ensino, Meios Didácticos e Continuidade Pedagógica


A qualidade do ensino português no estrangeiro carece urgentemente de
melhorias. A maior parte dos alunos tem um número muito reduzido de horas lectivas,
geralmente cerca de 90 minutos de aula por semana.
Se for ainda levado em conta que na maior parte dos casos os grupos a leccionar
são mistos, muitas vezes com alunos de três e quatro níveis diferentes, e também níveis
diferentes de conhecimentos de português, facilmente se compreenderá que se torna, nas
presentes condições, ministrar um ensino minimamente adequado.
O número mínimo de 15/16 alunos actualmente exigido para formar um grupo
com direito a cinco horas lectivas semanais é demasiado alto e não leva em conta os
níveis de escolaridade e conhecimentos de português dos alunos que o compõem,
obrigando o professor, a bem de um mínima qualidade de ensino, a constituir
subgrupos, que mesmo assim englobam vários nos de escolaridade leccionados
conjuntamente.
É urgente que o número mínimo de alunos seja reduzido e também que seja
levado em conta o número de níveis a leccionar, sob pena de existir apenas um ensino
de aparência, mas não de qualidade.
Continuam a não existir meios didácticos adequados ao ensino do Português a
luso-descendentes. O aparecimento, nos últimos tempos, de meios didácticos de
Português como língua estrangeira ou língua não materna não preencheu ainda essa
lacuna, dado que os mesmos se destinam exclusivamente a alunos já completamente
alfabetizados, não podendo por isso ser utilizados antes do fim do 2º ano de
escolaridade.
Em todos os casos, deverá ser deixada ao professor a escolha dos manuais a
adoptar, pois só ele conhece a fundo a realidade dos seus alunos.
É imprescindível dar a maior atenção à continuidade pedagógica, pois só um
professor que conheça bem os seus grupos e os seus alunos – que têm aula de Português
apenas uma vez por semana – pode tirar deles o maior rendimento.
Mudanças anuais de professor e rotatividade de grupos devem ser reduzidas ao mínimo,
por criarem clima de desmotivação entre os encarregados de educação e os próprios
alunos.

9.Progressão na carreira

É também imprescindível que sejam concedidas aos professores de EPE as


mesmas possibilidades de progressão na carreira de que dispõem os seus colegas em
Portugal.
Devido a repetidas mudanças de legislação há no momento professores no EPE
que se encontram há cerca de 10 anos no 9º escalão. Tal situação é insustentável e
injusta para os docentes afectados, principalmente aqueles que se aproximam já da
aposentação mas que, por motivos alheios à sua vontade, não tiveram acesso à
progressão na carreira.

10.Tabelas salariais

As actuais tabelas salariais dos professores de EPE, impostas e sem o acordo dos
sindicatos deverão ser revistas, não só por não levarem em conta a realidade económica
dos diferentes países, mas também por não contemplarem a situação real dos
professores, existindo um leque muito restrito entre os professores em início de carreira
e professores com largo tempo de serviço. O actual leque salarial deverá ser alargado m
benefício dos últimos, à semelhança do que acontece em Portugal, onde existe diferença
salarial entre os professores com 15 e com 20 ou mais anos de serviço.

11.Tributação

O regime de tributação dos professores de EPE necessita urgentemente de


revisão, dado partir do princípio injusto de que, para efeitos de declaração de impostos,
os docentes são considerados como residentes em Portugal, princípio esse que os
impede de, por exemplo, no caso de seguros de saúde complementares de carácter
privado, usufruir das reduções fiscais previstas, dado os mesmos não terem sido feitos
em Portugal.
Os professores do EPE em início de carreira e que não fazem parte do QE ou do
QZD em Portugal encontram-se também numa situação injusta e discriminatória, devido
a fazerem os descontos sociais sobre a totalidade do vencimento, enquanto os restantes
os fazem apenas sobre o vencimento que aufeririam se estivessem a exercer funções
docentes em Portugal, causando assim uma discrepância entre os dois grupos, com os
professores mais jovens em situação de desvantagem, dado que actualmente fazem os
descontos sobre a totalidade do vencimento, mas não poderão usufruir deles no fim de
carreira, pois não é concebível que se mantenham no estrangeiro até à aposentação.

Problemática específica por países

Andorra

Os professores de EPE em Andorra continuam sem direito a assistência médica,


dado não terem sido ainda dados quaisquer passos, pelos responsáveis, para que se
efectue o seguro privado a que têm direito pela legislação em vigor, visto não existirem
neste caso quaisquer acordos comunitários.
No momento vêem-se obrigados a optar entre a deslocação a Portugal para
consultas médicas ou a assistência médica de carácter privado, com todas as despesas a
seu cargo.
A qualidade de ensino em Andorra causa sérias preocupações, já que é norma
haver grupos de 22 alunos, do 1º ao 6º ano de escolaridade, com apenas duas horas
lectivas por semana.
Também incompreensível, por parte da coordenação, a imposição, a todos os
docentes, do livro Salpicos 2, da editora Lidel, visto que o mesmo é inadequado para
alunos dos dois primeiros anos de escolaridade, já que pressupõe uma alfabetização
completa.

Alemanha

Apesar de tal ponto constar tanto na passada legislação como na actual, os


professores que leccionam Língua e Cultura Portuguesas, mas que são contratados pelas
entidades locais, continuam a não ter as suas funções reconhecidas pela entidade
portuguesa, dado que continua a ser-lhes recusado o pagamento do completamento de
vencimento previsto, isto apesar da maioria dos mesmos ter sido colocada, até 1998,
mediante concursos da responsabilidade do Ministério da Educação.

França

Alto número de horários incompletos, existindo também horários de 19 horas e


meia ou 20 horas e meia, facto que só se verifica neste país.

Reino Unido

Forte incidência de horários incompletos. Irregularidades no pagamento das


deslocações entre cursos.
Suíça

Também forte incidência de horários incompletos. Falta de reconhecimento, da


parte das entidades escolares do cantão do Ticino, da frequência dos alunos aos cursos
de Português, expressa na recusa de inserir a nota atingida nas cadernetas escolares dos
mesmos. A referida nota, embora sem valor para efeitos de retenção ou promoção é
registada e figura nas cadernetas escolares dos alunos dos outros cantões desse país e
dos restantes países do EPE.
Não há conhecimento de que a coordenação da Suíça ou os responsáveis diplomáticos
tenham envidado esforços para ultrapassar esta situação.

2 de Dezembro de 2009

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