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Em recente artigo, sob o título “Aprender a Aprender”, o colega colunista José Roberto
Whitaker Penteadodestacou a importância de uma sólida cultura geral para os
profissionais de marketing e da propaganda. Escreveu então que ambos os tipos de
profissionais lidam com os consumidores – que são pessoas – e com os fatores do que
o professor Kotler chamou de “ambiente externo”. O ambiente externo é o mundo. E o
mundo é feito de geografia, história, política, economia, biologia, química, engenharia,
arte, arquitetura, música, cinema, teatro, esporte – em uma palavra: cultura. Mas as
pessoas são ainda maiores do que o mundo: cada uma detentora do seu universo
interior, que a sociologia, a antropologia e a psicologia tentam abraçar e
compreender.
Relembrei este oportuno texto do colega por estar cada vez mais abismado com a
indigência cultural de certos colegas publicitários e marqueteiros, que se reflete no
simplismo e por vezes no baixo nível de tantas campanhas e mensagens publicitárias
que vemos por aí. Em vez de abrir cada vez mais os olhos para o mundo, sempre
mais complexo e merecedor de estudo, tornou-se moda entre muitos marqueteiros
virar "especialista" em alguma coisa, arrotar sabedoria a partir de regrinhas óbvias
ditadas pela “experiência” e achar que, em função disto, não precisam aprender mais
nada, porque já sabem tudo.
Tenho um indicador disso no retorno aos informativos da livraria virtual que dirijo, a
Livraria Respósta, que oferece uma selecionadíssima bibliografia de ciências humanas,
de algumas editoras selecionadas (que posiciono como "o melhor das melhores").
Quando envio o informativo à lista dos assinantes desta colunaDerrapadas, o retorno
é excelente, demonstrando que meus leitores são profissionais de cabeça aberta,
interessados em ler e aprender e com uma ampla gama de interesses culturais. Porém
quando envio a listas genéricas de gente de empresa, alguns profissionais (felizmente
uma minoria) pedem para serem excluídos do mailing, por vezes até de forma
agressiva ou, mais freqüentemente, com um educado "eu não sou desta área, sou de
marketing” ou "sou de empresa"...
Gente, o que isso? Desde quando ser de marketing, de propaganda ou de empresa
exclui a cultura? Desde quando um profissional de marketing pode se dar ao luxo de
não ler Dostoievski e Kafka, não saber em que século e a que movimento musical
pertenceu Brahms, não se interessar por psicologia e achar que Chiang-Kai-Check era
um chinês que passava cheques sem fundo?
Fiel à minha curiosidade de sociólogo e ex-pesquiseiro, sempre questiono essas
pessoas sobre os porquês do desinteresse pelos livros e a maioria das respostas
invariavelmente aponta para a “falta de tempo”. Indo mais a fundo, descubro que a
falta de tempo destes executivos é bem genérica, pois eles também não lêem livro
algum sobre a sua “especialidade”, freqüentemente não lêem nem mesmo os jornais
diários, raramente revistas de interesse geral ou especializadas, ignorando tudo o que
chega pela palavra escrita (salvo as notícias de futebol, as fofocas do BBB e os
badalos de Caras).
Como eles não deixam de ir às baladas e acompanhar o “Brasileirão”, deduzo que esta
falta de tempo é apenas uma desculpa para outra coisa: acomodação, preguiça
mental, aliada a uma inacreditável (e injustificável) pretensão ao saber profissional. E
aí me pergunto: Como podem então, tais “alienados”, sem estudar e entender o
mundo, pretender montar estratégias vencedoras para empresas competirem no tão
complexo mercado global que, como lembra o nosso JRWP, é formado por interesses,
mentes e almas extremamente diversificados? Não me espanta que, para isso, apelem
apenas para a “criatividade”, a “inspiração” e muito freqüentemente, até rejeitem
fazer pesquisas para definir estratégias. Pesquisas exigem que se pense, que se
estude, que se ouça outras vozes, e que se tenha capacidade de interpretá-las à luz
de uma cultura que eles não têm nem querem ter. Melhor então serem apenas
geninhos “criativos”. Afinal, acham eles, o que um “artista” faz não se discute, é arte!
(como se arte não pudesse ser discutida e entendida como inserida na sociedade e na
cultura).
Corremos hoje o enorme perigo da hiper especialização, em que legiões de jovens
incultos, nada curiosos, mas auto-confiantes em sua própria ignorância, que
aprenderam meia dúzia de regrinhas em aulas ou palestras que assistiram (já que
têm preguiça de ler o que os palestrantes escreveram antes) começam a fazer
carreira nas empresas e agências como grandes “especialistas” ou geniais “criativos”.
O resultado depois nós vemos em campanhas formuladas “no joelho”, sem conceito
lógico, sem diferenciais tangíveis, ou tão absurdas que parecem terem sido feitas pelo
concorrente para desmoralizar aquele anunciante – e também nos comerciais TV com
piadinhas bobas ou grosseiras, rimas pueris e jogos de palavras que poucos no
público entendem e todos logo esquecem, geralmente nem percebendo qual era o
produto anunciado.