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Analise crítica da obra “Memórias póstumas de Brás Cubas” de

machado de Assis

Considerações inicias

Memórias Póstumas de Brás Cubas marca o primeiro dos mais fecundos


romances da criação literária de Machado de Assis. Publicado em 1881, além
de inaugurar o Realismo brasileiro, apresenta as mais radicais
experimentações na prosa. É o primeiro romance em que a personagem não
depende da fixidez psicológica, nem dos estereótipos, para sustentar-se na
ficção. Os registros das sensações e dos estados de consciência são
suficientes para veicular o movimento da psique humana. Lançando mão de
recursos narrativos, expressivos e discursivos inusitados, o autor surpreende o
leitor a todo momento seja com seu sarcasmo, seja com seu desencanto pela
vida e pela existência humana.

Sobre a obra

O romance é relatado sob um ponto de vista deslocado: o personagem


central, um defunto-autor , conta a própria vida, do fim para o começo, numa
narrativa marcada pela irreverência e ironia.

A vida e os amores do protagonista não regem a trama, mas ilustram uma


tese maior que será desenvolvida metaforicamente no capítulo “O Delírio”: a
busca para exprimir a existência humana e o sentido da vida. Além disso, o
relato não obedece a uma seqüência cronológica, mas orienta-se pelos
pensamentos do narrador, que, em meio ao vaivém dos acontecimentos,
comenta com o leitor os rumos da narrativa, afastando-se, dessa forma, do que
está sendo narrado, levando o leitor a perceber de antemão o conteúdo
ficcional da trama.

Através dessa obra, Machado de Assis apresenta, no romance de ficção,


inovações quanto à estrutura,à temática e à linguagem.
Nessa obra, o autor privilegia a sondagem do mundo obscuro dos
personagens, da forma como sentem as situações em que vivem, em
detrimento da influência da natureza, da vida social fluminense na época do
segundo Reinado ou do desenrolar dos acontecimentos humanos que
predominam nos romances românticos. Nesse âmbito, a narrativa é parca de
paisagens, mas repleta de traços preciso na pintura dos ambientes, na analise
do interior dos personagens e na ênfase de suas contradições e problemas
existenciais.

No romance, o desenvolvimento dos fatos é retardado pelas ruminações,


pelo andamento analítico e pelas pausas reflexivas que subvertem o tempo
cronológico e psicológico convencionais. A sondagem psicológica, entretanto,
condiz com o enredo: os quadros interligados por capítulos, as reflexões e as
explicações criam uma narrativa indecisa, sugestiva ou, por vezes, maçante,
que parece se submeter
às leis da monotonia em que vivem seus personagens.

Assim , faz sentido, logo nas primeiras paginas, o narrador brincar com a
expectativa do leitor de chegar logo às ações do romance: “Veja o leitor a
comparação que melhor lhe quadrar, veja-a e não esteja daí a torcer-me o
nariz, só porque ainda não chegamos à parte narrativa destas memórias. Lá
iremos. Creio que prefere a anedota à reflexão, como os outros leitores, seus
confrades, e acho que faz muito bem.

Aqui, ao lançar mão da metalinguagem, Machado chama atenção do leitor


para a estrutura da obra de modo a mostrar-lhe os dois níveis de leitura
possíveis: a que revela diretamente o personagem e a que o faz objeto de
crítica do autor.

Ademais, usa com eficiência a ironia. Com efeito, visando combater as


verdades absolutas, as quais o autor nega, a construção irônica prevê sempre
outros sentidos para o que é dito. Assim, pode-se inferir que, no texto em
questão, a ironia serve para fazer o leitor desconfiar das declarações,
pensamentos e conclusões do narrador Braz Cubas. Assim, no primeiro
capitulo, quando o narrador comenta sobre o amigo que o presenteia com um
empolado discurso fúnebre, não hesita em agradecer as palavras ditas em tom
de comoção exagerada com uma frase certeira: “ Bom e fiel amigo! Não, não
me arrependo das vinte apólices que lhe deixei”.

Como se disse antes, outro elemento relevante na construção da obra


machadiana é digressão. Através dela, o leitor obriga-se a interagir criticamente
com a obra. Isso acontece, por exemplo, quando Braz Cubas suspende-se por
vários capítulos a explicação para a sua morte, que prometera desde o ínicio,
para tratar de assuntos como as pirâmides do Egito ou sua arvore genealógica.

No que diz respeito à temática, dentre outros assuntos, o autor destaca a


complexidade dos indivíduos, retratados com objetividade e ironia. Por
exemplo, quando afirma: “(...) Marcela amou-me durante quinze meses e onze
contos de réis (...)”, Machado abusa dos mecanismos de construção da língua
e explora a falta de paralelismo sintático, para vincular o sentimento de Marcela
aos seus interesses materiais.

Aqui, ao contrario dos personagens românticos, que se movem por um


objetivo nobre, tanto Braz quanto os personagens que o rodeiam, nada têm de
especial, deixando-se levar por mesquinharias e interesses vis.

A linguagem, por sua vez, adquire homogeneidade e destitui-se do


verbalismo inconsistente e do estilo pomposo e ilusório que caracterizavam a
escola anterior.

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