O documento discute a evolução dos conceitos de necessidades especiais e deficiência mental ao longo do tempo, passando de uma visão segregacionista para uma visão inclusiva. Refere diferentes definições históricas destes termos e os modelos adotados, destacando a transição para um modelo que vê a pessoa como um todo e não apenas sua deficiência.
O documento discute a evolução dos conceitos de necessidades especiais e deficiência mental ao longo do tempo, passando de uma visão segregacionista para uma visão inclusiva. Refere diferentes definições históricas destes termos e os modelos adotados, destacando a transição para um modelo que vê a pessoa como um todo e não apenas sua deficiência.
O documento discute a evolução dos conceitos de necessidades especiais e deficiência mental ao longo do tempo, passando de uma visão segregacionista para uma visão inclusiva. Refere diferentes definições históricas destes termos e os modelos adotados, destacando a transição para um modelo que vê a pessoa como um todo e não apenas sua deficiência.
RESUMO: Neste artigo a idia ver a pessoa com necessidades especiais, deficincia mental, com possibilidade real de desenvolver a sua expresso prpria tanto na vida como na aprendizagem. feita uma retrospectiva de conceitos e posturas que foram delineando o caminho para a incluso social, meta atual.
ABSTRACT: In this article the idea is to see the person with special needs, mental disabilities, with real possibility of developing its own expression both in life and in learning. We made a retrospective of concepts and postures that were outlining the path to social inclusion, current goal.
KEY WORDS: special needs, exceptional, disability, segregation, inclusion.
Dentre os muitos desafios enfrentados atualmente pela sociedade brasileira, est a problemtica da pessoa com necessidades especiais. Abrangente, engloba aspectos que esto exigindo urgentes reflexes e solues, nos contextos: social, educacional, econmico, poltico e cultural. Primeiramente torna-se necessrio esclarecer o que se entende por pessoas com necessidades especiais, anteriormente denominados simplesmente por deficientes ou por excepcionais. Diferentes e bem diversas definies so encontradas na literatura. Dunn 2 afirma que excepcionais so aqueles que diferem acentuadamente da mdia normal, em caractersticas fsicas ou psicolgicas;que no se ajustam aos programas escolares elaborados para a maioria das crianas, de modo a obter progresso
1 Mestre em Educao, Administrao e Comunicao, Psicopedagoga, Consultora Educacional, especialista em Didtica e Educao Especial 2 Loyd M. DUNN. Crianas excepcionais seus problemas, sua educao.
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2 desejvel; e que necessitam, por conseguinte, de educao especial, ou, em alguns casos, da colaborao de servios especiais ou de ambos, para atingir um nvel compatvel com suas respectivas aptides. Nessa definio pode-se notar que as caractersticas fsicas esto englobando tambm as deficincias sensoriais, a saber, visual e auditiva ao lado das demais deficincias propriamente fsicas e ainda, que dentro da palavra psicolgicas, esto tanto as deficincias mentais como tambm os distrbios. Nota-se tambm um enfoque na abordagem educacional e a busca pelo progresso desejvel como um parmetro com a normalidade, ao mesmo tempo em que aparece a idia de se atingir um nvel compatvel com as aptides, numa abertura para a reflexo sobre a problemtica das diferenas individuais. So considerados excepcionais na viso de Mazzotta 3 os educandos que, em razo de desvios acentuados, de ordens fsica, intelectual, emocional ou scio-cultural, apresentam necessidades educacionais que para serem adequadamente atendidas, requerem auxlios ou servios especiais de educao. Com essa definio comea a ser pensada, ainda que de forma leve, a questo scio- cultural da deficincia, a questo da diversidade das expectativas e propostas educacionais, ou seja, passa a haver uma especulao na elaborao do diagnstico da excepcionalidade, principalmente na abordagem intelectual, sobre a problemtica dos elementos da socializao. Kirk e Gallaher 4 desvinculam a excepcionalidade de questes educacionais afirmando que a criana excepcional aquela que difere da criana tpica ou normal por suas caractersticas mentais, sensoriais, neuromotoras ou fsicas, comportamento social, capacidades em comunicar-se ou de deficincias mltiplas. Com essa idia surge a abertura de um leque para encaixar as deficincias , numa tentativa de explicitar melhor, as caractersticas de cada agrupamento; a deficincia est no individuo. Aparecem tambm as deficincias mltiplas, e as questes relativas ao comportamento social problemtico e desviante at ento pouco abordados. Entretanto, essa abertura direcionou estudos mais compartimentados que se propiciaram
3 Marcos MAZZOTA. Educao escolar comum ou especial 4 Samuel KIRK e J. GALLAHER. Educao da criana excepcional
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3 evoluo de procedimentos e tcnicas por um lado, por outro desvalorizaram a viso da pessoa como um todo retardando sua posio de elemento participante da sociedade. A excepcionalidade um conceito scio-educacional, e a determinao das variveis que a identificam se baseia nas necessidades educacionais especficas dos indivduos dela portadores 5 .A problemtica colocada , novamente, com grande nfase no processo scio-educacional, na questo da escolarizao. Cada portador de deficincia, deveria ser classificado segundo suas condies determinantes, de maior ou menor especificidade, para ser inserido no processo de aprender; o sistema educacional deveria classificar , rotularia cada um segundo suas caractersticas, porm, o fator primordial para a concretizao desse processo estaria nos recursos a serem utilizados para o aprender. So muitos os estudos e pesquisas sobre a problemtica do excepcional ; os processos de igualdade social e de cidadania foram alavancando progressos. O uso das expresses pessoas portadoras de necessidades especiais, pessoas com necessidades especiais, portadores de necessidades especiais como sendo melhor do que usar as expresses, pessoas portadoras de deficincia, pessoas com deficincia e portadores de deficincia, no sentido de que, assim, seria evitado o uso da palavra deficincia, supostamente desagradvel e pejorativa, foi ganhando espao, bem como os conceitos de que necessidades especiais podem resultar de condies atpicas, tais como: - deficincia mental, fsica auditiva, visual ou mltipla; - autismo; - dificuldades de aprendizagem; - insuficincias orgnicas; - superdotao; - problemas de conduta. Nesse enfoque 6 convm salientar a questo do estigma social da palavra deficincia; afirmar que algum deficiente, uma afirmao totalizante, a pessoa deficiente, no teria condio de nada, seria incapaz, porque a deficincia no vista
5 Maraia Lucia T. M. AMARILIAN. Psicologia do excepcional 6
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4 como um ngulo da pessoa, mas como a prpria pessoa. Da, a preferncia pela expresso necessidades especiais, pois, sem a conotao abrangente do termo deficiente, fala-se de uma pessoa que tem algum problema, sem entretanto atribuir-lhe um rtulo limitador. O que atpico, est enquadrado como necessidades especiais e no apenas as questes relativas a deficincias e dificuldades; a superdotao tambm uma condio, portanto, os superdotados apresentam necessidades especiais. Alm dos diferentes enfoques das definies apresentadas salienta-se como gerador de controvrsia, entre os que atuam frente s pessoas com necessidades especiais, na esfera educacional, a questo do modelo adotado, apesar dos avanos das teorias de normalizao, integrao e incluso. O modelo mdico- psicolgico, coloca como ponto de partida , a suposio de que qualquer dificuldade est no sujeito. So aplicados testes e solicitados exames visando identificao das causas para um posterior diagnstico e tratamento, o que origina um clima de tenso, devido a constante busca de melhores prognsticos, a partir de novos diagnsticos. Isso porque, feito o diagnstico, estaria tambm j pronta programao a ser desenvolvida: aquele que apresenta o quadro de portador de determinado problema seria capaz de realizar determinados tipos de tarefas dentro de um determinado grupo de procedimentos . Paralelo ao modelo mdico psicolgico, est o modelo educacional que visa ensinar, admitindo que o problema est na metodologia do ensino e no no educando, ou seja, o diagnstico elaborado atravs dos testes de critrios, em termos curriculares. Apesar dos progressos tericos, das legislaes, a pessoa com necessidades especiais, ainda vista em muitas circunstncias como um doente, ou, como algum que precisa de uma estratgia especial para aprender o que valorizado pela ideologia educacional dominante. Acredito que necessidades especiais no podem ser vistas como algo que resida exclusivamente em um individuo, mas, como um fato engajado em um determinado grupo social, primrio, secundrio, na sociedade; como algo que no pode ser pensado fora da dinmica das relaes sociais, fora do contexto de incluso social. A literatura apresenta tambm diferentes enfoques quanto ao conceito de deficincia mental e sua respectiva classificao.
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5 H pelo menos trs tipos distintos de crianas retardadas mentais. Esses grupos so os retardados mentais treinveis, os retardados mentais educveis e as crianas de aprendizagem lenta. Os retardados mentais treinveis no so considerados educveis no sentido de aprender habilidades acadmicas. Os retardados mentais educveis so definidos como crianas intelectualmente to retardadas que lhes impossvel serem educados em classes comuns. As crianas, de aprendizagem lenta, constituem o grupo intelectual superior, de crianas retardadas e o mais numeroso, na classificao de Cruickshank .7
Dunn 8 define os retardados mentais educveis como possuidores de QI entre 50 e 75, aproximadamente, e destinados a ter, ou j estar tendo, dificuldades na aprendizagem escolar. Os retardados mentais treinveis, por seu lado, so definidos como possuidores de QI entre 30 e 50 e espera-se que possam desenvolver habilidades elementares de cuidados pessoais, socializao e comunicao oral, mas que nunca consigam alfabetizar-se. As terminologias apresentadas nas definies acima, pioneiras na Educao Especial, no esto mais sendo usadas. Nota-se , entretanto, que persiste essa diviso, de forma no muito clara, em alguns centros educacionais e de diagnsticos assim como nos relatrios fornecidos por profissionais, o que acaba por podar as chances de aprendizagem das pessoas com necessidades especiais, deficincia mental. Isso acontece porque ainda muitos programas so elaborados e desenvolvidos sem considerar a pessoa, so planejados para aqueles que tm determinadas caractersticas e se enquadram em determinada situao, o que restringe as chances de progresso, as chances de agir, de compartilhar, enfim, de viver. Pesquisas mais recentes tentam mudar o cenrio da educao especial enfocando que h necessidade de se determinar o que prprio da deficincia e o que est inserido no contexto social. Nesse sentido, Mantoan 9 alerta que a necessidade de se distinguir o que da ordem da deficincia em termos de dficits reais, ou seja, leso orgnica definitivamente instalada como causa do problema, e o que da ordem do dficit circunstancial. No
7 W. M. CRUICKSHANK e G.O. JOHSON A educao da criana e do jovem excepcional. 8 Loyd M. DUNN. Crianas excepcionais Seus problemas, sua educao. 9 Maria Teresa Egler MANTOAN. Ser ou Estar: Eis a questo explicando o dficit intelectual
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6 caso do handicap orgnico 10 , configura-se um estado definitivo em que o sujeito , de fato, deficiente. No outro, trata-se de uma situao criada pela interao entre incapacidades fsica ou mental e os obstculos que o social interpe entre o sujeito e o meio. Diz-se ento que o sujeito nessas circunstncias no , mas est deficiente. Em minha atuao observo que mais comum o enfoque da deficincia mental como uma situao limitada pessoa a que ela corresponde, como algo inerente ao eu, o que acarreta freqentemente encaminhamentos e aes inadequados e a perpetuao de uma linha que acentua a viso de carter patolgico e segregacional. Quem pode dizer se uma deficincia mental psiquitrica, neurolgica ou peditrica? No h necessidade de se decidir isso, segundo Winnicott 11 . Entendo que, a criana, o jovem ou o adulto, que de uma forma ou de outra esteja enquadrado como deficiente mental, no deve ser visto como algum predisposto ou no a absorver e realizar uma coletnea de conceitos e ou habilidades. Deve ser visto como algum, que antes de tudo, convive e sempre conviver com pessoas e acontecimentos do meio ambiente, sentindo, percebendo, assimilando, aprendendo inclusive a confiar ou no no outro, atravs de suas prprias experincias com ele. Num ambiente que propicia um segurar satisfatrio, o beb capaz de realizar o desenvolvimento pessoal de acordo com suas tendncias herdadas. O resultado uma continuidade da existncia, que se transforma num senso de existir, num senso de self, e finalmente resulta em autonomia, no discurso de Winnicott 12 . Isso evidentemente fundamental em se tratando de pessoas com necessidades especiais. A ao junto a crianas, jovens e adultos com necessidades especiais, deficincia mental, no pode, portanto, nunca tomar como ponto de partida o rtulo, mas, sim, o conjunto do desempenho global da pessoa, que vista como um ser sempre cheio de muitas possibilidades que precisam ser concretizadas, que precisa de um ambiente que possa segur-lo satisfatoriamente para que possa prosseguir na sua existncia. Deve-se ento, buscar esse ser em seu manifestar-se no sendo, vivendo, atuando com os outros, o que envolve uma dinmica de relaes sociais, onde preciso re- engajar o indivduo, faz-lo crescer, inclu-lo.
10 Handicap orgnico desvantagem, deficincia comprovada. 11 Donald W. WINNICOTT. Tudo comea em casa. 12 idem
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7 A deficincia configura-se como uma circunstncia da existncia do homem e no como elemento que comprometa sua essncia de ser social; a pessoa que tem necessidades especiais, est limitada apenas na esfera onde se configura sua deficincia e no em sua totalidade, pois, como pessoa que , so inesgotveis suas possibilidades. Dadas as oportunidades adequadas de incluso social, ela certamente poder viver convivendo e participar atuando. Nas ltimas dcadas, as propostas de atendimento s pessoas com necessidades especiais passaram a evidenciar, que eles, como qualquer um de ns tm capacidades e as mesmas necessidades bsicas.
A maturidade do ser humano uma palavra que implica no somente crescimento pessoal mas tambm socializao. (...) O valor dessa abordagem que ela nos permite discutir ao mesmo tempo, os fatores pessoais e ambientais. (...) H tudo que herdado, incluindo os processos de maturao, e talvez, tendncias patolgicas herdadas; estas tm uma realidade prpria, e ningum pode alter-las; ao mesmo tempo, o processo maturativo depende para a sua evoluo da proviso do ambiente. Podemos dizer que o ambiente favorvel torna possvel o progresso continuado dos processos de maturao. 13
Pensar na socializao, na aprendizagem necessidades especiais, requer, que se considere todo o ambiente, social, emocional, onde a pessoa vivencia suas experincias, preciso ter em mente o contexto das relaes sociais, das relaes interpessoais onde acontecem s influncias, divergncias e integraes. Essa afirmao elucida a idia de que o ser humano s pode ser pensado dentro da trama relacional embora tenha a sua individualidade. A dcada de setenta iniciou todo um processo de novos enfoques sociais, em oposio s prticas e tendncias segregacionistas. Gradativamente, a excluso total foi sendo deixada de lado; tratava-se do reflexo do conceito de normalizao, utilizado no sentido de identificar uma srie de aes que propiciariam ao indivduo portador de deficincias as mesmas oportunidades que so oferecidas aos indivduos ditos normais. Poderia ter a conotao de desejar transformar o indivduo portador de deficincia em um indivduo normal; isso significava criar para as pessoas atendidas em instituies abertas ou segregadas,
13 Donald W. WINNICOTT. O ambiente e os processos de maturao. p. 80,81.
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8 ambiente o mais parecido possvel com aqueles vivenciados pela populao em geral. 14
Pereira 15 enfatiza que preciso ter em mente que o portador de necessidades especiais pessoa, com direitos e deveres iguais aos demais seres humanos, precisando que lhe sejam oferecidas s mesmas condies de vida em relao aos demais seres humanos. A normalizao propiciou uma grande modificao no cenrio e na forma de abordagem da problemtica. Iniciou-se uma postura e operao interdisciplinar; a pessoa portadora de deficincia deixou de ser um caso, estritamente mdico, que exigia, apenas, cuidados, relativos s necessidades da prpria vida e passou, a ser, alvo da ao, de diversos profissionais, todos igualmente responsveis. As instituies passam a ser vistas como recursos da comunidade e no como elementos isolados da dinmica social. No incio da dcada de oitenta, o mainstreaming 16 avanou um pouco mais com as propostas de abertura social na esfera da educao especial. Significava levar os alunos o mais possvel para os servios educacionais disponveis na corrente principal da comunidade; tratava-se de um movimento de desinstitucionalizao. Foi o comeo do processo de integrao, fenmeno complexo e abrangente que alavancou importantes reestruturaes no campo da educao, nos atendimentos, na formao dos profissionais, ao mesmo tempo, que influenciava, significativamente , as questes polticas, jurdicas, sociais e econmicas. Pelo movimento de integrao social, visando inserir na sociedade pessoas portadoras de necessidades especiais que alcanassem um nvel satisfatrio que fosse compatvel com o exigido socialmente, cabia pessoa, tornar-se membro da sociedade j que esta, permanecia de braos cruzados. O portador de necessidades especiais, s era aceito, se estivesse moldado a certos esquemas e acompanhasse alguns procedimentos tradicionais exigidos e desempenhasse determinados papis com um mnimo de autonomia.
14 Romeu SASSAKI. Incluso construindo uma sociedade para todos. 15 Olvia PEREIRA e outros. Educao especial atuais desafios. 16 Mainstreaming colocar estudantes com deficincia para atividades de instruo em classes comuns; termo usado geralmente sem traduo.
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9 Foi um grande avano que abriu as portas para importantes reflexes e amplos estudos que desembocaram numa nova fase. Entramos no tempo da incluso, onde se verifica o nascimento de uma nova postura social frente s pessoas com necessidades especiais. O conceito de incluso, difundido mundialmente, foi sistematizado na Declarao de Salamanca de Princpios, Poltica e Prtica de Educao Especial, resultado de uma Conferncia Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, em junho de 1994, sob o patrocnio da UNESCO e do governo da Espanha. Em Salamanca, foram reafirmados os direitos educao de cada indivduo, conforme a Declarao Universal dos Direitos Humanos (1948) e as demandas resultantes da Conferncia Mundial de Educao para Todos, de 1990. A Conferncia props a adoo de Linhas de Ao em Educao Especial, tendo como princpio orientador que:
Todas as escolas deveriam acomodar todas as crianas independentemente de suas condies fsicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingsticas ou outras. Deveriam incluir crianas deficientes e superdotadas, crianas de rua e que trabalham, crianas de origem remota ou de populao nmade, crianas pertencentes a minorias lingsticas, tnicas ou culturais e crianas de outros grupos em desvantagens ou marginalizados (...) No contexto destas Linhas de Ao o termo necessidades educacionais especiais refere-se a todas aquelas crianas ou jovens cujas necessidades se originam em funo de deficincia ou dificuldades de aprendizagem. Muitas crianas experimentam dificuldades de aprendizagem e tm, portanto, necessidades educativas especiais em algum momento de sua escolarizao. As escolas tm que encontrar a maneira de educar com xito todas as crianas, inclusive as que tm deficincias graves. 17
Pode-se dizer que h um consenso emergente de que crianas e jovens com necessidades educativas especiais, devem ser includos em escolas comuns, tal como a maioria das crianas. Essa recomendao consensual levou ao conceito de escola inclusiva, cujo principal desafio desenvolver uma pedagogia centrada na criana, capaz de, com sucesso, educar todas, inclusive as que possuem desvantagens severas. No enfoco incluso somente no sistema de ensino, na instituio escolar; penso na incluso do sujeito na sociedade, um universo bem mais abrangente onde a incluso na escola um dos elementos.
17 Declarao de Salamanca p. 17 e 18.
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10 Winnicott afirma que o meio ambiente satisfatrio comea com um alto grau de adaptao s necessidades da criana. 18
Nesse prisma, refletir sobre incluso pensar na famlia, num grupo social, numa sociedade que primeiro vai se adaptar, para ento incluir as pessoas portadoras de necessidades especiais. A incluso social est, portanto, embasada na aceitao real, nas diferenas individuais, na valorizao de cada pessoa e principalmente, na convivncia dentro da diversidade humana. A criana que nasce com um problema ou o adulto que sofre algo que o incapacite sero, na realidade, menos limitados pela deficincia do que pela atitude da sociedade em relao a eles. Pude constatar que na maioria das situaes, a sociedade que define a deficincia como uma incapacidade e o indivduo que sofre as conseqncias dessa definio. preciso, portanto, criar a sociedade inclusiva para ento termos escola, transporte, turismo, cinemas, academias, enfim, todos os seguimentos e benefcios sociais apara todas as pessoas. Isso requer uma nova postura social, j que comum, s pessoas com deficincias, serem definidas em termos de suas limitaes; da, elas mesmas, acabam por definir suas limitaes nesses termos. Normalidade ou anormalidade, no podem ser reduzidas ao plano do biolgico ou do psicolgico, precisam e devem ser consideradas numa esfera mais ampla, do ponto de vista scio-cultural. As propostas de uma sociedade democrtica incluem alm de uma liberdade de opinio e de expresso, a igualdade de oportunidades e de direitos dos indivduos. Isso implica numa proposta de pluralidade cultural no s na educao, mas nas representaes sociais em geral. Uma sociedade inclusiva depende de um intenso trabalho scio-cultural, requer uma reelaborao das representaes sociais dos diversos grupos e classes componentes da cultura nacional. A educao de pessoas com necessidades especiais uma rea multidisciplinar que s pode ser visualizada no contexto cultural onde a diversidade considerada como elemento enriquecedor para todos. A formao de cidados participativos exige,
18 Donald W WINNICOTT. Tudo comea em casa.
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11 necessariamente, o estreitamento da educao com a sade, a sociologia, a arquitetura, etc.A educao de pessoas com necessidades especiais implica tudo e implica todos.
Referncias Bibliogrficas
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