Este documento fornece um resumo da história da educação de surdos em três frases:
1) A educação de surdos começou a surgir no século XVI, quando surgiram as primeiras tentativas de ensinar surdos usando língua de sinais e língua oral.
2) Ao longo da história, surdos eram vistos como incapazes e sem direitos, sendo considerados mudos na Grécia Antiga e sem alma na Idade Média pela Igreja Católica.
3) No século XVI, mé
Este documento fornece um resumo da história da educação de surdos em três frases:
1) A educação de surdos começou a surgir no século XVI, quando surgiram as primeiras tentativas de ensinar surdos usando língua de sinais e língua oral.
2) Ao longo da história, surdos eram vistos como incapazes e sem direitos, sendo considerados mudos na Grécia Antiga e sem alma na Idade Média pela Igreja Católica.
3) No século XVI, mé
Este documento fornece um resumo da história da educação de surdos em três frases:
1) A educação de surdos começou a surgir no século XVI, quando surgiram as primeiras tentativas de ensinar surdos usando língua de sinais e língua oral.
2) Ao longo da história, surdos eram vistos como incapazes e sem direitos, sendo considerados mudos na Grécia Antiga e sem alma na Idade Média pela Igreja Católica.
3) No século XVI, mé
Aula 01 Libras Laralis Nunes de Sousa Oliveira Gisele Oliveira da Silva GOVERNO DO BRASIL Presidente da Repblica DILMA VANA ROUSSEFF Ministro da Educao ALOIZIO MERCADANTE Diretor de Ensino a Distncia da CAPES JOO CARLOS TEATINI Reitor do IFRN BELCHIOR DE OLIVEIRA ROCHA Diretor do Cmpus EaD/IFRN ERIVALDO CABRAL Diretora Acadmica do Cmpus EaD/IFRN ANA LCIA SARMENTO HENRIQUE Coordenadora Geral da UAB /IFRN ILANE FERREIRA CAVALCANTE Coordenador Adjunto da UAB/IFRN JSSIO PEREIRA Coordenadora do Curso a Distncia de Licenciatura em Letras-Espanhol CARLA AGUIAR FALCO Ficha Catalogrfca LIBRAS Aula 01 Histria da Educao de Surdos Professor Pesquisador/conteudista LARALIS NUNES DE SOUSA OLIVEIRA GISELE OLIVEIRA DA SILVA Diretor da Produo de Material Didtico ARTEMILSON LIMA Coordenadora da Produo de Material Didtico ROSEMARY PESSOA BORGES Reviso Lingustica HILANETE PORPINO DE PAIVA Coordenao de Design Grfco LEONARDO DOS SANTOS FEITOZA Diagramao GEORGIO NASCIMENTO EDUCAO, CINCIA E TECNOLOGIA Campus EaD RIO GRANDE DO NORTE INSTITUTO FEDERAL DE Libras
p03 Aula 01 Apresentao e Objetivos Estimado discente, Bem-vindo disciplina da terceira lngua que envolve seu curso: Libras! Ao lado da Lngua Portuguesa, a Lngua Brasileira de Sinais fgurar em sua prtica docente como lngua de instruo nas aulas de Lngua Espanhola que voc ministrar no exerccio da docncia. Este componente curricular apresenta uma particularidade: envolve teoria e prtica. Isso demandar de ns uma dinmica diferenciada. Teremos quatro cadernos voltados para questes de ordem terica e quatro videoaulas voltadas para questes de ordem prtica, todas relacionadas Libras e ao sujeito surdo. Os cinco cadernos que trataro de aspectos tericos abordaro os seguintes temas: 1. Aspectos histricos da educao dos surdos; 2. Filosofas educacionais e legislao da Educao de surdos 3. Atualidade da educao de surdos no Brasil; 4. Aspectos sociais e culturais da Libras 5. Aspectos lingusticos da Libras As quatro videoaulas, por sua vez, traro principalmente temas prticos ligados Libras. Por estarmos lidando com uma lngua espao-visual, parece-nos acertado lanar mo dos recursos de vdeo para nos fazermos entender. Neste primeiro caderno de aula, narraremos e discutiremos, de forma breve, os principais percursos histricos da Educao dos Surdos at os dias atuais por meio de um texto claro e de atividades signifcativas. Os objetivos desta aula so: Tomar cincia dos acontecimentos de maior relevncia na histria dos surdos e de sua educao; Aula 01 Histria da Educao de Surdos Apresentao e Objetivos Histria da Educao de Surdos p04 Aula 01 H um personagem na mitologia romana cuja histria parece ser propcia de ser resgatada na introduo de nossa primeira aula. Seu nome Jano (ou Janus), porteiro celestial e guardio de todo comeo. O que nos chama a ateno nas representaes de Jano o fato de ele ter duas faces, uma olhando em direo oposta da outra, o que lhe permitia guardar, a um s tempo, as duas entradas dos portes do cu. O tema deste caderno da disciplina de Libras Aspectos histricos da educao dos surdos, e a lio que o perfl de Jano nos d nesta aula inaugural dupla, assim como seus rostos: a projeo do futuro no deve prescindir o olhar para o passado. Na disciplina de Educao Inclusiva, provavelmente vocs perceberam que o Brasil est passando por uma reconfgurao educacional, respaldada pela Poltica Nacional de Educao Especial sob a Perspectiva da Educao Inclusiva, ofcialmente lanada no ano de 2008. Os horizontes vislumbrados por esse modo de encarar a educao especial ainda esto por serem alcanados, e larga parte deles ainda esto por serem erigidos por ns, agentes diretos da educao. Nesse movimento de busca e construo de uma escola slida, com bases sedimentadas, sensato que no apenas nos atenhamos ao objetivo futuro, mas que voltemos nossos olhos para o passado e aprendamos com ele. Uma face para o futuro e uma face para o passado: eis a dupla mensagem de Jano que perpassar a nossa disciplina. Para Comear Fig. 01 - Janus Compreender criticamente os fatos estudados, estabelecendo relaes com o contexto histrico geral da poca em que ocorreram; Refetir sobre as repercusses que os eventos passados tiveram na constituio do atual quadro da educao de surdos no Brasil. Bons estudos! Libras
p05 Aula 01 Assim Com fns didticos, como j dito em seo anterior, segmentamos esta disciplina em quatro temas. O assunto de hoje solicita que voltemos nossos rostos ao passado, histria da educao dos surdos, a fm de compreendermos criticamente o hoje e projetarmos o futuro. Vamos l? Jeito surdo de ser, de perceber, de sentir, de vivenciar, de comunicar, de trans- formar o mundo e torn-lo habitvel. GladisPerlin O SUJEITO SURDO FRENTE SUA HISTRIA Quando ouvimos a palavra surdez, geralmente associamos a algum que no capaz de ouvir e, consequentemente, de falar. Em primeiro lugar pertinente que nos debrucemos sobre os principais aspectos que perpassam o conceito de surdez, que, como qualquer outro conceito, passou por transformaes histricas. Na verdade, estamos atravessando um momento de redefnio deste conceito (BEHARES, 2000) e, historicamente, sabe-se que a tradio mdico-teraputica vem infuenciando h tempos a defnio da surdez a partir do dfcit auditivo e da classifcao da surdez (leve, profunda, congnita, pr-lingustica, etc.), mas deixou de incluir a experincia da surdez e de considerar os contextos psicossociais e culturais nos quais a pessoa surda se desenvolve (S, 2006). S (2006) defne surdo como uma pessoa que vivencia um dfcit de audio que o impede de adquirir, de maneira natural, a lngua oral/auditiva usada pela comunidade majoritria e que constri sua identidade calcada principalmente nesta diferena, utilizando-se de estratgias cognitivas e de manifestaes comportamentais e culturais diferentes da maioria das pessoas que ouvem. A Lngua de Sinais e sua Histria na Educao de Surdos Os surdos nascidos no Brasil possuem como primeira lngua a Libras (Lngua Brasileira de Sinais), que difere das lnguas orais por sua modalidade viso- espacial. No Histria da Educao de Surdos p06 Aula 01 De acordo com os registros histricos, foi somente no sculo XVI que surgiu a primeira possibilidade de educao em lngua de sinais e lngua oral para os surdos. Brasil, a comunidade surda comemorou, no dia 24 de abril de 2002, o reconhecimento de sua lngua como meio legal de comunicao e expresso, ofcializado por meio da Lei n 10.436. Contudo, mesmo sendo legtima lngua ofcial do Brasil, a Libras permanece marginalizada e pouco difundida em nossa sociedade. O preconceito com relao s lnguas sinais parece advir da demora para que se tornassem alvos de estudos mais aprofundados, o que vem ocorrendo h apenas 50 anos, diferentemente das lnguas orais, que tm sido estudadas h mais de cinco mil anos (PINHEIRO, 2002). No raro, a histria do surdo comparada a um calvrio, medida que a sociedade sempre se referiu a ele apenas pela defcincia auditiva, lhe atribuindo a incapacidade de apreender, de se socializar, de viver em sociedade. A histria comum dos Surdos uma histria que enfatiza a caridade, o sacrifcio e a dedicao necessrios para vencer grandes adversidades (S, 2006). Conhecer essa histria refetirmos e questionarmos diversos acontecimentos relacionados educao em vrias pocas, pois a vida social dos surdos sempre esteve intrinsecamente ligada s decises tomadas no mbito da educao geral. A histria da educao de surdos no uma histria difcil de ser analisada e compreendida. Ela evolui continuamente. Apesar de vrios impactos marcantes, vivemos momentos histricos caracterizados por mudanas, turbulncias e crises, mas tambm de surgimento de oportunidades (STROBEL; PERLIN, 2006). A histria reveladora do lugar ocupado pelo surdo Na antiguidade, mais especifcamente na Grcia, as pessoas que nasciam surdas tambm eram indiscutivelmente consideradas mudas, incapazes, portanto, de emitirem nenhuma palavra. Segundo Aristteles, por lhes faltarem um sentido, seria impossvel aos surdos alcanarem a conscincia humana. Esse pensamento permaneceu por muitos sculos, sendo esses sujeitos colocados em condio muito inferior dos demais. Em Roma, nos primeiros anos de nossa era, os surdos necessitavam de um curador, pois no podiam exercer a cidadania, j que no possuam direitos legais. Para a igreja Catlica, eram criaturas castigadas por Deus e sem alma, no tendo, assim, direito vida eterna, uma vez que no poderiam professar o sacramento da Santa Igreja Catlica. No Imprio Romano, o Imperador Justiniano fez a separao entre surdez e mudez. Ele ordenava que as pessoas surdas e mudas fossem proibidas de fazer testamento, tampouco de receber herana. Em apenas alguns casos, como quando o surdo tivesse perdido a audio aps ter recebido a educao formal, poderia ter seus direitos preservados. Libras
p07 Aula 01 J no sculo XVI, o mdico Girolamo Cardano, atravs da convivncia com seu flho que era surdo desenvolveu estudos sobre o ouvido, nariz e crebro e props que os surdos deveriam ser ensinados, sobretudo a ler e a escrever, pois a escrita equivaleria fala e a leitura equivaleria audio. Ainda nesse mesmo sculo, Pedro Ponce de Leon, monge beneditino nascido na Espanha, tinha a tarefa de ensinar crianas surdas flhas de nobres a ler, a escrever, a se confessar entre outras tarefas para que pudessem ter seus direitos resguardados. Ainda hoje, no se sabe muito sobre os mtodos utilizados pelo monge, apenas que utilizava algo parecido com o nosso alfabeto manual, em que cada confgurao de mo correspondia a uma letra do alfabeto latino. No sculo XVI, emergem algumas teorias sobre a linguagem e a fala dos surdos. Wallis, considerado o precursor do mtodo escrito, utilizava o alfabeto manual em suas aulas associado escrita e pronncia de palavras em ingls. Willian Holder concentrava seu trabalho no ensino da fala. No sculo que se segue, George Dalgarmo declara que os surdos tinham sua cognio preservada e que possuam o mesmo potencial que qualquer outra pessoa, Fique atento! Ponce de Leon considerado o primeiro professor de Surdo da histria e o precurssor do Oralismo. Fig. 02 - Girolamo Cardano Fig. 03 - Pedro Ponce de Leon Assim Assim Histria da Educao de Surdos p08 Aula 01 Por volta do sculo XVII, principalmente na Europa, houve um aumento signifcativo do interesse pela educao dos surdos. O alemo Wilhelm Kelger, por exemplo, fez defesa de que os surdos fossem ensinados. Durante suas aulas, usava a escrita, a fala, os gestos, todos de forma simultnea, associada a palavras. Vejam vocs! Quanta opinio diferente sobre os surdos ao longo dos sculos, no mesmo? Agora, faa uma breve refexo sobre como voc tem visto o aluno surdo no atual processo de incluso. Na sua opinio, houve mudanas signifcativas? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Mos obra mas que, para utiliz-lo, seria necessrio que recebessem educao adequada. No sculo XVII, mais especifcamente em 1620, o tambm espanhol Juan Pablo Bonet publicou um livro que tratava sobre a inveno do alfabeto manual. Com intuito de ensinar a qualquer custo os surdos a falarem, Bonet criou uma lngua de couro e a utilizava para mostrar a posio e o movimento da lngua no momento da fala. Alm de sua inveno, ele tambm contava com a leitura labial e manipulava os orgos fonoarticulatrios como forma de ensinar o surdo a articular palavras. Anos mais tarde, o britnico John Buwer lana o primeiro livro em ingls sobre a lngua de sinais e, tempos depois, em seu segundo livro, prope que as lnguas de sinais tm o mesmo valor que as lnguas orais. Assim Fig. 04 Juan Pablo Bonet Libras
p09 Aula 01 J aps a morte de LEpe, um dos surdos da terceira gerao da Escola Pblica para Surdos de Paris, Laurent Clerc, aporta nos Estados Unidos a convite de Thomas Gallaudet em 1816. Um ano mais tarde, ambos fundariam o Asylum for the Deaf, em Hartford. Mais de um sculo depois, essa ao inicial culminaria na criao na Gallaudet University, uma universidade em que a primeira lngua de instruo a Lngua de Sinais Americana (American Sign Language), que existe ainda hoje. Na Alemanha, houve uma fgura muito conhecida entre os pedagogos daquela poca: Samuel Heinicke. Ele props uma metodologia para a educao dos surdos, que mais tarde fcaria conhecida como oralismo ou mtodo oral. Por ter passado por inmeras difculdades, preferiu no compartilhar suas tcnicas com ningum. Ele fundou a primeira escola pblica para surdos da Alemanha, onde foi implementado o mtodo oral. Segundo ele, a educao dos surdos s seria possvel se eles verdadeiramente conseguissem se inserir na sociedade ouvinte, e isso s seria possvel por meio dodesenvolvimento da fala. Contemporaneamente a Heinicke, o abade Charles Michael de L`Epe comeou ensinar duas irms surdas na Frana. Ele ensinou as meninas a falarem e a escreverem. Andando pelas ruas de Paris, o abade priorizava o atendimento dos surdos com o objetivo de ensin-los. Criou os sinais metdicos para poder se comunicar com os surdos e instru-los, mas considerava essa metodologia incompleta. Ele foi o primeiro a considerar que a forma como os surdos de Paris se comunicavam poderia ser creditada. Seu sucesso foi to grande que ele fcou mundialmente conhecido e pde fundar a primeira escola pblica para surdos em Paris. Fig. 05 - Samuel Heinicke Fig. 06 - Charles Michael de L`Epe Os sinais metdicos consistem da combinao da Lngua de Sinais com a gramtica sinalizada francesa. (GOLDFELD, 2002) Assim Histria da Educao de Surdos p10 Aula 01 Ainda no sculo XIX, um outro fruto do mtodo do abade LEpe, Hernest Huet, veio para Brasil a convite do Imperador Dom Pedro II para fundar a primeira escola para meninos surdos do pas. Criada em 1857, a instituio fcou conhecida nacionalmente como Imperial Instituto de Surdos Mudos. Sculos mais tarde, a escola se tornou o atual Instituto Nacional de Educao de Surdos INES, mantido pelo Governo Federal e que recebe crianas, adolescentes e adultos surdos de todo o Brasil. Esse perodo fui muito rico para os surdos. Aps o I Congresso Internacional sobre a Instruo de Surdos, eles passaram a ter direitos e deveres. Essa edio do evento fez defesa dos sinais para a comunicao das crianas e deu aos surdos a possibilidade de assinarem documentos. Embora a tica assistencialista ainda fosse bastante forte, o caminho trilhado parecia encaminhar os surdos para um futuro cada vez mais exitoso e justo, rumo autonomia e ao reconhecimento de sua condio de ser humano capaz. Era La primavera del gesto, como pontua Snchez (1990). De acordo com esse autor: En las primeras dcadas del siglo [XIX], el mtodo francs tom la delantera y logr conquistas muy signifcativas, que se tradujeron no slo en la acep- tacin de sus propuestas por parte de un gran nmero de educadores, sino en importantes cambios en las comunidades de sordos y en sus relaciones con los oyentes. (SNCHEZ, 1990, p. 54) A respeito dessa poca, Sacks (2010) afrma: Esse perodo que agora se afgura como uma espcie de era dourada na histria dos surdos marcou o rpido estabelecimento de escolas para surdos, geralmente mantidas por professores surdos, em todo o mundo civilizado, aemergncia dos surdos da obscuridade e da negligncia, sua emancipao e aquisio de cidadania e seu rpido surgimento em posies de importncia e responsabilidade - escritores surdos, engenheiros surdos, flsofos surdos, intelectuais surdos, antes inconcebveis, subitamente eram possveis. (SACKS, 2010, p. 30-31) Contudo, um evento pontual conseguiu alterar o gratifcante trajeto que vinha sendo traado, levando os surdos a atravessarem uma das etapas mais sombrias e silenciosas de sua histria. Fig. 08 - Hernest Huet Fig. 07 - Laurent Clerc Libras
p11 Aula 01 O percurso alterado
Em meio a tantos impedimentos colocados no trajeto de reconhecimento e participao social dos surdos, a realizao do II Congresso Internacional sobre a Instruo de Surdos, realizado em Milo, no ano de 1880, confgurou-se como um triste marco histrico. Tal Congresso teve vrios objetivos, mas o principal foi a anlise e escolha de um mtodo que fosse efcaz para a educao do surdo. Os temas propostos na ocasio disseram respeito s vantagens e desvantagens do internato, tempo de instruo, trabalhos mais apropriados aos surdos, quantidade de alunos por classe, medidas de cunho curativo e preventivo, enfermidades, etc. Embora os temas fossem variados, as discusses estiveram primordialmente voltadas o embate entre o oralismo e lngua de sinais (BORNE, 2002). No dia 11 de setembro de 1880, no referido Congresso, houve uma votao contra o uso da lngua de sinais na educao dos surdos. Os participantes, em sua maioria votaram por aclamao a aprovao do uso exclusivo dos mtodos orais. A partir da, a lngua de sinais foi proibida ofcialmente, calcada na alegao de que a mesma destrua a habilidade da oralizao dos sujeitos surdos (STROBEL; PERLIN, 2006). Ressalte-se, ainda, que o Congresso foi organizado e patrocinado por professores defensores do oralismo puro, no qual, Alexander Grahan Bell teve grande infuncia em defesa da modalidade oralista. Aps o Congresso, muitos pases adotaram o mtodo oralista abolindo de vez o uso da lngua de sinais no contexto educativo, o que levou o Povo Surdo iniciar um longo e rduo processo em defesa da sua lngua.
Fig. 09 - Alexander Grahan Bell Voc sabia? Oralismo puro ainda usado como mtodo por algumas instituies que atendem crianas surdas. Essa metodologia usa o treinamento de fala, leitura labial, e outros, este recurso usada dentro das metodologias orais, entre eles, o verbotonal, oral modelo materno refexivo, perdoncini entre outros (STROBEL, PERLIN, 2008, p. 19). Histria da Educao de Surdos p12 Aula 01 Houve momentos, antes do Congresso de 1880, em que a lngua de sinais era mais valorizada. Na poca, os povos surdos no tinham problemas com a educao, a maioria dos sujeitos surdos dominava a arte da escrita e h evidncias de que havia muitos escritores surdos, artistas surdos, professores surdos e outros sujeitos surdos bem sucedidos. Aconteceu uma crise sria entre a Cultura Surda e a educao, pois ao percorrer a trajetria histrica do Povo Surdo e suas diferentes representaes sociais vemos os domnios do ouvintismo relativos a qualquer situao relacionada vida social e educacional desses sujeitos. A educao dos surdos aps a escolha desse mtodo apresentou vrios fracassos. A votao a favor do oralismo puro no Congresso de Milo causou um enorme sofrimento para o povo surdo. A proibio do uso das lnguas de sinais perdurou por mais de 100 anos, mas mesmo assim os surdos conseguiram manter vivo o desejo de ter livre e reconhecida a sua lngua natural.
Retomada dos sinais No fnal da dcada de 1950, um jovem linguista, William Stokoe, adentrou a Gallaudet University na condio de professor de Literatura. Naquele ambiente, ele se deu conta de que estava imerso em um campo de pesquisa fascinante. Em 1960, ele publica o livro Estrutura da Lngua de Sinais (Sign Language Structure) e, a partir de ento, comea-se a considerar a possibilidade de a forma natural de comunicao dos surdos ser, de fato, uma lngua. A partir de ento, o uso dos sinais em conjunto com a lngua oral (lembrando os Sinais Metdicos de Lpe) retomado no mbito escolar dos surdos. Na dcada de 70, esse mtodo ganha fora, em alguns casos incorporando outros recursos comunicacionais (fguras, leitura labial, escrita etc.). Surge a Comunicao Total, que anos mais tarde passar a ser considerada, assim como o Oralismo, uma flosofa da educao de surdos. A dcada de 1980, por sua vez, foi marcada pelo rompimento da comunidade surda com as prticas da Comunicao Total que, segundo eles, subjugava a Lngua de Sinais, completa em si mesma, ao sistema da Lngua Oral. Passa-se, ento, a considerar que as lnguas devem ser usadas separadamente, e no de forma complementar. A estariam as razes do Bilinguismo, a terceira flosofa da educao de surdos, que, juntamente com o Oralismo e com a Comunicao Total, ser abordada no nosso prximo caderno. Assim Libras
p13 Aula 01 Histria da educao de surdos no brasil No Brasil, conforme j explicitado, o incio ofcial da educao de Surdos teve apoio do ento Imperador Dom Pedro II. De acordo com Goldfeld (2002), o profesor surdo Hernest Huet veio da frana com a misso de ensinar duas crianas surdas. Temos portanto esse registro como o incio do ensino formal para surdos em nosso pas. O primeiro instituto para surdos em terras brasileiras foi criado no ano de 1857, mais precisamente no dia 26 de setembro. Graas aos esforos de Hernest Huet, foi fundado o Instituto Nacional de Surdos-Mudos, atual Instituto Nacional de Educao de Surdos INES. Nessa poca, o INES j utilizava a lngua de sinais como forma de ensino para seus alunos. Aps dois anos, por problemas pessoais, o professor Huet teve de voltar ao seu pas de origem. Seu sucesor no instituto foi Dr. Manoel de Magalhes Couto. O ento diretor acabou por transformar o espao em apenas um asilo para surdos e, aps uma inspeo do governo, foi nomeado um outro diretor. Aps a leitura do texto, faa um levantamento cronolgico dos principais educadores que contriburam para a efetiva educao dos surdos no mundo e no Brasil. Na sua opinio, quais os personagens mais relevantes desse processo? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Mos obra Fig. 10 - Instituto Nacional de Educao de Surdos Assim Histria da Educao de Surdos p14 Aula 01 O link que segue o conduzir ao site do INES: http://www.ines.gov.br/default.aspx Assim Segundo Balbueno (2010), o Brasil sofria grande infuncia da europa e com o acontecimento do Congresso de Milo, o modelo oralista foi fortemente copiado e introduzido nas praticas escolares com os alunos surdos. Uma metodologa prpria de ensino aos surdos iniciou-se tardiamente, provavelmente devido ao descaso das autoridades que no consideravam as necessidades nacionais. Assim, a eduao de Surdos no Brasil acabou por seguir os moldes oralistas, o que nos trouxe consequncias trgicas. Aps o Congresso ter decretado que o Oralismo seria a melhor metodologa a ser utilizada na educao dos Surdos, o INES passou a seguir essa tendencia mundial e, em 1911, o adota em suas prticas. Mesmo diante de tal cenrio, os Surdos resistiram a essa imposio e continuaram usando a lngua de sinais at o ano de 1957. Aps essa data, a proibio tornou-se ofcial e a lngua de sinais foi terminantemente proibida em sala de aula. Vocs acreditam que os Surdos realmente aceitaram essa proibio? Mesmo com toda a vigilncia, eles insistiram e usavam a lngua de sinais durante os intervalos, nos corredores e ptios. No fm da dcada de 1970, a Comunicao Total chega ao Brasil e o cenrio comea a se reconfgurar. O Bilinguismo emerge em terras tupiniquins a partir da dcada de 1980, com as pesquisas de Lucinda Ferreira-Brito. Hoje, embora toda a legislao brasileira referente educao de surdos se respalde na flosofa bilngue, percebe-se que, na prtica, as trs flosofas educacionais convivem (nem sempre pacifcamente) nas escolas de nosso pas. Libras
p15 Aula 01 J sei! Autoavaliao Voc pode observar ao longo do texto, que o sujeito surdo ocupou vrios lugares de acordo com a poca e a sociedade vigente. Por isso, gostariamos que voc respondesse ao seguinte questionamento: como os surdos eram tratados da sociedade antiga? Faa uma pesquisa em outros materiais, como livros, stios cientfcos e no prprio material. Depois conversem com seus colegas de curso e compartilhem os resultados. Vamos l! Mos obra Nesta aula, foi possvel conhecer o contexto histrico da educao dos Surdos, bem como tomar cincia dos acontecimentos de maior relevncia para a Comunidade Surda no Mundo e no Brasil. Para isso, foram apresentados os principais nomes das personalidades que fzeram parte do referido processo histrico. Alm disso, refetimos sobre questes relacionadas s flosofas adotadas na educao dos Surdos. Aps a leitura desta aula, elabore uma Linha do Tempo da educao dos surdos com os principais fatos histricos de sua jornada. Histria da Educao de Surdos p16 Aula 01 BALBUENO, Valdir. Lngua de sinais brasileira: libras II ( Apostila do cuso de Especializao em Libras promovido pela Sociesc) So paulo: Know, 2010. BEHARES. L. E. Implicaes neuropsicologicas dos recentes descobrimentos na aquisio de linguagem pela criana surda. So Paulo: TEC. Art, 2000. BORNE, Rosecllia Maria Malucelli. Representaes dos surdos em relao surdez e implicaes na interao social. (Dissertao de Mestrado da UTP, Universidade Tuiuti do Paran). Curitiba: 2002. GOLDFELD, Marcia. A criana surda: linguagem e cognio numa perpectiva sociointeracionista. 6.ed.So Paulo: Plexus Editora, 2002. PINHEIRO, Lucineide Machado. Lngua de sinais brasileira: libras I (Livro cuso de Especializao em Libras promovido pela Sociesc). So Paulo: Know, 2010. STROBEL, K. L. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianpolis: Editora UFSC, 2008. __________.; PERLIN, G.. Fundamentos da educao de surdos. Florianpolis: UFSC, 2006. S, Ndia Regina Limeira. Cultura, poder e educao de surdos. So Paulo: Paulinas, 2006. SNCHEZ, Carlos M. La increble y triste historia de la sordera. Caracas/ Venezuela: CEPROSORD, 1990. Referncias Fonte das fguras Fig. 01 - htp://4.bp.blogspot.com/-8pJfvw88mtU/UM9saiP-g-I/AAAAAAAAB58/mT3pzkwnGXk/s1600/janus9.jpg Fig. 02 - htp://www-history.mcs.st-and.ac.uk/BigPictures/Cardan_4.jpeg Fig. 03 - htp://teamhearing.org/blogs/wp-content/uploads/2012/05/pedro-ponce-de-leon.jpg Fig. 04 - htp://3.bp.blogspot.com/_Olj8P4y-Mz0/TU7cnOlmRYI/AAAAAAAAAD4/aWvIrX_avIs/s1600/viejo.jpg Fig. 05 - htp://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e6/Samuel_Heinicke.jpg Fig. 06 - htp://imgc.artprintmages.com/images/art-print/charles-michel-de-l-epee-1712-1789-abbe-fondateur-de-l- -insttuton-des-sourds-muets_i-G-50-5004-8RL6G00Z.jpg Libras