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UNIVERSIDADE DO AMAZONAS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS


MESTRADO EM QUÍMICA DE PRODUTOS NATURAIS

ESTUDO FÍSICO-QUÍMICO DA ÁGUA DE TRÊS

IGARAPÉS DA REGIÃO DO DISTRITO INDUSTRIAL

DE MANAUS - AM

CRISTINE DE MELLO DIAS

Dissertação apresentada à Coordenação do


Curso de Mestrado em Química de Produtos
Naturais (UA), como parte dos requisitos para
obtenção do título de mestre em Química de
Produtos Naturais, Área de Concentração em
Química Ambiental.

Manaus
Estado do Amazonas - Brasil
Junho/2001
UNIVERSIDADE DO AMAZONAS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS
MESTRADO EM QUÍMICA DE PRODUTOS NATURAIS

ESTUDO FÍSICO-QUÍMICO DA ÁGUA DE TRÊS

IGARAPÉS DA REGIÃO DO DISTRITO INDUSTRIAL

DE MANAUS - AM

CRISTINE DE MELLO DIAS


Orientador: Dr. GENILSON PEREIRA SANTANA

Dissertação apresentada à Coordenação do


Curso de Mestrado em Química de Produtos
Naturais (UA), como parte dos requisitos para
obtenção do título de mestre em Química de
Produtos Naturais, Área de Concentração em
Química Ambiental.

Manaus
Estado do Amazonas - Brasil
Junho/2001
DIAS, Cristine de Mello

ESTUDO FÍSICO QUÍMICO DA ÁGUA DE TRÊS IGARAPES DA


REGIÃO DO DISTRITO INDUSTRIAL DE MANAUS (AM)

Cristine de Mello Dias


Manaus, FUA, 2001.
Dissertação de Mestrado, 114 p.

1. Química Ambiental 2. Distrito Industrial 3. Manaus/AM


4. Igarapé 5. E.A.A. 6. Metais Pesados

SINOPSE

Foram coletadas nos meses de maio, julho, setembro e novembro de 2000


amostras de água nos três principais igarapés do Distrito Industrial de Manaus.
Os resultados mostraram de uma maneira geral que esses igarapés estão com os
valores de pH, temperatura e de concentração de matéria orgânica total alterados
em relação aos igarapés naturais que compõem o sistema hídrico de Manaus. Nos
três igarapés verificou-se também que os teores de alguns metais pesados (Zn,
Ni, Cu, Mn, Fe, Pb e Cr) estão acima dos limites recomendados pela resolução
No 20 de 1986 do CONAMA. E as indústrias do Distrito Industrial são as
principais responsáveis pela contaminação dos três igarapés.

Palavras – chave: Distrito Industrial, Manaus, água, EAA, Igarapé, Metais


Pesados

Keywords: Industrial District, Manaus, water, Stream, AAS, Heavy


Metals
Dedico este trabalho:
Aos meus pais Dias e Dulcy, pelo
apoio e incentivo;
Ao Ricardo pelo companheirismo
e compreensão nas horas de
ausência.
Agradecimentos

A Deus pela sua presença e pelo seu amor em todas as horas.

Ao professor Dr. Genilson Pereira Santana, pela orientação, amizade e


dedicação durante o desenvolvimento deste trabalho;

À minha família, pelo apoio fundamental e compreensão em todas as horas.

À Central Analítica da Universidade do Amazonas e aos estagiários Alzerina,


Christiane, Fatimérison, Marcelo e Vera, pela ajuda no laboratório e nas medidas de
espectroscopia de infravermelho e espectrometria de absorção atômica;

À Embrapa e aos técnicos Vitoriano e Concita pela utilização do


Espectrômetro de Absorção Atômica;

Aos colegas do curso de Mestrado em Química de Produtos Naturais pela


amizade e apoio durante todo esse período;

A CAPES pela concessão do auxílio financeiro;

Minha gratidão a todos, que direta ou indiretamente, contribuíram para a


realização deste trabalho;
Resumo

As águas de três dos principais igarapés do Distrito Industrial de Manaus foram


estudadas, nos meses de maio, julho, setembro e novembro de 2000, sendo
determinados o pH, temperatura, matéria orgânica e alguns metais pesados. Em cada
igarapé foram retiradas 10 amostras de água a 50 m de distância, em média. As
medidas de pH, temperatura e matéria orgânica foram realizadas no dia da coleta nas
amostras não filtradas. Os metais pesados Fe, Zn, Mn, Ni, Cd, Cr, Cu e Pb foram
determinados por espectrometria de absorção atômica em amostras filtradas em
filtro 0,45 µm e não filtradas, sendo pré-concentradas 4 vezes. As funções orgânicas
das estruturas químicas do material particulados retido no filtro foram caracterizadas
por espectroscopia na região do infravermelho (IV). Os resultados indicam que cada
igarapé, devido à atividade antrópica, tem suas propriedades físicas e químicas
alteradas de modo particular. No Igarapé 03 o valor de pH permaneceu em torno de
6,00, a matéria orgânica apresentou bruscas alterações, com valores entre 1,52 e
11,1 mg L-1. A temperatura variou bastante nos locais de despejo industrial. Quanto
aos metais pesados, o Fe, Zn e Mn estavam presentes em todas as coletas, já o Ni,
Cu, Cr, e Pb foram detectados somente na segunda coleta. No Igarapé 04 as
oscilações de pH foram de 2,26 a 7,35 e a matéria orgânica ao longo do Igarapé não
obedeceu a um comportamento padrão. Os metais pesados estavam presentes
praticamente em todas as coletas, com exceção do Cu, Cr e Pb que foram detectados
esporadicamente. O Igarapé 05 foi caracterizado por uma distribuição
completamente aleatória dos parâmetros analisados, tanto ao longo do Igarapé
quanto entre as coletas, com exceção da temperatura e das funções orgânicas do
material particulado. O estudo do material particulado por IV mostrou a existência
de caulinita e matéria orgânica em todos os Igarapés. Nos Igarapés 04 e 05 os
espectros indicaram a presença de funções fenólicas e nitrogenadas.

xvii
Abstract

The water of three main streams of the Industrial District in Manaus was
analyzed during the months of May, July, September and November 2000. Ten
samples of each stream were collected every 50 meters, in average.
Determinations of pH, temperature, organic matter and heavy metals were
performed and, with the exception of heavy metals analysis, all were analyzed at
the same day of sampling, in non-filtered samples. The heavy metals Fe, Zn, Mn,
Ni, Cd, Cr and Pb were determined by atomic absorption spectrometry in
samples filtered in the filter 0,45 µm and non-filtered, pre-concentrated four
times. The organic functions of chemical structures of colloidal particles were
studied by infrared spectroscopic (IR). The results show that each stream has its
physical and chemical properties altered by anthropogenic activity. The organic
matter ratio between 1.52 and 11.1 mg L-1. The temperature was highly near the
industrial district. Fe, Zn and Mn were detected in all the samples and Ni, Cu, Cr
and Pb were detected only during the second sampling. In the stream number 4
oscillations of pH (2.26 up to 7.35) were observed and the organic matter values
were not consistent to the expected pattern along the stream. The heavy metals
were detected in all the analyzed samples with the exception of Cu, Cr and Pb
that were sporadically observed. The stream number 5 is characterized by a
random distribution of the analyzed parameters, with the exception of
temperature and organic functions of colloidal particles, that have shown
kaolinite and organic matter in all samples. Sometimes, fenolic and nitrogened
groups were identified.

xviii
1. Introdução

O monitoramento da contaminação em sistemas aquáticos exige um


acompanhamento constante, principalmente nas grandes cidades. A atividade,
entendida como transformação de recursos naturais em bens úteis à sociedade,
vem provocando impactos ambientais significativos, tanto como consumidora de
recursos naturais não renováveis quanto como agente poluidor (CASTRO, 2000).

Os reservatórios naturais vêm sendo usados como depositários de uma


variedade de subprodutos, provenientes da atividade antrópica. A presença de
elementos potencialmente tóxicos é responsável por efeitos adversos sobre o
ambiente, com repercussão na economia e na saúde pública. A introdução de
metais, particularmente nos sistemas aquáticos ocorre naturalmente através de
processos geoquímicos e da atividade humana, que é reflexo de sua ampla
utilização pela indústria (YABE e OLIVEIRA, 1998).

Os efeitos das alterações das condições naturais de um ambiente aquático são


maiores em cidades como Manaus, cercadas por rios e igarapés. As conseqüências
dessa poluição representam um grande risco à saúde pública.

No caso específico de Manaus, os igarapés começaram a sofrer os impactos


da urbanização e modernização da cidade a partir da metade do século XIX,
especialmente com os aterros dos igarapés do centro da cidade. Os problemas de
contaminação aumentaram com a criação da Zona Franca em 1967 devido ao
fluxo migratório oriundos de todas as partes do Brasil, resultando na expansão de
novas áreas de ocupações urbanas, inclusive as margens dos igarapés (VALLE,
1999).
Introdução

A atividade industrial também foi intensificada às margens dos igarapés,


principalmente próximo ao Igarapé do Quarenta. Historicamente este Igarapé vem
sendo conhecido pela quantidade de moradores às suas margens e também pela
quantidade de lixo doméstico e despejo industrial no seu leito (BRANDÃO, 1999;
VALLE, 1998; VALLE, 1999; SILVA, 1992; SILVA & SILVA, 1993 e SILVA,
1996, etc).

Portanto, desde 1992, o Igarapé do Quarenta é objeto de diversos estudos,


não somente sob os aspectos sociais, mas também da qualidade do micro-
ecossistema existente nesta região. As principais conclusões de muitos trabalhos
publicados consideram o Distrito Industrial como foco de poluição por metais
pesados. Restando identificar quais são os metais pesados que estão contaminando
as suas águas e quais indústrias são responsáveis por esse processo.

As águas dos igarapés da região do Distrito Industrial são o principal veículo


de transporte desses elementos, pois os resíduos líquidos e particulados são
despejados em seus leitos, na sua maioria, sem qualquer tipo de tratamento.

Uma das consequências dessa contaminação é que em alguns locais já não


existem mais a fauna e flora características da região. Hoje, as espécies que
sobrevivem acumulam em seus organismos alguma quantidade de metal pesado
(CASTRO, 2000 e SILVA, 1992).

Em 1998, foi iniciado um estudo mais aprofundado no Distrito Industrial de


Manaus, com o objetivo de detectar o impacto da atividade antrópica nesta área.
Foram analisados os solos, águas, sedimentos e plantas (gramíneas), cujos
resultados mostraram que o micro-ambiente dessa região está completamente
alterado, com Pb, Cr e Ni distribuídos em todas as matrizes estudadas (CASTRO,
2000, SAMPAIO, 2000 e SANTOS, 2000).

2
Introdução

Entretanto, esses estudos não realizaram um acompanhamento dos despejos


desses rejeitos da sua periodicidade anual. Normalmente, foram feitas uma ou
duas coletas em locais próximos ao Igarapé do Quarenta.

Sendo assim, os resultados apresentados nesta dissertação foram obtidos


durante quatro coletas realizadas no ano de 2000, em três igarapés localizados na
região do Distrito Industrial de Manaus.

O objetivo deste trabalho foi identificar e determinar os níveis das possíveis


fontes de poluição, bem como atribuir tendências nas mudanças de
comportamento na estruturação industrial e contribuir para a implementação de
tecnologias de controle da poluição.

A escolha por esse tipo de metodologia foi baseada na importância histórica


da presença espécies metálicas em águas superficiais que alguns estudos vêm
demonstrando, possibilitando o modelamento de emissões e deposição para as
estratégias de controle.

3
2. Revisão da Literatura

Desde os primórdios a natureza vem passando por uma série de modificações


para adequar aos processos pelos quais ela é submetida. Dentre esses processos está
a água, que cobre quase toda a extensão da Terra (ADRIANO, 2001). Esse líquido,
chamado solvente universal, possui propriedades físicas e químicas bem
características. Devido à elevada constante dielétrica, tem capacidade de reagir com
inúmeras substâncias fazendo com que água influencie diretamente nos processos
biogeoquímicos, aquáticos, atmosféricos, etc. (ANDREWS & KEGLEY, 1998).

A acidez da água é um fator importante na avaliação da sua capacidade em


neutralizar resíduos alcalinos ou no tratamento de água para alimentação de
caldeiras. A solubilidade de muitos minerais aumenta se os valores de pH forem
abaixo de 7,00, dependo da concentração desses metais no ambiente aquático pode
ocorrer uma contaminação (MANAHAN, 1999).

A variação de pH em ambientes aquáticos pode resultar de ácidos fortes ou


fracos de origem natural ou antrópica. Um dos mais importantes ácidos presentes no
ambiente aquático é o ácido carbônico. Este ácido é proveniente da dissolução de
rochas carbonáceas (calcários), da dissolução do CO2 da atmosfera e gerado pela
respiração dos organismos (BAIRD, 1995).

A alcalinidade natural geralmente provém de íons carbonatos, bicarbonatos e


hidróxidos, segundo as seguintes reações:

- +
HCO3 + H CO2 + H2O
2- + -
CO3 + H HCO3

- +
OH + H H 2O
Revisão da literatura

A capacidade de tamponamento em sistemas de águas naturais, em muitos


casos, está diretamente relacionada às chuvas ácidas. Alguns corpos d’água têm
maior resistência à chuva ácida do que outros. Águas de áreas de granito contém
normalmente muito poucos sais dissolvidos que podem agir como tampões. Assim, a
água tem baixa capacidade de tamponamento e é pouco provável que a acidez seja
atribuída à chuva ácida. Por outro lado, águas correntes de áreas calcáreas podem
neutralizar a acidificação devido à elevada concentração de carbonatos dissolvidos
na água (HOWARD, 1998).

Em sistemas naturais, a habilidade da água de armazenar calor e a energia


requerida para sua evaporação exerce importante função na preservação da
temperatura dos corpos d’água. É relativamente difícil alterar a temperatura da água
devido à sua alta capacidade calorífica (4,19 kJ kg–1 K-1) e temperatura de
vaporização (2.260 kJ kg-1) (HOWARD, 1998).

O aumento da temperatura provoca um decréscimo da quantidade de gases


dissolvidos na água, principalmente o oxigênio. Daí o surgimento de bolhas de ar
durante o aquecimento da água, antes mesmo de entrar em ebulição.

Os elementos traço são encontrados nos corpos d’água (Tabela 2.1). Muitos
desses elementos não permanecem solubilizados por muito tempo, e são acumulados
normalmente em sedimentos ou plantas. Para avaliar a poluição por elementos traço,
é necessário verificar a concentração, intervalo de tempo de introdução desses
metais, a forma física e química em que eles se encontram na natureza (Tabela 2.2).
Todos esses fatores inter-relacionados vão determinar as concentrações desses
elementos nos sistemas aquáticos, e sua disponibilidade relativa, distribuição e
toxidade. Em termos de biodisponibilidade, o fator mais importante é a forma
química em que o elemento se encontra em solução. A formação e a existência de
determinada forma química depende geralmente do pH, solubilidade, temperatura e
da natureza das espécies químicas (FIFIELD & HAINES, 1997).

5
Revisão da literatura

Tabela 2.1.- Concentrações de elementos traço em água pura, rios e oceanos.


Concentração (µg dm-3)
Elemento traço
Lagos Rios Oceano
Li 10 12 200
B 10 10 5000
Al 10 50 2
Ti 5 10 1
V 0,5 1 2,5
Cr 1 1 0,05
Mn 10 7 0,2
Fe 500 40 2
Co 0,05 0,2 0,02
Ni 0,5 0,3 0,5
Cu 3 5 2
Zn 15 20 10
As 0,5 2 3
Se 0,2 0,2 0,1
Br 15 20 7000
Rb 1 20 120
Sr 70 60 8000
Mo 0,5 1 10
Cd 0,03 0,02 0,1
Sb 0,2 0,3 0,2
I 2 10 60
Cs 0,02 0,04 0,1
Hg 0,07 0,007 0,03
Pb 1 3 0,03
Adaptada de FIFIELD & HAINES, 1997.

Dependendo da forma química os elementos traço podem ser extremamente


tóxicos, como é o caso do crômio. O Cr6+ pode provocar câncer pulmonar ao
contrário do Cr3+ que é praticamente inerte (HUHEEY et al., 1993). Alguns
elementos traço tornam-se mais biodisponíveis de acordo com o meio em que se
encontram. O Pb é um exemplo, sua concentração nas águas do mar e dos rios é
muito baixa. Entretanto, em condições ácidas, o Pb elementar pode ser liberado para
o meio através da reação:

2Pb + O2 + 4H+ → 2Pb 2+ + 2H2O


6
Revisão da literatura

A absorção de Pb é maior em águas contendo pouco bicarbonato de cálcio


devido à acidez dessas águas, e particularmente porque águas duras contêm ânions
formadores de sais de Pb insolúveis, como PbCO3 e PbSO4. Os sintomas por
intoxicação por Pb são anemia, anorexia, dores abdominais e distúrbios no sistema
neurológico (COX, 1995).

Tabela 2.2 – Espécies químicas mais comuns encontradas em águas naturais


Elementos Traço Espécies químicas
Li Li +
B B(OH)3, [B(OH)4]-
Al Al(H2O)6 3+ → Al(OH)4 -
Cr Cr(OH)2(H2O)4 +, CrO4-2, Cr3+, Cr6+
Mn Mn2+, Mn2+SO42-, MnCl+
Fe [Fe(OH)2]+, [Fe(OH)4]-
Co Co2+
Ni Ni2+
Cu Cu2+, Cu(OH)+, Cu2+SO42-, Cu2+CO32-
Zn Zn(OH)+, Zn(OH)2, ZnCl+, ZnCl2, ZnCO3, Zn2+
Se Se(IV), Se(VI)
Rb Rb+
Mo MoO42-
Cd CdCl+,CdCl2, CdCl3+,Cd2+
Cs Cs+
Hg HgCl2, HgCl3-, HgCl42-, HgOHCl, Hg(OH)2
Pb Pb2+, PbCO3, PbCl+, PbCl2, PbCl3-, Pb(OH)+,
Pb(OH)2, Pb(OH)3-, Pb(OH)42+, Pb4(OH)44+
Adaptada de FIFIELD & HAINES, 1997.

Existem cerca de vinte elementos que em níveis de traço são considerados


tóxicos para os humanos, entre eles o Hg, Cd, Pb, As, Mn, Tl, Cr, Ni, Se, Te, Sb, Be,
Co, Mo, Sn, W e V. Os 10 primeiros são utilizados na indústria e, por isso são os
mais estudados do ponto de vista toxicológico. Tais elementos reagem com
macromoléculas e com ligantes presentes em membranas. Essa propriedade permite

7
Revisão da literatura

a bioacumulação desses elementos e provoca distúrbios nos processos metabólicos


dos seres vivos (TAVARES & CARVALHO, 1992).

Os primeiros metais identificados como sendo bioacumulativos e tóxicos por


exposição ambiental foram o Hg, Pb e Cd, todos três pesados. Portanto, todos os
outros elementos apresentando tal comportamento foram enquadrados dentro desta
terminologia (MATTHEWS, 1984). Fazendo com que muitos autores relacionassem
o termo “metal pesado” com os efeitos tóxicos causados em plantas e animais.
Sendo assim, o selênio (semimetal), o flúor (ametal) e o alumínio (metal
extremamente leve) foram classificados erroneamente como metal pesado; (LAKE,
1987a e 1987b e EGREJA FILHO, 1993).

Para ROUSSEAUX (1989), os metais pesados são aqueles que podem formar
sulfetos insolúveis na presença de H2S. Porém, Zn, Cr e outros classificados como
metais pesados, não precipitam nessas condições (VOGEL, 1981). Existem ainda
autores que definem esses elementos baseando-se na densidade. Segundo
TAVARES & CARVALHO (1992), metal pesado é aquele que apresenta alto peso
específico. COKER & MATTHEWS (1983) consideram metal pesado aquele cuja
densidade é superior a 5,0 g cm-3, totalizando aproximadamente 40 elementos.
GARCIA, et al. (1990) estabelecem uma densidade mínima de 4,5 g cm-3 para que o
metal seja classificado como pesado.

De qualquer forma, metal pesado não significa necessariamente metal tóxico,


já que muitos são essenciais à vida na terra, encontrando-se geralmente em
concentrações naturais na faixa de ppm ou ppb. Outros não exercem nenhuma
função conhecida no ciclo biológico e estão na faixa de ppb ou ppt. Entretanto, em
ambos os casos, a presença de concentrações de metais pesados, acima das naturais,
passa do tolerável ao tóxico.

Do ponto de vista biológico, os elementos traço são melhores classificados


como essenciais, não-essenciais e tóxicos. Para o ser humano, os essenciais são
aqueles que causam anomalias em caso de deficiência: As, Co, Cr, Cu, F, Fe, Mn,
8
Revisão da literatura

Mo, Ni, Se, Si, Sn, V e Zn. Alguns elementos não essenciais encontrados nos fluidos
e tecidos do corpo são: Li, B, Ge, Rb, Sr. E o Cd, Hg e Pb são classificados como
tóxicos (COX, 1995).

Além dos processos naturais que ocorrem nas águas, existe também o homem,
adicionando condições diferentes ao meio ambiente. No passado as modificações
eram realizadas sem nenhum critério com diversos modelos de desenvolvimento.

Os modelos de desenvolvimento adotados pelo homem para a agricultura, a


pecuária, a indústria e os centros urbanos não levaram em conta o ambiente. Nas
últimas décadas, as substâncias químicas de origem antrópica têm sido uma das
principais preocupações dos programas de monitoramento ambiental em todo o
mundo. Especialmente em ambiente aquático, onde se tem verificado a presença de
uma série de produtos orgânicos e inorgânicos provenientes de atividades industriais
e agrícolas, bem como do processo de urbanização na área das bacias hidrográficas
(YABE & OLIVEIRA, 1998 e RESENDE et al.,1997).

2.1. Características físicas e químicas em ambientes aquáticos

Os vários tipos de rochas têm sido continuamente sujeitos a vários processos


físicos e químicos, os quais resultam na formação de camadas de solo ou sedimento.
Estes por sua vez transformam-se em substratos terrestres e aquáticos para plantas,
que absorvem, deslocam e, em alguns casos, acumulam elementos para o seu
desenvolvimento. Ao longo de todo esse percurso natural, a água é importante fonte
de transporte de elementos traço.

O ambiente aquático envolve os organismos vivos e em decomposição,


substâncias químicas dissolvidas ou adsorvidas, sedimento e solo em contato com a
água e material particulado em suspensão. Este último componente exerce grande
influência na distribuição e biodisponibilidade de metais pesados.
9
Revisão da literatura

Define-se como material particulado em águas, a fração de sólidos em


suspensão, retidos por um filtro de membrana de 0,45 µm, enquanto que o filtrado
contém os chamados “íons dissolvidos”. Esta é uma definição operacional já que
existem partículas com diâmetros menores em água, seja de natureza inorgânica
(argila e outros silicatos; oxihidratos de Fe, Al, Mn) ou orgânica (bactérias,
polissacarídeos, compostos húmicos) (MIEKELEY, 1991).

A argila é considerada a mais importante classe dos minerais que ocorrem


como matéria coloidal em ambientes aquáticos, sendo constituída basicamente de
alumínio hidratado e óxido de silício (Al2(OH)4Si2O5). O Fe e o Mn geralmente
estão associados aos minerais presentes na argila, principalmente na caulinita.
Quando esses minerais formam uma camada externa de carga negativa, os íons
metálicos são atraídos e substituem o Al3+ e o Si4+ (MANAHAN, 1999).

O material particulado suspenso é um agregado de componentes bióticos e


abióticos. Em muitos sistemas representa algumas combinações de material
inorgânico como argila, óxidos e hidróxidos metálicos, e matéria orgânica
(GRASSI, 2000). Devido à sua considerável área superficial e densidade de sítios
ativos, algumas dessas espécies particuladas possuem alta capacidade de sorção para
íons metálicos e outras espécies.

Os íons metálicos polivalentes têm um elevado potencial iônico e forte


tendência à hidrólise, são os que mais fortemente se associam ao material
particulado. A associação de um íon metálico às partículas em suspensão pode
ocorrer de forma irreversível. Isso faz com que a matéria particulada apresente
propriedades química e de transporte muito distintas, quando comparada com a
fração em solução, sendo considerada quimicamente a mais reativa (MIEKELEY,
1991).

Todas as águas naturais contêm matéria orgânica. Proteínas, aminoácidos,


gorduras, ligninas, restos de plantas e animais, entre outros, são decompostos
continuamente, tanto durante a vida dos organismos quanto durante a sua

10
Revisão da literatura

deteriorização. Os produtos de degradação e os compostos formados pela


reassociação desses fragmentos geram uma mistura de complexos de compostos
orgânicos dissolvidos em água. Essa matéria orgânica abrange um grande intervalo
de peso molecular, desde as totalmente solúveis de baixo peso molecular até os
polímeros, colóides e partículas naturais de alto peso molecular (HOWARD, 1998).

Em alguns casos são naturais, em outros têm sido introduzidas por fontes
externas como esgotos, poluição industrial e resíduos atmosféricos. A matéria
orgânica natural dissolvida em água é proveniente do produto de transformação de
material biogênico e excretas de organismos vivos, que são decompostos em
substâncias menores por bactérias e processos químicos (HOWARD, 1998).

Geralmente é aceitável que a maioria das partículas, em sistemas aquáticos


ricos em matéria orgânica, seja retida principalmente pelas substâncias húmicas
(TIPPING, 1981). A matéria orgânica natural contém sítios hidrofóbicos e
hidrofílicos. Preferencialmente as estruturas hidrofílicas das substâncias húmicas são
agrupadas às partículas superficiais. Os sólidos suspensos naturais usualmente têm
uma camada orgânica particulada, que corresponde de 2 a 3% dos sólidos totais
(GRASSI et al., 2000).

Estudos a cerca da estrutura da matéria orgânica mostram uma complexa


mistura de moléculas aromáticas pobres em nitrogênio, altamente ácidas e derivadas
dos tecidos das plantas. A caracterização de matéria orgânica dissolvida em água
envolve várias propriedades químicas como peso molecular, capacidade de interação
do metal, técnica espectroscópica e composição do elemento.

A determinação de matéria orgânica particulada em água geralmente abrange


várias características como composição química e distribuição de carbono estável,
ou em análises de grandes classes de compostos como carboidratos ou aminoácidos.
(HEDGES, 1994).

11
Revisão da literatura

Igualmente às partículas de solo, os sólidos suspensos em água naturais


também têm características superficiais dependentes de pH, que influenciam na
reação com prótons e com certos grupos funcionais de substâncias húmicas
(EVANS, 1989 e SPOSITO, 1984). Dessa forma o pH é um fator importante na
solubilidade e disponibilidade de metais no ambiente aquático, além de exercer forte
influência na adsorção de metais em superfícies de óxidos e hidróxidos de Fe e Mn.

De maneira geral, a solubilidade dos metais diminui com o aumento do pH.


GRASSI, et al. (1997) analisando amostras de água observaram que um maior
percentual de Cu permanece em solução sob valores de pH mais baixos. Cerca de
75% do Cu estava presente na fase dissolvida em pH 3,00 enquanto que na faixa de
pH entre 7,00 e 9,00 a absorção do metal no material particulado é máxima,
atingindo 99%.

SILVA, et al. (2000) compararam a capacidade de complexação do Cu em


ambientes aquáticos diferentes, analisando a influência do pH e do material
particulado e dissolvido. Os resultados mostraram que: i) os ambientes compostos
de águas pretas apresentaram menor capacidade de complexação, apesar do alto teor
de matéria orgânica; ii) os rios de águas brancas, com variáveis físico-químicas
semelhantes, apresentaram capacidade de complexação bastante diferenciadas e iii)
variação da capacidade de complexação em amostras filtradas e não filtradas. Esses
fatores indicam que o tipo de material particulado presente no meio exerce grande
influência no mecanismo de interação entre o Cu e os sítios de ligação.

GRASSI, et al. (2000), analisaram a partição do Cu usando uma camada de


óxido de alumínio nos ácidos húmicos como um modelo de fase aquática. Mostrou
a forte influência do pH, concentração de sólidos e concentração de matéria orgânica
na adsorção desse metal pesado. Observaram também que a maior adsorção de Cu
ocorre quando o pH está próximo do neutro, a quantidade de matéria orgânica
particulada e a concentração de sólido são elevadas.

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Revisão da literatura

Os tributários do rio Amazonas, com baixa concentração de sólidos


dissolvidos, apresentou teores de Cu variando entre 6 e 37 nmol kg-1 em estudo
realizado por BOYLE (1979). As maiores concentrações foram encontradas
próximas a foz do rio Amazonas e na região de Napo, sendo neste último caso
proveniente do intemperismo da região montanhosa do Equador.

A partição de Zn e Pb em amostras de rio foi analisada por MÜLLER & SIGG


(1990) citado por GRASSI, et al. (2000). As constantes de estabilidade condicional,
capacidade de ligação e coeficientes de distribuição indicaram comportamentos
semelhantes entre os dois metais. Os componentes responsáveis pela adsorção às
partículas foram identificados como matéria orgânica e óxidos de Fe e Mn.

2.2. Contaminação por metais pesados em ambiente aquáticos no


Brasil

O Brasil é um país privilegiado por possuir uma infinidade de riquezas


naturais, principalmente com respeito à quantidade de água. Devido à falta de
cuidados, a contaminação por metais pesados praticamente se espalhou por todo o
país. Desde do evento da ECO 92 (Conferência das Nações Unidas para o
Desenvolvimento e Meio Ambiente – realizada no Rio de Janeiro), o interesse dos
pesquisadores brasileiros sobre os níveis de contaminação por esses elementos vem
crescendo rapidamente. Em praticamente todas as universidades federais existe pelo
um pesquisador que determina as concentrações de metais pesados em diversos
materiais (cabelo, solos, sedimentos, água, aço, etc.). Especificamente sobre a
determinação de metais pesados em águas brasileiras existem diversos trabalhos
publicados na literatura.

Em 1995, JORDÃO, et al. atribuíram as altas concentrações de Zn, Cd, Pb e


Cu, principalmente à contaminação industrial, não sendo descartado a poluição de

13
Revisão da literatura

esgotos domésticos e outras fontes antrópicas nas águas do Igarapé das Três Pontes
(MG).

O rio Piracicaba, localizado também em Minas Gerais, foi estudado por


OBERDÁ, et al. (1995), que encontraram Cd em uma concentração cerca de 40
vezes acima do permitido pelo CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente -
Resolução 20/86).

AMARAL & CAMPOS (1995) verificaram os níveis de contaminação por Cd,


Pb e Al na água de consumo da cidade de Campos (RJ), rio Paraíba do Sul. O estudo
foi realizado utilizando a espectrometria de absorção atômica, cujos resultados
revelaram apenas o Al 3 vezes acima dos limites permitidos pelo Conselho Nacional
de Meio Ambiente.

YABE & OLIVEIRA (1998) estudando a bacia do Igarapé Cambe (Londrina –


Norte do Paraná) observaram que durante todo ano de 1997 no percurso do Igarapé
havia a presença sistemática dos elementos Pb, Ni, Cd, Cr e Cu, introduzidos por
fontes provenientes da urbanização e industrialização. Esses autores também
encontraram os elementos Fe, Al, Mn, Ca e Mg, existentes em partículas, que eram
transportadas pelas águas do Igarapé.

ANDRADE, et al. (1998) estudando os efeitos causados pelo despejo de


indústrias têxteis no Rio Piautinga (Sergipe) verificaram que a entrada dos efluentes
causa eutrofização do sistema, ocorrendo a desnitrificação e perda de nitrogênio para
a atmosfera como N2, N2O e NH3. Essas características fizeram com que a
população de fitoplancton fosse reduzida.

JORDÃO, et al. (1999) estudaram a emissão de crômio nas águas de igarapés


próximos a indústrias de curtumes da Zona da Mata (Minas Gerais). Os seus
resultados mostraram que essas indústrias estão contaminando as águas dos igarapés
da região. Os coeficientes de distribuição obtidos indicam que boa parte do
transporte desse elemento se deve às formas insolúveis.

14
Revisão da literatura

Na ilha de Santa Catarina, localizada geograficamente distante das maiores


fontes antrópicas de metais, sujeita apenas a fontes pontuais de contaminação
(esgotos domésticos, aterro sanitário, uso de pesticidas, tintas utilizadas pelos
barcos-anti-encrustantes), foram detectados concentrações muito altas de Cu e Cd,
não complexados e complexados com ligantes orgânicos existentes na águas
(BENDO et al., 2000).

LIMA, et al. (2000) estudaram as concentrações de Cu e Pb no rio Tubarão


(SC), os seus resultados mostraram que a biota aquática desse Rio estava totalmente
modificada devido aos níveis de contaminação pelos dois elementos. Em
praticamente todos os pontos coletados os dois metais pesados foram encontrados.
Nas conclusões do trabalho revelam que o lazer, turismo e a produção de camarões
estavam muito prejudicados.

GRAÇA, et al. (2000) avaliaram a quantidade de Fe total e Cd em amostras


de água do Igarapé do Pântano (Alfenas – MG) chegaram a conclusão de que as
concentrações de Cd estavam acima dos limites permitidos pelo CONAMA. As
causas dessa contaminação foram atribuídas a atividade têxtil da região.

2.2.1. Poluição de metais pesados em Manaus

A micro bacia do Igarapé do Quarenta, possui 38 Km de extensão, largura


média de 6 metros, profundidade média de 50 cm e uma área total de
aproximadamente 4.320 hectares (SOUZA, 1999).

O Igarapé do Quarenta faz parte da Bacia Hidrográfica de Educandos, tem


nascente no bairro do Zumbi, a nordeste da cidade de Manaus e foz localizada
próximo à Avenida Sete de Setembro, à sudoeste de Manaus. Neste ponto ocorre o
encontro com os Igarapés da Cachoeirinha e do Mestre Chico, formando então a
Bacia de Educandos, a qual deságua no Rio Negro (VALLE, 1999).

15
Revisão da literatura

Desde 1900, com o período áureo da borracha, os igarapés de Manaus vêm


sendo utilizados para processos de ocupação humana. Especialmente a partir da
criação da Zona Franca em 1967 e da instalação do Distrito Industrial esse processo
no Igarapé do Quarenta foi intensificado, totalizando 1.128 habitantes em 1998
(SOUZA, 1999).

Desde o início da década de 90 vários estudos têm sido realizados neste


Igarapé, principalmente na área do Distrito Industrial. Os resultados obtidos até o
momento mostram que as principais características físicas e químicas, tanto do meio
biótico como do meio abiótico, estão alteradas.

Uma das principais preocupações é a presença de metais pesados, os quais


podem ser absorvidos por elementos constituintes desse ecossistema, como por
exemplo, a vegetação. Todas as plantas respondem a aumentos na concentração de
metais pesados de acordo com a sensibilidade individual, intensidade de exposição e
a forma em que o metal se encontra (BAKER & WALKER, 1989).

Estudos revelam que certas plantas aquáticas são capazes de absorver, através
de suas raízes, substâncias orgânicas, nutrientes e metais. A espécie de aguapé
Eichhomia crassipes é a que apresenta maior capacidade de absorção de vários
metais (LEITE & SANTOS, 1997).

Análises químicas de duas gramíneas (Dichorisandra –sp e Paspalum – sp),


coletadas ao longo das margens do Igarapé do Quarenta, mostraram que o Fe, Zn,
Cu, Mg e Ca apresentaram teores significativos, distribuídos entre as três partes das
plantas (raiz, caule e folhas). O Cu apresentou concentrações mais elevadas nas
raízes, o Fe nas raizes e caulees, o Mg nas folhas e o Zn, Cr e Pb nas três partes das
plantas. De maneira geral, a distribuição dos metais pesados mostrou predominância
de Zn na primeira coleta (fevereiro/1999) e de Fe na segunda coleta (maio/1999). Os
resultados indicaram também que o Cu e o Zn estavam sendo absorvidos em teores
acima dos necessários para as gramíneas (CASTRO & SANTANA, 2000).

16
Revisão da literatura

Os metais pesados Cu, Cr, Zn, Cd e Pb foram determinados por SILVA (1992)
em duas espécies de peixes do Igarapé do Quarenta. Uma das espécies era carnívora
(Hoplias malabaricus) e a outra detritívora (Hoplosternum littorale). Os teores de
Cd e Pb não indicaram contaminação evidente, sendo encontrados apenas em um
dos quatro meses de coleta. As concentrações mais elevadas foram de Zn (81,46
µg.L-1) e Cu (79,48 µg.L-1). Os teores de metais pesados encontrados nos peixes
mostraram-se bastante superiores aos encontrados nas mesmas espécies de peixes
estudadas em igarapés não contaminados.

Desses elementos, o que mais preocupa é o Cu, pois a concentração máxima


permitida pela Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária é de 30,0 µg.L-1. O
mesmo autor ressalta ainda, a alta toxidade de Cu na biota aquática do Igarapé do
Quarenta, pois as várias formas desse metal causam efeito tóxico diretamente em
algumas espécies aquáticas, enquanto outras são afetadas indiretamente por
mudanças nas interações das comunidades.

SILVA (1996) determinou a concentração de metais pesados (Fe, Mn, Cr, Cu,
Co, Ni, Cd e Zn) em sedimento de fundo e material em suspensão do Igarapé do
Quarenta e Igarapé do Barro Branco (não poluído). Os elementos Fe e Mn não
mostraram enriquecimento e nem acumulação nos ambientes estudados. Segundo o
autor, isso se deve, provavelmente, à facilidade em serem adsorvidos ao material
particulado, principalmente às partículas cristalinas, sendo transportados ao longo
dos igarapés.

Esse estudo mostrou, ainda, que os metais Cr, Cu, Ni, e Zn, contidos no
material em suspensão do Igarapé do Quarenta, possuíam valores de concentração
acima dos encontrados nessa mesma região, sugerindo a influência antrópica das
indústrias de galvanoplastia na contaminação deste igarapé.

Em relação aos sedimentos de fundo, a partição geoquímica do Zn mostrou que


esse metal encontrava-se associado principalmente aos óxidos e hidróxidos de Fe-
Mn. E que aproximadamente 90% do Cu estava disponível para ser incorporado pela
17
Revisão da literatura

biota aquática. Este elemento não mostrou tendência a se acumular no perfil dos
sedimentos indicando, mais uma vez, sua alta disponibilidade biológica no Igarapé
do Quarenta.

Esses dados supõem uma relação entre os trabalhos de SILVA (1992) e SILVA
(1996). Baseando-se no fato de o Cu geralmente estar associado às partículas
potencialmente móveis e, segundo CAMPOS (1990) citado por SILVA (1992), tais
partículas constituírem a principal fonte de alimentos de peixes detritívoros, pode-se
considerar o Cu como um dos principais agente poluidores do Igarapé do Quarenta.

VALLE (1998) em uma avaliação física e química dos solos da bacia do


Igarapé do Quarenta, determinou a concentração dos metais pesados Co, Cr, Cu, Fe,
Mn, Ni, Pb e Zn, na fração trocável em dois períodos de amostragem. Os resultados
revelaram que no período de estiagem (setembro/1997) os teores de Cu e Pb
estavam acima dos encontrados em solos da mesma região. Essas concentrações
mostraram-se menores no período chuvoso (maio/1997). Em contrapartida, o Zn
apresentou níveis mais elevados no período seco, devido à redução do volume de
água.

Em suas conclusões, VALLE (1998) não considerou alguns parâmetros que


interferem na mobilidade dos metais pesados presentes no solo. Segundo VAN PUT
et al. (1994) (citado por NÚÑEZ et al., 1999) a liberação de metais pesados do solo
pode ocorrer através de mudanças físico-químicas no meio, tais como: força iônica,
pH e potencial de oxirredução. Desses processos, os dois últimos são os mais
importantes na solubilidade dos metais adsorvidos na superfície de óxidos de Fe e
Mn.

SAMPAIO (2000) realizou a caracterização física e química dos sedimentos de


cinco igarapés na área do Distrito Industrial. Os metais Fe, Zn, Mn e Cu foram
determinados na fração total dos sedimentos, sendo a maior parte associada à fração
trocável (pH entre 2,60 e 10,0). Somente o Fe estava presente em todas as frações
trocável nas diversas faixas de pH, principalmente no intervalo de 2,00 - 3,00.
18
Revisão da literatura

Esse estudo revelou também que, ao contrário do Fe, a distribuição de Zn não


foi permanente em todos os intervalos de pH, sendo a maior concentração em pH
4,00 – 6,00. Isso de deve à solubilidade do Zn2+ que depende da constante de
equilíbrio da reação (LINDSAY, 1979):

em que

As várias formas em que o Zn pode estar presente no ambiente aquático


possibilitam a mobilidade desse metal dependendo do pH. Isso porque o Zn(OH)2 é
solúvel tanto em meio ácido, quanto em meio básico formando zincatos
(ALEXÉEV, 1982).

Zn2+ + 2OH Zn(OH)2

Zn(OH)2 + 2H+ Zn2+ + 2H2O


ou
H2ZnO2 + 2OH- ZnO22- + 2H2O

Finalmente, SAMPAIO (2000) determinou também os metais pesados Cu, Cd,


Zn, Mn, Fe, Pb e Cr em água dos mesmos igarapés. Os metais Cu, Mn e Fe estavam
presentes em praticamente todos os pontos de coleta em níveis acima dos permitidos
pela resolução 020/86 do CONAMA. O Fe é o que apresenta maiores concentrações,
seguido do Cu e Mn. O Zn foi encontrado somente em dois igarapés e o Cr em

19
Revisão da literatura

apenas um igarapé, ambos em teores acima dos recomendados pelo CONAMA. O


Cd e o Pb estavam abaixo do limite de detecção da técnica.

Esse trabalho ressalta ainda que as águas, anteriormente classificadas como


escuras, hoje se enquadram nos critérios de águas claras, devido à redução dos
teores de matéria orgânica e aumento dos valores de pH.

Segundo SIOLI (1985), a característica natural da água do Igarapé do Quarenta


corresponde aos rios de água preta. Essa característica ainda pode ser observada na
área da nascente até as proximidades do Bairro Armando Mendes II. A partir desse
ponto a coloração da água sofre alterações quando recebe dejetos dos conjuntos
habitacionais e do Distrito Industrial.

20
3. Metodologia

3.1. Coleta das amostras

Para a realização deste trabalho foram coletadas nos meses de maio, julho,
setembro e novembro de 2000, amostras de água em 3 igarapés afluentes do Igarapé
do Quarenta, localizado na região do Distrito Industrial de Manaus. Como os
igarapés não tinham nomes oficiais, neste trabalho receberam a designação de 03, 04
e 05, conforme mostra a Figura 3.1. O Igarapé 03 está localizado próximo à rua
Cupiúba, o Igarapé 04 próximo à rua Ipê e o Igarapé 05 está situado próximo à rua
Abiurana.

Figura 3.1– Região onde foram coletadas as amostras de água.


Metodologia

Em cada igarapé foram escolhidos 10 pontos de coleta distantes 50 m um do


outro. A maior parte desses pontos de amostragens foi escolhida na área do Distrito
Industrial e alguns nas proximidades do Igarapé do Quarenta. Assim poder-se-ia
avaliar a distribuição das substâncias ao longo de cada igarapé e verificar suas
contribuições para o Igarapé do Quarenta.

As amostras de água foram coletadas em uma profundidade de 10 cm,


armazenadas em garrafas plásticas de polietileno, previamente lavadas com HNO3, e
levadas imediatamente ao laboratório para análises posteriores. Somente os valores
de temperatura foram medidos em campo.

O clima da região amazônica é quente e úmido, pois devido à sua baixa


latitude, os raios solares tendem à verticalidade em todas as épocas do ano. Portanto,
a região possui duas estações bem definidas: seca e chuvosa, reguladas pela
pluviosidade e não pela temperatura. A estação chuvosa tem início em novembro
estendendo-se até o mês de abril. Os outros meses do ano são caracterizados pela
estação seca, quando predominam chuvas de caráter convectivo geralmente de
grande intensidade e curta duração (DINIZ, 1986).

O índice pluviométrico mensal medido pelo Instituto Nacional de


Meteorologia durante o ano de 20001 foi bastante variado e pode ser observado na
Figura 3.2. Os valores de temperatura obtidos pelo mesmo Instituto apresentaram
caráter crescente no decorrer do ano, sendo os maiores valores observados no
período de seca (Figura 3.3).

1
Dados obtidos através do endereço eletrônico: www.inmet.gov.br
22
Metodologia

500
450
400
Pluviosidade (mm)

350
300
250
200
150
100
50
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses

Figura 3.2 – Índice pluviométrico (mm) do ano de 2000 em Manaus, medido pelo
Instituto Nacional de Meteorologia.

28,5
28,0
Temperatura ( oC)

27,5
27,0
26,5
26,0
25,5
25,0
24,5
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses

Figura 3.3 – Temperatura média (ºC) do ano de 2000 em Manaus, medida pelo
Instituto Nacional de Meteorologia.

23
Metodologia

3.2. Procedimento

Algumas análises foram realizadas em amostras não filtradas e outras em


amostras filtradas em membrana HA, em éster de celulose com 0,45 µm de poro e
47 mm de diâmetro. Nas amostras não filtradas foram medidos os valores de pH,
matéria orgânica e metais pesados. Nas amostras filtradas foram determinadas
somente as concentrações de metais pesados.

3.2.1. Determinação de pH

Os valores de pH das amostras não filtradas foram medidos no mesmo dia da


coleta utilizando-se pHmetro digital HANNA instruments.

3.2.2. Determinação de Matéria Orgânica Total

Os teores de matéria orgânica das amostras não filtradas também foram obtidos
no mesmo dia da coleta , utilizando-se a determinação por dicromatometria com o
seguinte procedimento (BAUMGARTEN et al., 1996):

3.2.2.1. Volatilização dos cloretos da amostra - mediu-se 50 mL da


amostra de água em pipeta volumétrica e transferiu-se para um
erlenmeyer, onde se adicionou 1 mL de H3PO4 concentrado, sendo
imediatamente aquecido a 105 ± 5 oC por 30 minutos;

3.2.2.2. Oxidação e titulação da amostra - adicionaram-se ao


erlenmeyer contendo a amostra 10 mL da solução oxidante
(K2Cr2O7/H2SO4 a 0,100 mol L-1) e aqueceu-se por mais 60
minutos. O erlenmeyer foi deixado em repouso até completo

24
Metodologia

resfriamento e, posteriormente a mistura foi titulada com sulfato


ferroso amoniacal, usando a difenilamina como indicador;

3.2.2.3. Determinação do branco - mediu-se 50 mL de água destilada


em pipeta volumétrica, transferiu-se para um erlenmeyer, seguindo
os procedimentos de volatilização de cloretos e de oxidação e
titulação da amostra;

3.2.2.4. Determinação do rendimento do processo de oxidação -


utilizou-se uma solução padrão de glicose pura (C6H12O6) e
prosseguiu-se a análise a partir do processo de oxidação e titulação
da amostra. A alíquota utilizada no processo corresponde à 1.200
µg de carbono de glicose. Este valor foi utilizado para o cálculo da
concentração de carbono orgânico total.

3.2.3. Determinação de metais em água por Espectrometria de


Absorção Atômica.

Para esta análise foram utilizadas amostras não-filtradas e amostras filtradas.

Uma alíquota de 100 mL de cada amostra de água foi transferida para um


béquer de 250 mL. O volume da amostra foi reduzido à quarta parte em chapa
aquecedora, a uma temperatura de 110 ± 5 oC. Adicionaram-se 10 mL de HNO3
concentrado ao béquer e aqueceu-se novamente. O volume final do béquer foi
transferido para um balão de 25,0 mL e seu volume completado com água
desionizada. As amostras foram armazenadas em recipientes plásticos de PVC,
previamente limpos com HNO3, para determinação dos metais.

Os metais Zn, Mn, Fe, Cr, Ni, Pb, Cu e Cd, foram analisados por
espectroscopia de absorção atômica (Perkin Elmer, modelo ASS 3300) pelo método

25
Metodologia

direto. Na determinação de todos os elementos foi utilizado corretor de fundo e


chama de ar/acetileno.

3.2.4. Espectroscopia na região do infravermelho

Os resíduos retidos nas membranas 0,45 µm foram secados em estufa a 100 oC


por duas horas, resfriados em dessecador e determinados na forma de discos
prensados com KBr. Esses discos foram preparados pela mistura pulverizada em
gral de ágata, com cerca de 1,00 mg de amostra e 100,0 mg de KBr.

Os espectros foram obtidos em um aparelho Perkin Elmer FT-IR Spectrum


2000, sendo efetuadas em média 10 varreduras de 400 a 4000 cm-1, com resolução
espectral de 4 cm-1.

26
4. Estudo do Igarapé 03

4.1. Descrição dos locais de coleta

As quatro coletas foram caracterizadas pela presença de águas escuras com


gramíneas e aguapés nas margens do Igarapé 03, além de odor desagradável de
esgoto em toda sua extensão. Alguns pontos de coleta encontravam-se poluídos com
lixo principalmente plásticos, sacos de polipropileno, isopor, pneu, papelão, etc. Os
pontos de coleta 4, 5 e 6 diferenciavam dos outros locais de amostragem por estarem
localizados em área encharcada, cujo leito possuía maior profundidade e maior
quantidade de aguapés nas margens.

Algumas peculiaridades quanto à vegetação, odor e cor da água e presença de


espuma, observadas durante as coletas, são mostradas no Quadro 4.1.

Quadro 4.1 – Características de alguns pontos de coleta do Igarapé 3 observadas


durante as coletas.

Coleta Descrição

Primeira Água marrom, com espuma (pontos 2 e 3), área encharcada


com aguapés e gramíneas ao redor (pontos 4 a 7) e água clara
(maio) com óleo e forte odor de solvente (ponto 9 – Figura 4.1 a).

Segunda Água marrom com algumas algas na superfície e aguapé nas


margens do Igarapé. Presença de espuma após queda d´água
(julho) no ponto de coleta 3 (Figura 4.1 b)

Terceira Maior quantidade de aguapé nas margens e algas na superfície


(ponto 4 – Figura 4.1 c). Igarapé menos encharcado e com
(setembro) leito mais estreito (pontos 4 a 7).

Quarta Superfície do Igarapé completamente coberta com algas e


(novembro) predominância de aguapé nas margens (Figura 4.1 d).
Estudo do Igarapé 03

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.1 – Características do Igarapé 03 – (a) Presença de óleo durante a


primeira coleta, (b) presença de espuma (c) área encharcada com
algumas algas e (d) grande quantidade de algas na superfície do
Igarapé.

28
Estudo do Igarapé 03

4.2. Resultados e discussão

No Igarapé 03 os pontos de amostragem 8, 9 e 10 são locais utilizados para


despejo de rejeitos de algumas indústrias do Distrito Industrial de Manaus. A Tabela
4.1 mostra os resultados de alguns parâmetros físicos e químicos obtidos na coleta
realizada em maio (primeira coleta).

Os valores de pH variaram de 6,60 a 7,05 ao longo do Igarapé 03. Os pontos de


coleta 8, 9 e 10 apresentaram valores de pH dentro dos limites exigidos pelo
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) resolução No 020/861 (Apêndice
01) para lançamentos de efluentes nos corpos d’água.

Tabela 4.1- Alguns parâmetros físicos e químicos do Igarapé 03 obtidos durante a


primeira coleta (maio).

Pontos de coleta M.O. (mg L-1) Temperatura (oC) pH


1 11,1 (1,0) 26,0 6,89
2 11,1 (8) 26,0 6,92
3 9,40 (9) 26,0 6,91
4 11,9 (7) 26,0 6,72
5 15,9 (6) 26,0 6,75
6 9,23 (8) 26,0 6,73
7 5,90 (7) 26,5 6,69
8* 22,7 (8) 28,0 6,60
9* 24,0 (0) 30,0 7,05
10* 9,15 (7) 32,0 6,67
*Próximo a esgoto industrial M.O. = matéria orgânica
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata
O sentido do fluxo do Igarapé é do ponto de coleta 10 ao ponto de coleta 1

1
Todas as citações do CONAMA nesta dissertação referem-se à Resolução No 20 de 18 de junho de 1986.

29
Estudo do Igarapé 03

Todos os valores de pH determinados na água do Igarapé 03 estão acima dos


encontrados em igarapés naturais existentes em Manaus desde a década de 50.
SIOLI (1956 e 1968), citado por SILVA (1996), encontrou valores de pH entre 3,7 e
7,8. SHIMIDT (1972) e CAMPOS (1994) encontraram valores de pH variando de
3,3 a 5,9 em igarapés da rodovia BR-174 nas proximidades de Manaus. SILVA
(1992) estudando o Igarapé do Candirú encontrou valores de pH entre 4,2 e 5,5.
SILVA (1996) encontrou valores de pH entre 3,7 e 5,5 no Igarapé do Barro Branco
situado na Reserva Florestal Adolfo Ducke. E SAMPAIO (2000) encontrou valores
entre 4,30 e 6,73 nos igarapés do Distrito Industrial.

Ao comparamos os resultados determinados para o pH (Tabela 4.1) com os


valores de igarapés que sofreram ação antrópica na cidade de Manaus (Tabela 4.2),
verifica-se que os igarapés do Distrito Industrial possuem valores de pH mais
elevados. Vale ressaltar o tipo de atividade antrópica nessa região. No Distrito
Industrial, uma das principais fontes de poluentes é a galvanoplastia, cujo processo
industrial envolve soluções básicas.

Tabela 4.2- Valores de pH encontrados em Igarapés de Manaus que sofrem a ação


da atividade antrópica.

Igarapé Faixa de pH Referência


Matrinxã 4,50 – 6,85 BARRONCAS (1999)
Bolívia 5,97 – 6,49 BARRONCAS (1999)
Região do Distrito* 4,43 – 5,83 SAMPAIO (2000)
Quarenta 6,55 – 6,73 SAMPAIO (2000)
Quarenta 4,90 – 6,40 SILVA (1996)
Quarenta 6,00 – 6,25 SILVA (1992)
Puraqueqara** 4,70 – 5,30 GOMES et al (1999)
* Igarapés existentes no Distrito Industrial
** Bacia Hidrográfica

30
Estudo do Igarapé 03

Durante a primeira coleta a temperatura da água permaneceu estável em


26,0 oC ao longo do Igarapé 03 (pontos de coleta 1-7). Nos pontos de coleta 8, 9 e
10 a temperatura aumentou de 2 a 6 oC. Esses resultados são comparáveis aos
encontrados há quatro anos no Igarapé do Quarenta, que tem o Igarapé 03 como
afluente. SILVA (1996) observou valores mínimos de 27,5 ± 1,0 oC e valores
máximos de 28,0 ± 0,8 oC no Igarapé do Quarenta. Sendo os maiores valores
encontrados próximos a Secretaria de Educação do Amazonas (SEDUC-AM), onde
não havia cobertura vegetal e as menores temperaturas próximas ao conjunto
residencial Nova República, onde existiam espécies de palmeiras.

Outro parâmetro que estava alterado neste Igarapé era a quantidade de matéria
orgânica total na água (Tabela 4.1). Os teores encontrados são baixos em relação a
quantidade de matéria orgânica presente em águas pretas (26,6 mg L-1 – SHIMIDT,
1972), comuns em igarapés naturais de Manaus. Comparando os teores de matéria
orgânica dos pontos de amostragem 1 e 2 com os valores encontrados por
SAMPAIO (2000) no mesmo local, 12,9 mg L-1 verifica-se que os valores não
variaram significativamente.

As análises químicas de alguns metais pesados foram realizadas na frações


filtrada em filtro de 0,45 µm de poro e na fração não filtrada. O objetivo desse
procedimento foi verificar a variação na composição química dos colóides presentes
na água. Uma vez que existe uma grande variedade de substâncias orgânicas,
materiais inorgânicos e poluentes que ocorrem nesta forma em águas naturais e
esgotos em geral (MANAHAN,1999).

Na análise química dos metais (Fe, Zn, Mn, Ni, Cu, Cr, Pb e Cd), realizada em
maio, as concentrações de Cu, Cr, Pb e Cd estavam abaixo do limite de detecção da
técnica. A Tabela 4.3 mostra os resultados encontrados para o Fe, Zn e o Mn.

31
Estudo do Igarapé 03

Tabela 4.3- Teores médios em mg L-1 de Fe, Zn e Mn nas amostras de água filtradas
e não filtradas do Igarapé 03, obtidos na primeira coleta (maio).

Pontos de Fe Zn Mn

coleta NF F NF F NF F
1 18,3 (0) 0,301 (50) n.d. n.d. 0,190 (27) n.d.
2 16,9 (5) n.d. 0,261 (43) n.d. 0,144 (21) n.d.
3 21,7 (3) n.d. 0,169 (30) n.d. 0,235 (0) n.d.
4 20,2 (0) 0,214 (203) 0,145 (0) 0,137 (0) 0,203 (0) n.d.
5 15,8 (0) 0,214 (186) n.d. n.d. 0,176 (0) 0,153 (21)
6 17,9 (4) n.d. 0,153 (8) 0,109 (100) 0,176 (0) 0,095 (0)
7 2,67 (20) n.d. 0,359 (237) 0,182 (0) 0,135 (0) 0,095 (0)
8* 1,48 (3) n.d. 0,451 (93) 0,345 (76) n.d. n.d.
9* 4,97 (0) 0,740 (72) 0,160 (33) n.d. 0,144 (21) n.d.
10* 28,0 (2,0) n.d. 0,853 (106) 0,381 (51) 0,298 (14) 0,276 (21)
NF = não filtrado F = filtrado n.d. = não detectado * Próximo a esgoto industrial
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

Em uma análise dos resultados ao longo do Igarapé 03 (principalmente os


pontos de coleta 7 a 1) observa-se a presença de Fe, Zn e Mn basicamente na fração
não filtrada, indicando que esses três elementos faziam parte das partículas presentes
na água, cujo tamanho é maior do que 0,45 µm. A presença de metais pesados em
material particulado devido as suas propriedades químicas é bastante comum
(SANTOS FILHA et al., 1997) . Nos pontos de amostragem 8, 9 e 10, próximos aos
esgotos industriais, detectou-se os maiores valores de concentração nas duas frações
(filtrada e não filtrada). Porém, nesses três pontos de coleta as concentrações não
ultrapassaram os limites permitidos pelo CONAMA para lançamento de rejeitos nos
corpos d’água.

A distribuição de Zn nas águas também depende do valor de pH. Segundo


FIFIELD & HAINES (1997), essa característica se deve basicamente à forma em
que o Zn pode estar presente (Zn2+, Zn(OH)+, Zn(OH)2, ZnCl+, ZnCl2 e ZnCO3).

32
Estudo do Igarapé 03

Como o valor de pH na maioria dos pontos de coleta do Igarapé 03 permaneceu em


torno de 7,00, a forma química que prevalece é o Zn2+ (LINDSAY, 1979).

As concentrações de Fe na fração não filtrada são caracterizadas por uma


distribuição aleatória, onde o menor valor (1,48 ± 3 mg L-1) foi detectado no ponto
de coleta 8 e o maior valor (28,0 ± 2,0 mg L-1) encontrado no ponto de coleta 10. O
comportamento de Fe é muito diversificado em ambientes aquáticos, dependendo do
valor de pH do meio. Sua tendência é reduzir para Fe2+ formando, principalmente
dímeros, trímeros, etc. (CORNEL & SCHWERTMANN, 1996).

Em 1999, SAMPAIO (2000) realizou medidas de alguns metais pesados (Cu,


Cd, Zn, Mn, Fe, Pb e Cr) neste Igarapé, no mês de fevereiro. Apenas o Fe foi
encontrado com valor de 26,2 ± 0,7 mg L-1. Este valor está acima dos teores de Fe
encontrados nos pontos de coleta 1 e 2 (Tabela 4.3), localizados na área onde foram
coletadas as amostras estudadas pelo mesmo autor.

A formação geológica e as condições climáticas da região permitem que


apenas a caulinita prevaleça como uma das principais fases mineralógicas. Alguns
estudos dessas caulinitas mostram que o Fe está presente em alta concentração na
sua estrutura (SOMBROEK, 1966 e CHIBA, 1980). SANTOS (2000), ao
caracterizar mineralogicamente o solo da região do Distrito Industrial, observou que
as caulinitas eram aperiódicas com grau de intemperismo avançado. Este fato
poderia explicar porque as concentrações desse elemento geralmente são maiores
nas amostras não filtradas, uma vez que o Fe na Amazônia está presente em
pequenas quantidades (CHAVES, 2001).

O Fe, Mn e Zn estão normalmente ligados à rede cristalina de sulfetos,


carbonatos, oxi-hidróxidos, óxidos e/ou silicatos. Esses compostos constituem os
minerais da fração trocável da fração argila. Dependendo do valor de pH, os

33
Estudo do Igarapé 03

elementos químicos que fazem parte da estrutura química desses minerais são
facilmente liberados para o meio (ALLOWAY, 1990).

No intuito de identificar as substâncias orgânicas presentes nos resíduos que


ficaram retidos no papel de filtro millipore 0,45 µm, foram realizadas medidas
espectroscópicas na região do infravermelho. Todos os pontos de coleta do Igarapé
03 apresentaram as mesmas funções. A Figura 4.2 mostra um espectro
representativo das medidas de todos os pontos de coleta do Igarapé 03.

100

95

90
Transmitância (%)

85

80

75

70

65

60
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
-1
Número de ondas (cm )

Figura 4.2- Espectro de infravermelho do resíduo do filtro de 0,45 µm do Igarapé


03, obtido na primeira coleta (maio).

O espectro de infravermelho revelou bandas fortes em 3696, 3654 e 3621 cm-1


que correspondem às vibrações de estiramentos de grupos O-H. Em 1098, 1035 e
1012 cm-1 existem bandas intensas que podem ser atribuídas aos estiramentos de Si-

34
Estudo do Igarapé 03

O-Si. A banda em 915 cm-1 é proveniente das vibrações atribuídas às deformações


de grupos O-H ligados à camada interna e as localizadas à camada interna de
argilominerais do tipo 1:1. A existência de duas bandas de pouca intensidade em 791
e 751 cm-1 caracterizam a deformação Si-O-Al. As bandas em 541, 470 e 429 cm-1
podem ser atribuídas à deformação Al-O-Al. O conjunto dessas bandas caracteriza a
presença de caulinita na amostra (SILVERSTEIN et al., 1994).

Além das bandas relativas à caulinita, os espectros na região do infravermelho


apresentaram bandas em 2925 e 2856 cm-1 correspondentes ao estiramento C-H de
grupos alifáticos. Em 1638 cm-1 existe uma banda que pode ser atribuída ao
estiramento assimétrico do íon COO-. Na região de 1375 cm-1 aparece uma banda
que pode ser proveniente de estiramentos C-N de grupos amidas e/ou aminas, que
também pode ser atribuída à estiramentos simétricos de COO-. Os valores das
vibrações das bandas são típicos de substâncias orgânicas presentes no resíduo.
Provavelmente parte dessas substâncias são ácidos húmicos, ácidos fúlvicos (POPPI
& TALAMONI, 1992), ou derivados deles adsorvidos nas partículas. Tais
substâncias são comuns em águas pretas da região amazônica (KÜCHLER et al.,
2000).

O ponto de coleta 10, que é um local de despejo industrial, ao que tudo indica
foi desativado a partir da segunda coleta (julho). Por isso, não foi possível realizar as
análises dessas amostras nas coletas seguintes. Portanto, o rejeito industrial
despejado neste ponto de coleta não influiu mais nas características da água do
Igarapé.

O estudo realizado no mês de julho de 2000 (Tabela 4.4) mostrou que os


valores de pH variaram em torno de 0,3 unidades em relação ao mês de maio, a
temperatura reduziu cerca de 1,78 ± 0,62 oC e os pontos de coleta 8 e 9 continuaram
apresentando os maiores valores de temperatura. O rejeito industrial despejado no
ponto de coleta 8 aumentou 6,4 oC a temperatura média da água do Igarapé (24,6 ±

35
Estudo do Igarapé 03

0,3 oC). Este acréscimo foi superior ao limite máximo indicado pelo CONAMA para
lançamento de rejeitos nos corpos d’água, que é de 4 oC acima da temperatura do
corpo receptor.

O teor de matéria orgânica total reduziu drasticamente em todo o Igarapé 03,


com exceção do ponto de coleta 9, cujo valor foi duas vezes maior que na primeira
coleta.

Tabela 4.4 - Alguns parâmetros físicos e químicos do Igarapé 03, obtidos durante a
segunda coleta (julho).

Pontos de coleta M.O. (mg L-1) Temperatura (oC) pH


1 4,29 (3) 24,5 6,64
2 5,89 (99) 24,5 6,54
3 4,76 (24) 24,0 6,56
4 5,37 (70) 24,5 6,44
5 2,99 (3) 25,0 6,45
6 3,25 (9) 24,5 6,41
7 1,30 (0) 25,0 6,49
8* 8,31 (4) 31,0 6,38
9* 53,3 (4) 27,5 5,26
* Próximo a esgoto industrial M.O. = matéria orgânica
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

A análise de metais pesados (Fe, Zn, Mn, Ni, Cu, Cr, Pb e Cd) da segunda
coleta (Tabelas 4.5 e 4.6) foi caracterizada pela presença de Fe, Zn, Mn, Ni, Cr e Cu
na água do Igarapé 03. As concentrações de Cd e Pb estavam abaixo do limite de
detecção da técnica.

36
Estudo do Igarapé 03

Os teores determinados para o Fe, Zn e o Mn são praticamente os mesmos


encontrados na primeira coleta, sendo que as amostras filtradas apresentaram
concentrações ligeiramente maiores (Tabela 4.5). Esses teores não ultrapassam os
limites permitidos pelo CONAMA para despejo de efluentes nos corpos d’água.
Porém, estão acima dos valores máximos admissíveis para águas de Classe 2,
destinadas ao abastecimento doméstico, recreação, irrigação e aquicultura.

As indústrias localizadas nas proximidades do Igarapé podem estar


contribuindo para essa contaminação, uma vez que os elementos Fe, Zn e Mn
existem naturalmente neste ecossistema devido ao intemperismo dos minerais
presentes no solo.

Ao comparar as amostras filtradas e não filtradas observou-se a presença de Ni,


Cr e Cu nas duas frações e, em alguns casos, na mesma proporção. A detecção de
Ni, Cr e Cu, nesta coleta, mostra a alteração da composição química de íons
metálicos do Igarapé 03 em relação ao mês de maio. Os teores de Cu e Ni estavam
acima dos limites recomendados pelo CONAMA.

Durante as coletas foi observado contato direto da população, principalmente


crianças, com a água dos Igarapés estudados. Esses fatos podem introduzir excesso
de Cu no corpo humano, podendo desativar enzimas que contém grupos S-H, reduzir
a proporção de enzimas transportadoras de elétrons, epilepsia, melanoma, artrite
reumatóide, entre outras lesões (SARGENTELLI et al., 1996).

De acordo com os resultados das análises químicas de metais pesados da


segunda coleta ao longo do Igarapé 03, o Cr estava ausente em alguns pontos de
coleta, principalmente nos pontos 7, 8 e 9 (Tabela 4.6). Desses pontos, os dois
últimos estão localizados próximo de esgoto industrial. A ausência de Cr nesses
pontos de coleta indica que as empresas que fazem uso desse sistema de descarga
não utilizam o Cr em seus processos.

37
Estudo do Igarapé 03

Tabela 4.5 – Teores médios em mg L-1 de Fe, Zn e Mn nas amostras de água


filtradas e não filtradas do Igarapé 03, obtidos na segunda coleta
(julho).

Fe Zn Mn
Pontos de
coleta
NF F NF F NF F
1 15,6 (0) 9,56 (2,5) 0,151 (0) 0,075 ((0) 0,186 (110) 0,019 (0)
2 15,6 (0) 9,02 (0) 0,130 (0) 0,109 (0) 0,186 () 0,040 (0)
3 13,9 (0) 7,38 (0) 0,239 (88) 0,251 (42) 0,207 (0) 0,019 (0)
4 15,0 (2,5) 5,74 (0) 0,149 (33) 0,158 (0) 0,193 (32) 0,019 (0)
5 12,3 (0) 9,02 (0) 0,608 (398) 0,146 (14) 0,110 (32) 0,019 (0)
6 13,9 (0) 5,74 (1,6) 0,151 (0) 0,165 (66) 0,124 (42) n.d.
7 12,3 (0) 5,74 (0,95) 0,571 (554) 0,144 (0) 0,103 (880) n.d.
8* 15,6 (1,6) 7,38 (0) 1,31 (10) 0,761 (71) 0,159 (32) 0,131 (32)
9* 3,62 (43) 1,74 (8) 0,728 (37) 0,742 (0) 0,103 (21) 0,103 (0)
NF = não filtrado F = filtrado n.d. = não detectado *Próximo a esgoto industrial
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

Tabela 4.6 – Teores médios em mg L-1 de Ni, Cr e Cu nas amostras de água


filtradas e não filtradas do Igarapé 03, obtidos na segunda coleta
(julho).

Pontos de Ni Cr Cu

Coleta NF F NF F NF F
1 0,254 (59) 0,305 (0) 0,091 (0) 0,184 (0) 0,086 (0) 0,057 (0)
2 0,305 (0) 0,267 (0) 0,091 (0) 0,091 (0) 0,067 (44) 0,067 (44)
3 0,305 (0) 0,382 (44) 0,091 (0) 0,184 (93) 0,057 (0) 0,135 (0)
4 0,382 (0) 0,382 (0) 0,091 (0) 0,184 (0) 0,057 (0) 0,115 (0)
5 0,382 (0) 0,344 (38) 0,137 (46) 0,091 (53) 0,164 (121) 0,057 (0)
6 0,305 (0) 0,344 (0) n.d. 0,091 (0) 0,028 (0) 0,057 (0)
7 0,420 (38) 0,344 (0) n.d. n.d. 0,057 (0) 0,086 (29)
8* 0,344 (44) 0,344 (22) n.d. n.d. 0,057 (0) 0,028 (0)
9* 0,241 (145) 0,344 (0) n.d. n.d. 0,115 (0) 0,086 (0)
NF = não filtrado F = filtrado n.d. = não detectado *Próximo a esgoto industrial
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

38
Estudo do Igarapé 03

Nos demais pontos de coleta (6-1) os teores de Cr encontravam-se acima dos


valores permitidos pelo CONAMA para Cr6+, porém estavam de acordo com os
limites para o Cr3+. A presença de Cr é preocupante uma vez que há evidências
epidemiológicas que a exposição ao Cr6+ pode provocar câncer pulmonar, apesar de
as concentrações desse elemento em ambientes aquáticos ser muito baixa. O Cr3+,
por sua vez, é moderadamente tóxico (HUHEEY, 1993 e SALA et al., 1995).

A espectroscopia na região do infravermelho das partículas maiores que 0,45


µm (Figura 4.3) mostrou uma banda intensa em 1077 cm-1 que pode ser atribuída
aos estiramentos de Si-O-Si. A banda em 938 cm-1 é proveniente à vibração de
deformação de grupos O-H ligados à camada interna. A existência de uma banda de
pouca intensidade em 791 cm-1 caracteriza a deformação Si-O-Al. A banda em 541
cm-1 pode ser atribuída à deformação Al-O-Al. Com isso, atribui-se a presença de
caulinita.

115

110

105
Transmitância (%)

100

95

90

85

80
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
-1
Número de ondas (cm )

Figura 4.3- Espectro de infravermelho característico dos resíduos retidos no filtro de


0,45 µm do Igarapé 03, obtido na segunda coleta (julho).

39
Estudo do Igarapé 03

Nos espectros de infravermelho observaram-se também bandas relacionadas à


presença de partículas de matéria orgânica. Uma banda que aparece em 1743 cm-1
caracteriza o estiramento C=O de grupos COOH, uma outra banda na região de 1527
cm-1 indica estiramento assimétrico de C=C. Em 1653 cm-1 aparece uma banda que
pode ser atribuída ao estiramento assimétrico do íon COO-. Em 1449 cm-1 ocorre
uma banda característica do estiramento de C=C em aromáticos.

No mês de setembro (terceira coleta), os valores de pH ao longo do Igarapé 03


(Tabela 4.7) variaram cerca de 0,2 unidade em relação aos encontrados na segunda
coleta e a temperatura aumentou em média 3,33 ± 1,25 oC.

Os pontos de coleta 8 e 9 apresentaram temperatura da água acima da média


observada no Igarapé 03 nesta coleta, com valores superiores em 9 e 6 oC,
respectivamente. Isso se deve ao despejo com temperatura elevada que ocorreu
nesses locais de coleta. Essas condições estão acima da estipulada pelo CONAMA
para descarga de efluentes em águas superficiais em que a temperatura dos mesmos
deve ser inferior a 40 oC, sendo que a elevação da temperatura do corpo receptor não
pode exceder 3 oC.

Esses aumentos significativos nos valores de temperatura são prejudiciais ao


ambiente aquático. As temperaturas dos animais aquáticos (peixes, anfíbios, répteis
e invertebrados em geral) variam de acordo com as modificações da temperatura
ambiental. Além disso, a água aquecida possui menos oxigênio dissolvido que a
água fria, podendo provocar aceleração do seu metabolismo e, consequentemente,
aumento da demanda de oxigênio (MAGOSSI & BONACELLA, 1990).

Dos quatro meses de coleta, este foi o de maior índice pluviométrico (210
mm), contribuindo para a diluição do carbono orgânico total na água deste Igarapé,
com exceção do ponto de amostragem 9, onde o teor de matéria orgânica
permaneceu elevado (Tabela 4.7).

40
Estudo do Igarapé 03

Tabela 4.7 - Alguns parâmetros físicos e químicos do Igarapé 03 obtidos durante a


terceira coleta (setembro).

Pontos de coleta M.O. (mg L-1) Temperatura (oC) pH


1 1,52 (0) 28,0 6,76
2 2,02 (50) 28,0 6,80
3 0,91 (0) 27,5 6,74
4 n.d. 27,0 6,55
5 3,94 (45) 27,0 6,60
6 0,91 (18) 27,0 6,59
7 2,93 (57) 27,0 6,63
8* 7,78 (13) 36,0 6,41
9* 78,8 (0) 33,0 6,16
* Próximo a esgoto industrial M.O. = matéria orgânica
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

A Tabela 4.8, referente às análises químicas de alguns metais pesados (Fe, Zn,
Mn, Ni, Cu, Cr, Pb e Cd), mostra novamente a presença de Fe e Zn ao longo do
Igarapé 03 nas duas frações (filtrada e não filtrada) e o Mn e o Pb em alguns pontos
de coleta. As concentrações de Cu, Cd Ni e Cr estavam abaixo do limite de detecção
da técnica.

O Zn foi encontrado em maiores concentrações nos pontos de coleta 8 e 9. Os


valores determinados estavam dentro dos padrões recomendados pelo CONAMA
para despejo de efluente industrial. Ao longo do Igarapé a concentração desse
elemento foi adsorvida pelo sistema. E próximo ao Igarapé do Quarenta estava
dentro do limite recomendado pelo CONAMA para águas destinadas ao
abastecimento doméstico, recreação e irrigação.

Nesta coleta o Mn só foi determinado nos pontos de coleta 8 e 9. Este metal


estava abaixo do limite de detecção da técnica nos outros pontos de coleta (1-7).

41
Estudo do Igarapé 03

Tabela 4.8 – Teores médios em mg L-1 de Fe, Zn, Mn, e Pb nas amostras de água
filtradas e não filtradas do Igarapé 03, obtidos na terceira coleta
(setembro).

Fe Zn Mn Pb
Pontos
de coleta
NF F NF F NF F NF F

1 24,3 (0) 4,26 (1,1) 0,121 (0) 0,085 (57) n.d. n.d. n.d. n.d.
2 20,2 (0) 2,52 (91) 0,068 (23) 0,053 (44) n.d. n.d. n.d. n.d.
3 22,7 (0) 1,80 (0) 0,133 (66) n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
4 21,1 (0) 0,80 (0) 0,097 (26) 0,085 (32) n.d. n.d. n.d. n.d.
5 20,5 (1,2) 0,80 (0) 0,053 (51) 0,065 (41) n.d. n.d. n.d. n.d.
6 22,6 (13) 2,30 (1,8) n.d. 0,136 (0) n.d. n.d. n.d. 0,652 (0)
7 21,1 (0) 2,33 (37) 0,085 (62) 0,058 (11) n.d. n.d. 1,09 (0) 0,217 (0)
8* 14,7 (0) 1,80 (0) 0,700 (100) 0,463 (69) 0,055 (0) 0,055 (0) n.d. n.d.
9* 19,0 (1,5) n.d. 0,397 (0) 0,237 (0) 0,116 (21) 0,055 (0) 0,217(0) 0,217 (0)
NF = não filtrado F = filtrado n.d. = não detectado *Próximo a esgoto industrial
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

Ao contrário das duas primeiras coletas, observa-se a presença de Pb nos


pontos de coleta 9, 7 e 6. Atribui-se a presença desse elemento à atividade antrópica,
pois o ponto de coleta 9 recebe influência de esgoto industrial e pode ser a fonte
desse metal. O teor de Pb aumentou no sentido do curso do Igarapé (pontos de coleta
9-6), indicando que o elemento, apesar de ter sido lançado dentro dos padrões
recomendados pelo CONAMA sofreu acumulação nas águas do Igarapé 03. Por
outro lado, a ausência de Pb nos pontos de coleta 5-1 indica que esse elemento foi
sendo acumulado no micro-ecossistema existente nos pontos de coleta 6 e 7. A
disseminação de Pb em ambientes aquáticos depende do valor de pH, que no caso do
Igarapé 03 está em torno de 6,00 e não permite a dissolução do Pb para o meio
ambiente (LINDSAY, 1979).

42
Estudo do Igarapé 03

A espectroscopia na região do infravermelho das partículas maiores que 0,45


µm (Figura 4.4) mostrou bandas em 3696, 3622 e 3656 cm-1 que correspondem às
vibrações de estiramentos de grupos O-H. Os estiramentos de Si-O-Si podem ser
observados pelas bandas em 1115, 1035 e 1010 cm-1. As deformações de grupos O-
H ligados à camada interna foram detectadas através da banda em 914 cm-1. A
existência de uma banda de pouca intensidade em 792 cm-1 caracteriza a deformação
Si-O-Al. As bandas em 540, 469 e 427 cm-1 podem ser atribuídas à deformação Al-
O-Al. Com isso, atribui-se a presença de caulinita.

100

90

80
Transmitância (%)

70

60

50

40

30

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500


-1
Número de ondas (cm )

Figura 4.4 - Espectro de infravermelho característico dos resíduos retidos no filtro


de 0,45 µm do Igarapé 03, obtido na terceira coleta (setembro).

43
Estudo do Igarapé 03

O espectro na região do infravermelho mostrou também estiramentos


referentes à matéria orgânica. Em 2924 e 2855 cm-1 existem bandas que podem ser
atribuídas ao estiramento assimétrico de C-H. A banda que aparece em 1650 cm-1
pode ser correspondente ao estiramento assimétrico do íon COO-, em 1541 e 1461
cm-1 as bandas são características do estiramento C=C de anel aromático 1382 cm-1
pode ser proveniente de estiramento C-N de grupos amida e/ou amina.

Na quarta coleta, realizada no mês de novembro, os valores de pH (Tabela 4.9)


permaneceram praticamente inalterados em relação aos da terceira coleta, com uma
variação de 0,3 unidades apenas no ponto de coleta 5.

Tabela 4.9 - Alguns parâmetros físicos e químicos do Igarapé 03 obtidos durante a


quarta coleta (novembro).

Pontos de coleta M.O. (mg L-1) Temperatura (oC) pH


1 4,26 (12) 28,0 6,73
2 5,25 (10) 28,0 6,71
3 3,56 (5) 28,0 6,77
4 3,27 (18) 28,0 6,57
5 48,5 (8) 30,0 6,91
6 3,86 (0) 27,0 6,59
7 3,17 (8) 27,0 6,51
8* 4,46 (6) 32,0 6,59
9* 144 (0) 34,0 5,95
* Próximo a esgoto industrial M.O. = matéria orgânica
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

A temperatura sofreu algumas variações, aumentando 3 oC no ponto de coleta


5 e diminuindo 4 oC no ponto de coleta 8. Os efluentes despejados nos pontos de
coleta 8 e 9 continuaram aquecendo as águas do Igarapé 03 na quarta coleta, pois os

44
Estudo do Igarapé 03

valores de temperatura nesses pontos estavam, respectivamente 4 e 8 oC acima dos


valores permitidos pelo CONAMA.

Nesta coleta o conteúdo de matéria orgânica aumentou, mas não atingiu a


concentração média observada na primeira coleta que foi de 13,03 ± 5,9 mg L-1. O
ponto de coleta 5 sofreu alteração também no teor de matéria orgânica, com uma
concentração 12 vezes maior que os demais pontos de coleta deste Igarapé.

Os resultados da determinação de metais pesados (Fe, Zn, Mn, Ni, Cu, Cr, Pb e
Cd) mostraram que apenas o Fe e o Zn possuíam concentrações dentro do limite de
detecção da técnica (Tabela 4.10). Os demais elementos apresentaram concentrações
abaixo do limite de detecção.

Tabela 4.10 – Teores médios em mg L-1 de Fe e Zn nas amostras de água filtradas e


não filtradas do Igarapé 03, obtidos na quarta coleta (novembro).

Fe Zn
Pontos de
coleta
NF F NF F
1 10,6 (0) 6,91 (1,9) 0,140 (9) 0,103 (0)
2 11,9 (9) 4,10 (040) 0,112 (0) 0,149 (33)
3 8,63 (4,3) 6,76 (1,0) 0,112 (0) 0,112 (24)
4 11,8 (1,0) 5,76 (1,5) 0,103 (0) 0,094 (0)
5 7,18 (2,7) 0,02 (0) 0,238 (54) 0,088 (33)
6 11,5 (9) 48,1 (28,5) 0,339 (178) 0,177 (0)
7 9,53 (1,44) 29,1 (5,3) 0,348 (141) 0,186 (0)
8* 2,21 (93) 3,57 (2,1) 0,342 (42) 0,419 (35)
9* 33,5 (6,8) 33,0 (28) 0,508 (0) 0,355 (85)
NF = não filtrado F = filtrado *Próximo a esgoto industrial
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

45
Estudo do Igarapé 03

Analogamente à primeira coleta, os metais detectados estavam associados às


partículas em suspensão. Apenas os pontos de coleta 6, 7 e 8 apresentaram maior
concentração de Fe dissolvido. E o Zn mostrou maior solubilidade nos pontos de
coleta 2 e 8. O teor desses metais no Igarapé 03 encontrava-se dentro dos limites
permitidos pelo CONAMA para despejos de efluentes industriais.

A espectroscopia na região do infravermelho do material retido pela filtração


mostrou novamente a presença de caulinita e matéria orgânica nas amostras do
resíduo do Igarapé 03 na quarta coleta (Figura 4.5). Essas substâncias foram
caracterizadas pelas bandas em 3695, 3652 e 3622 cm-1 que correspondem às
vibrações de estiramentos de grupos O-H. Em 2930 cm-1 encontra-se uma banda
típica de estiramentos C-H de grupos alifáticos. Os estiramentos de Si-O-Si podem
ser observados pelas bandas em 1116, 1035 e 1009 cm-1. A banda em 914 cm-1
corresponde à deformações de grupos O-H ligados à camada interna. A existência de
uma banda de pouca intensidade em 793 cm-1 caracteriza a deformação Si-O-Al. As
bandas em 540, 469 e 429 cm-1 podem ser atribuídas à deformação Al-O-Al.

Quanto aos estiramentos correspondentes à matéria orgânica pode-se


relacionar as bandas em 1734 e 1651 cm-1 aos estiramentos assimétricos do íon
COO-. Em 1541 e 1522 e 1457 cm-1 ocorrem bandas características de estiramento
C=C de anel aromático. Os espectros desta coleta não apresentaram bandas
provenientes de estiramento C-N de grupos amida e/ou amina e as correspondentes
ao estiramento assimétrico de C-H (Figura 4.5).

46
Estudo do Igarapé 03

100

90

80
Transmitância (%)

70

60

50

40

30

20
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
-1
Número de ondas (cm )

Figura 4.5 - Espectro de infravermelho característico dos resíduos retidos do filtro


de 0,45 µm do Igarapé 03, obtido na quarta coleta (novembro).

4.3. Considerações Finais

Numa avaliação dos resultados obtidos durante as quatro coletas pode-se


verificar alteração nas características físicas e na composição química do Igarapé 03.
A concentração de matéria orgânica alterou drasticamente durante o período
estudado, mostrando valores diferentes dos normalmente encontrados em águas
pretas. A temperatura também oscilou bastante, mas o valor de pH permaneceu
praticamente constante, acima dos valores encontrados nos igarapés de Manaus em
condições naturais.

47
Estudo do Igarapé 03

A Figura 4.7 mostra que a temperatura da água do Igarapé 03 foi maior que a
temperatura da cidade de Manaus. Apenas no mês de julho ocorreu situação inversa.

30
Manaus
Igarapé 03
29

28
Temperatura ( C)
o

27

26

25

24

23
Mai Jul Set Nov
Meses de coleta

Figura 4.6 – Temperaturas médias da cidade de Manaus e da água do Igarapé 03


nos quatro meses de coleta.

Observa-se também uma tendência no aumento da temperatura, sendo os


valores mais elevados no mês de novembro. Com isso, pode-se relacionar a
temperatura da água do Igarapé, principalmente com a temperatura ambiente de

48
Estudo do Igarapé 03

Manaus, pois os valores do índice pluviométrico não acompanharam a variação de


temperatura da água do Igarapé, principalmente nos meses de maio e novembro.

Os elementos Fe e Zn estavam presentes em todas as coletas, geralmente em


maior concentração na fração não filtrada, evidenciando a ação do intemperismo na
liberação desses elementos para a água do Igarapé 03 (Figura 4.7).

As concentrações de Fe e Zn também variaram durante os períodos das coletas,


na região próxima ao Igarapé do Quarenta. Entretanto, os teores desses dois
elementos foram praticamente os mesmos nas amostras coletadas em julho e
novembro. Já em maio, a concentração de Fe teve seu valor muito acima ao do Zn.
O mesmo comportamento foi observado por SAMPAIO (2000).

Fe
25

Zn
20
Concentração (mg.L )
-1

15

10

0
M ai Jul Set N ov SA M PA IO
M eses de coleta

Figura 4.7 - Teores médios de Fe e Zn determinados nos quatro períodos de


amostragem e determinados por SAMPAIO (2000), na fração não
filtrada do Igarapé 03.

49
Estudo do Igarapé 03

Em determinadas épocas do ano, ocorreu o despejo industrial, principalmente


de materiais que contém o Ni, Cu, Cr e Pb em sua composição química (Figura 4.6).
Destes quatro elementos apenas o Pb ficou adsorvido neste Igarapé próximo ao local
onde foi despejado. Já o Ni, Cu e Cr foram distribuídos para o Igarapé do Quarenta.

1
Maio
0,9 Julho
0,8 Setembro
Novembro
Concentração (mg L-1)

0,7

0,6

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

0
Fe Zn Mn Ni Cr Cu Pb
Metais Pesados

Figura 4.8 – Distribuição de alguns metais pesados nas amostras de água filtradas
durante os meses de maio, julho, setembro e novembro no ponto de
coleta 1, próximo ao Igarapé do Quarenta.

Dessa forma, a contribuição de metais pesados oriundos de atividade antrópica


para o Igarapé Quarenta, através do Igarapé 03, ocorreu de maneira esporádica
durante o ano de 2000. Com maior ocorrência no mês de julho, quando foram
detectados praticamente todos os metais, exceto o Cd e o Pb.

50
5. Estudo do Igarapé 04

5.1. Descrição dos locais de coleta

Durante as quatro coletas as águas do Igarapé 04 apresentaram coloração clara


com forte odor de esgoto e às vezes de solvente. As margens estavam desmatadas
com algumas gramíneas, samambaias e buritizeiros ao longo do curso do Igarapé.

Nas margens e no leito do Igarapé havia muito lixo, como sacos de


prolipopileno, garrafas plásticas e de vidro, pneus e algumas latas. Observou-se
também espuma próxima as quedas d’água existentes no percurso do Igarapé.

No Quadro 5.1 são apresentadas algumas peculiaridades observadas durante as


coletas. No caso da coloração azulada, observada durante a terceira coleta, pode-se
atribuir a presença de corantes. Uma vez que, devido a sua própria natureza, os
corantes são altamente detectáveis a olho nu, sendo visíveis em alguns casos mesmo
em concentrações tão baixas quanto 1 ppm (GUARATINI & ZANONI, 2000).

Quadro 5.1 – Características de alguns pontos de coleta do Igarapé 04 observadas


durante as coletas.

Coleta Descrição

Primeira Água turva devido à chuva no período da coleta (pontos


(maio) 2 e 3 - Figura 5.1a).
Presença de espuma (ponto 4 Figura 5.1 b), forte odor de
Segunda
solvente (pontos 3 a 5) e água com cor esverdeada e
(julho)
muito lodo (pontos 6 e 9).
Terceira Água de cor azulada (pontos 8 e 9 – Figura 5.1 d) e com
(setembro) espuma nos pontos 4 e 5 (Figura 5.1 c).
Quarta Água de cor esverdeada com espuma (ponto 4 e 9) e sem
(novembro) espuma (ponto 8)
Estudo do Igarapé 04

(a) (b)

(c) (d)

Figura 5.1 – Características do Igarapé 04 – (a) representa as margens desmatadas e


água turva; (b) representa presença de espuma; (c) representa
coloração azulada da água, presença de espuma e lixo nas margens e
no leito do Igarapé e (d) representa água com coloração azulada
misturando-se com a água clara normal do leito do Igarapé.

52
Estudo do Igarapé 04

5.2. Resultados e discussão

De acordo com os dados obtidos na primeira coleta (maio), as propriedades


físicas analisadas, temperatura e pH, do Igarapé 04 (Tabela 5.1) não apresentaram
grandes variações entre si. O ponto de coleta 7, que é um local utilizado para
despejo de rejeitos, teve o maior valor de pH (7,35). Porém, este valor está dentro do
limite recomendado pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA)
resolução No 020/861 (Apêndice 01) para despejo de efluentes industriais. No
entanto, o valor de pH 7,35 não foi capaz de alterar a acidez ao longo do Igarapé 04,
que, a partir do ponto de coleta 6, permaneceram praticamente constantes.

Tabela 5.1 - Alguns parâmetros físicos e químicos do Igarapé 04 obtidos durante a


primeira coleta (maio).

Pontos de coleta M.O. (mg L-1) Temperatura (oC) pH


1* 19,3 (5,0) 26,0 6,47
2 18,2 (2,9) 25,0 6,56
3 16,1 (1,7) 26,0 6,82
4* 16,4 (0) 26,0 6,71
5 16,4 (0) 26,0 6,63
6* 15,0 (1,7) 26,0 6,47
7* 14,7 (3,4) 28,0 7,35
8 15,9 (4) 28,0 6,44
9* 11,2 (2,1) 27,0 6,02
10 11,4 (5) 26,0 6,03
*Próximo a esgoto industrial M.O. = matéria orgânica
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata
O sentido do fluxo do Igarapé é do ponto de coleta 10 ao ponto de coleta 1

A média de temperatura encontrada nesta coleta foi de 26,0 ± 1,0 oC (Tabela


5.1). Nos pontos de coleta 7 e 8 foram encontrados os maiores valores de

53
Estudo do Igarapé 04

temperatura (28,0 oC). Essa peculiaridade se deve à utilização dessa área como local
de despejos industriais. A temperatura observada nesses pontos de coleta estava 2 ºC
acima da temperatura média do Igarapé 04. Mas esses rejeitos encontravam-se
dentro do limite recomendado pelo CONAMA, pois não aumentaram e temperatura
média da água do Igarapé 04.

Os valores determinados para matéria orgânica total na água revelaram um


comportamento interessante (Tabela 5.1). A sua concentração aumentou do ponto de
amostragem 10 ao 1; ou seja, no sentido indústrias do Distrito para o Igarapé do
Quarenta (Figura 5.2). Esse fato pode ser explicado pela atividade industrial nas
margens do Igarapé. Durante a coleta das amostras foi observado cheiro constante
de solvente oriundo da água do Igarapé. Muitas indústrias dessa região fazem uso de
solvente em suas atividade industriais, principalmente para a dissolução de tintas.

20

18
Teor de matéria orgânica (mg.L)
-1

16

14

12

Igarapé do Quarenta Distrito Industrial


10
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Pontos de coleta

Figura 5.2 – Comportamento da matéria orgânica total ao longo do Igarapé 04


durante a primeira coleta (maio).

1
Todas as citações do CONAMA nesta dissertação referem-se à Resolução No 20 de 18 de junho de 1986.

54
Estudo do Igarapé 04

Neste estudo também foram feitas análises químicas dos metais pesados Fe,
Zn, Mn, Ni, Cr, Cu, Pb e Cd (Tabela 5.2) das frações não filtrada e filtrada em filtro
com 0,45 µm de poro. Os elementos Ni, Cr, Cu, Pb e Cd tinham concentrações
abaixo do limite de detecção da técnica.

Tabela 5.2 – Teores médios de em mg L-1 Fe, Zn e Mn nas amostras de água


filtradas e não filtradas do Igarapé 04, obtidos na primeira coleta
(maio).

Fe Zn Mn
Pontos de
coleta
NF F NF F NF F
1* n.d. 4,79 (1,53) n.d. 1,55 (33) n.d. 0,123 (0)
2 23,3 (14,1) 0,740 (0) 0,741 (0) 0,703 (209) 0,122 (0) 0,119 (104)
3 29,8 (15,5) 0,269(84) 0,863 (420) 0,549 (16) n.d. n.d.
4* 18,1 (5,1) 0,716 (276) 0,561 (379) 0,628 (0) n.d. n.d.
5 24,5 (14,4) 1,00 (30) 0,418 (153) 0,467 (50) n.d. n.d.
6* 25,4 (0) 1,70 (0) 0,909 (105) 0,310 (0) n.d. n.d.
7* 2,69 (45) n.d. 0,317 (26) 0,155 (71) n.d. n.d.
8 13,7 (2,7) n.d. 0,514 (140) 2,07 (54) n.d. n.d.
9* 13,8 (1,2) 0,118 (96) 0,520 (39) 2,17 (9) 0,068 (59) n.d.
10 16,3 (3,9) 0,413 (60) 0,329 (58) 0,309 (79) n.d. n.d.
NF = não filtrado F = filtrado n.d. = não detectado * Próximo a esgoto industrial
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

A concentração de Fe, Zn e Mn em alguns pontos de coleta apresentaram


valores maiores na fração filtrada do que na fração não filtrada, principalmente no
ponto de coleta 1. No caso do Zn este comportamento foi observado também nos
pontos de coleta 8 e 9. Este fato indica que nesses locais o Zn foi adicionado ao
sistema hídrico através da atividade antrópica. Sendo que, esse elemento foi
rapidamente adsorvido pelo micro-ecossistema do Igarapé 04. O teor de Zn no ponto
de coleta 9 foi de 2,17 mg L-1, dentro do limite permitido pelo CONAMA, reduziu

55
Estudo do Igarapé 04

para 0,155 mg L-1 no ponto de amostragem 7. A partir daí, houveram alguns


acréscimos na concentração desse elemento, mas não atingiram os limites
estipulados pelo órgão acima citado.

A presença de Fe em maiores concentrações na fração não filtrada em todos os


pontos, com exceção do ponto de amostragem 1, indica que na primeira coleta a
concentração desse elemento na água do Igarapé 04 se deve, principalmente, ao
intemperismo de argilominerais, como ocorreu no Igarapé 03.

Nesta coleta não foi possível realizar medidas de espectroscopia na região do


infravermelho, pois as partículas retidas no filtro Millipore 0,45 µm eram pouco
maiores do que os poros desse filtro em todos os pontos de coleta.

Na segunda coleta (julho), a variação de pH da água ao longo do Igarapé 04


diminuiu em relação aos valores encontrados na primeira coleta (Tabela 5.1), mas
continuou em torno de 6,00 (Tabela 5.3). Porém, o ponto de coleta 1 apresentou pH
ácido (4,57).

Tabela 5.3 - Alguns parâmetros físicos e químicos do Igarapé 04 obtidos durante a


segunda coleta (julho).

Pontos de coleta M.O. (mg L-1) Temperatura (oC) pH


1* 4,62 (95) 26,0 4,57
2 5,90 (81) 27,5 6,62
3 6,15 (94) 26,5 6,66
4* 3,59 (68) 27,0 6,62
5 4,96 (62) 27,0 6,43
6* 18,8 (8) 26,0 6,74
7* 6,41 (71) 27,0 6,45
8 8,46 (76) 27,0 6,47
9* 9,23 (3) 27,0 6,53
10 7,09 (71) 27,0 6,49
*Próximo a esgoto industrial M.O. = matéria orgânica
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

56
Estudo do Igarapé 04

Quanto à temperatura, a variação foi de 1 oC tanto em relação à primeira coleta


quanto ao longo do Igarapé. A diferença de índice pluviométrico (Figura 3.2) entre a
primeira coleta (180 mm) e a segunda coleta (30 mm) não contribuiu para grandes
alterações na temperatura das águas do Igarapé 04.

O teor de matéria orgânica reduziu drasticamente da primeira para a segunda


coleta em todos os pontos de coleta do Igarapé 04. Apenas no ponto de coleta 6,
onde a água apresentou coloração esverdeada e com muito lodo, houve aumento na
concentração de carbono orgânico total. De maneira geral, observa-se que a
concentração de matéria orgânica presente no ponto de coleta 9 foi reduzida para a
metade à medida que se aproximava do Igarapé do Quarenta (Figura 5.3). Esse
comportamento é bastante diferente da primeira coleta (Figura 5.2).

10
Teor de matéria orgânica (mg.L
)
-1

Igarapé do Quarenta Distrito Industrial


2
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Pontos de coleta

Figura 5.3 – Comportamento da matéria orgânica ao longo do Igarapé 04 durante a


segunda coleta (julho).

57
Estudo do Igarapé 04

As análises químicas dos elementos Fe, Zn, Mn, Ni, Cr, Cd, Cu e Pb na água
do Igarapé 04 no mês de julho revelaram a presença de Fe, Zn, Mn (Tabela 5.4), Ni,
Cr e Cu (Tabela 5.5). As concentrações dos três últimos elementos eram superiores
às permitidas pelo CONAMA. Este fato indica que nesta época do ano as águas
desse Igarapé possivelmente eram nocivas ao micro-ecossistema existente nessa
área. A população que vive nas proximidades pode estar sofrendo esses efeitos, fato
observado através dos contatos realizados com os moradores dessa região.

Experimentos de extração seletiva realizados em sedimentos por SAMPAIO


(2000) revelaram que as formas de Fe existentes na região do Igarapé 04 são
extraídas em maior quantidade a valores de pH entre 2,00 e 3,00. Nos valores de pH
4,00 - 6,00 a extração também é eficiente. Sob valores de pH no intervalo de 6 a 10,
o Fe foi extraído em menor quantidade. Essa propriedade do Fe justifica a elevada
concentração de Fe no ponto de coleta 1 (Tabela 5.4), cujo pH era mais baixo.

Tabela 5.4 – Teores médios em mg L-1 de Fe, Zn e Mn nas amostras de água filtradas
e não filtradas do Igarapé 04, obtidos na segunda coleta (julho).

Pontos Fe Zn Mn
de
coleta NF F NF F NF F
1* 9,02 (0) 0,610 (116) 27,2 (1,8) 27,6 (9) 0,124 (21) 0,145 (0)
2 4,10 (0) n.d. 4,39 (23) 2,54 (0) 0,145 (0) 0,124 (0)
3 2,46 (0) 0,048 (23) 4,24 (0) 2,49 (25) 0,103 (0) 0,103 (0)
4* 1,57 (89) n.d. 2,52 (1,2) 1,85 (0) 0,103 (23) 0,082 (0)
5 2,46 (0) 0,055 (35) 3,68 (5) 1,92 (29) 0,145 (0) 0,103 (21)
6* 5,74 (0) 0,835 (0) 0,291 (182) 0,991 (0) 0,166 (0) 0,103 (0)
7* n.d. 0,192 (0) 1,42 (1,3) 0,587 (351) 0,077 (35) 0,082 (0)
8 n.d. 0,342 (103) 2,31 (1,0) 0,465 (182) 0,171 (31) 0,123 (0)
9* 2,24 (1,9) 0,417 (129) 0,171 (0) 0,157 (69) 0,041 (0) 0,020 (0)
10 0,321 (227) 0,300 (67) 0,139 (29) 0,085 (55) 0,041 (0) 0,041 (0)
NF = não filtrado F = filtrado n.d. = não detectado * Próximo a esgoto industrial
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

58
Estudo do Igarapé 04

O Zn também apresentou as maiores concentrações no ponto de coleta 1, com


valores 5 vezes acima dos recomendados pelo CONAMA para descarga de efluentes
nos corpos d’água.

Nos pontos de coleta 5-1, próximo ao Igarapé do Quarenta, o Cr foi detectado


em concentração ligeiramente acima do valor máximo permitido pelo órgão
anteriormente citado, que é de 0,5 mg L-1 para Cr3+ e 0,05 mg L-1 para Cr6+,
conforme é mostrado na Tabela 5.5. Nesta mesma região SAMPAIO (2000)
detectou 0,77 mg L-1 de Cr em amostras de água não filtrada. E CASTRO (2000)
encontrou 593 µg.g-1 nas raízes, 568 µg.g-1 nos caules e 579 µg.g-1 nas folhas de
duas gramíneas coletadas no Igarapé 04, sugerindo que as plantas dessa região já
estão sofrendo os efeitos da contaminação desse metal pesado.

Alguns elementos constituintes do micro-ecossistema do Igarapé do Quarenta


já apresentaram Cr em sua composição química. SILVA (1996) encontrou teores
elevados de Cr em sedimento de fundo na estação chuvosa (204,7 mg L-1) e na
estação seca (107,3 mg L-1). Os peixes detritívoros estudados por SILVA (1992) em
maio de 1990 apresentaram 0,11 mg L-1 de Cr em tecido de fígado. Muito
provavelmente o Distrito Industrial contribuiu e vem contribuindo para a
contaminação de Cr no Igarapé do Quarenta.

A concentração de Mn (Tabela 5.4) se manteve praticamente constante ao


longo do Igarapé, sendo os menores valores encontrados nos pontos de coleta 7, 9 e
10. Por outro lado, os teores de Ni e Cu variaram bastante (Tabela 5.5). Sendo que
as concentrações em todos os pontos de coleta estavam acima dos recomendados
pelo CONAMA. Os pontos de amostragem mais contaminados por esses elementos
foram o 2, 7 e 8.

59
Estudo do Igarapé 04

Tabela 5.5 – Teores médios em mg L-1 de Ni, Cr e Cu nas amostras de água


filtradas e não filtradas do Igarapé 04, obtidos na segunda coleta
(julho).

Pontos Ni Cr Cu
de
coleta NF F NF F NF F
1* 2,19 (27) 2,09 (19) 0,678 (141) 0,091 (0) 0,232 (0) 0,202 (0)
2 0,420 (0) 0,382 (38) 0,091 (0) n.d. 0,115 (29) 0,115 (29)
3 0,229 (38) 0,229 (0) 0,091 (0) n.d. 0,086 (0) 0,086 (0)
4* 0,305 (0) 0,267 (0) 0,122 (87) n.d. 0,101 (0) 0,115 (0)
5 0,382 (77) 0,318 (60) 0,184 (93) n.d. 0,173 (0) 0,135 (0)
6* 0,229 (22) 0,237 (0) n.d. n.d. 0,057 (0) n.d.
7* 0,407 (225) 0,497 (0) n.d. n.d. 0,290 (0) 0,261 (0)
8 0,663 (189) 0,535 (0) n.d. n.d. 0,377 (0) 0,367 (61)
9* 0,114 (0) 0,190 (0) n.d. n.d. 0,086 (29) 0,057 (0)
10 0,152 (0) 0,190 (0) n.d. n.d. 0,057 (0) 0,057 (0)
NF = não filtrado F = filtrado n.d. = não detectado * Próximo a esgoto industrial
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

Nesta coleta a espectroscopia na região do infravermelho do resíduo, contido


no filtro de 0,45 µm, mostrou diferentes espectros ao longo do Igarapé, ao contrário
do Igarapé 03. As diferenças nos espectros formaram diferentes grupos de funções
orgânicas, sendo organizados na seguinte seqüência: pontos de coleta 1, 2-3 e 4-8 e
9-10 (Quadro 5.2).

A espectroscopia na região do infravermelho (Figura 5.4) indica que, em todos


os pontos de coleta, havia silicatos, aluminatos e hidroxilas livres ou ligadas à
camada interna de argilominerais 1:1. Nos pontos de coleta 9 e 10 não foram
detectados estiramentos referentes a hidroxilas livres ou ligadas à camada interna de
argilominerais 1:1. O ponto de amostragem 1 não apresentou substâncias
carboxílicas, aromáticas e fenólicas. No entanto, diferente dos demais pontos de
coleta, continha compostos nitrogenados revelados através da banda em 1.385 cm-1

60
Estudo do Igarapé 04

referente ao estiramento C-N de amidas e/ou amidas. Nos pontos de coleta 4-8,
observa-se a presença de uma banda em 1.279 cm-1 e a ausência da banda em 1.737
cm-1 do estiramento referente. Este fato indica a presença de componentes fenólicos
nesta área do Igarapé 04. Nos pontos de coleta 2-3 os estiramentos C-O de grupos
fenólicos não foram identificados pelos espectros, sugerindo a decomposição total
desses compostos (SILVERSTEIN et al., 1994).

A variedade de funções orgânicas detectadas na espectroscopia na região do


infravermelho explica os fortes odores de solvente observados durante esta coleta.
Provavelmente devido a substâncias fenólicas, que são bastante utilizadas pelas
indústrias de tintas (SHREVE & BRINK JR, 1977).

Quadro 5.2 – Funções orgânicas identificadas pela espectroscopia na região do


infravermelho dos resíduos retidos no filtro 0,45 µm, obtidos ao longo
do Igarapé 04 na segunda coleta (julho).

No de onda Pontos de coleta


Atribuições
(cm-1)
1 2-3 4-8 9-10
3.696 e 3621 Estiramento de grupos O-H X X X
2.926 e 2.857 Estiramento C-H de grupos alifáticos ou cíclicos X X X X
1.737 Estiramento C=O de ácido carboxílico X
1.649 Estiramento assimétrico COO- carboxilato X X X
1.634 Estiramento C=C de alquenos X
1.540 Estiramento C=C de anel aromático X X
1.422 Estiramento simétrico COO- carboxilato X X X
1.385 Estiramento C-N de amidas e/ou aminas X
Estiramento C-O de grupos carboxílicos e
1.279 X
fenólicos
1.035 e 1.010 Estiramento Si-O-Si X X X X
915 Deformação de O-H ligados à camada interna X X X
750 Deformação de Si-O-Al X X X X
540, 469 e 427 Deformação Al-O-Al X X X X

61
Estudo do Igarapé 04

100

90 (a)

100
80
Transmitância (%)

60 (b)
120
90
60 (c)

100
80
60
(d)

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500


-1
Número de onda (cm )

Figura 5.4 - Espectro de infravermelho dos resíduos retidos no filtro de 0,45 µm


dos quatro grupos de pontos de coleta do Igarapé 04, obtidos na
segunda coleta (julho). Onde (a) representa o ponto de coleta 1; (b)
representa os pontos de coleta 2 e 3; (c) representa os pontos de coleta
4 a 8 e (d) representa os pontos de coleta 9 e 10.

Durante a terceira coleta (setembro) o pH da água do Igarapé 04 sofreu grandes


variações (Tabela 5.6), mas chegou ao Igarapé do Quarenta praticamente com
mesmo valor das coletas anteriores (6,47-6,56 na primeira coleta e 4,57-6,62 na
segunda coleta). A redução de pH do ponto de coleta 10 para o 9 deve-se à

62
Estudo do Igarapé 04

contribuição do efluente de coloração azul, observado durante a coleta. A partir


desse ponto de coleta a acidez permaneceu em torno de 2,00 ao longo do igarapé até
o ponto de coleta 5, com exceção do 7 (6,94), que não faz parte do leito principal do
Igarapé 04. A partir do ponto de coleta 4 a água do Igarapé provavelmente sofreu
influência de efluente de outra indústria, sendo então, neutralizada.

Tabela 5.6 - Alguns parâmetros físicos e químicos do Igarapé 04 obtidos


durante a terceira coleta (setembro).

Pontos de coleta M.O. (mg L-1) Temperatura (oC) pH


1* 4,44 (8) 29,0 6,67
2 3,03 (20) 28,0 5,19
3 2,63 (67) 29,0 6,60
4* 4,95 (11) 29,0 5,97
5 11,5 (6) 29,0 2,79
6* 13,1 (2) 29,5 2,26
7* 6,46 (43) 30,0 6,94
8 19,8 (4) 29,0 2,34
9* 20,7 (5) 30,0 2,81
10 15,4 (2) 30,0 7,12
*Próximo a esgoto industrial M.O. = matéria orgânica
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

Nesta coleta o comportamento da matéria orgânica ao longo do Igarapé foi


semelhante ao da segunda coleta. No ponto de coleta 9, onde há uma descarga
industrial, o conteúdo de carbono orgânico estava elevado em relação aos demais
pontos de amostragem do Igarapé 04 (Figura 5.5). Porém, este teor reduziu nos
pontos de coleta próximos ao Igarapé do Quarenta (4-1). No ponto de coleta 10 a
água apresentava coloração escura, justificando a concentração de matéria orgânica
(15,4 ± 2 mg L-1), a mais elevada deste Igarapé, livre de influência antrópica.

63
Estudo do Igarapé 04

22
20
18
Teor de matéria orgânica (mgL)
-1
16
14
12
10
8
6
4
2 Igarapé do Quarenta Distrito Industrial
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Pontos de coleta

Figura 5.5 - Comportamento da matéria orgânica ao longo do Igarapé 04 durante a


terceira coleta (setembro).

A Tabela 5.7 mostra a elevada concentração de Fe e Zn dissolvido na água do


Igarapé 04, principalmente nos locais onde o pH estava em torno de 2,00. A
presença de íons H+ em grande quantidade pode ter provocado aumento da
solubilidade do Fe presente nas partículas em suspensão. Ao comparar esses valores
de concentração com os recomendados pela resolução do CONAMA, observa-se
que os teores desses metais ultrapassaram 50 vezes o limite permitido para descarga
de qualquer fonte poluidora em águas superficiais. No caso do Zn os teores
superaram 1.300 e 220 vezes os limites aceitáveis nas frações filtrada e não filtrada,
respectivamente.

64
Estudo do Igarapé 04

Do ponto de coleta 4 em diante o Fe encontrava-se também associado ao


material em suspensão. De forma que nos pontos de coleta mais próximos do
Igarapé do Quarenta, este elemento já estava em grande parte associado ao material
particulado.

Tabela 5.7 – Teores médios em mg L-1 de Fe, Zn e Mn nas amostras de água


filtradas e não filtradas do Igarapé 04, obtidos na terceira coleta
(setembro).

Pontos de Fe Zn Mn
coleta
NF F NF F NF F
1* 81,7 (4,3) 54,9 (2,6) 5,00 (0) 6,00 (1,0) 0,181 (0) 0,181 (0)
2 19,4 (0) 5,00 (0) 3,75 (0) 5,33 (1,53) 0,181 (0) 0,181 (0)
3 91,0 (7,4) 61,8 (5,9) 7,50 (0) 9,00 (1,53) 0,181 (0) 0,173 (19)
4* 35,0 (0) 26,5 (2,1) 62,5 (0) 60,0 (0) 0,612 (0) 0,640 (0)
5 3,20 (56) 340 (0) 1093 (156) 125 (0) 0,340 (0) 0,371 (31)
6* 0,100 (0) 940 (0) 1354(477) 375 (0) 1,49 (1,0) 1,47 (50)
7* 0,114 (0) 1,57 (25) 1,10 (0) 0,50 (10) n.d. n.d.
8 0,100 (0) 840 (0) 1250 (0) 250 (0) 0,702 (0,1) 0,681 (0)
9* 4,63 (15) 460 (0) 1510 (325) 125 (0) 0,309 (0) 0,279 (0)
10 0,053 (6) 43,5 (2,5) 0,40 (11) 1,00 (0) 0,153 (0) 0,299 (47)
NF = não filtrado F = filtrado n.d. = não detectado * Próximo a esgoto industrial
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

Observa-se também nesta coleta o aumento da concentração de Mn (Tabela


5.7), Ni, Cr, Cu e Pb (Tabela 5.8), em menores proporções, nos pontos de coleta em
que o pH estava ácido (Tabela 5.6). Todas as concentrações de Cr e Pb detectadas
estavam acima dos valores máximos admissíveis pelo CONAMA, tanto para o
consumo quanto para efluentes lançados nos corpos d’água.

65
Estudo do Igarapé 04

O Cr e o Cu foram encontrados nos locais próximos de despejo industrial


(pontos de coleta 9 e 6). Esses elementos estavam com limite de detecção abaixo da
técnica nos pontos de coleta 5-1. Isso indica que as condições físico-químicas não
permitiram a mobilidade desses elementos ao longo do Igarapé.

Tabela 5.8 – Teores médios em mg L-1 de Ni, Cr, Cu e Pb nas amostras de água
filtradas e não filtradas do Igarapé 04, obtidos na terceira coleta
(setembro).

Pontos Ni Cr Cu Pb
de
coleta NF F NF F NF F NF F
1* 0,436 (0) 0,484 (0) n.d. n.d. n.d. n.d. 1,52 (0) 1,74 (0)
2 1,94 (0) 2,12 (0,1) n.d. n.d. n.d. n.d. 1,74 (0) 1,74 (0)
3 0,484 (0) 0,484 (28) n.d. n.d. n.d. n.d. 1,96 (0) 1,30 (22)
4* 0,630 (49) 0,630 (0) n.d. n.d. n.d. n.d. 1,74 (22) 1,74 (0)
5 1,07 (0) 1,02 (0) 3,21 (0) 2,86 (0) n.d. n.d. 1,96 (0) 1,96 (0)
6* 1,55 (0) 1,47 (7) 9,70(3,2) 7,88 (0) 0,379 (212) 0,243 (0) 2,39 (0) 2,17 (0)
7* 0,387 (49) 0,387 (0) n.d. n.d. n.d. n.d. 1,74 (0) 1,52 (0)
8 1,23 (18) 1,45 (49) 7,88 (0) 7,88(1,6) 0,596 (0) 0,569 (42) 1,96 (0) 1,74 (0)
9* 0,970 (49) 0,921 (49) n.d. 3,21 (0) 0,379 (0) 0,27 (0) 1,74 (0) 1,74 (0)
10 0,387 (0) 0,387 (0) n.d. n.d. n.d. n.d. 1,52 (0) 1,52 (0)
NF = não filtrado F = filtrado n.d. = não detectado * Próximo a esgoto industrial
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

Um estudo realizado em igarapés da região do Distrito Industrial e no Igarapé


do Quarenta não detectou a presença de Pb em amostras de água e sedimento
(SAMPAIO, 2000). Por outro lado, SILVA (1992) encontrou este elemento em duas
espécies de peixes com concentrações variando entre 0,17 e 3,65 mg L-1. Nas
gramíneas coletadas às margens do Igarapé os teores de Pb absorvidos chegaram a
155,4 mg L-1 em período de estiagem (CASTRO, 2000). Esse fato, da mesma forma
que ocorreu com o Cr, mostra que este Igarapé também contribui para a

66
Estudo do Igarapé 04

contaminação do Igarapé do Quarenta por Pb. Tanto é assim que, VALLE (1998)
analisando amostras de solo do Igarapé do Quarenta encontrou teores de até 78,0
mg L-1 na fração trocável durante a estação seca.

Segundo PIMENTA, et al. (1994), casos de intoxicação ocorrem geralmente


entre trabalhadores da indústria extrativa do metal, fábricas de acumuladores
elétricos e com menor frequência nas indústrias de acabamento de peças metálicas,
principalmente em pintura com tinta à base de Pb. O mesmo autor determinou as
concentrações de Pb, Cd e Zn em várias tintas, vernizes e esmaltes sintéticos. O Pb
apresentou teores maiores que o recomendado pela legislação americana, que é de
0,06% (m/m). E o Zn e o Cd estavam presentes em concentrações relativamente
baixas.

Neste sentido, os resultados mostrados nas Tabelas 5.7 e 5.8 indicam que os
efluentes despejados neste Igarapé não sofreram o tratamento adequado para
eliminação desses poluentes.

Nesta coleta somente foi possível realizar medidas de espectroscopia na região


do infravermelho do resíduo retido no filtro 0,45 µm dos pontos de coleta 7-9. Da
mesma forma que ocorreu na segunda coleta, os espectros mostraram diferenças na
estrutura química dos resíduos (Figura 5.6). As principais diferenças são mostradas
no Quadro 5.3.

O ponto de coleta 8 apresentou várias bandas no espectro de infravermelho


correspondentes à funções nitrogenadas, carboxilas, hidroxilas e, da mesma forma
que ocorreu no Igarapé 03, presença de compostos de silício e alumínio. Os pontos
de coleta 7 e 9 não continham funções nitrogenadas no material particulado retido
no filtro.

67
Estudo do Igarapé 04

100
80
60
(a)
40
100
Transmitância (%)

90

80 (b)

100

90

80 (c)

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500


-1
Números de onda (cm )

Figura 5.6 - Espectro de infravermelho dos resíduos retidos no filtro de 0,45 µm


do Igarapé 04, obtido na terceira coleta (setembro). Onde (a)
representa o ponto de coleta 7; (b) representa o ponto de coleta 8 e (c)
representa o ponto de coleta 9.

68
Estudo do Igarapé 04

Quadro 5.3 – Funções orgânicas identificadas pela espectroscopia no infravermelho


dos resíduos retidos no filtro 0,45 µm, obtidos ao longo do Igarapé 04
na terceira coleta (setembro).

No de onda Pontos de coleta


Atribuições
(cm-1) 7 8 9
3.696 e 3621 Estiramento de grupos O-H X X X
3.165 Estiramento N-H de grupos nitrogenados X
2.926 e 2.857 Estiramento C-H de grupos alifáticos ou cíclicos X X
1.737 Estiramento C=O de ácido carboxílico X
1.649 Estiramento assimétrico COO- carboxilato X X X
1.540 Estiramento C=C de anel aromático X X X
1.422 Estiramento simétrico COO- carboxilato X X X
1.385 Estiramento C-N de amidas e/ou aminas X
1.279 Estiramento C-O de grupos carboxílicos e fenólicos X X X
1.035 e 1.010 Estiramento Si-O-Si X X X
915 Deformação de O-H ligados à camada interna X X X
750 Deformação de Si-O-Al X X X
540, 469 e 427 Deformação Al-O-Al X X X

Analisando os resultados da quarta coleta (novembro) mostrados na Tabela


5.9, observam-se oscilações menos expressivas no valor de pH em comparação às
variações da coleta anterior. Nos pontos de coleta 9 e 8 o pH permaneceu
praticamente neutro, 7,10 e 7,06, respectivamente. O ponto de coleta 7 foi o único
que apresentou caráter ácido nesta coleta com pH 4,58. Nos demais pontos de
amostragem o pH manteve-se em torno de 6,7, como na primeira coleta.

A temperatura medida durante a quarta coleta foi a mais elevada do Igarapé 04


neste estudo, atingindo a média de 30,0 ± 0,9 oC.

69
Estudo do Igarapé 04

Tabela 5.9 - Alguns parâmetros físicos e químicos do Igarapé 04 obtidos durante a


quarta coleta (novembro).

Pontos de coleta M.O. (mg L-1) Temperatura (oC) pH


1* 9,21 (18) 28,0 6,97
2 9,41 (30) 30,0 6,72
3 7,92 (27) 30,0 6,71
4* 10,6 (3) 30,5 6,79
5 12,0 (3) 30,5 6,71
6* 16,1 (1) 30,0 6,96
7* 7,03 (8) 31,5 4,58
8 17,5 (2) 29,5 7,06
9* 14,1 (2) 30,0 7,10
10 16,9 (0) 29,5 6,98
*Próximo a esgoto industrial M.O. = matéria orgânica
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

A concentração de matéria orgânica da água aumentou em relação à terceira


coleta (Tabela 5.9), mas não atingiu as concentrações encontradas na primeira
coleta. O comportamento das concentrações ao longo do igarapé foi praticamente o
mesmo ocorrido na segunda coleta (Figura 5.7).

A determinação de metais pesados da quarta coleta (novembro) detectou os


elementos Fe, Zn, Mn, Ni e Cr nas amostras de água (Tabelas 4.17 e 4.18). O Fe e o
Zn estavam, em grande parte, nas amostras não filtradas. Os elementos Pb, Cu e Cd
estavam abaixo do limite de detecção da técnica.

70
Estudo do Igarapé 04

18

Teor de matéria orgânica (mgL )


-1
16

14

12

10

Igarapé do Quarenta Distrito Industrial


6
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Pontos de coleta

Figura 5.7 - Comportamento da matéria orgânica ao longo do Igarapé 04 durante a


quarta coleta (novembro).

A ausência de Mn no ponto de coleta 7 indica que o esgoto industrial


despejado neste ponto de coleta não contribuiu para alterar a concentração desse
elemento ao longo do Igarapé 04. Por outro lado, a contribuição antrópica no ponto
de coleta 6 elevou o teor de Mn para valores acima dos permitidos pelo CONAMA.
O micro-ecossistema do Igarapé adsorveu esse elemento, fato comprovado pela
redução do seu teor para limites aceitáveis nos pontos de coleta próximos ao Igarapé
do Quarenta.

71
Estudo do Igarapé 04

Tabela 5.10 – Teores médios em mg L-1 de Fe, Zn e Mn nas amostras de água


filtradas e não filtradas do Igarapé 04, obtidos na quarta coleta
(novembro).

Pontos Fe Zn Mn
de coleta
NF F NF F NF F
1* 12,4 (0) 11,3 (5) 2,30 (0) 2,19 (0) 0,181 (0) 0,181 (0)
2 73,8 (19,3) 30,0 (1,5) 2,54 (24) 2,06 (6) 0,181 (0) 0,181 (0)
3 73,0 (0) 26,2 (0) 3,80 (0) 3,53 (2,1) 0,181 (0) 0,173 (19)
4* 57,1 (1,2) 24,9 (1,5) 3,40 (54) 3,18 (0) 0,612 (0) 0,640 (0)
5 78,7 (11,9) 26,3 (6,6) 5,42 (22) 3,94 (0) 0,340 (0) 0,371 (31)
6* 42,4 (34,1) 24,7 (0) 0,391 (341) 0,290 (23) 1,49 (1,0) 1,47 (50)
7* n.d. 44,0 (29,1) 13,5 (0) 9,51 (65) n.d. n.d.
8 94,5 (0) 73,8 (24,3) 14,3 (0) 14,6 (0) 0,702 (0,1) 0,681 (0)
9* 103(1) 92,8 (1,2) 14,1 (4) 14,7 (7) 0,309 (0) 0,27 (0)9
10 37,3 (2,9) 26,5 (1,2) 0,444 (0) 0,614 (23) 0,153 (0) 0,299 (47)
NF = não filtrado F = filtrado n.d. = não detectado * Próximo a esgoto industrial
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

Na quarta coleta, o Ni e o Cr (Tabela 5.11) foram encontrados com valores


acima dos permitidos pelo CONAMA, praticamente em todos os pontos de
amostragem. Nos pontos de coleta 6 e 10 esses elementos estavam abaixo do limite
de detecção da técnica. A partir do ponto de coleta 9 pode ser observado uma
distribuição aleatória desses elementos ao longo do Igarapé 04. Sugerindo que nesta
coleta a atividade antrópica vem contribuindo para a contaminação do Igarapé 04.
Pode–se observar também que o micro-ecossistema do Igarapé foi capaz de adsorver
o Ni e Cr, uma vez que, as menores concentrações desses metais foram
determinadas nos pontos de coleta próximos ao Igarapé do Quarenta.

72
Estudo do Igarapé 04

Tabela 5.11 – Teores médios em mg L-1 de Ni e Cr nas amostras de água filtradas e


não filtradas do Igarapé 04, obtidos na quarta coleta (novembro).

Ni Cr
Pontos de coleta
NF F NF F
1* 0,311 (0) 0,355 (44) n.d. n.d.
2 0,577 (44) 0,710 (0) 1,36 (0) 0,835 (0)
3 0,932 (0) 1,07 (0) 1,83 (0) 1,43 (22)
4* 0,932 (44) 1,20 (4) 1,91 (26) 1,46 (0)
5 1,02 (0) 1,15 (0) 2,30 (0) 1,46 (0)
6* n.d. n.d. n.d. n.d.
7* 0,932 (0) 0,110 (0) 4,70 (0) 3,55 (0)
8 1,27 (0) 1,51 (44) 4,90 (0) 5,01 (0)
9* 0,710 (0) 0,888 (0) 4,17 (0) 4,49 (0)
10 n.d. n.d. n.d. n.d.
NF=não filtradoF=filtrado n.d.=não detectado *Próximo a esgoto industrial
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

Nesta coleta, como na primeira, não foi possível realizar medidas de


espectroscopia no infravermelho das partículas retidas no filtro Millipore 0,45 µm.

5.3. Considerações Finais

O conjunto de dados obtidos nas quatro coletas revelou situações particulares


para o Igarapé 04. A temperatura média das águas do Igarapé aumentou de maio até
novembro (Figura 5.8). Esse aumento não está relacionado com o aumento da
temperatura média da região de Manaus.

73
Estudo do Igarapé 04

30

29

28
Temperatura ( C)
o

27 M anaus
Igarapé 04

26

25

24
M ai Jul Set N ov
M eses de coleta

Figura 5.8 – Temperaturas médias de Manaus e na água do Igarapé 04 observadas


durante as coletas nos meses de maio, julho, setembro e novembro.

Nos meses de setembro e novembro a diferença entre a temperatura média em


Manaus e a do Igarapé 04 são muito diferentes, caracterizando a influência da
atividade antrópica sobre as águas.

A concentração de matéria orgânica também oscilou bastante durante o


período amostrado. Na primeira coleta, nos pontos de coleta 8 e 1-2 observou-se um
aumento na concentração de matéria orgânica. Na segunda coleta, ocorreu uma
redução desse teor, com exceção de alguns pontos de coleta. Esse comportamento
foi praticamente o mesmo na terceira coleta e aumentou um pouco na quarta coleta.

Diferente do Igarapé 03, os resíduos foram caracterizados pela presença de


estruturas químicas diferentes ao longo do Igarapé. Basicamente as funções

74
Estudo do Igarapé 04

químicas detectadas pela espectroscopia no infravermelho podem ser associadas a


componentes de tintas, principalmente pela presença de fenóis.

No caso específico dos metais pesados, observaram-se diferenças básicas em


suas concentrações nas águas filtradas ao longo do Igarapé e nos períodos de coleta.
As concentrações dos elementos encontradas nos pontos de coleta próximo ao
Igarapé do Quarenta são mostradas na Tabela 5.12.

Tabela 5.12 - Contribuição de alguns metais pesados em mg L-1 do Igarapé 04 para


o Igarapé do Quarenta nas quatro coletas.

Meses de coleta
Elemento
maio julho setembro Novembro
Fe 4,79 0,610 54,9 11,30
Zn 1,55 27,6 6,00 2,19
Mn 0,123 0,145 0,181 0,181
Ni n.d. 2,09 0,484 0,355
Cr n.d. 0,091 n.d. n.d.
Cu n.d. 0,202 n.d. n.d.
Pb n.d. n.d. 1,74 n.d.

Os elementos Fe, Zn, Ni, Cr, Cu e Pb apresentaram concentrações acima dos


limites recomendados pelo CONAMA.

75
6. Estudo do Igarapé 05

6.1 Descrição dos locais de coleta

A área do Igarapé 05 onde foram coletadas as amostras possui um braço que se


une ao leito principal no ponto de coleta de coleta 3 seguindo até o Igarapé do
Quarenta. Este braço é formado pelos pontos de coleta 4, 8 e 9 e o leito principal
pelos pontos de coleta 5, 6, 7 e 10 (Figura 3.1).

Durante as coletas a presença de lixo (latas, pneus, papelão, sacos de lixo,


sacos de polipropileno e, principalmente, plásticos) era constante nas margens e no
leito do Igarapé 05.

A águas do Igarapé 05 geralmente eram claras, com odor desagradável de


esgoto e solvente em alguns pontos de amostragem. Da mesma forma que ocorreu
no Igarapé 04, uma variedade de cores na água foi observada em alguns locais de
coleta durante todos os períodos de coleta em virtude dos rejeitos que foram
despejados neste Igarapé.

Quanto à vegetação observou-se uma grande variedade com árvores silvestres,


samambaias, buritizeiros e algumas espécies de gramíneas.

Algumas características observadas durante as coletas estão relacionadas no


Quadro 6.1.
Estudo do Igarapé 05

Quadro 6.1 – Características de alguns pontos de coleta do Igarapé 05 observadas


durante as coletas.

Coleta Descrição

Primeira Água com cor esverdeada (pontos 1, 2 e 7), forte odor de


solvente (ponto 7), às vezes escura e com muito lixo
(maio) (pontos 8 e 9).

Água turva (pontos 1 a 3, 5 a 7 e 10), com muito lodo


Segunda (pontos 2, 3, 8 e 9 Figura 6.1 a), odor de solvente (ponto
6), presença de etiqueta de forno de microondas (pontos
(julho) 5 a 7 – Figura 6.1 b) e espuma em abundância (pontos 5
a 7 – Figura 6.1 c)

Água preta (pontos 8 e 9 – Figura 6.1 d) e avermelhada


Terceira
(pontos 5 a 7 e 10) com odor muito forte de esgoto e
solvente (pontos 4 a 7) e presença de óleo na água (ponto
(setembro)
10).

Água de cor acinzentada em um braço do igarapé


Quarta
(pontos 1, 2, 3, 5, 6, 7 e 10) e odor de solvente nos
(novembro)
pontos 7 e 10.

77
Estudo do Igarapé 05

(a) (b)

(c) (d)

Figura 6.1 – Características do Igarapé 05 – (a) Leito do Igarapé com muito lodo
(b) Presença de etiquetas de equipamento eletrodoméstico (c) Presença
de espuma em abundância na água do Igarapé e (d) coloração negra da
água no braço do Igarapé.

78
Estudo do Igarapé 05

6.2 Resultados e Discussão

Os resultados apresentados na Tabela 6.1, obtidos na primeira coleta (maio),


mostram que não houve variações acentuadas nos valores de pH, temperatura e
matéria orgânica tanto ao longo do Igarapé 05 quanto no braço. Da mesma forma
que os Igarapés 3 e 4, o pH permaneceu em torno de 6,00, variando de 6,16 a 6,60.

A temperatura manteve-se praticamente constante em torno de 26,8 ± 0,4 oC


em todo o percurso do Igarapé 05 (Tabela 6.1). Apenas nos pontos de coleta 3 e 10 a
temperatura foi de 26,0 oC. Esses valores estão próximos aos encontrados nos
Igarapés 03 e 04, exceto nos pontos de coleta que receberam influência antrópica.

Tabela 6.1 - Alguns parâmetros físicos e químicos do Igarapé 05 obtidos durante a


primeira coleta (maio).

Pontos de coleta M.O. (mg L-1) Temperatura (oC) pH


1 19,3 (8) 27,0 6,28
2 18,2 (5) 27,0 6,23
3* 16,1 (3) 26,0 6,60
4b 16,4 (0) 27,0 6,21
5 16,4 (0) 27,0 6,24
6 15,0 (2) 27,0 6,16
7 14,7 (6) 27,0 6,28
8* b 15,1 (1) 27,0 6,57
9* b 11,2 (4) 27,0 6,49
10 11,4 (1) 26,0 6,18
*Próximo a esgoto industrial M.O. = matéria orgânica
b
Braço do Igarapé 05
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata
O sentido do fluxo do Igarapé é do ponto de coleta 10 ao ponto de coleta 1

79
Estudo do Igarapé 05

Os teores de matéria orgânica total da água aumentaram nos pontos de coleta


no sentido do Distrito Industrial para o Igarapé do Quarenta. O teor de matéria
orgânica era de 11,4 (1) mg L-1 no ponto de coleta 10 e aumentou para 19,3 (8) mg
L-1 no ponto 1.

A Tabela 6.2 mostra os resultados da determinação dos metais Fe, Zn, Mn, Ni,
Cr, Cu, Pb e Cd nas frações filtradas e não filtradas da primeira coleta. Os elementos
Ni, Cr, Pb e Cd estavam com concentrações abaixo do limite de detecção da técnica.
Os resultados das análises químicas desses metais pesados na água do Igarapé
mostram que suas concentrações não diferem significativamente entre si.

A presença de Fe na fração não filtrada indica que esse elemento estava


adsorvido nas partículas em suspensão, como ocorreu nos Igarapés 03 e 04,
principalmente nos pontos de coleta 4, 5, 6, 7 e 10. Nestes locais esse elemento não
foi detectado nas amostras filtradas. Mas nos pontos de coleta 3-1, a concentração
desse elemento aumentou drasticamente, provavelmente devido à atividade
antrópica. Da mesma forma que aumentou, a concentração reduziu drasticamente
para o mesma variação de pH no ponto de coleta 1, próximo ao Igarapé do Quarenta.

O mesmo comportamento foi observado para a fração filtrada coletada no


braço do Igarapé, indicando que esse elemento foi praticamente imobilizado pelo
micro-ecossistema dessa região, talvez devido ao tipo do material em suspensão.

Diferentemente do que ocorreu nos Igarapés 03 e 04 as concentrações de Zn e


Mn não apresentaram o mesmo comportamento do Fe. Este fato se deve,
principalmente à atividade antrópica, nessa área estão localizadas indústrias que
necessitam de peças galvanizadas.

No caso específico do Mn, os resultados são caracterizados pela ocorrência dos


maiores valores ao longo do Igarapé. Esta característica mostra que o principal

80
Estudo do Igarapé 05

contribuinte para a contaminação de Mn no Igarapé do Quarenta é a atividade das


indústrias localizadas às margens do Igarapé.

Os resultados das análises de metais pesados indicam que, nesta coleta, o ponto
de amostragem 3 sofre influência dos elementos presentes na água do braço.

Dos igarapés estudados nesta dissertação, somente no Igarapé 05 foi detectado


outro elemento além de Fe, Zn e Mn na primeira coleta. Trata-se do Cu, cujas
concentrações em todos os pontos de amostragem estavam acima dos valores
máximos permitidos pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente Ambiente
(CONAMA) resolução No 020/861 (Apêndice 01).

Tabela 6.2 – Teores médios em mg L-1 de Fe, Zn, Mn e Cu nas amostras de água
filtradas e não filtradas do Igarapé 05, obtidos na primeira coleta
(maio).

Pontos Fe Zn Mn Cu
de
coleta NF F NF F NF F F
1 12,7 (1,4) 0,118 (0) 0,371 (0) 0,338 (72) 0,190 (0) 0,190 (0) 0,107 (15)
2 14,6 (6,4) 0,213 (68) 0,608 (271) 0,326 (24) 0,258 (21) 0,230 (14) 0,071(0)
3* 14,6 (6,4) 1,29 (62) 0,793 (44) 0,523 (107) 0,271 (14) 0,244 (0) 0,086 (0)
4b 22,7 (4,0) n.d. 0,490 (27) 0,456 (16) n.d. 0,027 (0) 0,093 (0)
5 15,4 (1,6) n.d. 0,475 (48) 0,330 (63) 0,283 (11) 0,272 (0) 0,093 (7)
6 14,1 (2,0) n.d. 0,499 (83) 0,600 (298) 0,261 (17) 0,203 (93) 0,102 (11)
7 13,7 (8) n.d. 0,367 (21) 0,261 (44) 0,291 (23) 0,255 (21) 0,095 (0)
8* b 10,5 (0) 0,349 (146) 0,670 (151) 0,581 (25) n.d. 0,072 (0) 0,110 (4)
9* b 3,90 (0) 0,477 (257) 0,812 (38) 0,463 (0) n.d. 0,065 (0) 0,107 (0)
10 12,2 (8,8) n.d. 0,294 (5) 0,290 (32) 0,261 (22) 0,250 (0) 0,112 (0)
NF = não filtrado F = filtrado n.d. = não detectado *Próximo a esgoto industrial
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata
b
Braço do Igarapé 05

1
Todas as citações do CONAMA nesta dissertação referem-se à Resolução No 20 de 18 de junho de 1986.

81
Estudo do Igarapé 05

Nesta coleta não foi possível realizar medidas de espectroscopia no


infravermelho das partículas retidas no filtro Millipore 0,45 µm.

Na segunda coleta (julho) observou-se um aumento nos valores de pH,


tornando a água ligeiramente básica (Tabela 6.3). Alguns pontos de coleta (5, 7, 8 e
10) apresentaram valores de pH próximos ao neutro. A temperatura, por sua vez,
manteve-se em 27,2 ± 0,4 oC.

As amostras dos pontos de coleta 4, 8 e 9 (braço do Igarapé 05), apresentaram


menores teores de matéria orgânica na segunda coleta. Nos demais pontos de coleta
observou-se variações onde o maior valor foi 12,8 (2) mg L-1. Ao contrário do que
aconteceu na primeira coleta, a concentração de matéria orgânica reduziu no sentido
do Distrito Industrial para o Igarapé do Quarenta.

Tabela 6.3 - Alguns parâmetros físicos e químicos do Igarapé 05 obtidos durante a


segunda coleta (julho).

Pontos de coleta M.O. (mg L-1) Temperatura (oC) pH


1 8,46 (0) 27,0 7,31
2 12,8 (2) 27,0 7,27
3* 8,97 (15) 27,0 7,15
4b 4,70 (1,2) 27,0 7,07
5 10,0 (0) 27,0 6,98
6 7,69 (0) 27,0 7,02
7 8,21 (0) 28,0 6,90
8* b 5,90 (21) 27,0 6,96
9 *b 6,75 (32) 27,0 7,04
10 11,5 (3) 28,0 6,87
*Próximo a esgoto industrial M.O. = matéria orgânica
b
Braço do Igarapé 05
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

82
Estudo do Igarapé 05

Os elementos Zn, Mn, Ni e Cu, de acordo com as Tabelas 6.4 e 6.5,


apresentaram as maiores concentrações no ponto de coleta 1 na fração filtrada.
Todos os teores encontrados no Igarapé 05 são maiores do que os admissíveis para o
consumo (CONAMA).

O comportamento desses elementos ao longo do Igarapé na fração filtrada são


bastante distintos. O Cu foi detectado apenas nos pontos de coleta 1-3, 5 e 10, numa
demonstração clara de que esse elemento está sendo adicionado ao sistema hídrico
do Igarapé pela atividade antrópica. Por sua vez, o Cr e o Mn só foram determinados
ao longo do leito do Igarapé, sugerindo a existência de outros locais de despejo
industrial.

Tabela 6.4 – Teores médios em mg L-1 de Fe, Zn e Mn nas amostras de água


filtradas e não filtradas do Igarapé 05, obtidos na segunda coleta
(julho).

Fe Zn Mn
Pontos de
coleta
NF F NF F NF F
1 1,45 (0) 1,45 (0) 0,687 (207) 1,03 (14) 1,01 (7) 1,00 (0)
2 2,09 (0) 6,78 (2,08) 1,18 (8) 0,306 (37) 1,08 (0) 0,465 (0)
3* 1,45 (0) 4,75 (0) 0,945 (39) 0,373 (37) 0,959 (75) 0,625 (32)
b
4 0,482 (0) 2,13 (0) 0,587 (0) 0,136 (0) 0,019 (0) n.d.
5 1,50 (67) 4,26 (0) 1,69 (0) 0,270 (0) 1,33 (39) 1,01 (7)
6 0,321 (0) 1,72 (0) 0,888 (207) 0,500 (45) 1,31 (16) 1,00 (3)
7 0,642 (322) 1,47 (0) 1,65 (34) 0,547 (50) 1,71 (0) 1,40 (9)
b
8* n.d. 2,13 (1,93) 0,852 (41) 0,203 (68) n.d. n.d.
b
9* 0,160 (0) 0,328 (0) 0,952 (0) 0,177 (34) n.d. n.d.
10 0,214 (0) 0,045 (57) 1,86 (6) 0,242 (23) 2,40 (13) 2,15 (28)
NF = não filtrado F = filtrado n.d. = não detectado
b
Braço do Igarapé 05 * Próximo a esgoto industrial
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

83
Estudo do Igarapé 05

Da mesma forma que nos Igarapés 03 e 04, a presença de Ni na segunda coleta


(Tabela 6.5) parece ser uma constante na região do Distrito Industrial nesta época do
ano. As condições físico-químicas da água fazem com que o Ni exista somente na
valência Ni2+, consequentemente esse elemento foi encontrado em toda a extensão
do Igarapé. A contribuição de Ni do Igarapé 05 para o Igarapé do Quarenta (ponto
de coleta 1) ocorreu com valores a cerca de 260 vezes maiores do que é admissível
pelo CONAMA para águas tipo Classe 2. Esses valores não são maiores devido à
diluição provocada pelo braço do Igarapé, senão os teores seriam da ordem de 376
vezes. No braço do igarapé (pontos de coleta 4, 8 e 9), os teores de Ni estavam 14
vezes acima valor estipulado pelo órgão citado anteriormente.

Tabela 6.5 – Teores médios em mg L-1 de Fe, Zn, Mn e Cr nas amostras de água
filtradas e não filtradas do Igarapé 05, obtidos na segunda coleta
(julho).

Ni Cr Cu
Pontos
de coleta
NF F NF F NF F
1 6,35 (0) 6,54 (49) 2,71 (19) 2,50 (0) 0,173 (0) 0,173 (0)
2 6,83 (0) 4,35 (44) 2,84 (14) 0,184 (0) 0,232 (0) 0,144 (0)
3* 7,88 (44) 5,69 (76) 2,59 (0) 0,184 (0) 0,232 (0) 0,144 (0)
4 b
0,420 (0) 0,305 (0) n.d. n.d. 0,115 (0) n.d.
5 12,3 (4,5) 9,40 (57) 1,85 (56) 0,308 (46) 0,086 (0) 0,028 (0)
6 11,0 (3,2) 9,40 (59) 0,986 (141) n.d. 0,057 (0) n.d.
7 8,83 (1,87) 8,26 (29) 0,924 (0) 0,091 (0) 0,028 (0) n.d.
b
8* 0,458 (233) 0,305 (115) n.d. n.d. n.d. n.d.
b
9* 0,267 (0) 0,331 (80) n.d. n.d. n.d. n.d.
10 8,16 (44) 8,26 (0) 0,832 (93) 0,647 (0) 0,057 (0) 0,057 (0)
NF = não filtrado F = filtrado n.d. = não detectado
b
Braço do Igarapé 05 * Próximo a esgoto industrial
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

84
Estudo do Igarapé 05

O estudo dos resíduos obtidos no filtro 0,45 µm por espectroscopia na região


do infravermelho possibilitou agrupar os locais de coleta em quatro tipos diferentes
de estruturas químicas existentes nas partículas em suspensão (Quadro 6.2).

Os espectros na região do infravermelho (Figura 6.3) indicam que ao longo do


Igarapé foi identificada a presença de grupos alifáticos ou cíclicos, carboxilatos,
silicatos e aluminatos, através dos estiramentos C-H, COO-, Si-O-Si, Si-O-Al e Al-O-
Al, respectivamente. Além desses, os espectros dos pontos de coleta 2 e 3
apresentaram bandas relativas aos estiramentos de grupos O-H, C=O de ácido
carboxílico e C-N de aminas e/ou amidas. Esses compostos nitrogenados foram
identificados também nos pontos de amostragem 5-7. Este fato indica a presença de
substâncias orgânicas oriundas de fontes naturais.

Quadro 6.2 – Funções orgânicas identificadas pela espectroscopia no infravermelho


dos resíduos retidos no filtro 0,45 µm, obtidos ao longo do Igarapé 05
na segunda coleta (julho).

No de onda Pontos de coleta


Atribuições
(cm-1)
2-3 4,8 e 9 5-7
3.696 e 3621 Estiramento de grupos O-H X
Estiramento C-H de grupos alifáticos ou
2.926 e 2.857 X X X
cíclicos
1.737 Estiramento C=O de ácido carboxílico X
1.649 Estiramento assimétrico COO- carboxilato X X X
1.422 Estiramento simétrico COO- carboxilato X X X
1.385 Estiramento C-N de amidas e/ou aminas X X
1.035 e 1.010 Estiramento Si-O-Si X X X
750 Deformação de Si-O-Al X X X
540, 469 e 427 Deformação Al-O-Al X X X

85
Estudo do Igarapé 05

120

100

(a)
80

100
Transmitância (%)

80

(b)
60

120

100

80 (c)

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500


-1
Números de onda (cm )

Figura 6.2 Espectros de infravermelho representativos dos resíduos obtidos no


filtro 0,45 µm, durante a segunda coleta no Igarapé 05. Onde (a)
representa os pontos de coleta 2 e 3; (b) representa os pontos de coleta
4,8 e 9 e (c) representa oos pontos de coleta 5-7.

86
Estudo do Igarapé 05

Na terceira coleta (setembro), o pH da água do Igarapé 05 apresentou caráter


mais ácido do que na segunda coleta, com valores variando entre 6,33 e 6,60 (Tabela
6.6). A temperatura aumentou em todos os pontos de coleta aproximadamente 3,2 ±
0,6 oC.

Tabela 6.6 - Alguns parâmetros físicos e químicos do Igarapé 05 obtidos durante a


terceira coleta (setembro).

Pontos de coleta M.O. (mg L-1) Temperatura (oC) pH


1 3,64 (18) 31,0 6,55
2 6,77 (98) 31,0 6,60
3* 10,1 (3) 30,5 6,46
4b 39,4 (4) 30,0 6,47
5 1,52 (22) 30,5 6,38
6 3,64 (0) 30,0 6,35
7 4,65 (8) 30,5 6,38
8* b 30,9 (5) 30,0 6,51
9* b 34,1 (6) 30,0 6,55
10 4,70 (18) 30,0 6,33
*Próximo a esgoto industrial M.O. = matéria orgânica
b
Braço do Igarapé 05
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

Com relação ao teor de matéria orgânica, o braço do Igarapé 05 apresentou os


valores mais elevados de todo o Igarapé , 34,8 ± 4,3 mg L-1. Nestes pontos de coleta
a água apresentava coloração negra, o que é incomum na região do Distrito
Industrial. Essa característica pode ter contribuído para a elevação acentuada da
concentração de matéria orgânica.

Avaliando os demais locais de coleta (1-3, 5-7 e 10), observou-se que o ponto
de amostragem 3 apresentou o teor mais elevado de matéria orgânica. No restante do

87
Estudo do Igarapé 05

curso do Igarapé, nos pontos de coleta 2 e 1, aparentemente houve degradação da


matéria orgânica, pois a sua concentração no ponto de coleta 1 foi de 3,64 ± 18
mg L-1.

Nas análises químicas de metais pesados na terceira coleta (setembro) a


concentração de Cd abaixo do limite de detecção da técnica (Tabela 6.7). Os
elementos Fe e Zn mostraram uma estreita relação entre a fração filtrada e não
filtrada, principalmente nos pontos de coleta 4, 8, 9 e 10. A concentração de Fe na
fração filtrada foi maior do que as encontradas nos Igarapés 03 e 04.

Tabela 6.7 – Teores médios em mg L-1 de Fe, Zn e Mn nas amostras de água


filtradas e não filtradas do Igarapé 05, obtidos na terceira coleta
(setembro).

Fe Zn Mn
Pontos
de coleta
NF F NF F NF F
1 12,2 (0) 8,30 (0) 40,0 (13,3) 31,7 (7,6) 0,278 (0) 0,320 (0)
2 12,9 (0) 8,30 (0) 30,0 (5,0) 25,0 (0) 0,320 (0) 0,352 (21)
3* 1,83 (96) 8,54 (1,37) 25,0 (0) 20,0 (0) 0,278 (0) 0,250 (14)
b
4 6,59 (1,75) 4,75 (2,50) 400 (0) 800 (0) 0,181 (0) 0,176 (21)
5 11,9 (0) 7,21 (0) 16,7 (7,6) 15,0 (0) 0,445 (129) 0,292 (0)
6 13,1 7,57 (0) 25,0 (0) 20,0 (0) 0,399 (53) 0,278 (0)
7 12,4 7,57 (0) 25,0 (0) 20,0 (0) n.d. 0,306 (14)
b
8* 7,51 8,60 (0) 400 (0) 800 (0) 0,208 (0) 0,195 (0)
b
9* 7,21 7,51 (3,75) 400 (0) 600 (0) 0,222 (0) 0,083 (14)
10 9,75 10,6 (3,4) 25,0 (0) 30,0 (0) 0,389 (0) 0,292 (0)
NF = não filtrado F = filtrado n.d. = não detectado
b
Braço do Igarapé 05 * Próximo a esgoto industrial
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

88
Estudo do Igarapé 05

A contaminação por Zn no braço do Igarapé 05 é evidente, atingindo 800 mg


L-1 nas amostras filtradas (Tabela 6.7). No entanto, esses teores reduziram a partir do
ponto de coleta 3, sugerindo uma rápida adsorção desse elemento pelo micro-
ecossistema dessa região.

A distribuição do Mn neste Igarapé é basicamente semelhante nas frações


filtrada e não filtrada. Esta característica mostra que o Mn existente nesta coleta
estava praticamente dissolvido na água, com teores acima dos recomendados pelo
CONAMA.

Tabela 6.8 – Teores médios em mg L-1 de Ni, Pb e Cu nas amostras de água


filtradas e não filtradas do Igarapé 05, obtidos na terceira coleta
(setembro).

Pontos de Ni Pb Cu
coleta
NF F NF F NF F
1 1,60 (0) 1,80 (5) 1,52 (0) 1,52 (22) 0,053 (0) n.d.
2 1,63 (17) 1,75 (0) 1,74 (0) 1,52 (0) 0,053 (0) 0,275 (0)
3* 1,50 (0) 1,37 (20) 1,30 (0) 1,30 (0) 0,468 (0) 0,046 (0)
b
4 0,436 (0) 0,484 (0) 1,52 (0) 1,52 (0) 1,33 (21) 0,504 (46)
5 2,37 (1,18) 1,11 (0) 1,30 (0) 0,217 (0) 0,156 (0) n.d.
6 2,76 (34) 1,70 (0) 1,52 (0) 0,217 (0) 0,234 (0) 0,046 (0)
7 2,24 (39) 1,70 (0) 1,52 (0) 0,217 (0) 0,234 (0) n.d.
b
8* 0,436 (0) 0,145 (0) 1,74 (0) 0,217 (0) 1,82 (12) 0,275 (0)
b
9* 0,533 (0) 0,096 (49) 1,74 (0) 0,217 (0) 1,64 (0) 0,458 (0)
10 2,13 (29) 1,65 (0) 1,30 (0) n.d. 0,234 (0) n.d.
NF = não filtrado F = filtrado n.d. = não detectado
b
Braço do Igarapé 05 * Próximo a esgoto industrial
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

89
Estudo do Igarapé 05

O Pb comportou-se de maneira indiferente às características adversas


observadas no Igarapé 05 nesta coleta (Tabela 6.8). Os teores determinados para este
elemento permaneceram praticamente constantes (1,52 ± 0,18 mg L-1) na fração não
filtrada, mesmo após o ponto de coleta 3. A concentração desse elemento encontrada
no ponto de coleta 1 supera em cerca de 51 vezes aos valores recomendados pelo
CONAMA. Ao longo do Igarapé os valores são cerca de 7 vezes maiores. O
aumento na concentração de Pb ocorre a partir do ponto de coleta 4.

Situação semelhante ocorreu com o Cu, cujas concentrações nos pontos de


coleta 4, 8 e 9 estavam acima dos limites permitidos pelo CONAMA.

A concentração de Ni que é despejada no Igarapé do Quarenta diminuiu para


cerca de 70 vezes acima do permitido pelo CONAMA para águas tipo Classe 2, em
relação à coleta anterior.

Nesta coleta, só foi possível realizar medidas de espectroscopia de


infravermelho nos pontos de coleta 2 e 3. Os espectros não mostraram diferenças
significativas nos grupos funcionais do material retido no filtro 0,45 µm (Figura
6.3), com bandas em 2.923 e 2.853 cm-1 que são características de estiramento C-H
de grupos alifáticos ou cíclicos. Em 1.646 cm-1 a banda indica o estiramento
assimétrico COO- carboxilato. A banda em 1.543 cm-1 corresponde ao estiramento
C=C de aromático. A presença de silício e alumínio pode ser observada pelas bandas
em 1.037 cm-1 referente ao estiramento Si-O-Si e pelas bandas em 542, 470 e 429
cm-1 referente ao estiramento Al-O-Al.

90
Estudo do Igarapé 05

100

95

90

85
Transmitância (%)

(a)
80

75

95

90

85

80 (b)

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500


-1
Números de onda (cm )

Figura 6.3 Espectros de infravermelho representativos dos resíduos obtidos no


filtro 0,45 µm, durante a quarta coleta no Igarapé 05. Onde (a)
representa o ponto de coleta 2 e (b) representa o ponto de coleta 3.

Na quarta coleta (novembro) o valor de pH permaneceu nos mesmos patamares


da coleta anterior, variando de 6,15 a 6,39 ao longo do Igarapé (Tabela 6.9). A
temperatura reduziu aproximadamente 1 oC, mantendo-se em torno de 29,1 ± 0,2 oC.

Nesta coleta, as concentrações de matéria orgânica nos pontos de coleta que


formam o braço do Igarapé 05 foram maiores que as observadas no leito principal,
porém em menores proporções do que nas coletas anteriores.

91
Estudo do Igarapé 05

Os resultados das análises químicas dos metais pesados Fe, Zn, Mn, Ni, Cr,
Cu, Pb e Cd são apresentados nas Tabelas 6.10 e 6.11. As concentrações dos três
últimos elementos citados estavam abaixo do limite de detecção da técnica.

Tabela 6.9 - Alguns parâmetros físicos e químicos do Igarapé 05 obtidos durante a


quarta coleta (novembro).

Ponto de coleta M.O. (mg L-1) Temperatura (oC) pH


1 16,6 (26) 29,0 6,38
2 17,1 (25) 29,0 6,35
3* 16,2 (25) 29,0 6,31
4b 27,3 (23) 29,5 6,39
5 14,3 (0) 29,0 6,27
6 9,11 (77) 29,0 6,23
7 14,1 (42) 29,0 6,20
8* b 23,8 (0) 29,0 6,34
9* b 25,8 (0) 29,5 6,31
10 5,35 (25) 29,0 6,15
*Próximo a esgoto industrial M.O. = matéria orgânica
b
Braço do Igarapé 05
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

Diferentemente do que ocorreu na terceira coleta, o teor de Fe foi mais elevado


nos pontos de coleta localizados no braço do Igarapé (Tabela 6.9). A concentração
de Fe dissolvido ultrapassou cerca de 347 vezes aos valores estipulados pelo
CONAMA. Os demais pontos de coleta deste Igarapé apresentaram teores de Fe na
fração filtrada nas mesmas proporções observadas nas três primeiras coletas.

Ao contrário do que ocorreu na terceira coleta, as concentrações de Zn ficaram


com valores próximos aos obtidos na primeira e segunda coleta. No braço do
Igarapé foram encontradas as maiores concentrações, tanto nas amostras filtradas
quanto nas amostras não filtradas.

92
Estudo do Igarapé 05

Tabela 6.10 – Teores médios em mg L-1 de Fe, Zn, Mn nas amostras de água
filtradas e não filtradas do Igarapé 05, obtidos na quarta coleta
(novembro).

Pontos de Fe Zn Mn
coleta NF F NF F NF F
1 10,9 (1,8) 7,89 (30) 4,47 (20) 1,10 (21) 0,797 (142) 0,707 (38)
2 11,8 (0) 7,62 (76) 4,57 (16) 0,856 (0) 0,901 (105) 0,821 (38)
3* 13,6 (0) 10,0 (0) 5,92 (7) 1,19 (4) 0,806 (62) 0,674 (30)
b
4 120,6 (6,0) 90,6 (6,8) 10,1 (0) 2,25 (9) n.d. n.d.
5 18,8 (0) 11,5 (0) 1,02 (8) 0,892 (48) 1,00 (13) 1,14 (11)
6 17,5 (3) 11,5 (0) 1,02 (5) 0,943 (84) 1,02 (14) 1,12 (13)
7 17,3 (6) 11,8 (3) 1,04 (2) 1,03 (9) n.d. 1,20 (4)
b
8* 91,8 (6,6) 75,3 (2,1) 9,36 (19) 1,94 (27) n.d. n.d.
b
9* 100 (16) 90,8 (13,2) 10,7 (6) 1,93 (0) n.d. n.d.
10 16,9 (0) 11,2 (3) 0,464 (0) 1,00 (16) 1,04 (1) 1,11 (9)
NF = não filtrado F = filtrado n.d. = não detectado
b
Braço do Igarapé 05 * Próximo a esgoto industrial
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

Tabela 6.11 – Teores médios em mg L-1de Ni, e Cr nas amostras de água filtradas e
não filtradas do Igarapé 05, obtidos na quarta coleta (novembro).

Pontos de Ni Cr
coleta
NF F NF F
1 0,736 (58) 0,690 (28) n.d. n.d.
2 0,773 (0) 0,912 (0) n.d. n.d.
3* 0,105 (73) 0,967 (0) n.d. n.d.
b
4 n.d. n.d. n.d. n.d.
5 1,48 (15) 1,33 (0) 0,555 (79) 0,396 (0)
6 1,69 (8) 1,36 (11) 0,476 (0) 0,396 (0)
7 1,33 (0) 1,48 (14) 0,476 (0) 0,396 (0)
b
8* n.d. n.d. n.d. n.d.
b
9* n.d. n.d. n.d. n.d.
10 1,44 (9) 1,35 (3) n.d. n.d.
NF = não filtrado F = filtrado n.d. = não detectado
b
Braço do Igarapé 05 * Próximo a esgoto industrial
Os números entre parênteses representam o desvio padrão de triplicata

93
Estudo do Igarapé 05

O Mn e o Ni foram detectados somente nos pontos de coleta do leito principal


do Igarapé 05 e nos pontos de coleta próximos ao Igarapé do Quarenta (pontos de
coleta 3, 2 e 1). A concentração de Ni reduziu para cerca de 28 vezes no ponto de
coleta 1, próximo ao Igarapé do Quarenta, em relação aos valores permitidos pelo
CONAMA.

Nesta coleta, como na primeira, não foi possível realizar medidas de


espectroscopia na região do infravermelho devido ao tamanho das partículas retidas
no filtro 0,45 µm.

6.3 Considerações Finais

Uma característica comum das águas deste Igarapé é uma distribuição


completamente aleatória dos parâmetros analisados durante as quatro coletas, com
exceção da temperatura que variou cerca de 3,0 oC. Somente na primeira coleta a
temperatura na região de Manaus foi superior à temperatura da água do Igarapé 05.
Nas demais coletas, a temperatura no Igarapé 05 aumentou em uma proporção maior
do que a temperatura média de Manaus e os maiores valores foram determinados na
terceira coleta (Figura 6.3).

Já os valores de pH da água oscilaram mais do que a temperatura, tanto ao


longo do Igarapé, quanto entre os períodos de coleta, provocando alterações nas
concentrações de matéria orgânica e metais pesados.

94
Estudo do Igarapé 05

31

30

29
Temperatura (oC)

28
Manaus
Igarapé 05

27

26

25
Mai Jul Set Nov
Meses de coleta

Figura 6.4 – Temperaturas médias da cidade de Manaus nos quatro meses de coleta
e da água do Igarapé 05 durante as quatro coletas.

A contribuição deste Igarapé para a contaminação do Igarapé do Quarenta por


substância orgânica obedece à ordem descrita na Figura 6.4, em que a maior
concentração foi observada na primeira coleta seguida da quarta coleta. Os valores
altos em alguns pontos de coleta juntamente com os fortes odores de solvente
permitem afirmar que as empresas que utilizam esse Igarapé como local de despejo
não estão tratando seus rejeitos orgânicos. O estudo por espectroscopia no
infravermelho mostrou pouca variação nos grupos funcionais presentes na estrutura
química dos componentes dos resíduos sólidos.

95
Estudo do Igarapé 05

20 maio

Concentração de matéria orgânica (mg L-1)


18 julho
16 setembro
14 novembro
12

10

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Pontos de coleta

Figura 6.5 - Comportamento da matéria orgânica na água do Igarapé 05 durante as


quatro coletas.

No caso dos metais pesados determinados, quando detectados, possuíam


concentrações acima dos encontrados em igarapés naturais existentes em Manaus
(SILVA, 1996). A concentração de Cd esteve abaixo do limite de detecção da
técnica em todas as coletas. Isso se deve ao tipo de atividade industrial desenvolvida
nessa região. O Pb foi detectado somente na terceira coleta. O Ni não foi encontrado
na primeira coleta, nas demais coletas sua concentração variou drasticamente
chegando a atingir valores muito acima dos permitidos. O Cu, por sua vez, foi
detectado somente nas três primeiras coletas. E o Cr foi encontrado apenas na
segunda e quarta coleta. Os demais elementos, Fe, Zn e Mn apresentaram
comportamento variado nas amostras filtradas em todas as coletas (Figura 6.5).

96
Estudo do Igarapé 05

m aio
julho
setem bro
novem bro
2

1
(a)
m g (L )
-1

3
C oncentração de m etais

2
(b)
1

10

5
(c)
0
Igarapé do Q uarenta D istrito Industrial

2 4 6 8 10
P ontos de coleta

Figura 6.6 - Distribuição de Fe, Zn e Mn nas amostras de água filtradas do leito


principal do Igarapé 05 durante as quatro coletas. Onde (a) representa
concentração de Mn; (b) representa concentração de Zn e (c)
representa concentração de Fe.

A contribuição dos elementos Fe, Zn e Mn ao Igarapé do Quarenta é


praticamente a mesma nas duas primeiras coletas. Por outro lado, na terceira e
quarta coleta a concentração desses elementos nos pontos próximos ao Igarapé do
Quarenta não foi constante. Como por exemplo, o Fe que atingiu teores de
aproximadamente 8,0 mg L-1 no ponto de coleta 1.

97
Estudo do Igarapé 05

De maneira geral, pode-se dizer que na terceira coleta houve predominância


das características dos metais pesados presentes no leito principal do Igarapé 05,
pois suas concentrações não sofreram alterações com a influência da água do braço
do Igarapé.

98
7. Conclusão

Historicamente o Igarapé do Quarenta tem recebido diversos tipos de rejeitos.


Neste trabalho podemos afirmar que a contribuição do Distrito Industrial durante as
quatro coletas realizadas no ano de 2000 provocou alterações nas características
físico-químicas da água dos Igarapés estudados.

Os resultados mostram um ambiente aquático anômalo, com bruscas alterações


dos parâmetros analisados em um curto espaço de tempo (intervalo entre as coletas),
conforme mostrado no Quadro 7.1. A exceção são os valores de pH, que estavam em
torno de 6,00 em todas as quatro coletas.

As temperaturas das águas dos três Igarapés apresentaram intervalos de 3 a 4


o
C. A menor temperatura que o Igarapé do Quarenta recebeu foi do Igarapé 03, no
mês de julho. A maior temperatura foi encontrada no Igarapé 05 durante o mês de
setembro.

A contribuição de matéria orgânica total dos três afluentes para o Igarapé do


Quarenta foi bastante aleatória. Em alguns casos, as concentrações se aproximaram
das encontradas em igarapés naturais da região (26,6 mg L-1). Em outros, os teores
determinados foram baixos, chegando a 1,52 mg L-1 no Igarapé 03.

A introdução de metais pesados no Igarapé do Quarenta pelo Igarapé 03


restringiu-se apenas aos elementos Fe, Zn e Mn. Além desses, os metais Ni, Cu, Cr e
Pb foram adicionados ao micro-ecossistema do Igarapé do Quarenta pelas águas dos
Igarapés 04 e 05. As maiores concentrações desses elementos foram determinadas
próximos à locais de despejos industriais. Apenas o Cd não foi determinado, pois
estava abaixo do limite de detecção da técnica.
Conclusão

Quadro 7.1 Valores máximos e mínimos das contribuições das águas dos três
Igarapés para as alterações físico-químicas no Igarapé do Quarenta,
durante as quatro coletas.

Concentração (mg L-1)


o
Igarapé Limite pH T ( C)
M.O. Fe Zn Mn Ni Cu Cr Pb

Máx. 6,89 28,0 11,1 24,3 0,103 0,019 n.d. n.d. n.d. n.d.
03
Mín. 6,73 24,5 1,52 10,6 n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.

Máx. 6,97 29,0 19,3 29,9 15,07 0,181 1,302 0,158 0,415 1,74
04
Mín. 6,47 26,0 4,44 0,305 1,13 0,121 n.d. n.d. n.d. n.d.

Máx. 7,31 31,0 19,3 8,30 31,7 1,00 6,54 0,137 2,50 1,52
05
Mín. 6,28 27,0 3,64 0,118 0,338 0,190 0,69 n.d. n.d. n.d.

M.O. = matéria orgânica

A espectroscopia na região do infravermelho indicou que a constituição básica


do material particulado era compostos de argilominerais. A presença de funções
orgânicas (carboxilas, hidroxilas e, em alguns casos, nitrogenadas e fenóis) na
maioria dos casos são provenientes de sistemas naturais. Os Igarapés 03 e 05
apresentaram pequenas variações de funções orgânicas nas quatro coletas, formadas
basicamente de substâncias orgânicas naturais. Enquanto no Igarapé 04, a grande
variedade de grupos orgânicos, possivelmente devido a adsorção dos solventes no
material particulado, fez com que este Igarapé fosse considerado neste estudo como
o principal agente de contaminação orgânica do Igarapé do Quarenta.

100
Conclusão

Todos os Igarapés, na maioria das coletas, apresentaram parâmetros com


valores acima dos permitidos pela Resolução no 20 de 1986 do CONAMA, tanto
para águas de Classe 2 quanto para despejos de efluentes industriais. Essas
condições confirmam os níveis de contaminação no Igarapé do Quarenta.

Uma das principais contribuições desta dissertação foi mostrar a necessidade


de as empresas do Distrito Industrial de Manaus adequarem seus processos de forma
a reduzir o impacto ambiental. Se continuarem dessa forma, os igarapés dessa região
continuarão com níveis de metais pesados superiores aos do Tietê (SP), um dos rios
mais poluídos do Brasil, conforme dados da SABESP (2001).

Esse quadro pode mudar, principalmente com a busca pela certificação ISO
14.000 no setor industrial, contribuindo para o crescimento da área de
gerenciamento ambiental e, consequentemente, para a preservação e controle do
meio ambiente.

101
8. Referências Bibliográficas

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110
Apêndice 01

Resolução CONAMA 20/86, sobre classificação das águas (Potabilidade e Balneabilidade)

Parâmetros Limites para águas Limites para efluentes


de Classe 2(a) (mg L-1) (mg L-1)
pH 6,0 – 9,0 5,0 - 9,0
o
< 40 C com elevação do
Temperatura -
corpo receptor inferior a 3oC
Cd 0,001 0,2
Pb 0,03 0,5
Cu 0,02 1,0
Cr3+ 0,5 2,0
Cr6+ 0,05 0,5
Fe solúvel 0,3 15
Mn 0,1 1,0
Ni 0,025 2,0
Zn 0,18 5,0
a
Águas de Classe 2 são águas destinadas:
a) abastecimento doméstico após tratamento simplificado;
b) à proteção das comunidades aquáticas;
c) à recreação de contato primário;
d) à irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se
desenvolvem rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de
película;
e) à criação natural e/ou intensiva de espécies destinadas à alimentação humana;

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