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Director-adjunto: Rena-
ta Silva
Preço: 1,90
Edição número 1
NOTICIAR
27 de Novembro de Fundador: Renata Silva
2008
Economia
Cultura
EM DESTAQUE:
World Press Photo
O melhor do fotojornalismo inter-
Maria José Magalhães:“ Temos que lutar para que a
nacional e nacional está exposto, igualdade se concretize cada vez mais”
a partir desta sexta-feira, no
Fórum da Maia, com fotografias P 7/8/9
do World Press Photo 2008 e da
última edição do Prémio Fotojor-
nalismo Visão/BES.
P 13
Notícias sempre
actualizadas em:
www.noticiar.pt
NOTICIAR 27 de Novembro 2008 2
DESTAQUE
ACTUAL
EXPLICAÇÕES NO DESEMPREGO
O desemprego é cada vez maior em Portugal. O O desemprego constitui ainda uma preocupação, coisa que não está a ser bem feita.
ensino é uma das áreas mais afectadas. Em res- mesmo para quem trabalha num centro de expli-
posta às não colocações, às dificuldades e à cações. As perspectivas de futuro são outras e a Diana Magalhães também critica a situação
incerteza, os professores recém-licenciados pro- quantidade da procura para tão pouca oferta tam- de desemprego no ensino em Portugal. Revela
curam um lugar em centros de explicações. bém é preocupante. Diana Magalhães afirma que está muito mais difícil do que quando aca-
Estes centros são hoje em grande número e a que, todas as semanas, a caixa de e-mails enche bou o curso e que a selecção de professores é
procura por parte dos professores é muita. Uns com currículos de muitos recém-licenciados à hoje em dia mais apertada. Os anos de serviço
criam os seus próprios negócios, abrindo novos procura de emprego. “ Todas as semanas tenho contam muito e os colégios não aceitam pes-
centros de estudos e apostando nos mesmos e que arquivar uma série de currículos. Muitas soas sem experiência. Afirma ainda conhecer
outros procuram trabalho enviando currículos vezes vêm cá pessoalmente, perguntar se estão casos de colegas suas que estão actualmente
para os mais diversos locais. a precisar de professores”, afirma. O panorama a completar a parte exigida pela reestruturação
define-se. Não há colocações e o trabalho procu- do curso da Faculdade de Letras, muitos anos
Situado na Rua do Campo Alegre, o Centro de ra-se em tudo o quanto é parte: colégios priva- depois de já terem deixado de estudar. Catari-
Estudos Diana Magalhães representa um destes dos, centros de explicações, escolas, etc. na Brito também não se poupa nas críticas. A
casos. Diana Magalhães criou o seu próprio situação é precária e tem tendência para pio-
negócio há dez anos atrás. Acabou o curso de Foi o que fez Catarina Brito. É uma das professo- rar: “ Há mesmo muitos professores e se não
Línguas e Literaturas Modernas - variante Portu- ras a trabalhar neste centro de explicações. Com aceitarmos determinadas condições, alguém
guês Alemão na Faculdade de Letras da Univer- um sorriso e até alguma esperança, conta que aceitará”, revela. O panorama acaba por ser
sidade do Porto em 1989. Chegou a dar aulas, andou a espalhar currículos por vários locais. Até generalizado. A maioria das colegas de facul-
por motivos de substituição, durante 5 meses. que em 2005 encontrou trabalho no centro de dade de Catarina Brito estão em centros de
Desde então, nunca mais conseguiu colocação. explicações Diana Magalhães, onde revela gos- explicações a trabalhar.
Procurou durante vários anos, até que há dois tar do que faz, embora não seja uma situação
anos atrás acabou por desistir. Farta de incerte- estável. Licenciou-se em Português via ensino, Desemprego, precariedade e proliferação
zas, Diana Magalhães, revela: “ Gostei tanto da na Universidade do Minho e terminou o estágio dos centros de explicações
experiência do ensino que resolvi de uma outra em 2002. Desde então, nunca foi colocada e
forma, estando ligada ao ensino e não estando espera sempre por uma colocação, embora saiba
sujeita a ser chamada ou não, na incerteza, criar que, na lista, o seu nome se encontra entre os Existem cerca de 40 mil professores no
um centro de explicações.” Para além do Centro 4000. desemprego. As condições dadas aos profes-
de Estudos trabalhou também como secretária. sores em Portugal são precárias. Muitas esco-
Contudo, alguns professores acabam mesmo por
ficar colocados. Diana Magalhães, como qual- las não têm condições, os alunos são malcom-
Num ambiente de ensino e de alegria por parte
quer directora de um centro, fica preocupada portados, os salários são baixos, muitos
das crianças, que insistiam em ser entrevistadas,
com a situação, pois eram pessoas com quem docentes são pagos a recibos verdes. As exi-
foram-se revelando outros factos acerca do cen-
contava e que têm de deixar de trabalhar lá. gências para a entrada de professores nas
tro de explicações. No início, segundo afirma a
Colocada ficou a professora Carla Cruz que, ape- escolas são muitas e pede-se cada vez mais
professora, o centro teve poucos alunos e o pre-
sar de ter encontrado emprego, conseguiu conju- um prolongamento do estudo, algo que não é
juízo foi grande. É também um negócio que não
gar o seu horário com o do centro. Esta foi a pri- possível a muitos. Catarina Brito revela que
compensa face ao ensino, como nos demons-
meira vez que foi colocada, mas confessa gostar não pode continuar os estudos porque o que
trou. As explicações acabam forçadamente em
mais do seu trabalho como explicadora do que ganha não dá para pagar.
Junho, tempo de férias e começam em Setem-
bro. Natal e Páscoa são alturas complicadas. As do trabalho que realiza agora enquanto professo- João Louceiro, dirigente sindical da FEN-
regalias também não são muitas. Sem direito a ra. A professora já tem larga experiência em cen- PROF, revelou ao JN que mesmo os professo-
subsídios, Diana Magalhães tem que pagar a tros de estudo. Já desde o primeiro ano da facul- res colocados, muitos deles, estão a trabalhar
todos os professores, ainda que os pais fiquem a dade que trabalha em centros de explicações em condições precárias e a ganhar a recibos
dever. para cobrir as despesas da faculdade. Carla Cruz verdes, sendo considerados “ prestadores de
licenciou-se no ano lectivo 2005-2006 em Quími- serviços”.
Hoje em dia o trabalho no centro é maior. Exige ca, ramo educacional, mas, neste momento, lec-
dedicação a cem por cento. O centro de Estudos ciona EFAS (Ensino e Formação de Adultos),
Diana Magalhães tem cerca de seis professores incluída este ano na candidatura de professores,
a trabalhar e são vários os alunos que o frequen- uma disciplina para adultos, que diz ser comple-
tam. tamente diferente do trabalho realizado com
crianças. Descreve a situação do ensino em Por-
tugal como caótica e revela que há alguma
NOTICIAR 27 de Novembro 2008 3
ACTUAL
Já Salomé Castro, aluna também da Escola Para muitos docentes, o primeiro contacto
Superior de Educação e futura professora do com o ensino e a única forma de o manter é o
Ensino Básico, é mais crítica em relação ao trabalho em centros de estudos. Segundo o
governo e ao ensino de hoje em dia: “ Bem, artigo, não existem mais desenvolvimentos
se observarmos apenas o sector da educa- porque a investigação sobre esta problemáti-
ção, é óbvio que o panorama não é muito ca é reduzida.
positivo. Parece que a nossa política educati-
va está mais direccionada para um processo Diana Magalhães é, por isso, um exemplo,
ensino-aprendizagem “envelhecido”. Isto é, dos muitos professores que durante anos não
em vez de dar oportunidade aos mais recen- conseguiram colocações e que resolveram
tes profissionais da educação que, natural- por sua conta e risco criar um centro de expli-
mente, têm uma pré-disposição para novas cações, negócio cada vez mais em expan-
metodologias e técnicas de construir e orien- são, para fazerem face ao desemprego e não
tar a aprendizagem das crianças, desenvolve se desligarem do que é o conceito de ensino.
e implementa reformas (alargamento da ida-
de da reforma, desertificação do interior;
encerramento de escolas, etc.) que a frus-
tram e “atrofiam” as perspectivas de futuro da
população mais jovem”, afirma.
Diana Magalhães acabou o curso em 1981, leccionou temporariamente e a partir daí nunca mais
obteve colocação. Criou um Centro de Estudos no Porto.
NOTICIAR 27 de Novembro 2008 4
ACTUAL
Novas Oportunidades na
APDL
DESTAQUES DA Renata Silva
renatas@noticiar.pt
SEMANA
Os motivos para terem abandonado os estudos Os trabalhos vêm de casa. As experiências são
Violência Doméstica: são vários. Aos 53 anos, Fernando Oliveira só reveladas.
agressores passam a usar tem o 9º ano porque não teve condições para
continuar a estudar. Tirou o curso de Serralheiro A APDL recebe, assim, desde o mês de Outubro
pulseira electrónica e não foi difícil obter emprego. Com um sorriso a formação para os seus funcionários.
nos lábios, revela que as Novas Oportunidades O programa das Novas Oportunidades é para
Futebol Clube do Porto são para ele "um desafio pessoal". Valdemar Cabral, dos recursos humanos, "uma
vence o Fenerbahçe para a Já Cláudia Amorim tem 32 anos, fez o 9º ano ferramenta de motivação para os trabalhadores"
que se torna vantajosa para a empresa. O horá-
Liga dos Campeões através de um curso profissional e teve a oportu-
rio é laboral para tornar mais fácil o acesso à for-
nidade de começar a trabalhar na APDL. A ideia
era parar um ano, mas depois não pôde voltar a mação. "Nós tentamos dentro das possibilidades
Mais de 100 mortos nos eliminar aquilo que seriam entraves ao proces-
estudar. Destaca a facilidade e vantagem por ter
atentados em Bombaím formação dentro do local de trabalho e em horá- so", acrescenta.
rio laboral. "Em termos profissionais sentimo-nos Os resultados têm sido positivos. "Em todas as
Cine-Teatro Constantino sem dúvida queiramos ou não, mais realizados" , acções nós sentimos que eles querem continuar
revela a aluna. Cláudia Amorim não descarta ain- e estão motivados para obter a sua certificação.
Nery é reinaugurado da a hipótese de prosseguir estudos. Mesmo os que estão a obter certificação no bási-
A história de Joaquim Matos é diferente. Não tra- co, já estão a pensar obter a certificação também
Crise está a afectar as ao nível do secundário", revela. Com o sistema
balha na APDL e tomou a iniciativa de se inscre-
compras dos portugueses ver nas Novas Oportunidades. Sempre com inte- de RVCC são as experiências de vida que dão o
resse em fazer formações e progredir nos estu- conhecimento e certificam o aluno.
Portugal escapa à reces- dos, foi impedido por não ter os estudos míni- Até agora meio milhão de portugueses já fre-
mos. Defende que as Novas Oportunidades são
são no terceiro trimestre quentou o programa das Novas Oportunidades.
"uma forma de verificar e de atestar as capacida- Tal como a APDL, perto de 500 empresas estão
do ano des que as pessoas têm" inscritas na iniciativa. O governo tem como meta
Estes são apenas três exemplos de formandos a formação de 1 milhão de adultos até 2010,
do programa Novas Oportunidades. Pelas 15 números que aos olhos de muitos parecem
horas começava mais uma sessão do sistema de impossíveis e que causam polémica devido ao
Reconhecimento e Validação de Competências facilitismo na atribuição dos certificados.
(RVCC) na APDL.
ECONOMIA
Paulo Azevedo defende reforço da indústria para combater défice comercial Segundo o estudo, os 10% mais OCDE pede mais esforços
pobres em Inglaterra ganham, em
Diana Albuquerque média, mais dinheiro que uma pessoa A OCDE pede no relatório para
em Portugal. que sejam tomadas políticas
albdiana@noticiar.pt sociais por parte dos países para
Desigualdade cresce entre os diminuírem esta diferença. A
jovens e as famílias com crianças ajuda na inserção no trabalho é
Preparar empresas para os momentos difí- uma das medidas sugeridas.
Um sector difícil mas fulcral para equilibrar a
ceis As diferenças entre ricos e pobres
balança comercial portuguesa. Estas foram
aumentaram na grande maioria dos Esforços também na educação e
algumas das opiniões sobre o papel da indústria No debate foi defendida a necessidade das
países da OCDE. nos serviços são também descri-
no futuro de Portugal expressas esta terça-feira indústrias portuguesas aumentarem a qualidade tos pela OCDE como soluções
na Biblioteca Almeida Garrett, no Porto. dos seus produtos. O objectivo é fazer face a para o combate à desigualdade.
um mercado cada vez mais competitivo no
O presidente da Comissão da Administração da estrangeiro.
BA Vidro, Carlos Moreira da Silva, reconheceu
que "não é fácil atrair as pessoas para a indús- "Tem que se valorizar o que Portugal representa
tria". Apesar do retrato, os participantes da con- lá fora", afirmou Frederico Fortunato, gerente da
ferência, organizada pela "Exame" e pelo Kyaia. Crise afecta o Natal das famílias portuguesas
"Expresso", convergiram na importância deste O presidente da comissão executiva da Unicer, Renata Silva
sector para a economia portuguesa. António Pires de Lima, enfatizou a importância
das empresas estarem atentas ao futuro da As famílias portuguesas vão gastar Contudo, segundo revela a
O presidente da Comissão Executiva da Sonae,
indústria. "Procuramos preparar a empresa para menos 4,8 por cento do que em 2007, consultora, as crianças não vão
Paulo Azevedo, vê no sector industrial a solu-
um panorama que se adivinha nada bom", dis- segundo revela a consultora Deloitte ser afectadas pela crise, visto
ção para combater o défice da balança comer-
se. "É nos momentos de dificuldade que se vê o num estudo divulgado esta quarta- não estar previsto um decrésci-
cial portuguesa. "O importante não é irmos aos
valor das empresas". feira. A crise económica vai afectar as mo de prendas compradas
supermercados do nosso país e vermos produ-
tos unicamente nossos, mas sim irmos ao tradicionais compras de Natal. pelos adultos.
estrangeiro e encontrarmos produtos portugue- A grande maioria dos inquiridos neste Quanto aos presentes mais
ses", frisou. estudo acredita que Portugal está em oferecidos pelos portugueses,
recessão, ao passo que 77 por cento o estudo indica que as prefe-
afirma que tem menor poder de com- rências são, por ordem decres-
pra e que o rendimento é também infe- cente, roupa, livros e dinheiro.
rior ao de 2007.
O estudo realizou-se em 15
As famílias portuguesas acreditam ain- países europeus e na África do
da num pior cenário de crise para Sul entre 29 de Setembro e 10
2009. de Outubro baseado numa
amostra de 18.178 consumido-
"Neste cenário, os portugueses preten-
res representativa da popula-
dem adquirir presentes mais úteis e
ção de cada um dos países.
estarão muito atentos às promoções
efectuadas nesta época do ano", refere
a Delloite.
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INTERNACIONAL
saraazevedo@noticiar.pt
O terceiro e maior ataque ao Hotel Marriott em Islamabad A cidade indiana de Bombaim foi, Para além dos dois hotéis, foram
esta quarta-feira à noite, alvo de ata- também atacados dois hospitais e
Explosão em Islamabad faz 53 mortos e 266 feridos um quartel da polícia no sul da cida-
ques terroristas, dos quais resulta-
ram cerca de 125 mortos e 300 feri- de. De acordo com o jornal "Público",
Renata Silva
dos. as autoridades confirmaram a explo-
renatas@noticiar.pt são de uma bomba num táxi e um
Os ataques terroristas em Bombaim
rabi feito refém no ataque contra um
provocaram, ate às 17h00 desta
O Hotel Marriott foi, este sábado, Após o ataque, os Estados Unidos sus- edifício de apartamentos conhecido
quinta-feira, 125 mortos e centenas
alvo do maior atentado terrorista des- penderam o serviço consular no Paquis- como Chabad House.
de feridos nas explosões e disparos
de 2001, em Islamabad. 53 pessoas tão. George Bush condenou o atentado que atingiram hotéis de luxo, restau- O “Times of India” revelou que o pri-
morreram e 266 ficaram feridas. e alertou para a continuidade da luta rantes e hospitais. meiro tiroteio começou por volta das
Entre os feridos encontram-se pelo contra a ameaça terrorista. Também a 22h33 (17h03 em Lisboa) na princi-
Pelo menos outras três vítimas mor-
menos 7 alemães e 2 norte america- União Europeia condenou o atentado pal central ferroviária da cidade. De
tais são cidadãos estrangeiros: um
nos. Entre as vítimas mortais estava terrorista: “ Condeno nos termos mais acordo com o "Público",
italiano, um australiano e um japo-
o Embaixador da República Checa. enérgicos o vil ataque terrorista no Isla- "testemunhas contam que dois
nês, segundo a AFP. De acordo com
mabad”, afirma Javier Solana, represen- homens armados com metralhadoras
a Lusa, estavam cinco portugueses
Um carro com 600 quilos de explosi- tante da União Europeia para a política AK-47 e granadas mataram pelo
entre os cerca de 200 turistas estran-
vos embateu contra o portão do hotel externa. menos dez pessoas e feriram deze-
geiros que, entretanto, conseguiram
Marriott. A explosão provocou uma nas de outras antes de serem abati-
escapar do hotel Taj Mahal.
enorme cratera à entrada do hotel e Um grupo chamado “ Combatentes do dos pelos agentes que acorreram ao
Várias pessoas foram feitas reféns local".
destruiu janelas e portas. Deflagra- Islão” reivindicou a autoria do atentado.
em dois hotéis de cinco estrelas,
ram no hotel focos de incêndio. Ainda assim, não é certo que os ata-
mas, de acordo com informação
O Hotel Marriott tem 290 quartos e é ques tenham sido levados a cabo por
divulgada pela polícia indiana de
Este é o terceiro e o maior ataque ao frequentado por estrangeiros que visi- este grupo islamita, tendo em conta
Maharashtra, já terá sido retomado o
hotel de luxo, localizado na capital do tam ou residem na cidade. O condutor que vários meios de comunicação
controlo da situação no Taj Mahal,
Paquistão. da viatura que embateu contra o hotel social acreditam que a acção pode
onde, segundo a Reuters, foram
terá morrido no ataque registado no iní- ter sido conduzida pelo Lashkar-e-
encontrados hóspedes refugiados
A explosão fez desabar o tecto de cio da noite de ontem. Dezenas de car- Taiba. Este grupo extremista, sedia-
nos quartos e vários cadáveres.
uma sala de banquetes, onde se ros que se encontravam no parque de do no Paquistão, é responsável por
estacionamento ficaram danificados. Há, ainda, cerca de 20 a 30 reféns alguns dos atentados na Índia nos
encontravam entre 200 a 300 pes-
no Trident-Oberoi, entre eles vários últimos anos. O principal motivo é o
soas que celebravam o fim do Rama-
estrangeiros, e alguns dos atacantes fim da presença indiana em Caxemi-
dão, período de jejum respeitado
no interior, onde terá deflagrado um ra, região dos Himalaias disputada
pelos muçulmanos.
incêndio ainda esta noite. O hotel, pelos dois países vizinhos.
situado na parte Sul da cidade de
Para a noite do ataque terrorista
Bombaim, encontra-se cercado por De acordo com a agência Lusa, um
estava agendado um jantar no hotel
elementos do Exército e comandos dos homens armados do hotel Obe-
Marriott entre o presidente paquista-
das forças antiterroristas indianas.
nês e o seu primeiro-ministro. O jan- roi disse que os ataques foram per-
tar foi desmarcado em cima da Relatos de pessoas que consegui-
petrados como forma de chamar a
ram escapar aos ataques indicam
hora. atenção para a discriminação dos
que os assaltantes procuravam cida-
dãos estrangeiros, sobretudo britâni- muçulmanos na Índia.
O atentado ocorreu horas depois de
cos e norte-americanos para toma-
o actual presidente Paquistanês, Asif
rem como reféns. As autoridades de saúde de Bom-
Ali Zardari, viúvo da ex-primeira
Islamitas reivindicam os ataques baim confirmaram ter recebido, até
ministra Benazir Butto, se ter com-
prometido a continuar na luta contra Os ataques foram reivindicados por ao momento (17h00 de quinta-feira),
os fundamentalistas islâmicos. um grupo islamita que se apresenta 125 corpos e 327 feridos, um número
como os Mujaedines do Deccan. Em que não será ainda definitivo.
Em 2001, o então presidente Pervez pequenos grupos, o grupo atingiu o
Musharraf anunciou o seu apoio à restaurante Café Leopold e o termi-
guerra contra o terrorismo, desenca- nal de transportes públicos Chhatra-
deada pela administração Bush após pathi Shivaji, com armas automáticas
os atentados do 11 de Setembro. e granadas praticamente em simultâ-
neo.
NOTICIAR 27 de Novembro 2008 7
SOCIEDADE
Em Portugal: Maria Teresa Horta, Maria Não há no meio disto três ou quatro
SOCIEDADE Isabel Barreno, Madalena Barbosa, mulheres? Não se pode fazer 5-5?
Manuela Tavares, Teresa Joaquim, Vir- Como é que as raparigas podem apren-
gínia Ferreira, Irene Pimentel, Idília de der a valorizar as outras mulheres?
Castro Osório…Cada uma com o seu
contributo. “A violência doméstica só
“A violência doméstica pode vai para agenda pública em
calhar a qualquer uma” 1999/2000”
As mulheres estão agora mais cien-
tes da sua posição na sociedade?
“Vemos, ouvimos e lemos. Não pode- Há quanto tempo está na UMAR?
Sim. Em geral as mulheres estão mais mos ignorar”. O que é que esta afir-
cientes da sua discriminação, mas Costumo dizer que entrei para a UMAR
mação de Sophia de Mello Breyner
também do seu poder. Ainda não con- significa para si? em Nova Iorque no ano 2000. Antes
seguimos perceber que nós juntas, disso era dos outros grupos feministas
Usamos essa frase numa campanha radicais mais pequenos.
somos muito fortes e ainda não con-
quando começamos com o Observatório
seguimos passar essa mensagem de Conte-nos um pouco do seu percurso
das Mulheres Assassinadas: “A violên-
que se as mulheres se unissem isto na UMAR.
cia doméstica também mata. Vemos,
dava uma volta em três tempos. Tam-
ouvimos e lemos, não podemos ignorar”. Já tinha sido convidada pela UMAR para
bém se as mulheres resolverem parar,
Significa que não podemos fechar os um seminário comunista no Montepio
nada anda. E não é preciso pararem
olhos e cruzar os braços em relação em 1998. Já tinha estado em muitos
todas. Basta pararem algumas.
àquilo que é a opressão, a discrimina- sítios com a UMAR, que também era
Como é a mulher do século XXI? ção e a pobreza ao nosso lado. Penso uma organização participante em even-
que as pessoas hoje em relação à vio- tos desde os anos 80. Na altura era da
Pois sim (pausa para reflectir) é uma direcção da APEM (e continuo a ser)
lência contra as mulheres estão bastan-
mulher fragmentada, tem várias caras, (Associação Portuguesa dos Estudos
te e cada vez mais alertadas. Ainda há
várias condições. Mulheres que já sobre as Mulheres) e fui me aproximan-
dificuldade em agir e em apelar. Há ain-
ascenderam ao topo que contratam do e a certa altura inscrevi-me. Depois
uma mulher para tratar da casa e não da zonas onde as mulheres sofrem mui-
houve uma circunstância em que foi
vêem naquela pessoa outra mulher. to e é preciso sabermos que a violência
quase exigida a minha participação acti-
Atingem lugares de governo, mas não doméstica pode calhar a qualquer uma, va. Tinha um grande trabalho já nas
chegaram lá com uma consciência mesmo à que está mais prevenida, à questões da reivindicação do aborto
feminista e às vezes até acham que que não quer casar, à que acha que vai com os grupos feministas radicais. Para
são tão boas que chegaram lá pelo impor-se face ao companheiro ou namo- mim estava muito claro como é que
mérito próprio e que já não precisam rado. íamos lutar contra os argumentos do
de dar cavaco a ninguém (também não e o que é que estava em causa. Fui
não quero Cavaco). As mulheres das Enquanto professora universitária, ganhando protagonismo nessa área e
classes trabalhadoras que vivem em lida diariamente com jovens. Os foram-me solicitando que eu dissesse o
situações terríveis, as desemprega- jovens de hoje são mais ou menos que era preciso dizer e sou hoje respon-
das, as mulheres dos bairros sociais, interessados por feminismo? sável por essa área.
as mães adolescentes. As mulheres
que têm dificuldade em ir ao centro de São mais. Há hoje muitos jovens inte- A UMAR é um produto do 25 de Abril.
saúde, que engravidaram e têm medo ressados no feminismo, muitos mais que O que significou para si, enquanto
de ser recriminadas por fazer um nos anos 80 e 90. Sobretudo as rapari- feminista, o 25 de Abril?
aborto. As empregadas domésticas, gas.
as crianças que abandonam a escola. Uma revolução inacabada. Em muitos
As jovens todas cheias de expectativa Defende uma educação para a cida- aspectos da vida das mulheres só temos
que acabam o curso superior e cons- dania e para a mudança de mentalida- conseguido alterar muitos anos depois
tatam que afinal o mercado de traba- des. Por que etapas deveria passar do 25 de Abril. Do ponto vista feminista,
lho é uma selva insuportável. O que essa formação? foi sobretudo uma alteração para a liber-
eu gostaria é que esta mulher frag- dade política e uma alteração em rela-
Tem que haver numa formação inicial
Prevenção da mentada com vários casos, com
ção às classes trabalhadoras, não signi-
várias experiências fosse cada vez para docentes. Tem de haver cadeiras
violência mais, articulando estas várias faces e ou módulos para a prevenção da violên- ficou um grande passo para as questões
cia doméstica e um saber sobre a cida- de igualdade de género.
doméstica encontrando uma face comum.
dania das mulheres. As professoras
O é que é facto é que a violência
Quais são as pessoas da história também foram formadas nesta socieda-
“ Como é que do feminismo que mais a inspiram? de que ensina a submissão das mulhe-
doméstica só vai para a agenda pública
em 1999/2000. Foi regulamentada no
se pode pensar res. Elas não ensinarão de outra manei-
ano 2000 e portanto quase século XXI.
Foram-me muito inspiradoras as femi- ra se não tiverem uma formação. É pre-
que se pode nistas radicais dos anos 70. A Kate ciso que os professores sejam alertados
Foi uma revolução política, ideológica.
Millett, a Shulamith Firestone, a Ger- Mas muita coisa ainda ficou por fazer.
abrir um centro para o que têm que ensinar de forma
maine Greer que tem escritos de aba- diferente. Valorizar as raparigas e dar-
de atendimento Os números de violência no namoro
nar as nossas concepções todas. A lhes formação para que elas também
Juliet Mitchell que discutiu sobre o saídos nos últimos estudos revelam
a vítimas de vio- sejam líderes. Há todo um conjunto de
trabalho doméstico e fez uma investi- valores muito elevados. As vítimas de
mensagens, livros, textos e formas de
lência domésti- gação: “ o trabalho doméstico tem tan- dar as disciplinas que é preciso mudar violência no namoro procuram a
to valor e é tão importante para o lucro para uma educação igualitária. As disci- UMAR?
ca duas vezes
capitalista como o trabalho nas fábri- plinas escondem a participação das
por semana das cas”. As sufragistas, a Cady Stanton, Algumas procuram. Mas procuram em
mulheres nas várias áreas. Outro dia fez
aquelas mulheres que sujaram as muito menor número do que as casadas
15h às 17h da -se um levantamento das autoras e ser
estátuas e foram presas e na prisão e já com filhos. Elas acreditam que por
o Camões e o Gil Vicente e o Eça de
tarde?” fizeram greve de fome, só para pedir o amor conseguem transformar o monstro
Queirós e o Pessoa?
voto das mulheres. Ferreira, Irene em príncipe encantado. Quando gostam,
Pimentel, Idília de Castro Osório… parece que nenhum conselho adianta.
Depois ficam zangadas com famílias e Que tipo de apoio é oferecido de vio- As mulheres vítimas de violência
SOCIEDADE amigos, fica completamente isolada, o lência doméstica e violência no andam muitas vezes com não sei quan-
que significa que ainda fica mais vulne- namoro, em especial por parte da tos processos atrás. Nunca há leis com-
rável à acção do agressor que também UMAR? pletamente boas. Toda a lei depende da
trabalha muito para isso. E depois ela forma como é aplicada. A maioria de
quando der conta está casada e com Temos vários serviços, gerimos casas nós (UMAR), ao ler aquela lei, acha que
filhos e está completamente no fundo do de abrigo do estado, temos centros de tem de haver cada vez mais uma sensi-
poço. Vêm ter connosco e quando vêm atendimento nas casas de abrigo das bilização dos magistrados em relação às
dizem que não querem deixar o namora- mulheres que estão incógnitas com os questões das mulheres vítimas de vio-
do. Querem que nós consigamos por seus filhos. Há um regulamento que diz lência doméstica. Quando são maltrata-
obra e graça do espírito santo que eles das e ainda por cima eles têm posições
que há um período a partir do qual se
deixem de ser agressores. Não se muda sexistas em relação a isso, é tão má
faz uma reavaliação para ver se ela já
um agressor com conversa. Há uma esta lei como a anterior. A nova lei é
está em condições de sair ou não e benéfica na medida em que diminui a
ideologia nos ensina a sermos donos do
nosso destino e portanto as raparigas depois arranjar emprego, habitação, litigiosidade dos divórcios. As vítimas de
ainda por cima estudantes universitá- colocação para os seus filhos, etc. violência são um pretexto para o veto do
rias, mais conscientes, têm um namora- Temos centros de atendimento onde as Presidente da República. Tem a ver com
do que as trata mal e não conseguem mulheres não vivem lá, mas são atendi- os sectores mais conservadores da
aguentar e acabam com eles. Mas não das, fazem terapias psicológicas, têm sociedade portuguesa que ainda acham
tomam precauções. Os agressores, acompanhamento jurídico, social, etc., que o casamento é mais importante que
mesmo os que são mais “light” têm uma para conseguirem encontrar um projecto o bem-estar individual das pessoas e
concepção de que elas lhes pertencem. de autonomia pessoal. que a família deve manter-se com todo
Alguns matam e a seguir suicidam-se. o esforço.
Há uma campanha em Espanha que diz Acha que Portugal está preparado
para se suicidarem antes. Nós temos Ainda faz sentido falar da mulher
para reduzir os números da violência
que nos unir. Calha a qualquer uma de enquanto parte mais fraca?
doméstica?
nós. Não estamos livres de ser alvo de
Faz, porque é ela a parte mais fraca no
alguma acção mais fatal, porque infeliz- Está preparado. Tem que ter é mais juí-
mente isto não é um problema indivi- zo na forma como os dinheiros públicos sentido económico, no sentido social e
dual. Elas também têm que aprender estão a ser utilizados. É preferível gastar no sentido político.
que pedir ajuda não é apenas bom para um bocadinho mais e pagar um pouco
Nos últimos anos tem-se falado de
elas, vítimas de violência, mas também melhor às técnicas que estão nos cen-
vários temas que envolvem a mulher:
é bom para estabelecer redes de solida- tros de atendimento e fazer formação e
riedade e apoio para as amigas. exigir-lhes que elas façam um bom tra- o aborto, a lei do divórcio, os salários
balho, do que financiar uma instituição mais baixos que os dos homens, a
Apesar dos números elevados, acha para pagar uma ninharia a uma técnica tomada de consciência sobre o
que pode haver uma evolução positi- que logo que tenha um emprego melhor aumento da violência doméstica. Em
va no que toca à mentalidade das se vai embora. Quando ela começa a que é que a discussão sobre estes
novas gerações? aprender a saber o que há-de fazer com temas se reflectiu numa evolução do
as vítimas, já ela vai trabalhar para outro próprio país?
Claro que pode. Temos que fazer essa sítio. Não faz sentido, pagarmos por
mudança e construir esta rede entre exemplo a psicólogas, juristas e assis- Na questão do aborto, a discussão foi
nós. Percebemos que há muitos sinais tentes sociais que estão a trabalhar com crucial porque foi a que mais atravessou
que nós podemos identificar, muitas coi- vítimas de violência porque é um traba- a sociedade portuguesa e que mais tor-
sas que eles fazem e que são logo indi- lho de risco, é um trabalho que exige nou claro o que estava em causa. O que
cadores que eles são agressores. Essa especialização. Ainda não há um conhe- estava em causa era se as mulheres
noção, podemos transmiti-la às jovens, cimento suficiente do que é as vítimas tinham direito a decidir sobre a sua vida
às famílias, às crianças, para percebe- precisam, de forma que estes serviços ou se era a sociedade ou se era o pai
rem e também dar às amigas e às pró- não têm muitas vezes boas respostas quem decidia. E na violência doméstica
prias mães algumas indicações do que para as mulheres. Como é que se pode também é muito isto que está em causa.
devem fazer quando as raparigas estão pensar que se pode abrir um centro de Mas a violência doméstica, apesar de
enamoradas e que a gente se apercebe atendimento a vítimas de violência tudo, veio à consciencialização das pes-
que ele é um agressor. Colegas nossas doméstica duas vezes por semana das soas com grande consenso. Há mais
dizem: “ A minha irmã é casada e perce- 15h às 17h da tarde? Nas juntas de fre- problema com o que se faz com as víti-
be-se que é vítima de violência, o que é guesia, dizem que têm um centro de mas de violência doméstica e com os
que faço?”. Uma reacção que nós não atendimento com uma técnica. Se sabe agressores. Como actuar, também há
devemos ter é: “ não percebo como é que há muitos casos de violência hoje IPSS que recebem financiamento
que tu aguentas e continuas a andar doméstica, devia exigir que ali ficassem para tratar as mulheres vítimas de vio-
com ele”. Esta atitude não ajuda a contratadas, pelos menos, três técnicas. lência doméstica, mas depois o que ten-
mulher vítima de violência. Dizia-se: “ tam é que homem e mulher se conci-
Olha tu é que sabes o que tens a fazer. Quando vetou a proposta de lei do liem, mas desde que preservem que a
No teu caso pedia ajuda. Há especialis- divórcio, o Presidente da República mulher não é vítima por mim tudo bem.
tas com quem devias falar, independen- anunciou que a lei devia ter em conta
temente do que decidas para a tua rela- a protecção da parte mais fraca, nes- O que é que o feminismo lhe dá no
ção”. É muito perigoso, elas saírem ou te caso a mulher. O que é que acha dia-a-dia?
acabarem com eles. Ela tem que avaliar
sobre o veto do Presidente da Repú- Energia, satisfação, trabalho, bem-estar,
o tipo de relação que tem o marido ou
blica? humor, estar bem comigo mesma. O
namorado e como pode sair dessa rela-
ção. Nessa avaliação é importante que feminismo ensinou-me primeiro a gostar
O senhor Presidente da República, o
esteja alguém que perceba e olhe para de mulheres e depois a aceitar-me a
professor Cavaco Silva não sabe nada
os dados e diga “Se está a pensar aca- mim como sou. O mais importante é
da violência doméstica. A questão que
bar com o seu marido, mude de casa, aprendermos a gostar de nós, é eu gos-
ele levanta é a do ressarcimento da víti-
deixe de atender o telemóvel, vá passar tar de mim. Para gostar de mim tenho
ma. É claro que ela não pode ficar sem
uns dias para casa da sua família, que gostar das outras mulheres, das
nada. As vítimas vêm queixar-se e
ponha os seus vizinhos à cautela, fale novas, das velhas, das cientistas, por-
depois começa o processo de divórcio
com as suas colegas, etc.” Mesmo que eu também sou um bocadinho disso
que habitualmente é litigioso e dura 3
assim não temos a certeza que essa tudo.
anos.
avaliação seja completamente segura.
Temos que fazer passar esta informa-
ção.
NOTICIAR 27 de Novembro 2008 10
SOCIEDADE
Foto: CIG
renatas@noticiar.pt
São voluntários. Jovens com vontade de aju- Numa área tão vasta como é o voluntariado, há
dar, de aprender, de viver e de sentir que espaço para muitas pessoas que queiram dar o
podem ser úteis. Estudantes ou trabalhado- seu tempo para ajudar. Por todo o país, existem
res, dão um pouco do seu tempo para ajudar bancos de voluntariado onde todos se podem
quem mais precisa. Histórias de vida partilha- inscrever e escolher a área para a qual se sen-
das entre quem ajuda e quem é ajudado. tem mais motivados. O voluntariado a nível
social, como é o caso do praticado por Ana
“Proporcionar momentos bons” Tulha, é um dos mais escolhidos. Aborda ajudar
crianças, idosos, animais, pessoas desfavoreci-
Ana Tulha é voluntária acerca de dois meses no
das. Daniela E. Santo é voluntária da Habitat for
Instituto Português de Oncologia (IPO) no Porto.
Humanity desde Agosto deste ano
De duas em duas semanas, tal como é estipula- “Vontade para aprender a construir”
do pela instituição, Ana vai visitar crianças com
doenças terminais. O contacto nem sempre é Daniela Espírito Santo é também estudante do
Fernando Pereira deixa ainda um apelo para que
feito com as mesmas crianças para que não se último ano de Ciências da Comunicação. O seu
as pessoas “dêem um bocadinho do seu tempo
crie uma relação demasiado próxima entre projecto de voluntariado é diferente e é levado a
para ajudar quem mais precisa”.
ambos. São feitas brincadeiras, contadas histó- cabo por pessoas de todo o mundo. “Habitat for
rias. “ A experiência está a ser muito positiva. É Humanity” é a causa porque luta e já foram Desde crianças a idosos. São muitos os que
uma oportunidade de poder ajudar alguém, tornar várias as vezes que a jovem se deslocou a Bra- colaboram com esta instituição. Uns experimen-
menos maus momentos para as pessoas que... ga, sede da instituição em Portugal, para ajudar tam pela primeira vez o voluntariado e exprimem
“, afirma a estudante de Ciências da Comunica- na construção de casas para famílias com pou- o desejo de repetir. Benedita tem 15 anos e aju-
ção. Reticências que marcam uma pausa para cas condições. “ É uma experiência muito inte- dou, no ano passado, a separar os alimentos nos
respirar e retomar uma frase emocionada de um ressante”, revela a estudante. Daniela conheceu armazéns do Banco Alimentar. A voluntária
trabalho que embora realize há pouco tempo, lhe este projecto através de uma banda americana salienta o trabalho de grupo e entreajuda que
dá boas experiências: “ É uma oportunidade de que participou na iniciativa nos Estados Unidos. existe nas pessoas que ajudam nos armazéns e
proporcionar momentos bons a crianças que têm Procurou saber sobre a “Habitat for Humanity” e revela ser esse o significado do voluntariado.
problemas graves e que têm sofrido muito.” Ana inscreveu-se. “ Para ser voluntário desta institui- “Gostei imenso e por isso vou repetir este ano”,
Tulha revela ainda que o voluntariado tem valido ção basta ligar para lá, ter disponibilidade e von- afirma.
a pena pelos sorrisos que conseguem ver nas tade de aprender a construir”, afirma a voluntária.
São muitas as formas de se aceder ao voluntaria-
crianças. É um projecto onde todos se mobilizam para
do. Hoje em dia é cada vez mais simples ser-se
construir com os mais diversos materiais uma
Ao falar da sua experiência, a estudante recorda voluntário. As informações constam em vários
casa para quem mais precisa.
um momento vivido com uma das crianças do sites, como o Instituto Português da Juventude, o
IPO. Conta a história de “Luís” (nome fictício). Daniela não se ficou apenas por este tipo de site Voluntariado.pt, e os próprios sites das insti-
Um menino que mora em Barcelos e que tem de voluntariado. Também foi voluntária no apoio a tuições. Também os principais concelhos do país
ir e vir todos os dias para a instituição. “ Nós per- eventos como o “Rock in Rio” e Festival Sudoes- aderem a estes projectos e organizam bancos de
guntamos-lhe “Não te chateia ter que ir e vir te. voluntariado. É o caso do VEM, projecto de
todos os dias?” e ele respondeu “Não, eu gosto voluntariado em Matosinhos e que tem mobiliza-
A pobreza é um dos flagelos sociais que mais
muito das viagens e gosto de ver os sítios por do cada vez mais voluntários. Desde jovens a
precisa do apoio de voluntários. Pessoas de
onde passo e da semana a seguir passar e dizer idosos, são muitos os que dispensam o seu tem-
todas as idades e com diferentes crenças abra-
que já tive aqui.” E aquilo marcou-me porque po, uma ou duas vezes por semana, para ajudar
çam projectos de solidariedade social de institui-
acho que são um exemplo, conseguem encontrar nas mais diversas áreas. O voluntariado a nível
ções como a Legião da Boa Vontade, Ajuda de
coisas boas em pequenas coisas que normal- social, ambiental e cultural são as áreas mais
Berço, Associação CAIS e o Banco Alimentar
mente as pessoas estão demasiado ocupadas contempladas. Desde o senhor Vasco, como lhe
contra a Fome.
com problemas que não têm a dimensão dos chamam, que conta histórias às crianças na
deles e que não reparam nisso.” “ Um voluntário é prestável para tudo” Biblioteca Municipal Florbela Espanca para ocu-
par o tempo que lhe sobra da reforma, até Bruno
Para além destas experiências no IPO, Ana O Banco Alimentar tem reunido, ao longo dos Fernandes que todas as quartas feiras acompa-
Tulha faz também outro tipo de voluntariado, anos, voluntários de várias idades. É quase como nha crianças com dificuldades numa sala de
também ele com crianças. O projecto é o Porto algo que pode ir dos 8 aos 80. As tarefas que se estudo de uma Casa da Juventude de Matosi-
de Futuro e inclui alunos voluntários da Universi- podem desempenhar são várias. Desde a reco- nhos. Diferentes motivações levam a que várias
dade do Porto que vão auxiliar crianças do Agru- lha de sacas até à separação de alimentos nos pessoas se inscrevam no projecto. Todos os
pamento Escolar de Miragaia a prosseguir nos armazéns. Fernando Pereira é voluntário do Ban- voluntários têm direito a um dia de formação e a
estudos, a estarem motivadas e a superarem co Alimentar há 8 anos. É coordenador do volun- um acompanhamento da sua actividade.
dificuldades. Todas as segundas-feiras à tarde, a tariado no Continente da Senhora da Hora e
estudante desloca-se para a escola e ajuda os revela estar a passar a melhor experiência da Menos desculpas para não ajudar, mais facilida-
jovens nos trabalhos de casa. “Eles sentem-se sua vida. “ Para além de dar as sacas, também de e sobretudo muita força de vontade que une
muito mais à vontade connosco do que com os dou informações de alguma coisa que seja preci- todos os voluntários em torno de causas impor-
professores. É mais fácil para os ensinarmos por- sa. Um voluntário é prestável para tudo”, afirma tantes.
que eles vêm em nós mais amigos que professo- Fernando Pereira. Com 38 anos, Fernando já
res”, conta a estudante num balanço que faz do conhece as várias respostas dadas pelas pes-
voluntariado. soas a quem oferece um saco do Banco Alimen-
tar. Entre as experiências que viveu como volun-
Dois tipos de voluntariado e último ano da facul-
tário recorda uma situação que descreve como “
dade. Para conciliar, Ana Tulha explica que é
caricata”: “Duas ciganas a pedir e sempre a
uma “ questão de gerir o tempo”. “ Quando há
insistir e eu ali de um lado para o outro. E eu
força de vontade e as coisas que fazemos nos
estava sozinho e tinha de estar atento a tudo, a
dão gozo consegue-se fazer tudo”, acrescenta a
dar sacas, a recebê-las e estar atento às ciga-
estudante.
nas.”
NOTICIAR 27 de Novembro 2008 12
CULTURA
Foto: TNSJ
CULTURA
Renata Silva
NOTICIAR Porto:
Sexta
Sábado
máx. / min.
8º C/ 6ºC
9º C/ 7º C
Domingo 9º C/ 5ºC