O documento discute o modelo clássico de movimentos sociais e suas atualizações. Apresenta as visões de Alan Touraine e Jeffrey C. Alexander sobre como os movimentos sociais deixaram de lado a violência e passaram a se concentrar em questões culturais e de identidade. Também analisa a teoria funcionalista de Parsons e como Touraine propôs uma visão mais centrada nos atores e na subjetividade dentro dos movimentos sociais.
O documento discute o modelo clássico de movimentos sociais e suas atualizações. Apresenta as visões de Alan Touraine e Jeffrey C. Alexander sobre como os movimentos sociais deixaram de lado a violência e passaram a se concentrar em questões culturais e de identidade. Também analisa a teoria funcionalista de Parsons e como Touraine propôs uma visão mais centrada nos atores e na subjetividade dentro dos movimentos sociais.
O documento discute o modelo clássico de movimentos sociais e suas atualizações. Apresenta as visões de Alan Touraine e Jeffrey C. Alexander sobre como os movimentos sociais deixaram de lado a violência e passaram a se concentrar em questões culturais e de identidade. Também analisa a teoria funcionalista de Parsons e como Touraine propôs uma visão mais centrada nos atores e na subjetividade dentro dos movimentos sociais.
Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas Cincias Sociais - Nas redes e nas ruas; movimentos sociais na era da internet. Laura Radicchi Ao Coletiva, Cultura e Sociedade Civil: Secularizao, atualizao inverso e deslocamento do modelo clssico dos movimentos sociais. - Jeffrey C. Alexander Alexander comea seu texto dizendo que os movimentos sociais so: grupos que desencadeiam processos no institucionalizados, lutas polticas, organizaes e discursos dos lderes e seguidores que tem a inteno de modificar o status quo. O modelo clssico de movimento social, segundo o autor, abordado atravs de um quadro de referncias das interpretaes histricas das revolues. Os movimentos sociais, durante este perodo, estavam fortemente associados aos movimentos revolucionrios. Os ltimos, eram entendidos como mobilizaes de massa que tinham a inteno de modificar o status quo. Os movimentos sociais acreditavam que a nica maneira de se conseguir essa alterao era atravs da violncia. O autor afirma que foi Alan Touraine que fez a reconstruo histrica dos movimentos sociais clssicos e de seu quadro terico. Com essa nova leitura, estes no perdiam seu contedo cultural e tico. O que fica claro agora que as referncias tericas existentes limitaram a autoconscincia dos movimentos. Os lderes os percebiam como um meio instrumental cuja eficcia dependia do uso da violncia. Touraine chama ateno para uma confuso intelectual que restringe o foco dos atores revolucionrios. Surge da abordagem clssica dos movimentos sociais quadros referncia influentes. Tais quadros secularizaram o modelo clssico, despindo-o de sua teleologia revolucionria e mantendo sua teoria explicativa racional e materialista. A partir do momento em que a secularizao do modelo passou a analisar fenmenos microssociais, ela ignora as dimenses morais e afetivas da ao coletiva e d nfase nas limitaes decorrente das redes interligadas e da disponibilidade das organizaes. Os analistas do macrossocial acreditam que os movimentos sociais so maquinas maximizadoras e por isso tratam a violncia como um meio de atingir a eficincia. Segundo Alexander, Tilly com seus estudos histricos secularizam o modelo clssico 2
dessa maneira, na medida em que considera a violncia como um recurso eficaz e rotineiro. A subjetividade no foi ignorada durante esse perodo. Segundo Alexander na ltima dcada um pequeno grupo de socilogos discute como o entendimento cognitivo e moral das causas tem um papel importante na produo do descontentamento que alimenta os movimentos sociais. Esses socilogos estudaram temas como: a identidade coletiva, o discurso pblico, a mobilizao do consenso e o papel das estruturas de ao coletiva nos movimentos sociais radicais. O autor afirma que a atualizao do modelo clssico de movimentos sociais surgiu da necessidade de introduzir uma correo histrica e terica no enfoque clssico que inclusse os significados culturais, as identidades e os fatores institucionais. Essa atualizao estuda os movimentos levando em conta a subjetividade dos atores e possui uma forte sensibilidade histrica. Tal perspectiva no se prende ao materialismo ontolgico e ao realismo epistemolgico. Vincula a subjetividade s mudanas empricas ocorridas no plano macro ao fim do conflito capital/trabalho. Apesar de todas essas modificaes, Alexander acredita que esse apreo demasiado pelo historicismo e a nfase nos fatores institucionais como desencadeadores de mudanas sociais o que enfraquece este modelo terico. Touraine e Melucci foram os principais disseminadores dessa teoria. O primeiro leva o crdito de ter sido o primeiro a formular tal perspectiva histrica. J o segundo, fez anlises mais radicais dessa perspectiva e suas implicaes subjetivas. Melucci afirma ser necessrio dar nfase as dimenses subjetivas, afetivas e culturais dos movimentos sociais modernos. Alexander crtica o socilogo ao dizer que a mudana do tratamento terico no somente resultado de uma nova condio histrica criada por condies sociais nascidas exclusivamente das transformaes econmicas do perodo recente. Com a teoria dos novos movimentos sociais os socilogos, segundo Alexander, ocupam-se com a subjetividade sem deixar de lado uma viso instrumental e materialista. As sociedades ps-modernas baseiam-se na informao e criam novos arranjos estruturais que desencadeiam em novas formas de estratificao, novos conflitos, novos padres de dominao e novas percepes. Os novos movimentos sociais, no buscam somente a mudana do status quo, eles concentram-se agora nos cdigos, no conhecimento e na linguagem. 3
Touraine foi o primeiro terico a problematizar a concepo de modelo clssico. Ao mesmo tempo em que criava uma nova concepo o terico evitou o conflito com os pressupostos bsicos do modelo que problematizava. Dessa maneira, viu a subjetividade do ator dos movimentos sociais como sendo motivada por mudanas empricas. A maior crtica ao modelo clssico est relacionada s instituies, o fato de os tericos verem os movimentos apenas como aqueles que queriam alterar o status quo. Segundo Touraine, os novos movimentos sociais se afastaram muito dos movimentos revolucionrios. Da teoria elaborada por Touraine surge um modelo de ao que fundamenta uma descrio emprica da sociedade que no se apoia no historicismo proposto por ele. Nessa vertente a sociedade vista como criativa, mas tambm orientada por uma ordem simblica totalizadora. Alexander compara a teoria de Parsons de Touraine. Afirma que o primeiro fez uma cuidadosa distino entre padres gerais de valores e diretrizes normativas orientadas para a ao. As normas determinam as formas de organizao historicamente especficas centradas na distribuio de recompensa. O segundo aceita esta distino, opondo as "orientaes de cultura gerais" e a as formas "normativamente organizadas" de produo e troca. Touraine afirma que as ltimas so inspiradas em orientaes culturais gerais, mas no so determinadas por elas. Enquanto Parsons enfatiza a diferena entre normas e valores, Touraine acredita na autonomia desses dois fatores. Parsons retira o direito do indivduo ser reflexivo e intencional, porque as normas constrangem os indivduos, j Touraine acredita que ocorre o contrrio. Os atores so intencionais e reflexivos. Eles s podem criar instituies e relaes com os recursos sociais que possuem. Alexander, afirma que Parsons no compreendeu que a institucionalizao um processo historicamente contingente e sem fim, que depende das experincias dos movimentos sociais. O autor afirma que Touraine fez uma crtica teoria funcionalista e teoria neomarxista. Relaciona a cultura e as normas luta dos movimentos sociais, lanando assim bases para uma cincia social baseada na hermenutica. Entretanto, Alexander afirma que o terico no consegue cumprir o que promete, pois, no traduz a relao entre ao e ordem, valor e norma, cultura e organizao social, em um esquema emprico aplicvel e consistente. Segundo Alexander, Touraine possui uma concepo ambgua sobre as sociedades contemporneas. Isto seria reflexo das contradies presente em sua teoria. 4
A conceituao de sociedade industrial e ps-industrial feita atravs da periodizao das sociedades ocidentais e seus valores segundo o modelo marxista do modo de produo, enfatizando uma abordagem econmica. Touraine deixa de lado a possibilidade de ter existido no sculo XIX uma corrente de ideias no econmicas, que nos permitiria falar na poca de uma sociedade civil democrtica. Para o autor, o principal problema da teoria proposta por Touraine o fato de que no fica se sua reconstruo crtica da teoria da ao, leva em conta uma sociedade civil ampla e fundada na histria. Touraine ressalta o coletivismo, o cientificismo e a disciplina dos movimentos, relacionando-os ao modo de produo marxista. Touraine atualiza o modelo de mudana social revolucionria, para isso pesquisa uma variedade de movimentos contemporneos, distinguindo elementos de uma nova classe revolucionria, cujos membros, transformam uma resistncia difusa dominao em um movimento social que impe uma modificao fundamental na sociedade capitalista. Sua teoria nos ajuda a compreender a lgica cultural da sociedade contempornea que cubra qualquer referncia coletiva. Touraine transforma a sociedade civil em uma expresso da "ideologia antiestatal da liberdade". Nega-se a tratar as ordens institucional e normativa da sociedade civil como foras autnomas que criam os movimentos sociais. Afirma que a sociedade civil resultado dos movimentos sociais e no o contrrio. Segundo o autor o modelo clssico de movimentos sociais fracassa na compreenso das singularidades das tentativas modernas de realizar mudanas radicais, descreve de maneira errnea os prprios movimentos revolucionrios. Para superar esse modelo clssico preciso prestar ateno na abordagem que Touraine d ao conflito, aplicando uma anlise da ao, da cultura, das normas e instituies. Os novos movimentos sociais nas sociedades civis devem ser representantes de determinados valores, possurem estratgias inovadores culturais capazes de criar normas e instituies que canalizem recursos de maneiras diferentes. Segundo o autor os movimentos sociais so tradues da sociedade civil. Todo sistema social relativamente desenvolvido possui esferas diferenciadas com regimes de valores prprios, os movimentos sociais surgem dentro dessas esferas e lutam para obter justia. A sociedade civil uma esfera separada dos outros domnios institucionais, sua funo criar uma comunidade que incluem os outros domnios. Ser membro dessa esfera possuir uma cidadania solidria e ao mesmo tempo ser individualista. Os 5
movimentos sociais vivem desse senso de comunidade, embora alguns tomem para si a funo de representar a sociedade ou de falar para a sociedade. Segundo o autor, os movimentos sociais no podem ser considerados respostas aos problemas existentes. Os atores que formam tais movimentos, muitas vezes no reconhecem a existncia do problema que levantado pelo movimento e muito menos uma soluo. O que impulsiona a criao desses movimentos so as obrigaes criadas pela sociedade civil. Para finalizar seu texto, Alexander afirma que os movimentos sociais so mecanismos sociais que traduzem os discursos da sociedade civil e os processos institucionais especficos desta esfera. Os movimentos possuem uma natureza prtica e histrica, mas que s conseguem ter xito se aplicadas uma metalinguagem civil que relacione os problemas prticos ao contexto simblicos em que esto inseridos. Diz ainda que o modelo clssico foi deixado de lado junto com a preocupao da derrubada do Estado. Entretanto, estaramos muito longe de uma teoria sobre os novos movimentos sociais que cuida dos argumentos simblicos a fim de utiliz-los para acabar com o isolamento e a vulnerabilidade dos atores. Para Touraine os movimentos sociais so respostas s tenses entre orientaes culturais e a posio institucional. Alexander apresenta uma viso geral da teoria dos novos movimentos sociais, principalmente a abordagem feita por Touraine. Apresenta fortes crticas ao aspecto do materialismo histrico presente nessa teoria, por ser discpulo de Parsons e acreditar que a estrutura que influencia de maneira mais forte a maneira como os movimentos sociais se comportam.
Referncia Bibliogrfica ALEXANDER, Jeffrey C. (1998). Ao coletiva, cultura e sociedade civil: secularizao, atualizao, inverso e deslocamento do modelo clssico dos movimentos sociais. Revista Brasileira de Cincias Sociais, vol.13, n 37, pp. 5-31.