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ABEL DOS SANTOS CRUZ

O Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares:

metodologias de operacionalização (parte I)

PORTO

2009/2010
INTRODUÇÃO

Recorrendo a uma ‘bela’ imagem de Boaventura de Sousa Santos, as


Ciências Sociais e Humanas são campos lindíssimos a perder de vista, para os
quais, desafortunadamente, só nos é possível espreitar através de fechaduras
demasiado estreitas.

O tema que nos ocupa confirma a imagem: entrevimos paisagens


encantadoras, através de uma fechadura desregradamente apertada. Mas tão
rápido quanto a escolha da matéria a tratar, os obstáculos, de imediato,
surgiram … Desde logo, pela opção do caminho a seguir ...

Dos diversos temas colocados no Fórum pareceu-me pertinente


debruçarmo-nos sobre o primeiro: Domínio A – Apoio ao Desenvolvimento
Curricular, o qual irá ser objecto de implementação no decurso do presente
ano lectivo. A escolha não foi arbitrária … de modo algum.

De 1998 a 2004, na qualidade de Coordenador da Biblioteca do Centro


de Estudos Africanos e Orientais da Universidade Portucalense, o Centro
desenvolveu formas de avaliação da qualidade dos serviços e da sua
perfomance, preocupando-se com visitas à biblioteca, formação de
utilizadores, consultas no catálogo, pesquisas bibliográficas, empréstimos,
qualidade do serviço, registo sistemático de evidências.

No ano lectivo 2005-2006, então Coordenador da Biblioteca da EBI de


Castelo do Neiva, a mesma preocupação. Enviou-se na altura um projecto para
a Fundação Calouste Gulbenkian «A BIBLIOTECA: UMA FONTE DE SABER»,
onde se sustentava ser “a Biblioteca … um canal especializado, um agente por
excelência da modernidade”. O projecto envolvia três categorias: Promoção da
leitura individual e da leitura na sala de aula; Desenvolvimento de
competências em diferentes áreas; Reforço/Renovação do fundo documental,
sendo a área da formação de utilizadores e as competências tecnológicas
… uma grande preocupação, quanto prioritária.

Preocupação que mantemos na actualidade. Nesta conformidade iremos


focalizar o nosso trabalho no Domínio A – Apoio ao Desenvolvimento
Curricular; e Indicador A.2.1 – Organização de actividades de formação de
utilizadores na escola/agrupamento e Indicador A.2.4 – Impacto da BE nas
competências tecnológicas, digitais e de informação dos alunos na
escola/agrupamento.
FICHA DIAGNÓSTICA

No Manifesto IFLA/UNESCO para Biblioteca Escolar pode ler-se que


a «BE proporciona informação e ideias fundamentais para sermos bem
sucedidos na sociedade actual, baseada na informação e no conhecimento. A
biblioteca escolar desenvolve nos estudantes competências para a
aprendizagem ao longo da vida e desenvolve a imaginação, permitindo-lhes
tornarem-se cidadãos responsáveis».

A Biblioteca constitui-se um elemento essencial de qualquer estratégia a


longo prazo para alfabetizar, educar, informar e contribuir ao desenvolvimento
económico, social e cultural. Para a sua concretização a BE deve promover
serviços de apoio à aprendizagem e sucesso educativo da comunidade
escolar.

Ora, justamente um desafio chave que se coloca à BE consiste, defende


R. TODD, na necessidade e urgência em se repensar, ‘re-imaginar’ a
Biblioteca Escolar. A biblioteca, constitui-se um centro de informação, gerador
de conhecimento. Contudo nada é sustentável sem um plano de acção, capaz
de medir o trabalho desenvolvido. Torna-se, portanto, indispensável fazer
público, criar leitores para a biblioteca. Não o fazendo podemos perder, como
bem exprimiu Teresa Calçada (na reunião com Professores Bibliotecários e
Coordenadores da Equipa PTE, que teve lugar no dia 25 de Novembro de
2009, na ESA Soares dos Reis), “a fortaleza no contexto da Escola em que
vivemos”.

O professor bibliotecário tem aqui um papel fundamental. Dir-se-ia


mesmo que a nossa responsabilidade é acrescida, um comprometimento
associado à biblioteca com utilizadores, com ‘clientes’, enfim, uma biblioteca
útil, capaz de dar ao ‘aprendente’ os instrumentos necessários e torná-los
construtores de conhecimento.
OBJECTO DA AVALIAÇÃO: A OPÇÃO DO SUBDOMÍNIO E INDICADORES

“Many people believe that evaluation is about proving the


success or failure of a program. This myth assumes that
success is implementing the perfect program and never having
to hear from employees, customers or clients again … the
program will now run itself perfectly. This doesn't happen in real
life. Success is remaining open to continuing feedback and
adjusting the program accordingly. Evaluation gives you this
continuing feedback.”

McNAMARA, Carter

Para a prossecução do nosso trabalho a escolha incidiu no sub-domínio


A. 2 Promoção das Literacias da Informação, Tecnológica e Digital.

Como já atrás se referiu, importa lembrar que a opção pelos indicadores


não nos deixou quaisquer dúvidas, pelas razões já aduzidas. No entanto a
‘obrigatoriedade’ de truncar a informação e a recolha de evidências, já nos
‘afligiu’, porquanto na página doze do texto de apoio à unidade se diz que «…
há vantagem em avaliar em conjunto no mesmo ano todas as componentes de
um dado domínio, dada a estreita inter-relação que existe entre elas e o facto
de muitos instrumentos de recolha de informação lhes serem comuns, dada a
estrutura do próprio Modelo …». Não obstante algumas hesitações que se
colocaram, no referente ao registo sistemático das evidências e dos
instrumentos de recolha, apresentam-se, então, os indicadores seleccionados:

 Indicador A.2.1 – Organização de actividades de formação de


utilizadores na escola/agrupamento;
 Indicador A.2.4 – Impacto da BE nas competências tecnológicas,
digitais e de informação dos alunos na escola/agrupamento.
O plano de avaliação que a seguir se incrementa incide sobre a
realidade da nossa biblioteca, o contexto escolar e o público-alvo a quem é
dirigido, questões que Carter McNAMARA, de certa forma, enuncia. De acordo
com aquele modelo são sete as questões a considerar ao desenvolver-se um
programa de avaliação:

1. For what purposes is the evaluation being done …?


Saber as práticas que devem ser mantidas, reforçadas, reformuladas,
substituídas e os benefícios para os alunos;
2. Who are the audiences for the information from the evaluation …?
Coordenador/Equipa BE e Direcção, numa primeira fase; outros
Professores, Alunos, Pais, IGE, RBE, numa fase posterior;
3. What kind of information are needed to make the decision you need
to make …?
O trabalho de articulação empreendido pela BE em articulação com os
docentes e com o exterior está correcto? É suficiente? Tem sido
proveitoso para o desenvolvimento da leitura e das literacias dos
alunos? A acção da BE traduziu-se em melhoria das competências de
leitura e literacia das crianças?
4. From what sources should the information be collected …?
Professores e Alunos, para ambos os indicadores;
5. How can that information be collected in a reasonable fashion (…)?
Questionários, Grelhas de observação, Análise de Documentação,
Entrevistas, para ambos os indicadores;
6. When is the information needed (…)?
Final do ano lectivo. Parte será recolhida ao longo do ano, outra parte
em dois momentos: a meio e no fim;
7. What resources are available to collect the information?
Plataforma Moodle: para colocação dos questionários, grelhas de
observação, instrumentos de recolha de dados propostos pela RBE com
questionários destinados aos professores e aos alunos (a adaptar),
ficheiro estatístico sobre utilizadores/empréstimos, trabalhos dos alunos.
Necessidade de criar um guião de entrevista a professores.
o qual procuraremos promover e fomentar.
ASPECTOS QUE QUEREMOS AVALIAR

A Biblioteca Escolar e o Coordenador da Equipa PTE, em estreita


colaboração com os órgãos de gestão da Escola/Agrupamento, irão proceder
ao levantamento nos currículos das competências de informação, inerentes a
cada disciplina/área disciplinar não curricular, tendo em vista a definição de
competências transversais, adequado a cada nível de ensino.

Nesta conformidade, o PAA/PEE/PCT antevê o desenvolvimento de um


programa de formação de utilizadores na escola/agrupamento e uma leitura
(evidências) rigorosa aos professores que desenvolvem práticas lectivas,
decorrentes da frequência de formação (TIC) em competências tecnológicas,
digitais e de informação.
OS INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE EVIDÊNCIAS, OS
INTERVENIENTES E A DEFINIÇÃO DA CALENDARIZAÇÃO

No sentido de mobilizar e envolver os órgãos de gestão da


Escola/Agrupamento e comunidade educativa, a apresentação do plano de
avaliação será feita em Conselho Pedagógico de Janeiro próximo. O
Coordenador da BE orientará, com o apoio da Equipa da BE, o
desenvolvimento do processo.

Os Instrumentos de Recolha de Evidências

 PAA/PEE/PCT;
 Plano de acção da BE;
 Registo de reuniões/contactos;
 Dados estatísticos referentes aos processos e outputs (empréstimos;
materiais de apoio produzidos para consulta; número de inscrições de
docentes em formação promovida pela BE; pesquisas bibliográficas;
taxas de consulta de catálogos; taxas de requisição da BE pelos
professores e alunos; visitas à BE …);
 Inquéritos;
 Grelhas de observação (competências de informação).
Os Intervenientes

Decorrente da dificuldade em se medir tudo (em simultâneo), a


avaliação do indicador A.2.1 – Organização de actividades de formação de
utilizadores na escola/agrupamento, incidirá nas sete turmas do 5º Ano e,
bem assim, Directores de Turma, Professores de Área de Projecto e Estudo
Acompanhado.

O porquê da incidência em discentes do 5º Ano resulta do facto de


muitos destes alunos não terem contactado, de forma habitual, com qualquer
Biblioteca (dir-se-ia mesmo que muitos deles quase nunca visitaram uma
Biblioteca).

Foi notório que no dia da visita guiada (apresentação) à BE os meninos


evidenciavam um certo deslumbramento pela biblioteca. O seu espanto foi
revelador do muito trabalho que o PB tem pela frente … A vontade imediata
de a frequentar, constitui-se, também, uma excelente oportunidade para
fazermos leitores e uma boa ocasião para dar ao ‘aprendente’ informação
e torná-lo construtor de conhecimento. Um momento para a Equipa da BE
desencadear e aprofundar acções de sensibilização e formação destes
utilizadores, que os motivem para o conhecimento da Biblioteca Escolar, com o
grande objectivo da sua correcta utilização.

Quanto à opção pelos DT e Professores de AP e EA resulta de parcerias


(já em curso) e, portanto, parceiros privilegiados no trabalho de articulação a
desenvolver ao longo do ano lectivo.

No referente ao indicador A.2.4 – Impacto da BE nas competências


tecnológicas, digitais e de informação dos alunos na escola/agrupamento,
os destinatários não serão tão restritos. Tendo em linha de conta o esforço
continuado em formação na área das TIC, será oportuno procurar saber qual o
impacto dessas acções de formação na mudança das práticas lectivas, em
concreto na introdução das TIC no processo de ensino/aprendizagem. Assim,
os Professores implicados serão, objectivamente, os que desenvolvem na sua
prática docente as novas tecnologias e que mostrem vontade expressa de
trabalho colaborativo com a BE.

Definição da Calendarização

O plano de trabalho a implementar estender-se-á de Janeiro a Junho,


com leituras periódicas e apuramento das recolhas de evidências contidas nas
tabelas no final de cada período.
Indicador A.2.1 – Organização de actividades de formação de utilizadores na escola/agrupamento

FACTORES CRÍTICOS DE SUCESSO EVIDÊNCIAS INSTRUMENTOS DE RECOLHA CALENDARIZAÇÃO

PAA da BE Ficha de inventariação de Actividades Ao longo do Ano Lectivo

PCT Ficha de inventariação de Actividades Janeiro

Grelha de observação das visitas


1ª Sessão – Outubro/Novembro
Visitas guiadas à BE
Breve questionário aplicado a alunos e
2ª Sessão – Março/Abril
professores acompanhantes
O plano de trabalho da BE inclui
actividades de formação de utilizadores
com turmas/grupos/alunos e docentes no Análise do preenchimento dos guiões de
sentido de promover o valor da BE na pesquisa
escola, motivar para a sua utilização,
esclarecer sobre as formas como está Grelha de observação das Sessões de
organizada e ensinar a utilizar os Sessões de formação de utilizadores Formação Outubro a Março
diferentes serviços.
Registo das reuniões com os DT’s

Aplicação do questionário QA1

Aplicação do questionário QP1

Propostas de trabalho de articulação, Nº de professores envolvidos


Janeiro a Abril
apresentadas em Conselho Pedagógico
Grelha de análise das actividades
desenvolvidas
Indicador A.2.1 – Organização de actividades de formação de utilizadores na escola/agrupamento

FACTORES CRÍTICOS DE SUCESSO EVIDÊNCIAS INSTRUMENTOS DE RECOLHA CALENDARIZAÇÃO

Inquérito “Articular com a BE em 12 Análise dos resultados do inquérito Fevereiro


etapas”, destinado aos professores
envolvidos (adaptado da RBE) Aplicação do questionário QP1 Abril
Alunos e professores desenvolvem
competências para o uso da biblioteca,
revelando um maior nível de autonomia
na utilização da BE após as sessões de
Uma por período
formação de utilizadores.
Grelha de observação dos alunos
Estatística de frequência
Aplicação do questionário QA1
Abril

Guia do Utilizador Aplicação do questionário QP1


A BE produz materiais informativos e/ou
lúdicos de apoio à formação de Guião “À descoberta da BE” Registo de opinião dos alunos Abril
utilizadores.
Blog da BE Aplicação do questionário QA1
Indicador A.2.4 – Impacto da BE nas competências tecnológicas, digitais e de informação dos alunos na escola/agrupamento

FACTORES CRÍTICOS DE SUCESSO EVIDÊNCIAS INSTRUMENTOS DE RECOLHA CALENDARIZAÇÃO

Trabalhos escolares dos alunos


Os alunos utilizam, de acordo com o seu Observação de utilização da BE (O1)
nível de escolaridade, linguagens, Utilização pelos alunos:
suportes, modalidades de recepção e de Estatísticas de utilização da BE
produção de informação e formas de Dezembro, Fevereiro e Abril
comunicação variados, entre os quais se ▪ catálogo de pesquisa electrónico; Questionário aos professores (QP1)
destaca o uso de ferramentas e media ▪ grelhas de avaliação dos recursos da
digitais. Internet Questionário aos alunos (QA1)
▪ guiões Literacia da Informação
Ficha de registo de reuniões/contactos
Sessões de trabalho entre a Equipa da
Os alunos incorporam no seu trabalho, BE e os professores no âmbito da Nº de sessões realizadas
de acordo com o nível de escolaridade Literacia da Informação
que frequentam, as diferentes do Nº de professores participantes
processo de pesquisa e fases tratamento
de informação: identificam fontes de Análise dos materiais requisitados por
informação e seleccionam informação, Materiais de apoio à pesquisa e
alunos e professores
recorrendo quer a obras de referência e tratamento da informação, produzidos e
Janeiro a Abril
materiais impressos, quer a motores de editados pela BE (Dossier Literacia da
Nº de professores e alunos que
pesquisa, directórios, bibliotecas digitais Informação)
requisitaram materiais
ou outras fontes de informação
electrónicas, organizam, sintetizam e
comunicam a informação tratada e
avaliam os resultados do trabalho Grelha de análise dos trabalhos dos
Trabalhos produzidos pelos alunos
realizado. alunos
Utilização da BE
Grelha de observação O1
Indicador A.2.4 – Impacto da BE nas competências tecnológicas, digitais e de informação dos alunos na escola/agrupamento

FACTORES CRÍTICOS DE SUCESSO EVIDÊNCIAS INSTRUMENTOS DE RECOLHA CALENDARIZAÇÃO

Grelha de análise dos trabalhos dos


Os alunos demonstram, de acordo com o alunos
seu nível de escolaridade, compreensão Trabalhos realizados pelos alunos
sobre os problemas éticos, legais e de
Registo da reflexão individual e colectiva Abril
responsabilidade social associados ao Debate sobre esta problemática com os
acesso, avaliação e uso da informação e professores e alunos envolvidos feita no Debate
das novas tecnologias.
Questionário aos professores (QP1)

Os alunos revelam em cada ano e ao


longo de cada ciclo de escolaridade,
progressos no uso de competências Não há elementos disponíveis para se
_ _
tecnológicas e de informação nas poder avaliar este indicador
diferentes disciplinas e áreas
curriculares.
ANÁLISE E DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS

Como se depreenderá, importa ir recolhendo os diferentes tipos de


evidências contidos nas tabelas e, de seguida, tratar os dados apurados,
procedendo à análise dos mesmos para verificação dos níveis de desempenho
alcançados nos indicadores em estudo.

Uma reflexão detalhada que procure aferir e medir os resultados do


trabalho operado, identificar os pontos fortes e pontos fracos e delinear acções
de melhoria. Posteriormente, preencher a grelha do relatório de avaliação,
relativa aos indicadores propostos, que deverá ser apresentado e aprovado em
reunião de Conselho Pedagógico.

O relatório será, então, divulgado junto da comunidade escolar, através


dos canais de comunicação existentes.
BIBLIOGRAFIA

Gabinete da Rede de Bibliotecas Escolares (2008). Modelo de Auto-


Avaliação das Bibliotecas Escolares. <http://www.rbe.min-
edu.pt/np4/np4/31.html> [acedido em 11/11/2009].

McNamara, Carter. Basic Guide to Program Evaluation.


http://www.managementhelp.org/evaluatn/fnl_eval.htm [acedido em 24-11-
2009].

Texto da sessão, disponibilizado na plataforma.

Vitorino, Maria José (2006). Directrizes da IFLA/UNESCO para


Bibliotecas Escolares. http://www.ifla.org/VII/s11/pubs/school-guidelines.htm
[acedido em 24-11-2009]. Tradução em Língua Portuguesa.

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