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3ª Sessão

Tarefa 2

Análise crítica ao Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares.

- O Modelo enquanto instrumento pedagógico e de melhoria.


Conceitos implicados.

Biblioteca Escolar / contexto educativo actual

“A biblioteca escolar proporciona informação e ideias fundamentais para


sermos bem sucedidos na sociedade actual, baseada na informação e no
conhecimento. A biblioteca escolar desenvolve nos estudantes competências
para a aprendizagem ao longo da vida e desenvolve a imaginação, permitindo-
lhes tornarem-se cidadãos responsáveis.” (IFLA/UNESCO -1999)

O conceito actual da Biblioteca Escolar está presente em alguns enquadramentos


normativos onde se aponta para uma determinada concepção de aprendizagem e uma
concepção de aluno. Assim cruzando alguns documentos IFLA, UNESCO, Declaração
da IASL, Relatório de Lançamento da RBE observamos, que:
O aluno deverá fazer um percurso de formação assente nos padrões de vida
democrática, numa construção para a cidadania, desenvolvendo competências de modo
a formar-se ao longo da vida; deverá ainda adquirir habilidades no uso das TIC,
desenvolvendo competências no uso da informação, promoção de leitura e das
literacias, tendo por base a igualdade de oportunidades.
A BE surge assim perspectivada como uma ferramenta indispensável à
consolidação e operacionalização do currículo, potenciado a partir dos seus recursos,
pré-requisitos fundamentais para um ensino de qualidade, considerando-se que a
educação e a cultura são instrumentos essenciais ao progresso e à cultura democrática.
É um modelo que sustenta a ideia de melhorar e transformar a formação
individual e colectiva, a partir do projecto educativo tendo como base a aquisição de
conhecimentos. Parte de conceitos de sociedade, desigualdades a corrigir,
democratização, acesso à cultura e igualdade de oportunidades para atingir o êxito
escolar.
Tem como base ideológica a sociologia e pedagogia críticas e os seus objectivos
visam a formação de cidadãos cultos e críticos. O currículo é entendido como um
campo de reflexão entre teoria e prática e concebe-se o professor como alguém que é
capaz de tomar decisões relevantes. Os conteúdos curriculares têm em conta as
necessidades do aluno ao nível do seu desenvolvimento.
A biblioteca escolar já não é entendida só como um espaço onde se colocam à
disposição dos alunos e professores uma série de fundos documentais com uma função
quase única de promoção da leitura recreativa, mas sim como um centro de recursos de
documentação e informação multimédia capazes de dar resposta ao desenvolvimento
curricular. A BE é entendida como um núcleo activo no projecto educativo e no
projecto curricular, entendida como um centro de recursos materiais e intelectuais
capazes de dar respostas educativas eficazes
Relativamente às suas funções a BE deve adequar-se às necessidades da
comunidade educativa, dos alunos, dos professores, dos departamentos disciplinares,
etc. O desenvolvimento do currículo pauta-se por tentar corrigir desigualdades,
atendendo ritmos diferenciados dos alunos, aos diversos programas [ programas de
prevenção da exclusão social, de inclusão, de extensão cultural, etc.]. A pertinência do
desenvolvimento dos currículos deverá ser garantida tanto dentro como fora do horário
dos alunos, contando com recursos humanos necessários para lhe dar apoio.

Para isso deverá ter em conta meios diversos adequados [espaço, mobiliário,
fundos documentais diversos], como recursos para o desenvolvimento das funções
estabelecidas e recomendadas internacionalmente. Deverá ter ainda recursos humanos
com formação quer pedagógica quer na área da biblioteconomia, bem como
competências nas áreas tecnológicas da informação. Como refere Cadório (2001) “ a
informação cresceu exponencialmente a partir dos anos 60, daí se considerar que
passámos da Idade Industrial para a Idade da Informação (p.13).
Para demonstrar a sua importância nas aprendizagens, é necessário que a
biblioteca investigue os resultados da sua acção, analise o sucesso e impacto dos seus
serviços e preste contas à escola do seu funcionamento. É neste contexto que surge a
necessidade da implementação do modelo de Auto Avaliação das Bibliotecas Escolares.
- Pertinência da existência de um Modelo de Avaliação para as
bibliotecas escolares.

O conceito de avaliação bem como as diferentes opiniões acerca da sua


importância têm conhecido, actualmente, uma atenção de todo o tipo de organizações. A
questão da qualidade assume, um papel determinante na eficácia das organizações, com
instrumentos de medida cada vez mais sofisticados. A necessidade de validar a eficácia
dos serviços prestados pelas BE é hoje consensual. Este interesse e esta preocupação
têm já mais de duas décadas, tendo sido criados em 1987 uma série de instrumentos - as
normas ISO 9000 - e tendo a Organização Internacional de Normalização ISO
publicado em 1998 a Norma ISO 11620, onde são descritos alguns indicadores de
performance das bibliotecas.

Avaliar uma biblioteca não é fácil. É um processo que estará sempre ligado à
sua eficácia, ao impacto que produz junto dos seus utilizadores, e sendo um processo
contínuo, procura apurar resultados de forma a melhorar o seu desempenho. A avaliação
exige trabalho de equipa e que, de acordo com a sua natureza crítica, se auto examine e
se autoavalie, constantemente, partindo de confrontações entre a realidade e os seus
meios de transformação educativa e social. Esta acepção crítica não serve apenas para
observar as finalidades, os processos e os resultados, mas serve também para uma
constante retroalimentação. A BE pretende abrir um espaço de possibilidades e
construir um ecossistema de escola, a partir do qual existem múltiplas possibilidades
práticas.

Avaliar implica também reflectir e estruturar a nossa reflexão. Este trabalho


requer tempo, para ser realizado com regularidade e estruturadamente, com ferramentas
adequadas, identificando o que se vai avaliar, porquê e para quê. Susan Casey (1999)
refere que a gestão do tempo é um dos aspectos fundamentais neste trabalho, no entanto
é frequente a falta de um planeamento e a definição das metas e objectivos para a nossa
realidade. Do mesmo modo, existe alguma incapacidade de envolver a equipa, e os
docentes da escola, na definição de prioridades. A autora realça o papel do Professor
Bibliotecário no estabelecimento de programas colaborativos articulados com o
currículo e as aprendizagens, uma vez que esta é a sua principal função.
A partir do processo de auto-avaliação poderemos medir a eficácia da biblioteca,
através da identificação dos pontos fracos e fortes, e do seu impacto nos utilizadores.
Como refere Todd (2003) “ The halmark of a school library in the 21st century is not its
collections, its systems, its technology, its staffing, its builiding, but its actions and
evidences that show that it makes a real difference to student learning, that it contributes
in tangible and significant ways to the development of human understanding, meaning
making and construction knowledge.”

Segundo Todd (2002), a identificação das evidências coloca a tónica nas


aprendizagens dos alunos, potenciando as suas experiências e aprendizagens. Refere
ainda que, realizar uma prática baseada em evidências é demonstrar que a BE é uma
parte vital no processo ensino – aprendizagem.
A auto - avaliação da BE deverá ser flexível, auto reguladora e, adaptável à
realidade de cada escola , no que se refere aos factores críticos de sucesso e futuras
acções.
O autor refere-nos uma estratégia para implementação das mudanças educativas
e simultaneamente para promoção do papel da BE e do PB na escola a partir do seguinte
modelo:

• “evidence for practice”- modo de usar a pesquisa para evidenciar a prática


diária desenvolvida na biblioteca;
• “evidence in practice” – recolha de dados a partir da acção, isto é, são evidências
de processo;
“evidence of practice” – evidências do impacto da BE no trabalho e sucesso dos
alunos;

A avaliação é um processo complicado mas de grande importância, já que é


através dela que a BE pode identificar e perceber o seu valor, no sentido de melhorar e
contextualizar o seu desempenho dentro da escola. Ela deve acompanhar as mudanças
observadas na realidade das bibliotecas escolares. Actualmente “a avaliação centra-se
essencialmente no impacto qualitativo da biblioteca” ou seja, no impacto que os
programas e o serviço da BE têm junto dos seus utilizadores.
Os domínios de intervenção e as práticas em estudo deverão ser analisados com
rigor, partindo de evidências e de indicadores susceptíveis de medir o grau de
desenvolvimento em que se encontra, observando-se os factores facilitadores e
inibidores do sucesso.

- Organização estrutural e funcional. Alguns constrangimentos.

Alguns constrangimentos/lugares comuns

Alguns professores [e alguns elementos das equipas directivas], percepcionam a


biblioteca como um espaço minimamente organizado, onde os alunos poderão ir nos
intervalos, podendo funcionar como sala de estudo, ou quando muito, podendo
funcionar em torno da animação de leitura. Embora com algumas excepções este parece
ser o conceito presente em muitos professores contrastando com o Manifesto da
Unesco, bem como com as conclusões “ Encuentro Nacional de Bibliotecas Escolares
(Madrid, Março de 1997). Esta opinião felizmente está a mudar, no sentido de se
reconhecer a importância das bibliotecas escolares em toda a vida das escolas, bem
como de realçar os seus contributos nas aprendizagens dos alunos.
Outro constrangimento refere-se à atitude dos professores e equipas directivas
pois parece existir uma concepção tradicional de escola, da educação e da cultura,
assente em rotinas profissionais com pouca inovação, com práticas lectivas magistrais,
utilizando quase exclusivamente os compêndios, com pouca reflexão e debate. Estes
comportamentos cruzam-se ainda com questões relativas a cursos, rigidez de horários,
alunos a atender, falta de recursos, resultantes de uma situação limitativa e pouco
inovadora.
A partir destes elementos é urgente o debate em torno do modelo de biblioteca
escolar adequado à realidade social e cultural, de modo a poder construir projectos
capazes de melhorar a qualidade de ensino.

- Integração/ Aplicação à realidade da escola.

Os autores Eisenberg e Miller (2002), referem que é observável uma perspectiva


de mudança na acção a desenvolver na gestão das bibliotecas a partir de três
perspectivas:

- Um trabalho de colaboração integrando toda a dinâmica da escola, com um


professor bibliotecário especialista na informação.
- Definir uma estratégia articulada com o projecto educativo de escola, de modo
a responder eficazmente às metas e objectivos traçados;

- E divulgar de forma contínua toda a dinâmica desenvolvida pela BE.

A extensão da actuação da BE é lata, importa portanto saber o que se vai


avaliar, como se vai avaliar, que instrumentos de recolha de evidências se vão utilizar.
A clarificação dos vários passos, ou etapas, da avaliação facilitará o processo
possibilitando resultados o mais fiáveis possíveis.

Será através do processo de auto-avaliação poderemos aferir a eficácia dos


serviços que a biblioteca presta, através da identificação dos pontos fracos e fortes,
assim como ter conhecimento do impacto que temos nos nossos utilizadores.

- Competências do professor bibliotecário e estratégias implicadas


na sua aplicação.

A qualidade das bibliotecas surge implicitamente ligada à qualidade da escola e


ao sucesso dos alunos. Em dois domínios parece desde logo evidenciar-se essa
finalidade: por um lado, os recursos e equipamentos e, por outro lado, as dinâmicas em
contexto de ensino/aprendizagem que surgem a partir daquele espaço.

Segundo Doug Johnson, (2002) as Bibliotecas Escolares estão perante alguns


desafios, colocados pela necessidade constante de acompanhar os tempos e pela procura
de respostas adequadas.
Não é tarefa fácil responder às solicitações curriculares, com escassos
orçamentos, e com redução de recursos humanos, numa era digital onde se observa uma
alteração de cultura na pesquisa da informação.

Neste contexto parece-nos fundamental o papel do professor bibliotecário em


aglutinar à volta de uma equipa um conjunto de sinergias a fim de responder
eficazmente aos anseios e desafios que se colocam actualmente à BE.
Como sugere Veiga et al. (1996: 13) referindo o Programa Rede de Bibliotecas
Escolares “a biblioteca deve ser (…) entendida como uma unidade orgânica da escola e
o planeamento das suas actividades, embora ajustado à especificidade das suas funções,
estará integrado no planeamento global da escola e no seu projecto educativo”.
O aluno é o núcleo a partir do qual toda a filosofia e dinâmica de uma BE deve
assentar. Deste modo, um conjunto de princípios deverá orientar a forma como a escola
encara a BE: um instrumento essencial para o processo de aprendizagem dos alunos. É
esta perspectiva sobre o aluno e o seu processo de ensino aprendizagem que determinam
os princípios que orientam a BE, o perfil e o papel do Professor Bibliotecário.

Um aspecto que salientamos desde já refere-se ao perfil genérico de professor-


bibliotecário que deverá ser dotado de competências que resultam da combinação da
formação do professor em termos pedagógicos com a formação do professor na área da
biblioteconomia, documentação e gestão da informação. Este professor deverá dominar
o currículo de cada escola, devendo ser capaz de organizar estratégias educativas e
recursos, tornando-se um agente central, no processo de ensino.

Deverão também ser especializados no uso da informação, e o seu papel consistirá


também em fornecer aos professores fontes de informação para a sala de aula. A
essência do seu trabalho consubstancia-se no fornecimento da informação a toda a
escola. É evidente que um especialista nesta área será obviamente uma mais valia em
termos de tudo a que se refere ao fornecimento de informações em diversos suportes,
bem como o tratamento de toda a informação ao dispor de professores e alunos.

Será um professor ele próprio fazedor de dinâmicas e com capacidade de arquitectar e


relacionar projectos dinamizando-os tendo um papel activo na vida da escola. O perfil e
a formação assenta no papel que assume a BE num contexto de colaboração e
cooperação nas diversas actividades de uma escola,

Poderíamos ainda definir algumas competência inerentes ao professor bibliotecário


como pré requisitos para gerir a BE para a mudança, subdividindo-as em duas
categorias: competências profissionais e competências pessoais.

Entende-se por competências profissionais aquelas mais vocacionadas para os


conhecimentos nas áreas de colaboração, liderança planificação, domínio do currículo e
das tecnologias da informação e comunicação; e por competências pessoais
representando um conjunto de atitudes e valores, permitindo um envolvimento eficaz,
serem bons comunicadores e vocacionados para encetar uma aprendizagem ao longo
das suas carreiras.

Passaremos a especificar algumas dessas competências, iniciando pelas competências


profissionais :

Planificar programas com a equipa da BE e com colegas professores, delineando


estratégias de pesquisa dos conteúdos trabalhados na sala de aula;

Conhecer e dominar os programas curriculares aprovados pela escola;

Ter um bom relacionamento pessoal e social com o corpo educativo, alunos e


comunidade;

Avaliar recursos de aprendizagem em diferentes formatos, em documentos interactivos


e “on line”, cabendo-lhe a ele a responsabilidade da escolha da gestão e compra dos
recursos necessários, e promovendo o uso eficaz de todos os recursos informativos,
fornecendo informações adequadas no sentido de satisfazer as necessidades dos
indivíduos e grupos, orientando e aconselhando fontes;

Usar as tecnologias de informação de forma adequada na aquisição organização,


disseminação da informação e ensinar a usar um catálogo da colecção;

Conhecer os alunos e as suas necessidades sociais, emocionais e intelectuais,


respondendo às suas necessidades e interesses educativos. Este professor revela também
conhecimentos ao nível das necessidades educativas especiais, articulando e adaptando
programas educativos;

Gerir o projecto da biblioteca, serviços e recursos humanos no sentido de apoiar os


objectivos da escola, desenvolvendo procedimentos para a aquisição de recursos;

E finalmente avaliar programas e serviços, envolvendo as pessoas da escola


(professores e funcionários) na avaliação dos programas, implementando questionários,
entrevistas, relatórios etc.
Relativamente às competências pessoais o professor bibliotecário deverá:

Procurar desafios dentro e fora da biblioteca aceitando novos papéis da comunidade


escolar, expandindo-se a colecção e criando o conceito de “biblioteca sem paredes”;

Estar empenhado nesse projecto planeando as actividades, demonstrando orgulho


profissional, partilhando e adquirindo conhecimentos com outros profissionais;

Planear e planificar revelando permanentemente os objectivos com o órgão de gestão e


colegas;

Conseguir ter uma visão antecipadora de tendências;

Ter capacidade de comunicação eficaz trabalhando bem em equipa e proporcionando


uma liderança como membro de uma equipa dentro da escola e da comunidade;

Procurar parcerias com outras bibliotecas partilhando recursos, e criando um ambiente


de respeito e confiança mútua reconhecendo as contribuições dos outros;

Ser flexível e optimista num tempo de mudança contínuo, e estar disposto a aceitar
diferentes responsabilidades que vão variando, mantendo uma atitude positiva e
comprometendo-se à aprendizagem de forma contínua ao longo da vida.

Em síntese:

O professor coordenador da biblioteca escolar deverá estar integrado na


dinâmica da escola, nos seus programas e de acordo com os objectivos de uma escola;

- O seu papel (professor bibliotecário) deverá situar-se entre o gestor da


informação e o interventor no processo formativo dos alunos propondo estratégias em
cooperação com os professores;

- Deva ser dado ênfase ao conceito de cooperação, com trabalho colaborativo


com os professores das diversas disciplinas;
- O professor bibliotecário e a equipa da BE devam assim ter uma atitude permanente
em identificar os problemas, definir as prioridades na sua resolução, desenvolvendo
uma cultura de avaliação e envolvendo as direcções das escolas em todo o processo.

Bibliografia

Cadório, L. (2001). O gosto pela leitura. Lisboa: Horizonte

Casey, Susan (1999). Teory – Where is my reality? In: Ken Haycock (ed.). Foundations
for effective school library media programs. Libraries Unlimited.pp 312-317

Eisenberg, Michael & Miller, Danielle (2002) “This Man Wants to Change Your Job”,
School Library Journal.

Johnson, D. (2002) “ The seven most critical challenges that face our profession”,
Teacher-Librarian.

Todd, Ross (2002) “School librarian as teachers: learning outcomes and evidence-based
practice”. 68th IFLA Council and General Conference August.
<http://www.ifla.org/IV/ifla68/papers/084-119e.pdf> [20/08/2008]

Todd, Ross (2003). “Irrefutable evidence. How to prove you boost student
achievement”. School Library Journal, 4/1/2003
<http://www.schoollibraryjournal.com/article/CA287119.html> [20/08/2008]

Veiga, I. et al (1996). Lançar a Rede de Bibliotecas Escolares. Lisboa: Ministério da


Educação, 2ª Ed.

Declaração da IASL (1993)

IFLA/UNESCO (1999) Manifesto da Biblioteca Escolar


IFLA/UNESCO (2002) Directrizes da IFLA/UNESCO para as bibliotecas escolares.
trad. de Maria José Vitorino: 2006 documento policopiado

Relatório de lançamento da rede de bibliotecas escolares em Portugal


2ª Parte da tarefa

Comentário

Olá Margarida
Gostei da tua intervenção em texto corrido e “colorido” com as cores dos teus
estados de alma decorrente dos encontros e desencontros com o então malfadado
modelo de auto avaliação das bibliotecas escolares.
Concordo contigo quando referes que esse documento é um bom documento
orientador da nossa actividade, mas em minha opinião dimensionado para uma
realidade que será talvez a do país daqui a alguns ou talvez muitos anos!
Para ilustrar e sustentar a minha opinião vou também contar-te uma história pessoal
seguindo desta forma a tua metodologia de intervenção (história de vida).
Há algum tempo atrás, integramos um grupo de trabalho a convite da Biblioteca
Municipal de Castelo Branco, numa parceria entre esta Biblioteca, a Associação Belgais
e a Fundación Germán Sánchez Ruipérez, deslocando-nos com mais alguns colegas
coordenadores de bibliotecas, à Biblioteca Municipal de Penaranda de Bracamonte, vila
pertencente ao distrito de Salamanca e terra natal de Germán Sánchez Ruipérez,.
Esta localidade com cerca de 7000 (sete mil) habitantes dispõe de uma biblioteca
com uma dinâmica e espólio riquíssimos, um verdadeiro motor de aglutinação de toda a
vida cultural e social daquela localidade.
Durante um fim de semana pudemos observar e participar na vida desse pólo
aglutinador de dinâmicas passando a referir dois projectos:
Um projecto de cariz social (muito interessante mas que não irei descrever para
não me alongar demasiado, que poderei abordar eventualmente de acordo com essa
temática noutro contexto), e um outro projecto relativo a um estudo realizado,
apresentado numa sessão de trabalho em que participámos, pelo director da biblioteca
de Penaranda de Bracamonte. Este estudo comparou os hábitos de leitura de duas
localidades - Penaranda de Bracamonte (Espanha) e Castelo Branco (Portugal),
apresentado com edição de livro/estudo.
Este trabalho, recente a partir de um documento bastante exaustivo e completo
acerca dos hábitos de leitura daquelas localidades, vem concluir que apresentaram nesse
estudo, hábitos de leitura idênticos, com baixos índices de leitura comparados com
hábitos e práticas de leitura ingleses de há um século atrás. Algumas justificações deste
atraso semelhante nestas localidades são sustentadas com base em realidades sociais
idênticas em Portugal e Espanha saídos de regimes ditatoriais com coincidências
cronológicas (1974 caso português e 1975 o caso espanhol), onde até então não era
valorizada a informação como parece ser lugar comum e característica de regimes
totalitários.
A partir deste estudo e como consequência uma série de projectos estavam a ser
desenvolvidos em parceria com as escolas, formando leitores para a biblioteca pública
que é no fundo uma extensão da escola.
Foi uma experiência muito interessante, quer ao nível da valorização da
biblioteca pública numa comunidade, quer como pólo aglutinador de dinâmicas
escolares numa lógica interpares.
O relato desta experiência parece-me pertinente no que toca a algumas
dimensões referenciada na análise do modelo de auto avaliação, que passarei a
argumentar.
Vou pegar apenas num exemplo:
Na dimensão B Leitura e Literacia
“ A BE desenvolve estratégias e actividades em articulação com menos de 45%
dos docentes”
“ (…..) Menos de 45% dos alunos usa a biblioteca escolar em contextos de
leitura e revela progressão nas competências de leitura de acordo com o seu ano de
escolaridade”
Estas descrições de evidências situam-se no nível 1 Fraco (a precisar de
desenvolvimento urgente)
Isto quer dizer que numa escola com 100 (cem) professores, se, 40 (quarenta)
professores trabalham articuladamente com a biblioteca isso é muito fraco!
Ou se numa escola com 1000 (mil) alunos, (400) quatrocentos utilizam a
biblioteca em contexto de leitura e revelam progressão nas competências de leitura, isso
é igualmente fraco!
Num País em que os hábitos de leitura são fracos, com uma rede de bibliotecas
escolares recente, e com recursos humanos a integrarem um quadro apenas este ano
lectivo, gostaria de questionar que fenómeno se espera para que de repente toda a gente
se volte para a leitura. É evidente que o horizonte deverá ser o óptimo mas quando não
se atinge, o óptimo é inimigo do bom! Devemos valorizar a evolução e construção dos
hábitos e práticas de leitura ( no caso desta dimensão), para solidificar comportamentos
que demoram décadas a integrar.
Penso que este modelo é nitidamente um modelo anglo saxónico,
contextualizado para outras realidades, que presentemente distam da realidade
portuguesa. É apenas a minha opinião como é óbvio.
Cumprimentos
Rafael

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