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RESUMO
A preservação do patrimônio histórico e cultural no meio urbano, incluindo não somente aspectos
materiais como a arquitetura, mas também aspectos imateriais como os costumes, gastronomia
danças típicas e outros, tornam-se cada vez mais alvo de discussão no cenário mundial. O ambiente
construído de uma cidade é o registro mais palpável e incontestável da evolução das civilizações,
sendo formado através dele a memória e a cultura de um povo. Sendo assim, o presente trabalho
tem por objetivos levantar as edificações de valor histórico, especificamente na cidade de Maringá,
Paraná. Analisar o patrimônio urbano da cidade em questão, para verificar quais obras já possuem
sua preservação garantida por lei, através de tombamento, como o Grande Hotel Bandeirantes, bem
como as edificações de relevância no contexto urbano que ainda não possuem proteção legal, como
o Gabinete do Prefeito. Discorrer ainda, acerca de parte do patrimônio que se perdeu, em meio ao
crescimento urbano. Ressaltar a importância de se preservar o patrimônio das cidades, em especial
nas cidades recentes e identificar ainda as principais dificuldades encontradas na conservação e
tombamento destas obras. O estudo possibilitou uma análise geral do estado em que se encontra a
preservação histórica no município de Maringá, onde não foi observado a existência de uma política
pública, realmente preocupada com esta questão. Demonstrou ainda, a clara importância da
arquitetura no espaço urbano das cidades, estando esta, intimamente ligada com a memória e
história de um povo. A existência de diversas edificações representativas em seu contexto urbano
mostrou que apesar de ser uma cidade recente, de pouco mais de 60 anos, o município possui muito
patrimônio a ser preservado. Parte do patrimônio histórico da cidade encontra dificuldade em sua
preservação principalmente em função de interesses imobiliários, uma vez que este mercado é
bastante influente nas decisões do município.
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Mestrando, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana-
PEU, leonardo.cb@gmail.com
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Mestrando, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana-
PEU, igorgrande@uol.com.br
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Prof. Dr., Universidade Estadual de Maringá-UEM, Departamento de Agronomia-DAG,
brucagen@uol.com.br
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1. INTRODUÇÃO
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A preocupação com a preservação de bens culturais tem seu início no século XV, quando as
intervenções nas edificações passam a contemplar alguma motivação cultural, ao invés de questões
de ordem puramente práticas e utilitárias. Porém apenas no final do século XVIII a preservação se
sistematiza, com o surgimento gradativo de critérios e metodologias, até se consolidar como campo
disciplinar no século XX, reconhecendo assim seu significado cultural, pautado em valores formais,
históricos, simbólicos e memoriais (KUHL, 2005). Devemos entender por preservação, a
manutenção de determinado bem visando a desaceleração do processo pelo qual ele se degrada
(CASTRIOTA, 2007).
Cesare Brandi, fundador do Instituto Central de Restauração em Roma, em 1939, e
importante teórico da restauração, afirma que ela deve ser entendida como “o momento
metodológico do reconhecimento da obra de arte, na sua consistência física e na sua dúplice
polaridade estética e histórica, com vistas a sua transmissão ao futuro” (BRANDI, 2004). O restauro
constitui apenas um dos tipos de intervenção em edificações, sendo geralmente aplicado quando a
obra apresenta algum grau de degradação ou descaracterização, devendo ser executado por
especialistas, de forma criteriosa e embasada. O ideal é que se realize a conservação do prédio, com
manutenção periódica, evitando-se assim que chegar ao estágio da necessidade de restauração, este
bem mais oneroso.
Subseqüente a conscientização da necessidade da preservação do patrimônio e das teorias de
restauro, surge o conceito de Tombamento, com vista a garantir a proteção dos edifícios de valor
histórico. O Tombamento consiste num ato administrativo realizado pelo Poder Público, com o
objetivo preservar, por intermédio da legislação específica, impedindo que venham a ser destruídos
ou descaracterizados. Ele pode ser feito pela União, por intermédio do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, pelo Governo Estadual, por meio do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico do Estado ou pelas administrações municipais, utilizando leis específicas ou a
legislação federal (SÃO PAULO, 2003).
No Brasil, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, criado no final
dos anos 30, é o organismo federal mais atuante na questão da preservação. O artigo 216 da
Constituição da República Federativa do Brasil define os conceitos de patrimônio cultural, e
estabelece a incumbência ao poder público, com a ajuda da comunidade, garantir a preservação,
conservação e gestão do patrimônio artístico do país. Os estados e as municipalidades, através da
elaboração de leis específicas, além da atuação de ONGs e organismos envolvidos com a questão,
são outros mecanismos auxiliadores na questão da preservação.
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a partir de 1950, tendo como marco principal a construção da nova capital, a cidade de Brasília.
Este novo modo de se pensar a arquitetura, criado na Europa no final do século XX, baseado
na construção de volumes puros, despidos de ornamentação, enfatizando uma beleza simples,
palpada principalmente em aspectos da funcionalidade, também influenciou parte da produção
arquitetônica de Maringá. Esta influência pode ser vista claramente no traçado urbano inspirado no
conceito de cidade jardim, e principalmente com a visita de importantes arquitetos modernistas após
a década de 50, atraídos pelo grande crescimento da cidade. Dentre eles destacam-se o arquiteto
paulista José Antônio Bellucci, contratado pela CMNP para projetar uma série de edifícios na
cidade (VERRI Jr., op. cit.).
• A Capela Santa Cruz, construída entre 1945-1946, e tombada em 1988 em função de seu
valor religioso e social, além de sua estrutura arquitetônica típica da época. A capela foi
edificada na região denominada de Maringá Velho. Naquele tempo fixavam-se nesse bairro
os primeiros habitantes da cidade. O terreno foi doado pela Companhia de Terras Norte do
Paraná e construída a partir da participação da comunidade, que se mobilizou, realizando
quermesses, festas e doações. Sua preservação foi efetivada através de uma intervenção de
restauro, realizada a partir de laudo elaborado em 1987. A igreja foi reinaugurada em 1991,
após a conclusão das obras (SILVEIRA, 2003). A Figura 1 mostra a Capela Santa Cruz.
• A Capela São Bonifácio foi construída entre 1939-1940 na zona rural, na estrada Vale Azul,
sendo tombada em 1994. A capela constitui a primeira edificação da religião católica em
Maringá. Nessa época Maringá ainda se encontrava vinculada ao município de Mandaguari.
A capela fazia parte de um complexo rural, denominado Fazenda São Bonifácio. Servia a
comunidade local, que se dirigia à fazenda para os cultos e atividades litúrgicas. É nesse
local que os habitantes do núcleo inicial da cidade realizaram as primeiras missas, batizados
e casamentos dos moradores (SILVEIRA, op. cit.). A Figura 2 mostra a capela São
Bonifácio.
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• O edifício principal, situado na esquina da Avenida Duque de Caxias com a Rua Joubert de
Carvalho, da sede da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP), foi tombado em
2004 por ter sido o principal centro econômico nos primeiros anos de Maringá, além de ser
responsável pelo desenvolvimento de grande parte do noroeste do Estado a partir da
implantação da linha férrea, do parcelamento do solo e do planejamento, localização e
configuração de algumas cidades. Esse local era onde se regulamentava as transações de
terras e imóveis na região e definia-se a configuração de lotes e quadras da cidade
(SILVEIRA, op. cit.). A Figura 3 mostra o edifício tombado.
• A “Festa Junina do Seu Zico Borghi” faz parte do patrimônio imaterial de Maringá, tendo
seu tombo decretado em 2008 por manter sua tradição desde 1982. Apesar do patrimônio
imaterial não ser alvo do presente trabalho, vale ressaltar a importância deste tipo de bem
cultural, no contexto urbano da cidade.
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A cidade ainda possui um patrimônio tombado por Lei Estadual, sendo ele o Grande Hotel
Bandeirantes construído entre 1951 e 1955, na Praça Deputado Renato Celidônio n.°190, com a
função de recepcionar os possíveis investidores na cidade, além de atender a sociedade maringaense
em festas e banquetes. Além desta importância histórica, a arquitetura do hotel é bastante
representativa, baseada na arquitetura moderna racionalista presente em São Paulo nos anos 50,
contemplando uma boa integração do edifício com o paisagismo, as plantas assumindo
preocupações funcionais e de conforto ambiental, projetado pelo arquiteto paulista José Augusto
Bellucci (DELMONICO; REGO; PELEGRINI, op. cit.). O edifício, que é de propriedade particular,
foi tombado em 2005, com número de inscrição de tombo 156 II. A figura 4 mostra o edifício.
Nestes pouco mais de 60 anos de história, a cidade que conta com um número pequeno de
obras tombadas, sofreu inclusive algumas importantes perdas de edifícios emblemáticos,
ocasionados pelo processo de crescimento e modernização constante que a cidade vive atualmente.
Dentre estas perdas consideráveis, vale ressaltar a Estação Ferroviária construída em 1954 e
reconstruída em 1970 - conhecida por ser um dos principais meios de transporte utilizado na época
pelos investidores da região – foi demolida na década de 90, a Máquina de Café Santo Antônio
localizada na Avenida Mauá, construída nos anos 40, e demolida em 2004, - que teve seu
tombamento considerado inviável apesar do seu valor representativo da indústria cafeeira para a
cidade, em função do estado de deterioração do madeiramento, exigindo assim altos custos na sua
recuperação - (FRIEDRICH, 2009), entre outros casos. As figuras 5 e 6 mostram a demolição da
Máquina de Café e a Estação Ferroviária, respectivamente.
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Atualmente o antigo terminal rodoviário Américo Dias Ferraz é o alvo das principais
discussões cerca da preservação. Edificado em 1962, é hoje propriedade do poder público e de
particulares, encontrando-se em mal estado de conservação, tendo inclusive perdido parte de sua
cobertura em 2007. Alegando que o prédio não teria condições estruturais, o poder público iniciou
uma campanha a favor da demolição, fato este que veio em desacordo com os anseios de alguns
proprietários particulares, que entraram com ação civil requerendo a reintegração de posse e
indenização por perdas e danos (Ação Civil n°180/2007, 2ª Vara – Arquivos da 13ª Promotoria de
Justiça – Comarca de Maringá). Houve ainda pedido de tombamento do edifício por parte do
Instituto Cultural Memória do Paraná, protocolado junto ao Conselho de Patrimônio Histórico
Estadual e à Comissão Municipal. O parecer do Conselho Estadual determinou que o tombamento
fosse discutido pela Comissão Municipal (Secretaria da Cultura do Estado do Paraná, Ofício n°
007/2007, CEPHA – Arquivos da 13ª Promotoria da Justiça da Comarca de Maringá). O processo
encontra-se em trâmite atualmente (FRIEDRICH e ZANIRATO, 2008). A figura 7 mostra a
Rodoviária Américo Dias Ferraz.
De acordo com projeto de pesquisa liderado pela professora Doutora Aline M. da Silveira do
Departamento de Arquitetura e Urbanismo – DAU, da UEM em 2003, 15 obras significativas no
cenário municipal, encontram-se em processo de inventário para o pedido de tombamento. Destaca-
se a Igreja Catedral Metropolitana Basílica Menor Nossa Senhora da Glória, projetada pelo
arquiteto José Augusto Bellucci, construída em 1958, caracterizada por sua planta circular de 16,40
metros de raio, e seu formato em cone, tendo uma altura máxima de 124 metros, que confere grande
monumentalidade ao edifício, sendo hoje um dos símbolos da cidade (VERRI Jr., op. cit.). O
Aeroporto Gastão Vidigal – sendo um dos ícones da arquitetura moderna na cidade -, o Gabinete do
Prefeito – outro ícone da arquitetura modernista, projetado pelo arquiteto José Antônio Bellucci,
construído entre 1967 e 1972 -, e o Museu da Bacia do Paraná – construção em madeira da década
de 40, transferido para o campus da UEM em 1984 -, entre outras, também se encontram neste
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processo. A figura 8 mostra da esquerda para a direita o Gabinete do Prefeito, o Aeroporto Gastão
Vidigal e o Museu da Bacia do Paraná.
Figura 8 – Da esq. para dir.: Gabinete do Prefeito, Aeroporto Gastão Vidigal e Museu da
Bacia do Paraná
Fonte: Autor - 2009
5. CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
ARANTES NETO, Antônio Augusto. Patrimônio e Produção Cultural. In: Palestra de abertura
do Colóquio Franco-brasileiro sobre a Diversidade Cultural, realizado pelo IPHAN em cooperação
com a Biblioteca Nacional da França, 13 e 14 out. 2005, Paris. Disponível em:
<http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=382>. Acesso em: 25 mai. 2009.
LEMOS, Antonio Carlos. O que é patrimônio histórico. São Paulo: Brasiliense, 2004, 5ª ed.
Coleção Primeiros Passos.
VERRI Jr., A.. A obra de José Augusto Bellucci em Maringá. 2001. Dissertação (Mestrado em
Arquitetura e Urbanismo). FAUUSP, São Paulo, 2001.