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O Combate Espiritual segundo São Bento (480-547)1

O resumo de toda a Lei de Deus está no mandamento do amor: “Amar a Deus


sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. O pecado nos leva a
perverter esta ordem: Amar a si mesmo e as coisas acima do próximo,
julgando-se igual a Deus. A Luta Espiritual nos leva a renunciar a esta idolatria
do “eu” procurando a libertação do pecado e a volta ao verdadeiro amor. É isto
que significa as inúmeras passagens de Jesus: perder para ganhar, últimos
serão os primeiros, servo se torna Senhor, e mesmo o magníficat: derruba os
poderosos de seu trono e eleva os humildes.

As três brechas

São Bento encontrou três brechas por onde o inimigo pode entrar em nosso
coração. A luta espiritual acontece aí nestes lugares de maior fragilidade
humana e espiritual. É nestas brechas que precisamos maior vigilância.

Primeira brecha: A COBIÇA

É a idolatria das coisas. Por exemplo, fazer do dinheiro um deus. É o apego às


coisas da terra. São Bento coloca como símbolo desta brecha o porco, pois seu
focinho está sempre ligado ao chão. Curioso observar no Evangelho que o filho
pródigo, após ter gastado todos os seus bens, foi trabalhar no meio dos porcos.
Nesta brecha a luta acontece na reorientação dos desejos. É preciso
conquistar uma atitude de oblação, de generosidade, desapego. É neste
sentido que os religiosos fazem o voto de pobreza.

Segunda brecha: A VAIDADE

É a idolatria do outro como objeto de prazer. É a necessidade de ser


reconhecido e amado distorcida, pois esquece da relação de fraternidade com
o próximo e pensa apenas em si mesmo. A vaidade se torna neste caso
motivação até de coisas boas, mas no fundo está o apego idólatra aos elogios
e a toda espécie de prazer. É fazer tudo só pelo interesse de ocupar o primeiro
lugar, ser bem visto pelos outros, elogiado, ter status, ser admirado. Aqui São
Bento usa o símbolo do Pavão. É preciso reorientar esta necessidade natural e
boa de ser reconhecido e amado. É dizer com sua vida e todo o seu coração:
Senhor, vosso é o Reino, o Poder e a Glória. Se na primeira brecha, a atitude
de desapego era uma garantia de vitória, nesta segunda brecha é necessário
perseguir a atitude da solidariedade, do diálogo, da comunhão com Deus e
com próximo. Para isso é fundamental a mansidão e a simplicidade. É neste
sentido, de reorientar todos os afetos para o serviço da comunhão, que os
religiosos fazer voto de castidade.

1 Padre Joãozinho. Scj site: http://blog.cancaonova.com/padrejoaozinho/2007/10/12/o-


combate-espiritual-segundo-sao-bento-480-547/
Terceira brecha: O ORGULHO

É querer dominar tudo para si. Ser um verdadeiro deus. É a idolatria de “si
mesmo”. Aqui São Bento ilustra com o símbolo da águia. O orgulho é a origem
de todos os pecados. É pelo orgulho que o homem se separa de Deus e
procura sua independência. É necessário perseguir a virtude da humildade. Na
luta espiritual, às vezes Deus nos da a graça da humilhação (Cf. Eclo 2) como
uma espécie de exercício para crescermos na humildade e vencermos a
brecha do orgulho. Neste sentido os religiosos fazem o voto de obediência.

Todas estas brechas estão descritas em Gn 1-11

1 COBIÇA: Idolatria das coisas (árvore, frutos…)


2 VAIDADE: Idolatria do outro como objeto (Caim)
3 ORGULHO: Idolatria de si mesmo (sereis deuses…)

Jesus venceu todas estas brechas (Cf. Mt 4,1-10)

1. Cobiça: estar seguro contra a falta de alimento


2. Vaidade: fazer um milagre diante das multidões
3. Orgulho: dominar o mundo

Joio e trigo misturados no coração

É preciso reorientar os desejos de acordo com o amor segundo o qual fomos


criados:

1. Cobiça X desejo natural de viver, produzir, inventar


2. Vaidade X desejo natural de ser reconhecido, amado
3. Orgulho X desejo natural de organizar, dirigir

Armas contra o Inimigo

Na Bíblia e na vida dos santos encontramos muitas dicas interessantes e


práticas sobre como lutar contra as artimanhas do maligno. Erra quem
subestima esta criatura do mal que existe e age. Erra quem imagina que o mal
é apenas o fruto de nossos erros e falhas. Não se trata de uma “energia
negativa” ou algo parecido. Segundo a doutrina católica o inimigo de Deus
existe e precisamos estar atentos às suas artimanhas.

O Demônio é o príncipe das trevas e o pai da mentira. Ele gosta de coisas


feitas às escondidas. Por outro lado, não suporta a verdade e a luz. O melhor
exorcismo, portanto, é abrir-se com o diretor espiritual, o confessor, ou com
uma pessoa de confiança. Você já percebeu que quando estamos em uma
situação difícil preferimos mais ficar sozinhos, no escuro, calados,
ensimesmados? É um prato cheio para o maligno. Ele é a incoerência em
pessoa. Primeiro se aproxima de nós como sedutor e diz que não tem
problema, é normal, nem é pecado… Depois que caímos na tentação ele muda
de atitude. De sedutor passa para acusador. Diz que aquilo que fizemos é
horrível, que é um grande pecado, que não merecemos mais o céu, que viver
nem vale a pena, que melhor seria morrer. Tudo errado. Não era tão bom antes
e não tão ruim agora. O que precisamos é mudar de vida. Deus é um pai que
está sempre de braços abertos. Mas o inimigo apaga as luzes para que não
percebamos a misericórdia de Deus.

O que precisamos fazer nesta hora é acender a luz… e não haverá mais lugar
para as trevas; precisamos contar a verdade… e não haverá mais lugar para a
mentira. É por isso que o sacramento da confissão é um grande momento de
cura e libertação. Procure um sacerdote e conte seu pecado sem rodeios nem
maquiagem. Tem gente que enfeita tanto o pecado que no final dá vontade de
elogiar e não de absolver.

Precisamos nos antecipar a satanás. Podemos contar até mesmo a tentação


que estamos sofrendo. É claro que devemos encontrar alguém de confiança.
Não precisamos dar testemunho diante das câmeras e das multidões. É
ingênuo mostrar sua intimidade para toda a comunidade. O próprio Jesus
reconheceu o valor destes níveis de intimidade quando ensinou que devemos
corrigir o irmão primeiro em particular. Somente se ele não aceitar devemos
procurar mais alguém e falar em dois. De qualquer maneira colocar as “cartas
na mesa” sempre é uma ótima forma de afastar aquele que se diverte com
nossas fraquezas e tribulações.

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