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TEXTO GUIA EURECA 2010

Elaboração: Comissão Organizadora

TEMA: “20 ANOS DO ECA e o PROTAGONISMO INFANTIL”

Em 1964 foi aprovada a Lei de nº 4.513, do mês de dezembro cujo objetivo era criar a Política
Nacional do Bem-Estar do Menor na qual se instituiu a Fundação do Bem-Estar do Menor – FUNABEM –
cuja finalidade era coordenar as entidades estaduais que lidavam com crianças e adolescentes. Esta
instituição, acompanhado das suas extensões, denominadas de Febem, não reconheceram a noção de
proteção aos jovens e estas passaram a serem consideradas como “escolas do crime”. Neste período
uma quantidade significativa da população infantil foi levada às entidades de internação no interior do
sistema FEBEM em nosso país, sendo a maior parte crianças e adolescentes, conhecidos como
“menores” e que na sua maioria não cometiam infrações.
Neste clima, no dia 29 de dezembro de 1967 eram criadas no Estado de São Paulo a Secretaria
da Promoção Social do Estado de São Paulo e a Coordenadoria dos Estabelecimentos Sociais do Estado
(Cese). Já no ano de 1974 consolidou-se a Fundação Paulista de Promoção Social do Menor (Pró-
Menor). Dois anos depois a Secretaria de Promoção Social alterou seu nome de Fundação Pró-Menor
para Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor – Febem/SP, cuja finalidade era se adaptar à política
federal par a área do adolescente em situação de conflito com a lei e consolidar o modelo correcional-
repressivo praticado. Com a Lei nº. 6.697/79 instituiu-se o Novo Código de Menores, o qual substituiu
a classificação de “menor abandonado e delinqüente” por “sistema de descrição do estado sócio-
econômico-familiar” dos menores, mais tarde simplificada para “Doutrina da Situação Irregular” que
cumpriu um papel repressor contra as crianças e adolescentes das classes trabalhadoras. Assim sendo,
se consolidou um código que fazia uma distinção entre a criança rica e pobre, a primeira reconhecida
na sociedade como criança de fato e, a segunda considerada como menor e não criança.
Em contraposição a esta forma de trato que as crianças e adolescentes eram submetidas, se
efetivou no início dos anos de 1980 um movimento de diversos segmentos sociais cuja finalidade era
reivindicar o fim do modelo FEBEM-FUNABEM. No interior da composição destes movimentos
destacamos o papel do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, que em meados dos anos
80 se articulou com diversas organizações sociais, que atuavam na defesa do direito da criança e do
adolescente. A pressão do movimento dos meninos e meninas de rua possibilitou e impulsionou a
articulação dos vários segmentos sociais em defesa do direito da criança e do adolescente.
Havia no Movimento Nacional – existente desde 1985, consolidado a partir da articulação de
educadores e outros atores – outra concepção de atuação, isto é, uma forma peculiar de tratar e ver
os meninos e meninas de rua; a criança e o adolescente eram considerados portadores de direitos e
que eles deveriam ser respeitados como cidadãos e como sujeitos históricos.
A atuação do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua influenciou outros segmentos
sociais tais como, os partidos políticos democráticos e instituições progressistas comprometidas com o
sistema de garantia de direitos. Esta articulação resultou na mobilização constituinte de 1988 que em
seu artigo 227 atribuiu à família, à sociedade e ao Estado o dever de assegurar à criança e ao
adolescente os seus direitos fundamentais. Neste itinerário, nasceu a "Doutrina da Proteção Integral"
e em 13 de julho de 1990 foi instituído o ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente, por meio da Lei
Federal nº 8.069/90.
O ECA rompe com o modelo autoritário que colocava a criança e o adolescente apenas como objetos
de intervenção de políticas; tanto a criança como o adolescente passam a ser concebidos como
pessoas sujeito de direitos, como o direito de IR e VIR, se MANIFESTAR, se ORGANIZAR, FALAR,
reivindicar os seus diretos, BRINCAR, se DEFENDER, ser OUVIDO.
O ECA estabelece um novo ordenamento institucional cuja finalidade é ATENÇÃO ABSOLUTA nas
políticas voltadas para as crianças e adolescentes, respeitando a peculiaridade de sua faixa etária,
pois são pessoas que estão em processo de desenvolvimento, conforme afirma o Art. 4º: “É DEVER
Da FAMÍLIA, COMUNIDADE, DA SOCIEDADE EM GERAL E DO PODER PÚBLICO assegurar, com
ABSOLUTA PRIORIDADE, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a
convivência familiar e comunitária.”
No ECA estão contidos os mecanismos para a Promoção e Defesa dos Direitos, como o CONSELHO
TUTELAR, órgão autônomo que ZELA pelos direitos das crianças e dos adolescentes, os CONSELHOS
MUNICIPAIS E FÓRUNS MUNICIPAIS DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES.

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Assim sendo, faz necessário refletir sobre o Estatuto, visto que neste ano – 2010 – estará completando
20 anos de existência, pois, temos registrado em nossa história inúmeras conquistas no que toca a
área da infância, entretanto, diversos são os desafios que devem ser realizados para que a criança e o
adolescente possa ser prioridade absoluta em nosso país.

Protagonismo Infantil

A elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente não deve ser tomado enquanto uma proposta
descolada da realidade das crianças e dos adolescentes, pois, sabemos que devido a mobilização dos
movimentos sociais, mencionado acima, temos registrado no processo histórico da consolidação do
Estatuto a participação significativa do público infantil. Basta resgatarmos o modo como foi elaborado
os artigos contidos no Estatuto; a elaboração se deu a partir de constantes encontros realizados com
as crianças e adolescentes em todo o país. Os meninos e meninas colocaram suas demandas,
dialogaram entre si e após as atividades, as proposituras foram sistematizadas pelos juristas que as
transformaram em artigos.
Sendo assim, podemos afirmar que o protagonismo infantil está contido no ato da elaboração
do Estatuto da Criança e do Adolescente, ou seja, a presença dos meninos e meninas marca a
solidificação do ECA em todo o processo; a participação dos meninos (as) ao se reunirem a fim de
discutir a realidade nas quais eles estavam inseridos, marca a sua atuação como seres pertencentes à
história e, o protagonismo está colado nesta realidade. A criação do Estatuto é fruto dos movimentos
sociais em que as crianças e adolescentes estão dentro deste momento histórico, não como passivo no
processo, ao contrário, como parte integrante desde a elaboração e materialização deste instrumento
que é de fundamental importância para o público infantil.
O protagonismo é fundamental, pois, possibilita resgatar (talvez), construir, reconstruir outras
formas de participação daqueles que buscam transformar a realidade. Por esta razão a participação
dos nossos meninos e meninas torna-se urgente neste momento em que o ECA completará 20 anos, e
na busca de melhoria, as conquistas àqueles que mais precisam de resultados significativos, só podem
ser alcançadas com a participação ampla do público infantil. Sendo assim, a participação nos espaços
de garantias de direitos, como os fóruns, os conselhos municipais, as organizações sociais e outros
canais de organização é primordial naquilo que almejamos. O protagonismo só pode ser garantido com
a participação e atuação dos próprios protagonistas, crianças, adolescentes e todos aqueles que
acreditam numa sociedade sem desigualdade onde não haja mais crianças e adolescentes sendo
violadas.

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