O documento discute a responsabilidade social do filósofo e como ela deve levar em conta o contexto histórico-social maior. A responsabilidade deriva de uma síntese entre intenção e consequência, mas supera ambas qualitativamente. Ações individuais raramente correspondem exatamente às intenções e influenciam processos sociais mais amplos de forma imprevisível.
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Anotações sobre o texto em que Lukacs discute a responsabilidade social ética do filósofo.
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Anotações referentes a Responsabilidade Social do Filosofo
O documento discute a responsabilidade social do filósofo e como ela deve levar em conta o contexto histórico-social maior. A responsabilidade deriva de uma síntese entre intenção e consequência, mas supera ambas qualitativamente. Ações individuais raramente correspondem exatamente às intenções e influenciam processos sociais mais amplos de forma imprevisível.
O documento discute a responsabilidade social do filósofo e como ela deve levar em conta o contexto histórico-social maior. A responsabilidade deriva de uma síntese entre intenção e consequência, mas supera ambas qualitativamente. Ações individuais raramente correspondem exatamente às intenções e influenciam processos sociais mais amplos de forma imprevisível.
Anotaes referentes a Responsabilidade Social do Filosofo de Lukacs
- Existe uma responsabilidade especifica do filsofo, que v alm da
responsabilidade normal de qualquer homem em relao sua vida, aos seus semelhantes, sociedade em que vive e ao seu futuro? E mais: uma tal responsabilidade adquiriu, em nossa poca, uma forma particular? - Ato em si da deciso tica, do comportamento - O elemento decisivo comum de tais posies consiste em situar o ato da deciso tica, da adoo de um comportamento eticamente relevante, como algo independente do desenvolvimento causal da realidade-histrico social - Assim, fia claro que o prprio homem como ser social, sua relao com seus prximos e tambm mediata ou imediatamente a prpria sociabilidade devem estar (no importa se no aqum ou no alm) no centro do sistema, at mesmo numa tica construda de maneira subjetivo-formal - Engels, numa carta a Marx, criticava a recusa abstrata de todo egosmo por parte dos socialistas verdadeiros, que eram idealistas, e sublinhava que eles mesmos eram comunistas tambm por egosmo. Importante assinalar que, deste modo, concretizou-se substancialmente a corrente histrico-social na qual se insere toda vida individual, a compreenso de que a vida tico-individual implica necessariamente uma responsabilidade histrico-social nas decises, nos comportamentos, etc, e o que mais decisivo, que at mesmo as virtudes mais elevadas, mais socialmente determinantes, no se opem de forma asctico-dualista ao homem natural, mas, sob circunstncias favorveis, podem ser desenvolvidas organicamente a partir das suas caractersticas naturais. Este o fundamento tico-social do fato de que, segundo Lenin, tambm no socialismo os homens devem se transformar em homens novos atravs da realizao de seus interesses individuais no interior da nova sociedade; todas as medidas econmicas de uma correta via para o socialismo portam uma tal inteno pedaggico-social: conduzir o egosmo justificado sobre uma base natural a uma sociabilidade socialista. - At uma imputao puramente jurdica obrigada a levar em considerao momentos subjetivos, como a inteno, a convico, o contexto geral real ou possvel das circunstncias etc. A questo de saber por que um homem pode ser qualificado como responsvel pelas consequncias da sua ao no pode ser deduzida inclusive de um ponto de vista jurdica do mero encandeamento de causas e efeitos. Portanto, Hegel tem razo quando recusa como abstratas tanto a prioridade unilateral das intenes quanto a das consequncias - De fato, toda ao se autonomiza em maior ou menor escala daquele que a executa, adquirindo seu prprio desenvolvimento imanente em meio s relaes recprocas dos homens. Se uma inteno partilhada, j no mais tua, diz o Wallestein de Goethe. Nisto reside o problema da responsabilidade: a dialtica prpria da ao no suprime a autoria do sujeito, sua inteno e convico. Torna-se um problema somente o
seguinte: em que medida, de que modo, em relao a quais consequncias,
efeitos colaterais e implicaes se efetiva uma responsabilidade? No resta nenhuma dvida acerca da relao geral entre ao e agente, ainda que com as mediaes mais complexas. O que deveria ser concretamente elaborado numa casustica tica so a medida e proporo. - O artigo do cdigo legal em que uma ao individual deve ser enquadrada juridicamente expressa esta generalidade abstrata do modo mais claro e demonstra, ao mesmo tempo, que ele no pode fornecer nenhum elemento para soluo tica. - A universalidade eticamente profcua e esclarecedora da responsabilidade s pode ser encontrada se considerarmos a ao individual como momento dinmico de uma atuao histrico-social na sua totalidade e continuidade concretas igualmente dinmicas. De fato, somente assim a universalizao deixa de ser uma abstrao formal sem contedo, tornando-se um tipo de abstrao operada no prprio processo e reproduzida mais ou menos corretamente pela conscincia externa (tambm pela conscincia do agente). Vale dizer: a universalizao, numa deciso tica, tem seu passado histrico-social e um futuro que surge do prprio processo. , pois, importante determinar o lugar ocupado no processo histrico-social, em virtude da dialtica interna do seu ncleo essencial, pela inteno tomada em si mesma, ou seja, pela inteno tomada em si mesma, ou seja, pela inteno que, de modo objetivamente imanente, embasa a ao individual e no de modo algum necessariamente idntica inteno consciente da ao em questo; importante saber em quais conexes esta inteno se insere, quais tendncias favorece ou trava. Somente ento pode manifestarse com clareza crescente uma universalidade concreta, capaz de impor uma obrigao tica. - Realmente, a responsabilidade tica deriva de uma sntese particular que unifica em si tanto a inteno quanto a consequncia, mas de um modo tal que a ambas supera e transforma qualitativamente. Todavia, se queremos considerar a dialtica subjetiva, estreitamente vinculada dialtica objetiva e da qual deriva, devemos levar em conta que o curso da histria e mesmo isso apenas com o marxismo s previsvel de uma maneira muito geral. A formulao hegeliana, que s vezes tem ressonncias mitolgicas acerca da astcia da razo remete a um fato indiscutvel da vida histricosocial, ou seja, que as consequncias das aes humanas, individuais ou coletivas, no correspondem s intenes, mas as ultrapassam qualitativamente. - Se as consequncias fossem exatamente previsveis para um intelecto qualificado para tal objetivo ento a ao social tornar-se-ia algo puramente tcnico. A reponsabilidade por um sim ou um no implicaria um simples calculo e dispensaria analise tica, precisamente como no caso de um engenheiro que responsvel pela construo de uma ponte. Ora, o que se afirma ou que se nega , no entanto, uma universalidade mais ou menos determinada, mas em qualquer caso concreta; por exemplo, os partidrios ou os adversrios da Revoluo Francesa no sabiam, nem poderiam sabelo, que favoreciam ou travavam objetivamente o surgimento do capitalismo
francs; para sua responsabilidade tica, este conhecimento a posteriori
no conta. - Com efeito, nenhuma ao humana se esgota num ambiente social exatamente delimitvel: na medida em que se relaciona com a vida pblica, , simultnea e inseparavelmente, um elemento que favorece ou trava um processo social. Por isso, o conceito de neutralidade, da absteno em face da ao, carece aqui de qualquer sentido; nesta perspectiva, tambm o fato de no agir constitui uma forma de agir que, em relao a responsabilidade, no se diferencia, em termos de princpio da ao propriamente dita. Hegel: Portanto, s inocente o no agir do ser de uma pedra, mas o no sequer o do ser de uma criana. Isto significa que o abster-se de agir implica sempre uma aceitao ou recusa daquela situao, estrutura, instituio, o que habitualmente constitui, numa ao efetiva, orientada positiva ou negativamente, o ncleo da inteno que a move. - O jovem Hegel menciona o fato de que em Atenas, na poca das revoltas, declarou-se a sentena de morte contra a apatia poltica; e acrescenta que a apatia filosfica, o ato de no tomar partido, constitui a sentena de morte para a razo especulativa. No estdio atual da nossa investigao, o que se pode inferir, em primeiro lugar, no que tange responsabilidade, que todos esses modos de comportamento devem ser extraordinariamente diferenciados, conforme a individualidade, a situao social, etc. Pode variar profundamente no s a compreenso real dos indivduos, mas tambm o que aqui muito importante a possibilidade objetiva de conhecer aquela universalidade que, em ltima instncia, embasa a inteno expressa na ao - Tomemos o exemplo de Dom Quixote: a inevitvel comicidade das suas aes, derivadas da inteno mais pura, remete a uma tal ignorncia objetiva da universalidade que impossvel descur-la completamente da anlise da responsabilidade. - Vemos que a histria cria para tica um rosto de Jano, uma bifrontalidade formada por dois componentes, o de continuidade e o de mudana estrutural qualitativa. Tomar em conta exclusivamente este segundo componente ou seja, com a continuidade da herana tica, dos valores ticos pode emergir aquele absoluto tico que, por um lado, possui como trao essencial uma contraditoriedade dialtica (logo, em oposio a Kant: o conflito dos deveres, o conflito no interior da responsabilidade como um dos pontos centrais da tica); e que, por outro lado, absoluto que sempre contm em si a relatividade histrico-social como momento superado e a superar. Apenas deste modo nos parece possvel um tratamento satisfatrio de problemas tais como, por exemplo, o conflito Antgona-Creonte. E mesmo em um plano mais geral como o da correlao e do conflito na transformao histrica do burgus e do cidado encontramos a mesma conexo, que s pode ser esclarecida mediante a referncia dialtica recproca de continuidade e de transformao qualitativa e estrutural e sua recproca superao. - O marxismo apenas confere a esta tendncia um novo acento. Indicamos, em nossas consideraes precedentes, que, qualquer que seja o ponto de
partida ideolgico e metodolgico da tica, as suas snteses devem
desembocar necessariamente no desenvolvimento histrico social da humanidade. Portanto, entre ato tico, convico tica e responsabilidade, de um lado, e destino social, de outro, h uma conexo ineliminvel, por mais complexa e mediata que seja. O elemento comum a toda tica prmarxista que, nesta conexo, as tendncias ticas que privilegiam o indivduo dispem da primazia em face das que privilegiam o social. - Expressa-se aqui uma grande ideia: o homem, enquanto criador responsvel do seu prprio destino, determina assim o destino da humanidade, daquele tipo de homem que se torna predominante. - Tais teorias refletem a coisificao das relaes humanas sob o capitalismo e operam para enrijece-las ainda mais no plano conceitual: elas contrapem o indivduo (o homem) a um ambiente coisificado subordinado a uma legalidade prpria, alheia ao homem, inumana. As leis da economia e da sociedade so tambm para o marxismo leis objetivas, isto , leis que operam independentemente da conscincia cognoscente. Mas o objeto e o substrato da economia no constituem uma objetividade alheia ao homem: constituem nica e exclusivamente o sistema (e a transformao) das relaes entre os homens, cujas leis (tomadas singularmente) no foram criadas por eles, mas que s podem ser movimentadas pelas aes, pelas interaes que estabelecem e pela sua interveno individual e coletiva sobre a natureza. No marxismo surge ento elaborada, pela primeira vez de modo coerente, a ideia segundo a qual a economia, sociedade e histria no so mais que o desenvolvimento do sistema de relaes humanas e que as leis objetivas especficas que nelas operam certamente que de modo complexo e atravs de mediaes so snteses de aes humanas. Aquilo que em Hegel aparecia ainda sob formas mitolgicas alcana aqui uma objetividade cientfica. - Se, h pouco, qualificamos como uma grande ideia a considerao de que o homem o criador de seu prprio destino, o marxismo aparece ento como a concretizao e a culminao do desenvolvimento precedente da tica. De fato, a tese segundo o qual o homem cria a si mesmo conduzida para alm das concepes idealistas de Hegel somente pelo materialismo dialtico: o trabalho, mediante o qual o homem se torna homem, faz de si mesmo um homem, s pode adquirir um significado universal se considerado literalmente como trabalho fsico (que , ao mesmo tempo, tambm espiritual, demiurgo da espiritualidade), ou seja, se da ontologia do homem desaparece qualquer transcendncia sobre-humana. - Porm, esta negao se transforma aqui numa afirmao concreta: recusa de qualquer alm mundo no faz residir o conhecimento ou a conscincia numa individualidade isolada, como no velho materialismo, mas, ao contrrio, estabelece uma ntima relao por certo que contraditria e extremamente mediada entre o homem enquanto personalidade e enquanto ser genrico. -Segundo a concepo de Marx, o social no seno uma determinao precisa do prprio homem, da sua relao com os outros homens. Portanto, capitalista global e operrio coletivo so somente snteses de processo
sociais; na realidade, trata-se da ao e da inao dos homens que, na
grandeza e na misria, fazem sua prpria histria, mas no a fazem como querem; no a fazem sob circunstncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. Ainda que as leis da economia e as mediaes entre indivduo e ser gentico sejam muito complexas e variadas, a estrutura acima esboada de um mbito de jogo concreto no qual o homem toma decises concretas e a estrutura de uma antinomia concreta que o induz a escolha responsvel continuam existindo para a totalidade da vida humana. - A utopia como forma postula um estgio j concludo, cujos contedos e formas devem garantir a convivncia harmoniosa dos homens, convivncia que de um modo ou de outro chega sempre aos homens (enquanto indivduos e enquanto gneros) como um presente cado dos cus. O marxismo, ao contrrio, enfatiza que, tambm em relao ao futuro, so os prprios homens que fazem a sua histria; que eles mesmos e o sistema de relaes em que vivem com seus semelhantes so produtos de sua prpria atividade; e que todos os contedos e formas do futuro resultam e resultaro do concreto vir-a-ser da humanidade, independentemente do fato de que este processo ocorra com verdadeira ou falsa conscincia. Portanto, a verdadeira conscincia do socialismo fundado por Marx , antes de mais nada, a conscincia do caminho correto: do objetivo em seus princpios gerais, dos meios respectivos em sua especial e frequentemente mutvel particularidade e dos passos subsequentes em sua peculiaridade. O fato de que decorram, de tudo isso, gradaes especficas no que tange responsabilidade torna-se visvel, cremos, j a partir deste sumarssimo esboo. A teoria do conhecimento do marxismo, segundo a qual a prxis fornece o critrio para a teoria, tem profundas consequncias tambm para a tica (supera, por exemplo, o dualismo e razo pura e razo prtica). - Com efeito, se a polemica se impes a uma filosofia uma determinada estrutura na colocao dos problemas, um espectro limitado de questes, um esvaziamento da concepo de homem que no conduz a nada, mesmo aqui registra-se uma influncia, precisamente como ocorre em filiaes que tendem a subestima-la.