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‘Moris, Maria Madalens Mirta.Os Evangelhos esto povoa- os de figuras femininas que rodeiam Cristo eo inspira. © [vsianismo medieval longe de eduaira mulher a um papel Hcundiro, 0 contro, dewlhe um vrdadeir lugar a0 ado Wo homem LeHisroine: £ posvel der que a mulher, naIdade Média, esume-se, no diacurso da Igri aduas figuras anita a de Hva.a pecadora ea tentadora, ea de Maria, a mie de Cristo? JACQUES Le GOFF: A attude da Igrea em relagio&s mu- Teves na Idade Média ndo poderia ser resumidaa essa anite- Je, embora se devareconhecer que fosse uma aritude central Entretanto, eu gostaria de lembrar que o culto maria cial na regio ena sociedade medievas (com a re ferva de que é muito dificil, na dade Média, solar a rli- io do que quer que sei, pois ela ests por rods parte), na Netdade 96 comega no.Ocidente no século XI, diferente- nente do mundo bizantino. I € principalmentea partir do sfculo XII que imagem Me Maria se impoe. Ao pass que a imagem de Ev, de resto Tiramente isola, pois figura quase sempre como parte do ‘sal que forma com Ado, fi muito mais precoce. ea gostaria também de estabelecer pequenas diferengas quanto ida que fazemos de uma oposigio radical entre a figura de Eva ede Maria: depois ds dade Média fail fixamos ¢exageramos ess antinomia, em particular de Evaa pecadora ea tentadora. Ora, desde muito ceda foi utilizada como imagem simbdlca da Igrja: no enti, sr totalmente nepativa no esprit dos homens da Média, LeHisrome: A sepundat Jacques LE Gort: Voltaremos a isso! E a primeira cria- ra feminina de Deus ¢, por conseqinca ela propria, de um modo, uma insituigi divina: acredito que fi isso que jou os exegetas ase aproximarem da Ire. Retomemos agora essa idéia do segundo lugar, ficando © wimeiro, claro, reservado a0 homem. Em outros termos, ‘ono asradigio cris define o lugar da mulher no plano di- Wino? Eva € uma eriagdo deta voluntéria de Deus, mas jateceatardamente, & verdade: depois de todo o resto da ino. Houve mesmo inerpretagées, rigorosamente ortodoxas, Ao texto do Génesis, que fizeram de Eva uma espécie de are erndimento de Deus primeiro ele teria pensado em criar um omen, sendosstexuado, pelo menos reunindonele os dois sexo, um andrSgino, Depos teria pensado que esa no era uma boa solusio preferiucriar uma mulher, ao lado do hhomem Adio, Tado isto quer dizer que a ditngio dos sexos feria sido um pensamento segundo, no esptrito docriador, © no um pensamento inal De onde tetiam os exegeta irado esa idea? Em primei- ro lugar, precsamente, do fato de Eva ter sido crada depois to resto do mando, Depis, da constatapio de que, como 08 tnimais ela no recebeu seu nome do proprio Deus, mas de ‘Adio: Deus acriou sem Ihe da nome uma criago sem nome ‘uma cragGoimpereta,o que faz com que Eva x6 se rorne uma craturapefeitamente acaba no momento em que Ado the dew um nome Por fim, no momento de Ihe dara vida, Devs anuncia que ‘faz porque nto quer deixar Adio sozinho, de onde se pode inert no apenas um lugar secundério, ma¢ também uma LHisrome: De que manera Eva €simb6lica? ‘IncQUES Le GoFF: Na Idade Média a Igreja€ uma’ 40, falamos dela como se oss. E mit interessante 2 iso observar que, simbolizada por Eva, significando la participa com sso, de cera forma, do pecado original eristandade€ dirgida por uma instiuigio nto isenta do «do pecado, uma institughofalve,o que fica evidete ‘comportamento dos contemporineos daquele perfodo = {sso relaivira atirude aval do papa Joo Paulo, que ‘cham particularmente pereurbadora ou revolucionéria apenas resabelece uma tradisfoantiqhsima do crisian Para compreender 0 conteddo desta alegoria€ pr lembrar que © eristanismo medieval buscou na Biblia tantementereferéncias, explicagbes para as relidades de tempo. Entio,nisso € que te valachar uma espécie defi primitva, primeira, se quiser, da mulher. A sociedade medi val, que ndo tina © sentido da histria, com natura FepresentouaIgreja nessa perspectiva eterna a-histric, Eva €a primeira eriatura de Deus, ‘O Autor pr fer ie de Jo Paso (1920-209) ‘pei descups pls eres pasas dpe ere ts ‘Ss no fim 8 stulo HX, quando veda deve tr il sears como casa tural do} ‘xplcie de sueigio funcional da mulher em relago ao tua ver que sa razdo de ser, e assim se pode dizer, é na companhia dele. Litto: Alm dio, ra 6 na rg um pod ee ee ae roo Tacques Le Gor: verdade gue la fi ida a de uma coca de Ao, do qa a depend, portant ee ree eee to contetr com a defn Fo es de a onl tours inimers fess inkreron comet vod imag, sobre ese ono do Genes ine dee ce is twee 00 mex mel sentir, de Toms de Ain, no lo XP ma {See 0 vegas on ders Dos eon re» pri tira conde Adio oa pri dba em egeateet cred ete rates it een cision a doy eran al “eins pr do cin nA ee iene rasreees ealcentigatienrl ‘¢ Eva segundo a vontade de Deus. bi 7 “Cretan a uv en cep ci da mec ihn pti ag Sateqarekegeieteees toe Lteros:0 sehr edcomencid de ut ida ‘Santo Toms foi a mais aceita? Me econ Hcts Lt Gor: Ay oto. Eco anki qu ea cet pris panda neve il cia ee malt uedese ape ge ccl eee ere eae formalizada peo TV concede Latrio, em 1215, que fx dessa cerménia um ato pablico (dat a publicgto dos banhos). E thai que € primordial et ato 56 pode exist comacordo lenge total dos dois adultos nvolvidos. Por que um ato pablica? Porque, num perfodo em que combate vigorosamenteaconsanginiade, a Igreja que eviat Que se pos ignora, ou fngir ignorat, uma igagio de paren tesco enze os futurs esposos: quero lembrar qué teorics- thente, aconsanginidade sestendia nessa época até asim trragio,e era freqente que os individu ignorassem seus [ineewrais, sua genealogia, mesmo nos meios aristoerticos Mas © que me parece absolutamente notivel nesas dis- posigBes do conctio de Latrio€evidentementeofato de que ‘ asament sejaimposivel em oacordo do esposo« c+ toma, do homem e da mulher: a mulher nfo pode sr casada Conttaasua vontae, ela tem de dine sim? ‘Yoct me did: ab so si 08 principio, € muito bonito, smasna ealidade... De fat, houve poucos casamentos em qUe ‘ consentimento da mulher tenha sido decisvo; 0 casamento ontinuow sendo um elemento numa estratéia familial 8 Tinhageira no caso dos casamentos nobres, ou dinistca, nos ‘osamentos de principes. “Georges Duby mostrou aque ponto, no fim do sélo XI ‘eno inicio do século XI, o rei da Inglaterra fi wm grande asamenteito, intervinda em particular nos negécios de Gui- Terme, o Marechal, eu vassalo, homem de guerra € con selhero, ue ele ecompensou com um brihantecasamento.” TELM St “a gente du marae ee’, LH 0.6, Guilaume Marth mien cenit du mon Meret caval do mandala Mas mesmo not eis amponte, a parnela mai samen ox pas que inpem o camera oi bretudo a mulher. “-_ Sasi permit initio, pind cio ‘amen que tos indir eoeamento a 'sefundanenanavontade recipes do homem dal E ale para en dps entra prime seo de Adie Evy depois sobre ode Marie EHisrorne: Se hi uma revolugdo rerica na posigio larcia crss, €cvidentemente nese caso. Poderi senor lembrar qual aposilo do judaismo a respito do casame ‘¢ do paganismo romano? JACQUES LE GorF: No udatsmo, a mulher era quase gu totalmente subordinada ao marido, No paganismo romano «80 & um pouco mais complexe, e de uma certa mane Drefigurao cristianismo, pois, de um lado, a mulher ‘em status de uma menor, o que significa que no pode rir um certo nimero de aos juridics sem o consent ‘do marido, mas, de outro lado, os romanos desenvolvem concepsio igualitria dessa unio, que se tadue pela cé forma “Ubi Gaius tw Gaia", “onde su Gains tu és Gaia Em resumo, creo que houve uma verdad promosio. ‘mulher, que avangou, 20 menos doutinalmente, no crsian ‘queso foi setdo, para ském de todasas infos famil « socias que tendiam a mant-la numa certainferioridade Histoire: De todo modo, ese textos sempre citadog, ‘emanando de autoridaes eclesisticasincomtestidss, conde ‘nando o ato sexual ou tornando a mulher responsivel pela tentagio... Pedro, o Venerivel, o grande abade de Cluny, ‘comparando-aa um sico de excrementos. Jacques Le Gore: £ verdade,trata-se de uma certafor- sna de vulgarizagio, Exatamente, o que representa a mulher {e condenivel? Consideremos por exemplo, coneretamente, ‘acondenagioe o castigo que eligam a0 adulterio. O que se diz freqientemente & que nio ha igualdade entre ohomem € a mulher, que #6 a mlher deveria ser puniéa por esse crime, ‘Ora, num certo mero de casos muito especficos,efre- qentemente muito famosos,o homem fi severamente con: ‘enado pela grea: 08 ris de Franga Roberto, o Piedoso, ou Filipe Augusto, por exemplo. {Quanto a Roberto, ele ndo fi excomungado, 20 contré- rio do que diza lends, mas, sob a pressio da Igrej, tev, nos primeiros anos do século XI, de se separar de us segunda mu- lher, Berta de Blois, pos oclro o avia considerado bigamo ‘6 primeira mulher ainda vvia) eincestuoso(devido a uma consangiinidade de terceirograu). Quanto a Filipe Augusto, {que em 1193 repudiou sua segunda mulher, Ingeborg da Di namarca, ese casou com Inés de Merano fem alemio, Meran}, © papa Inocénco Ill eleto em 1198, langou um interdiso sobre o reno da Franga, frgando reia prometers sepa. rar de Inés evoltar& ido com Ingeborg ‘Vejam-se também as legislagdesurbanas, as do séeulo XIL na Ita, do século XIII para a Franga atual:nelas constam artigos sobre oscastgos para oadultério, que prevéem penas {Ho duras para o homem como para a mulher. Eraassima le- islagio de Toulouse de 1293, preconizando a castacio, e ‘mostrando-a nm desenho,aplicada a um maridoadsero.* Tmo eetiice prota eleraio de ofc dinar de GE eque Le Cal La Chlation de Pein mites ego ud Pi, 1964, dst 138 LEHisTOIE: Pode-se dizer que, se Eva aparece como dora e culpa, por isso expulsa do Paras, Maria 6, ev ‘temente, uma figura postva, uma figura central de mul no cristianismo. Mulher ou mie? Jacques LE GoFF: O fundamento do pensamento € pritca cist, na ldade Média, so as Escrnurs. a coment ‘mos rapidamente a cragSo de Eva no Géness. Hi, claro, ris figuras de mulheres no Antigo Testamento, perverss Dalia, vituosas como Raquel, herGicas como Este... re secundiras em relagéo aos homens. Depois hia revolugho do Novo Testamento. Nele, a ‘quer lugar sagrado, Hé evidentemente, no caso da ordenagio ‘de mulheres, uma dimensio simbdlica extraordinariamente Forte — es proximidade com os sacramentos, com a gift slo da palavea..Ndo por acaso que o papa atual”€intran- sigente quanto a esa exclusio. Para ele tatase de uma cidadela ase defendida.E mesmo no protestantismo o agar {Ga mulher nio €faciimente reconhecid. Trata-se de um ar- ‘alsmo de uma visio secundésia migicosupersticiosa Reefs foto Plo ps pits, origin act ee ioe de2004 se papa moves 2005, Masseuse, cm ‘toate, ot noe ngamgente nee evo .N- do) Ma LoncA oane mtoia LEHisto1Re: 0 senhor flava de Jesus como um hot sob influéncia feminina. A ponto de ter sido uma mulhet, Maria, que the pediu que cumprisse seu primeiro milagre. B cle atendeu ao pedo: mudou a 4gua em vinho nas bodas de Cans. INCQUES LE GFF: Esti af um epséidio de interpretagso Aiticit € desconcertante. © que se pode observar que a ‘eve lugar antes do inieio da pregagio pdblica de Jesus, eq ‘ela primeira vez Maria o incia a fazer algums coisa & como. se ela revelase Jesus a ele proprio. Da mesma forma, su filiagSo divina também Ihe foi revelada, ele ni sabia del desde o inicio: e quem melhor do que amie para conhecer dizer osegredo ds origens? Maria, na Idade Média, er, ero, profundamente venes ‘ada, apesar do monotefsmo ortodoxo, como uma especie ‘quarta componente divna, uma quarts pessoa da Trindade, Durante muito tempo hesiti em falar dessa intigio, ma, ‘me parece corresponder 3 reslidade das rengas. LHsrome: Rendeu-se a ela-um culto tio importa ‘quanto ao pai e 20 filho? JacQUES Le GOFF: Aly sim. Veja todos os debates em tore ‘no da Imaculada Conceigdo,o nascimento sem pecado Viegem, dogma vigorosamente combatido, tanto por S40 ‘Bemardo como por Santo Toms de Aquino, e que s6 fo of

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