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Fios e Cabos elétricos nus – Fabricação, Escalas


e Normas
Daniel H. Pastro, 9907998 - Eng. Elétrica -UFPR

A. Fabricação
Resumo-Este documento apresenta o método de fabricação,
escalas e algumas normas além de uma idéia geral a respeito Chamamos de fio ao produto metálico de qualquer seção
de fios e cabos elétricos nus. maciça, de comprimento muito maior do que a maior dimen-
são da seção transversal.
Palavras-chave—Cabos, fios e nus. A fabricação dos fios se dá inicialmente pelo processo de
fundição do metal. Enquanto fundidos, eles são quimicamen-
I. INTRODUÇÃO te refinados a fim de remover impurezas indesejáveis. O metal
Este documento apresenta informações sobre fios e cabos fundido é vazado no interior de um molde onde solidificará.
elétricos nus a respeito de sua fabricação,escalas, normas e O molde é um lingote, isto é, simplesmente um bloco de metal
algumas definições. solidificado que será mais tarde deformado por trabalho me-
cânico.
No processamento mecânico, chamado de laminação, a
II. CONSIDERAÇÕES GERAIS forma é permanentemente modificada, portanto, as tensões
aplicadas devem estar acima do limite de escoamento. Nor-
Os fios e cabos são condutores elétricos, ou seja, desi-
malmente o processamento mecânico é feito a altas tempera-
gnados como um corpo formado de material condutor e des-
turas já que nelas o material é tipicamente mais macio e mais
tinado primordialmente à condução de corrente elétrica.
dúctil. Após a laminação é feito a Trefilação que é um pro-
O cobre e o alumínio são os dois metais mais usados na
cesso à temperatura ambiente onde é produzido o fio. O prin-
fabricação dos condutores elétricos. Ao longo dos anos, o
cípio da Trefilação é o mesmo que o estiramento na bancada,
cobre tem sido o mais utilizado, sobretudo em condutores
mas como se tratam de grandes comprimentos, foi preciso
isolados, devido, principalmente, a suas propriedades elétri-
construir máquinas especiais nas quais o arame é puxado
cas e mecânicas.
através da fieira por rolos motrizers. Para fios de cobre, onde
O cobre para condutores é o cobre eletrolítico, com pureza
a seção é bastante diminuída, passa-se em maior numero de
de até 99,99%. Obtido em lingotes, é transformado em ver-
fieiras. Estas em metal duro ou diamante, são posicionadas
galhões, que são produtos maciços, semi-acabados, de forma
em série. O fio passa de uma para a outra em ziguezague,
geralmente cilíndrica e de comprimento muito maior do que a
conduzido por cilindros de inversão que asseguram ao mes-
maior dimensão da seção transversal, e fabricados por lami-
mo tempo a tração.
nação ou extrusão a quente. Os dois tratamentos principais
O conjunto é colocado numa cuba contendo um líquido
do cobre na fabricação de condutores são o estiramento a
que serve, ao mesmo tempo, de lubrificador e de refrigerador.
frio, que dá o cobre duro, e o recozimento, que dá o cobre
mole (ou recozido); intermediário entre esses dois tipos, tem-
se o cobre meio-duro. O cobre recozido é o mais utilizado na
fabricação dos condutores elétricos.
O alumínio para condutores, com uma pureza de cerca de
99,5%, é obtido normalmente por laminação contínua, so-
frendo processamentos análogos aos do cobre; via de regra,
é utilizado alumínio meio-duro. Seu uso baseia-se principal-
mente na relação condutividade/peso, a mais elevada entre
todos os materiais condutores, e no seu preço, bem mais
estável que o do cobre e inferior ao desse metal. O aluminio
praticamente domina o campo dos condutores para linhas de
transmissão; são também fabricados condutores isolados, Figura 1. Trefilação
embora seu uso apresente algumas restrições.
B. Definições
Os fios podem ser usados como condutores elétricos nus
ou isolados, ou podem ser produtos semi-acabados destina-
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dos à fabricação de cabos. um metal diferente. Esse tipo de condutor é, em geral, qualifi-
Os fios cuja seção tranversal não seja circular, são chama- cado pelo metal utilizado no revestimento, por exemplo, “co-
dos de fios perfilados e designados pela forma da seção breado”, “zincado”, “estanhado” etc. A expressão “camada
transversal (quadrados, retangulares etc.). delgada” refere-se a uma espessura de camada usualmente
Ao conjunto, isolado ou não, de fios metálicos encordoa- obtida por disposição eletrolítica ou por imersão em metal
dos, isto é, aqueles dispostos helicoidalmente, não isolados líquido.
entre si, chamamos cabo. Os cabos, logicamente são mais O condutor nu é o fio ou cabo sem revestimento, isolação
flexíveis que os fios. A seção de um fio é a área da seção ou camada protetora de qualquer espécie.
transversal do fio, enquanto a seção de um cabo é a soma Os cabos podem ser unipolares ou multipolares. Um cabo
das seções transversais dos fios componentes. Abaixo a unipolar é defenido como um condutor maciço ou encordoa-
figura mostra a seção de um fio. do, dotado de isolação elétrica e de proteção mecânica. Um
cabo bipolar, tripolar, ou, de modo geral, multipolar, é um
conjunto de dois, três ou mais condutores justapostos, ma-
ciços ou encordoados, cada um deles dotado de isolação
própria (parede isolante), sendo o conjunto dotado de prote-
ção mecânica comum.
Chamamos de perna ao cabo não isolado formado por fios,
destinado a ser encordoado para a formação de cochas ou de
um cabo de encordoamento composto. Cocha, por sua vez, é
um cabo não isolado, formado por pernas, destinado a ser
encordoado para a formaçào de uma cabo de encordoamento
bicomposto. Assim, o encordoamento composto é formado
Figura 2. Seção de fios
por pernas e o encordoamento bicomposto por cochas. Além
desses dois tipos, temos o encordoamento simples que é
TABELA I formado por fios.
SEÇÕES DE FIOS O sentido de encordoamento pode ser para a direita (horá-
rio) ou para a esquerda (anti-horário), segundo o qual os fios
ou grupos de fios, ou outros componentes de um cabo, ao
passarem por sua parte superior, se afastam do observador
que olha na direção do eixo do cabo.O passo de encordoa-
mento é o comprimento da projeção axial de uma volta com-
pleta dos fios ou grupos de fios, ou outros componentes, de
uma determinada coroa.
Coroa é o conjunto de componentes ou de partes de com-
ponentes de um cabo, dispostos helicoidalmente e eqüidis-
tantes de um centro de referência.
Ao conjunto de fios ou cochas equidistantes do fio ou
cocha central de um cabo chamamos de corda. Alma é o fio
ou conjunto de fios que formam o núcleo central de um cabo,
de material diferente do material das cordas externas e desti-
nado a aumentar a resistência mecânica do cabo. Nas linhas
de transmissão, são muito comuns os cabos formados por
cordas de fios de alumínio em torno de uma alma de aço.

Chamamos de condutor revestido ao condutor não encor-


doado (fio ou barra) envolvido por uma camada delgada de
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em polegadas, relacionadas com os passos de estiramento


dos fios; trata-se de uma escala retrocessiva, isto é, os núme-
ros diminuem com o crescimento dos diâmetros. Temos:

1º termo: 0,0050” – nº 36 da escala


número de termos: 40
razão: 1,1229322
40º termo: 0,4600”- nº 0000 (ou 4/0) da escala

Acima de 4/0 são indicadas as seções em “circular mil”


(cmil) ou em 1000 circular mil” (kcmil); um circular mil é a área
de um círculo cujo diâmetro é um milionésimo de polegada (1
mil).
O IEC recomenda que a es seções dos fios e cabos sejam
expressas em milímetros quadrados.
A Tabela I mostra um comparativo entre AWG e a série
métrica IEC além da resistência e capacidade.

D. Comparação entre Cobre e o Alumínio


O cobre e o alumínio são os materiais condutores mais uti-
Figura 3. a) cabos com encordoamento simples; b) cabos com encor- lizados nos condutores elétricos. A seguir alguns aspectos
doamento composto
comparativos entre esses dois metais.
a) O alumínio tem uma condutividade de cerca de 60%
Os cabos de potência são cabos uni ou multipolares, utili-
da do cobre. Assim, para uma dada capacidade de
zados principalmente para o transporte de energia elétrica em
condução, é necessário usar um condutor de alumí-
instalações de geração, transmissão, distribuição e/ou utili-
nio com seção da ordem de 1,6 vezes maior do que a
zação.
necessária, caso fosse usado um condutor de cobre.
Os cabos de controle são cabos uni ou multipolares, utili-
b) A densidade do alumínio é de 2,7 g/cm3 , contra 8,89
zados em circuitos de controle de sistemas e equipamentos
g/cm3 do cobre. Por ser mais leve, o alumínio é mais
elétricos.
fácil de ser transportado e suspenso.
Dado um condutor de comprimento L, seção transversal S,
c) A relação entre as densidades e as condutividades
sua resistência R será,
mostra que 1kg de alumínio realiza o mesmo trabalho
L
R =ρ ∗ ( Ω ) (1) elétrico que cerca de 2kg de cobre. Considerando a
S diferença de preço entre ambos os metais, tem-se que
onde ρ é a resistividade do condutor. o emprego de condutores de alumínio conduz a uma
A variação da resistividade com a temperatura é dada por economia apreciável, muito embora a isolação absor-
va dessa vantagem.
ρ2 = ρ1 [1 + α1 (t2 – t1) ] (2) d) Quando exposta ao ar, a superfície do alumínio fica
recoberta por uma camada invisível de óxido, de ca-
onde ρ2 é a resistividade à temperatura t2; ρ1, a resistivi- racterísticas altamente isolantes. Nas conexões com
dade à temperatura t1 e α1 é o coeficiente de temperatura alumínio, um bom contato só será conseguido com a
relativo a t1. ruptura dessa camada. Com efeito, a principal finali-
A capacidade de condução de um condutor, ou de um dade dos conectores utilizados, de pressão e apara-
conjunto de condutores, é a corrente máxima que pode ser fusados, é a de romper o filme de óxido. Muitas vezes
conduzida em regime contínuo, sem exceder a uma tempera- são usados, durante a preparação de uma conexão,
tura máxima especificada. Esta capacidade depende basica- compostos que inibem a formação de uma nova ca-
mente do material condutor, seção do condutor, tipo de is o- mada de óxido, uma vez removida a camada inicial.
lação, temperatura ambiente e maneira de instalar. e) Por ser mais mole que o cobre, o alumínio escoa com
pequenas pressões. Por esta razão, os conectores
usados em condutores de alumínio devem ter super-
C. Seções de Fios e Cabos
fícies de contato com área suficiente para distribuir
O padrão norte-americno consiste na utilização da escala
as tensões e evitar danos à parte do condutor a ser
AWG (“American Wire Gage”) de diâmetros e, a partir de
comprimida.
dterminado valor, na indicação de seções normalizadas em
f) o alumínio e o cobre estão separados eletroquimica-
unidades do sistema inglês.
mente por 2 volts. Essa diferença de potencial é res-
A escala AWG é uma progressão geométrica de diâmetros
ponsável pela predisposição de uma junção cobre-
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alumínio à corrosão galvânica. Cuidados especiais, N o número de fios da coroa em questão.


como a utilização de conectores especiais, devem ser
tomados, para evitar que tal corrosão ocorra.

E. Normas
Neste ítem citarei algumas normas em relação a fios e ca-
bos elétricos.
A norma NBR 6814, que diz respeito ao ensaio de resistên-
Figura 5. Passo de um condutor encordoado
cia elétrica, estabelece que a resistência deve ser medida por
meio de um potênciometro caso o valor seja inferior a 1 ohm
O passo também pode ser medido como o comprimento
ou por meio de uma ponte de wheatstone caso tenha valor
medido entre as marcas conforme Figura 6.
maior que 1 ohm. Cito aqui mais alguns pontos desta norma:
- estabelece que a temperatura ambiente tem
que ser levada em conta
- quando cabos de potencial são utilizados, a
distância entre cada contato de potencial e
seu correspondente contato de corrente
deve ser igaul ou superior a 1,5 vezes o pe-
rímetro da seção transversal do condutor.
- ao medir a resistência do condutor, cuida- Figura 6. Passo de torcimento, encordoamento ou reunião de condu-
dos devem ser observados para manter a tores encordoados
corrente de medição baixa, e de curta dura-
ção, para assegurar que a resistência a medir A área da seção transversal do condutor é calculada pela
não seja modificada. fórmula (4) abaixo:
- a superfície do condutor deve estar limpa S = 0,7854 x d 2 x n (4)
para assegurar um bom contato elétrico dos onde,
contatos de potencial e corrente com o con- S = área da seção transversal do condutor em mm2
dutor. d = diâmetro do fio componente em mm
- a resistência do condutor medida a uma de- n = número de fios componentes
terminada temperatura deve ser corrigida à
temperatura especificada, utilizando a se- Ensaios de resistência mecânica também são realizados
guinte fórmula: segundo , por exemplo, a norma NBR 7271 para cabos de
alumínio.
Rto = Rt / [ 1+ αto (t - t o ) ] (3)
III. AGRADECIMENTOS
onde: Agradeço a contribuição do professor Fernado Piazza re-
Rto = resistência corrigida à temperatura t o cebida durante a elaboração deste documento .
Rt = resistencia medida à temperatura t
αto = coeficiente de temperatura da resistencia à IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
temperatura t o
Livros:
[1] Van Vlack, “Princípios de Ciência e Tecnologia dos Materiais”.
Ed. Campos
[2] A. M. Ademaro, Cotrim B., “Instalações Elétricas”. McGraw
Já a norma NBR 6242 prescreve os métodos para verifica-
ção dimensional de condutores. A norma estabelece a medi- Normas:
ção de diâmetro de fios, do passo e da massa. [3] NBR 6814, NBR 7271, NBR 6242
Considera-se como diâmetro do fio em um determinado
ponto, a média aritmética das medidas efetuadas segundo Web Sites:
[4] Agência Nacional de Energia Elétrica, http://www.aneel.gov.br
duas direções, perpendiculares entre si, sendo que a primeira
[5] http://www.pirelli.com.br
medida deve ser considerada na direção onde o diâmetro do
fio seja mínimo. Na medição deve ser empregado micrômetro
milesimal para diâmetros inferiores a 1mm, e centesimal para
diâmetros superiores ou iguais a 1mm.
Considera-se como uma medição de passo de um condutor
encordoado, o comprimento medido entre iguais posições
relativas de N+1 segmentos consecutivos da Figura 5, sendo

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