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grandes luvas que lhe chegam aos cotovelos. Chateaubriand narra as desaventuras
loucas de Carlos VI , numa Frana dividida entre a Borgonha e a Inglaterra , com os
cavaleiros franceses a quererem ''descalar as suas luvas '' para assim insultarem o
rei. Corneille e Lafontaine vm as suas heronas mais doces e maleveis do que
uma luva. Balzac ,como autor maldito que foi, dedica mais ateno maneira como
elas perdem as luvas, ou seja a virgindade e a honra, tornando-se assim heronas
em plena descoberta da sua sexualidade. Honor de Balzac distingue a classe
masculina segundo a sua maneira de se vestir : a fineza dos tecidos, o odor dos
perfumes e a pele das luvas identificavam um homem da corte. Os dndis
balzaquianos s usavam as luvas e as gravatas uma vez. Edmond Rostand ,em ''
Jean-Christophe '', faz a analogia do porte das luvas com uma vida fcil e ftil,
afirmando que a verdadeira vida no refinada pois ela no se vive com luvas.
Flaubert critica a sociedade dos novos ricos, rindo-se do facto de que muitas vezes
as luvas escondem mos grosseiras e robustas. Alexandre Dumas diz de ''Pauline ''
que esta tem de fazer e cumprir todos os dias, uma data de gestos necessrios
sua condio social, tais como a escolha da cr das luvas , correndo o risco de ser
considerada ridcula em sociedade se o no fizer convenientemente. Para Victor
Hugo , ''o verdadeiro amor desola-se e encanta-se por uma luva perdida ou por um
lencinho encontrado''. Para Jules Renard a '' poesia a prosa com luvas '' . Para
Mallarm " ter as luvas na mo '' conduzir-se molemente e sem energia . A
literatura inglesa do fim do sculo XIX igualmente muito prolfica na ilustrao do
uso das luvas. As heronas de Jane Austen ou das irms Bront manipulam as suas
luvas em variadas situaes como se manipulassem os seus prprios sentimentos e
os mordomos e motoristas ingleses nunca se encontram sem elas, no podendo
correr o risco de deixarem marcas nas cafeteiras de prata ou nas portas dos '' Rolls
Royce''. No " Discurso amoroso " Roland Barthes diz que as palavras de amor so
como umas luvas muito acariciantes em torno da imagem do ser amado , mas que
logo que esta imagem se altera , a luva rompe. Hoje em dia as regras de etiqueta
pedem ainda aos homens de descalar as luvas para apertar a mo de uma
senhora, que deve por sua vez permanecer enluvada. Todavia o provrbio diz que
"a amizade dispensa as luvas " , o que quer dizer que a cortesia de as descalar
desnecessria pois a amizade permite que se conservem caladas.