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Com trajes similares, mas em variadas tonalidades, coloriam o cenrio urbano. Como
na frica, traziam os filhos atados s costas com pano da Costa, ou soltos entre
tabuleiros, em meio a frutas e aves, a labutar sozinhas pela sobrevivncia, como
menciona a mestra em Histria, pela UFBA, Ceclia Moreira Soares, citando relato de
James Wetherell, em Brasil: Apontamentos sobre a Bahia (1842-1857).
Logo aps a abolio e depois do advento da Repblica, a partir de 1912, as mulheres
de saio (pejorativo difundido na imprensa para referir-se s trabalhadoras de rua)
tm a atividade proibida, so perseguidas e at presas na Salvador do governo de Jos
Joaquim Seabra. No sem, antes, rodar a baiana contra os fiscais da municipalidade.
A remodelao urbana da capital, promovida por Seabra, destri casares coloniais e
igrejas barrocas, para traar avenidas, como a 7 de Setembro, sob crticas que
permanecem. A ao envolve, ainda, tentativa de desafricanizao de Salvador,
estimulada, inclusive, por jornais de oposio ao seabrismo, como A Tarde, poca.
Se, por um lado, possvel identificar o recurso a conceitos de higienizao,
modernizao e civilidade a incidir contra tabuleiros, gamelas e tudo que remetesse ao
passado escravagista; por outro, visava presena da mulher desvinculada do ideal de
famlia, ento em voga, cujo lugar estava restrito ao domnio das prendas do lar. Isto ,
contrria autonomia proporcionada pelo trabalho na rua e em deliberada busca de
deter processos de ascenso popular.
A cidade, contudo, dispunha de caractersticas sociais e econmicas que extrapolavam
as noes civilizatrias empreendidas por J.J.Seabra, sob alegado propsito
modernizante. Hoje, seja na figura das baianas de acaraj ou cultuadas em Itapu como
um grupo cultural, as ganhadeiras perpetuam o eco do seu jeito de mercar pelas ruas de
Salvador, em desobedincia s posturas municipais dos seabristas e seus novos
adeptos.