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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CLAUDIA REGINA LAWISCH

O JORNALISMO SISTEMA NA EDIÇÃO ONLINE DA REVISTA BRAVO!

Santa Maria
2009
CLAUDIA REGINA LAWISCH

O JORNALISMO SISTEMA NA EDIÇÃO ONLINE DA REVISTA BRAVO!

Trabalho de Conclusão de Curso


Para a obtenção do grau de Bacharel em Jornalismo
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Sociais e Humanas
Curso de Comunicação Social, habilitação Jornalismo

Orientadora: Luciana Mielniczuk

Santa Maria
2009
Claudia Regina Lawisch

O JORNALISMO SISTEMA NA EDIÇÃO ONLINE DA REVISTA BRAVO!

Trabalho de Conclusão de Curso como requisito para obtenção de grau de bacharel


em Jornalismo
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Sociais e Humanas
Curso de Comunicação Social habilitação Jornalismo

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o


Trabalho de Conclusão de Curso

_____________________________________
Profª. Drª Luciana Mielniczuk
(Presidente/Orientador)

_____________________________________
Profª. Drª Márcia Franz Amaral
(UFSM)

_____________________________________
Leonardo Foletto
Mestre em Jornalismo - UFSC

Santa Maria, 18 de dezembro de 2009


AGRADECIMENTOS

Se cheguei aqui hoje, foi porque minha família deu o


primeiro impulso. Aos meus pais e aos meus dois irmãos,
agradeço pela força, pelo carinho, pela confiança e pelo amor
incondicional.

Na FACOS, me senti acolhida. Os corredores cheios de


gente e as portas laranjas vão deixar saudade. Conheci mais
que colegas, fiz amigos. A cada um deles, agradeço pelos
abraços, sorrisos, conversas sérias e bobagens. Contribuíram
demais.

Para além da amizade comum, esteve o companheirismo


daquelas que dividiram comigo incertezas e ansiedades.
Ouviram, aconselharam e me trouxeram as gargalhadas mais
verdadeiras e a segurança mais aconchegante. Mai, Camila,
Bruna, Betina, Naná, Simone, Natália, Vanessa, Luísa, Nanda.
Cada uma em sua particularidade fez com que esses anos
fossem plenos e mais felizes. Os mais felizes.

Agradeço à minha orientadora Luciana pela compreensão,


pelos ensinamentos e pelo apoio. E a todos aqueles que,
mesmo longe, sei que torceram por mim.

Agradeço aos amores idos, aos mantidos e aos vindos.


Amores de todas as formas. E, para finalizar, agradeço à UFSM
e à Santa Maria, por terem formado o cenário mais intenso,
belo e bem composto para toda essa história.
"Subi correndo no primeiro bonde, sem esperar que parasse,
sem saber para onde ia. Meu caminho, pensei confuso, meu
caminho não cabe nos trilhos de um bonde".
Caio F. Abreu
RESUMO

Este trabalho tem como tema o jornalismo sistema aplicado em meio digital,
analisado sob o viés do jornalismo cultural. O objetivo é identificar se a edição online
da revista Bravo! apresenta elementos do jornalismo sistema. Para isso, é feito um
estudo de uma matéria da revista, baseado nas características do jornalismo digital e
do jornalismo sistema. Para chegar à resposta, em um primeiro momento se faz a
descrição do objeto e identifica-se sua posição no atual contexto do jornalismo
cultural brasileiro. Em seguida, se apresenta as seis características do jornalismo
digital segundo Mielniczuk (2003). A partir do conceito de jornalismo sistema de
Fontcuberta (2006) e da pontuação se suas características, é feita uma relação dele
com o digital, mostrando a maneira como podem ser desenvolvidos de forma
conjunta com o intuito de apresentar um conteúdo contextualizado. Verifica-se, após
o estudo da matéria, que as duas esferas são complementares, e que a revista
Bravo! online apresenta elementos do jornalismo sistema.

Palavras-chave: jornalismo sistema; jornalismo digital; revista Bravo! online.


ABSTRACT

This paper talks about the system journalism used in digital media, analyzed by a
cultural journalism point of view. The purpose is to identify if the online edition of
Bravo! magazine presents elements of system journalism. For this the research
studied the magazine text, based on digital journalism and system journalism
features. First it makes a description of the object and identifies its position in the
current context of Brazilian cultural journalism. Then, it presents the six features of
digital journalism based on Mielniczuk (2003). From the concept of system journalism
of Fontcuberta (2006) and the presents of your features, the research makes a link
with digital, showing how system journalism and digital journalism can be developed
jointly with the intention of presenting a content contextualized. After this study, check
that these two spheres are complementary, and that the Bravo! online magazine
presents elements of system journalism.

Key-words: system journalism, digital journalism, Bravo! online magazine.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................... 9

1 A REVISTA BRAVO! NO CONTEXTO DO JORNALISMO CULTURAL


BRASILEIRO............................................................................................................. 12
1.1 A REVISTA.......................................................................................................... 12
1.2 MUDANÇAS NA REVISTA................................................................................. 17
1.3 BRAVO! HOJE E ASPECTOS DA VERSÃO ONLINE........................................ 29
1.4 O ATUAL CENÁRIO DO JORNALISMO CULTURAL BRASILEIRO................ 24

2 O AMBIENTE DIGIAL ALIADO AO JORNALISMO SISTEMA............................. 28


2.1 JORNALISMO CULTURAL NA INTERNET....................................................... 28
2.2 CARACTERÍSTICAS DO JORNALISMO DIGITAL............................................ 29
2.3 CARACTERÍSTICAS DO JORNALISMO SISTEMA........................................... 34

3 PERCURSO METODOLÓGICO E ANÁLISE......................................................... 40


3.1 METODOLOGIA................................................................................................... 40
3.1.1 Corpus de estudo............................................................................................. 41
3.1.2 Material de análise............................................................................................44
3.2 MATRIZES DE ESTUDO.......................................................................................48
3.3 ZONAS DE APROXIMAÇÃO................................................................................49

CONCLUSÃO..............................................................................................................59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................61

ANEXOS......................................................................................................................64
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Capa da revista República – junho de 1997................................................13


Figura 2: Capa da primeira edição da revista Bravo! – nº 1, outubro de 1997...........15
Figura 3: Carta do editor publicada na primeira edição da revista, em outubro de
1997............................................................................................................................16
Figura 4: Capa da edição nº 78, de março de 2004...................................................18
Figura 5: Capa de uma edição atual – número 144, de agosto de 2009....................21
Figura 6: Reprodução do atual site da revista............................................................23
Figura 7: Demonstrativo de como chegar à seção “Assunto do dia”..........................42
Figura 8: Sinalização da seção “Assunto do dia” e da matéria de análise.................43
Figura 9: Figura 9: Sinalização da tela 4 da seção.....................................................44
Figura 10: Imagem da matéria de análise..................................................................45
Figura 11: Destaque das referências do texto............................................................47
Figura 12: Exemplo de memória em matéria de outubro de 2008..............................51
Figura 13: Recursos da animação em Flash..............................................................53
Figura 14: Imagem do site Diginois.......................................................................53-54
Figura 15: Trajetória de Mallu em julho de 2008........................................................55
9

INTRODUÇÃO

O jornalismo cultural brasileiro passa por um momento em que o puro


entretenimento muitas vezes vem à frente da informação de qualidade. Daniel Piza
diz em seu livro Jornalismo Cultural, em 2004, que a forma de abordagem da cultura
de anos atrás precisa ser retomada. Anos em que se fazia jornalismo crítico, e não
um diário de celebridades.
Atualmente, a evolução dos meios de comunicação, sobretudo a internet,
trouxe consigo a oportunidade de grande armazenamento de dados. Com isso é
possível dispor de grande quantidade de informações concisas em um intervalo
mínimo de tempo, o que acaba sendo a opção de muitos veículos. No entanto, esta
disponibilidade de espaço também pode ser utilizada para se ter maior
aprofundamento no desenvolvimento das notícias.
Em 2006, a pesquisadora da Universidade Católica do Chile, Mar de
Fontcuberta discorre em seu livro Periódicos: sistemas complejos, narradores en
interacción, sobre um processo que chama de “jornalismo sistema”. O conceito trata
justamente da possibilidade de melhor exploração das informações, para que elas
sejam compreendidas pelos leitores de maneira completa. Defende que devido a
complexidade da atual sociedade, as informações devem ser mais bem explicadas,
expostas de modo mais compreensível e relacionadas com o contexto.
Este processo encontra no ambiente digital um espaço produtivo para se
desenvolver, já que a internet nos oferece a opção de aprofundamento das
informações por sua capacidade de armazenamento e a possibilidade de conexão
com complementos de conteúdo através de sua escrita hipertextual e multimídia.
Pensar o jornalismo cultural sob o viés do jornalismo sistema se deu pela busca de
um jornalismo de qualidade, então optamos por estudar a edição online da revista
Bravo!, já que ela possivelmente une os dois pontos na prática do jornalismo
cultural.
A opção pelo objeto se deu devido ao interesse pessoal pelo assunto, aliado à
prática da revista de trazer grandes reportagens já na edição impressa. A edição
online continuou com tal prática, trazendo como complemento para as matérias os
recursos multimídia. Lendo sobre o jornalismo sistema, foi possível perceber que
havia a possibilidade da revista, sobretudo em seu modo online, se encaixar nas
suas classificações.
10

A revista é uma publicação mensal da Editora Abril sobre jornalismo cultural. É


dividida em seções de artes plásticas, teatro e dança, cinema, literatura, música.
Destinada para o público jovem, com idade entre 20 e 29 anos e de classe B,
predominantemente, foi criada em 1997, e traz artigos, reportagens e críticas.
Todo o conteúdo das edições impressas é disponibilizado na web, no site
http://bravonline.abril.com.br/. Além disso, a versão online recebe atualizações
variadas ao longo do mês. E serão estas atualizações o enfoque da nossa pesquisa.
A publicação conta com elementos para dispor do tipo de informação que
caracteriza o jornalismo sistema, já que se define como uma revista que apresenta
análises críticas das manifestações artísticas e culturais no Brasil e no mundo. Além
disso, integra a área da cultura, um ramo que possui informação atual para ser
disponibilizada a cada momento, mas que também abarca assuntos plausíveis de
mais amplo desenvolvimento.
Partindo das possibilidades proporcionadas pela web, que permitem a
abordagem mais completa do assunto tratado pela revista, chegamos novamente ao
conceito de jornalismo sistema, segundo o qual os fatos merecem um tratamento
aprofundado pelo jornalismo, além de sua simples justaposição. E mostra que
podem ser aplicados com sucesso aliado ao jornalismo digital.
Nosso objetivo é, então, verificar se a Bravo! online faz aplicação dos
elementos que caracterizam o jornalismo sistema. Para tanto, no primeiro capítulo
fazemos uma descrição do objeto, mostrando um pouco da história da revista
Bravo!, há quanto tempo atua no mercado editorial brasileiro, apontando as
mudanças que sofreu ao longo dos anos. Além disso, contextualizamos a publicação
com o atual cenário do jornalismo cultural brasileiro.
Em um segundo momento, trazemos as principais características do
jornalismo digital e seu possível alinhamento com o jornalismo cultural, bem como as
principais transformações que ocasionou à narrativa jornalística a partir do momento
que passou a ser parte constante da sociedade. O jornalismo sistema vem em
seguida, quando expomos o seu conceito, as suas características, o seu objetivo
perante a sociedade e as possibilidades de aplicação no meio digital e cultural.
No terceiro capítulo realizamos a análise, juntamente com o percurso
metodológico. As matrizes de análise empregadas são definidas de acordo com as
características do jornalismo digital aliadas às do jornalismo sistema. O corpus é
composto de uma matéria publicada no dia 16 de fevereiro de 2009, na seção
11

‘Assunto do dia’ da edição online da revista e tem como título “Os artistas ainda
precisam de gravadoras para fazer sucesso?”, que trata das mudanças pelas quais
os artistas, principalmente do meio musical, estão passando com os avanços da
internet.
Ao final da análise é possível dizer se a revista, por meio da aproximação das
matrizes definidas na metodologia, apresenta aspectos do que configuramos como o
jornalismo sistema.
12

1 A REVISTA BRAVO! NO CONTEXTO DO JORNALISMO CULTURAL


BRASILEIRO

O jornalismo cultural brasileiro traz hoje várias opções de conteúdo. Aborda


desde questões relacionadas ao entretenimento àquelas que tratam de assuntos mais
específicos, como um tipo determinado de música, por exemplo. É do público a
função de optar pelo assunto que mais lhe interessa. Há publicações que têm como
base da sua produção de conteúdo a agenda cultural, outras que tratam da vida
pessoal dos artistas, e outras ainda que tratam de apenas uma determinado
segmento de cultura, a exemplo das revistas sobre cinema.
Para o presente estudo, o objeto escolhido foi a revista Bravo! em sua edição
online. A publicação é da Editora Abril e existe desde 1997. A escolha ocorreu devido
ao caráter bastante textual da revista e devido aos recursos multimídia apresentados
em sua versão digital. Estas características se aproximam do conceito de jornalismo
sistema que abordaremos adiante. Então, para que se tenha o conhecimento do
objeto, é que fazemos, neste primeiro momento, a descrição da publicação.

1.1 A REVISTA

A revista Bravo! é uma publicação mensal que traz como conteúdo as


discussões acerca de diversas produções artísticas nacionais e internacionais.
Começou a circular em outubro de 1997 por iniciativa de Luiz Felipe D’Ávila e alguns
parceiros, através de sua própria editora, a Editora D’Ávila.
Luiz Felipe D’Ávila nasceu em 1963. Formou-se em Ciências Políticas e foi
editor dos jornais Gazeta Mercantil e O Estado de S. Paulo. Publicou os livros “Brasil,
uma democracia em perigo” (1990), “As Constituições Brasileiras” (1993) e “O
Crepúsculo de uma era” (1995). Em 1996 fundou a editora D’Ávila, responsável pela
publicação de revistas como República1 e Sabor Pão de Açúcar2.

1
Publicação que circulou pela primeira vez em 31 de outubro de 1996. Sua intenção, conforme
indicava em suas páginas era inserir a política, em sua concepção mais ampla, no cotidiano dos
leitores, sem a imagem de assunto aborrecedor que o tema normalmente desperta. Foi o primeiro
13

A ideia da Bravo! foi motivada pela revista República, primeiro produto editorial
da D’Ávila, revista que se propunha discutir os temas políticos com qualidade
reflexiva e que trazia como subtítulo “o prazer da política e as políticas do prazer”. A
capa exibida a seguir mostra um pouco deste caráter não usual da revista. Apresenta
pessoas de renome político por meio de depoimentos incomuns.

Figura 1: Capa da revista República – junho de 1997

A parte das “políticas do prazer” era o objetivo pretendido para a Bravo!,


conforme diz Wagner Carelli – outro dos fundadores – em matéria escrita para o site
Digestivo Cultural3 em março de 2004. Ela trataria de cultura “mas não de uma forma

título da Editora D’Ávila Comunicações, dirigida pelo empresário Luiz Felipe D’Ávila. Mais tarde foi
vendida para Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações e mudou de nome para Primeira
Leitura. Tornou-se partidária e sua última edição circulou em junho de 2006.
2
Sabor - Pão de Açúcar: revista do Grupo Pão de Açúcar, que tratava de gastronomia com matérias
também sobre saúde, decoração e viagem. Parou de ser circular em 2003.
3
Disponível em <http://www.digestivocultural.com/ensaios/ensaio.asp?codigo=83> Acesso em 26 de
novembro de 2009.
14

meramente expositiva, informativa – não era agenda, era ensaio cultural”, conforme
diz Carelli. Surgiu com o espírito “ensaístico-crítico” (CARELLI, 2004).
Carelli conta que a ideia de Felipe D’Ávila fazer uma revista cultural no Brasil
surgiu quando ele retornava de um período de qualificação profissional na Europa.
Queria fazer uma revista semelhante às que ele lia no exterior. Com poucos
colaboradores e recursos escassos, a revista começou a ser projetada em setembro
de 1997. Felipe D’Ávila conseguiu levantar o patrocínio que garantiria um ano de vida
da revista sem levar nenhum projeto aos potenciais patrocinadores. Não havia
condições para elaborar um projeto, pois a verba era escassa e os participantes eram
poucos. Segundo Carelli, ele mostrava a República para os empresários e dizia
"agora quero lançar uma revista cultural, e vai sair em outubro". Todo o ramo
empresarial o conhecia e o tinha em boa conta, o que acabava por convencê-los de
que ele faria mesmo a revista, e que seria boa.
O nome da revista era ideia de Luís Carta4, que chegou a registrá-lo, porém
não sabia para qual publicação serviria. Carelli pediu para Andrea, filho de Luís,
autorização para usá-lo no projeto deles. “Eu achava que esse era o único nome
possível para a revista que viríamos a fazer”, diz Carelli. E Andrea5 autorizou que o
usassem. A revista toda foi feita, desde o projeto editorial e gráfico às matérias, todo
o fechamento e os fotolitos, em 23 dias. Conta ainda que, achando que não haveria
assunto suficiente no país para fazer a primeira pauta, pautaram Nova York, Paris,
Tóquio. Depois tiveram que abandonar tudo, porque a quantidade de eventos
culturais de importância mundial entre São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte,
Salvador, Recife, Porto Alegre era enorme. O formato pensado – e aplicado para a
revista nesta época era de 30cm x 23cm.

Eu sempre disse que se eu levasse pra Abril naquela época o projeto de uma
revista cultural como o da revista que acabamos fazendo – 64 páginas em
couché 90g, capa em couché 270g, quatro cores, abertura com uma seção
altamente intelectualizada escrita pelos mais sofisticados pensadores
culturais do país, sem falar de música popular, sem falar de televisão – os
caras chamariam a segurança pra prender aquele batedor de carteiras
(CARELLI, 2004).

4
O italiano Luís Carta (1936-1994) era jornalista e fundou, em 1972, junto com os empresários
Fabrizio Fasano e Domingo Alzugaray, a Editota Três. Por influência de Carta, um amante do glamour
e do luxo, em 1975 a editora passou a publicar a Vogue no Brasil. Em outubro de 1976, Carta deixou
a Três para fundar sua própria editora, a Carta Editorial. Luís era pai dos também jornalistas Andrea e
Patrícia Carta, e irmão de Mino Carta.
5
Andrea Carta (1959-2003) era o filho mais velho de Luís Carta. Trabalhou por muitos anos como
editor-chefe da revista Vogue Brasil e à frente da Carta Editorial.
15

Então, conforme previsto, em outubro de 1997, com apenas alguns dias de


produção, é lançada a revista Bravo!. Vem com uma introdução explicativa escrita
por Wagner Carelli que mostra como será cada parte da revista. Traz várias
reportagens, ensaios e críticas, num total de 162 páginas. Na capa, podemos ver
chamadas de várias das seções da revista, com destaque para a matéria sobre o
Museu de Arte de São Paulo.

Figura 2: Capa da primeira edição da revista Bravo! – nº 1, outubro de 1997.

Em novembro, com apenas dois números lançados, a Bravo! já havia recebido


dois prêmios, um deles de melhor lançamento do ano. Carelli relata que receberam
mais de cem cartas nos dias que se seguiram ao lançamento, com muitos elogios.
“De ricas madames a pobres estudantes universitários, todo mundo lia a revista,
comentava, pautava-se por ela” (2004). Ainda complementa:

Jamais senti tanta satisfação por ser um jornalista, tanto orgulho por minha
profissão, tanta admiração pela capacidade dos meus companheiros, tanto
16

carinho deles para com o trabalho que escolheram fazer em suas vidas, e
tanta solidariedade entre eles (CARELLI, 2004).

O fato da revista ter agradado a todo tipo de público corresponde à ideia que
Luiz Felipe D’Ávila buscava quando escreveu a carta apresentada abaixo, publicada
na primeira edição, quando ressaltou que cultura não era patrimônio de elites
intelectuais.

Figura 3: Carta do editor publicada na primeira edição da revista, em outubro de 1997.

A revista lançou-se como um produto inovador, atingiu todos os principais


objetivos dos fundadores e, devido ao sucesso, passou a interessar às outras
editoras. Era vista como um veículo completo e agradável em se tratando do tema.
17

1.2 MUDANÇAS NA REVISTA

Em 2001 a revista passou por uma reforma gráfica, mudando o tamanho, que
passou para os atuais 27,5cm x 22,5 cm e também o layout. Porém, conforme Carelli,

a Bravo! não podia ser ‘apenas um rostinho bonito’. Foi seu conteúdo
brilhante, seus textos longos e abundantes em total contrapartida à tendência
geral da imprensa, toda presa ao dogma falacioso segundo o qual "ninguém
lê nada", que fez da revista um sucesso – editorial e comercial (2004).

Nesta época, surgiram propostas de outras editoras, sobretudo da Abril, que


se mostrava interessada na revista. Uma publicação como a Bravo! era um grande
negócio. E foi então que, na virada do ano de 2003 para 2004, a revista passou por
sua mudança mais significativa: não resistindo em uma editora de pequeno porte
como a D’Ávila – que agora já não contava com Luiz Felipe no comando - ela foi
vendida para a Editora Abril, passando a ser publicada em regime de parceria entre
ambas em janeiro de 2004.

É uma ironia que a revista tenha acabado lá. Que seja um sucesso – mas do
jeito que nasceu para ser, tratando cultura como se deve. Isso significa tratá-
la, a cultura, não como ‘entretenimento’, mas como sentido da vida, o que
Aristóteles propunha como única possibilidade de satisfação do espírito
humano. Pode parecer grandiloqüente, mas esse foi o projeto da Bravo! e a
razão de seu sucesso. A seção mais lida e comentada era justamente a mais
‘difícil’, a seção ‘Ensaio’, que reunia sem concessões, sem panelas, a
inteligência mais aguda do país (CARELLI, 2004).

O editor-chefe que assumiu a revista na passagem para a Editora Abril, Almir


de Freitas, reafirmou o compromisso de manter a qualidade da revista, independente
da transição pela qual havia passado em entrevista ao portal Comunique-se6, em
fevereiro de 2003. Afirmou que não houve grandes mudanças com a transferência,
pois “seu objetivo sempre foi o de aliar a agenda cultural em Artes Plásticas, Livros,
Teatro, Dança, Música e Cinema com uma análise crítica, ao mesmo tempo
sofisticada e acessível” (FREITAS, 2003).
As duas editoras publicaram de maneira conjunta duas edições da revista:
janeiro e fevereiro de 2004, quando ainda foi assinada pela D’Ávila. A Bravo! passou

6
Disponível em < http://www.comunique-se.com.br/> Acesso em 26 de novembro de 2009.
18

a estampar a marca da Editora Abril em março de 2004, como mostra a figura a


seguir.

Figura 4: Capa da edição nº 78, de março de 2004.

Na mesma oportunidade da entrevista ao Comunique-se, Freitas foi indagado


por José Paulo Lanyi sobre a crise no jornalismo cultural. Respondeu que há uma
carência efetiva de crítica nas publicações hoje, e que a revista existe, em parte, em
função disso. Afirma que há, sim, público sedento pelo jornalismo analítico e
desprendido da necessidade do furo, do sair na frente.

Data de algum tempo uma coisa que eu considero perversa com os cadernos
culturais. Houve um enxugamento de texto dos jornais, por questões
econômicas, e acho que se aplicou uma lógica aos cadernos culturais, que
não existia antes, que é a lógica do furo. Uma lógica que foi transplantada
dos cadernos econômicos e políticos para os cadernos culturais. (...) Um
excelente artigo que o Sérgio Augusto escreveu para a gente. (...) Foi um
ensaio de grande repercussão, em que ele apontava esse círculo vicioso em
que a imprensa se meteu, querer dar o furo, o furo, o furo, o furo, e, num
certo momento, perder de vista até o próprio leitor (FREITAS, 2003).
19

Freitas diz, porém, não acreditar que um ensaio, uma entrevista, ou uma
reportagem por si só sejam a receita do jornalismo de qualidade. Todas devem ser
realizadas de modo combinado para que se tenha um produto diferenciado. É preciso
estimular o debate cultural. E apesar do público consumidor da revista ser das
classes A e B, ele diz que não a fazem para este ou aquele público. É para quem se
interessa pelo assunto. Afirma que uma linguagem rebuscada, de nicho, não é o
objetivo. “No jornalismo a gente quer falar com as pessoas. Quer falar com qualidade,
sim, quer explicitar análises técnicas, boas, mas sem ser cifrado” (FREITAS, 2003).
Ainda sobre a despreocupação com o furo, Freitas (2003) diz: “Nós queremos
ser diferentes porque é preciso ser diferente do que existe por aí. Não estamos
satisfeitos, o leitor não está satisfeito”. Afirma que eles apostam na relevância
jornalística dos fatos em primeiro lugar. A equipe entende que a análise crítica não
dispensa o serviço e a melhor matéria é aquela que conjuga as duas coisas. E
garante que não há nenhuma interferência externa na escolha do material que
receberá destaque, ela é guiada pelos princípios editorias da revista. Como toda
empresa de comunicação, ela busca o maior número de leitores possível, que se
enquadre nos seus objetivos editorias, mesmo que não faça maiores concessões
para ampliar seu mercado.
Em 2006 a revista passou definitivamente para a estrutura da Abril. Época em
que Sérgio Augusto, jornalista que trabalhou durante oito anos na revista, desde o
seu primeiro número, saiu. E sua saída foi marcada pelo fim de uma fase da
publicação. Para ele, a diminuição dos ensaios e dos colaboradores fixos ocasionou
sua decisão. Sérgio afirmou em entrevista a Julio Daio Borges para o site Digestivo
Cultural7 em fevereiro de 2007 que mantém uma posição contrária quanto aos
objetivos da publicação. Para ele, a editora Abril só comprou a Bravo! com uma
finalidade: transformá-la num produto mais comercial, mais vendável. E que, como
consequência, transferiu a seção de ensaios, que era uma espécie de abre-alas da
revista, para as últimas páginas. Para Sérgio, a Bravo! original só foi possível por ter-
se beneficiado, em seu primeiro ano de vida, de facilidades criadas pela Lei
Rouanet8, e que uma editora como a Abril, acostumada a operar em outra escala,

7
Disponível em <http://www.digestivocultural.com/entrevistas/entrevista.asp?codigo=10> Acesso em
26 de novembro de 2009.
8
Na década de 90 a promulgação da lei nº 8313/91, que caracterizou uma nova fase do
desenvolvimento de atividades culturais, permitia que projetos aprovados por uma Comissão Nacional
20

jamais teria se interessado em editar uma revista nos moldes da Bravo!, como a
pequena editora D’Ávila bancou, em 1997, amparada nos benefícios da renúncia
fiscal.

1.3 BRAVO! HOJE E ASPECTOS DA VERSÃO ONLINE

A Bravo! hoje é formada por seis editorias, distribuídas em 100 páginas. Cada
uma apresenta no mínimo dois artigos, uma crítica e a programação cultural do mês,
que são também disponibilizados no site da revista. Há um esquema de
colaboradores que participam especialmente da publicação com matérias e artigos,
além de uma equipe fixa, concentrada, sobretudo, nas funções de edição e outros
cargos dirigentes. O critério para a escolha dos colaboradores depende da pauta de
cada mês, afirma Freitas. A equipe fixa serve como uma espécie de baliza para a
linha editorial.
As matérias da revista não apresentam um padrão de linguagem pré-
determinado, isso porque cada colaborador tem um estilo diferente, procurando,
dessa forma, preservar a sua diversidade. Contudo, isso não significa que a liberdade
seja total: as matérias e reportagens são direcionadas para um veículo de custo alto –
o preço de banca é 14 reais – e, como tal, tem a obrigação de falar para os leitores
que investem este dinheiro nela (embora Freitas tenha dito anteriormente que o
público-alvo não é a principal preocupação). Esse fato acaba tornando o texto um
pouco mais conservador. Mesmo assim, a revista não se utiliza de recursos de
linguagem cifrada, apoiada em jargões de grupos isolados (como o teatral, ou das
artes plásticas). Braga (2006) tem a seguinte visão a respeito do conteúdo da revista:

O critério básico perseguido parece ser a qualidade estética, o bom


atendimento de conhecedores que sabem escolher. Logo, há uma
seletividade baseada no gosto apurado, buscando aquilo que se destaca. A
isso corresponde uma inevitável sofisticação intelectual/cultural tanto na
busca como no tratamento dos temas (2006, p. 262).

O autor ainda diz que a revista apresenta um padrão habitual de ‘serviço’ de


filtragem de produtos, em que se oferece ao leitor uma gama de conteúdo já

de Incentivo à Cultura (CNIC) recebessem doações e patrocínios de pessoas físicas, ganhando ainda
a isenção do Imposto de Renda.
21

selecionado. E que “além das informações de base (dia, hora), há itens (como ‘por
que ver’ e ‘preste atenção’) que oferecem uma perspectiva competente de valoração”
(BRAGA, 2006, p.266). A Bravo! acaba, portanto, por manter um caráter sóbrio,
caminhando para um padrão que reúne, ao mesmo tempo, informação, crítica e
análise.
Abaixo um exemplo atual da revista, que mostra a qualidade estética apontada
por Braga ao exibir como capa uma obra do pintor Marc Chagall. Apresenta, além,
disso uma manchete que aborda os filmes “...E o Vento Levou” e “O Mágico de Oz”,
que não deixa a revista fugir de assuntos conhecidas por todos.

Figura 5: Capa de uma edição atual – número 144, de agosto de 2009.

A versão online da revista traz todas as reportagens publicadas na revista


impressa. Além disso, conta com fóruns de debate, grupos de discussão e blogs.
Mantém uma seção chamada “Assunto do dia”, exclusiva em meio digital, que é
atualizada durante o mês, sem uma periodicidade definida.
22

Em setembro de 2009 foi lançado o novo layout do site da Bravo!. As seções


se mantiveram as mesmas, com mais exploração dos recursos multimídia, conforme
se pode observar. Todas as seções presentes na revista também são destacadas na
página da internet, bem como a agenda dos principais eventos do Rio de Janeiro e
São Paulo.
Logo abaixo da chamada da capa – a mesma da edição impressa – vem um
box com algumas quatro manchetes, distribuídas em quatro páginas. No exemplo a
seguir podemos ver a manchete da página 4 que traz uma crítica sobre a cantora
Norah Jones. Nas outras páginas encontramos manchetes sobre assuntos
relacionados a cinema e fotografia. Assim, no decorrer de toda a página podemos
observar as chamadas com links e recursos multimídia.
23

Figura 6: reprodução do atual site da revista


24

Percebe-se que a publicação passou por algumas modificações desde o seu


lançamento, em 1997, até hoje. Porém, pode-se dizer que seus objetivos e seu
posicionamento perante o mercado cultural continuam o mesmo. As ressalvas se dão
devido às mudanças que a própria sociedade vem enfrentando. Há a necessidade de
adaptação, e é frente a estas exigências que a revista vem se projetando nos últimos
anos.

1.4 O ATUAL CENÁRIO DO JORNALISMO CULTURAL BRASILEIRO

A fase pela qual o jornalismo cultural passa, abarca os diferentes estilos de


interesse que foram se configurando com o passar dos anos. Essas mudanças de
estilo ocorreram em parte, conforme afirma Piza (2004), devido às transformações
midiáticas que foram se estabelecendo com a evolução dos meios de comunicação.
Mediante tudo que nos é apresentado diariamente sobre cultura, percebe-se
que há espaço para os mais variados temas e assuntos e que igualmente há público
para eles. As novas mídias foram experimentando determinados formatos quando
perceberam que havia espaço para isto. Definiram-se perfis e linhas de trabalho,
algumas mais profundas, outras mais superficiais.
O jornalismo cultural vem de um cenário histórico bem diferente do qual
fazemos parte hoje. Conforme nos traz Piza, seu surgimento pode ser tratado a partir
da fundação da revista The Spectator, em 1711, por Richard Steele e Joseph
Addison, dois ensaístas ingleses. Lançaram a revista com a seguinte finalidade: “Tirar
a filosofia dos gabinetes e bibliotecas, escolas e faculdades, e levar para clubes e
assembléias, casas de chá e cafés” (PIZA, 2004, p. 11).
Este estilo de jornalismo nasceu na cidade e para a cidade. Nestes seus
primeiro anos era feito de bastante articulismo, resenhas, debates sobre livros e artes
e pouca notícia, pois, como concordaria mais tarde Medina (2007), a informação de
serviço é fundamental, mas, por outro lado, sempre houve uma necessidade de se ter
uma voz particular, de opinião. No caso das artes, essa voz pode ser melhor
apresentada através da crítica, das resenhas e dos ensaios.
25

Com a modernização da sociedade, a partir da virada para o século XX, o


jornalismo cultural se aprimorou, dando os primeiros passos como exercício
profissional. Segundo Piza (2004), passou a dar importância para a reportagem, para
o relato de fatos (mesmo que sensacionalista) e a utilizar a entrevista. Surge nesta
fase, o crítico mais informativo, direto, menos abstrato do que anteriormente e ele
continua a exercer grande influência e servir de referência para leitores, artistas e
intelectuais. A crítica continua a ser o estilo principal do jornalismo cultural, tanto nas
revistas como nos jornais diários.
Já no Brasil, a partir de meados da década de 1950, segundo Gadini (2007),
os principais jornais brasileiros, que publicavam suplementos literários, conseguem o
fortalecimento do campo cultural por meio do agendamento cotidiano de temas, fatos
e uma cobertura mais sistemática da área. Observa-se, então, neste fim dos anos
1950 uma gradativa modificação das editorias de cultura, que passa a incluir as
seções de variedades, passatempos, horóscopo, além das colunas sociais. E com o
fortalecimento e penetração televisiva no cotidiano brasileiro – que acontecia na
mesma época – os cadernos de cultura acentuam a mudança de sua cobertura –
marcada por ensaios, textos mais longos e apreciação crítica dos bens/serviços
culturais – para notas, imagens e informações que comentam ou apenas atualizam
situações da programação televisiva.
Com o passar dos anos, as atrações culturais foram aparecendo em maior
número e o tema ganhou espaço nos jornais diários e nas revistas, especializadas no
tema ou não. Devido à grande demanda de acontecimentos, não é mais possível
mostrar tudo o que ocorre. Escolhas e delimitação de assuntos são necessários. Com
isso o jornalismo cultural passou a viver uma fase diferente.
Nos últimos 20 anos, acontece um desaparecimento do espaço para a crítica.
Há na grande imprensa um forte domínio de assuntos sobre as celebridades e um
rebaixamento dos critérios de avaliação dos produtos. Houve um processo que
reduziu o periódico brasileiro ou a um guia de serviços ou a uma galeria de
celebridades, formando um leitor que espera apenas isso do investimento que faz na
banca ou na assinatura. Segundo Gadini (2007) tudo gira em torno de um assunto ter
ou não ter audiência, ser ou não ser popular o suficiente.
As publicações se concentram mais em repercutir esses prováveis sucessos
de massa. O que está fora disso é, muitas vezes, ignorado. Deixam de lado as
tentativas de resistências, as exibições daquilo que não está no auge. Ou, segundo
26

Piza (2004, p.31) “as convertem também em ‘atrações’ com ibope menor, mas
seguro”. Werneck (2007) vê isso como uma traição aos leitores, à profissão e “ao
pobre livro que se não estourar em livraria a ponto de entrar numa lista,
provavelmente jamais será resenhado”. (2007, p.67). O autor trata como negativa
também a questão da agenda, chamando-a de “camisa-de-força”, da qual o veículo
precisa se desvencilhar para que o leitor ganhe em informação: “O jornalista vai fazer
uma matéria sobre a exposição só porque a exposição está acontecendo, e se não
acontecer jamais se vai escrever sobre aquele artista que, no entanto, é um assunto
interessante o tempo todo”. (WERNECK, 2007, p. 70)
É importante ressaltar que não é dito que há problema em o jornalismo cultural
tratar da lógica do entretenimento/ibope, afinal, a cultura traduz-se em expressões
integradas por múltiplas maneiras, das quais faz parte também o entretenimento. O
problema reside, sim, na centralidade do culto ao entretenimento, apagando outras
dimensões de uma determinada manifestação cultural.
Porém, há veículos que tentam resistir a essa realidade e assumem uma
postura diferente frente à lógica do entretenimento, tratando de outra maneira as
informações. Trazem aquilo que é menos conhecido, mas não menos interessante. E
conforme Werneck (2007), esse fato não se trata de dar “uma força para o artista”,
mas, sim, de dar uma força para o leitor, pois ele tem o direito de conhecer os fatos
que estejam acontecendo por aí, e que a imprensa tantas vezes por opção esconde.
Esses veículos estão dentro de um grupo que optou por olhar para os menores
nichos do mercado. Assumiram uma abordagem de assuntos bem específicos.
Grupos estes que Piza (2004) chama de ‘guetos’ ou tribos.
A questão do entretenimento apontada como atual no jornalismo cultural, pode
ter sido reforçada pelo surgimento da internet como ferramenta, uma vez que há a
busca pela atualização contínua, a corrida pelo “furo”, conforme conta Ferrari (2003):

No caso específico das redações online, a produção de reportagens deixou


de ser um item do exercício do jornalismo. Adotou-se apenas a produção de
notícias, ou, como se diz no jargão jornalístico, de ‘empacotamento’ da
notícia. Empacotar significa receber um material produzido, na maioria das
vezes, por uma agência de notícias conveniada, e mudar o título, a abertura,
transformar alguns parágrafos em outra matéria para ser usada como link
correlato, adicionar foto ou vídeo, e por aí afora (2003, p.44).

A autora completa que, com a internet, o tempo entre a reunião de pauta e a


publicação da notícia, passou a ser, muitas vezes, de dez minutos. É o tempo de
27

acessar uma agência de notícia, fazer algumas pequenas alterações na informação e


publicá-la. Porém muitas vezes esta atualização instantânea não é válida, pois apesar
da agilidade, é comum ela vir com erros, seja de ortografia ou apuração e vir sem um
aprofundamento sobre o assunto, sem recursos de hipermídia. E se é assim, nem o
leitor pode ir por um caminho simples atrás de um complemento direto, pois este
complemente não está disponibilizado.
Mas a utilização da internet dessa maneira não pode ser generalizada. Ela
pode ser trabalhada seguindo uma perspectiva de melhor utilização dos novos
recursos oferecidos. Além da atualização contínua ela oferece, por exemplo, espaço
e recursos multimídia, que possibilitam um tratamento diferenciado das informações,
com contextualização. É justamente em torno do conteúdo contextualizado que gira a
questão que abordaremos no capítulo seguinte, quando, a esse melhor
aproveitamento das ferramentas, pudermos aliar o conceito de jornalismo sistema.
28

2 O AMBIENTE DIGITAL ALIADO AO JORNALISMO SISTEMA

Um dos espaços possíveis de se exercer o jornalismo hoje é a internet. O


círculo vem se popularizando desde os anos 1990 e se configura como uma opção
de extensão ou inovação para os veículos de comunicação já existentes que traz
possibilidades auxiliares ao desenvolvimento das matérias noticiosas.
O aumento de oportunidades se dá, sobretudo, devido às características do
conteúdo desenvolvido em meio digital. Veremos adiante que são seis9 e que elas
vêm, em alguns casos, como fortes potencializadoras para o conteúdo jornalístico.
Uma das conseqüências desta potencialização pode vir a ser o exercício do
jornalismo sistema. Trabalhado por Fontcuberta (2006), trata-se do conceito de um
jornalismo que encontra meios, seja na mídia impressa, televisiva ou online, de se
desenvolver de maneira mais densa, de modo a apresentar informações mais
completas.

2.1 JORNALISMO CULTURAL NA INTERNET

O surgimento e a popularização da internet têm servido como caminho


alternativo10 para o jornalismo cultural, já que a internet permite que o custo da etapa
de circulação diminua bastante, assim como o custo de distribuição. “Incontáveis
sites se dedicam a livros, artes e ideias, formando fóruns e prestando serviços de
uma forma que a imprensa escrita não pode, por falta de interatividade e espaço”
(PIZA, 2004, p.31)
As novas opções de aplicação do jornalismo cultural estão disponíveis na
internet em diferentes estilos de linguagem, forma e conteúdo. Segundo Piza, as
revistas eletrônicas têm procurado fugir dos padrões pré-estabelecidos da grande
imprensa e se destacam a cada dia.

9
As características do jornalismo digital, segundo Palacios (1999) são: multimidialidade,
interatividade, hipertextualidade, personalização e memória. Mielniczuk (2003) acrescenta a estas e
atualização contínua. Abordaremos elas adiante.
10
Ressaltamos que o significado do termo utilizado não se refere à prática jornalística alternativa
empregada na época do regime militar brasileiro.
29

Em se tratando de assuntos relativos à cultura, como música e dança, por


exemplo, os recursos de áudio e vídeo são muito importantes, e antes de termos a
mídia digital, nem tudo relativo a eles era possível de ser exposto. O que muda
também é a periodicidade, isso porque as publicações que antes eram mensais,
quinzenais ou semanais, agora não necessariamente precisam seguir essa linha. É
possível que os fatos escolhidos para serem abordados sejam exibidos assim que
acontecem. Também se pode desenvolver de forma completa uma matéria para já
em poucos dias disponibilizá-la, não precisando esperar uma próxima edição.
Ressalta-se que este último caso não se trata da lógica do ‘furo’, já que a ideia é
desenvolver a matéria de forma completa e em poucos dias, não poucas horas.

2.2 CARACTERÍSTICAS DO JORNALISMO DIGITAL

Desde o início dos anos 1990 vivenciamos a popularização do termo


‘multimídia’ como tecnologia que engloba fotografia, som e imagem. Com o
desenvolvimento da internet, essa tecnologia tornou-se presença constante, inclusive
para as práticas jornalísticas.
Segundo Mielniczuk (2003), os diferentes tipos de práticas jornalísticas na
web não surgiram assim como as vemos hoje. Seu gradativo desenvolvimento foi
dado em fases, que classifica como gerações. São elas:
Primeira Geração – a edição online dos webjornais é a cópia do impresso,
tanto na formatação quanto na organização.
Segunda Geração – Há maior agregação de recursos possibilitados pelas
tecnologias da rede. Potencializam-se os recursos.
Terceira Geração – recursos hipertextuais utilizados de forma intensificada.
Convergência entre suportes diferentes. Por vezes, apresenta-se um produto
exclusivo para a web.
Importante deixar claro que as fases não são excludentes entre si. Se a
terceira fase é implantada em um determinado veículo, não significa que a primeira
não possa ser também. Em um mesmo período de tempo podemos encontrar
produtos que se encaixam em diferentes fases, bem como podemos encontrar traços
das diferentes gerações em uma mesma publicação.
30

Há uma perspectiva que, segundo Beiguelman (2007), hoje em dia se chama


de ecologia midiática, a qual prega que uma mídia nunca supera a outra. A internet
não acaba com o livro, ou a televisão com o cinema. O que acontece é que com o
aparecimento de uma mídia nova, há uma alteração na maneira como se concebe as
mídias que lhes são anteriores.
Diante dessa sequência, pode-se dizer que a internet é a mídia que melhor
representa esse processo de ecologia, porque ela incorpora todas as mídias que lhe
são precedentes; é alterada por elas e as altera também. Ela trata dos assuntos
valendo-se de todas as ferramentas antes disponibilizadas por cada um
individualmente.
Palacios (2003) trabalha com as ideias de potencialização e ruptura causadas
pela utilização da internet como veículo jornalístico. Utiliza Dominique Wolton para
descrever a distinção entre a lógica da oferta e da demanda. A lógica da oferta
caracteriza os meios de comunicação tradicionais (imprensa, Rádio, TV), cujas
emissões de mensagem se enquadram no modelo Um ⇔Todos11. Já a lógica da
demanda caracteriza as Novas Tecnologias de Comunicação – onde está incluída a
internet – que se enquadram no modelo Todos ⇔Todos12.
Dessa forma, pode-se notar que os recursos disponibilizados agora não vão
fazer com que as funções de antes sejam excluídas. Não se trata de uma evolução
excludente, que supere as formas anteriores. O que temos é um incremento, algo
que chega para complementar, para conviver com o que já existia. Assim, conforme
Palacios (2003), as características do jornalismo na web aparecem, sobretudo, como
continuidades e potencializações e não obrigatoriamente como rupturas com relação
ao jornalismo praticado em suportes anteriores. O autor exemplifica:

A Multimidialidade do Jornalismo na Web é certamente uma Continuidade,


se considerarmos que na TV já ocorre uma conjugação de formatos
mediáticos (imagem, som e texto). No entanto, é igualmente evidente que a
Web, pela facilidade de conjugação dos diferentes formatos, potencializa
essa característica. O mesmo pode ser dito com relação à
Hipertextualidade, que pode ser encontrada não apenas em suportes digitais
anteriores, como o CD-ROM, mas igualmente, e avant-la-léttre, num artefato
comunicacional de tipo impresso tão antigo quanto uma enciclopédia. A
Personalização é altamente potencializada na Web, mas já está presente

11
Modelo que funciona por emissão de mensagens, no qual há um emissor e um receptor distintos
(ex. mídia tradicional). Optamos pelo símbolo da bi-direcionalidade (⇔) para ambos os modelos, pois,
ainda que com função diferente do emissor, o receptor não será necessariamente passivo.
12
Modelo que funciona por disponibilização e acesso, no qual não há obrigatoriamente emissor e
receptor separados (ex. internet). O conteúdo pode ser produzido e disponibilizado tanto por um
quanto por outro. O que, esclarecemos aqui, não é uma regra.
31

em suportes anteriores, através da segmentação de audiência (públicos-


alvos) (PALACIOS, 2003, p. 7).

A ruptura ocasionada pelo surgimento do jornalismo para web, sob o ponto de


vista de Palacios consiste na diminuição do limite de espaço e/ou tempo que é
oferecido. Hoje se trabalha com um banco de dados de crescente capacidade de
armazenamento. Sua atualização e acesso podem ser feitas ao mesmo tempo tanto
pelo produtor da informação quanto pelo usuário. Assim, segundo o autor, o
jornalismo para web “dispõe de espaço virtualmente ilimitado, no que diz respeito à
quantidade de informação que pode ser produzida, recuperada, associada e
colocada à disposição do seu público” (2003, p. 7).
O que vemos, segundo Mielniczuk (2003), é que o jornalismo de terceira
geração está buscando construir um produto diferenciado. Como já vimos, ele vem
como forma de potencialização, porém, também são necessárias algumas rupturas
para que este novo tipo de jornalismo tenha atrativos diferenciados. Hoje, o suporte
já não é mais desconhecido, o que permite que mais possibilidades sejam
exploradas. Um dos grandes desafios é conseguir aplicar a linguagem própria do
novo meio para melhor explorá-lo.
Para uma aplicação desta linguagem própria do novo meio que é buscada,
que oportuniza a melhor exploração de suas potencialidades, são apontadas,
segundo Mielniczuk (2003), seis características do jornalismo feito para a internet.
São elas:
- Multimidialidade/convergência - Refere-se à convergência dos formatos das
mídias tradicionais (imagem, texto e som) na narração do fato jornalístico. É possível
devido às várias plataformas de suporte oferecidas pelos meios digitais. Dá a ideia
de complemento.
- Interatividade – A internet possibilita que os seus leitores façam parte do
processo jornalístico. Isto pode acontecer pela troca de e-mails entre leitores e
jornalistas, através da disponibilização da opinião dos leitores, como é feito em sites
que abrigam fóruns de discussões, através de chats com jornalistas, etc. A
interatividade ocorre também dentro da própria notícia. Isso porque a navegação
pelo hipertexto também pode ser classificada como uma situação interativa, já que é
o leitor quem escolhe o rumo que vai tomar durante a leitura.
- Hipertextualidade - Na narrativa jornalística, oferece a possibilidade de uma
conexão entre textos através de links. Esses links podem levar o leitor a outros
32

textos que complementem o de onde partiu, bem como levá-lo à imagens, fotos,
sons, vídeos. É empregada também como barra de navegação.
- Personalização - Também denominada individualização, é a opção oferecida
ao usuário de configurar os produtos jornalísticos de acordo com os seus interesses
individuais, como exemplo, os sites que oferecem uma pré-seleção dos assuntos e
da maneira como será apresentado (diagramação). Assim, quando o site é
acessado, a página de abertura é carregada de acordo com as preferências do
usuário. Além disso, da mesma forma que o percurso hipertextual pode ser uma
situação interativa, pois o leitor que escolhe qual o seu caminho de leitura, essa
pode ser tida também como uma situação personalizada, já que cada usuário define
o percurso de acordo com os seus interesses.
- Memória - Trata-se por memória a opção de acúmulo e acesso à
informações na internet por tempo indeterminado. Os conteúdos publicados nos sites
noticiosos podem ser acessados durante muito tempo. Segundo Palacios (1999) esta
acumulação de informações é bem viável técnica e economicamente na web. Assim,
o volume de informação produzida e diretamente disponível ao usuário e ao produtor
da notícia cresce exponencialmente no jornalismo online.
- Instantaneidade/atualização contínua – Se configura na rapidez do acesso
às informações. Tudo devido à facilidade de disponibilização proporcionada pela
digitalização.
Todas as características refletem as possibilidades oferecidas pela internet.
Cada uma com suas particularidades, estão aí para facilitar, para aprimorar a
exposição das informações junto ao público. Todas elas podem ser empregadas de
várias maneiras, algumas de forma mais promissora, outras menos, já que, conforme
afirma Palacios:

Não acreditamos existir um formato canônico, nem tampouco “mais


avançado” ou “mais apropriado” no jornalismo que hoje se pratica na Web.
Diferentes experimentos encontram-se em curso, sugerindo uma
multiplicidade de formatos possíveis e complementares, que exploram de
modo variado as características das NTC (2003, p. 3).

Complementando a ideia de Palacios, o que se pode perceber é que, hoje, a


informação é um misto de vários elementos. Ferrari (2003) diz que já não é mais
possível apenas pensar em colocar uma reportagem na internet. É preciso pensar
em tudo que a rodeia, como, por exemplo, em uma enquete para se fazer com os
33

leitores, no tema do chat, nos vídeos e nos áudios. É necessário reunir o maior
número de assuntos possíveis para se relacionar com a reportagem.

Para o pai do hipertexto, Ted Nelson, o conceito de texto elástico (strech


text), aquele que se expande e se contrai conforme as solicitações do leitor,
faz com que o internauta assuma o comando da ação, trocando filmes,
vídeos, diálogos, textos, imagens como se estivesse em uma grande
biblioteca digital (FERRARI, 2003, p.42).

Esta participação do internauta na apresentação da informação e a


disponibilização dessa informação por meio de recursos variados nos leva ainda
para outra abordagem. A interatividade, o espaço e as características do jornalismo
feito na internet vieram para auxiliar tanto os que prezam pelo imediatismo, o furo, a
instantaneidade, quanto para os que querem aproveitar o espaço para desenvolver
seus assuntos. Segundo Dória (2007), para quem procura o desenvolvimento, a
internet torna possível ampliar as pautas, conectá-las a outras ferramentas que
permitam ao leitor a maior absorção do seu conteúdo.

Não acreditamos que informações na internet tenham de ter dois parágrafos,


e que se a coisa não está sendo clicada o suficiente por segundo tenha de
ser tirada do ar (...) Não sei se vai durar muito tempo. Mas espero que o
destino da internet não seja abandonar grandes reportagens, até porque,
hoje, ela é o único lugar onde se pode, em países como o Brasil, fazer boa
reportagem, já que esse tipo de espaço é reduzido hoje nos meios
impressos (DÓRIA, 2007, p.100).

Conforme afirma Ferrari (2003), em reportagens maiores, pode-se valer das


possibilidades oferecidas pelo meio digital para uma leitura mais dinâmica, mais
agradável com a utilização de recursos de áudio, vídeo, galerias de fotos. E são
estas reportagens com recursos que possibilitam o exercício do jornalismo que
trataremos daqui para adiante, o jornalismo sistema.
34

2.3 CARACTERÍSTICAS DO JORNALISMO SISTEMA

O crescimento do fluxo da informação trazido pela internet é uma das


características da nossa sociedade contemporânea. Esse avanço tecnológico gera
um paradoxo no campo da comunicação. De um lado o jornalismo imediatista traz as
informações instantaneamente, de outro, muitas vezes presenciamos a carência
quanto à explicações aprofundadas sobre determinados assuntos.
Segundo Fontcuberta (2006) a nossa sociedade se moderniza a cada
momento e alguns dos produtos de várias naturezas que estão surgindo nela não
acompanham esta complexidade. Dentre eles, os produtos jornalísticos. Diagnostica
que os produtos desse meio atuam numa relação inversa ao progresso da
sociedade. Quanto mais informação se transmite, menos ela é complexa.
A disputa pela conquista da audiência é hoje o principal objetivo de grande
parte dos meios de comunicação. Ainda que o preço a pagar por isso seja a perda
do sentido e do significado dos acontecimentos que são noticiados. No geral, não há
muita preocupação com a contribuição para o crescimento social do leitor, uma vez
que as informações não são ponderadas de modo a complementar o seu nível de
conhecimento. O que temos é a concorrência em torno da instantaneidade, do trazer
a informação primeiro que o outro, a lógica do ‘furo’.
Esta maneira de tratar as informações é definida como cultura mosaico ou, no
caso, jornalismo mosaico.

Abraham Moles denomina ‘la cultura mosaico’ para referirse a los


contenidos ofrecidos por los medios de comunicación que define como
fragmentarios, atomizados, y expuestos sin ninguna jerarquización. Moles
denomina a esos contenidos ‘átomos de cultura’ y considera que son un
13
obstáculo para comprender la realidad (FONTCUBERTA, 2006, pág. 39).

Podemos falar de um jornalismo mosaico quando um veículo oferece seu


conteúdo desarticulado, sem um completo planejamento prévio. As empresas
tendem a ter um projeto de abordagem dos conteúdos, porém com a correria, muitas

13
“Abraham Moles denomina ‘a cultura mosaico’ para referir-se a conteúdos oferecidos pelos meios
de comunicação que define como fragmentados, atomizados e expostos sem nenhuma
hierarquização. Moles denomina esses conteúdos de ‘átomos de cultura’ e considera que são um
obstáculo para compreender a realidade.”
35

vezes as informações acabam por ser disponibilizadas sem que haja uma
organização, um preparo.
Em contrapartida à cultura mosaico vem a cultura “sistema”, que tem por
definição o oposto da mosaico

El sistema es una totalidad compleja compuesta por partes diferentes que


están interrelacionadas y que interactúan em uma organización. Esa
interación hace que el sistema sea mucho más que uma suma, uma
yuxtaposición de las partes. (...) Apostar por un periodismo sistema es
desarrollar um periodismo que no aísle o disgregue los acontecimientos; que
los contemple y los articule em um contexto determinado y que estabelezca
uma gama de interacciones con los receptores que pueda contribuir a la
construcción del sentido y a la comprensión de la realidad (FONTCUBERTA,
14
2006, pág. 41).

Fontcuberta (2006) utiliza-se da contribuição de Edgar Morin, que sustenta a


ideia de que as relações sociais se parecem com um tecido formado por partes
heterogêneas e inseparáveis, que interferem entre si. Ao remeter a teoria para o
campo jornalístico, a autora percebe que os acontecimentos deste caráter não se
desenrolam de maneira isolada, uma vez que para todo fato existem causas e
consequências que refletem de diferentes modos na sociedade.
Utilizamos como contribuição o estudo feito em 2008 por Susana Leite, que
trabalhou o conceito de jornalismo sistema como uma proposta de contextualização
ao conteúdo apresentado na internet. Segundo ela, o jornalismo sistema objetiva
abordar os acontecimentos já com a intenção de inscrevê-lo num contexto social e
não pelo simples fato de abordar.
Leite (2008) desenvolveu em seu estudo a tabela a seguir, que expõe as
características do jornalismo mosaico e as do jornalismo sistema para facilitar a sua
comparação.

14
“O sistema é uma totalidade complexa composta por partes diferentes que estão inter-relacionadas
e que inter-atuam em uma organização. Essa interação faz com que o sistema seja muito mais que
uma soma, uma justaposição das partes. (...) Apostar em um jornalismo sistema é desenvolver um
jornalismo que não desuna os acontecimentos; que os contemple e os articule em um contexto
determinado e que estabeleça uma gama de interações com os receptores que possa contribuir com
a construção do sentido e a compreensão da realidade.”
36

Tabela 1: Comparação entre jornalismo mosaico e jornalismo sistema

Características do jornalismo Características do jornalismo


mosaico sistema
- Distribui seus conteúdos de forma - Conecta seus conteúdos, os articula e
aleatória; os explica;

- Preocupa-se mais com dados do que - Mostra uma coerência na organização


com significados; interna da pauta que responde a um
desenho preestabelecido;
- Isola os fatos, ignora os processos; - Tem suficiente flexibilidade para
estabelecer variações nesse desenho
sem que se percam os significados;

- Explica seus conteúdos por meio da - Integra os fatos em um contexto. Mostra


simplificação; e explica o desenvolvimento dos
processos que os originaram, suas
causas e consequências;
- Responde a um formato - Oferece dados com significados;
preestabelecido;

- Constrói sua abordagem como uma - É um sistema aberto;


mistura de conteúdos sem os articular

- Confunde o dado relevante com o - Concebe o receptor como usuário;


acidental;

- É um sistema fechado.

Fonte: (LEITE, 2008, p. 18).

Como podemos visualizar, segundo Fontcuberta, o jornalismo sistema


atenderia a necessidade de mostrar uma visão íntegra do tema tratado na cobertura
jornalística. Ela entende que determinado fato não possa ser visto apenas sob um
viés – político, por exemplo, pois ele irá refletir em outros campos sociais como o
cultural e o econômico.
Em se tratando do tema do nosso trabalho – jornalismo cultural – os fatos
deveriam ser mostrados sob um aspecto que aborde também o cunho social ou o
econômico. Dessa forma, uma notícia que trata de uma nova banda, por exemplo,
além de mostrar o cenário cultural onde ela agora se encaixaria, precisa alertar para
os desafios e recompensas que irá enfrentar economicamente e o que esses
desafios trarão para a sociedade. A partir desse tipo de ação é que Fontcuberta
acredita que o jornalismo estaria exercendo seu papel de mediador na compreensão
da sociedade complexa.
37

Em seu estudo, Leite (2008) propôs uma contextualização na cobertura do


evento Live 815, tendo como base a abordagem feita pelo jornal espanhol El País16.
Sua proposta focou na possível aplicação do jornalismo sistema por meio da
narrativa hipertextual que, conforme já vimos, operacionaliza o entrelaçamento dos
conteúdos – uma das características do sistema. Leite destacou a questão da
flexibilidade da organização interna das informações, ressaltando que, para que haja
a conexão entre os assuntos, uma determinada pauta não pode ser tratada sob
aspectos isolados.
No caso do Live 8 no El País, demonstra que “as abordagens dos temas
sobre a pauta permanecem isoladas uma das outras. O isolamento a respeito do que
é ‘Cultura’, em relação ao que está contido em ‘Tecnologia’, por exemplo” (LEITE,
2008, p. 43). A autora acrescenta a essa forma de abordagem do jornal, a
possibilidade de reunir em uma mesma narrativa hipertextual essas informações
publicadas de modo disperso, ordenando-as sob uma perspectiva de inter-relação
entre as partes para, então, chegar ao que se entende por jornalismo sistema. Deixa
claro que não propõe um padrão de apuração para as informações, já que cada
assunto necessita de uma forma distinta de abordagem, mas sim, relacionar os
aspectos que os fazem de entrecruzar, unir os pontos em comum.
A análise de Leite contribui para a afirmação de Fontcuberta sobre o
pressuposto do jornalismo sistema de organizar um leque de informações articuladas
que contribuam para a compreensão da realidade, uma vez que temos que
considerar que é de acordo com o que se apresenta na mídia que o cidadão toma
conhecimento dos fatos que acontecem na sociedade. Assim, podemos dizer que à
medida que o jornalismo trata as informações de forma interligada e com pluralidade
de fontes e respostas para as possíveis implicações que o assunto exige, teremos
uma possibilidade mais significativa de compreender os fatos noticiados em nosso
dia-a-dia.
Fontcuberta acredita que o jornalismo sistema explica processos em que os
fatos noticiosos são as “pontas de muitos icebergs”, cujas partes encobertas não são

15
O Live 8 foi uma série de shows de caráter beneficente ocorridos entre os dias 2 e 6 de julho de
2005 com o objetivo de chamar a atenção para a miséria do continente africano e para o perdão da
dívida externa das nações mais pobres do mundo. Aconteceu nos países que faziam parte do G8 e na
África do Sul.
16
<www.elpais.com>
38

suficientemente mostradas. Para ela, os acontecimentos precisam ser explicados,


analisados e interpretados profundamente desde o seu princípio até o seu fim.
A autora, ao discorrer sobre jornalismo sistema, não fala sobre algum suporte
que possa ser mais adequado – fala apenas sobre o tratamento da informação.
Contudo, diante das características ‘sistema aberto’, ‘preferir inovar a apegar-se a
um formato’ e ‘conectar os conteúdos, articulá-los e explicá-los’ e após o
conhecimento da proposta de Leite (2008), somos levados a pensar que tais
aspectos podem ser efetivados dentro de uma escrita hipertextual, já que a web por
meio das lexias17 informativas dá o auxílio ao leitor na construção e compreensão da
informação.
Vimos que o tratamento da informação, para que ela se configure em
jornalismo sistema, deve ser feito de modo particular. Não há no estudo de
Fontcuberta uma pontuação específica do que é necessário para atingi-lo. A autora
vai destacando, ao longo de seu texto, as características que julga que devem
integrar um texto informativo para que ele transmita informação de qualidade,
aprofundada. No entanto, achamos mais hábil transformar os destaques ao longo do
texto da autora em características pontuais. É uma maneira de melhor expô-las e de
melhor trabalhá-las em seguida, na análise. Então, unimos cada uma delas em
tópicos enumerados:

1) O conteúdo apresentado é uma totalidade composta de partes que estão


inter-relacionadas e que interatuam;
2) É mais que uma justaposição de partes informativas;
3) Não expõe acontecimentos separadamente, agrega-os em um contexto;
4) Estabelece relações com os leitores, que contribuem para a construção do
sentido e compreensão da realidade;
5) Acontecimentos interpretados desde a hora que acontece até o seu
desfecho;
6) Sistema aberto;
7) Prefere inovar a apegar-se a um formato.

17
Lexia é o nome dado às informações armazenadas na internet. É tudo aquilo que podemos acessar
por meio de um link. Pode ser um texto, uma imagem, um arquivo de áudio, uma infografia, etc.
39

Trazendo as características novamente para uma visualização sob o foco do


jornalismo digital, mostramos anteriormente que muitas vezes as informações a que
temos acesso são fragmentadas, já que prezam pelo imediatismo. Dessa forma, as
edições online de muitos jornais/revistas/portais são uma amostra de jornalismo
mosaico. No entanto é um erro confundir o suporte com o conteúdo. É possível que
se faça ou já esteja se fazendo este tipo de jornalismo aprofundado dentro do
jornalismo digital, uma vez que ele apresenta as seis características citadas
anteriormente. Se elas forem bem exploradas, possibilitam que haja tal
desenvolvimento. A mídia pode incorporar os novos preceitos de comunicação
decorrentes desse avanço da internet.
O aproveitamento de todos os recursos oferecidos pela web pode ser
potencializador. A questão consiste então em assegurar que o jornalismo utilize-os e
exerça o papel de promover a reflexão sobre aquilo que noticia, por meio de um
relato mais completo.
Passamos agora para o capítulo de análise, onde é feito o teste acerca do real
aproveitamento dos recursos da internet pela edição online da revista Bravo!. A partir
da observação dos resultados poderemos dizer se o jornalismo sistema se alia à web
para que se aplique com mais facilidade e se a revista já está fazendo uso dessa
característica.
40

3 PERCURSO METODOLÓGICO E ANÁLISE

Este capítulo apresenta, em um primeiro momento, o percurso metodológico


que escolhemos para realizar a pesquisa. Para identificar se a revista Bravo! faz uso
dos elementos do jornalismo sistema em sua versão online, utilizamos a
aproximação entre as características do jornalismo digital e do jornalismo sistema
presentes na matéria estudada. Portanto, a relação que estabelecemos no capítulo 2
entre o jornalismo digital e o jornalismo sistema é fundamental para o
desenvolvimento de nossa análise. O estudo terá como embasamento alguns
aspectos da metodologia de análise de conteúdo (AC).
Para aplicarmos o método, delimitamos um corpus de estudo dentro da
revista. Ele é composto de uma matéria integrante da seção “Assunto do dia” que
trata de diversos assuntos dentro do tema cultura e é disponibilizado apenas na
versão digital da revista.

3.1 METODOLOGIA

Estando a nossa matéria em uma seção exclusivamente online da revista e


sendo nosso objetivo verificar se são aplicadas as possibilidades do jornalismo digital
para que haja o jornalismo sistema, partimos para o estudo definindo quais seriam
nossas ferramentas. Não optamos por aplicar a análise de conteúdo propriamente
dita porque o que virá a definir, em nosso estudo, se há o jornalismo sistema, não se
define somente pelo conteúdo integrante da matéria, mas também pelas ferramentas
aplicadas a ela.
Sendo assim, a AC não se aplica em totalidade ao nosso trabalho, mas em
alguns aspectos contribui de forma significativa. Percebe-se isso no caso de
Herscovitz (2007), que formulou uma definição detalhada do que considera ser a
análise de conteúdo jornalística e que, por sua vez, traz elementos que são
aplicáveis ao nosso estudo. Conforme a autora ela é um
41

método de pesquisa que recolhe e analisa textos, sons, símbolos e imagens


impressas, gravadas ou veiculadas em forma eletrônica ou digital
encontrados na mídia a partir de uma amostra aleatória ou não dos objetos
estudados com o objetivo de fazer inferências sobre seus conteúdos e
formatos (...) A identificação sistemática de tendências e representações
obtém melhores resultados quando emprega ao mesmo tempo a análise
quantitativa (contagem de frequências do conteúdo manifesto) e a análise
qualitativa (avaliação do conteúdo latente a partir do sentido geral dos
textos, do contexto onde aparece, dos meios que o veiculam e/ou dos
públicos aos quais se destina) (HERSCOVITZ, 2007, p. 126-127).

Outro aspecto da AC que podemos utilizar é o abordado por Fonseca Júnior


(2005) que, com a finalidade de explicar como se dá a aplicação do método, divide o
processo em pré-análise, exploração do material, e tratamento dos resultados
obtidos e interpretação.
Na pré-análise realiza-se o contato, a aproximação do pesquisador com o
objeto da pesquisa. Acontece uma definição do que virá a ser o corpus de estudo,
entre outros aspectos. Em seguida, parte-se para a exploração do material, quando é
feita a escolha das categorias de análise – que em nosso caso são matrizes de
estudo – e o corpus é trabalhado de acordo com os objetivos da pesquisa. O
tratamento dos resultados obtidos pode ser feito junto com a interpretação dos
mesmos. É o momento em que se verifica se o corpus, depois de feita a análise,
respondeu ou não à pergunta-objetivo do trabalho.

3.1.1 Corpus de estudo

Para verificar se aspectos do jornalismo sistema estão presentes na revista


Bravo! faremos uma pesquisa com uma matéria da revista como componente da
mostra de material. Não trabalhamos com volume maior de dados porque optamos
por uma análise apenas qualitativa. O estudo quantitativo tornar-se-ia inviável devido
ao grande número de características a serem analisadas.
Para a pesquisa, escolhemos uma matéria da seção “Assunto do dia”.
Optamos por esta seção por ser composta de assuntos variados – dentro do tema
cultura, por desenvolver de forma considerável seus textos, com auxílio de recursos
multimídia e por disponibilizar matérias exclusivamente na edição online, ou seja,
42

são matérias que não estão presentes na edição impressa. Tais fatores nos
permitem a análise das características levantadas no estudo.
As demais seções da revista não foram escolhidas como alvo de análise por
estarem também disponíveis na edição impressa da revista, ou seja, se ausentaria a
exclusividade do meio digital. Porém, esse fato não significa que as matérias que
estão na edição impressa não sejam complementadas por recursos multimídia
quando aparecem na edição online, nem que não se façam presentes todas as
categorias de análise ou que não haja o jornalismo sistema.
Para chegar à seção de análise, é necessário acessar o site da revista
(www.bravonline.com.br) e clicar sobre a capa da edição impressa, que encontra-se
no canto superior direito da página, conforme demarcado na figura:

Figura 7: Demonstrativo de como chegar à seção “Assunto do dia”.

Em seguida aparecem todos os assuntos tratados pela revista, na forma de


seções. São elas: “A Revista”, “Assunto do dia”, “Bravo! indica”, “Multimídia”, “Blogs”,
“Bravo! apresenta”, “Agenda”, “Concursos”, “Música”, “Cinema”, “Literatura”, “Artes
Plásticas”, “Teatro e Dança”. Ao clicarmos em “Assunto do dia” estarão disponíveis
várias matérias que foram apresentadas desde 23 de julho de 2008 até hoje, em um
agrupamento de que corresponde a 11 telas de web, totalizando aproximadamente
43

165 textos publicados18. Demarcamos o “Assunto do dia” na figura abaixo, onde


podem ser visualizadas também os links para as seções “Música”, “Multimídia”,
“Cinema”, etc.

Figura 8: Sinalização da seção “Assunto do dia” e da matéria de análise.

A seguir temos a continuação de uma das telas de web que trazem as


matérias disponíveis em “Assunto do dia”. Para melhor localização, sinalizamos onde
se encontra o nosso objeto – tela 4 – publicado em 16 de agosto de 2009. Podemos
ver ainda a sequência de telas de 1 a 11 que comportam todos os textos publicados
na seção, como citado anteriormente.

18
Isso no dia 10 de novembro de 2009. Mais tarde possivelmente será maior o número de matérias e
consequentemente maior o número de páginas que as reúne.
44

Figura 9: Sinalização da tela 4 da seção.

A reportagem foi escolhida de maneira aleatória, por ter sido publicada em


uma data mediana entre a primeira matéria disponível na seção e a data da
realização do estudo. É homogêneo, pois se compara perfeitamente aos outros
textos presentes na seção, fugindo assim da singularidade.

3.1.2 Material de análise

A reportagem tem como título: “Os artistas ainda precisam de gravadoras para
fazer sucesso?”. Traz logo no cabeçalho uma fotografia do músico Lucas Santtana,
que disponibiliza em seu site Diginois (www.diginois.com.br) as suas composições
para download gratuito. A matéria trata desta alternativa que os artistas da música
encontram hoje para divulgar seus trabalhos na internet.
No olho faz um apanhado sobre o que vai tratar, entre a história do músico
Lucas Santtana, a necessidade de uma boa estratégia de marketing para que os
músicos independentes façam sucesso e o fato de as gravadores estarem usando
essa exposição na internet como uma forma de “laboratório virtual” onde buscam
45

novas apostas. Logo abaixo do olho, três links nos guiam para outras matérias. São
eles19:
• Leia a matéria Revolucionária aos 16 anos, sobre a ascensão de Mallu
Magalhães;
• Veja o flash que recria a trajetória da cantora;
• Acesse o site Diginois, do músico Lucas Santtana.
O desenvolvimento da nossa matéria de estudo se dá logo após a listagem
dos três links, como podemos visualizar na figura a seguir:

Figura 10: Imagem da matéria de análise.

O texto da reportagem inicia fazendo referência – em seus dois primeiros


parágrafos – à cantora e compositora Mallu Magalhães. Mallu começou a ter grande
sucesso no ano de 2008, com 16 anos de idade, quando as músicas que gravava e

19
O conteúdo dos links será retomado no decorrer do estudo.
46

disponibilizava na sua página pessoal no My Space20 atingiram milhares de ouvintes.


Alcançou, consequentemente, grande notoriedade na mídia. A cantora continua
sendo o principal exemplo desse classe que utiliza a internet como “trampolim”.
Porém, a matéria deixa claro por meio de uma fala do empresário de Mallu,
Rafael Rossato Bifi, que não basta estar na internet para fazer sucesso. É preciso ter
uma boa jogada de marketing. "Mas não se alcança público e sucesso apenas por
estar na internet. Para um artista que não saiba fazer marketing, ou que não tenha
um empresário que cuide disso, as gravadoras são uma boa saída", ressalva.
A questão do marketing é o que se aborda na sequência do texto. É ele o
responsável pela elevação de uma banda ao cenário nacional. E hoje, esse é o
principal diferencial que as gravadoras oferecem: um profissional de marketing
experiente, já que as gravações e disponibilizações podem ser feitas em estúdios
caseiros.
Aí então, no primeiro subtítulo da matéria – “No Controle” – é que entra a
história do músico Lucas Santtana, que tem sua foto estampada no início. Lucas já
trabalhou em bandas de cantores famosos como Gilberto Gil e Marisa Monte. Hoje
tem carreira solo e mantém um site, o Diginois, onde disponibiliza suas músicas e
agenda de shows e atualiza um blog. Coordena sua carreira sozinho e afirma que é
necessário uma boa noção de logística para isso.
O outro subtítulo, “A internet é uma bússola” trata sobre as vantagens de se
ter uma página pessoal em rede social como o My Space. É uma vitrine e
proporciona um importante contato com o público. Além disso, serve como uma
bússola para as gravadoras, que vão atrás dos perfis mais acessados para terem
uma noção do que está no gosto do público, tornando-se bem maior a possibilidade
de um contrato, para quem está interessado.
A seguir podemos ver as referências que fizemos acerca do texto da matéria,
demarcadas na imagem.

20
O MySpace, segundo a Wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/MySpace) é um serviço de rede
social, criado em 2003, que utiliza a internet para comunicação online através de fotos, blogs e perfis
de usuário. Inclui um sistema interno de e-mail, fóruns e grupos. A crescente popularidade do site e
sua habilidade de hospedar MP3s fez com que muitas bandas e músicos se registrassem, algumas
vezes fazendo de suas páginas de perfil seu site oficial.
47

Figura 11: Destaque das referências do texto

O texto é finalizado e podemos perceber que o assunto não foi tratado de


maneira restrita. A revista utilizou-se de um assunto bastante tratado na época, que
foi a ascensão de Mallu Magalhães, como link para mostrar a história de um artista
48

não tão conhecido, mas que percorre um caminho artístico pela internet nos mesmos
moldes que percorreu a cantora. Além disso, houve contextualização quando tratou
da questão do marketing aliado à verdadeira função das gravadoras hoje.

3.2 MATRIZES DE ESTUDO

Definimos como matrizes de estudo do nosso trabalho as seis características


do jornalismo digital e as sete características do jornalismo sistema. Conforme citado
no capítulo 2, o jornalismo digital pode ser um meio bastante oportuno para o
exercício do jornalismo sistema, e são as áreas comuns a estas duas esferas que
pretendemos pontuar aqui.
Para isso, a análise do material da pesquisa é feita levando em consideração
a presença das características de cada uma das esferas. Temos, então, como matriz
do jornalismo digital as seguintes características: 1)Multimidialidade; 2)Interatividade;
3)Hipertextualidade; 4)Personalização; 5)Memória; 6)Instantaneidade, e como matriz
do jornalismo sistema as seguintes características: 1)O conteúdo apresentado é uma
totalidade composta de partes que estão inter-relacionadas e que interatuam; 2)É
mais que uma justaposição de partes informativas; 3)Não expões acontecimentos
separadamente, agrega-os em um contexto; 4)Estabelece relações com os leitores,
que contribuem para a construção do sentido e compreensão da realidade;
5)Acontecimentos interpretados desde a hora que acontecem até o seu desfecho;
6)Sistema aberto; 7)Prefere inovar a apegar-se a um formato.
Cada matriz composta de características está posicionada na tabela a seguir.
No cruzamento das matrizes encontramos zonas de aproximação. É nesta
aproximação que se materializa a prática do jornalismo sistema através da utilização
das características do jornalismo digital.
49

Tabela 2: Zonas de aproximação das características

Matriz do Jornalismo Digital


Hipertextualidade Multimidialidade Interatividade Personalização Memória Instanta
neidade
O Conteúdo é uma totalidade
de partes inter-relacionadas e
que interatuam
A B
Matriz do Jornalismo Sistema

É mais que uma justaposição


de partes informativas C D
Não expõe acontecimentos
separadamente, agrega-os
em um contexto
E F G
Estabelece relações com os
leitores, que contribuem para
a construção do sentido e
compreensão da realidade
H
Acontecimentos interpretados
desde a hora que acontece
até o seu desfecho
I
Sistema aberto
J
Prefere inovar a apegar-se a
um formato L M

Na sequência fizemos a descrição de cada um desses pontos


explicativamente, para que se verifique se é possível o agrupamento do jornalismo
digital com o jornalismo sistema.

3.3 ZONAS DE APROXIMAÇÃO

Aqui estão expostas e contextualizadas as zonas comuns entre o jornalismo


digital e o jornalismo sistema. A partir delas é possível perceber se há ou não o
exercício de um em função do outro. Entendemos ser necessário fazer as
considerações não exclusivamente sobre a matéria Os artistas ainda precisam de
gravadoras para fazer sucesso?, mas também sobre os complementos que são
apresentados (as matérias linkadas, site Diginois) por meio dos links presentes
(listados anteriormente), uma vez que complementos como esses se enquadram
50

perfeitamente no objetivo do estudo. Dessa forma, vamos utilizar a matéria que


escolhemos como estudo como ponto principal, porém não único.

Zona A: O Conteúdo é uma totalidade de partes inter-relacionadas e que


interatuam X Hipertextualidade:

É possível perceber a característica “o conteúdo apresentado é uma


totalidade composta de partes que estão inter-relacionadas e que interatuam” por
meio da hipertextualidade.
O recurso de hipertexto está presente em diversos momentos. São
disponibilizados três links no início da reportagem. Links estes que direcionam não
apenas para o conteúdo da própria revista como para outros sites, oferecendo
portanto, complementos à matéria. São eles:
· “Leia a matéria Revolucionária aos 16 anos, sobre a ascensão de Mallu
Magalhães”: reportagem de oito páginas que narra a carreira da cantora, suas
influências, seu modo de trabalho, estilo de vida. Disponibiliza mais dois links:
“Assista ao flash que recria a trajetória da cantora” e “Leia a crítica do disco de
estréia de Mallu Magalhães”;
· “Veja o flash que recria a trajetória da cantora”: Disponibiliza uma animação
em Flash, produzida pela revista, que descreve a carreira de Mallu.
· “Acesse o site Diginois do músico Lucas Santtana”: leva para um site, fora da
revista, mantido por um músico que disponibiliza suas gravações para
download gratuito. Dentro do site, Lucas mantém um blog atualizado. Ali,
encontramos muitos outros links, sejam para matérias relacionadas aos temas
tratados no blog (internos ou externos), seja para músicas, fotos e vídeos.
Dentro do texto da nossa matéria de análise também há links. Eles estão
configurados nas próprias palavras. São eles: Universal Music Brasil, Diginois My
Space.
Como percebemos, a leitura não é restrita, pode seguir por outros caminhos
além do texto que é apresentado. O leitor pode optar por sua própria leitura
hipertextual. E as matérias que aparecem relacionadas são de grande importância
para uma visão mais clara a respeito do assunto tratado.
51

Zona B: O Conteúdo é uma totalidade de partes inter-relacionadas e que


interatuam X Memória:

Percebemos os conteúdos inter-relacionados também na que se trata da


memória, uma vez que o leitor pode acessar outras matérias já publicadas na revista,
a partir da nossa matéria de análise. É o caso de Revolucionária aos 16 anos, que
leva para a reportagem publicada em outubro de 2008, na mesma seção. Já na
matéria Revolucionária aos 16 anos há um link para uma crítica assinada por José
Flávio Júnior intitulada A Força do Leãozinho também publicada em outubro de
2008, porém na seção “Música”. Portanto, o conteúdo da memória é apresentado
também como complemento, não está solto, sozinho. Está relacionado e facilita a
interpretação.

Figura 12: Exemplo de memória em matéria de outubro de 2008


52

Zona C: É mais que uma justaposição de partes informativas X


Hipertextualidade:

A característica “é mais que uma justaposição de partes informativas” também


pode ser entendida por meio da hipertextualidade, já que, como já exemplificado na
zona A, ela permite que as informações sejam interconectadas através dos links, e
não apenas justapostas. Não trata as informações de maneira isolada. Oferece
caminhos para que o leitor encontre informações relacionadas ao que começou a ler,
permitindo a contextualização.

Zona D: É mais que uma justaposição de partes informativas X


Multimidialidade:

O fato de informar além de uma justaposição pode ser reconhecido também


quando se trata da multimidialidade.
Os recursos multimídia estão presentes, já à primeira vista, na fotografia do
músico Lucas Santtana, no início da matéria. No decorrer da reportagem, mais
características multimidiáticas aparecem: No primeiro dos links listados logo no início
da matéria – “Leia a matéria Revolucionária aos 16 anos, sobre a ascensão de Mallu
Magalhães”, mais uma foto é disponibilizada, agora da cantora. O próximo link
disponível, tanto na nossa matéria de análise quanto na matéria Revolucionária aos
16 anos, é o “Veja o flash que recria a trajetória da cantora”. Nele, muitos recursos
multimídia estão presentes.
Com o uso do Adobe Flash Player21 foi criada uma apresentação que, em
ordem cronológica sob a forma de um caminho de jogo de tabuleiro, narra todos os
passos da carreira de Mallu. São 10 vídeos, 10 fotos e 4 arquivos de áudio, aliados a
10 blocos de texto que descrevem cada ponto do desenvolvimento da vida musical
da cantora.

21
Software utilizado para a criação de animações interativas que funcionam anexas a um navegador
de web.
53

Figura 13: Recursos da animação em Flash

No site Diginois, do músico Lucas Santtana, também há vários recursos


multimídia. São muitas fotos, tanto em uma seção chamada “Divulgação” quanto
aliadas aos textos do blog. Há também vídeos e muitos arquivos de áudio que
podem ser ouvidos no próprio site ou pode-se fazer o download, como podemos
visualizar a seguir:
54

Figura 14: Imagem do site Diginois

Tanto os links para outras matérias da própria revista, quanto os para site
externo são uma opção que a revista online utiliza para enriquecer o conteúdo,
mostrar os fatos sob diversos aspectos.

Zona E: Não expõe acontecimentos separadamente, agrega-os em um


contexto X Hipertextualidade:

A ligação de “não expõe acontecimentos separadamente, agrega-os em um


contexto” com o jornalismo digital se faz presente pela hipertextualidade, que
conecta o conteúdo da matéria com complementos úteis para sua interpretação. No
texto, percebemos esta agregação dos acontecimentos no momento que a matéria –
que trata de uma realidade nova que é a divulgação dos trabalhos pela internet, não
deixa de apresentar o papel que hoje desempenham as gravadoras. Também
contextualiza a matéria, que tem como foco principal o músico Lucas Santtana, com
a história de Mallu Magalhães.
55

Zona F: Não expõe acontecimentos separadamente, agrega-os em um


contexto X Multimidialidade:

A multimidialidade também serve como recurso de contextualização, já que


consegue – por meio da animação em Flash – expor diversas fases da carreira de
Mallu. Além disso, mostra os arredores da evolução de sua carreira, apresenta
pessoas que a ajudaram, momentos que marcaram, artistas que a inspiraram e as
suas primeiras gravações. Exemplificamos pela tela a seguir, que conta os passos
da cantora em julho de 2008:

Figura 15: Trajetória de Mallu em julho de 2008.

Zona G: Não expõe acontecimentos separadamente, agrega-os em um


contexto X Memória:

A memória, da forma como a tratamos antes – como recurso disponível


utilizado para o complemento da matéria, é consequentemente utilizada também
para contextualização. Isso porque os links das edições passadas apresentados são
de grande relevância para a agregação do caso do músico Lucas Santtana com o
contexto da situação dos artistas independentes, ilustrados pela história de Mallu
Magalhães.
56

Zona H: Estabelece relações com os leitores, que contribuem para a


construção do sentido e compreensão da realidade X Interatividade:

Podemos associar “estabelece relações com os leitores, que contribuem para


a construção do sentido e compreensão da realidade” com a característica da
interatividade.
Não podemos dizer que a participação do leitor recebe muito destaque nessa
matéria. Não há espaço para comentários, por exemplo. A possibilidade de interação
existe dentro da animação em Flash que recria a trajetória de Mallu Magalhães, onde
é possível que o usuário escolha o que quer fazer, seja assistir os vídeos, ver as
fotos, ouvir os depoimentos nos arquivos de áudio.
Já o site Diginois sim, apresenta espaço para comentários em todas as suas
postagens de texto. Além disso, as pessoas podem enviar para ele seus próprios
remixes22 de música, que ele disponibiliza na seção Remixagens do seu site.

Zona I: Acontecimentos interpretados desde a hora que acontece até o seu


desfecho X Mutimidialidade:

A questão dos “acontecimentos interpretados desde a hora que acontece até


o seu desfecho” poderia se mostrar presente por meio da instantaneidade, caso
fosse feito um acompanhamento de um determinado fato desde o seu acontecimento
e seguido todos os seus desdobramentos. Não acontece na matéria, porém há o
caso da carreira de Mallu Magalhães, que é exposta por meio do recurso multimídia
da animação em Flash desde o seu início até o dia da publicação da matéria. Não é
um fato isolado, mas serve de exemplo para a cronologia de interpretação de um
acontecimento.

Zona J: Sistema aberto X Hipertextualidade:

O sistema aberto pode ser observado através de todas as características do


jornalismo digital que a matéria apresenta. Elas oferecem variedade e dinamismo, o

22
Remix é uma música modificada por seu próprio produtor ou por outra pessoa. É, na maioria das
vezes, feita por um DJ que coloca efeitos adicionais tornando a música dançante.
57

que não encontramos em um sistema fechado. Porém optamos por pontuar apenas
a que predomina, que é a hipertextualidade. Ela possibilita a expansão da
interpretação por parte do leitor. O conhecimento não é limitado e há recurso para ir
além do que é mostrado no texto.

Zona L: Prefere inovar a apegar-se a um formato X Multimidialidade:

A característica que diz que o jornalismo sistema “Prefere inovar a apegar-se


a um formato” pode ser percebida predominantemente nos recursos multimídia. As
fotos, vídeos e arquivos de áudio disponibilizados na matéria e no site Diginois são
de grande valia para uma inovação acerca do formato. Sobretudo no recurso da
animação em Flash, quando apresenta uma alternativa inovadora sob vários
aspectos. Transmite a informação de modo interativo, didático e divertido.

Zona M: Prefere inovar a apegar-se a um formato X Personalização:

A inovação também acontece pelo aspecto da personalização. Vimos que na


matéria de análise não é encontrada a opção de personalização na maneira mais
usual (como o leitor escolhendo o layout da página, por exemplo), porém ela aparece
da forma que foi dita anteriormente – onde o leitor opta pelo percurso de sua leitura
hipertextual. Porém em um veículo impresso o leitor também opta pelo que quer ler e
o que não quer. Portanto a inovação fica mais acerca da animação em Flash.

Feitas as relações pudemos perceber que a característica de atualização


contínua não esteve presente de modo pontual na matéria de análise, portanto não
conteve nenhuma zona de aproximação. Isso porque a seção que estamos
estudando por si só configura-se na parte instantânea da revista, pois, sendo uma
publicação mensal, é ali que são publicadas as matérias nesse meio tempo, entre
uma edição e outra.
Não há uma periodicidade para as matérias publicadas na “Assunto do dia”.
Há meses em que se publica três matérias entre uma edição impressa e outra, e
meses em que se publica dez. Tudo depende do que acontece envolvendo o tema
cultura. Não se configura como a atualização contínua que podemos ver em jornais
58

online. Porém, seguindo o assunto cultura - a que se propõe tratar, podemos dizer
que há a instantaneidade.
Após a análise por meio da relação entre as características que definem o
jornalismo digital e as que fazem o mesmo com o jornalismo sistema, pudemos
perceber que o jornalismo digital pode realmente ser potencializador para o exercício
do jornalismo sistema. Praticamente todas as características de um vão ao encontro
das do outro, coexistindo.
59

CONCLUSÃO

Para desenvolver este estudo, tínhamos em mente três pontos principais: o


jornalismo sistema, a possibilidade de sua existência no jornalismo digital e uma
aplicação prática que envolvesse o jornalismo cultural. Para isso, escolhemos um
objeto que tivesse características que fossem ao encontro dos objetivos que
tínhamos em mente. Foi quando optamos pela revista Bravo! em sua edição online.
A apresentação do objeto nos deu uma ideia de como funciona o veículo, qual
sua posição no mercado cultural e qual sua abordagem acerca dos conteúdos que
se dispõe a tratar. A partir dessa imagem, fizemos um paralelo com o contexto
brasileiro de jornalismo cultural na atualidade. Percebemos que o tema cultura, hoje,
é trabalhado de maneira bastante diversa, diferente do que acontecia em anos
passados, porém a Bravo! procura manter um posicionamento crítico e sóbrio
perante a essas variações.
Quando expomos as características do jornalismo digital já tínhamos em
mente a associação com o que Fontcuberta (2006) define como jornalismo sistema:
aquele que preza pelo aprofundamento dos fatos jornalísticos e contextualização de
seus conteúdos. Para tanto, apresentamos a hipertextualidade, multimidialidade,
interatividade, personalização, memória e instantaneidade como potencializadoras
do exercício do jornalismo sistema. Em seguida pontuamos as características que o
define como tal – ainda que Fontcuberta não o faça – pois assim é possível que se
tenha uma visão mais concisa sobre o que ela defende. Assim também foi possível
esquematizarmos o quadro de observação que permitiu visualizar as zonas de
intersecção entre o jornalismo digital e o sistema na matéria estudada. A matéria de
análise integrava a seção “Assunto do dia” da Bravo!. Tratava das modificações
possíveis na carreira dos artistas, particularmente da música, com o advento da
internet.
Percebemos que, na reportagem analisada, todas as características do
jornalismo sistema eram possíveis de serem aplicadas junto ao meio digital, com
exceção da personalização em sua forma usual (porém ela ocorria a partir do
momento que o usuário optava por sua própria leitura hipertextual) e da
instantaneidade/atualização contínua, que não estava presente isoladamente na
matéria, porém a seção que comportava a reportagem já se configurava como a
parte de atualização contínua da revista.
60

A hipertextualidade é a que esteve mais presente e pode ser tida como a que
mais veio a contribuir com o desenvolvimento do jornalismo sistema, pois possibilita
um novo formato de narrativa. Ela permite a conexão entre as informações. Permite
que uma matéria seja complementada, linkando as informações com as de outras
matérias mais antigas – conforme foi feito com os links para as outras matérias – e
com outros sites – como no caso do Diginois, MySpace e Universal Musica Brasil.
Essas ações permitem a expansão do conhecimento do leitor. Ao final, pudemos
perceber que há, sim, a presença de elementos do jornalismo sistema na revista
Bravo! e que essa presença é viabilizada pelas características oferecidas pelo
jornalismo digital.
61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSIS, Francisco. Tópicos para (re)ler o jornalismo cultural brasileiro: gêneros


e formatos na imprensa especializada. Revista Elementa - Comunicação e
Cultura. Sorocaba, v.1, n.1, jan./jun. 2009.

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Trabalho apresentado no XXIV Intercom. Campo Grande, 2001. Disponível em:
<http://www.bocc.ubi.pt/pag/barbosa-suzana-jornalismo-online.html> Acesso em 02
dez 2009.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1988.

BEIGUELMAN, G. Incorporações e Mudanças. In: LINDOSO, Felipe. (Org.). Rumos


[do] Jornalismo Cultural. 1ª ed. São Paulo: Summus Editorial, 2007, p. 114-117.

BRAGA, José Luiz. A sociedade enfrenta sua mídia: dispositivos sociais de crítica
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64

ANEXOS

ANEXO A – Texto da matéria de análise:

Os artistas ainda precisam de gravadoras para fazer sucesso?


Artistas encontram na internet uma ferramenta para, sem a ajuda das gravadoras, conquistar
cada vez mais público. É o caso do músico Lucas Santtana. Mas profissionais alertam: é
preciso saber fazer marketing. Enquanto isso, as gravadoras observam o sucesso dos
músicos nesse laboratório virtual em busca de novas apostas

Por Sheyla Miranda

• Leia a matéria Revolucionária aos 16 anos, sobre a ascensão de Mallu Magalhães


• Veja o flash que recria a trajetória da cantora
• Acesse o site Diginois, do músico Lucas Santtana

Depois do sucesso estrondoso da cantora e compositora Mallu Magalhães na


internet - os acessos à sua página no MySpace já ultrapassam os três milhões -, a
jovem artista não demorou em alcançar outras mídias. Canais de televisão,
emissoras de rádio e os principais jornais e revistas do país interessaram-se pela
garota de 16 anos capaz de lotar, mesmo sem o suporte de uma gravadora, festivais
de música pelo país. Com o primeiro CD lançado de forma independente em
novembro do ano passado, Mallu segue como a principal representante do salto que
músicos podem dar utilizando a internet como trampolim. E de que é possível
continuar a carreira sem ter vínculos com alguma gravadora.

Rafael Rossato Bifi, empresário da cantora, aponta a internet como a ferramenta


mais eficiente para um artista que está começando na música, por conta fácil
divulgação do conteúdo produzido e colocado na rede. "Mas não se alcança público
e sucesso apenas por estar na internet. Para um artista que não saiba fazer
marketing, ou que não tenha um empresário que cuide disso, as gravadoras são uma
boa saída", ressalva.

E o marketing é tão importante que é a atual moeda de troca de grandes gravadoras


como a Universal Music. "A gravação em estúdio e a distribuição não são tão
complicadas de fazer como eram no passado, já que agora é possível fazer um CD
em casa, colocá-lo na internet e mesmo distribuí-lo em lojas. É muito difícil, no
entanto, que artistas independentes façam sucesso sem a ajuda dos profissionais de
marketing experientes que trabalham nas gravadoras. Eles conhecem
profundamente o mercado e são capazes de bolar estratégias eficientes para a
carreira de um músico ou de uma banda", argumenta Aline Leite, profissional de
marketing da Universal Music Brasil.

No Controle
65

Gerenciar uma carreira musical é tarefa árdua. É o que faz o músico Lucas Santtana
em sua carreira solo. Ele integrou as bandas de Gilberto Gil e Marisa Monte em
trabalhos realizados em grandes gravadoras, e hoje, fora delas, mantém o site
Diginois. Na página, Lucas disponibiliza seus álbuns para download gratuito, atualiza
diariamente um blog e informa sobre a agenda de shows.

"Fiz o Diginois, que é também um selo digital, por querer mais independência para
trabalhar minha música. As experiências que tive com gravadoras não me deixaram
satisfeito", diz Lucas. "Só que para ter um trabalho independente, à margem da
grande indústria fonográfica, é preciso organizar uma boa logística, pensar em tudo:
na gravação, na distribuição, em como divulgar. É muita coisa. Mas tem valido a
pena. Se o disco está divulgado na internet, até mesmo as cópias físicas vendem
mais", esclarece.

"A internet é uma bússola"

Vinculados ou não a grandes gravadoras, muitos artistas têm uma página na internet
para divulgar músicas e datas de shows, ou simplesmente, para fortalecer o nome na
rede - estar habilmente conectado é um requisito fundamental para atingir o público.
Daí a importância de redes sociais como o MySpace, que não só facilitam a criação
dos perfis músicos, como viabilizam a interação com o público.

Uma página com alta audiência pode ser o passaporte para quem está interessado
em um contrato com as grandes gravadoras. "A internet é como uma bússola para
as gravadoras. A recepção do público ao artista costuma dar um norte para os
investimentos da companhia", afirma o diretor do MySpace Brasil, Emerson
Calegaretti.

Um dos maiores conhecedores das plataformas digitais de divulgação de música no


país, Calegaretti acredita ser possível que um artista chegue ao sucesso e consiga
mantê-lo sem ter uma gravadora. E, como todos os outros entrevistados, destaca a
importância de uma publicidade estratégica, de um planejamento de carreira. Sem o
marketing, nada feito.
66

ANEXO B – Exemplo de matéria da seção Cinema, sobre o novo filme de Pedro


Almodóvar.

Ao final da matéria, um arquivo de áudio com trechos da entrevista com o cineasta:


67

ANEXO D – Seção que traz os 5 blogs da revista:


68

ANEXO E – Seção Multimídia, onde estão reunids vários imagens, vídeos e arquivos
de áudio de diversas edições da revista.

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