Este documentário explora as vidas de falantes de português em diversos países através de imagens do cotidiano. O filme mostra cenas de pessoas no Brasil, Portugal, Moçambique e Japão, focando na cultura de rua e na oralidade da língua. Embora tenha faltado imagens de Angola, o documentário conseguiu seu objetivo de destacar aspectos de identidade e diferença entre as vidas em português.
Original Description:
Resumo do documentário.
Original Title
Língua – Vidas Em Português - Margarete Fagundes Nunes
Este documentário explora as vidas de falantes de português em diversos países através de imagens do cotidiano. O filme mostra cenas de pessoas no Brasil, Portugal, Moçambique e Japão, focando na cultura de rua e na oralidade da língua. Embora tenha faltado imagens de Angola, o documentário conseguiu seu objetivo de destacar aspectos de identidade e diferença entre as vidas em português.
Este documentário explora as vidas de falantes de português em diversos países através de imagens do cotidiano. O filme mostra cenas de pessoas no Brasil, Portugal, Moçambique e Japão, focando na cultura de rua e na oralidade da língua. Embora tenha faltado imagens de Angola, o documentário conseguiu seu objetivo de destacar aspectos de identidade e diferença entre as vidas em português.
Doutoranda em Antropologia Social. UFSC. Resenha apresentada na disciplina de Antropologia Visual, ministrada pela professora Carmen S. Rial.
uem somos ns, os que pensam, falam e/ou escrevem por
meio da lngua portuguesa? O que nos une, alm da lngua? Quem so os duzentos milhes que dormem e sonham em portugus? O documentrio Lngua Vidas em Portugus revela no prprio nome o desejo de uma busca, um ponto de encontro entre tantas vidas, todas elas em portugus. E nesse jogo, de exibio de identidades e diferenas, que se constri o filme. O diretor Victor Lopes aposta nas linguagens urbanas: no movimento hip-hop que, apesar de ser uma linguagem global, apresenta em cada lugar significaes renovadas e contextualizadas da excluso racial e social dos africanos e descendentes de africanos. H uma presena forte dos sonhos da juventude: o menino do movimento hip-hop fala da excluso, mas no esquece dos seus sonhos. Os jovens moambicanos e muulmanos ricos tambm fazem o seu discurso de contestao e rebeldia. No Brasil, transitamos pelo cotidiano dos trabalhadores urbanos da economia informal, representado pela figura de um vendedor de balas, que tambm pastor de uma igreja pentecostal. Cenas do Rio de Janeiro, cenas do Brasil: nibus lotados, indiferena, vendedores ambulantes, proliferao e disseminao das novas religies, msica, botecos, encontros, batucadas. o Rio do Martinho da Vila, um negro que deu certo numa terra luso-afro-brasileira, talvez, ali, a prpria sntese que une Brasil, Portugal e frica. Victor Lopes fez boas tomadas do cotidiano de algumas vidas em portugus: em Portugal, Moambique, Brasil, Goa, Japo, mas faltaram imagens de Angola. Infelizmente, Angola aparece como citao: fala-se de Angola por intermdio de um jovem angolano radiILHA
Revista de Antropologia
296
Resenhas
cado no Japo. Entretanto, no faltaram brasileiros e outros falantes
da lngua portuguesa quebrando ao som do Terra Samba, no Japo. So a msica e a ginga baianas globalizadas. No qualquer msica baiana, justamente aquela cuja letra to acusada de empobrecer a lngua portuguesa e a prpria msica brasileira. Da linguagem coloquial, informal, do portugus de rua, vamos para o portugus formal, reconhecido na voz dos que tanto o amam: Saramago, Joo Ubaldo Ribeiro, Mia Couto. Arrisco a dizer que as cenas com Mia Couto so as mais belas do filme: pelas imagens, pelas falas do escritor que tanto exalta Moambique e sua gente. Portugal aparece diminudo, pequeno, frente riqueza cultural que disseminou por vrios cantos do mundo. Alis, as imagens de Portugal no so as mais significativas do filme. Talvez tenha sido intencional. H uma parte do filme em que Portugal e Brasil so comparados e o Brasil mostrado como o filho que superou o pai. O diretor apostou em vrias cenas com nibus, no Brasil e em Portugal. Cenas de rua, cenas de movimento, vidas em trnsito. A prpria nfase no Rap j traz essa dimenso da cultura de rua, valorizando uma esttica musical que tem a oralidade como marca e fora. No caso do Brasil, a presena do vendedor de balas/pastor torna evidente o domnio do portugus na oralidade: a lngua a garantia de sua sobrevivncia no dia-a-dia dos coletivos e base de sustentao do seu lugar no universo religioso. Ele, o vendedor de balas e pastor, o que pela lngua. Em geral, o documentrio conseguiu atingir aquilo a que se props: mostrar cenas do cotidiano de vidas em portugus, destacando aspectos de identidade e diferena. Do portugus brasileiro elegeu temas, fez escolhas. No marcou as diferenas regionais. De cada pas, optou por uma viso mais homognea. A diversidade limitou-se s nacionalidades, como se no interior de cada pas ela no estivesse colocada. Apesar disso, o documentrio emociona, mobiliza atenes e sentimentos em torno do pertencimento de uma comunidade outra, qualquer coisa trans que nos aproxima de outros sujeitos e de outros grupos, estejam esses em Angola, Moambique, Cabo Verde, Guin-Bissau, Portugal... ILHA