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Quarenta dias após o nascimento do seu Filho, Nossa Senhora dirigiu-se ao Templo para
oferecê-lo ao Senhor e pagar o resgate simbólico estabelecido na Lei de Moisés. Com toda a
piedade e amor, Maria ofereceu o Menino a Deus Pai e deu-nos exemplo de como deve ser o
oferecimento das nossas obras a Deus.
A procissão com os círios significa a luz de Cristo anunciada por Simeão no Templo – Luz
para iluminar as nações – e propagada através da actuação de cada cristão.
Quarenta dias após o seu nascimento, Jesus chega ao Templo nos braços
de Maria para ser apresentado ao Senhor, como mandava a lei judaica. Só
Simeão e Ana, movidos pelo Espírito Santo, reconhecem o Messias naquele
Menino. A liturgia recolhe no Salmo responsorial as aclamações que, de modo
simbólico, se cantavam muito provavelmente à entrada da Arca da Aliança.
Agora atingem a sua mais plena realidade: Portões, abri os vossos dintéis,
levantai-vos portas eternas: eis que vem o Rei da glória!2
Nossa Senhora preparou o seu coração, como só Ela o podia fazer, para
apresentar o seu Filho a Deus Pai e oferecer-se Ela mesma com Ele. Ao fazê-
lo, renovava o seu faça-se e punha uma vez mais a sua vida nas mãos de
Deus. Jesus foi apresentado ao seu Pai pelas mãos de Maria. Nunca se fez
nem se tornaria a fazer uma oblação semelhante naquele Templo.
A liturgia desta festa quer manifestar, com efeito, que a vida do cristão é
como uma oferenda ao Senhor, traduzida na procissão dos círios acesos que
se consomem pouco a pouco, enquanto iluminam. Cristo é profetizado como a
Luz que tira da escuridão o mundo sumido em trevas. A luz, na linguagem
corrente, é símbolo devida (“dar à luz”, “ver a luz pela primeira vez” são
expressões intimamente ligadas ao nascimento), de verdade (“caminhar às
escuras” é sinónimo de ignorância e de confusão), de amor (diz-se que o amor
“se acende” quando duas pessoas aprendem a querer-se profundamente...). As
trevas, pelo contrário, indicam solidão, desorientação, erro... Cristo é a Vida do
mundo e dos homens, Luz que ilumina, Verdade que salva, Amor que conduz à
plenitude... Levar uma vela acesa – na procissão que hoje se realiza onde é
possível, antes da Missa – é sinal de se estar desperto, em vigília, de se
participar da luz de Cristo, da vibração apostólica que devemos transmitir aos
outros.
Seus pais maravilharam-se do que se dizia d’Ele. Maria, que guardava no
seu coração a mensagem do Anjo e dos pastores, escuta novamente admirada
a profecia de Simeão sobre a missão universal do seu Filho: a criança que
sustenta nos seus braços é a Luz enviada por Deus Pai para iluminar todas as
nações: é a glória do seu povo.
“Uma gota de água, em si mesma, não é senão água; mas lançada numa
grande jarra de vinho, ganha outro ser mais nobre e torna-se vinho; e assim as
nossas obras, que por serem nossas são de pouco valor, acrescentadas às de
Cristo adquirem um preço inestimável, em virtude da graça que n’Ele nos é
dada”10.
III. SIMEÃO ABENÇOOU os pais do Menino e disse a Maria, sua mãe: Eis
que este menino está posto para ruína e ressurreição de muitos em Israel, e
para sinal de contradição. E uma espada atravessará a tua alma, a fim de que
se descubram os pensamentos escondidos nos corações de muitos11.
Jesus traz a salvação a todos os homens; no entanto, para alguns será sinal
de contradição, porque se obstinam em rejeitá-lo. “Os tempos em que vivemos
confirmam com particular veemência a verdade contida nas palavras de
Simeão. Jesus é luz que ilumina os homens e, ao mesmo tempo, sinal de
contradição. E se agora [...] Jesus Cristo se revela novamente aos homens
como luz do mundo, porventura não se transformou ao mesmo tempo naquele
sinal a que, hoje mais do que nunca, os homens se opõem?”12 Ele não passa
nunca indiferente pelo caminho dos homens, não passa indiferente agora,
neste tempo, pela nossa vida. Por isso queremos pedir-lhe que seja a nossa
luz e a nossa Esperança.
(1) Mal 3, 1; Primeira leitura da Missa do dia 2 de Fevereiro; (2) Sl 23, 7; Salmo responsorial,
ib.; (3) cfr. Ex 13, 2; 12-13; Lev 12, 2-8; (4) Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria
Santíssima, II, 6; (5) cfr. Lc 2, 24; (6) cfr. Itinerário da Virgem Eteria, BAC, Madrid, 1986, pág.
271; A. G. Martimort, La Iglesia en oración, Herder, Barcelona, 1986, pág. 978; (7) São
Bernardo, Sermão na purificação de Santa Maria, I, 1; (8) São Josemaría Escrivá, Forja, n. 44;
(9) São Bernardo,Sermão, II, 2; (10) Frei Luís de Granada, Vida de Jesus Cristo, VII; (11) Lc 2,
34-35; (12) K. Wojtyla, Sinal de contradição, Ed. Paulinas, São Paulo, 1979, pág. 228; (13) Lc
2, 35; (14) K. Wojtyla, ib., pág. 232; (15) cfr. Sagrada Bíblia, Santos Evangelhos, nota a Lc 2,
34-35.