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Para poder ser um bom artista da política, o príncipe, segundo Maquiavel, deve ter
“virtú” – sabedoria – para pensar as coisas certas em seu tempo certo. Segundo Maquiavel,
a “virtú”, a sabedoria humana, governa 50% ações, enquanto a fortuna, a sorte, o destino,
comanda a outra metade. Portanto é necessário, para obter e manter o poder, além de muita
sabedoria, que o príncipe possa contar com a sorte.
Da metade que cabe a “virtú”, Maquiavel elenca uma série de iniciativas que o
príncipe deve ter para que a fortuna não o atrapalhe. É necessário, segundo o autor, que o
príncipe tenha características de raposa e de leão – que seja astuto, mas que demonstre
força sempre que necessário. É necessário, também, que o príncipe não seja, sob nenhuma
hipótese, odiado pelo povo. Entre ser temido e amado, só é preciso não ser odiado. Entre ter
parcimônia ou ser generoso, para Maquiavel, o príncipe deve ser parcimonioso, para que
não seja chamado de miserável quando não tiver mais recursos para manter as regalias. O
príncipe deve sempre contar com um exército próprio e nunca contar com mercenários ou
com as armas de outros senhores, pois não são confiáveis.
Segundo Maquiavel, entre ser bom ou ruim, religioso ou crédulo, fiel ou traidor, é
sempre melhor ser a primeira opção, mas, como a natureza humana é má, o príncipe não
sobreviveria sendo sempre bom (o que também não é possível) entre tantos maus. Logo,
mesmo sendo bom, é sábio que o príncipe esteja sempre alerta para que possa quebrar
qualquer um de seus valores, a qualquer momento, para manter o poder.
Sendo impossível que um príncipe, como qualquer homem, seja bom o tempo todo,
e sabendo que é necessário para a manutenção do poder, afastar-se de seus princípios, o
príncipe deve sempre estar sempre atento para que sua aparência seja a melhor possível.
Todas as palavras do príncipe devem estar cheias de fé, religião, caridade, humanidade e
integridade, mesmo sabendo que é preciso ir contra tudo isso, por vezes, para manter o
Estado. Mesmo que a essência do príncipe não seja das melhores, para manter o poder, sua
aparência deve ser a de um homem inteiramente santo e bom.
É exatamente neste ponto que a obra de Maquiavel encontra o texto de José Luís
Fiori. Em “60 lições dos 90”, Fiori demonstra, a todo momento, a aparência que o neo-
liberalismo tem, contrapondo-a à sua verdadeira essência. Da mesma forma que Maquiavel
dizia ao príncipe, o “novo liberalismo” faz-se aparentar excelente, quando na verdade não o
é, para conquistar e manter o poder.