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RELATÓRIO T É CNI CO

PROJET O CIDA DE CRIA NÇA - ARAÇUAÍ / MG


ABRI L A JUNHO

2007

INTRODUÇ ÃO

“É PRECISO T ODA A ALDEIA PARA E DUC AR UMA CRIANÇA”

As “aldeias” e nvolvidas no projeto Cidade Criança mostram-se unidas em busca do objetivo de educar
as crianças de Araçuaí. É um projeto muito interess ante, em ocionante, agradável e prazeroso para
todos da aldeia. A s crianças se sentem valorizadas, estão m ais res ponsáve is, alegres e mais bem
cuidadas.

Atualmente, na zona rural, nas comunidades E ngenheiro Schnoor, Alf redo Gr aça e Baix a Que nte, o
proje to C idade Criança co nta com 11 mães c uidadoras, 5 agentes comunitárias d e educação infantil,
18 gestantes e 192 crianças; na zona urbana de A raçuaí, que reúne os núcleos Arraial, Nova
Esperança, Corre dor, P edregulho e Pi abanha, c onta com 11 mães c uidadoras, 4 agentes comunitárias
de educação infantil, 21 gestantes e 218 c rianças.

ATIVID ADES DE AC ORDO C OM O PLANO DE T RABALHO E AVA LIAÇÃO (PT A) – OBJETIV OS

As atividades do proje to Cidade Criança acontece m sem pre com o f oco nas quatro dimensões do
Plano de Trabalho e A valia ção: Acolhimento, C onvivência, Apre ndizage m e Oportunidade. É comum a
mesm a atividade c ontemplar mais de uma dimens ão, j á que s ão todas i nterligadas.

Pr oj eto Ci da d e Cri a n ça - Ar aç u aí / M G 1
• Atividades de Acolhimento

Juntar toda a comunidade para cuidar das crianças é o lema do projeto C idade Criança. C om ênfase
nesse l em a, decidiu-se juntar toda a comunidade de A lfredo G raça para cuidar de Cle ide e seus filhos.
Como mostra os relatórios anteriores, a história de C leide vem s endo acompanhada pass o a pass o.
Ela é uma pess oa que sofre de alcoolismo, motivo pe lo qual teve seus filhos gêmeos, agora com três
meses, af astados dela por dois meses. Atualmente, e la es tá em tratamento com o ps iquiatra A ntônio
Carlos, no Ce ntro de A poio Psíquico Social (CAPS), mas ainda ass im continua ingerindo bebida
alcoólica. A e quipe es tá se mpre procurando fo rmas de ajudá-la por meio de conversas e de apoio no
seu dia-a-dia com os filhos.

O Conse lho Tutelar tem feito visitas periódicas à casa de Cleide, pois é constante a cobran ça da
socie dade e da igreja em retirar os bebês da mãe. P ara evitar que isso aconteça, uma tentativa do
proje to foi m obiliz ar toda a comunidade, envolve ndo repres entantes da Ass ociar*, proprietários de
bares e de locais que vende m bebidas alcoólicas, orie ntando-os a não dar nem vender bebida a ela. A
comunidade s e propôs a ajudar.

Outra es tratégia no se ntido de valorizá-la e de ocupar seu tempo ocioso é envolvê-la em alguma
atividade. Cleide foi convidada a fazer parte da equipe de mães-cuidadoras, proposta fe ita pela
própria equipe e que f oi aceita com muita ale gria por todos – C leide, mães e comunidade. Em um
prime iro m om ento, ela irá f aze r seu trabalho acom panhando u ma das c olegas.

As te ntativas de apoio, as convers as e as oportunidades ofe recidas a Cleide estão produzindo bons
resultados, pois a auto-estima de la está bem mais elevad a: ela está mais feliz, mais bonita e bem
cuidada e já f az planos com a bolsa que vai recebe r do trabalho. O grupo se sen te feliz e m ais
fortalecido em poder contribuir com a felici dade e a re cupe ração de Cleide.

* A A ssociar é uma instit uição que atua em várias comunidades rurais, dese nvolvendo um trabalho
social.

Em Alfredo Gr aça e Baixa Quente, temos conse guido boas parcerias com a Ass ocia r. Sempre que
procurada, e ssa e ntidade apóia, cede es paço para reuniões, se nta junto com a com unidade para
dialogar e tc.

Durante todo o período de gravidez, a gestante rece be vis itas da mãe-cuidadora em su a cas a para
incentivá-la a fazer as consultas do pré-natal, cuidar da beleza, elevar a auto-es tima e preparar-se

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para receber o filho que vai nasce r. São vários dias de a prendizagem, m as percebe-se que as mães
ficam divid idas entre os conhecime ntos das educadoras e as c rendices dos mais velhos. Às vezes, e las
não coloca m em prátic a o que a prendem não por não acreditar no trabalho, mas por insegurança e
fragilidade. Agora é mais raro, m as ainda acontece de trocarem o álcool abs oluto por azeite de
mamona, de f aze rem us o do bico, porque algué m diz que deixa a criança mais calm a, além de
utilizarem mamadeira, pois acham que o le ite do peito é f raco.

Diante de todas essas dificuldades, as m ães -cuidadoras não desistem das famílias e estão sem pre
buscando novos meios de convencer as mães a mudar um pouco a rotina. O ins trumento m ais
pode roso é a fre qüência das visitas, a insistê ncia e o exemplo do que e las próprias fazem e m s uas
cas as.

A atividade que c ons iste em en viar cartas aos pais que estão no corte de cana e stá muito interes sante.
As crianças reconhecem a fala dos pais, co nversam c om eles e procuram por eles dentro do aparelho
de som. Os desen hos são bonitos, feitos com carinho, e as fotos s ão estudadas. Es colhe -se tudo o que
parece interessante para mostrar ao pai: os fi lhos que nasce ram, os leitõezinhos que n asceram, as
prime iras plantinhas da horta, a roupa nova, o brinquedo com prado com o dinheiro e nviado. As mães
gestantes mostram o tam anho da barriga e o enxoval sen do fe ito com o dinheiro enviado pelos
maridos. As mães que têm filh os trabalhando no corte c horam e se emocionam muito ao ouvir a voz e
os motivos que os l evaram a buscar ess a alternativa de trabalho.

Essa é um a atividade r ica em term os de acolhim ento, carinho e inf ormação. Todos esperam ansios os o
retorno das cartas enviadas. O envelope que vai para o pai é pesado: leva cartas, f otos, desenhos, e é
perfum ado também. O retorno obtido com essa atividade revela reações emotivas, prazerosas e
acolhedoras. Este ano, certamente, pais e filhos estarão mais unidos, mesmo com toda a dis tância
existente e ntre eles.

• Atividades de Convivê ncia

Uma das cas as atendidas pelo projeto Cidade Criança represe nta um grande des afio para a equipe
de e ducadoras. Nela mora uma f am ília que ve m dificultando o atendimento às cria nças. S ão três
mulhe res – todas elas mães – que vivem n a mes ma casa com u m ú nico homem – “marido” das três – e
9 crianças filh as do quarte to. Um a das maiores dificuldades para desenvolver o trabalho com essa
família é encontrar as mulheres em c asa, pois todos os dias elas vão para o mercado com o marido,
que tem uma banca na fe ira.

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Depois da fe ira, e las vão para o mato b uscar lenha e para o rio lavar roupas, e nquanto o marido
descansa. O marido tem uma criaç ão de porcos ao lado da casa, e uma das paredes é a mes ma do
chiqueiro, onde existem 32 porcos. Dentr o da própria casa, dois quartos se rve m de chique iros de
porcos para engorda. O mau cheiro é muito f orte, e as crianças convivem o te mpo todo c om essa
situação, sen do até mesmo obriga das a limpar e a cuidar dos p orcos. E ncontram-se muitas mos cas,
cachorros doentes e gatos pelo quintal.

Ness a cas a, o projeto ate nde quatro c rianças e ntre 1 e 5 anos. A m ais n ova, de 1 ano e 4 meses, teve
o braço deslocado ao nasce r por e rro médico. Hoje, está f aze ndo f isioterapia e aos poucos es tá
respondendo aos estímulos e recuperando os movime ntos. A m ãe -cuidadora responsável pela família
também f az ex ercícios para ajudar na recuperação da c riança, que me lhorou m uito com as visitas.

Diante dessa situação, as e ducadoras propuse ram à família que participe do grupo de produção aos
domingos, com revez amento das educadoras. A e quipe atenderá essa família em casa, pois as
mulhe res não podem ir à c as a de outras pessoas para participar do grupo de produção e não pode m
recebe r vis itas. As educadoras vão aos poucos vencendo barreiras e freqüentando a casa da famíli a.
Com o gru po de produção, pretende-se que a família se res ponsabilize pelos cuidados d os f ilhos, pela
auto-es tima das pess oas e pe la limpeza da cas a, do quintal e da be ira do rio.

O res gate e a valoriz ação da cultura s ão aspectos de sum a importância para a construção da
ide ntidade de c ada criança. A partir das r odas de viola, as pe ssoas encontram os amigos, relembra m
os tempos pass ados, se divertem e repass am para as crianças a musicalidade dos pais e dos avós.

Em todas as comunidades, uma vez por mês, sanf oneiros, violeiros e tamborzeiros reúnem-se e m
algum lugar, onde as pessoas cantam rodas, jogam versos, relembram s uas raízes e dança m
batuques. Crianças, jovens e adultos participam ativa mente dess a atividade de convivência,
valorização e aprendizagem.

Os grupos de produção estão aconte cendo de 15 e m 15 dias, a pe dido das pessoas das
comunidades. A participação nos grupos te m aumentado a cada e ncontro, e um participante vai
convidando o outro para o próximo. Já é um compromisso das pess oas ensinarem e participarem
desses encontros, que têm propiciado, a lé m da convivência, aprendizagem e dist ração.

É u m momento de colocar as c onversas e m dia e de apre nde r algo dife re nte e ef icaz n o cuidado com
as crianças. Já foram produzidos doces de mamão, xaropes contra gripe, f arinha e nrique cida, x am pu
contra piolho e c aspa, pomada cic atrizante, sabão c aseiro, pasta de brilho, torta de verduras, f anta

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caseira etc. A cada encontro, surge uma novidade, deixando as pess oas na expectativa do que irá
acontecer no próximo. Com tudo, is so as c rianças estão mais be m c uidadas e mais saudáveis.

Segundo Dona Maria, coorde nar o gru po de produção e m su a casa foi uma grande felicidade, pois
relembrou o te mpo em que lavava roupas no rio com as a migas, contava c aus os, esquecia um pouco
dos problemas do dia-a dia. O convite fei to por Dona M aria ale grou o grupo de e ducadoras, pois
antes e la estava se mpre de car a fechada e nunca quis fre qüentar o grupo n as casas vizinhas. F oi u ma
grande vitória.

A pasta de brilho, segundo Dona Lia, da c omunidade de Alfredo G raça, está contribuindo para ajudar
na re dução das despesas da c asa. Antes, e la gas tava cinco barras de sabão por mês e hoje cons ome
apenas três, representa ndo um a ec onomia que faz dife rença n o orçamento doméstico.

• Atividades de aprendizagem

Brincar é u ma das atividades fundame ntais para o desenvolvim ento da identidade e da autonomia da
criança. A travé s das brincade iras, as crianças podem dese nvolve r algumas cap acidades importante s,
como a atenção, a f ala, a imaginação, a memória, o raciocínio, a m otricidade e, principalmente, a
socialização e a descoberta do mundo à s ua v olta.

Uma vez por sem ana, as crianças brincam em casa com a e ducadora; em out ro dia, as e ducadoras
promovem um encontro com todas as crianças de 1 a 4 anos nas praças, no campo de f utebol, na
horta. É um m ome nto de brincar com outras crianças em u m loc al difere nte do es paço domés tic o.
Com isso, as educadoras prestam ate nção no comportamento e no desenvolvime nto de cada um a.
Caso obser vem algo dife rente, iss o é c onvers ado primeiramente na equipe e depois com os pais, que
às ve zes n ão c onseguem perceber ou n ão ace itam e ve ntuais deficiências.

Ana C ris tina Rezende Peg o e Tâmara Souza Braga, por e xem plo, são duas crianças de 4 anos que
ainda não conse gue m falar nada. A mãe-cuidadora está se mpre incentivando as duas meninas a
falar, usando para iss o mús icas e brincadeiras. Percebe -se um grande dese jo das crianças em se
comunicar, mas é preciso um tratamento com um especialista. A m ãe já procurou e está aguardando
uma c ons ulta c om a fo noaudióloga para iniciar ess e tratamento.

Na c omunidade de Enge nheiro Schnoor, a horta está mais bonita e c olorida. As m ães -cuidadoras, as
crianças do projeto Se mentinha e algumas pessoas da comunidade se uniram para trabalhar com a
permacultura na horta, cuidando melhor do s olo, reaproveitando as folhas para us ar como adubo

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orgânico, fazendo mandalas e tc. A horta conta com três mandalas, que serviram de experiência para a
comunidade.

Trabalhar o com promiss o ambiental tem sido um des afio interess ante para a e quipe. Quando
encontram litros descartáveis pelas ruas, as crianças recolhem e levam para usar nas m andalas da
horta. Elas sabem que folh as secas, galhos e papel viram adubo orgânico e que plásticos e p apel de
bala c aus am danos ao so lo.

Em parce ria com a Escola Estadual de E ngenheiro Schnoor, as e ducadoras do projeto C idade C rianç a,
junto às crianças e alunos da es cola, deram início a uma atividade de arborização do cam po de
futebol da comunidade. C ada crian ça s erá responsável por plantar uma árvore e ajudar a cuidar de la.
Essa é mais uma inic iativa no sentido de e nvolver crianças, pais e e ducadoras e m prol da preser vação
do meio ambiente.

As mães-cuidadoras e os agentes comunitárias de educação inf antil são conhecidos e i dentif icados por
toda a comunidade, principalme nte pelas crianças, por caus a das bolsas de saco de algodão que
usam no dia-a-dia. C ada um a confe ccionou a sua com a ajuda de uma colega e muita criatividade,
para deixar a bolsa bem bonita e atrativa. Nelas são colocados os brinque dos e livros us ados no
trabalho. Ao pas sar pelas ruas, as crianças gritam c om alegria: “Lá vem o proje to!”. E ficam felizes,
pois s abe m m uito bem o que tem dentro de cada uma.

As oficinas de boneca re alizadas nos bairros Arraial e Baixa Quente contaram com a parceria das
educadoras do projeto Se r Criança. F oi um momento de troca de aprendizage m par a o grupo, pois as
pessoas puderam contribuir umas com as outras, revelando um a atitude de cooperativism o e de
valorização das habilidades alheias.

O retorno dess a ativ idade está s endo bem positivo. A pós a prim eira of icina, outras já aconteceram
com um novo público, coorde nadas pelas mães-cuida doras, e várias famílias já têm em casa uma
bone ca de pano. As mães-cuidadoras buscam se mpre usar o tempo que têm livre em cas a para
confec cionar bonecas para dar de presente a algué m. Isso é in teressante, pois as pesso as re lem bram o
tempo de crian ça, des cobrem habilidades e fazem alguém feliz.

Em junho, aconteceu o 3º módulo da Oficina de S aúde com a enfe rmeira A driane. O foco dessa
oficina foi mostrar a difere nça entre dese nvolvimento e c rescimento das crianças de 0 a 04 anos. O
desenvolvimento é o proce sso pelo qual o indivíduo constrói ativamen te as relações que es tabe lece
com o ambiente f ísico e social, suas caracterís ticas biológicas e s ociais, a fala, o andar. J á o

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crescimento é me dido pelas m odificações de tamanho e peso.

Esse momento es tava sendo es perado há muito tempo pelas e ducadoras, que tive ram a oportunidade
de sanar dúvid as s urgidas após os primeiros m ódulos e aprender m ais sobre a criança na f aixa etária
de 0 a 4 anos. A oficina irá contribuir muito com o trabalho, e as e ducadoras se sentem m ais
pre paradas para acom panhar o dese nvolvime nto de cada criança, f icando atentas à respos ta d ada
aos estímulos.

• Atividades de O portunidade

As mães-cuidadoras e agentes comunitárias de educação infantil do proje to Cidade Criança tiveram a


oportunidade de multiplicar a aprendizagem e o conhecime nto adquiridos junto às e ducadoras do
proje to Se r Criança, e m uma roda de b ate-papo s obre o proje to e a partir do vídeo sobre as atividades
realizadas no trabalho. Foi uma apres entação tranqüila, na qual as pess oas puderam sanar dúvidas
sobre os cuidados com o bebê, a mass agem com a técnica Shantala, o uso do bico, da mamadeira e,
principalmente, das músicas que tranqüilizam e de ixam o ambiente mais calmo.

Na oportunidade, as ges tantes do projeto Ser Criança ganharam uma massagem Shantala com óleo
de girass ol e essê ncia de alecrim, produzido pe las próprias educadoras do Cidade Criança. Essa
mass agem ajuda a aliviar as dores nas costas e n as pernas da ges tante e é relaxante. No bebê, além
de acalmá-lo, diminui as dores de barriga caus adas por gases e fortalece a musculatura, ajudando-o
a cam inhar com m ais seg urança.

Particip ar da Of icina de Pe rmacultura coordenada por Luci Legan, do Instituto de Pe rmacultura


Ecovilas do C errado (IP EC), foi mais uma oportunidade no sentido de mudar a concepção das pess oas
em re lação aos cuidados com o s olo e o meio am biente. As educadoras do projeto C idade C riança
partici param ativame nte da oficina, tir aram dúvid as sobre a permacultura, aprende ram a cons truir
habitats e prometeram dissem inar nas c om unidades todo o aprendizado ad quirido no c urs o.

A visita ao Sítio Maravilha contribuiu para ampliar os conhecimentos dos participantes do curso,
mostrando na prática a aplicação dos conhe cime ntos adquiridos. O conceito de sus tentabilidade f oi
entendido de f orma mais c lara nesse curs o. O grupo mudou alguns conce itos e já pratica hábitos que
permitem ter um com promiss o ambie ntal mais en raizado e cons ciente, que vai sendo repass ado às
crianças n os cuidados com as h ortas.

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A c om unidade de Baixa Quente conta com um a es cola es tadual que recebe alunos do ensi no infantil,
fundame ntal e m édio de oito comunidades próximas, s omando um total de 500 alunos, e tem
enfre ntado alguns problem as sérios de relacionamento com os estudantes. E m junho, a pe dido da
direção da es cola, f irmou-se u ma parceria entre o proje to Ci dade Cr iança e a es cola.

Algum as atividades já estão acontece ndo c om o objetivo de aproximar os pais da escola, por meio de
grupos de produção, rodas de contação de história e principalmente do trabalho e m grupo realizado
com os alunos. S ão atividades que ele vam a auto-estima, a valorização, o res peito e o cuidado com o
espaço, a partir da construção das m andalas, da horta, das pinturas com a tinta de terra, a fim de
deixar a escola mais bonita e aconche gante, mas principalmente m ais aberta para a comunidade.

Além do relacionamento difícil dos alunos, que riscam as paredes, brigam entre si, lancham e deixam
pratos e talheres sem lavar e destroem os be bedouros, uma das dificuldades encontradas na es cola
são os próprios profess ores, que usam diversos meios para castigá-los. Os porcos também contribue m
para a degradação do es paço, pois andam s oltos pe las ruas e arrancam a tela que cerca a escola,
danif icando as plantas que ali exis tem.

Recenteme nte, um fato interes sante aconteceu na comunidade : a expos ição dos t rabalhos feitos pelas
educadoras, com o vasos pintados com tinta de terra, relatórios f otográfi cos do projeto Cidade
Criança, b rinquedos e produtos confeccionados nos grupos de produção. Foi u ma ótima oportunidade
para que escola e com unidade pudesse m c onhecer melhor o trabalho do proje to.

A partir daí, a es cola convidou as e ducadoras para ministrar aos alunos uma oficina de confecção de
cartões pintados com tinta de terra. Os cartões são us ados para prese ntear os padrinhos das c rianças
apadrinhadas pela Associar – alguns moram no Bras il e outros no exte rior. As educadoras do projeto
Cidade Criança e stão fel izes pelo reconhecimento e principalmente por contribuir e disseminar o
aprendizado para outr as pessoas.

A casa de Dona P retinha, u ma de n oss as m ães -cuidadoras, foi totalmente pintada por seu marido c om
tinta de terra. O objetivo f oi ter uma casa m ais bonita e, mais do que iss o, valorizar o trabalho da
esposa. A surpres a preparada por ele s ó não f oi maior porque a es posa havia s eparado aquela cor de
terra para trabalhos es peciais. Ao final, todos acharam a casa linda.

As crianças da Es cola Estadual Is altina Cajubi estão tendo a oportunidade de participar de me diações
de leitura durante o recreio. As atividade s com os livros mostram um retorno positivo, contri buindo
para deixar as crianças m ais calmas e aume ntando o gosto pe la leitura. As educadoras procuram

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levar os livros a todos que não têm acess o a e les, com o pessoas e nfermas e idosas. E qualquer lugar
vira s ala de leitura: embaixo das árvores, n os botecos, nas p ortas de igrejas, nas praças etc.

Crianças e pais es tão participando ativame nte dess a atividade, dentro e fora de casa. A me diação tem
contribuído para que as pess oas procurem mais os livros das algibeiras e bornais da F olia de Livros.
Como a demanda ve m crescendo a cada dia, f oi precis o triplica r as algibeiras, que pass aram de duas
para seis, e aume ntar o número de bornais de dois para quatro, para atender a todos os interess ados.

As mús icas instrumentais usadas duran te as m assage ns contribue m para deixar crianças, gestantes e
educadoras mais calm as. Se gundo as e ducadoras, o resultado é nítido quando se us a a música
ins trumental, pois as fam ílias não têm o hábito de ouvir uma música mais calma e de me lhor
qualidade. Muitas vez es, a música ouvida no dia-a-dia das famílias contribui para agitar ainda m ais
as pessoas. É preciso corage m para ouvir um som novo, ace itá-lo e até m esm o avaliá -lo com o algo
positivo. Essa é uma das o portunid ades que o proje to Ci dade Criança está proporcionando nos l ares:
mais c alma e harmonia através da música.

GEREN CIAMENTO DO PROJETO

O aumento do número de re uniões com a equipe de c ampo e a participação de mais pess oas do
CPCD vêm contribuindo para que o projeto Cidade Criança sej a acompanhado m ais de perto e
receba mais contribuições de todos. O gere nciame nto é prese nte, ativo, interessado e c ontribui para o
andamento das atividades da melhor fo rm a possíve l.

DESEMPENHO DOS E DUCA DORES

Os e ducadores já conseguem f aze r se u trabalho de forma segura, r espeitosa e educativa, mes m o se m


uma c oordenação diária por perto. P or outro lado, a coordenação procura ficar à dis tância, para que
todos possam se envolver ao m áxim o, s entindo-se também responsáveis pelo s ucesso do projeto
Cidade C riança. As intervenções são fei tas s em pre que necess ário, aco ntecendo de form a m ais
escas sa, para que equipe tenha mais tempo para es tudos e of icinas.

Atualmente, a equipe da cidade conta com um número maior de educadoras, pois a demanda
também é maior n a zona u rbana. É poss ível vivenciar a s atisf ação econ ômica e m todos os momentos

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de convers a e ntre o grupo, os v alores hum anos e cultur ais estão m ais prese ntes nas atividades com as
crianças e seus f amilia res e mesmo os educadores mais novos já se apropriaram da metodologia do
proje to. O cuidar da c riança é algo que conquista todos os envolvidos.

ENVOLVIMENTO DAS F AMÍ LIAS E D AS COMUNIDADES

As famílias e as comunidades se e nvolvem muito e m todas as atividades do Cida de Criança. A


mediação de leitura e os grupos de produção estão abrindo ainda m ais as portas das cas as para o
proje to. As pess oas se envolvem, ajudam no que é possível, e mesmo quem tem dif iculdade de
locomoção ou outras def iciências ( paralisia, derrame, retardo mental, dif iculdades na fala etc.) pode
partici par do que é proposto.

Os grupos de produção vêm obtendo avanços surpreendentes. Du as f amílias que há muito resis tiam
ao grupo de produção já se integraram: uma delas aca bou convidando o grupo para fa zer o próximo
encontro em s ua c asa e a outra, que n unca havia participado dos grupos n a comunidade, aceitou que
fosse feita uma atividade de produç ão em s ua c as a, no domingo, que é o dia e m que todos os adultos
estão pres entes. Foi um grande avanço para a e quipe, que se mostra fe liz e mais conf iante. Essa
mudança aumentou a auto -es tima e a cre dibilid ade de todos.

Na zona u rbana, a equipe das educadoras do projeto Cidade Criança f oi convidada a participar da 1ª
Conferência M unicipal de Políticas para as Mulhe res. As palestras foram ministradas por Maria de
Nazareth Barreto de C arvalho, vice -presidente e presidente interina do Conse lho Estad ual da Mulher
de Minas Gerais, e por Maria do C arm o Ferre ira da Si lva, secre tária adjunta da Sec re taria Espe cial de
Políticas Pú blicas de Igualdade Racial.

Durante a Conferência, f oi discutida a importância de se conhecer e e ntender a “Lei M aria da Penha”,


que su rgiu para asse gurar às vitimas da violência doméstica a possibilidade de criar em A raçuaí uma
delegacia da mulher. F oi de su ma importância a participação das educadoras nesse ev ento, pois e las
vivenciam essa re alidade brutal contra as mulheres no dia-a-dia de seu trabalho. Em N ova Esperança,
um dos bairros perifé ricos de A raçuaí, duas mulheres f oram vítimas de ass assinatos pelos m arid os. No
dia-a-dia, as e ducadoras sempre se deparam com si tuações parecidas, se m sabe r como orientar as
pessoas. Nesse sen tido, a Conferência deu a e las me lhores c ondições de argumentar e de orientar as
pessoas.

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AVANÇOS OBTID OS N O DESE NV OLVIME NTO DOS OBJETIVOS - PT A

• Índices Qualitativos

- Maior participação e e nvolvimento nos g rupos de produção.


- Maior valorização dos livros.
- Crianças c om auto-estima m ais ele vada.
- Crianças m ais s adias.
- Crianças m ais felizes.
- Valorização do projeto Cidade Criança.
- Mais c rianças m am ando no peito até os seis meses.
- Menos crianças chupando bico.
- Educadoras com auto-estima mais elevada.
- Participação de Cleide na eq uipe de mães-cuidadoras.
- Parceria com as es colas estaduais de E ngenheiro Sc hnoor e Baixa Quente.

• Índices Quantitativos

- 01 oficina de confecção de bonecas na com unidade de Baixa Quente, coordenada por uma
educadora do projeto Ser C riança.
- 01 oficina de confe cção de bonecas no bairro Arraial, coordenada por uma educadora do projeto
Ser C riança.
- 21 bonecas confeccionadas nas oficinas.
- 01 ofi cina de bonecas coordenada pelas m ães -cuidadoras e pelas agentes comunitárias de
educação inf antil de Baixa Quente.
- 02 ofi cinas de saúde – crescimento e desenvolvime nto da criança de 0 a 6 anos – coordenadas
pela e nfermeira Adriane, de Curvelo.
- 35 cartas escritas para os pais que trabalham no corte de cana, sendo uma carta-envelope para
cada pai.
- 05 fotos de cada f amília e nviadas aos pais no corte de cana.
- 02 oficinas de c onfecção de cart ões de tinta de terra em Baixa Que nte.
- 35 cartões de tinta de terra confeccionados pelos alunos da escola de Baixa Quente.
- Aume nto do núme ro das algibe iras de 2 para 6 e dos bornais de 2 para 4, para atende r a todos os
interes sados.
- 192 crianças sendo ate ndidas na zona rural.
- 218 crianças sendo ate ndidas na zona u rbana.

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- 18 gestantes se ndo atendidas na zona rural.
- 21 gestantes se ndo atendidas na zona urbana.
- 11 mães-cuidadoras e 5 agentes comunitárias de e ducaç ão inf antil atuando na zona rural.
- 11 mães-cuidadoras e 4 agentes comunitárias de e ducaç ão inf antil atuando na zona urbana.

DIFICULDADES EN CONTRA DAS

Em todo trabalho, são encontradas dificuldades, mas são elas que perm item a bus ca de soluções.
Apes ar dos problemas vis íveis, as educadoras não desanimam diante dos obstáculos, m ostrando-se
determinadas, lutadoras e com grande dese jo de transf ormar, inovar e faze r a dife rença, com a
certez a de es tare m contribuindo para proporci onar, a cad a uma das crianças da comunidade, um
futuro me lhor.

Convencer as mães a trocar o azeite de mamona pe lo álcool absolu to, a não us ar bico e a amame ntar
as crianças n o peito até os s eis meses s ão dificuldades que o grupo aos poucos vai sanando para
atingir se us objetivos.

Em A lfredo Graça, convencer e ajudar Cle ide a não fazer us o de bebidas alc oólicas está se ndo um
desafio para a com unidade, para as e ducadoras e, principalme nte, para a própria Cle ide.

SÍNTESE

O projeto Cidade Cria nça tem c onquistado es paço s ignif icativo na vida das crianças, dos adultos e
agora tam bé m dos idosos. A tividade s pensadas para as crianças em suas cas as estão ganhando a
apreciação dos idosos, como acontece nas rodas de contação de histórias e agora mais ainda com a
mediação de le itura. A me diação é um a atividade de leitura de his tórias fe ita e m c asas, praças, bares,
cre ches, e scolas e onde m ais o projeto Cidade Criança f or aceito.

Os livr os têm agora um novo valor, são be m cuidados e utilizados por um número cada vez maior de
pessoas de todas as idades. As crianças estão m ais confiantes, ale gres e participativas. O projeto
Cidade C riança oferece sempre novid ades e as crianças a cada dia nos dão ânimo novo, força,
vontade, que reres e fazeres diversos e prazeros os.

A conquista das f am ílias se dá um pouco a cada dia. A lgum as s ão mais dif íce is, outras m ais

Pr oj eto Ci da d e Cri a n ça - Ar aç u aí / M G 12
tranqüilas, mas todas têm igual valor e importância. Com c erteza, ter a Cle ide junto de nós é algo
muito rico para ela, m as é mais rico e importante para nós, que tem os a chance de cuidar de uma
pessoa tão es pecial e amiga. A comunidade se res ponsabiliz a e tenta cuidar de C leide també m,
fazendo dess a uma grande oportunidade para todos.

Enfim, o projeto Cidade Criança nos proporciona múltiplas oportunidades de acolhe r, conviver,
aprender e de cuidar de n oss as crianças e de n ós mesm os. Nele, a felicidade acontece.

M aríli a Barbosa / Silmara Soar es


Coord enadora s - Projeto Cidade Cri ança

Pr oj eto Ci da d e Cri a n ça - Ar aç u aí / M G 13
ANEX OS

• Pasta de brilho

Está sendo usada pelas m ães, que avaliam poder lavar com e la mais vasilhas em menos tem po. P or
sua vez, a equipe do projeto Cidade Criança avalia a pas ta como alg o que facilita a vida da mãe,
contribuindo para que ela tenha um tempo maior para de dicar aos filhos.

Receita de pasta de brilho

Ingredientes:
01 tablete ou barra de sabão c om um
02 colheres de de tergente
02 colheres de água s anitária
01 litro de água

Modo de f aze r:

Rale a barra de s abão com um ralo. C oloque a água e m u ma panela e leve ao f ogo. E m se guida, c om
a água ainda fria, coloque o sabão, o detergente e a água s anitária, mexe ndo sem pre e de vagar.
Assim que começar a ferver, mex a bem, retire do fogo e coloque e m recipientes já limpos, onde a
pasta será armazenada, pois vai esfriando e se tornando m ais dens a.

Suge stão: para arear panelas, pode ser colocado um pouco de are ia bem f ininha na pas ta. Isso,
entre tanto, não é acons elhado para copos e outros vas ilhames, pois pode arranhá-los.

Pr oj eto Ci da d e Cri a n ça - Ar aç u aí / M G 14
• Des enhos feitos pe las crianças para os p ais que es tão no c orte de c ana em S ão P aulo.

Pro j eto Ci d ad e Cr i an ç a - Ara ç ua í / M G 15


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