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i, 08 de Janeiro de 2010
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Teste emprego
D.R.
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A China tornou-se uma potência financeira e comercial de primeiro plano – mas não
se comporta como as outras grandes economias. Em vez disso, segue, ou adopta,
uma política mercantilista, mantendo o seu superavit comercial artificialmente alto.
No actual mundo em crise, essa política é, para falar sem rodeios, predatória.
Eis como a coisa funciona: ao contrário do dólar, do euro ou do iene, cujos valores
flutuam livremente, a divisa da China foi fixada, seguindo a política oficial, em 6,8
yuan por dólar. A esta taxa de câmbio, a produção fabril chinesa tem uma grande
vantagem sobre as rivais, o que cria enormes superavits na balança de
transacções. Em circunstâncias normais, o influxo de dólares desses excedentes
faria subir o valor da moeda chinesa, a não ser que essa subida fosse compensada
por investimentos privados encaminhados no sentido inverso. E os investidores
privados estão a tentar entrar na China, não a sair de lá.
Simplesmente, o governo chinês restringe os fluxos de capital, ao mesmo tempo
que compra dólares e os estaciona fora do país, para se irem somar aos mais de
1,4 mil milhões de euros de reservas em divisas estrangeiras.
Esta política é boa para o complexo industrial estatal chinês, dirigido para as
exportações, mas nem por isso o é para os consumidores chineses. E para o resto
do mundo?
Antigamente, a acumulação chinesa de reservas estrangeiras, muitas delas
investidas em títulos do Tesouro dos EUA, poderia estar a beneficiar os próprios
EUA, uma vez que mantinha as taxas de juro baixas, embora o destino que
tenhamos dado a esses juros baixos fosse sobretudo inflacionar uma bolha
imobiliária. No entanto, neste momento, o mundo está atascado em dinheiro barato
em busca de destino. As taxas de juro dos empréstimos a curto prazo estão
próximas do zero e as de longo prazo estão um pouco mais altas.
Não é verdade? Costumo ouvir duas razões para não se enfrentar a China em
matéria de política económica. Nenhuma delas colhe. A primeira pretende que não
podemos fazê-lo porque ela lançaria o caos na economia dos EUA pela alienação
das montanhas de dólares que detém – mas com isso a China infligiria a si própria
grandes perdas. O ponto mais importante é que são justamente as forças que
tornam o mercantilismo chinês tão prejudicial neste momento que revelam que a
China tem pouco ou nenhum peso específico em termos financeiros.
Se a China começasse a vender dólares, não há razão para pensar que haveria um
aumento substancial das taxas de juro dos EUA. Isso enfraqueceria provavelmente
o dólar relativamente a outras divisas, o que seria bom para a competitividade e
para a taxa de emprego dos EUA. Se os chineses inundarem o mercado de dólares,
devemos mandar-lhes um bilhetinho de agradecimento. A segunda razão é a
afirmação de que o proteccionismo é sempre mau, quaisquer que sejam as
circunstâncias. Acreditar nisso é mostrar que aprendemos os rudimentos da
economia com as pessoas erradas. É que, quando o desemprego é alto e o governo
não é capaz de repor o pleno emprego, as regras habituais não se aplicam.
Permito- -me citar uma ideia clássica do falecido Paul Samuelson: “Com
desemprego [...] os velhos argumentos mercantilistas repetidamente
desmascarados” – isto é, a ideia de que os países que subsidiam as exportações
estão na realidade a roubar empregos aos outros países – “revelam-se válidos.” E
continuava, defendendo que as taxas cambiais persistentemente desalinhadas
criam “problemas genuínos aos apologistas do comércio livre”. A melhor resposta a
esses problemas é levar as taxas de câmbio à posição em que deveriam estar. Ora
é exactamente isso que a China se recusa a deixar que aconteça.