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http://dn.sapo.pt/2007/11/01/opiniao/o_fracasso_escola_publica.html

O FRACASSO DA ESCOLA
PÚBLICA?

Pedro Lomba
jurista
pedro.lomba@eui.eu

Há poucos debates mais viciados em Portugal do que aquele que tivemos nos últimos dias entre críticos e
apóstolos da escola pública. É um debate recorrente que traz o pior de uma política que se alimenta de
preconceitos ideológicos e não tenta ver além do seu umbigo. De um lado estão os publicistas que falam
do direito à escola pública, quaisquer que sejam os resultados e os caminhos para que essa mítica escola
é levada, e com o qual pretendem uma hegemonia natural do ensino público sobre o ensino privado. Do
outro vêm os privatistas mais a sua desconfiança por tudo o que é público, a sua inquebrável fé no
mercado, a sua implausível conclusão de que os melhores resultados nos rankings das escolas privadas
mostram a escandalosa falência do ensino público.

Não vejo como. Temos escolas privadas de excepção que formam bem os seus alunos? Óptimo e tenho
pena que não tenhamos muitas universidades privadas de excepção e também fundações, associações,
centros de investigação. E tenho pena que as famílias portuguesas, sempre prontas a reivindicar
"direitos", não se organizem mais para intervir no ensino público, fazendo sugestões e ultrapassando
defeitos.

A verdade é que, apesar de todas as experiências falhadas no ensino público, apesar das ilusões
igualitárias, apesar dos muitos ministros da educação que já aguentámos, apesar da má gestão de
recursos, apesar dos professores com espírito de função pública ou sindicalista, apesar dos estudantes
que se queixam do "sistema" quando deviam era ter juizinho e queixar-se de si próprios, apesar disto e
do resto, a escola pública tem sido, nestas últimas décadas, o melhor, o mais eficaz, senão mesmo o
único realmente eficaz, instrumento de mobilidade social na sociedade portuguesa. Num país
cronicamente desigualitário, eis um dado sociológico que tem feito uma enorme diferença.

Também eu sou um produto da escola pública. Também me irrito quando vejo o ensino público
comandado por sábios e distante das necessidades do mundo que devia servir. Como Rui Tavares fez no
Público, penso nos meus velhos colegas de liceu da Padre Alberto Neto (já agora, 168 no "Ranking").
Tínhamos uma escola heterogénea. Um de nós foi quase o melhor jogador de futebol da nossa geração.
Outro pertenceu à boys-band Excesso. Havia uma miúda muito gira que já não é tão gira e acabou em
modista. Há escolas que produzem estadistas, a minha gerou cançonetistas, desportistas e este vosso
escriba anafado. Mas quando penso em todos os meus ex-colegas que não contribuíram para a nossa
subida no ranking ou que ficaram pelo caminho, não me ocorre atribuir responsabilidades à escola
pública. Nem a eles. A vida é complicada.

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