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Como é cediço, a palavra princípio tem vários significados. No entanto, para o nosso propósito
consideraremos a ideia da origem de algo em determinado momento ou, como melhor
explana Nucci, "a causa primária ou o elemento predominante na constituição de um todo
orgânico".
Plenitude de defesa
No processo penal, o princípio do devido processo legal, previsto no artigo 5º, inciso LIV, da
Constituição Federal, não existe quando não estiverem assegurados o contraditório e a ampla
defesa.
Amplo significa algo vasto, largo, copioso. Assim, a garantia da ampla defesa assegura que os
acusados possam valer-se de toda possibilidade de defesa, utilizando-se dos instrumentos e
recursos previstos em lei, a fim de evitar qualquer forma de cerceamento.
A palavra pleno, por sua vez, equivale a algo completo, perfeito, absoluto, exatamente como
deve ser a defesa do réu no Tribunal do Júri, obviamente, dentro dos limites naturais dos seres
humanos.
Explica-se, portanto, porque a defesa no âmbito do Tribunal do Júri deve ser perfeita. No
processo comum o réu é amparado pela ampla defesa, tendo como suporte a defesa técnica.
Caso ela não se opere convenientemente, o magistrado pode corrigir o erro de ofício na
sentença, a qual deverá contar com a devida fundamentação, possibilitando, assim, nos casos
de inconformismo, a interposição de recursos.
Já no Tribunal do Júri o desfecho do processo se dá pelos jurados populares, que são juízes
leigos e, por isso, a defesa do réu deve se aproximar da perfeição, para o convencimento
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Por essas razões é crucial que a defesa em Plenário seja sempre plena.
O Código de Processo Penal prevê que não havendo dúvida a se esclarecer após a leitura e
explicação dos quesitos em plenário, "o juiz presidente, os jurados, o Ministério Público, o
assistente, o defensor do acusado, o escrivão e o oficial de justiça dirigir-se-ão à sala especial a
fim de ser procedida a votação" (artigo 485, caput).
Houve tempos em que se discutiu a constitucionalidade da sala especial para votação, por
entender alguns que ela feriria o princípio constitucional da publicidade. No entanto, tal
discussão foi superada por ampla maioria, tanto doutrinária, quanto jurisprudencial, por
prever a Carta Magna a possibilidade de se limitar a publicidade de atos processuais quando
assim exigirem a defesa da intimidade ou o interesse social ou público.
Note-se que o sigilo visa assegurar que os jurados possam proferir seu veredicto de forma livre
e isenta para, assim, atender ao interesse público e promover a justiça.
Ademais, o julgamento não pode ser considerado secreto, uma vez que é conduzido pelo
magistrado e acompanhado pelo Promotor de Justiça, pelo assistente de acusação, se houver,
pelo defensor do réu, bem como pelos funcionários do Judiciário
Assim, explica Nucci, citando Hermínio Alberto Marques Porto, que "tais cautelas da lei visam a
assegurar aos jurados a livre formação de sua convicção e a livre manifestação de suas
conclusões, afastando-se quaisquer circunstâncias que possam ser entendidas, pelos
julgadores leigos, como fontes de constrangimento. Relevante é o interesse em resguardar a
formação e a exteriorização da decisão.
Vale destacar ainda que a Lei nº 11.689/08, que reformou o Código de Processo Penal
Brasileiro, consagrando o princípio do sigilo da votação, introduziu norma que impõe a
apuração dos votos por maioria, sem que seja divulgado o quorum total.
Portanto, a invasão das cortes togadas no mérito do veredicto é inadmissível. Mesmo porque a
lei brasileira prevê soluções para os casos em que o Júri venha a cometer erros. Vejamos.
Quando houver erro quanto à análise das provas exibidas em plenário pelas partes, haverá a
possibilidade de se interpor recurso de apelação. Provido este, o julgado anterior sofrerá
revisão por outro Conselho de Sentença. Nos casos de erro pelo não oferecimento de todas as
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Assim, nas palavras de Antônio José M. Feu Rosa, concluímos que "a justiça, e, por conseguinte,
os meios mais próprios de obtê-la, são direitos da sociedade. Quem poderia contestar-lhe o
direito de julgar e de agir em consequência disso? Que ela se engane, é possível. Mas uma
questão de prerrogativa soberana não é uma questão de infalibilidade. Se para ser legítima
uma atribuição qualquer da soberania devesse ser exercida duma maneira infalível, não
haveria soberania possível. Mas, em caso de erro do povo, como os indivíduos, suporta muito
melhor o que vem daqueles que estão investidos, em seu nome, de seus interesses, do
que daqueles que lhe são estranhos" (Júri - Comentários é Jurisprudência, p. 17).
São crimes de competência do Tribunal Popular o homicídio simples (artigo 121, caput),
privilegiado (artigo 121, §1º), qualificado (artigo 121, §2º), induzimento, instigação e auxílio ao
suicídio (artigo 122), infanticídio (artigo 123), as várias formas de aborto (artigos 124 a 127),
bem como os delitos conexos, conforme artigos 76 a 78, inciso I, do Código de Processo Penal.
Para Nucci, as formas do genocídio também são de competência do Tribunal do Júri, vez que
constituem delitos dolosos contra a vida. Explica o mestre que tal questão foi levantada em
razão do caso conhecido como "massacre de Haximu", em que garimpeiros assassinaram
vários índios ianomâmis. Nesse caso, o Supremo Tribunal Federal entendeu tratar-se de
competência da Justiça Federal singular, muito embora as vítimas fossem membros de grupo
indígena. No entanto, Nucci defende que nessa hipótese a solução correta seria o julgamento
pelo Tribunal do Júri, no âmbito federal, devendo ser estruturado, nessa órbita, plenário para
julgamento dos crimes dolosos contra a vida.
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Foi assim considerado por nossos legisladores por influência da Constituição americana, que
contempla o júri como garantia indispensável ao cidadão, ou seja, garantia material. Isso
porque, nos Estados Unidos, os juízes são eleitos pelo povo, sendo, assim, questionável sua
imparcialidade.
Contudo, no Brasil, como os magistrados são todos concursados, sem qualquer influência
popular ou política, o júri é considerado apenas uma garantia formal, visando assegurar o
devido processo legal para os acusados da prática de crimes dolosos contra a vida e delitos
conexos, constituindo, inclusive, cláusula pétrea, já que previsto no artigo 5º, da Constituição
Federal.
O Tribunal Popular é a única instituição que permite ao cidadão brasileiro tomar parte nos
assuntos de um dos Poderes da República, o Judiciário, sendo, por isso, considerado um direito
humano fundamental.
Entretanto, não pode ser considerado direito humano material, pois, sem ele, há outras
garantias de participação do povo nos Poderes da República, porém, de outras
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maneiras.
Assim, concluímos que o júri é direito e garantias humanas fundamentais formais, devendo ser
respeitado principalmente quanto aos princípios do artigo 5º, XXXVIII.
O júri é um órgão especial do Poder Judiciário, que assegura aos cidadãos a participação direta
nas decisões de caráter jurisdicional, embora haja alguma controvérsia sobre o assunto.
Houve quem entendesse que o Tribunal Popular não passasse de um organismo político,
desligado do Judiciário. No entanto, é de entendimento majoritário que, ainda que não inserido
no rol do artigo 92, da Magna Carta, constitui sim órgão do Poder Judiciário, observando-se sua
especialidade. Esse entendimento deve-se aos seguintes fundamentos:
a) considerando que o júri, além de contar com 21 (vinte e um) jurados, é também composto
por magistrado togado, o Juiz Presidente, não há que se cogitar a hipótese de fazer ele parte de
órgão meramente político, visto que esse vínculo é vedado constitucionalmente, sem falar em
previsão na Lei Orgânica da Magistratura Nacional;
b) há previsão ainda no artigo 78, inciso I, do Código de Processo Penal, que nos casos de
concurso de competência entre júri e jurisdição comum, aquele deve prevalecer;
c) também está previsto no artigo 593, III, do Código de Processo Penal, a possibilidade de
recurso contras as decisões do júri, o que, como é cediço, não poderia ocorrer em órgão
político;
d) o fato do Tribunal do Júri estar incluído entre os direitos e garantias fundamentais configura
a vontade política do legislador em considerá-lo cláusula pétrea, e não com a finalidade de
excluí-lo do Poder Judiciário; e, por fim,
Referência bibliográfica
NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008.
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