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e um retrato de uma
(infncia em) Angola
ABRIL Revista do Ncleo Estudos de Literaturas Portuguesa e Africanas da UFF, Vol. 1, n 1, Agosto de 2008
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A troca entre a tia Dada e Ndalu reaviva a relao entre o velho e o novo. Com
ela Ndalu aprende a olhar o seu pas com outros olhos, a ironia disfarada de
ingenuidade questiona. Ao entrar em contato com o outro, o menino deixa a pura
observao e passa a buscar um entendimento. Assim, Ndalu tenta entender porque os
cartes de abastecimento so necessrios, o porqu da existncia de uma praia dos
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A guerra causa muito mais do que danos materiais, a falta de perspectiva para o
fim dos confrontos supera qualquer outra falta, a espera de uma possvel soluo altera a
vida de todos. O cotidiano infantil completamente distorcido, os assuntos que
deveriam fazer parte somente da vida adulta esto em toda parte. Os trabalhos escolares
so grande prova dos distrbios causados por um estado de caos (seja ele uma guerra
em Angola ou no atual Rio de Janeiro), o imaginrio infantil fica povoado por conflitos:
Guerra tambm aparecia sempre nas redaces, experimenta s mandar um aluno fazer uma redaco
livre para ver se ele num vai falar da guerra (...). Guerra vinha nos desenhos (as aks, os canhes
monacaxito), vinha nas conversas (tou ta dizer, verdade...), vinhas nas pinturas na parede (os desenhos
no hospital militar), vinha nas estigas (teu tio foi na UNITA combater, depois voltou, tava a reclamar l
tinha bu de piolho...), vinha nos anncios da tv ( Reagan, tira a mo de Angola...!), e at vinha nos
sonhos (dispara Murtala, dispara porra!). (ONDJAKI, 2003, p. 129)
REFERNCIAS
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fico. Niteri: EDUFF, 2002.
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LARANJEIRA, Pires. Literaturas Africanas de Expresso Portuguesa. Lisboa: Universidade
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