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Seguro de vida deve indenizar ocorrência de lesão por esforço

repetitivo
Se as lesões por esforços repetitivos (LER) causarem invalidez, são consideradas acidente de trabalho e não
doença. O entendimento foi da Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, que manteve em
Segunda Instância o direito de uma segurada da empresa Companhia de Seguros Aliança do Brasil ao
recebimento de verba indenizatória de seguro de vida.

O recurso foi interposto pela companhia de seguros contra decisão proferida pelo Juízo da Terceira Vara
Cível da Comarca de Cáceres (200 km da capital), nos autos de uma ação de cobrança ajuizada pela ora
apelada, uma ex-bancária. A condenação à verba securitária atingiu o montante de R$ 31.340,37, além do
pagamento de custas processuais e honorários advocatícios, arbitrados em 10% sobre o valor da condenação.
A seguradora sustentou cobertura somente sobre invalidez total ou permanente por doença, e conclui pela
desobrigação de indenizar, pois a apelada teve perda de 80% da função dos membros superiores. Evocou o
princípio pacta sunt servanda (obrigatoriedade de cumprimento dos pactos firmados entre as partes) e
destacou restrição prevista em cláusula do contrato, que cita a invalidez permanente como aquela que não se
pode recuperar ou reabilitar a capacidade física.

Consta dos autos que as partes firmaram contrato de seguro de vida em 22 de janeiro de 1993. A previsão de
cobertura envolvia morte natural, morte acidental, invalidez permanente total ou parcial por acidente e
invalidez permanente por doença. Em 3 de maio de 1999 a apelada foi afastada das funções de bancária sem
perspectiva de retorno. As lesões foram consideradas irreversíveis, conforme constataram diversas perícias
médicas. A inaptidão definitiva foi firmada em 28 de março de 2003, sendo o pedido de pagamento do
prêmio negado. A desembargadora Clarice Claudino da Silva, relatora do recurso, considerou o contrato em
questão como sendo de “adesão” – arbitrariamente estipulado por uma das partes -, cabendo, portanto,
aplicação do Código de Defesa do Consumidor (artigo 3º, § 2º do CDC), de forma que as cláusulas fossem
interpretadas de forma mais benéfica ao consumidor (artigo 47 do CDC) a fim de afastar a abusividade.

A relatora destacou que o artigo 51, incisos I e IV, do CDC, obriga a desconsideração das cláusulas que
exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor, bem como as que impliquem renúncia ou
disposição de direitos. Destacou a situação de hipossuficiência da consumidora apelada e que ela teria
pagado prestações desde o ano de 1993. A julgadora salientou que a jurisprudência deixa claro que a lesão
por esforço repetitivo (LER) configura invalidez por acidente de trabalho e não doença, em conformidade
com a legislação previdenciária (artigos 19, 20 e 21 da Lei 8213/1991).

O voto foi acompanhado por unanimidade pelos desembargadores Guiomar Teodoro Borges (revisor) e
Juracy Persiani (vogal).

Apelação Cível nº 139244/2008

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