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INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA – IEC PUCMINAS

CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO EM MÍDIAS DIGITAIS

Comunicação e divulgação em rede no ENUDS 7:


trabalhando com redes sociais

Artigo apresentado ao Curso de Pós-


graduação em Produção em Mídias
Digitais do Instituto de Educação
Continuada – IEC PUC Minas, como
requisito oficial à obtenção do título de
especialista.
Orientador: Jorge Rocha Neto da
Conceição

Janaina Magalhães Rochido Arruda

Belo Horizonte
2010

1
Comunicação e divulgação em rede no ENUDS 7: trabalhando com redes sociais

Janaina Magalhães Rochido Arruda

Resumo

A internet e as redes sociais vieram subverter o conceito de comunicação de massa e dar


voz às minorias, antes excluídas dos meios de comunicação ou divulgadas de forma
deturpada ou em momentos nada favoráveis. Pensando nisso, a sub-comissão de
Comunicação do ENUDS 7, evento realizado de 3 a 7 de Setembro de 2009, no campus
Pampulha da UFMG, resolveu apropriar-se das redes sociais para divulgar o evento e
atrair mais participantes. O presente trabalho visa explicar a experiência, descrevendo,
para isso, o relacionamento entre os interagentes e as representações do ENUDS nas
redes, as reações verificadas em cada rede e como todo o processo se refletiu no evento.
Ao final, pretendemos avaliar os erros e acertos, formulando hipóteses para obter-se
melhores resultados em uma experiência futura.

Palavras-chave

Redes sociais; democracia na internet; LGBT; internet.

Introdução

A internet e as redes sociais virtuais subverteram o conceito de comunicação frente ao


que existia antes, ou seja, uma comunicação feita de um para muitos, de um emissor
para vários receptores que não tinham como interagir, no que poderíamos classificar
como um misto das teorias da Agulha Hipodérmica1 e da Teoria Matemática da
Comunicação2. Elas possibilitam que seus interagentes3 se relacionem de forma
horizontal, sem que haja, necessariamente, uma central distribuidora de informações. As
redes cresceram e assumiram usos diversos dos originais, pensados por seus primeiros
teóricos. Como diz Castells (2000),

1
Teoria da Agulha Hipodérmica (Bullet Theory), de Lasswell (anos 30 do Século XX). Dizia que uma mensagem
lançada pela mídia é imediatamente aceita e espalhada entre todos os receptores, em igual proporção. Ela conta com
o isolamento dos indivíduos na sociedade de massa (onde tem-se um conjunto homogêneo de indivíduos onde seus
membros são considerados iguais, indiferenciáveis, mesmo que provenham de ambientes diferentes, tendo pouca ou
nenhuma possibilidade de feedback ou interação entre si).
2
Teoria Matemática da Comunicação, de Claude Shannon e Warren Weaver (1948). Trata a comunicação como um
caminho linear e de mão única entre emissor e receptor, sem levar em consideração a mensagem ou como esta será
percebida pelo receptor.
3
Alex Primo (2003) conceitua interagente como o indivíduo que executa a ação e se empenha na construção e
reconstrução da interação, relacionando-se com seus pares.

2
O que caracteriza a atual revolução tecnológica não é a centralidade
de conhecimentos e informação, mas a aplicação desses
conhecimentos e dessa informação para geração de conhecimentos e
de dispositivos e de processamento/comunicação da informação, em
um ciclo de realimentação cumulativo entre a inovação e seu uso. Os
usos das novas tecnologias de telecomunicações nas duas ultimas
décadas passaram por três estágios distintos: a automação de tarefas,
as experiências de usos e a reconfiguração das aplicações.
(CASTELLS, 2000, p.69)

Nelas, todos são produtores, distribuidores e receptores de informação, levando a um


tipo de interação onde existe uma democracia e uma auto-regulação muito particulares,
feitas por seus próprios membros. (CASTELLS, 2003). É interessante pensar que por
meio destes processos quem normalmente não é ouvido ganha voz. As redes captam a
maioria das expressões culturais em toda a sua diversidade, ligando-as de alguma forma
e construindo um novo tipo de ambiente de interação. Como diz Brites (2004):

As habilidades inerentes ao meio digital (como sincronia,


hipertextualidade, entre outras) propiciam o surgimento de
competências comunicativas que favorecem um processo de
construção de opinião, minimizando interferências. (...) Assim, a
sociedade civil passa a dispor de forte aliada para conhecer e dar a
conhecer as subjetividades de seus integrantes, pois os fluxos
informativos, que no sistema massivo são unidirecionais, no
ciberespaço projetam- se em todas as direções. (BRITES, 2004)

Seja por sua temática, seja por razões políticas, o evento em questão, 7º Encontro
Nacional Universitário de Diversidade Sexual (ENUDS 7)4, requisitou um planejamento
de comunicação diferenciado no que tange às mídias escolhidas. Além das tradicionais,
decidiu-se pelo investimento nas redes sociais, uma vez que assuntos do âmbito LGBT
precisam ser tratados de forma singular e com muito tato, dado o preconceito que a
temática ainda encontra, seja na sociedade ou na mídia.

Sabendo destas limitações impostas por estes fatores e outros de ordem estrutural
(verbas disponíveis para a comunicação e disponibilidade dos membros da equipe para
dar vida e manter as idéias propostas), a sub-comissão de comunicação do ENUDS 7
pensou em formas de levar o evento ao seu público–alvo por meio da internet, por
tratar-se de um meio no qual há mais espaço para as pessoas exporem suas idéias, no

4
O ENUDS é realizado todos os anos desde 2002, cada ano em uma cidade brasileira diferente. O encontro busca
conectar estudantes, docentes, gestores públicos, militantes e pessoas interessadas na discussão do temática LGBT,
política e Direitos Humanos para debates, mesas-redondas, oficinas e momentos culturais. A próxima edição, em
2010, será realizada em Campinas, no estado de São Paulo.

3
qual há espaço para todas as manifestações. Dessa forma, seria possível mostrar o
evento e seus propósitos, ligando-os à busca do respeito aos direitos de cidadania da
população LGBT, associação sempre presente nos eventos acadêmicos sobre o tema
organizados pelo Grupo de Defesa da Diversidade Sexual (Gudds), que foi organizador
desta edição do ENUDS dentro da UFMG. Vieira (2005), sintetiza o que queremos
pontuar quando diz que

A impossibilidade de que a comunicação aconteça por meio dos


veículos de comunicação tradicionais (que trazem uma visão parcial e
muitas vezes comprometida das comunidades excluídas) faz com que
essas populações [os excluídos] busquem outras formas para exercer
o direito à comunicação. (VIEIRA, 2005)

Ou seja, o direito à cidadania passa, também, pelo direito a ter voz, pelo direito à
Comunicação. Em busca desse direito, o evento foi inserido em redes sociais com
temáticas diversas e em outras exclusivamente LGBT, visando incentivar o público
deste segmento que já frequentava a rede a participar dos debates no evento, levando a
questão LGBT para além das discussões virtuais. Nelas, procurou-se interagir com
públicos que tivessem um perfil condizente com o público-alvo do ENUDS 7 a fim de
incentivá-los a participar do encontro e divulgá-lo espontaneamente a outros
participantes em potencial.

As relações entre estas pessoas, frequentadoras das redes sociais, podem ser pensadas
tomando-se como guia o conceito de laços, dentro das redes sociais. Morais et alii
(2005) mostram que esses laços podem ser de dois tipos, laços fortes e laços fracos,
conforme explicado no trecho abaixo:

Na interação com laços fortes, há um contato direto entre os


componentes da rede, ou seja, aquelas pessoas mais próximas do
indivíduo (família, amigos), compondo um grupo fechado e por vezes
pequeno, no qual todos se conhecem e são acessíveis uns aos outros.
Na interação de laços fracos, as pessoas que compõem a rede
possuem intermediários entre si; formam uma rede de grande
amplitude, na qual sempre se conhece um “amigo de um amigo seu”.
(MORAIS et alii, 2005, p.4)

No caso da divulgação do ENUDS, acreditamos em um equilíbrio entre laços fortes e


fracos, uma vez que os diversos interagentes, ou já se conheciam e passaram a se
relacionar também por meio das redes sociais utilizadas, ou vieram a conhecer-se por
meio das redes e estreitar laços durante o evento.

4
Conceitos e expectativas

Aqui começamos a desenhar o propósito deste trabalho, que é mostrar como a internet,
mais especificamente determinadas redes sociais, como definidas por Recuero (2008)5 e
Aguiar (2007)6, combinadas, possibilitaram uma divulgação diferenciada do evento. O
modo como essa divulgação foi realizada e seus resultados são o objetivo deste
trabalho, o que pretendemos analisar. A fim de não nos perdermos na análise, decidimos
delimitar o período da pesquisa àquele que antecede o evento, entre a criação da
comunidade no Orkut, em 26/04/2009 e um dia antes do evento, 06/09/2009.

Se falamos das redes “combinadas”, falamos dos “ecossistemas informativos”, termo


cunhado por Saad (2010) para ferramentas que se ajudam umas às outras: um ambiente
no qual todas as ferramentas trabalham em conjunto, a fim de equilibrarem-se umas às
outras. O contrário disso, quando não é possível atingir este equilíbrio, trata-se do que a
mesma autora chama de “canibalismo”, onde uma ferramenta anula a outra (tivemos um
caso assim em nossa experiência, trataremos dele mais adiante).

É necessário falar também a respeito do importante papel desempenhado pelos


interagentes e suas relações entre si para o sucesso da comunicação no ENUDS7. Aqui,
devemos reconhecer que, na maior parte do que foi observado, a rede seguiu um
caminho inverso do mais comum, no qual as pessoas inicialmente se conhecem
pessoalmente para então fortalecer seus laços virtualmente, transpondo assim,
guardadas as devidas adaptações, a rede. Em nosso caso, uma vez que esperávamos que
as pessoas que estavam em contato com os perfis do evento nas redes estivesem
presentes e interagissem entre si, tendo as relações formadas nas redes como ponto de
partida, contrariando, de certa forma, a afirmação de Silva (2009):

Os chamados sites de redes sociais, hoje, por mais que contribuam na


manutenção e constituição de agrupamentos, eles são apenas

5
De acordo com Raquel Recuero (2008), uma rede social seria o conjunto de dois elementos: os atores também
chamados de nós da rede, atores, grupos sociais ou organizações e suas conexões, que são os laços sociais que nelas/
através dela se formam. “Portanto, a rede pode ser entendida como uma metáfora para analisar as diversas formas de
conexões que determinados grupos sociais realizam, a partir das conexões que esses atores estabelecem entre si”.
Optamos por esta definição de rede social por ela sintetizar em si outros aspectos que pretendemos abordar, tais como
os laços criados entre os interagentes nas redes.
6 Aqui, as redes sociais são “relações entre pessoas, estejam elas interagindo em causa própria, em defesa de outrem
ou em nome de uma organização, mediadas ou não por sistemas informatizados”. A autora complementa dizendo que
estes são métodos de interação que sempre visam algum tipo de mudança concreta na vida das pessoas, no coletivo
e/ou nas organizações participantes – em nosso caso, a mudança pretendida era a forma como o evento seria encarado
pelas pessoas, com a seriedade que pretendíamos – por isto também utilizamos este conceito neste trabalho.

5
sistemas, plataformas e não, por si, redes sociais. Isto é, esses sites
tornam visíveis redes sociais já existentes ou a formação de outras e
novas redes. (SILVA, 2009)

Pretendemos analisar como as redes escolhidas – um blog7 (Conversas do ENUDS 7),


três sites de relacionamento (Orkut8, Leskut9 e Rede LGBT10) e um “microblog”
(Twitter11) – conseguiram atrair a atenção do público e fazê-los interagir mais entre si
de forma independente de qualquer agendamento como talvez interagiriam se a
divulgação tivesse sido deixada a cargo de uma mídia de massa. Os pontos que
analisamos foram a quantidade de “amigos” ou “seguidores” em cada perfil e o
feedback que tivemos em cada rede utilizada, fosse ele por meio de comentários,
replicações de postagens no Twitter ou repercussão nas listas de e-mails que discutiam o
evento (frequentadas pelos integrantes da Comissão Organizadora, não serão citadas
com detalhes neste trabalho).

Ao desenhar esta estratégia de comunicação, imaginamos que ela poderia obter algum
sucesso, mas não imaginávamos como isto seria e nem qual alcance teria. O que
sabíamos é que precisávamos de meios de comunicação nos quais nós seríamos os
principais responsáveis pela produção de conteúdo informativo sobre o ENUDS e pelo
sentido que aquele conteúdo geraria. Também imaginávamos (como usuários) o alcance
que as redes sociais tinham entre os estudantes e militantes das causas LGBT, dois
segmentos de suma importância para o evento – além disso, esperávamos contar com a
participação das pessoas destes segmentos como multiplicadoras da informação,
espalhando o conteúdo produzido, fosse por meios digitais ou por outros meios mais
tradicionais, tais como conversas interpessoais e e-mails.

Tendo isto em vista, pensamos como inserir o evento nestas mídias, em que momentos e
até quando. Na ocasião, decidimos utilizar nossas ferramentas antes e durante o evento,
sendo que, no durante queríamos contar com os participantes para “narrar” o ENUDS 7
via Twitter, estimulando uma ação espontânea, e também enviando fotos para o blog,
que seria atualizado durante o evento gerando postagens do Twitter. Após o evento,
esperávamos algumas manifestações em forma de fotos e comentários no blog e nos
perfis criados nos sites de relacionamento, além de outras postagens no Twitter. Além

7
Conversas do ENUDS 7: http://blogdoenuds7.blogspot.com
8
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=87620048
9
http://paradalesbica.ning.com/profile/ENUDS7
10
http://social.redelgbt.com/enuds7
11
http://twitter.com/enuds_7

6
disso, para depois destas manifestações, estávamos amadurecendo a idéia de
transformar todos os perfis e contas utilizadas em ferramentas do Gudds!, grupo
organizador do ENUDS em Belo Horizonte, como forma de perpetuar a popularidade e
visibilidade conseguidas para dar voz aos outros trabalhos e debates do grupo e também
como uma chance de corrigirmos os possíveis erros comentidos com a estratégia para o
ENUDS.

Idéias formuladas sobre o que queríamos fazer das redes, pesquisamos na internet para
saber o que as edições anteriores do ENUDS utilizaram, e como utilizaram, quando se
fala em redes sociais. O que apuramos foi que nas outras edições do evento, muito
pouco do potencial da internet e das redes sociais foi apropriado por eles para
divulgação. Excluindo as duas primeiras edições (2002 e 2003), anteriores à primeira
rede social de sucesso no Brasil (o Orkut, criado em 2004), as posteriores, além das
ferramentas que podemos chamar de tradicionais (cartazes, folderes, releases para a
imprensa) utilizaram somente um site oficial e, no máximo, uma comunidade no Orkut.
Levando-se em consideração a experiência do ENUDS 7 nesta área, acreditamos que as
edições vindouras farão igual ou melhor que esta, tomando-a como base para
desenvolverem suas estratégias de divulgação.

Estratégias de divulgação em rede

Optamos por usar as ferramentas com as quais tínhamos maior familiaridade e aquelas
que eram direcionadas exclusivamente ao público LGBT. Para tal, foi definida a criação
de um blog, uma conta no Twitter12 e perfis nas redes sociais direcionadas ao público
LGBT (Rede LGBT13 e Leskut14) e uma comunidade no Orkut (“ENUDS 7 - é BH
2009, uai!”15). Todas estas ferramentas trabalharam em conjunto e paralelamente ao site
oficial do evento e à divulgação tradicional, via releases, material gráfico e mala-direta
eletrônica.

O Orkut foi a primeira das redes utilizadas, com a criação da comunidade, em abril de
2009. Esta comunidade surgiu mesmo antes do site ser pensado, já visando a informar
as pessoas, despertar-lhes interesse sobre o evento, sendo mantida por algumas pessoas

12
http://twitter.com/enuds_7
13
http://social.redelgbt.com/enuds7
14
http://paradalesbica.ning.com/profile/ENUDS7
15
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=87620048

7
do Gudds!, sem ligação com a sub-comissão de Comunicação. A comunidade, apesar de
pioneira, não foi tanto o foco da atenção da sub-comissão, uma vez que reparávamos
que a interação entre os membros e entre membros e moderadores era baixa. Foi
possível notar isso pelo pouco aumento do número de membros e postagens, mesmo
quando os moderadores sugeriam tópicos de discussão.

Depois da comunidade, o blog “Conversas do ENUDS 7” foi criado. Seu primeiro


objetivo foi sanar o problema do site oficial do evento, que, na ocasião da criação do
blog, estava ainda sem planejamento definido. Assim, o blog veio para passar
informação sobre o evento já com um caráter oficial, mas ainda com uma linguagem
informal, exatamente como uma conversa, sugerida no título. Ele entrou no ar
oficialmente em 05/06/2009, hospedado na plataforma Blogspot, que foi escolhida por
apresentar uma interface simples e fácil de ser usada, ideal para permitir que pessoas
experientes ou não na web pudessem postar conteúdos. Posteriormente, o
“Conversas…” passou a direcionar os leitores para o site oficial, ficando com a função
de making of do evento: registrar reuniões, eventos paralelos do Gudds!, reproduzir e
repercurtir notícias relacionadas ao tema LGBT veiculadas na imprensa e fazer
chamamentos às pessoas para participarem do ENUDS7.

Um mês depois do blog entrar no ar, em 03/07/2009, foi a vez do perfil do evento entrar
no ar na Rede LGBT, site de relacionamentos direcionado ao segmento LGBT. Poucos
dias depois, dia 08/07/2009, também colocamos no ar o perfil no Leskut, rede social
exclusiva para mulheres lésbicas. Em ambos, o número de “amigos” ficou entre 31 e 55
pessoas, respectivamente. A interação com estas pessoas não era tão fluida, uma vez que
a penetração nas comunidades não era de pronto aceita pelos outros membros. Na Rede
LGBT ainda obtivemos mais sucesso, pois a rede, na ocasião da criação do perfil, era
nova e estava sendo amplamente divulgada no Twitter, o que acabou gerando interesse
dos participantes quanto ao ENUDS, já que também replicávamos mensagens deles
naquela rede.

Entre a criação do perfil na Rede LGBT e no Leskut, em 05/07/2009, surgiu o perfil no


Twitter16. Criamos a conta com a mesma identidade visual do evento e começamos
postando mensagens de incentivo às pessoas para conhecer o blog, o site oficial e os
perfis na Rede LGBT, no Leskut e a comunidade no Orkut. Aqui se deu a primeira

16
@enuds_7

8
“combinação” entre as redes utilizadas. Explica-se: tudo que postávamos no blog e nas
redes era postado no Twitter também, como um chamamento para a leitura daquele
texto, tal qual um título de jornal, uma vez que no Twitter somente são permitidos 140
caracteres.

A manutenção e o acompanhamento do tráfego em todas as redes escolhidas era feito


por um dos jornalistas da equipe, que se encarregava de recolher informações, filtrá-las,
adaptar sua linguagem à linguagem web e então repassar. Não havia uma periodicidade
fixa, tudo era feito sob demanda, a não ser a verificação de mensagens nas redes, feita
diariamente. O outro jornalista cuidou da divulgação por meio dos releases e material
gráfico, enquanto outro tinha como tarefa levantamento de mailing e contatos com
parceiros.

A documentação da apropriação do ENUDS destas redes foi feita de forma


extremamente informal, talvez mais do que o requerido em um trabalho deste tipo. Para
o artigo em questão, trabalhou-se com dados coletados manualmente, em cada
ferramenta, em novembro de 2009. No caso do Twitter, também contou-se com o apoio
de sites de busca, da busca dentro do próprio Twitter e de sites específicos para medir o
tráfego no microblog, como o Blablabra17.

Conceitos como os de capital social na rede e feedback também foram levados em


consideração ao se pensar na reação dos participantes da rede. A equipe esteve o tempo
todo atenta às atualizações das ferramentas e às perguntas dos interagentes, sempre
reforçando a importância de participar do evento fisicamente. Uma vez no encontro, os
participantes foram perguntados sobre a forma pela qual souberam do evento. Apesar do
investimento feito na comunicação via internet, percebeu-se que muitas pessoas ainda
tiveram acesso às informações do ENUDS 7 primeiro via um meio tradicional de
comunicação (especialmente cartazes), para depois acessar o site oficial e então o blog
e/ou as outras redes.

Resultados

O resultado da experiência de divulgação do ENUDS foi muito positivo, levando-se em


consideração as características do evento, as categorias adotadas para avaliação e o fato
de que a sub-comissão de Comunicação do evento não pôde dedicar o tempo ideal para
17
http://www. blablabra.net/

9
trabalhar com as redes escolhidas. Ainda assim, obtivemos a participação de cerca de
450 pessoas no ENUDS 7 e um feedback muito bom dos interagentes.

Dentre todas as redes utilizadas, as que deram melhor retorno foram, sem dúvida, o blog
e o Twitter, pois foram os que agregaram mais pessoas e geraram mais comentários nas
outras redes e nas listas de discussão via e-mail do Guuds! E da coordenação nacional
do ENUDS. O blog, mesmo tendo sido criado como coadjuvante no processo enquanto
o site oficial não estava no ar, ganhou projeção acima do esperado e obteve comentários
em diversas listas de discussão LGBT na internet, de acordo com a organização do
evento. O perfil no Twitter também obteve projeção acima do esperado, especialmente
pelo fato da maioria dos seus 187 seguidores – excluindo-se aqueles gerados por scripts
e aqueles que já sabiam do evento de outras formas - ter vindo de forma espontânea, ou
seja, o perfil do ENUDS 7 não os seguiu antes de sua chegada.

Nas outras redes utilizadas, a interação não se deu de forma tão espontânea, sendo
necessário que o perfil ENUDS 7 fosse em busca de “amigos” em potencial. Na Rede
LGBT e no Leskut isso foi possível – apesar de uma maior movimentação ter sido
notada somente a poucos dias do evento, em sua maioria por pessoas buscando
informações sobre as inscrições (já encerradas na ocasião) -, mas, no Orkut, por mais
que tentássemos, a discussão não seguiu os rumos que desejávamos, sendo esses rumos
debates nos fóruns a respeito das expectativas das pessoas a respeito do evento e
também debates sobre o tema do ENUDS. Mesmo com a moderação da equipe e a
postagem de mensagens para incentivar o debate, não foi possível conseguir uma
participação mais assídua na comunidade.

A respeito do blog, é necessário fazer uma ressalva: a quantidade de comentários no


blog era pequena, havendo postagens que nem tinham comentários. Ainda assim,
sabemos que a repercurssão da ferramenta foi muito boa devido a comentários que
vieram por outros meios, como a já citada lista de e-mails da qual o Gudds! faz parte.
Levantamos aqui a hipótese de que o que realmente mede o tráfego de um blog não é o
número de comentários feitos em casa postagem, mas sim o atrelamento a uma
ferramenta de análise e o acompanhamento sistemático de seu desenvolvimento.

A respeito das relações entre os interagents nas redes, podemos evocar os laços fortes e
fracos e tentar perceber onde cada um se manifestou. Na disseminação de informações

10
sobre o evento, acreditamos que houve uma predominância de laços fracos, uma vez
que, lembrando da definição de MORAIS et alii (2005), as pessoas que repassavam as
informações acerca do ENUDS não necessariamente se conheciam, só o suficiente para
que tivessem algum ponto de contato para receberem e repassarem nosso conteúdo. Não
notamos tanto a presença de laços fortes – talvez no período pós-evento, já que os
participantes se conheceram durante a realização do ENUDS e a partir dali travaram
novas relações; no entanto, esse período não interessa para nossa análise.

Pensando a respeito do possível capital social desenvolvido entre estes interagentes e


relacionado aos laços formados entre eles, percebemos que ele pouco se fez notar.
Considerando a definição de RECUERO (2006),

(...) o capital social constitui-se em um conjunto de recursos de um


determinado grupo, obtido através da comunhão dos recursos
individuais, que pode ser usufruido por todos os membros do grupo, e
que está baseados na reciprocidade. Ele está embutido nas relações
sociais (como explica Bourdieu, 1983) e baseia-se no conteúdo delas.
(GYARMATI E KYTE, 2004; BERTOLINI E BRAVO, 2004, apud
RECUERO, 2006, p.3)

Acreditamos que, devido aos fatores reciprocidade e esfoço individual, esse aspecto só
foi observado na relação entre os interagentes e o blog e entre os interagentes e o
Twitter. O capital social possui categorias, dentre as quais citamos duas que têm relação
com o percebido em nossa experiência: “1) relacional - que compreenderia a soma das
relações, laços e trocas que conectam os indivíduos de uma determinada rede; e 2)
cognitivo - que compreenderia a soma do conhecimento e das informações colocadas
em comum por um determinado grupo” (BERTOLINI E BRAVO, 2004 e COLEMAN,
1988, apud RECUERO, 2006).

Conclusão

Chegando ao fim do ENUDS 7 e avaliando o período proposto para este trabalho – entre
26/04/2009 e 06/09/2009 -, podemos concluir que o trabalho deu resultados além dos
esperados, uma vez que o planejamento não foi tão profundo, o tempo dedicado pelo
jornalista responsável ao trabalho não foi o ideal e não foram usadas as formas corretas
de medir e avaliar o desempenho das redes sociais utilizadas na web. No entanto, pelo
viés de atingir ao público alvo, podemos dizer que a estratégia pensada pela sub-
comissão de Comunicação do ENUDS foi bem sucedida, já que conseguiu-se

11
“espalhar” o evento pela internet e conseguir a colaboração dos interagentes no intuito
de replicar as informações que lançávamos.

Como saldo positivo, destacamos a visibilidade alcançada pelo evento e pelo Gudds!,
grupo organizador do encontro, levando-se em conta somente a comunicação feita pela
internet. Já foi decidido que o Gudds! irá se apropriar de duas das redes utilizadas,
sendo o blog e o Twitter – serão feitas adaptações para que elas passem a servir ao
grupo e não mais ao evento e também está sendo pensada uma sistematização da
manutenção destas derramentas, para que seu público seja mantido e a transição seja
natural. Os perfis das outras redes – Orkut, Leskut e Rede LGBT – serão apropriados
pela comissão nacional de organização do ENUDS, que pretende utilizá-las para o
evento deste ano, em Campinas, dando continuidade à identificação entre as pessoas que
se aproximaram via redes sociais e o ENUDS e suas propostas.

Por outro lado, várias críticas também devem ser feitas na conclusão deste trabalho.
Acreditamos que a mais pungente e que mais prejudicou uma análise quantitativa e
qualitativa, mais exata e profunda da experiência foi a falta de ferramentas de estatística
para medir e avaliar o tráfego de interagentes nos perfis do ENUDS nas redes. Sem isto,
ficamos à mercê de “achismos”, ou decepcionados com parcas informações a muito
custo conseguidas depois de pesquisas quase braçais pela internet e por sites de busca.

Sentimos esta falta especialmente quanto ao blog, pois sabemos que ele teve sucesso,
mas não sabemos quanto e de que tipo. O perfil no Twitter também padeceu com isso,
já que não sabemos quantas vezes, por exemplo, o ENUDS foi citado em determinado
período ou quanto de informação foi produzida utilizando a hashtag #enuds. Some-se a
isso o fato de, dado o Twitter ser uma palataforma nova, há ainda poucos sites
confiáveis de estatísticas do Twitter, que exigem cadastros, documentação,
confirmações e acabam por desanimar o contato

Ainda falando sobre a análise da comunicação por meio das redes sociais, uma coisa
importante e presente em todos os eventos, porém não no nosso, é a “ficha de avaliação
do evento”, entregue normalmente a todos os participantes. Ela serve para avaliar desde
a organização até as sugestões dos participantes para melhorias no evento e é um
importante instrumento para medir a satisfação do público. Sem ela, não tivemos
nenhuma medida sobre a origem da divulgação (cartazes? Folder? Panfleto? Mala direta

12
eletrônica? Conversas interpessoais?) que levou aquelas pessoas ao encontro e também
não conseguimos saber qual sua relação com o computador, com quais redes a pessoa
tem mais afinidade, e em qual delas ela soube do ENUDS.

A atualização das ferramentas durante o evento, por meio da participação dos presentes,
também não surtiu o resultado desejado, mesmo com a sub-comissão incentivando isso
por meio das redes. Esperava-se que muitas pessoas postassem mensagens pelo Twitter
com a hashtag #enuds ou #enuds7 e enviassem suas fotos para a organização, mas isto
não aconteceu. Nenhuma foto foi recebida e o “tweets” foram bem menos do que o
esperado. Acreditamos que isso possa dever-se ao fato de termos superestimado o
relacionamento dos presentes com o Twitter, ou mesmo sua preocupação em
disponibilizar tempo para tal. Ainda, é possível que não houvesse tantos laptops,
smatphones e/ou outros dispositivos com acesso a internet para que os participantes
pudessem se dedicar a isso.

Interessantemente, as manifestações pós-evento foram mais abundantes, especialmente


na comunidade “ENUDS 7 – É BH2009, uai!” do Orkut, onde um membro da mesma
criou um tópico chamado “encontrem-se aki!”, no qual os participantes postaram suas
impressões do evento, das festas, da cidade de Belo Horizonte e da UFMG, além de
falarem sobre as amizades que fizeram durante a semana do encontro. A comunidade
ainda está ativa e já se notam postagens a respeito do ENUDS 8 e seus eventos
preliminares.

Por ultimo mas não menos importante, citamos novamente Saad (2010) e o termo
“canibalismo”, aplicado às redes que utilizamos. O blog e o perfil no Twitter são
exemplos claros de como isto aconteceu, uma vez que, mesmo sem estatísticas, foi
possível notar que eles se sobrepuseram às outras redes, atraindo muito mais atenção
para si. Uma possível causa para isso seria, novamente, a disponibilidade para
atualizações de todos os perfis do evento. Esse equilibrio entre as redes do qual fala
Saad poderia ter sido tentado se houvese mais tempo para interagir com os participantes
e postar atualizações mais frequentes, pois isto atrai mais participantes, numa ação de
fidelização.

Finalizando, o saldo foi positivo. Colhemos elogios dos participantes e de outras


entidades parceiras do evento sobre a estratégia de divulgação e já vemos iniciativas

13
parecidas para o próximo ENUDS. Pudemos perceber, também, que trabalhar com redes
sociais, apesar de parecer, para alguns, mero passatempo de internet, exige tanta
dedicação e profissionalismo quanto qualquer trabalho com qualquer outra ferramenta.

14
Referências bibliográficas

AGUIAR, Sônia. Redes sociais na internet: desafios à pesquisa. Artigo apresentado ao XXX
Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Santos, 2007.

BRITTES, Juçara Gorski. A revitalização da esfera pública habermasiana. Artigo apresentado


no XXVII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom), Porto Alegre,
Setembro 2004. CD-Rom.

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