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EXMO(A). SR(A). DR(A).

JUIZ DE DIREITO DO ____ JUIZADO ESPECIAL CÍVEL


DA COMARCA DE JOÃO PESSOA/PB.

Ronilli Pacelli Araújo de Oliveira, brasileiro, casado, contador,


portador do CPF /MF sob o n. 045.552.744-07,residente na Rua Severino
Nicolau de Melo, n. 1060, apt. 104, Bloco D, Bairro Jardim Oceania, nesta
capital- Estado da Paraíba, CEP: 58037-700, vem, respeitosamente, perante
Vossa Excelência, através de seus advogados infra-assinados propor a
presente...

AÇÃO DE REPÉTIÇÃO DE INDÉBITO

Em face de HSBC BANK Brasil S.A.- Banco Múltiplo, pessoa


jurídica de direito privado, com sede à Travessa Oliveira Bello, n 34, 4 andar,
Bairro do Centro, Cidade de Curitiba-Paraná, inscrito no CNPJ n.
01.701.2001/0001-89, com fulcro nos arts. 6°, inc. VIII,42, par. único do
CODECON, e Súmulas 43, 54 e 297 do e. Superior Tribunal de Justiça e demais
disposições legais aplicáveis à espécie, pelos fatos e conseqüências jurídicas
deles extraídos, conforme segue:

1. - DOS FATOS
Em 05 de fevereiro de 2009, o autor da presente demanda
formalizou com a instituição financeira promovida um contrato de
financiamento (doc.anexo) para a aquisição de um veículo novo.

No contrato restou acordado que o valor contratado seria pago


em 60 parcelas mensais de R$ 739,45.

A parte promovente, conforme se depreende dos documentos


acostados, fora obrigada a pagar em seu contrato de financiamento a quantia
de R$ 1.338,40 (Um mil, trezentos e trinta e oito reais e quatro centavos)
referente às seguintes taxas: SERVIÇOS PROMOTORA DE VENDAS- R$ 700,00 e
PAGAMENTO DE SERVIÇOS DE TERCEIROS – R$ 638,40, o que totalizou o valor
acima descrito.

Tais cobranças consignadas sob diversas rubricas, que variam de


banco para banco, nada mais são do que comissões e/ou gratificações que
alguns bancos e financeiras repassam para os vendedores e lojistas, que estão
expressas nos contratos sob diversas nomenclaturas, tais como: TAC (taxa de
abertura de crédito), TOA (tarifa de contratação de operações ativas), COA
(Comissão de Operações Ativas), Serviços de Conferência e Transporte de
Documentos, ou sob outras variantes.

No caso dos autos foi consignado sob as nomenclaturas


destacadas, repita-se, no valor exorbitante e ilegal de R$ 1.338,40 (Um mil,
trezentos e trinta e oito reais e quatro centavos), com o único intuito de
esconder as cobranças ilícitas e remunerar lojas e vendedores, de modo que
foi embutida em seu financiamento, posto que, acreditando na sua
legalidade, sequer contestou.

Assim, analisando recentemente o seu contrato de


financiamento, o autor percebeu que lhe foram cobrados indevidamente os
valores consubstanciados na tarifa de operações ativas, despesas
operacionais, tarifa de emissão de boleto, bem como demais contra
prestações que não foram sequer descritas ou justificadas, chegando à
conclusão que inexistia fundamento legal para o pagamento daquelas taxas,
uma vez que, muito embora auto explicativas, tais cobranças levam a
instituição bancária ao enriquecimento sem causa, senão vejamos:

Em um primeiro momento, poder-se-ia pensar na possibilidade


de pagamento à instituição bancária pela concessão do crédito. Todavia, a
concessão de crédito está elencada nos diversos tipos de negócios jurídicos, e
como tal já emunerado pelos juros, cujo cálculo engloba a cobertura dos
custos de capitação dos recursos emprestados, bem como despesas
operacionais e os riscos envolvidos na operação.

As cobranças acima especificadas consistem numa onerosidade


excessiva para o consumidor, ferindo consideravelmente as normas dispostas
na legislação protetiva das relações de consumo, bem como, de forma bem
especial, do consumidor.

Não há, repita-se, motivo legalmente aceitável para cobrança da


TAC. De igual forma recai sobre a cobrança por folha de boleto bancário, bem
como demais contraprestações que sequer foram descritas ou justificadas.
Tudo não passa, segundo sábias palavras do Eminente Desembargador Carlos
Alberto Etcheverry da 13ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande
do Sul, "de mais uma demonstração da engenhosidade das instituições
financeiras em maquinar formas criativas de extorquir mais dinheiro dos seus
clientes".

Sendo assim, não restou outro meio ao autor a não ser recorrer
ao Judiciário para reaver, na forma da lei, toda cobrança indevidamente
paga.

2 – DO DIREITO

2.1 - DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Para que não paire dúvida sobre a irregularidade cometida pelo


promovido,mister a inversão do ônus da prova, nos termos do inciso VIII do
artigo 6° do CODECON,pois a relação jurídica havida entre as partes está
sujeita à tutela do CDC, e, portanto,impõe-se a inversão do ônus da prova,
devendo a demandada apresentar em juízo toda a documentação referente ao
contrato firmado entre as partes, especificando de forma detalhada as
cobranças efetivadas.

Consoante o melhor entendimento doutrinário e jurisprudencial


dominante sobre o tema, a hipossuficiência deve ser aferida não em relação à
vulnerabilidade econômica, mas em relação aos conhecimentos técnicos
específicos da atividade do fornecedor. Traduz-se, portanto, na fragilidade do
consumidor, seja do ponto de vista econômico ou cultural quanto ao
conhecimento técnico relativo ao produto ou ao serviço, que o situa em
posição desigual ou desvantajosa em relação ao fornecedor, detentor do
monopólio de informações acerca dos componentes e características do seu
produto ou serviço, que o situa em posição desigual ou desvantajosa em
relação ao fornecedor, detentor do monopólio de informações acerca dos
componentes e características do seu produto ou serviço, e ao qual, diante de
tal vantagem, se mostra fácil ou menos difícil à produção da prova.

Desta forma, requer desde já que Vossa Excelência se digne em


determinar,no mandado de citação, a inversão do ônus da prova, por ser
medida necessária e para que se faça justiça.

2.2 DA ILEGALIDADE DA COBRANÇA SOB AS RUBRICAS


DESTACADAS COM DIVERSAS NOMENCLATURAS

Deve ser dito que a taxa genericamente chamada de abertura de


crédito –TAC, também designada tarifa de abertura de crédito, comissão de
abertura de crédito, taxa de análise de ficha cadastral, tarifa de análise de
crédito, tarifa de operações ativas,"tarifa bancária", despesas operacionais,
outros serviços, outras despesas, taxa de abertura de cadastro, demais
contraprestações, são inexigíveis, pois atribui valor ao encargo, sem
esclarecer sua finalidade.
Jurisprudências neste sentido:

Apelação cível. Ação revisional de contrato de


financiamento, com pacto adjeto de alienação fiduciária.

Capitalização afastada. Ilegalidade da comissão de


permanência. Cabimento da compensação de
valores.Possibilidade da repetição de indébito. Nulidade
da TAC e da TEC. Prequestionamento. Precedentes.
Apelo da autora, em parte, provido e apelo do banco
improvido. (Apelação Cível Nº 70027398056, Décima
Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Breno Pereira da Costa Vasconcellos, Julgado em
04/12/2008).

Apelação cível. Ação revisional de contrato de


mútuo,com pacto adjeto de alienação fiduciária.
Aplicabilidade do CDC. Juros remuneratórios limitados.
Capitalização afastada. Nulidade da TAC. Apelo provido.
(Apelação Cível Nº 70027356450, Décima Terceira
Câmara Cível,Tribunal de Justiça do RS, Relator: Breno
Pereira da Costa Vasconcellos, Julgado em 04/12/2008).

EMBARGOS DECLARATÓRIOS. CONTRATO DE MÚTUO


FIRMADO POR MUNICÍPIO COM INSTITUIÇÃO BANCÁRIA.
OMISSÕES. SANEAMENTO. TAXA DE ABERTURA DE
CONTRATO. ILEGALIDADE. PERCENTUAL DE CORREÇÃO
MONETÁRIA E DE JUROS DEVIDOS EM FACE DA
CONDENAÇÃO À RESTITUIÇÃO EM DOBRO DOS VALORES
PAGOS EM EXCESSO (ART. 42, § ÚNICO DO CDC). REVISÃO
DOS ÔNUS SUCUMBENCIAIS. 1.A taxa de abertura de
crédito representa cláusula contratual abusiva, devendo
ser declarada nula e ressarcidos em dobro os valores
exigidos a este título. 2.Juros moratórios devidos no
percentual de 6% ao ano, até a revogação do Código Civil
de 1916, e de 12% ao ano após a vigência do novo Codex.
Lado outro, a correção monetária deve ser calculada
conforme a tabela da Corregedoria-Geral de Justiça do
Estado, a incidir do ajuizamento da ação. 3. Necessidade
de nova distribuição dos ônus processuais, frente ao
resultado do julgamento da apelação. (EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO N° 1.0000.00.295397-4/003 EM APCVREEX
1.0000.00.295397-4/000 - COMARCA DE BELO HORIZONTE
- EMBARGANTE(S): MUNICÍPIO UBERABA - EMBARGADO(A)
(S): BANCO BEMGE S/A -RELATOR: EXMO. SR. DES.
JARBAS LADEIRA)

Diante destes entendimentos jurisprudenciais, é de se verificar


que os valores indevidamente cobrados que somam R$ 1.338,40 (Um mil,
trezentos e trinta e oito reais e quatro centavos), são arbitrários e ilegais,
devendo, portanto, ser restituído em dobro, conforme preceitua o artigo 42
do CDC.

2.3 DA COBRANÇA INDEVIDA E DA REPETIÇÃO DO


INDÉBITO

O CODECON, em seu artigo 51, IV, §1°, III, reza que :


Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as
cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de
produtos e serviços que:

IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas,


abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem

exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a


eqüidade;

§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vontade


que:

III - se mostra excessivamente onerosa para o


consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do
contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias
peculiares ao caso.

Conforme foi relatado inicialmente, a parte autora teve inserido


em seu contrato, o que se torna exigível, cobranças ilegais, caracterizando-se
despesas desnecessárias, injustificadas, e que trouxeram ao promovente
desvantagem exagerada.

Por se caracterizar como uma conduta ilícita, que causou um


enorme prejuízo à parte autora, o CDC é bastante claro quanto à cobrança de
quantia indevida, assim vejamos:

Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor


inadimplente não será exposto a ridículo, nem será
submetido a qualquer tipo de constrangimento ou
ameaça.

Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia


indevida tem direito à repetição do indébito, por valor
igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de
correção monetária e juros legais salvo hipótese de
engano justificável. (GRIFO NOSSO).

A conduta do banco demandado é totalmente abusiva e feriu


violentamente a função social do contrato, pois não respeitou os princípios da
boa- fé objetiva e da equivalência material das partes. Portanto, como a
parte demandante pagou indevidamente a quantia de R$ 700, 00 (setecentos
reais) referente a Serviços da Promotora de Vendas e a quantia de R$ 638,40
(seiscentos e trinta e oito reais e quarenta centavos) referente à
Pagamento de Serviços de Terceiros, devendo, portanto, tais valores serem
ressarcidos em dobro, acrescidas de correção monetária e juros legais, desde
a data da assinatura do contrato (05/02/2009), tudo conforme preceitua a
inteligência do parágrafo único do art. 42 do CODECON.

O valor da dívida atualizado, até a presente data, é de R$


3.148, 90 (três mil, cento e quarenta e oito reais e noventa centavos),
conforme memória de cálculo em anexo

2. - DOS PEDIDOS E DOS REQUERIMENTOS:

Ante ao exposto, requer a Vossa Excelência:

1) A citação da promovida na pessoa de seu representante legal no


endereço indicado no preâmbulo, para comparecer à audiência
conciliatória designada e, para querendo, conteste a presente
exordial, sob pena de revelia e de confissão quanto à matéria de
fato, além do julgamento antecipado da lide, de acordo com os
artigos 285, 319 e 330 do CPC e artigo 18, § 1° da Lei 9.099/95.

2) Requer, quando do despacho da inicial, seja determinada a inversão


do ônus da prova em favor da parte autora, consoante disposição do
artigo 6°, inciso VIII, do CDC, devendo a demandada apresentar em
juízo toda e qualquer documentação que comprove que os cálculos
apresentados pela parte demandante não condizem com a
realidade;

3) Pede que Vossa Excelência julgue totalmente procedente o pedido


autoral, para condenar a promovida a restituir EM DOBRO o
promovente nos danos materiais calculados, correspondente ao
pagamento da quantia indevida, com os devidos acréscimos, o que
totaliza a quantia de R$ 3.148,90 (três mil cento e quarenta e
oito reais e noventa centavos), tudo conforme dispõe o Art. 42,§
1° do CDC.

4) Requer que este Juízo declare por sentença a inexistência de


débito, referente à inexigibilidade da(s) taxa(s), tarifa(s) ou
qualquer outra nomenclatura utilizada/cobrada no contrato de
financiamento do autor com o Banco adverso, tudo em virtude de
sua flagrante nulidade, segundo as regras do CDC já destacadas nos
parágrafos anteriores;

5) Requer a concessão dos benefícios da Justiça Gratuita, a teor das


Leis nº 1.060/50 c/c o art. 1º da Lei nº 7.115/83 e Lei 7.510/86; art.
5º, LXXIV, da CF e art. 19 do CPC;
Protesta por todos os meios de prova em direito admitidas,
especialmente pelo depoimento pessoal da demandada, sob pena de
confissão, juntada de novos documentos, etc.

Dá-se à causa o valor de R$ 3.148,90 (três mil, cento e


quarenta e oito reais e noventa centavos).

Nestes Termos,

Pede Deferimento.

João Pessoa, 09 de fevereiro de 2010.

Anna Catharina Marinho de Andrade

OAB/PB N. 14.742

Ana Carla.ç....
MEMÓRIA DE CÁLCULO

SERVIÇOS DA PROMOTORA DE VENDAS = R$ 700,00

PAGAMENTO DE SERVIÇOS DE TERCEIROS = R$ 638,40

S.P.V. + P.S.T = R$ 1.338,40

S.P.V. + P.S.T + REPETIÇÃO DE INDÉBITO = R$ 2.676,80

S.P.V. + P.S.T + REPETIÇÃO DE INDÉBITO + ATUALIZAÇÃO


MONETÁRIA + JUROS DE 1% AO MÊS= R$ 3.148,90

Dados básicos informados para cálculo


Descrição do cálculo RONILLI PACELLI ARAÚJO DE
OLIVEIRA X HSBC BANK BRASIL S/A
REPETIÇÃO DE INDEBITO
Valor Nominal R$.2.676,80
Indexador e metodologia >INPC-IBGE - Calculado pelo critério mês
de cálculo cheio.
Período da correção Fevereiro/2009 a Fevereiro/2010
Taxa de juros (%) 1 % a.m. compostos
Período dos juros 5/2/2009 a 1/2/2010
Dados calculados:
Fator de correção do período 361 dias 1,043621
Percentual correspondente 361 dias 4,362069 %
Valor corrigido para 1/2/2010 (=) R$.2.793,56
Juros(361 dias-12,71988%) (+) R$.355,34
Sub Total (=) R$.3.148,90
Valor total (=) R$.3.148,90

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