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N º 1 5  Novemb r o d e 2 0 0 3

Av. Brasil 4036/515, Manguinhos


Rio de Janeiro, RJ  21040-361
www.ensp.fiocruz.br/publi/radis

EC-29
Saúde defende
aplicação da
Emenda
Constitucional

12ª CNS:
Áreas da Saúde e estados
definem suas propostas
para a Conferência

SUS Verde:
Seminário de Ciência e
Tecnologia em Saúde dá
continuidade ao projeto
Amazônia Legal

SÚMULA DA IMPRENSA | TOQUES DA REDAÇÃO


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4 cartuns Neste cartum de um artista cubano, a
menina (feminino) porta o amor, e o

sobre a AIDS menino (masculino) uma camisinha in-


flada com formato fálico. O ‘encontro’
pode se dar na esquina, fortuito, mas
é do ‘masculino’ a responsabilidade de
U m cartum é uma piada gráfica.
O riso é a expressão física de
um ‘evento’ que subitamente rompe
portar a proteção.

com o raciocínio ‘linear’, instauran-


do uma contradição, um paradoxo em
nossa ordem lógica mental. O humor
é, na verdade, uma ‘outra’ maneira
de percepção e conhecimento atra-
vessando as estruturas cognitivas de
nossa mente ‘racional’.
Em 1997, o Salão Internacional
de Humor – Sem Aids, com Amor, re-
cebeu e avaliou cerca de três mil
cartuns inscritos, oriundos de 47 pa-
íses e de todos os estados brasilei-
ros. Os quatro cartuns dessa página
são dos muitos que se utilizaram de
três elementos gráfico-simbólicos re- Neste cartum, também de origem cubana,
correntes: o coração (= amor; por masculino/feminino são representados por
extensão conceitual: o sexo); a ca- roupas íntimas, e ocorre uma inversão em
misinha (= proteção); e a identifica- relação ao primeiro: neste, é ao ‘homem’
ção masculino/feminino. As relações que cabe propor o amor, e à ‘mulher’ pro-
possíveis entre esses três signos fa- por a proteção. Em vez de ‘portarem’ os
zem a riqueza dos possíveis sentidos símbolos, o que está em questão aqui é o
produzidos. discurso (do amor, da proteção).
Caco Xavier

Neste cartum israelense, minimalista,


o coração representa ele mesmo o ele-
mento feminino (‘atravessado’ pelo
masculino, a flecha), e a proteção en-
contra-se exatamente na ponta do
‘falo’. Esse cartum, o mais sintético
e ideográfico de todos, expressa o
amor protegido, e o amor não é ape-
nas o ‘coração’, mas o encontro.

Neste cartum colombiano, da mes-


ma forma o homem ‘discursa’ o
amor, e a ‘mulher’ dele se ‘prote-
ge’. O fato mórbido desse trabalho
está no sutil disfarce: o ‘homem’
na verdade é uma máscara da mor-
te, e a imagem nos induz a compre-
ensão de que o próprio amor não é
confiável, já que a ‘mulher’ deve
dele se proteger e mesmo evitá-lo
(o rosto voltado para o lado).
editorial
N º 15 — Novembro d e 2 0 0 3

A Lei deste País


C ruzando dados. Há pouco, o sa-
nitarista e professor Gilson Car-
valho disse ao Radis que a Constitui-
que era possível transformar o Brasil a
partir do Estado; (...) Se o Brasil vai se
transformar, vai se transformar através
Comunicação em Saúde
 4 Cartuns sobre a Aids
2

ção Federal e as leis são suas únicas da sociedade”. “A sociedade é que vai
Editorial 3
referências bibliográficas. Disse ain- impor os caminhos”, diz ele.
da que “é preciso ter a ousadia de Belo conselho para quem está nes-  A Lei deste País
cumprir e fazer cumprir a lei”, e que se momento se preparando para seguir
caso tal lei não fosse adequada ou para a mesma cidade do céu que jamais Caco 3
justa, o caminho para modificá-las acaba, para realizar uma Conferência
seria o Legislativo. Nacional de Saúde que tem como marca
Cartas 4
Mais tarde, em artigo na Folha de principal a responsabilidade de, segun-
São Paulo, intitulado ‘O SUS é do Brasil’, o do compromisso público do ministro da
coordenador-geral da 12ª Conferência Saúde, fundamentar as políticas de go- Iniciativa Nota 10 4
Nacional de Saúde, Eduardo Jorge, insur- verno para o SUS nos próximos anos. Esse  ‘Novos Caminhos’: promovendo a
ge-se sobre o que seria “o maior golpe país tem lei, claro que sim. Mas parece saúde e humanizando os serviços
contra o SUS desde o orçamento-bomba que não, claro que sim. É que enquanto
do presidente Collor”, e acusa o governo tal ‘lei’ estiver inscrita apenas nas letras Súmula da Imprensa 5
de descumprir a Emenda 29, retirando do frias dos Diários Oficiais e dos Códigos,
SUS alguns bilhões por meio de vetos ao ela é nada mais do que brinquedo nas
Toques da Redação 7
orçamento de 2004. Assim, o orçamento mãos de juristas e pseudo-legisladores,
de 2004 para a Saúde seria inferior ao de que põem e dispõem segundo interes-
2003, o que contraria a orientação prin- ses os mais alheios. A Lei que rege o SUS Depoimento: Nelson Rodrigues dos
Santos 8
cipal da Emenda. “Será que não existe lei deve estar inscrita em corações e men-
nesse país?”, pergunta Eduardo Jorge e, tes, pousada na língua de conselheiros  “Onde dá SUS, dá certo”
não, não é uma pergunta retórica. Ao de saúde, gestores, delegados das con-
contrário, é tão legítima e complexa que ferências, usuários, professores, agen- 12ª Conferência Nacional de Saúde 12
toda tentativa de respondê-la nos leva a tes comunitários de saúde, brancos, ín-  12ª CNS: Mudando para melhorar
um emaranhado de outras questões. dios e negros, homens e mulheres,  Vigilância Sanitária a postos para a
Recentemente, coube ao deputa- crianças e velhos. Conferência
do Fernando Gabeira outro momento ‘A lei do SUS é do Brasil’, pode-  Movimentos sociais de saúde
de rara reflexão — pessoal e nacional — ríamos parafrasear o título do artigo enfrentam o desafio da articulação
acerca das relações entre o que so- de Eduardo Jorge e, igualmente, per-  Conferências Estaduais
nhamos e o que temos, entre o Estado ceber que qualquer partidarização a estabelecem prioridades
hegeliano e o nosso estado possível. Da enfraquece. A área da Saúde sabe que
tribuna da Câmara, protegido pelas cú- só é possível transformar o Brasil por Financiamento do SUS 14
pulas de Niemeyer e pelo céu violeta meio da sociedade, porque foi exa-  EC-29 determina o que deve ser
de Brasília, Gabeira desliga-se do PT com tamente assim que pariu o SUS. E é gasto com Saúde
um discurso que desde já está fadado a exatamente assim que ele deve ser
representar a encruzilhada em que se resguardado, preservado, defendido Assistência Farmacêutica 15
encontra toda uma geração. Que to- contra toda ofensiva, quer venha ela
 A Assistência Farmacêutica não é só
dos ouçam: “O sonho (...) foi confiar pela força, quer pela astúcia. uma droga

SUS Verde 16
caco  Ciência e Tecnologia em Saúde na
Amazônia Legal

Serviços 18

Pós-Tudo 19
 Minha coluna vertebral

Ora, Pílulas... 19

Capa: Aristides Dutra, com uma ‘mãozinha’


de Hélio Nogueira, Onésimo Gouvêa, Jorge
Ricardo Pereira, Márcia Pena, Osvaldo José
e Laïs Tavares.
RADIS 15  NOV/2003
[ 4 ]

Promoção da Saúde

‘Novos caminhos’: promovendo a saúde


e humanizando os serviços

M arli da Silva Ribeiro tem 45 anos


e faz parte do grupo de mães cujos
filhos fazem tratamento no Instituto
Atualmente, 60 alunos freqüentam os
cursos, que são trimestrais, e pre-
param os objetos que serão vendi-
Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). Como a dos na Feira de Natal, que aconte-
grande maioria delas, Marli cria seus filhos cerá de 1 a 5 de dezembro, no pátio
sozinha. De seu trabalho depende o sus- da Instituição.
tento de toda a famíla e a continuidade O ‘Novos Caminhos’ já deu ori-
do tratamento do filho doente. gem a alguns sub-projetos. O ‘Inicia-
Pensando nas dificuldades des- tiva ao Trabalho’, por exemplo, reali-
sas pessoas, o hospital criou, há qua- za a venda dos trabalhos produzidos
tro anos, o Projeto ‘Novos Caminhos’, e auxilia a contratação dos serviços
que oferece a seus pacientes, acom- dos alunos por empresas, enquanto
panhantes e funcionários, cursos gra- No símbolo do ‘Novos Caminhos’, o ‘Alfa – o Caminho das Letras’ é vol-
tuitos de artífice em manutenção, cai- a marca da esperança tado para a alfabetização de adultos.
xas de presente, artesanato em As atividades do projeto ficam a
plástico, bijuteria, pintura em teci- me inscrever tive uma atenção mui- cargo da equipe do setor de Fisiote-
do, crochê, bordado e cestaria. As to especial da coordenação que me rapia Motora do IFF sob a coordena-
atividades proporcionam lazer e mui- me fez enxergar que eu tinha a ca- ção das assistentes sociais Andréia
tas vezes funcionam como terapia pacidade de realizar muitas coisas. Araújo e Maria Laura Santos e da fisi-
para seus participantes, na medida Mesmo com dificuldade, eu vinha oterapeuta Maria das Graças de
em que servem para a recuperação às aulas, trazendo o meu filho e re- Freitas Correia. O trabalho conta ain-
da auto-estima dos alunos. A convi- cebendo todo o carinho das pro- da com o apoio de 16 voluntários e da
vência harmoniosa e o clima de ale- fessores Denizar e Miria. Hoje, já Associação dos Amigos do Instituto
gria e cooperação que envolvem os consigo até pagar o tão sonhado Fernandes Figueira (Refazer).
integrantes do grupo também têm computador para o meu filho de 16
sido importantes para a humanização anos que estuda no Colégio Militar”, Mais informações:
do atendimento. conta, destacando a importância Projeto Novos Caminhos (IFF/Fiocruz)
Segundo Marli, que escolheu que o projeto tem para todos que Av. Rui Barbosa, 716 / 2º andar
o curso de bordado, o projeto aju- estão envolvidos no trabalho. Flamengo — Rio de Janeiro / RJ
dou muito a sua família, que passa- Cerca de 100 pessoas já foram di- Tel.: (21) 2553-0052 / R. 5226
va por momentos muito difíceis. “Ao retamente beneficiadas pelo projeto. E-mail: novoscaminhos@iff.fiocruz.br

expediente c ar
rtta s
Subeditora: Ana Beatriz de Noronha
Subeditor de Arte: Aristides Dutra
Assistente de Arte: Hélio Nogueira
Redação: Katia Machado
Estudos e Projetos: Justa Helena Franco
(gerência de projetos), Jorge
Ricardo Pereira e Laïs Tavares
RADIS é uma publicação da Fundação Secretaria de Administração e
Oswaldo Cruz, editada pelo Programa Infraestrutura: Onésimo Gouvêa,
Radis (Reunião, Análise e Difusão de In- Márcia Pena, Vanessa Santos,
formação sobre Saúde), da Escola Nacio- Cícero Carneiro e Osvaldo José
nal de Saúde Pública (Ensp). (informática) R ADIS NA ESCOLA
Periodicidade: Mensal Endereço
Tiragem: 42 mil exemplares Av. Brasil, 4036, sala 515 — Manguinhos
Assinatura: Grátis
Presidente da Fiocruz: Paulo Buss
Rio de Janeiro / RJ — CEP: 21040-361
Telefone: (21) 3882-9118
Fax: (21) 3882-9119
L eio a revista Radis desde o número
oito (abril de 2003) e gosto muito
dela. Estou na 7ª série e uso as re-
Diretor da Ensp: Jorge Bermudez
E-Mail: radis@ensp.fiocruz.br vistas nos meus trabalhos escolares.
PROGRAMA RADIS Site: www.ensp.fiocruz.br/publi/radis Adoro os cartoons, principalmente o
Coordenador: Rogério Lannes Rocha Impressão e Fotolito ‘Ora, Pílulas’ e o ‘Caco’. Participei
Editor: Caco Xavier Ediouro Gráfica e Editora SA da promoção ‘Dê um nome ao ca-
chorrinho da fome’ e gostei muito
USO DA INFORMAÇÃO — O conteúdo da revista Radis sáveis pelas matérias reproduzidas. Solicitamos aos
pode ser livremente utilizado e reproduzido em qual- veículos que reproduzirem ou citarem conteúdo de do nome escolhido.
quer meio de comunicação impresso, radiofônico, nossas publicações que enviem para o Radis um exem- Jhonatan Diogo Gonçalves (por carta)
televisivo e eletrônico, desde que acompanhado dos plar da publicação em que a menção ocorre, as refe-
créditos gerais e da assinatura dos jornalistas respon- rências da reprodução ou a URL da Web. União da Vitória - PR
RADIS 15  NOV/2003
[ 5 ]

SÚMULA DA IMPRENSA

gerou um forte movimento de apoio


C AMPANHA CONTRA O CIGARRO GANHA a Gilson Cantarino, que culminou
TOM MAIS AGRESSIVO com uma nota de desagravo, assi-
nada, entre outros, pelo ministro

O Ministério da Saúde (MS) intensi-


fica a luta contra o tabaco. Dessa
vez, publicará nos maços dos cigarros
da Saúde, Humberto Costa; pelos
secretários de Saúde dos demais
estados e do Distrito Federal; pelo
fotos ainda mais chocantes como a de Conselho Nacional de Secretários
um homem com a perna necrosada, Municipais de Saúde (Conasems),
uma boca e um pulmão tomados pelo pelo Conselho Nacional de Saúde
câncer, um feto abortado, um ho- (CNS); pelo presidente da Fiocruz,
mem com câncer de laringe, entre Paulo Buss; pelo diretor da Esco-
outros males causados pelo cigarro. la Nacional de Saúde Pública Ser-
Além disso, serão substituídas algu- gio Arouca (Ensp/Fiocruz), Jorge enquanto a prefeitura do Rio já gas-
mas frases de advertência que vêm Bermudez; e pela Associação Brasi- tou cerca de 80% do seu orçamento
impressas no maço, para torná-lo o leira de Pós-Graduação em Saúde Co- de Saúde, o estado ainda não chegou
menos atrativo possível. letiva (Abrasco). nem aos 50%. Paulo Pinheiro afirma que
Para enquadrar-se nas novas exi- De acordo com a nota, o se- chegou a esses valores analisando os
gências do MS, as indústrias tabagistas cretário estadual de Sáude do Rio dados do Sistema de Informações
terão um prazo de nove meses. De- de Janeiro não pode ser responsa- Gerenciais, divulgados pelas respecti-
pois desse prazo, ficarão proibidas as bilizado por não fornecer medica- vas secretarias de saúde.
vendas de cigarros com embalagens mento em dosagem fora dos padrões — Existe uma crise no sistema de
antigas. A medida do Ministério, previstos nos Protocolos Clínicos e saúde do Rio. Os hospitais estaduais
publicada em resolução no dia 24 de Diretrizes Terapêuticas do Ministé- estão com vários leitos fechados por
outubro pela Agência Nacional de rio da Saúde, para os Medicamentos falta de equipamentos e médicos e,
Vigilância Sanitária (Anvisa), baseou-se de Dispensação em Caráter Excepci- mesmo assim, a secretaria não gasta
em uma pesquisa realizada pelo Dis- onal, uma vez os remédios prescri- o dinheiro do orçamento. Do outro
que Pare de Fumar (tel 0800-7037033). tos aos pacientes com esclerose múl- lado, os hospitais municipais investem
Nela, 79% dos 89.305 entrevistados tipla mencionados pela imprensa já a sua parte mas não reforçam a rede
disseram que as fotos nos maços de- são fornecidos regularmente pela básica, que é de sua responsabilida-
veriam ser mais impactantes. Pelas Secretaria de Estado da Saúde na de. O gerenciamento da saúde naci-
regras do MS, além das novas ima- dosagem preconizada. A nota afirma onal precisa ser rediscutido, ou nun-
gens, os cigarros deverão trazer o ainda que o Conselho Nacional de ca haverá dinheiro suficiente - alertou
altera de que ‘este produto con- Secretários de Saúde (Conass) en- o deputado, em matéria publicada no
tém mais de 4.700 substâncias tóxi- viou, em junho de 2003, ofício a to- Jornal do Brasil, em 16/10/2003.
cas e nicotina, que causam depen- dos os presidentes de Tribunal de Os dados analisados mostram
dência física ou psíquica’. Justiça e procuradores gerais de que a Secretária Estadual de Saú-
Justiça dos estados, com informa- de empenhou um total de R$ 676
ções sobre a ‘Política Nacional de milhões, R$ 246 milhões dos quais
N OTA DE DESAGRAVO A SECRETÁRIO Medicamentos’ e sobre a importân- foram repassados pelo governo fe-
AMEAÇADO DE PRISÃO cia da utilização dos ‘Protocolos deral e R$ 160 milhões vieram do
Clínicos e Diretrizes Terapêuticas’ Fundo Estadual de Combate à Po-

N o dia 6 de outubro, o desembar-


gador Binato de Castro, da 12ª
Câmara Cível, autorizou a prisão do
nas questões relacionadas ao for-
necimento desses medicamentos e
aos mandados judiciais a eles re-
breza. O investimento proveniente
do Tesouro Estadual foi de R$ 264
milhões. Esse valor corresponde a
secretário estadual de Saúde do Rio ferentes. Diante disso, os signa- pouco menos de 8% da arrecada-
de Janeiro, Gilson Cantarino, devi- t á r i o s d a n o t a consideram que ção do estado e é menor do que
do à suspensão da distribuição de Gilson Cantarino, atual presidente os 10% previstos pela EC-29 para o
Interferon Beta 44 microgramas, do Conass e, em nível nacional, um ano de 2003. Caso não atinja o va-
medicamento usado por portado- dos principais articuladores pela lor legal, a governadora Rosinha
res de esclerose múltipla. No dia se- consolidação do SUS, agiu corre- Matheus poderá ter as contas re-
guinte, após analisar a documenta- tamente, mantendo sua postura de provadas pelo Tribunal de Contas
ção enviada pela secretaria, o “notório sanitarista, competente do Estado (TCE). “Em 2001, o então
desembargador revogou a autoriza- gestor e inatacável homem público”. governador Garotinho investiu 5%,
ção para a prisão de Cantarino. De quando o obrigatório era 8%. Em 2002,
acordo com os documentos, houve Garotinho e Benedita colocaram 8% da
uma mudança na dosagem do medi- QUEBRA-CABEÇA DAS CONTAS DA SAÚDE arrecadação de impostos na saúde,
camento receitado, de 20 ou 22 para quando deveriam ter colocado 9% e,
44 microgramas, sem que a secreta-
ria tivesse sido comunicada. O fato,
apesar de supostamente resolvido,
F altam menos de três meses para
acabar o ano e, segundo o depu-
tado estadual Paulo Pinheiro (PT/RJ),
este ano, a Rosinha está indo pelo
mesmo caminho”, disse o parlamentar.
O subsecretário de Desenvolvimento do
RADIS 15  NOV/2003
[ 6 ]

Sistema Estadual de Saúde, Wilson De fígado do Hospital do Fundão, Joa- trens, metrôs e jornais. Além dis-
Maio, alegou que os cálculos são feitos quim Ribeiro, também está sendo so, em uma segunda fase da cam-
sobre estimativas de orçamento e que, acusado de ter descartado um fíga- panha, o MS promoverá o ‘Dia D’,
este ano, o estado arrecadou menos do e um rim captados no Hospital agendado para o dia 29 de novembro.
do que o esperado, acarretando me- Geral de Bonsucesso, no dia 9 de
nos recursos para a Saúde. outubro, e que, segundo alguns
No município, a situação é dife- médicos da equipe de transplante TRANSGÊNICO PODE PREJUDICAR
rente, mas não menos preocupante, do Fundão, estariam em perfeitas AMBIENTE
pois devido ao excesso de gastos condições de uso. A seu favor, Jo-
pode haver dificuldades financeiras
no final do ano. Como até 31 de
agosto foram usados R$ 1,1 bilhão
aquim Ribeiro alega que os resul-
tados preliminares de uma biopsia
comprovam que o fígado apresen-
E studos realizados no Reino Unido
com alimentos transgênicos, ou
seja, organismos geneticamente mo-
do orçamento anual de R$ 1,4 bi- tava lesão pré-maligna, inúmeros dificados, mostram que eles podem
lhão, só restariam R$ 300 milhões cistos e necrose. Enquanto persis- causar prejuízos à vida selvagem. Fo-
para os meses seguintes. O Se- tem as trocas de acusações, o Mi- ram feitas pesquisas em três alimen-
cretário municipal de Saúde, nistério Público Federal entrou com tos — canola, beterraba e milho — e
Ronaldo Cezar Coelho, afirma que uma ação civil pública e de dois deles — canola e beterraba —
não há motivo para alarme, pois improbidade administrativa pedin- causaram danos à natureza. As pes-
os investimentos foram concen- do o afastamento cautelar do mé- quisas foram publicadas pela revista
trados no início do ano. “Este dico. Representantes de diferen- científica ´Philosophical Transactions B´,
ano, a prefeitura gastou na Saú- tes câmaras técnicas de trans- da academia de ciências do Rei-
de 17% da arrecadação de impos- plante também pediram o afasta- no Unido. As informações colhidas
tos, quase 4% a mais do que obri- mento do médico da coordenação tiveram base em alimentos estu-
ga a Emenda Constitucional 29. O do Rio Transplante, baseados no dados nos 60 campos de cultivo
nosso problema não é dinheiro, fato de que o atual coordenador do país, onde foi investigado uni-
mas sim o aumento da demanda foi escolhido sem que seu nome fos- camente o efeito dos três alimen-
causada pela falta de investimen- se aprovado pelo conselho técni- tos transgênicos sobre as popula-
tos em Saúde por parte de ou- co, como manda o estatuto. “Teria ções de ervas daninhas e de
tros municípios e do estado que que haver uma lista tríplice para que invertebrados nos campos e na sua
acaba gerando um caos na minha um nome fosse escolhido e não foi vizinhança. Danos para a saúde hu-
capacidade de atendimento e de isso que aconteceu”, explicou o mana e poluição genética não fo-
internação”, explica. médico José Raso Eulálio, coorde- ram considerados. Todos os três
nador da Câmara Técnica de Pân- vegetais pesquisados mostraram re-
creas e Rim, ao jornal O Globo, em sistência a herbicidas. Verificou-se,
D E N A S U S VA I INVESTIGAR O ‘RIO 15/10/2003. por meio desse estudo, a redução
T RANSPLANTE ’ de ervas daninhas nos campos de
canola e beterraba e de 20% de se-
O COMBATE À DENGUE CONTINUA mentes da erva nos campos depois
da colheita, e, no campo de planta-

O Ministério da Saúde registrou


298.135 mil casos de dengue no
período entre janeiro a setembro des-
ção de milho, ao contrário, notou-
se o crescimento das ervas.

te ano. Isso representou uma redu-


ção de 61,2% em relação ao mesmo C LÍNICAS DE DIÁLISE ENTRAM EM CRISE
período do ano passado, quando fo- POR FALTA DE PAGAMENTO
ram registrados 765.264 casos. Ape-
sar da queda nos índices de apa-
recimento da dengue, o Ministro
da Saúde, Humberto Costa, alerta
E m São Paulo, o atraso no pagamen-
to às clínicas de diálise que pres-
tam serviços à rede pública de saúde
para a necessidade de se desen- levou a Sociedade Brasileira de
volver mais uma vez um processo Nefrologia (SBN) e a Federação das
de mobilização para evitar a proli- Associações de Renais e Transplanta-

R ecentes denúncias de que os cri-


térios cronológicos da fila úni-
ca para transplante de fígado foram
feração do mosquito Aedes
aegypti. A maior preocupação do
Ministério é com os estados do
dos do Brasil a acionar o Ministério
Público. A situação no estado re-
flete o quadro existente no país
desrespeitados em favor do pacien- Ceará, Espírito Santo e Paraná, e as entidades pedem que o fluxo
te Jaime Ariston, irmão do secretá- onde a epidemia continua cres- de pagamento seja respeitado.
rio de Transportes, Augusto Ariston, cendo. Para conter os números de Segundo Ruy Barata, da diretoria
levaram o Sistema Nacional de Trans- casos, o Ministro da Saúde anun- da SBN, em alguns estados o atra-
plantes a pedir que o Departamento ciou uma nova campanha publici- so é de quase dois meses. Sem re-
Nacional de Auditorias do Sistema tária que será lançada com slogan ceber em dia, as clínicas come-
Nacional e Saúde (Denasus) apuras- ‘Não dê chance para a dengue’. A çam a atrasar os salários de
se possíveis irregularidades no pro- campanha compreende a distribui- funcionários e ficam sem recur-
grama do Rio de Janeiro. Vários jor- ção de panfletos e cartazes, exi- sos para comprar os materiais ne-
nais também noticiaram que o bição de filmes e vinhetas na tele- cessários. Em todo o país, 533 cen-
coordenador do Rio Transplante e visão e veiculação de spots em tros de diálise prestam serviços ao
chefe da equipe de transplantes de rádio e publicidades em ônibus, SUS, atendendo cerca de 60 mil
RADIS 15  NOV/2003
[ 7 ]

pacientes renais crônicos que de-


pendem da terapia. De acordo
com o Ministério da Saúde, a si-
tuação já está sendo normalizada.

P REGÃO ELETRÔNICO FACILITA A AQUI -


SIÇÃO DE MEDICAMENTOS vras do conselheiro André Falcão, da
Secretaria de Vigilância em Saúde. Os
representantes da Fiocruz no Coned
são Caco Xavier, do Programa Radis, e
Wagner de Oliveira, da Coordenação de
EM TEMPOS DE TRANSGÊNICOS — Já Comunicação Social.
está pronta a proposta para a consti-
tuição da Comissão Nacional de Bioética
que será levada pela Sociedade Brasi- LEMA DA CONFERÊNCIA — Sempre de
leira de Bioética para a Conferência ouvidos atentos, o repórter exclusi-
Nacional de Saúde. Para a delegada da vo desta coluna, Fontes Fidedignas,
Sociedade e Gerente de Controle e Fis- ouviu nos bastidores da Saúde que o
calização de Produtos e Medicamentos lema da 12ª Conferência Nacional de
da Agência Nacional de Vigilância Sani- Saúde não deveria ser ‘A saúde que

H a dois meses, o município de Sal


vador vem usando o pregão ele-
trônico para a compra de medicamen-
tária (Anvisa), Maria José Delgado
Fagundes, dentro da questão do desen-
volvimento científico e tecnológico na
temos, o SUS que queremos’, mas sim
‘O SUS que temos, a saúde que que-
remos’. Entre os presentes, não hou-
tos. A nova modalidade de licita- área de biomédica, principalmente na ve quem criticasse a sugestão
ção, adotada pela Secretaria área farmacêutica, é muito importante
Municipal de Saúde (SMS), em par- que o Ministério da Saúde decida pela
ceria com a Secretaria Municipal criação dessa Comissão, que funciona- PALAVRAS QUE FAZEM PENSAR — Dire-
de Administração (Send), além de rá como um colegiado consultivo, inde- to de Brasília, Fontes Fidedignas, que
ser bem mais rápida, já está pos- pendente e não normativo, com com- acha que discurso de político é quase
sibilitando uma redução média de posição multidisciplinar. A bioética tem sempre muito chato, enviou um peque-
30% nos custos dos medicamen- por objetivo a reflexão sobre o avanço no trecho das palavras que Fernando
tos. O sistema funciona por meio da biotecnologia frente às mudanças Gabeira disse ao anunciar no plenário
do site de compras da prefeitura ocorridas na ciência e no meio ambien- da Câmara o seu desligamento do PT.
(www.compras.salvador.ba.gov.br) te, e as conseqüências dessas mudan- “Hoje eu não digo claramente para to-
e as primeiras remessas de medi- ças sobre os seres humanos e o planeta. dos que meu sonho acabou. Não é isso.
camentos básicos adquiridos via Eu digo claramente que sonhei um so-
internet serão entregues à Se- nho errado. O sonho errado foi confiar
cretaria Municipal de Saúde ain- POLÍTICA EDITORIAL DO BEM COMUM que nós podíamos fazer tudo aquilo que
da em outubro. Segundo a coor- — Convocado pelo secretário executi- nós prometíamos rapidamente, confiar
denadora do Serviço de Farmácia vo do Ministério da Saúde, Gastão que poderíamos fazer tudo aquilo num
da SMS, Marjorie Reis (jornal Cor- Wagner, o Conselho Editorial do MS período de quatro anos ou imediata-
reio da Bahia, em 13/10/2003), os (Coned) foi reativado e teve sua pri- mente. Não. O sonho foi pior ainda: foi
aumentos de preço dos produtos meira reunião no dia 14 de outubro. O confiar que era possível transformar o
ocorridos durante os longos pra- Coned, um colegiado composto por Brasil a partir do Estado; foi não com-
zos das licitações convencionais quinze representantes das unidades do preender que o Estado já perdeu o di-
impediam a entrega de medica- Ministério, é responsável pela defini- namismo e que o dinamismo agora se
mentos na quantidade e nos va- ção da política editorial, pelo estabe- encontra na sociedade. Se o Brasil vai
lores estimados. “O novo sistema, lecimento de prioridades temáticas e se transformar, vai se transformar atra-
que chega a reduzir o prazo de pelo planejamento e programação da vés da sociedade. A sociedade é que vai
120 para 45 dias, certamente dará edição das publicações do MS. Para o impor os caminhos e o Estado virá —
maior agilidade ao processo de conselheiro Alcindo Ferla, da área de que bom que venha — talvez cansado,
compra e, conseqüentemente, Informação e Informática da Secreta- talvez lento, mas virá acompanhando
de abastecimento dos postos mu- ria Executiva, a existência e o pleno nosso caminho”. Vale a pena refletir!
nicipais de saúde”, prevê funcionamento do Conselho é um pas-
Marjorie Reis, explicando ainda so importante para a compreensão do
que o sistema permite ainda me- Ministério como ‘Ministério Único da VIOLÊNCIA E SAÚDE — Continua com
lhor negociação com os fornece- Saúde’, para a superação da fragmen- força total a V Mostra do Centro Cul-
dores, o que se reflete direta- tação e sobreposições de ações e para tural da Saúde ‘Sociedade Viva, violên-
mente na redução do preço dos a otimização de recursos e custos. O cia e saúde’ (Radis 13). No mês de no-
produtos. trabalho do Coned visa retomar, no pla- vembro, ainda serão realizados mais de
nejamento das publicações do Minis- 20 eventos gratuitos no Rio de Janei-
tério, a finalidade de suprir as deman- ro, entre cursos, paletras, oficinas e
SÚMULA DA IMPRENSA é produzida a par- das sociais de publicações na área e vídeos, que tratam do assunto sob diver-
tir da leitura crítica dos principais jor- promover a saúde da população brasi- sos aspectos. Mais informações, no site do
nais diários e revistas semanais do país. leira, ou seja, estabelecer “uma políti- Centro Cultural (www.ccs.saude.gov.br)
ca editorial do bem comum”, nas pala- ou pelo telefone (21) 2240-5568.
RADIS 15  NOV/2003
[ 8 ]

DEPOIMENTO: Nelson Rodrigues dos Santos

“Onde dá SUS, dá certo”


OS PRINCÍPIOS DO SUS metas municipais e regionais. Na re-
Ana Beatriz de Noronha “A integralidade caracteriza as muneração dos prestadores de servi-
necessidades da população. Todas as ços, deve predominar o pagamento glo-

N
elson Rodrigues dos San- pessoas encontram-se expostas a di- bal regular do cumprimento das metas
tos é uma das figuras mais versos riscos contra sua saúde e pa- pactuadas, mediante seus custos re-
emblemáticas do Movi- decem de algum tipo de doença. Por ais. Se tudo isso for feito com ênfase
mento da Reforma Sanitá- isso, a oferta de ações e serviços na Atenção Básica, com efetivo con-
ria Brasileira (MSRB), ao qual esteve deve ser necessariamente integral, trole dos desperdícios, o modelo as-
ligado desde seus primórdios. Coor- visando à promoção, à proteção e à sumirá as características de poupador
denador da 9ª Conferência Nacional recuperação da saúde, em todos os dos recursos públicos e de constru-
de Saúde e ex-secretário executivo níveis de complexidade. tor do seu próprio desenvolvimento.
do Conselho Nacional de Saúde (CNS), A eqüidade, por sua vez, está re- A universalidade está ligada ao di-
Nelsão, como é carinhosamente cha- lacionada às desigualdades das neces- reito à saúde. A questão é: o que
mado por todos, encanta pela firme- sidades entre pessoas, grupos e clas- estamos universalizando e o que deve-
za de suas propostas e pela defesa ses sociais. É a noção orientadora de mos universalizar? A interdependência
daquilo que considera como uma pro- justiça que desafia planejadores e e complementaridade obrigatórias en-
fissão de fé: a construção do SUS e gestores em seu cotidiano. Tripudiam tre os princípios e diretrizes do SUS
seu fortalecimento como política de sobre a eqüidade, aqueles que pen- levam a uma única resposta coerente:
inclusão social e de cidadania. “O sam exercê-la, retirando ações e ser- o que deve ser universalizada é somen-
SUS é nossa ‘porção-boa’ na vida. Po- viços dos pouquíssimos assistidos para te a atenção integral e eqüitativa às
demos fazer coisas desagradáveis e os desassistidos, ou recursos da mé- ações e serviços de saúde.
egoístas, podemos falhar com tudo dia complexidade para a atenção bá- Todos os princípios e diretrizes do
e com todos, mas a luta pelo SUS nos sica. O exercício da eqüidade implica SUS devem ser aplicados sob formas e
redime. É onde nos sentimos mais ver- em ‘nivelar por cima’ a oferta, valen- estratégias adequadas às realidades de
dadeiros, inteiros e realmente bons”, do-se dos recursos desperdiçados ou cada uma das 200 ou 300 regiões de-
afirma Nelsão, completando: “O SUS de novos recursos. É preciso corrigir finidas, sob a ótica do SUS, a partir
é uma cachaça”. as distorções das atuais modalidades de dados demográficos, territoriais,
Aos leitores do Radis, ele fala so- dos repasses intergovernamentais e da epidemiológicos, de capacidade insta-
bre a urgência de se tomar as neces- remuneração dos serviços, que têm lada de saúde e outros, e com base em
sidades da população como ponto de sabidamente caráter indutor sobre o estudos de aglomerados populacionais.
partida para a reformulação das es- perfil da oferta. Se as necessidades O processo de regionalização deve ser
tratégias construtoras do SUS, ainda da população em nível regional forem planejado e explicitado em metas, anu-
que sob as agruras da escassez de re- tomadas como ponto de partida, os almente pactuadas nas comissões
cursos que só podem ser superadas a repasses federais e estaduais devem intergestores, apresentadas e discuti-
partir de outro patamar político. ser realizados com base nos planos e das nos conselhos, e acompanhadas de
indicadores de qualidade e impacto na
saúde da população. Também é impres-
cindível o estabelecimento de centros
regionais de referência de cálculo de
O ideário do SUS custos para a realização das metas pac-
não carece de tuadas, as quais devem alimentar e
interagir com as metas estaduais e na-
revisão e seus cionais, proporcionando maior consis-
postulados legais tência nos esforços para elevação do
financiamento, além de impedir retro-
permanecem atuais cessos enquanto perdurar a escassez.
e legítimos. No Ao interagir com o princípio da
regionalização, o princípio da descen-
âmbito das tralização com ênfase na municipa-
estratégias da sua lização ganha clareza e se transforma
implementação, no em eixo estratégico para a constru-
ção de novas relações entre as três
entanto, a revisão esferas de Governo”.
é inadiável.
OS NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE
“A Atenção Básica deve ser a gran-
de referência do SUS para a popula-
RADIS 15  NOV/2003
[ 9 ]

ção, refletindo a diversidade das ne- contabilização nos fundos de saúde, de postulado transitório da Constituição Fe-
cessidades locais e regionais, abrangen- gastos com limpeza urbana, saneamen- deral, de pelo menos 30% do Orçamento da
do ações e serviços de saúde que re- to, merenda escolar e outros; esco- Seguridade Social para o SUS, o que signifi-
solvam adequadamente no mínimo 80% lha da universalidade como o grande caria hoje duplicar o orçamento do Minis-
da demanda da população e se articu- eixo estratégico, operacionalizado tério da Saúde, e, entre tantas coisas,
lando com os demais níveis do sistema. pela municipalização, em detrimen- subtraiu de outras fontes valores equiva-
Segundo estimativas recentes, para que to dos princípios da integralidade, lentes aos oriundos da CPMF para o SUS,
a Atenção Básica exerça plenamente eqüidade e regionalização, o que re- anulando qualquer ganho obtido. No Bra-
seu papel na saúde da população e na sultou numa universalidade precarizada sil, permanecemos em torno de U$ 190 anu-
estruturação do sistema, seu financia- de focalizações e não na construção ais por habitante, enquanto os países ci-
mento deve crescer gradativamente até de um novo modelo; ação dos conse- tados gastam de U$ 1.300 a U$ 2.500 por
alcançar entre 25% e 35% do total de lhos de saúde praticamente restrita à habitante. Como os custos da maior parte
recursos para a Saúde. Os serviços de fiscalização e controle da execução das das nossas ações e serviços da Atenção
média e alta complexidade devem, en- políticas de saúde, deixando de lado Básica e parte da Média Complexidade, não
tre outras coisas, restringir a atual com- sua atribuição de atuar na formulação dependem do dólar, poderíamos alcançar
petência de porta de entrada no siste- de estratégias por meio da gestão uma boa resolutividade do sistema com
ma, controlar os altos desperdícios participativa; e necessidades dos pro- cerca de U$ 300 anuais por habitante e em
representados por atos desnecessári- fissionais de saúde, dos prestadores de alguns anos chegar a U$ 600. Fundamental
os, e constituir-se em referência, apoio serviços e dos fabricantes de medi- é que, nesse trajeto, os recursos sejam
e qualificação das ações e serviços de camentos, equipamentos e outros concentrados na Atenção Básica e na
atenção básica”. insumos determinadas não pelas ne- regionalização, e que a participação dos
cessidades da população, mas por orçamentos públicos no setor saúde salte
A SITUAÇÃO ATUAL pressão das respectivas entidades que dos atuais 45% para pelo menos 60%. Caso
“Apesar de tudo, depois de qua- os representam e justificadas com as as vontades políticas e decisões de Gover-
se 13 anos, ainda se encontram forte- ‘séries históricas’ de produção de no não apontem para o abandono das táti-
mente presentes no SUS inúmeras ca- consultas, exames e internações, e de cas de sobrevivência e desonerações já
racterísticas do velho modelo de aquisições dos insumos, favorecendo in- referidas, para a reformulação da lógica de
saúde, dentre elas, o amplo predomí- teresses corporativos e de mercado”. repasses e de remuneração dos serviços, e
nio da remuneração dos prestadores para a elevação do financiamento público,
e parte dos profissionais por produ- há o perigo de os interesses do modelo ‘ve-
ção e procedimentos, conforme ta- lho’ acomodarem-se e reciclarem-se a no-
bela nacional, com impraticável con- Apesar de tudo, vas racionalidades, reproduzindo-se e es-
trole a favor das necessidades e depois de quase tabilizando o sistema na cultura do ‘SUS pobre
prioridades da população; a compra e para os pobres’ em nome da universalidade.
utilização de equipamentos por pres- 13 anos, ainda A perspectiva de reconduzir a construção
são de fabricantes e interesses de se encontram do SUS por estratégias nacionais formuladas
mercado; o baixo nível de financiamen- com novas combinações favoráveis à
to e a baixa resolutividade da Atenção fortemente presentes integralidade, equidade, regionalização e
Básica; repasses federais quase total- no SUS inúmeras participação dos conselhos de saúde na sua
mente vinculados a programas, proje- formulação, implica na efetivação deste pro-
tos e prioridades pontuais que inibem
características cesso desde já, na atual escassez de recur-
ou distorcem a definição loco-regional do velho modelo sos, o que só se viabilizará com a ousadia de
de prioridades e metas; crescente for- de saúde. confiar aos atores sociais e da gestão do
necimento de medicamentos e realiza- SUS em cada região, a criatividade, os pac-
ção de exames nos serviços do SUS, tos e os caminhos, evidentemente, sob um
mediante receitas e requisições gera- ‘rumo orientador’ abrangente definido ao
das especialmente nos planos privados; O FINANCIAMENTO nível nacional.
iniqüidade social e regional em espe- E AS ESTRATÉGIAS NACIONAIS DE Vários municípios e regiões no
cial na prestação de serviços de mé- CONSTRUÇÃO DO ‘MODELO SUS’ país, além de resistir ao desmanche,
dia e alta complexidade, apesar dos “Alguns dados apontam que o ano de conseguiram avançar, inclusive em
reconhecidos avanços em direção à 2002 foi fechado com aproximadamente R$ relação à integralidade e à equidade,
eqüidade em várias unidades de mé- 27,5 bilhões do Ministério da Saúde, R$ 9 justificando o bordão lançado na 10ª
dia complexidade sob gestão munici- bilhões das Secretarias de Saúde dos Esta- CNS: ‘Onde dá SUS, dá certo.’
pal; grande migração da classe média dos e DF, e R$ 12 bilhões das Secretarias de Como braço institucional e de
do SUS para planos privados de Saúde, Saúde dos municípios, totalizando por vol- gestão participativa da Reforma Sa-
com fornecimento isolado de medica- ta de R$ 48,5 bilhões para o SUS. Os gastos nitária Brasileira, o SUS tem sido a
mento ou procedimentos de alta privados com a saúde estão estimados em única política pública de cidadania
complexidade; sobrecarga dos municí- aproximadamente R$ 53 bilhões. Temos, que resistiu, certamente, por ser
pios devido à desoneração financeira e portanto, uma participação dos orçamen- fruto desse movimento social que o
política causada pela insuficiência cres- tos públicos em torno de 45% de todos os acompanha e o defende, se compor-
cente dos repasses do governo federal, gastos da sociedade brasileira com saúde, tando como a obstinação de Galileu
cuja participação no financiamento pú- o que revela, em relação ao mínimo de 70% Galilei: ‘Eppur si muove’*”.
blico da saúde que historicamente gira- verificado na maioria dos países europeus
va em torno de 65% a70%, caiu para 56,2% e no Canadá, uma baixa resposta do Estado
em 2002 e continua caindo, e cresci- às demandas de saúde. Ao longo dos doze *“ainda assim, ela se move”: frase
mento da contrapartida municipal; últimos anos, a política econômico-finan- dita por Galileu após abjurar que o
desrespeito freqüente à EC-29, com ceira do governo federal desconsiderou o planeta Terra girava em torno do sol.
RADIS 15  NOV/2003
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12ª Conferência nacional de Saúde

12ª CNS: mudando para melhorar


Conselho Nacional de Saúde, que Conferências Municipais e for para
Ana Beatriz de Noronha assumiu a organização da ‘Doze’, o relatório, somente aquilo que es-
garantiu os 25% de representação tiver relacionado aos âmbitos esta-

M
uitas coisas foram previs- dos trabalhadores da saúde e criou dual e federal, seguirá para a etapa
tas para que a 12ª Con- algumas novidades que, certamen- estadual, que irá repetir o mesmo
ferência Nacional de te, entrarão para a história das con- procedimento com as propostas que
Saúde atingisse o seu ferências de saúde do Brasil. forem de âmbito federal. As propos-
objetivo principal: servir como es- tas oriundas das Conferências Esta-
paço privilegiado de avaliação da OS DELEGADOS E OBSERVADORES duais serão reunidas em um único
Saúde no país e de proposição de Os delegados eleitos nas Conferên- relatório-síntese, um ‘consolidado’,
estratégias de consolidação do cias Estaduais para participarem da etapa que será encaminhado aos delega-
SUS. Desde o início, a idéia era nacional poderão se inscrever pela dos da Conferência Nacional. Ao fi-
reviver, em alguma medida, o espí- internet, diretamente no site da Confe- nal do processo, o relatório final,
rito verdadeiramente democrático rência (www.12conferencia.saude.gov.br), produzido na etapa nacional, deve-
da inesquecível ‘Oitava’, momento até o dia 17 de novembro. No site, rá representar os trabalhos das
consagrador do Movimento da Re- também haverá uma lista com o nome conferências municipais, estaduais
forma Sanitária Brasileira e funda- de todos os delegados que participa- e da nacional. Essas são, em sínte-
dor do SUS. Pela primeira vez no rão do evento em Brasília. se, as normas determinadas pelo
país, uma conferência foi antecipa- Como em toda Conferência, sem- ‘Instrutivo da Relatoria’, que tam-
da para que o governo pudesse sub- pre há muitas pessoas, representan- bém está disponível na íntegra no
meter a sua política de Saúde à tes de segmentos organizados da so- site da Conferência.
apreciação direta da sociedade. ciedade, que se interessam por
Pela primeira vez, o Ministro da Saú- acompanhar e participar dos deba- DOIS DIAS PARA A PLENÁRIA FINAL
de assumiu publicamente o compro- tes, mas que não são eleitos dele- A história é conhecida por to-
misso de utilizar as resoluções finais gados em seus estados. Para permi- dos que já participaram de alguma
da Conferência como base para as tir a participação produtiva dessas Conferência de Saúde, ou mesmo
políticas de Saúde, tornando ainda pessoas, a opção foi credenciar de algumas conferências temáticas
maior a responsabilidade dos dele- cerca de 300 observadores, indica- da área de saúde: a plenária final,
gados, cujas decisões afetarão di- dos nas Conferências Estaduais. O na qual são discutidas e votadas
retamente a totalidade da popula- número de observadores por esta- as resoluções da Conferência, sem-
ção brasileira. do não deve ultrapassar 10% do nú- pre se arrasta várias horas, devi-
Para que a participação social mero de delegados. Os observado- do, principalmente, à abrangência
ocorresse de fato era preciso pos- res credenciados estão oficialmente e à complexidade dos temas. O re-
sibilitar a participação plena dos de- autorizados e aptos a acompanhar sultado é que, muitas vezes, o do-
legados e tornar ainda mais trans- as discussões da Conferência, as cumento final é aprovado por ape-
parente o processo de trabalho mesas temáticas e os trabalhos dos nas uma pequena parcela dos
durante o evento. Se essa era a úni- grupos. O credenciamento dos ob- participantes, já esgotados após
ca certeza, as dúvidas eram sobre servadores e da imprensa também tantas horas de discussão. Outras
como fazer isso. A tarefa coube ao será feito por meio do site. vezes, as propostas acabam sendo
As despesas de hospedagem dos encaminhadas sem votação para o
usuários e trabalhadores da saúde em Conselho Nacional de Saúde, que
“Eu espero que Brasília, e as despesas de alimenta- se encarrega de fazer as delibera-
a 12ª CNS faça ção de todos os delegados ficarão ções finais. Para que isso não se
uma avaliação por conta do Ministério da Saúde. O repetisse na ‘Doze’ e que houves-
muito concreta transporte em Brasília também fica- se tempo suficiente para a totali-
do SUS: sem rá a cargo do Ministério, enquanto dade dos delegados participarem
subterfúgios, o transporte dos estados até Brasília da plenária final, a solução encon-
sem corporati-
fica por conta dos estados. trada foi reservar dois dias para a
vismos e sem dogmatismos.
Que parta mais pragmatica- realização do processo final de
mente para concretizar o di- OS RELATÓRIOS ‘ASCENDENTES’ votação, garantido assim sua ob-
reito à saúde e não fique ape- Em todas as etapas da Confe- jetividade e sua legitimidade. Além
nas afirmando esse direito que rência — municipal, estadual e na- disso, para evitar imprevistos, o
todos já conhecem”. cional — as discussões devem seguir Conselho Nacional recomendou
a estrutura proposta pelo Conselho que as delegações só programem
Geraldo Lucchese, consultor Nacional de Saúde, em torno dos dez sua volta aos estados de origem no
legislativo de Saúde eixos temáticos escolhidos. Dessa dia 12 de dezembro, dia seguinte
forma, de tudo que for discutido nas à Plenária Final.
RADIS 15  NOV/2003
[ 11 ]

Vigilância Sanitária a postos para a Conferência

Ana Beatriz de Noronha

C olocada muitas vezes à margem


do SUS, ela já foi chamada de
‘o primo po-bre’ ou até mesmo de
‘o patinho feio’ da Saúde. Um gru-
po de ruidosos, combativos e orga-
nizados militantes, no entanto, não
se cansa de defender o direito de
a Vigilância Sanitária poder se
transformar num belo cisne a ser- autonomia do sujeito, da responsabi- um modelo único de descentralização
viço da saúde da população. lidade social e da eqüidade, disse, de- que desconsidera as especificidades dos
Com o objetivo de discutir o fendendo que, para ser realmente municípios brasileiros.
temário da 12ª CNS, identificando as transformadora, a requalificação do SUS
questões que, de alguma forma, se re- deve envolver tanto a melhoria do pró- AS PROPOSTAS
lacionem com as ações de vigilância sa- prio sistema, no âmbito setorial, quan- Para os participantes da Oficina,
nitária na consolidação do SUS, e ela- to das políticas públicas, no âmbito so- a primeira e mais relevante recomen-
borar uma proposta do setor para a cial, e do modelo de desenvolvimento, dação a ser levada para a ‘’Doze’ é a
Conferência, o Grupo de Trabalho de promovendo uma intervenção estrutu- implementação imediata das delibera-
Vigilância Sanitária (GT-VISA) da Associa- ral. “Não é mais possível que as políticas ções da 1ª Conferência Nacional de
ção Brasileira de Pós-Graduação de Saú- sociais sejam pensadas sob a ótica do Vigilância Sanitária, entendidas como
de Coletiva (Abrasco) organizou uma lucro. O desenvolvimento social não as diretrizes que devem orientar a for-
oficina, realizada nos dias 9 e 10 de ou- pode ser visto apenas como resultado mulação de políticas para a área, em
tubro, no auditório do INCQS/Fiocruz, do desenvolvimento econômico, mas sim consonância com os princípios do SUS.
com cerca de 100 participantes. como o seu motor”, concluiu. Também mereceram destaque a
Os temas foram discutidos a par- No segundo dia, sob coordenação urgência da construção da intraseto-
tir de duas linhas aglutinadoras: a de Ediná Alves (ISC/UFBa), participaram rialidade, ou seja da articulação e
‘Organização da Atenção em Saúde’, da mesa Geraldo Lucchese (consultor integração, no interior do Ministério
com ênfase na promoção, e ‘As três legislativo de Saúde), Ana Maria da Saúde, das diversas áreas afeitas
esferas de governo e a construção Figueiredo e Sueli Dallari (FSP/USP), aos produtos e serviços de saúde,
do SUS’, que resgataram, respectiva- Dinton Barreiro (Fioprev) e Maria de ambiente e saúde do trabalhador, bem
mente, os temas ‘Visa como promo- Lourdes Moura (CVS/SES/RJ), falando como Ciência e Tecnologia e Insumos
ção e proteção da Saúde’ e ‘Organi- de ‘gestão do trabalho’, ‘direito à saú- Estratégicos, e o fortalecimento da
zação do Sistema Nacional de de’ e ‘organização da atenção’. A tôni- rede de laboratórios públicos, garan-
Vigilância’, da 1ª Conferência Nacio- ca do dia foi sobre a necessidade de tindo o financiamento para a expan-
nal de Vigilância Sanitária (Conavisa). estruturação do Sistema Nacional de são da capacidade instalada e sua
Vigilância Sanitária que, segundo Geral- manutenção, bem como a incorpora-
AS MESAS do Lucchese, ainda funciona baseado ção de tecnologias adequadas às fun-
No primeiro dia do evento, em apenas na autoridade territorial e na ções da rede de controle de qualida-
mesa coordenada por Vera Lúcia autonomia dos entes federados, quan- de de produtos e serviços
Pepe (GT-Visa Abrasco), falaram An- do deveria considerar prioritariamente Em breve, os vídeos dos debates es-
tônio Ivo de Carvalho e Jorge Huet os imperativos da gestão do risco sani- tarão disponíveis em www.redefiocruz.
Machado (Ensp/Fiocruz), tratando tário, a noção da função e dos resulta- fiocruz.br, na seção ‘vídeoconferências’,
respectivamente de ‘promoção da dos. Outros problemas apontados por e o relatório final do evento, na se-
Saúde’ e ‘intersetorialidade’; e André ele são a carência de recursos, a ção do GT-Visa do site da Abrasco
Luis Gemal (INCQS/Fiocruz), Maria do vulnerabilidade ao mercado político e (www.abrasco.org.br).
Espírito Santo (CES/RJ) e Carlos Mag-
no Ramos (Fioprev), com os temas ‘ci-
ência e tecnologia’, ‘controle soci-
al’ e ‘seguridade e financiamento’.
Em sua palestra, Antônio Ivo rea-
GT-Visa
firmou a necessidade de se repensar organiza
a teoria da Reforma Sanitária, com base
FOTO: ANA BEATRIZ DE NORONHA

oficina
na idéia de ‘município saudável’ e fa- inspirado
zendo da promoção um esforço cana- em Sergio
Arouca
lizado de mudanças mais ambiciosas.
— A Saúde, conceito socialmente
definido e que, portanto varia no espa-
ço e no tempo, se transformou num
bem público e individual, devendo ser
considerada dentro dos princípios da
RADIS 15  NOV/2003
[ 12 ]

Movimentos sociais de saúde


enfrentam o desafio da articulação
Ana Beatriz de Noronha

N a revista Radis 9 (mai/2003, pá-


gina 7), ao falar sobre a 12ª CNS,
Sergio Arouca declarou que havia in-
tenção no Ministério da Saúde de
trazer representantes dos movimen-
tos sociais de saúde, que antes par-
ticipavam apenas como usurários,
para as discussões da conferência.
Essa idéia está começando a se con-
cretizar com o trabalho da Rede de Edu-
cação Popular e Saúde (Redepopsaúde),
que assumiu, com apoio da Secretaria de
Gestão do Trabalho e Educação na Saúde
do Ministério da Saúde, a tarefa de ten-
tar articular os inúmeros movimentos so-
ciais da saúde que, desde os anos 70, vêm
se estruturando em todo o país. sobre a importância de se pensar glo- versitários e de serviços no nível local
balmente e se agir localmente, agora che- —, levando esse processo ao conheci-
UM MOMENTO ÚNICO gou a hora de também se pensar local- mento dos conselhos de saúde.
O convite à participação dos movi- mente e se agir nacionalmente”, conclui. De que forma, por exemplo, tor-
mentos na Articulação Nacional de Mo- nar possível a participação de grupos
vimentos e Práticas de Educação Po- OS ENCONTROS ESTADUAIS E socialmente excluídos, como a popu-
pular em Saúde (Aneps) foi feito, como AS PROPOSTAS PARA A ‘DOZE’ lação de rua que, apesar de aparente-
nos conta Eymard Vasconcelos (UFPB), Dois meses e meio depois de inici- mente carente de autoconfiança e
por meio de uma carta que citava, en- ado o projeto, 21 estados já haviam descrente da possibilidade de mudar
tre outras coisas, a importância do di- agendado seus encontros. Isso foi con- seu próprio destino, tem um forte po-
álogo entre os saberes popular e cien- siderado uma vitória pelo coordenador tencial e um grande saber feito de ex-
tífico para a construção de novos da Aneps, Eduardo Stotz (Elos/Fiocruz). periências? Essa é uma das questões
modos de cuidar da saúde; a incorpo- — O processo é difícil porque ain- que é preciso responder para que se
ração pelo SUS de inúmeras idéias ino- da não há uma consciência clara e ge- construa efetivamente uma política
vadoras criadas nas experiências de neralizada de que, para participar da ela- pública ‘com’ a população, consideran-
educação popular em saúde; a desco- boração de uma política nacional de do a sua situação, o modo de vida, o
berta da educação popular como um educação popular e saúde, é indispen- conhecimento, as crenças e as expec-
valioso instrumento de gerenciamento sável superar o particularismo, sem per- tativas como pontos de partida.
participativo das políticas de saúde. der de vista a diferença, expressa nos — A iniciativa da Aneps converge
A idéia, reforçada numa reunião tempos, nas culturas, nas formas, nos para a idéia de um autêntico controle
entre membros do Ministério e repre- métodos e na lógica de cada um dos três social do sistema de saúde, até aqui res-
sentantes da Redepop e de vários movi- tipos de atores — lideranças e ativistas trito ao aumento da cobertura e à luta
mentos organizados, era que o Ministé- de movimentos sociais, profissionais e contra a precariedade dos serviços. As
rio da Saúde apoiaria financeiramente a técnicos de saúde e pesquisadores uni- experiências não institucionalizadas
organização de Encontros de Movimen- versitários — que constituem a Aneps, dos movimentos vão além da assistên-
tos e Práticas de Educação Popular em justifica Eduardo Stotz, destacando tam- cia. Elas mostram preocupação com as
Saúde em todos os estados e um grande bém a importância da incorporação ao pessoas e com outras formas de se
Encontro Nacional a ser realizado na vés- processo de um quarto ator: o Estado. pensar e promover a saúde, diz Stotz,
pera da 12ª CNS, cujo foco seriam as dis- A Aneps ainda não definiu suas indicando para aqueles que desejarem,
cussões sobre a dinamização da partici- propostas finais para a Conferência a leitura do texto ‘Os desafios para o
pação popular no processo de controle Nacional de Saúde, mas os encontros SUS e a Educação Popular’, disponível
social, pela possibilidade de abertura aos já realizados apontam para algumas di- no site da Rede Popular de Educação
pequenos movimentos de saúde, e so- reções importantes. A principal delas em Saúde (www.redepopsaude.com.br),
bre as formas de integração dos movi- parece ser a necessidade de incorpo- onde também é possível conhecer mais
mentos sociais aos Pólos Permanentes de rar, nas políticas e nas práticas de saú- profundamente a Aneps.
Educação em Saúde que estão sendo de, o conhecimento das pessoas co-
implementados em todo o país como parte muns — usuários, doentes e seus Mais informações:
da política de formação de recursos hu- familiares — e das organizações atuan- Elos — Núcleo de Estudos Locais em
manos para o SUS. tes no nível local. O grande desafio, Saúde (Ensp/Fiocruz)
De acordo com Eymard, o atual nesse sentido, é o de viabilizar a parti- Av. Brasil, 4036/905 — Manguinhos
momento político tem que ser aprovei- cipação dos pequenos movimentos — Rio de Janeiro / RJ — CEP: 21040-361
tado pelos movimentos. “Há muito se fala ongs, práticas comunitárias, grupos uni- Tel.: (21) 2260-7453
RADIS 15  NOV/2003
[ 13 ]

Conferências Estaduais
estabelecem prioridades
que cumpram, por um determinado ganhou destaque. O atraso na
Ana Beatriz de Noronha período, estágio obrigatório em mu- municipalização tem ocasionado pro-
nicípios do interior do Pará. blemas devido à transferência, prin-

M arcada para ocorrer até o dia


31 de outubro, a etapa estadu-
al da 12ª Conferência Nacional de
Na questão do financiamento, foi
aprovada uma proposta importante
sobre a criação de política de finan-
cipalmente para Manaus, de pacien-
tes que não conseguem tratamento
nos seus municípios de origem. Isso
Saúde continua a pleno vapor. Diver- ciamento do MS para a região, consi- sobrecarrega o sistema de saúde de
sos estados já realizaram suas confe- derando o Fator Amazônico, isto é, Manaus e acarreta um grande ônus
rências, possibilitando um quadro mais que leve em conta tanto a densidade aos cofres públicos nos gastos com
definido dos principais pontos a se- demográfica da região quanto o perfil transporte. Ao final da Conferência,
rem discutidos, em Brasília, na etapa epidemiológico das doenças no esta- foram eleitos os 40 delegados e qua-
nacional da ‘Doze’. do e o índice de desenvolvimento hu- tro observadores que irão represen-
Mais notícias sobre as conferências mano (IDH) medido pelo IBGE. tar o estado em Brasília.
estaduais podem ser acompanhadas pelo
site www.12.conferencia.saude.gov.br A IMPORTÂNCIA FORMAÇÃO PROFISSIONAL
DO FATOR AMAZÔNICO E MUNICIPALIZAÇÃO
A PARTICIPAÇÃO INDÍGENA A instituição do Fator Amazôni- Segundo avaliação da coorde-
Na 6ª Conferência Estadual de co também está presente entre as nadora geral da 4ª Conferência Es-
Saúde do Pará, encerrada no dia 17 propostas que serão levadas à Brasília tadual de Saúde do Acre e secre-
de outubro, foram votadas cerca de pelos delegados eleitos na 4ª Confe- tária Executiva do Conselho
80 propostas. No tema da organiza- rência Estadual do Amazonas. A in- Estadual de Saúde, Zilmar Cândi-
ção da atenção à saúde, o destaque clusão do tema, não é surpresa e do da Silva, o evento superou to-
foi para a saúde indígena. A idéia é está relacionada às peculiaridades da das as expectativas dos participan-
garantir a aprovação da liberação, região norte, no caso, mais especifi- tes e organizadores. Entre os
pelo Ministério da Saúde (MS) de camente, à realidade enfrentada temas mais discutidos estava o da
um fundo em separado do teto fi- pelos municípios amazonenses. “En- Educação Permanente. Segundo
nanceiro do estado que garanta o quanto nos outros estados se vai de Zilmar, o fortalecimento dos pó-
atendimento de média e alta com- um município a outro em algumas los de educação permanente foi
plexidades para os índios, que atu- horas, nós aqui, se formos pelo rio, uma unanimidade. “Nós entende-
almente enfrentam longas distânci- chegamos a levar três ou quatro dias mos que os cursos de capacitação
as em busca de tratamento. A para atender aos povoados mais dis- existentes não estão dando con-
proposta foi levada à Conferência tantes”, explica Joaquim Barros, ci- ta da requalificação dos profissio-
Estadual pelos 16 delegados indíge- rurgião-dentista, representante dos nais de saúde na medida necessá-
nas, que, pela primeira vez no Bra- trabalhadores de saúde. ria ao sistema”, disse ela.
sil, participam de uma conferência A instituição do fator levaria ao Para o secretário estadual de
de saúde. Para o delegado aumento no teto por habitante Saúde, Cassiano Marques, os deba-
da tribo Gavião, Pepkraip definido pelo Ministério tes realizados demonstraram a im-
Apeci, esse é um mo- da Saúde para a região portância de se discutir as ques-
mento histórico para e corrigiria algumas tões da saúde com os diversos
a comunidade indíge- distorções criadas segmentos da sociedade, que são,
na no Brasil. “Até quando se leva em segundo ele, capazes de refletir
hoje, a gente só consideração apenas sobre as competências do Sistema
era lembrado no a densidade demográ- Único de Saúde, pontuando os pro-
Dia do Índio”, dis- fica. “No Rio de Janei- blemas e apontando as soluções prá-
se ele ao jornal ro, por exemplo, o MS ticas e rápidas.
paraense ‘O liberal’, calcula R$ 70 por usu- A 4ª Conferência Estadual de
lembrando ainda que ário, enquanto aqui o Saúde do Amapá reuniu cerca de 700
esta será a primeira valor é de R$ 44”, diz Jo- pessoas durante quatro dias. O au-
vez que os indígenas aquim, lembrando que mento das verbas do SUS para o es-
levarão representan- essa diferença não leva tado foi apontado como caminho
tes para uma conferên- em conta as distân- para a melhoria do atendimento à po-
cia nacional. cias que os profissi- pulação. Para o governador Waldez
Para resolver a ques- onais devem percor- Góes, o atraso na municipalização,
tão da falta de médicos rer, os desafios que que impede que pelo menos as duas
para atendimento básico enfrentam nas viagens maiores prefeituras do estado —
no interior, foi proposta e a indisponibilidade de re- Macapá e Santana — sejam habilita-
uma lei que obrigue todos cursos humanos. das na gestão plena do sistema, acar-
os médicos que se formarem A municipalização da reta uma perda de recursos da or-
nas universidades públicas saúde no estado também dem de R$ 30 milhões.
RADIS 15  NOV/2003
[ 14 ]

FINANCIAMENTO DO SUS

EC-29 determina o que deve ser gasto com Saúde


veriam em ações e serviços públicos de
Katia Machado saúde em 2002. Até 2004, os estados
terão de gastar 12% das receitas própri-

N
o Brasil, o direito à saúde as na área. Isso significa que os estados
está garantido na Consti- que em 2000 aplicavam até 7% das re-
tuição Federal — art. 196 ceitas próprias em saúde deveriam au-
— e organizado por meio mentar a despesa em, no mínimo, um
do Sistema Único de Saúde (SUS), ins- ponto percentual ao ano até 2003. Já
tituído pela Lei Orgânica 8080. Para dar os que aplicavam mais de 7% em 2000
conta das necessidades de saúde da deveriam dividir por 5 a diferença entre
população, um fator é essencial: re- o aplicado e a meta de 12%.
cursos financeiros suficientes. Desde imóvel. A alteração no artigo 160 proi- Entre os estados que deixaram
2000, o financiamento do SUS tem como biu que a União retenha ou promova de cumprir com o que determina a
marco legal a Emenda Constitucional restrição à entrega dos recursos atri- Emenda, o MS aponta Paraná, Rio
nº 29 (EC-29), estabelecendo que os go- buídos ao Sistema de Saúde. No artigo Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de
vernos federal, estaduais e municipais 167, foi feita uma ressalva à vinculação Janeiro com os piores índices.
aumentem seus investimentos na Saú- de receitas de impostos destinadas às
de, garantindo recursos mínimos para ações e serviços públicos de saúde. No MANOBRAS PARA BURLAR A LEI
ações e serviços no âmbito do SUS. artigo 198, ficou estabelecido uma apli- Recetemente, surgiu uma forte
A Emenda alterou os artigos 34, 35, cação anual de recursos mínimos para discussão no que diz respeito aos re-
156, 160, 167 e 198 da Constituição Fe- a Saúde que derivam da aplicação de cursos destinados à Saúde. O veto do
deral e acrescentou o artigo 77 ao Ato percentuais calculados diferentemen- presidente Lula ao parágrafo dois do
das Disposições Constitucionais Transi- te pela União, estados e municípios. artigo 59 da Lei de Diretrizes Orçamen-
tórias, para assegurar os recursos para A Emenda proíbe a inclusão do tárias (LDO) para 2004, que considera-
o financiamento das ações e serviços pagamento de inativos com recursos va como “ações e serviços públicos de
públicos de saúde. O artigo 34 incluiu a da Saúde, que passaram a ser carac- saúde a totalidade das dotações do Mi-
Saúde para a aplicação do mínimo exigi- terizados como gastos de natureza nistério da Saúde, deduzidos os encar-
do da receita resultante de impostos previdenciária, e qualquer outra ação gos previdenciários da União, os servi-
estaduais e ampliou o poder de inter- que tinha como justificativa a promo- ços da dívida e a parcela das despesas
venção da União nos Estados, caso não ção da qualidade de vida e saúde da do Ministério financiada com recursos
cumpram com a obrigação de vincular a população como alimentação, sanea- do Fundo de Combate e Erradicação da
percentagem estabelecida de sua re- mento básico, trabalho e lazer. Per- Fome” estaria esbarrando na EC-29. Isso
ceita. O artigo 35 passou a permitir que gunta-se, portanto, quem está de porque, com o veto do presidente, cer-
União e Estados intervenham em seus fato cumprindo a EC-29? ca de R$ 3,5 milhões dos recursos que
municípios caso descumpram a aplica- De acordo com levantamento rea- deveriam ser destinados à saúde passari-
ção mínima de recursos da receita mu- lizado pelo Ministério da Saúde (MS), 59% am a ser aplicados em ações do Fundo
nicipal em ações e serviços de saúde. dos 5.559 municípios brasileiros cumpri- de Combate e Erradicação da Pobreza.
De acordo com o artigo 156, cada muni- ram, no ano passado, o que determina A mobilização do setor Saúde foi
cípio pode elaborar a sua Lei Municipal a EC-29. Isso significa que os municípios grande, por considerar escassos os re-
sobre IPTU que passa a ser progressivo aplicaram R$ 10,7 bilhões no setor no cursos da área, deixando de contem-
em razão do valor, localização e uso do ano passado e que os poucos municípi- plar muitas necessidades da população.
os que descumpriram a Emenda devem “Basta citar que 50 milhões de cida-
R$ 219,6 milhões. De acordo com a dãos brasileiros não têm acesso a me-
O RADIS ADVERTE: Emenda, até o próximo ano, os municí- dicamentos, e que programas como
Dinheiro não traz felicidade nem pios terão de aplicar 15% das receitas ampliação do atendimento na rede pú-
garante a saúde. No entanto, a próprias em saúde. Ou seja, aqueles que, blica, assistência integral à saúde da
falta de recursos faz muito mal em 2000 aplicavam até 7% das receitas mulher, e valorização dos profissionais
a saúde do SUS. próprias, deveriam aplicar 8,6% em 2001, de saúde serão certamente afetados”,
10,2% em 2002 e 11,8% em 2003. Já os escreveu a deputada pelo PCdoB,
que aplicavam mais de 7% em 2000, de- Jandira Feghalli, no jornal O Globo.
veriam dividir por cinco a diferença en- O resultado dessa polêmica foi reto-
tre o aplicado e a meta de 15%. mar o que exige a EC-29. Nesse sentido, o
Enquanto a maioria dos municípios governo, no dia 24 de outubro, aceitou a
estão seguindo a EC-29, grande parte recomendação do procurador-geral da Re-
dos estados descumprem o que a Cons- pública, Cláudio Fonteles, de aplicar os
tituição determina. Ao todo, segundo o recusos aprovados em orçamento em ações
MS, 17 estados não gastaram o que de- e serviços exclusivos da Saúde.
RADIS 15  NOV/2003
[ 15 ]

A S S I ST Ê N C I A F
FAARMACÊUTIC A

A Assistência Farmacêutica
não é só uma droga
as da Farmácia, diria a eles que se o
Colaboração: Alvaro Nascimento amigo tivesse tido a oportunidade de
conversar sobre os motivos que o es-

U
m indivíduo portador do tavam afastando dos medicamentos,
vírus HIV entra no pátio provavelmente não teria piorado, não
interno de uma unidade teria sido motivo de ainda mais gastos
de saúde lotada de pes- para o sistema de saúde, não teria
soas aguardando atendimento. Ele é ocupado um leito que poderia ser
Conferência Nacional de Medicamentos
um paciente já diagnosticado, trata- destinado a outro paciente e poderia
e Assitência Farmacêutica
do e acompanhado pelos profissionais estar trabalhando e produzindo como
BRASÍLIA – 15 A 18 DE SETEMBRO DE 2003
da unidade. Vai ali todo mês receber qualquer pessoa. Mas como dizer isso
os medicamentos para controlar o ví- tudo para eles?
rus, que lhe garantem boa qualidade O exemplo de como não deve ser os à superação das dificuldades do
de vida e já propiciaram até sua volta a relação entre uma unidade de saú- setor são muitos. Eles começam nas
ao trabalho. Um problema é ter que de e o cidadão (também chamado de condições de trabalho dos profissio-
sair todos os meses na hora do expe- ‘usuário’, ‘cliente’, ‘paciente’, ‘doen- nais (salário digno, capacitação, equi-
diente para pegar os medicamentos, te’, mas que segundo Sérgio Arouca é pamentos), passam pela regulação da
pois a Farmácia Hospitalar só funcio- o sujeito principal do Sistema Único indústria farmacêutica (de preço, de
na no horário comercial. Além disso, de Saúde) mostra bem a magnitude dos concessão de registros de medica-
tem que chegar no pátio da unidade problemas do que se conceituou de- mentos, da propaganda, da remessa
de saúde, na frente daquelas pesso- nominar ‘Assistência Farmacêutica’, e ilegal de lucros via superfaturamento
as, e se dirigir àquela janelinha da Far- que vai muito além de assegurar o aces- de matérias-primas), mais investimen-
mácia Hospitalar, onde está escrito so a determinada droga capaz de pre- tos em pesquisa para superar a de-
‘Aids – Aqui’, sendo observado o tem- venir, curar, minorar o sofrimento ou pendência, fortalecimento do parque
po todo até sair com várias caixas de diagnosticar doenças. A Assistência produtivo nacional e enfrentamento,
medicamentos. Ele ainda gostaria de Farmacêutica tem, sim, que assegurar agora na seara internacional, dos in-
ter um farmacêutico sempre presen- o acesso ao medicamento e isso é um teresses dos países ricos que, por meio
te na Farmácia Hospitalar que lhe es- dos problemas mais sérios do SUS. Mas de mecanismos criados no âmbito da
clarecesse algumas dúvidas em rela- ela vai, como se viu no exemplo aci- Organização Mundial do Comércio
ção a alguns dos medicamentos que ma, muito além disso. (OMC), não abrem mão da proteção
traz tantos efeitos adversos toda vez Para tratar de tantos e tão impor- patentária e dos interesses de suas
que toma. Mas todas as vezes que ten- tantes fatores que cercam este pro- indústrias, colocados acima da vida das
ta conversar com alguém da Farmácia, blema, a realização da 1a Conferência populações dos países pobres.
ele nota, pela rispidez das respostas, Nacional de Medicamentos e Assistên- Viu como a Assistência Farmacêu-
que, ou aquelas pessoas não gostam cia Farmacêutica acabou se constitu- tica não é só uma droga? Mas se há
dele, ou são mal remuneradas, ou não indo em mais um dos muitos marcos desafios enormes a vencer, há outros
gostam do que fazem, ou não estão históricos que caracterizam a constru- que podem ser superados agora mes-
preparadas para tirar dúvidas, ou tudo ção do SUS no Brasil. Com 906 delega- mo. Se você é profissional de saúde,
isso junto. E aí, elas se ‘defendem’ dos de todo País (respeitando o con- que tal retirar agora mesmo aquela
dele daquela forma grosseira. Ele se trole social), 30 grupos de trabalho que plaquinha ‘Aids – Aqui’ na janelinha
vê sem saída, até porque sabe que não se reuniram por nove horas cada um, da Farmácia? Se você é gestor, já pro-
conseguiria comprar aqueles medica- 14 painéis específicos, quatro mini-con- videnciou a presença do farmacêuti-
mentos tão caros. Sabe que eles são ferências, três grandes mesas-redon- co em todo o horário de atendimen-
caros porque o Brasil tem que pagar das, 104 palestrantes e uma plenária to? E que tal conversar com o pessoal
uma ‘grana preta’ para os detentores final que analisou mais de 700 propos- da Farmácia para que eles ouçam e
de suas patentes, já que o país se tas, a Conferência conseguiu tratar do falem mais e melhor com o sujeito da
atrasou muito na área da pesquisa e acesso ao medicamento, da delicada fila? Claro que você também pode aju-
não domina todas as fases da produ- questão da pesquisa e do desenvolvi- dar na luta contra as patentes, mas
ção dessas drogas. Apesar de tudo, ele mento tecnológico e da essencial área resolver o que está a seu alcance agora
está decidido a continuar o tratamen- da qualidade da assistência, formação mesmo é um ótimo começo.
to para não repetir a história de um e capacitação profissional.
amigo dele que, diante de tantas ad- Não vai ser fácil tirar do papel e
versidades, abandonou o tratamento, tornar realidade todas as propostas Álvaro Nascimento é jornalista,
piorou muito, teve que ser internado aprovadas da Conferência e que ago- tecnologista da Fiocruz, ex-Editor
e deixar o emprego, e acabou sofren- ra estão sob a mesa do Conselho Na- e Coordenador do Radis, hoje tra-
do muito mais. Se ele pudesse con- cional de Saúde. Para o Governo Lula, balhando na página eletrônica
versar ‘numa boa’ com aquelas pesso- então, os enfrentamentos necessári- www.ensp.fiocruz.br/descentralizar
RADIS 15  NOV/2003
[ 16 ]

O SUS verde

Ciência e Tecnologia em Saúde


na Amazônia Legal
Katia Machado

A
s ações em saúde para mudar o
atual quadro de desigualdade
na Amazônia Legal, onde estão
os estados do Acre, Amazonas,
Amapá, Pará, Rondônia, Roraima e Pesquisa em Saúde
na Amazônia recebe
Tocantins, Mato Groso e Maranhão, destaque

FOTO: JÚLIO CÉSAR


seguem a todo vapor. Depois da oficina
realizada em Manaus, em agosto, onde
iniciaram as discussões para a criação
de uma agenda de saúde para a região,
ocorreu, em outubro, na cidade de
Belém, a primeira oficina de trabalho
‘Ciência, Tecnologia e Inovação em Saú-
de na Região Amazônica’. O trabalho, dores de investimento de C&T, a região área de Ciência,Tecnologia e Inova-
organizado pelo recém-criado Comitê norte tem a menor participação. Um ção em Saúde na Amazônia. Para
para Discussão de Ações de Ciência, exemplo que mostra o pouco que se Reinaldo Guimarães, diretor do de-
Tecnologia e Inovação em Saúde fez é o número de grupos de pesquisas partamento de Ciência e Tecnologia
(C,T&I), teve o objetivo de estabele- alocados nessa imensa região, que ocu- da Secretaria de Ciência, Tecnologia
cer prioridades de pesquisa em saúde pa cerca de 61% do território nacional, e Insumos Estratégicos, do Ministé-
e propor um plano de trabalho para em um total de aproximadamente 5 mi- rio da Saúde (Decit), é preciso apro-
definição de ações prioritárias para a lhões km2. De acordo com o censo 2002, veitar a tradição que a pesquisa em
região, mobilizando e organizando a par- realizado pelo Conselho Nacional de De- saúde tem, sobretudo na região nor-
ticipação de representantes do siste- senvolvimento Tecnológico (CNPq) so- te, fundada em uma perspectiva de
ma de saúde e de Ciência e Tecnologia bre a capacidade de pesquisa instalada articulação entre atividades de pes-
na 12ª Conferência Nacional de Saúde. no país, o número de grupos de pesqui- quisa e necessidades de saúde da
O evento integra uma série de ativida- sa em Ciências da Saúde e Ciências Bio- população. “Dos quase 15 mil grupos
des propostas pelo Ministério da Saú- lógicas da região norte é o menor do de pesquisa no país, cerca de 5 mil
de, por meio de sua Secretaria Executi- país, somando 235. Isso representa cer- grupos circulam na área da Saúde,
va, para a construção de um plano de ca de 5% do total do país nas duas áre- alcançando quase 1/3 de todas as
saúde que dê conta da diversidade e as, que é de 4.639 grupos. áreas de pesquisa. Ainda que sejam
das especificidades locais. Para Ester Bermeguy de Albu- promissores os números, a existên-
O tema Ciência, Tecnologia e Ino- querque, secretária de saúde do mu- cia de pesquisadores desassociados
vação ganha enorme importância fren- nicípio de Belém, a necessidade de com a realidade brasileira impede o
te ao pouco investimento que a região discutir C&T na Amazônia está ligada à avanço das ações na área de C&T”,
recebeu nos últimos anos. Nos indica- falta de conhecimento de dirigentes ressaltou Reinaldo.
de instituições de pesquisas e traba- Na opinião de Luciano Toledo, di-
lhadores. “A oficina vem proporcionar retor da Fiocruz/Amazônia, o tema ga-
a integração entre as nossas institui- nha importância frente a crise sanitária
O comitê, composto pelo Cen-
tro de Pesquisa Leônidas e Ma-
ria Deane/Fiocruz-AM, Instituto
ções de pesquisas, construindo um novo
momento em termos de inovação
que a região norte enfrenta. “É preciso
investir na área de ciência e tecnologia
Evandro Chagas, Instituto Nacional tecnológica”, ressaltou. em saúde na Amazônia para que o saber
de Pesquisas da Amazônia, Secre- Nesse intercâmbio institucional, científico possa dar conta de muitas
taria Estadual de Saúde do Pará, o presidente da Fiocruz, Paulo Busss, doenças emergentes e reemergentes,
Secretaria Municipal de Saúde de destacou a importância que a insti- como a malária, a tuberculose e a he-
Belém e Universidade Federal do tuição confere ao trabalho. Como ex- patite”, informou. Para tanto, dois im-
plicou, “a Fiocruz inicia neste espa- portantes desafios, segundo Luciano,
Pará (Ufpa), foi formado a partir
ço uma marcha conjunta e um precisam ser enfrentados: a necessi-
de um encaminhamento feito na
esforço comum para aprofundar o co- dade de superação da desigualdade re-
Oficina ‘Construindo uma Agenda nhecimento das instituições no cam- gional e a de investimento em recur-
de Saúde para Amazônia Legal, que po da pesquisa em saúde”. sos humanos. Para Samuel Sá, professor
se realizou em agosto, na cidade A oficina reuniu representantes da Universidade Federal do Paraná
de Manaus, para que possa identi- de instituições de pesquisa, do Mi- (Ufpa), ao fazer um diagnóstico da Ci-
ficar potencialidades e dificulda- nistério da Saúde e dos estados e ência e Tecnologia em Saúde na Ama-
des da região em torno da área de municípios para discutir o valor da zônia, falta à área estabelecer elos
Ciência e Tecnologia. pesquisa em saúde no Brasil e traçar entre as várias funções, exemplificando
um diagnóstico e perspectivas da que “não adianta importar máquinas
RADIS 15  NOV/2003
[ 17 ]

para suprir a pesquisa sem preparar os


cientistas para usá-las”.
De acordo com Edmundo Gallo, Instituições de pesquisa
diretor de Investimentos e Projetos
Estratégicos da Secretaria Executiva da Região Amazônica assumem
do Ministério da Saúde (Dipe/SE/MS), acordo de cooperação técnica
falar em Ciência, Tecnologia e Inova-
ção em Saúde é discutir o complexo
produtivo do país. “Precisamos investir
nesse setor. Para se ter uma idéia, im-
U m dos pontos altos da Oficina de
trabalho ‘Ciência, Tecnologia e
Inovação em Saúde na Região Amazô-
portamos cerca de 33% de Ciência e
nica’ foi a assinatura do ‘acordo mul-

FOTO: JÚLIO CÉSAR


Tecnologia de países que estão no
tilateral de cooperação técnico ci-
mesmo nível de desenvolvimento que
entífica entre as instituições de C&T
o nosso”, explicou. Para tanto, segun-
da região Amazônica’. Tal iniciativa
do ele, o Brasil precisa superar a de-
tem como objetivo unir esforços, vi-
sarticulação entre o sistema de saúde
sando à produção de conhecimen-
e o sistema de inovação, a falta de uma
to, à formação de recursos humanos Fiocruz assina acordo de cooperação
política industrial e de inovação arti-
devidamente capacitados e à produ- entre instituiçoes de pesquisa
culadas com as políticas de saúde, a
ção de novas tecnologias que dêem
inexistência de relações firmes entre
conta das necessidades do desenvol- Como explicou Luciano Toledo,
prestadores de serviços e indústri-
vimento sustentável da Amazônia. essa foi a primeira vez na região que
as, uma política de saúde voltada ex-
Do acordo fazem parte o Mi- tantas instituições assumem um com-
clusivamente para a demanda dos
nistério da Saúde, por meio da promisso de cooperação técnica. “É um
serviços, a focalização da política de
Secretária Executiva, o Centro de acordo histórico”, exclamou o diretor
C&T no sistema científico desarticu-
Pesquisa Leônidas e Maria Deane/ da Fiocruz/AM. Para operacionalizar o
lado das políticas de inovação e saú-
Fiocruz-AM, a Fundação de Medicina trabalho, foram formados três grupos
de e a inexistência de convergência
Tropical do Amazonas, a Fundação Uni- técnicos de trabalho — ‘pesquisa e de-
na regulação da propriedade intelec-
versidade do Amazonas, a Fundação senvolvimento’, ‘recursos humanos’ e
tual e da vigilância sanitária.
Alfredo da Matta, o Instituto Nacio- ‘infra-estrutura’ — compostos por um
Entre as propostas apresentadas
nal de Pesquisa da Amazônia, o Insti- representante de cada uma das insti-
para a área, Gallo chamou a atenção
tuto de Pesquisa em Patologias Tropi- tuições integrantes do acordo, e uma
para a necessidade de investir em pes-
cais de Rondônia e a Universidade secretaria executiva, coordenada pela
quisas de medicamentos fitoterápicos
Federal do Pará. Além dessas institui- Fundação de Medicina Tropical do Ama-
e na produção de insumos de remédi-
ções, estarão sendo incluídas a Uni- zonas e pela Fiocruz/AM. Mais informa-
os, por estarem diretamente ligadas à
versidade do Acre, a Universidade de ções sobre o acordo ou para participar
realidade da Região Amazônica. “O Bra-
Roraima e o Instituto de Pesquisa de das discussões dos grupo pelo e-mail:
sil investe cerca de US$ 400 milhões ao
Doenças Tropicais do Tocantins. acordo@amazonia.fiocruz.br
ano em medicamentos fitoterápicos, o
que representa 5% do mercado mundi-
al de US$ 22 bilhões. Poderíamos gas-
tar muito mais, considerando a riqueza cial da área de Saúde e Meio Ambiente destacada ainda a existência de um
da Amazônia”, esclareceu. para formação e fixação de grupos de grupo de pesquisa em plantas medici-
pesquisa na Amazônia; a implementação nais e fitoterápicos na Universidade
RESULTADOS DA OFICINA de observatórios de inteligência; a cri- Federal do Pará e sugerida a realiza-
O evento reservou espaço para que ação de núcleos de apoio legal à for- ção de uma oficina para discutir a cri-
todos os participantes pudessem apon- mação e proteção da propriedade in- ação de fundações de amparo à pes-
tar os principais problemas e soluções telectual nas instituições geradoras do quisa na região.
para a área de C&T em Saúde. As dis- conhecimento; o fortalecimento dos
cussões foram promovidas nos grupos comitês de ética das instituições de
de trabalho, que se dividiram em três pesquisa; e o fomento à rede Norte de “Pela primeira
sub-temas: ‘saúde e meio ambiente’, Propriedade Intelectual, Biodiversidade vez o setor de
voltando-se para os grupos em situação e Conhecimento Tradicional, cujo ob- Vigilância Sani-
de vulnerabilidade a determinadas do- jetivo é o de articular as instituições tária está se
enças e agravos, como é o caso dos da região norte em torno do tema. organizando
quilombolas, indígenas, assentados e Em relação ao sub-tema ‘Recur- para uma Con-
acampados; ‘recursos humanos’, por sos Humanos’, propôs-se a implanta- ferência Naci-
meio do qual falou-se sobre educação ção de cursos de pós-graduação e onal de Saúde. A minha ex-
e trabalho dos profissionais de saúde escolas de saúde voltados para a re- pectativa é que se consiga
que atuam em pesquisa em saúde; e ‘fi- alidade da região amazônica e a for- trabalhar aquilo que estamos
discutindo há 15 anos: a or-
nanciamento de projetos para desen- mação de pessoal adequados às ca-
ganização do Sistema, ou
volvimento de Ciência, Tecnologia e Ino- racterísticas locais. Em relação ao
subsistema, Nacional de Vi-
vação em Saúde e Política de Assistência sub-tema ‘Financiamento de projetos’, gilância Sanitária, com suas
Farmacêutica para a Região Norte’. pediu-se a criação de linhas de pes- responsabilidades e seus li-
Entre as várias ações sobre o sub- quisas específicas para a Amazônia, mites. Se isso acontecer, cer-
tema ‘Saúde e Meio Ambiente’, desta- maior cooperação com a iniciativa pri- tamente estaremos dando um
cou-se a formação e fixação de recur- vada para o desenvolvimento e produ- passo importante para cons-
sos humanos ao longo das cadeias ção de medicamentos e ampliação da truir o SUS que queremos”.
produtivas; a instalação de parques instalação de cursos de pós-gradua-
André Gemal (INCQS/Fiocruz)
tecnológicos; a utilização dos royalties ção com implemento da infra-estru-
das indústrias geradoras de dívida so- tura e da logística de pesquisa. Foi
RADIS 15  NOV/2003
[ 18 ]

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da Abrasco e professor da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Pau-
lo, os diversos capítulos do livro mostram
nicos sobre a inserção e manutenção Data: 23 a 25 de novembro que, “ainda que as doenças infecciosas
do cateter central de inserção perifé- Local: Rio de Janeiro / RJ continuem a ocupar um papel central
rica - PICC – (Peripherally Inserted Cen- Mais informações: no perfil epidemiológico indígena no país,
tral Catheter), por meio da abordagem Colégio Brasileiro de Cirurgiões surgem rapidamente outros agravos im-
de diversos temas correlatos, entre Rua Visconde de Silva, 52 — Botafogo portantes, que incluem diabetes mellitus,
eles: aspectos anatômicos do sistema Rio de Janeiro/RJ / CEP: 22271-090 hipertensão arterial, neoplasias, alcolismo
cardiovascular, utilização do PICC em Tel.: (21) 2266-9150 e obesidade”.
neonatologia, pediatria e adulto, redu- E-mail: acreditação@jz.com.br
ção de agravos relacionados ao PICC e Organizado por José Gomes
principais ações do controle de infec- Temporão e Sarah Escorel, o
ção hospitalar relacionados ao PICC. I SIMPÓSIO INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE livro ‘Saúde: promessas e li-
A maioria dos pacientes hospitali- DA F AMÍLIA mites da Constituição’, de
zados sofrem instrumentação na cor- Eleutério Rodriguez Neto, é
rente sanguínea e o seu uso está rela-
cionado a diversos procedimentos. O
PICC é um dispositivo vascular de in-
O Seminário, que tem apoio do Minis-
tério da Saúde, da Sociedade Brasi-
leira de Medicina de Família (SBMFC) e
imprescindível para todos
aqueles que desejam compreender como
e por que o direito à saúde e a organiza-
serção periférica com localização cen- da Secretaria Municipal de Saúde de Belo ção do SUS foram inscritos na Constitui-
tral e pode ser inserido na própria uni- Horizonte (SMS/BH), reunirá estudantes ção de 1988. Para Paulo Buss, presidente
dade do paciente por profissionais e profissionais que trabalham no Sistema da Fiocruz, que prefacia o livro, a impor-
capacitados e qualificados. Segundo a Único de Saúde em Atenção Básica. tância da publicação está relacionada di-
Resolução Nº 258/200 do COFEN, os en- retamente ao papel de destaque que o
fermeiros foram reconhecidos como os Data: 22 e 23 de novembro autor sempre desempenhou no movimen-
profissionais habilitados à inserção e Local: Belo Horizonte / MG to da Reforma Sanitária Brasileira.
manutenção do mesmo. Mais informações:
Data: 18, 19 e 21 de novembro Ícaro Organização de Eventos Mais informações: Editora Fiocruz
Local: Rio de Janeiro / RJ Tel: (31) 3222-7266 Av. Brasil, 4.036/ 112 — Manguinhos
Mais informações: Comissão Organizadora Rio de Janeiro / RJ — CEP: 21.040-361
Centro de Estudos Olinto de Oliveira do Tel.: (31) 3274-0911 Tel.: (21) 2590-9122 ramais 106, 107 e 139
Instituto Fernandes Figueira (IFF/ Fiocruz) Sociedade Mineira de Medicina de TeleFax: (21) 2590-9122 ramais 106 e 107
Avenida Rui Barbosa, 716 — Flamengo Família e Comunidade (SMMFC) E-mail: editora@fiocruz.br
Rio de Janeiro / RJ — CEP: 22250-020 Site: www.smmfc.org.br Site: http://www.fiocruz.br/editora/
RADIS 15  NOV/2003
[ 19 ]

PÓS-TUDO

Minha coluna vertebral


curso mais uma prorrogação de quando a gente cai senta-
Aristides Dutra seis meses. Durante esse perío- do. A primeira vértebra de
do, o prazer da pesquisa tam- cima apóia a nossa cabeça e

T irei um peso dos meus ombros. Essa


expressão popular geralmente é
utilizada em sentido figurado mas a sen-
bém virou obrigação, que se
alojou sobre meus ombros
com o peso da responsabili-
se chama atlas, igual ao herói
grego que sustentava o mundo
nas costas. Parece que isso não
sação física é quase real. Lembro-me dade. Após a defesa, quan- era figura de linguagem. A colu-
nitidamente do dia em que pedi de- do eu ouvi da banca que eu na dele devia doer muito. Na zo-
missão de um emprego que me opri- era o mais novo mestre em ologia, os animais são divididos em
mia. Quando saí da empresa, me senti comunicação da ECO/ vertebrados e invertebrados. Os
tão mais leve que estava até respiran- UFRJ, a sensação foi de alí- malabaristas de circo, surpreen-
do melhor, mais intensamente. Minha vio pelo trabalho realiza- dentemente, pertencem à primei-
coluna vertebral estava mais ereta e a do. Na verdade, deveria ra categoria. Quando a coluna
cabeça, mais erguida. Meus pés toca- dizer alívio e satisfação funciona direitinho, a gente tem
vam o chão com suavidade. O peso nos por uma etapa cumprida, qualidade de vida. Quando não
ombros podia ser psicológico, mas a pois agora vem a revisão do funciona, quem tem qualidade
leveza era física e real. Isso sem falar material, busca por edito- de vida é o nosso ortopedista.
no sorriso indisfarçável e no olhar mais ra, divulgação e tudo mais. Eu dependo de minha
intenso, encarando tudo de frente. E a continuação das pesqui- coluna e quase nunca me lem-
Naquele dia, a caminhada de volta para sas, com novos enfoques e bro dela. Acho que não lhe
casa teve um sabor especial. Sabor de aprofundamentos. Coluna dou a devida atenção. Mas
água de coco em barraquinha de vertebral, aqui vamos nós. prometo que, no próximo
praia, para ser mais exato. Nossa coluna é constitu- fim de semana, vou levá-la
Essa história aconteceu há mui- ída de um punhado de ossos para passear. Quem sabe,
to tempo e desde então outros pe- curtos (chamados ‘vértebras’) até nadar um pouco. Por
sos já foram colocados ou retirados cuja função primordial é a de isso, se você vir alguém ca-
de meus ombros. A vida é assim mes- proteger o grande tronco ner- minhando acompanhado
mo, cheia de responsabilidades, de voso que é a medula espinhal. de sua coluna vertebral
compromissos, de prazos. Mas esse Mas ela também serve para nos pelo calçadão, não se es-
‘tirei um peso’ não precisa necessa- sustentar, nos mantendo eretos. pante. E nem pense em
riamente se referir a um problema. Ou, pelo menos, deveria. Temos puxar conversa, pois
Ele também pode vir de um dever 24 vértebras livres, do pescoço quando dois velhos amigos
cumprido. No dia 16 de outubro, uma ao quadril, e umas dez fundidas se encontram, o papo é
quinta-feira, defendi minha disserta- em dois grupos, o sacro e o cóc- exclusivíssimo. Outro dia
ção de mestrado. Foram dois anos de cix. Esse último serve para doer a gente se fala.
ora, pílulas...

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