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NESTA EDIÇÃO

Cobertura da Nº 26 ! Outubro de 2004


3ª Conferência Av. Brasil, 4.036/515, Manguinhos
Nacional de Rio de Janeiro, RJ ! 21040-361
Saúde Bucal w w w. e n s p . f i o c r u z . b r / r a d i s

Governo e trabalhadores
montam o quebra-cabeça
das carreiras da saúde

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LANÇAMENTOS ENSP 50 ANOS | 100 ANOS DA REVOLTA DA VACINA
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LANÇAMENTOS ENSP 50 ANOS

Para aproveitar depois da festa


LIVROS COLETÂNEA RADIS 20 ANOS

Uma escola para sil. Essas publicações estão reunidas


a saúde. Produ- na revista Radis desde agosto de 2002.
zido em parceria Este conteúdo já está disponível
com a Casa de no site do Radis (www.ensp.fiocruz.br/
Oswaldo Cruz e radis). Para o pesquisador, o trunfo
a Editora Fiocruz é o recurso de busca no acervo por
e organizado por palavra-chave e expressões boleanas:
Nísia Trindade a digitalização foi associada a um ban-
Lima, Cristina M. co de dados para consulta (instru-
O. Fonseca e ções em www.ensp.fiocruz.br/radis/
Paulo Roberto pesq_exemplo.html). Instituições li-
Ellan da Costa, o O Programa Radis participa das come- gadas à saúde podem solicitar o CD-
livro conta a história da instituição, morações do cinqüentenário da Ensp ROM com a coletânea, para instala-
que se entrelaça com a da luta pela com o lançamento da coletânea Radis ção em computador.
construção do SUS. 20 anos, que contém as publicações Programa Radis
Editora Fiocruz impressas de seus primeiros 20 anos Endereço Av. Brasil, 4.036, sala 515,
Endereço Av. Brasil, 4.036, sala 112, (1982-2002) — Súmula, Dados, Tema, Manguinhos, Rio de Janeiro, RJ
Manguinhos, Rio de Janeiro, RJ Jornal Proposta/Jornal do Radis e cin- CEP 21040-361
CEP 21040-361 co edições especiais — um total de Tel. (21) 3882-9118 / fax (21) 3882-9119
Tel. (21) 3882-9039 2.112 páginas com a memória da co- E-mail radis@ensp.fiocruz.br
E-mail editora@fiocruz.br municação em saúde pública no Bra- Site www.ensp.fiocruz.br/radis
Site www.fiocruz.br/editora

VÍDEOS ENSP NA INTERNET

Acesso a medica- Vozes do Brasil, com O novo


mentos: derecho 50 minutos de dura- portal da
fundamental, papel ção, e Aqui é per- Ensp/
del Estado. Orga- mitido sonhar, com Fiocruz
niz a d o p o r J o r g e 17 minutos, são está na
Bermudez, Maria documentários com web des-
Auxiliadora Oliveira imagens e entrevis- de o dia
e Angela Esher, é tas gravadas na 12ª 13. De-
uma coletânea da Conferência Nacio- senvolvi-
participação em se- nal de Saúde. Reali- do pelas
minários nacionais e internacionais — zação VideoSaúde equipes
do Núcleo de Assistência Farmacêu- Distribuidora da Fiocruz. Cópias nos do Cedoc (Centro de Comunicação
tica (NAF/Ensp). formatos VHS e DVD. e Informação) e do SDE (Serviço de
Livraria da Abrasco VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz Desenvolvimento Educacional), ofe-
Endereço Rua Leopoldo Bulhões, 1.480, Endereço Av. Brasil, 4.036, sala 516, rece ao usuário, interno ou exter-
1º andar, Manguinhos, Rio de Janeiro, RJ Manguinhos, Rio de Janeiro, RJ no, um mundo de informações so-
CEP 21041-210 CEP 21040-361 bre a instituição.
Tel. (21) 2590-2073 Tel. (21) 3882-9110 / 2290-4745 Site www.ensp.fiocruz.br
E-mail abrlivro@ensp.fiocruz.br Site www.cict.fiocruz.br E-mail cedoc@ensp.fiocruz.br
editorial
Nº 26 — Outubro de 2004

A vez do trabalhador

A gora vamos cobrir de perto e com


maior freqüência os acontecimen-
tos na capital do país. Transferido do
saúde bucal, reforçada e criticada em
alguns pontos na Conferência, amplia a
perspectiva de implementação do que
Comunicação em Saúde
! Para aproveitar depois da festa 2
Rio para a nova sucursal do Programa foi deliberado no encontro.
RADIS, criada em parceria com a Direto- Setembro foi marcado pela bela
ria Regional da Fiocruz em Brasília (Direb), festa dos 50 anos da Escola Nacional
o repórter Wagner Vasconcelos passa a de Saúde Pública Sergio Arouca, com Editorial
informar diretamente dos corredores do debates de alto nível, exposições e ! A vez do trabalhador 3
Congresso e dos ministérios. novos livros. O lançamento da Coletâ-
Sua primeira missão foi ouvir re- nea Radis 20 anos, com as 179 edições
presentantes de servidores e do go- publicadas até 2002, em formato digital
verno sobre um dos principais nós do que permite pesquisa por palavra-cha- Cartas 4
Sistema Único de Saúde: a gestão do ve no site do RADIS e em CD-ROM, foi a
trabalho. O resultado ainda parcial, mas realização de um sonho. Preservando e
esclarecedor, das discussões sobre o socializando esse acervo, reverencia-
Súmula 5
futuro Plano de Carreira, Cargos e Sa- mos os atores das lutas do movimento
lários do SUS está em nossa matéria da reforma sanitária e da construção
de capa. Num ponto as partes con- do Sistema Único de Saúde em cada
cordam: o plano terá que abrigar so- município do país. Homenageamos tam- Toques da Redação 7
luções para progressão entre cargos, bém todos aqueles que, desde 1982,
desvio de função, migração entre es- mantiveram a linha editorial do Progra-
feras de governo e jornada de traba- ma RADIS absolutamente comprometi-
lho, entre outras questões polêmicas. da com o interesse público.
Concurso público é a palavra de ordem Nas cartas deste mês, alguns tra-
contra as distorções provocadas pela balhadores e estudantes sinalizam seu
terceirização e a precarização do tra- interesse nos conteúdos da revista Plano de carreira, cargos e salários
balho na saúde. Radis, que utilizam para pesquisas em do SUS
A gestão do trabalho também foi mestrados de Geografia e de Saúde ! O trabalho na saúde, enfim, volta à
a principal preocupação da Federa- Pública, em Minas Gerais e na Paraíba; mesa de negociação 8
ção Interestadual de Odontologia nos estudos sobre saúde ambiental, em
debates da 3a Conferência Nacional Minas Gerais; planejamento, controle
de Saúde Bucal, que tem cobertura e avaliação do SUS, no Paraná; prepa-
da repórter Katia Machado nesta edi- ração de jornais e aulas de comunica-
ção. Ela presenciou fato praticamen- ção, no Ceará; consulta de conselhei-
te inédito: cerca de 1.000 delegados ros de saúde, no Rio de Janeiro.
votaram antes do tempo previsto 300 Na entrevista, a constatação de 3ª Conferência Nacional de Saúde
propostas e 34 moções. Rosângela que servidor público e cidadão cons- Bucal
Camapon, da Federação de Odontolo- cientes fazem a diferença. ! Pelo direito de milhões de brasileiros 12
gia e do Conselho Nacional de Saúde,
avalia que a existência, pela primeira Rogério Lannes Rocha
vez, de uma política de governo para a Coordenador do Radis

Entrevista: Humberto Jacques de


car
rttu
umm Medeiros
! “Quando o sistema corre risco, temos
que reagir de pronto” 15

Serviço 18

Pós-Tudo
! Dias de revolta 19

Capa e ilustrações Aristides Dutra


RADIS 26 ! OUT/2004
[ 6 ]

C AR
RTTA S

PSF NA B AHIA M ATERIAL DE AULA A JUDA EM PROJETO

S ou servidor da Fundação Nacional


de Saúde e atuo há 21 anos no com-
bate à doença de Chagas. Meu assunto
S ou estudante do 4º período do cur-
so de Enfermagem das Faculdades
Federais Integradas de Diamantina,
S ou psicóloga e, além de mestranda
em Saúde Coletiva na Universida-
de Estadual da Paraíba, leciono em
é o Programa Saúde da Família (PSF), que Alto Jequitinhonha, e venho parabe- instituição de nível médio que forma
foi matéria da edição de nº 23. Gostei nizar a Fiocruz pelas edições da Radis. técnicos em enfermagem. No proces-
da reportagem e aproveito para fazer A revista tem sido utilizada em sala de so de elaboração do projeto de pes-
uma pergunta: como fica a situação tra- aula como material didático para con- quisa do mestrado, tive acesso a di-
balhista dos profissionais que atuam no sulta de temas pertinentes à discipli- versas edições da Radis, fato que
PSF? Pelo menos aqui na Bahia a maioria na de Saúde Ambiental. contribuiu de forma significativa para
é de prestadores de serviços, sem ne- ! Liliane Betania Lopes, Diamantina, MG minha aprovação.
nhuma garantia. Gostaria que vocês fi- ! Rosana Farias, Campina Grande, PB
zessem uma matéria sobre o tema. E DIÇÃO ESPETACULAR
! Roque Carneiro de Oliveira, Irará, BA D ELEGADOS - ASSINANTES

Roque, a gestão do trabalho no SUS


é o tema da capa desta edição. F iquei feliz em saber que a partir
de agora vou receber, como dele-
gada à 12ª Conferência Nacional de
C ARTEIRO TRAZ ALEGRIA Saúde, a assinatura mensal da Radis,
a qual tive a oportunidade de conhe-

O lá, pessoal da Radis. Estou cur-


sando o 2º período de Geografia e
sempre uso as revistas para pesquisas e
cer mais profundamente quando es-
tive em Brasília na conferência. Cada
vez mais volto a me entusiasmar com
trabalhos. Gostaria de parabenizar toda a política nacional de saúde. Parabéns
a equipe pelo grande desempenho. O
Brasil precisa de publicações assim, que
almejem um bem maior e que trate de
S ou mestrando em Geografia na
UFU, em Uberlândia, e desenvolvo
o trabalho “Geografia médica: sobre
por estas matérias tão brilhantes e
estimulantes da nossa participação na
história do país.
assuntos polêmicos como realmente dengue”. Por acaso vi a revista nº 24 ! Silézia Maria Franklin de Souza,
devem ser tratados. Fico muito feliz num hospital, sobre “A cidade e a saú- Fortaleza, CE
quando vejo o carteiro chegar trazen- de”, uma edição espetacular sobre
do nas mãos um exemplar da Radis. os resultados do Congresso de
! Geice Karine Oliveira Rocha, Lagoa
de Patos, MG
Epidemiologia. Parabéns.
! João Carlos de Oliveira, Uberlândia, MG R ecebi com grande alegria a edi-
ção de agosto da Radis, na qua-
lidade de delegado-usuário da 12ª CNS,
representando o nosso Conselho Mu-
nicipal de Saúde de Teresópolis — sou
expediente conselheiro há 10 anos —, a nossa
Região Serrana e o nosso estado. É
Subcoordenação Justa Helena Franco histórica a luta pela democratização
Edição Marinilda Carvalho da informação realizada pelo contro-
Reportagem Jesuan Xavier (subeditor), le social, nas três esferas de gover-
Katia Machado e Wagner
Vasconcelos (Brasília/Direb) no, e este é um bom exemplo de
Arte Aristides Dutra (subeditor) e como isso é possível.
Hélio Nogueira ! Renato Gomes de Mello, Teresópolis, RJ
RADIS é uma publicação impressa e online Documentação Jorge Ricardo Pereira
e Laïs Tavares
da Fundação Oswaldo Cruz, editada pelo
Secretaria e Administração Onésimo
E XEMPLAR DUPLO
Programa Radis (Reunião, Análise e
Difusão de Informação sobre Saúde), Gouvêa e Cícero Carneiro
da Escola Nacional de Saúde Pública
Sergio Arouca (Ensp).
Informática Osvaldo José Filho e Ita
Goes (estágio supervisionado)
Endereço
G ostaria de parabenizar essa con-
ceituada revista pela iniciativa de
estender automaticamente a assina-
Periodicidade mensal
Tiragem 42 mil exemplares Av. Brasil, 4.036, sala 515 — Manguinhos tura da Radis a todos os delegados
Assinatura grátis Rio de Janeiro / RJ — CEP 21040-361
Tel. (21) 3882-9118 da 12ª CNS, ocorrida em dezembro/
(sujeita à ampliação do cadastro)
Fax (21) 3882-9119 03. Participei do referido evento na
Presidente da Fiocruz Paulo Buss E-Mail radis@ensp.fiocruz.br
Diretor da Ensp Jorge Bermudez condição de delegado pelo Ceará,
Site www.ensp.fiocruz.br/publi/radis e gostaria de informar que já sou
PROGRAMA RADIS Impressão assinante, tendo recebido dois
Coordenação Rogério Lannes Rocha Ediouro Gráfica e Editora SA
exemplares. A fim de evitar custos e
possibilitar que outro cidadão te-
USO DA INFORMAÇÃO — O conteúdo da revista Radis sáveis pelas matérias reproduzidas. Solicitamos aos
pode ser livremente utilizado e reproduzido em qual- veículos que reproduzirem ou citarem conteúdo de nha acesso a este valioso instrumen-
quer meio de comunicação impresso, radiofônico, nossas publicações que enviem para o Radis um exem- to de comunicação, solicito corri-
televisivo e eletrônico, desde que acompanhado dos plar da publicação em que a menção ocorre, as refe-
créditos gerais e da assinatura dos jornalistas respon- rências da reprodução ou a URL da Web. gir essa situação, mantendo apenas
RADIS 26 ! OUT/2004
[ 7 ]

o envio de um exemplar.
! José Antonio Pereira Barrero, SÚMULA
Fortaleza, CE

E XEMPLAR DESPERDIÇADO
cial dos próprios índios, cabe ao Con-

S ou ecologista e assistente social


da Auditoria do Ministério da Saú-
de. Agradecemos pelo excelente tra-
R APOSA S ERRA
NO S UPREMO
DO S OL : DERROTA gresso regulamentar a demarcação
contínua de reservas”.
A Reserva Raposa do Sol é a 13º
balho da revista. A edição de nº 23,
“A saúde em números”, tem o gran-
de mérito de ser um extenso traba-
F oi por água abaixo a luta de mais
de 30 anos dos povos macuxis,
uapichanas, ingaricós, taurepangues
maior área indígena do Brasil, origi-
nalmente com 1,68 milhão de hecta-
res (o tamanho de Israel), e concen-
lho e ter chegado em tempo recor- e patamonas, que compõem uma po- tra grandes jazidas de ouro, urânio e
de. Gente como vocês nos fazem pulação em torno de 15 mil indíge- diamante. Demarcada desde 1988 e
acreditar que nem tudo está perdi- nas, em defesa da reserva Raposa declarada terra indígena pela Porta-
do. Faço apenas uma pequena su- Serra do Sol, em Roraima. O Plená- ria 820/1998, perde agora 30% da área
gestão: atualizem o cadastro de as- rio do Supremo Tribunal Federal inicialmente prevista.
sinantes. Nem sempre o destino da (STF) negou no dia 1º de setembro
Radis é o mais digno, pois chega até a homologação da reserva em área
para “falecidos”. Penso que um tra- contínua, rejeitando recurso do Mi- L EITE MATERNO PARA O F OME Z ERO
balho tão rico merece ser totalmen- nistério Público contra decisão an-
te aproveitado. terior da Justiça.
! Maria Auxiliadora e Gilberto Com a decisão, ficam de fora da
Reichelt, Porto Alegre, RS reserva a faixa de fronteira com a
Guiana e a Venezuela e o Parque Na-
Agradecemos aos leitores. Acaba- cional Monte Roraima, além de mu-
mos de fazer ampla atualização do nicípios, vilas, estradas e plantações
cadastro, mas um erro pode escapar. de arroz ao sul da região, como que-
Pedimos aos amigos que, se possível, riam mineradoras, fazendeiros e se-
devolvam ao correio os exemplares tores militares.
com cadastro defasado ou nos infor- “O presidente não está cum-
mem os endereços a cancelar. prindo os planos feitos há mais de 20
anos. Quanto aos fazendeiros e agri-
I NFORMAÇÃO EM SAÚDE cultores brancos, o jogo sujo está
aí, o interesse econômico. Quanto

G ostaria de parabenizar a equipe


da Radis pela descentralização
da informação em saúde. Somente
a nós, indígenas, mesmo das áreas
indígenas demarcadas e homologadas
e em áreas contínuas, continuamos
com a descentralização e tendo a in- na miséria, sem direito de explorar
formação como elemento de plane-
jamento, controle e avaliação é que
riquezas, especialmente minérios. As-
sim, as leis dos brancos são falsas. “Aleitamento materno exclusivo: se-
guro, saudável e sustentável’’ foi
efetivamente teremos a consolidação Falsas porque nós indígenas éramos o lema da Semana Mundial de Ama-
efetiva do SUS. donos da terra, na verdade somos mentação, de 13 a 18 de setembro,
! Reinaldo Zanardi, jornalista especi- os donos do Brasil. Já pensou, os marcada no Brasil pela assinatura de
alizado em Saúde Coletiva, Londrina, PR donos do Brasil pedindo esmola, um protocolo entre os ministérios da Saú-
pedaço de terra para sobreviver? Isto de e de Desenvolvimento Social e
é que é progresso e desenvolvimen- Combate à Fome para criação de 15

S ou fã incondicional da revista, que


já me pautou muitas matérias no
jornal e me serviu como guia em mui-
to do Brasil?”
O desabafo é de Gabriel Gentil,
pajé da tribo tucano que acaba de
novos bancos de leite materno até o
fim do ano. Já existem 172 em funcio-
namento. Como madrinha da campa-
tas aulas. Sou professor de Comuni- receber o título honorífico “pesqui- nha foi escolhida a atriz humorística
cação e Saúde na Faculdade Nordes- sador emérito no campo do conheci- Maria Paula, cuja filha, Maria Luísa,
te, em Fortaleza, depois de ter mento tradicional” do Centro de pes- nasceu há três meses. Outro projeto
concluído o curso de especialização quisa Leônidas e Maria Deane lançado na Semana, Carteiro Amigo da
aí na Fiocruz. É excelente poder con- (Fiocruz-Amazonas). Criança, vai permitir que 10 mil pro-
tinuar discutindo assuntos tão atuais O deputado Eduardo Valverde fissionais dos Correios distribuam fo-
e relevantes. (PT-RO), da Frente de Defesa dos Po- lhetos sobre os benefícios do leite
! Adriano De Lavor, Fortaleza, CE vos Indígenas, lamentou a decisão do materno pelo Brasil afora.
Supremo. Ele acredita que, como o
NORMAS PARA CORRESPONDÊNCIA presidente Lula não vai contrariar o
A Radis solicita que a correspondên-
julgamento do STF, caberá apenas ao D ETECÇÃO MAIS RÁPIDA

cia dos leitores para publicação (car- Congresso Nacional permitir a demar- DO HANTAVÍRUS
ta, e-mail ou fax) contenha identifi- cação contínua da Reserva Raposa
cação completa do remetente: nome,
endereço e telefone. Por questões de
espaço, o texto pode ser resumido.
Serra do Sol. “Nossa única esperan-
ça é uma alteração no Estatuto dos
Povos Indígenas”, disse ele à Agência
O Centro de Pesquisa em Virologia
da Faculdade de Medicina da
USP em Ribeirão Preto montou um
Câmara. “Agora, além de uma luta so- novo laboratório, com nível de
RADIS 26 ! OUT/2004
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biossegurança 3+, para estudar me- a busca de tratamento para múscu- anos. Dirceu Barbano, coordenador
lhor o comportamento do hantavírus, los necrosados devido às injeções de do Departamento de Assistência Far-
informou o boletim da Agência Fapesp anabolizantes. “Infelizmente, o uso macêutica e Insumos Estratégicos do
(www.fapesp.br/index.php) de 30 de dessas substâncias está se banalizan- Ministério da Saúde (MS), disse à Agên-
agosto. O microorganismo, que cau- do”, disse o médico Luiz Simbalista. cia Carta Maior que pode haver dife-
sa séria infecção pulmonar, conhe- rença “em alguns casos” entre as
cida como hantavirose, foi detecta- duas categorias de medicamentos no
do no Brasil em 1993 e responsável S IMILARES NA F ARMÁCIA P OPULAR que se refere à exata reação no or-
por quase 400 casos no país. Segun- ganismo, mas o MS não tem dúvida
do o Ministério da Saúde, que reco- sobre a qualidade do que está sendo
nhece oficialmente 338 casos até vendido. “É tudo comprovado”.
2003, a taxa de mortalidade da do- De qualquer modo, é preo-
ença é de 44,5%. cupante que o governo federal “legiti-
“Em 2004, as mortes no Distrito me” algo que a própria Anvisa decidiu
Federal chamaram a atenção de to- “estrangular”, comenta o repórter
dos, mas a doença está presente em Maurício Hashizume. Os preços dos re-
todo o país”, disse o professor Luiz médios estão ligados diretamente à
Tadeu Moraes Figueiredo, da USP de qualidade da matéria-prima usada. Uma
Ribeirão Preto. Desde maio, a do- redução de contaminantes de 90% para
ença provocou 13 mortes no Distri- 99% de um princípio ativo, por exem-
to Federal e cidades-satélites. plo, custa caro e influi no preço final
Atualmente, para a detecção da do remédio.

FOTO: HÉLIO NOGUEIRA


doença usam-se antígenos doados por Por isso o governo federal aumen-
centros de pesquisa do exterior, e as tou em 122%, nos dois últimos anos,
reações bioquímicas são feitas apenas os investimentos nos laboratórios far-
no Instituto Adolfo Lutz, de São Paulo, macêuticos públicos. Em 2002, o in-
e no Instituto Evandro Chagas, de vestimento nesse setor era de R$ 6,9
Belém. O método desenvolvido em Ri- milhões. Passou para R$ 36 milhões,
beirão Preto, onde já foram detecta- em 2003, e para R$ 80 milhões, em
dos 31 casos de hantavirose, surgiu
após a identificação da variante
Araraquara do vírus. Há mais três vari-
E ntre os 10 medicamentos mais pro-
curados nas farmácias populares
nos primeiros três meses de funcio-
2004. À iniciativa, soma-se a criação
do Programa de Apoio ao Desenvolvi-
mento da Cadeia Produtiva Farmacêu-
antes conhecidas no Brasil: Juquitiba, namento, seis são indicados para o tra- tica (Profarma), linha especial de fi-
Castelo dos Sonhos e Anajatuba. tamento de hipertensão, dois para o nanciamento do BNDES para a
“Se tudo der certo, em novem- tratamento de diabetes e dois, de úl- produção de medicamentos.
bro deveremos nos mudar para um ceras gástricas. O medicamento mais Nesse contexto está a ampliação
novo prédio, onde está sendo procurado entre os dias 7 de junho e da fábrica de medicamentos do Insti-
construído um laboratório seguro, 26 de agosto foi o Ácido Acetilsalicílico tuto de Tecnologia em Fármacos (Far-
no qual será possível isolar o (100mg), coadjuvante no tratamento Manguinhos), da Fiocruz: a compra
hantavírus e fazer experiências com de hipertensão. O segundo foi o por US$ 6 milhões da planta industri-
animais”, contou Figueiredo. O di- Captopril (hipertensão), informa ma- al da multinacional GlaxoSmithKline
agnóstico rápido, disse, é a forma téria da Agência Carta Maior. Brasil, em Jacarepaguá, no Rio, per-
mais segura para a sobrevida do pa- Da lista de 84 remédios ofereci- mitirá que até 2007 seja quintuplicada
ciente. O Sul do Brasil é a região dos na Farmácia Popular, que a atual produção, para 10 bilhões de
mais afetada pela hantavirose, com correspondem a aproximadamente 2 unidades.
173 casos até 2003. O Sudeste teve mil apresentações comerciais, 59 são Em dezembro a Anvisa deve promo-
116 casos notificados, o Centro-Oes- genéricos ou de referência, e 27 são ver nova rodada de fiscalização sobre la-
te, 36, o Nordeste, nove, e a Re- os chamados “similares”. Os genéri- boratórios que fabricam remédios.
gião Norte, quatro. cos, muitos deles fabricados por la-
boratórios oficiais da União, são cópi-
as 100% fiéis dos produtos de M INASREVOGA EXIGÊNCIA IRREGULAR
A NABOLIZANTES , PERIGO CRESCENTE referência (os remédios de “marca”). PARA CASOS DE ABORTO LEGAL
Para isso, os genéricos são submeti-

M ortes, colapsos, doenças, perda


de medalhas no esporte, humi-
lhação pública — nada parece de-
dos a testes de bioequivalência e
biodisponibilidade.
Os similares contêm o mesmo
A Secretaria de Saúde de Minas
Gerais finalmente revogou a exi-
gência de apresentação nos hospitais
sestimular jovens sem juízo ao uso de ou os mesmos princípios ativos e do SUS de ordem judicial por mulhe-
anabolizantes, substâncias químicas apresentam as mesmas concen- res que necessitam de curetagem —
que aumentam a massa muscular. Toda tração, forma farmacêutica, via intervenção cirúrgica em que o úte-
a imprensa noticiou o uso crescente de administração, posologia e in- ro é raspado — nos casos de aborto
de produtos veterinários (para boi e dicação terapêutica do medica- permitidos pela Constituição (estupro
cavalo) e o compartilhamento de se- mento de referência registrado e gravidez de risco para a gestante),
ringas entre jovens da periferia de na Agência Nacional de Vigilância informou o Estado de Minas de 20 de
grandes cidades. No Rio, um Sanitária (Anvisa). Mas não passa- setembro. Esse atendimento está re-
ortopedista de hospital particular in- ram necessariamente pelos testes. gulamentado pelo Ministério da Saú-
formou que, além da dependência fí- Por isso, resolução da Anvisa pre- de desde 1998. A secretaria passou a
sica e psicológica, está aumentando vê a extinção dos similares em 10 exigir, em resolução publicada em 12
RADIS 26 ! OUT/2004
[ 9 ]

de agosto, a ordem judicial. A medida


foi revogada em 17/9, depois de mui-
ta mobilização de feministas e a in-
terferência da Procuradoria de Jus-
tiça de Defesa da Saúde do Ministério
Público Estadual.
Conforme norma técnica do MS,
os serviços de saúde credenciados
para o abortamento legal precisam
apenas de declaração por escrito da PRÊMIO OPAS 2004 — A Organização
vítima ou seu responsável legal, do Bo- Pan-Americana escolheu, na 134ª
letim de Ocorrência e de laudo do MUITO ALÉM DO FUTEBOL — Que Sessão do Comitê Executivo, o sani-
Instituto Médico Legal. A determina- Ronaldo e Cia. estiveram no Haiti todo tarista brasileiro Gastão Wagner de
ção vale para todo o país. Durante 36 mundo sabe. Também é sabido que Sousa Campos, hoje secretário-exe-
dias, no entanto, prevaleceu em Mi- alguns comentaristas, “do contra”, cutivo do Ministério da Saúde, para
nas a norma que contrariava a legis- condenaram a iniciativa, que para eles receber o Prêmio Opas de Adminis-
lação federal. Em média, os serviços foi “inócua”. O que poucos sabem é tração 2004 — “por sua contribui-
de referência atendem um ou dois que, depois da partida entre as duas ção ao modelo de atenção sanitária
casos de aborto legal por mês. seleções nacionais, transmitida ao vivo com visão humanizada e resolutiva
para dezenas de nações, uma dele- e por seus esforços pioneiros no de-
gação multidisciplinar de brasileiros senvolvimento do método de admi-
A LERTA SOBRE ANTIDEPRESSIVOS desembarcou em Porto Príncipe para nistração conjunta”, que “fortale-
NOS EUA cooperar com as necessidades mais ceu o vínculo entre os serviços e
urgentes dos haitianos — agravadas os usuários do SUS, incrementando

A FDA, agência de controle de ali-


mentos e medicamentos dos Esta-
dos Unidos, anunciou que existe uma
depois da tragédia provocada pela
tempestade tropical Jeanne — inclu-
sive na área da saúde pública. Nosso
a democratização dos serviços e
servindo de exemplo a outros paí-
ses”, justifica comunicado assinado
certa conexão entre o uso de sempre atento repórter Inocêncio pela diretora da Opas/OMS, Mirta
antidepressivos e alguns casos de sui- Foca apurou algumas curiosidades Roses Periago.
cídio de crianças e adolescentes. Para que envolveram a missão. Por exem-
a agência, mesmo pequeno o risco exis- plo, o procurador da República
te, e os pais devem ser alertados na Humberto Jacques (ver página 15),
bula e na hora da prescrição. O obje- que tinha em mãos credencial ofi-
tivo é mostrar que antidepressivo não cial da ONU, para facilitar o con-
é “pílula de felicidade”. tato com a burocracia haitiana re-
corria na verdade às cartas de um
baralho com fotos dos jogadores
BIOSSEGURANÇA EMPACADA NO SENADO da Seleção Brasileira. “As
figurinhas dos atletas, com autó-

O projeto da Lei de Biossegurança,


já aprovado em três comissões
(Constituição, Justiça e Cidadania, As-
grafos impressos, abriram várias
portas”, contou Humberto. O pro-
curador passou uma semana no
suntos Econômicos e Assuntos Sociais), Haiti para divulgar experiências de
não decola no plenário do Senado Fe- trabalho e buscar formas concre-
deral. Na última tentativa, em 16 de se- tas de ajudar a Justiça haitiana. NOVO SERVIÇO — A Biblioteca Virtual
tembro, a senadora Heloísa Helena (P- do Ministério da Saúde (BVS) está ofe-
SOL-AL) ameaçou pedir verificação de ESCOLAS DE APOIO AO SUS — No 4º recendo um novo serviço na
quórum, e conseguiu retirar o projeto Encontro Nacional das Escolas de internet, o “Encontre Aqui!”: é a re-
da pauta. Um grupo em especial pressi- Saúde Pública, que reuniu 23 ins- lação de órgãos do ministério ou en-
onava para que a votação afinal ocor- tituições do Brasil no dia 14 de se- tidades vinculadas nos estados bra-
resse logo após a eleição: o dos produ- tembro como parte das comemo- sileiros, com endereços e telefones.
tores de soja transgênica, forte o rações do cinqüentenário da Ensp/ Para usar, visite o site da BVS na web
bastante para obrigar o governo fede- Fiocruz, foi decidida a criação de (http://dtr2001.saude.gov.br/bvs/), e
ral a editar medida provisória autorizan- um ambiente virtual para a troca procure o “Encontre Aqui!” no pé
do o plantio de sementes — que era de informações, experiências e ar- da página. Clique e uma janela se
proibido no país. Outro tema polêmico ticulações entre os integrantes da abrirá, com um mapa do Brasil. Basta
tratado no projeto, a pesquisa com cé- chamada Rede de Escolas de Go- passar o mouse sobre o estado de-
lulas-tronco, também atropelou a vota- verno para o SUS. Inicialmente, sejado para que o endereço apare-
ção: o governo liberou R$ 5 milhões para esse ambiente usará a experiência ça na coluna da esquerda.
experiências na área antes da decisão do programa de Educação a Distân-
do Congresso. cia da Ensp. E o melhor: essa rede FARMÁCIA POPULAR — Mais uma uni-
será aberta a qualquer instituição in- dade carioca do programa Farmácia
teressada na construção de um pro- Popular do Brasil: inaugurada em 17
SÚMULA é produzida a partir do acom- grama de formação em saúde e de de setembro, fica na Praia do Galeão,
panhamento crítico do que é divulgado novas práticas pedagógicas para o nº 100, Ilha do Governador, Zona Nor-
na mídia impressa e eletrônica. SUS. A Radis vai acompanhar o pro- te do Rio de Janeiro. Telefone: (21)
cesso para informar as novidades. 3368-3732.
RADIS 26 ! OUT/2004
[ 10 ]

PLANO DE CARREIRA, CARGOS E SALÁRIOS DO SUS

O trabalho na saúde, enfim,


volta à mesa de negociação

FOTOS: WAGNER VASCONCELOS


Reunião da comissão do PCCS do SUS em 27 de agosto: carreira de servidor ficou duas décadas sem atenção do governo

servidores não têm perspectivas de com a esfera original quando houver


Wagner Vasconcelos carreira”, lamenta o secretário-geral transferência para outra.

T
da Confederação Nacional dos Traba-
rabalhadores ligados à saú- lhadores em Saúde (CNTS), José Cae- PROGRESSÃO COM CRITÉRIOS
de em todo o país estão de tano Rodrigues, integrante da comis- O presidente da Confederação
dedos cruzados diante de são. Em outras palavras: o servidor Nacional dos Trabalhadores em
uma questão que há anos é aprovado em concurso para determi- Seguridade Social (CNTSS), Irineu
reivindicada pela categoria: a criação nado cargo de nível médio, por exem- Messias de Araújo, também critica a
do Plano de Carreira, Cargos e Salári- plo, sabe que não tem condições de dificuldade de ascensão profissional
os no âmbito do Sistema Único de passar a um cargo de nível superior, a no serviço público. Para ele, um
Saúde (PCCS do SUS). No fim do mês não ser que preste outro concurso PCCS do SUS só faz sentido se garan-
de agosto e ao longo de setembro público — hoje em dia, coisa rara. tir que a progressão será ressuscita-
houve várias reuniões entre represen- Para a progressão se tornar rea- da. Irineu lembra que, no passado, a
tantes do governo e de entidades de lidade, José Caetano defende crité- ascensão existia, mas sem obedecer
trabalhadores, que compõem a co- rios como seleção interna por tempo a critérios rigorosos, o que permitiu
missão responsável pela elaboração de atividade no cargo, titulação do “progressões oportunistas”.
das diretrizes que nortearão o traba- servidor e avaliação do desempenho
lho na área da saúde. Uma última reu- na função por uma comissão especi-
nião em fins de setembro daria o to-
que final no documento com as
almente selecionada para este fim.
Outro problema apontado por A moralização das carreiras do
serviço público, antiga ban-
deira da esquerda brasileira, foi
propostas da comissão. Progressão na José Caetano é o desvio de função.
carreira, terceirização e precarização Servidores de determinadas funções contemplada pelo Artigo 37 da
foram algumas das vertentes princi- exercem, na prática, atividades dife- Constituição Federal de 1988,
pais dos debates. rentes, mas não são remunerados por e regulamentado pela Lei 8.112,
A Radis registrou uma das reuni- isso. “É uma exploração da inteligên- de 11 de dezembro de 1990 (a
ões, em 27 de agosto, ouviu integran- cia do profissional”, afirma. do Regime Jurídico Único), que
tes do grupo e vem acompanhando Os servidores também querem dispõe sobre o regime jurídico
as discussões paralelas no Congresso critérios claros para a migração, o dos servidores públicos civis da
e no Ministério Público (MP). Um dos trânsito entre as esferas de governo União, das autarquias e das fun-
pontos mais polêmicos é a almejada federal, estadual e municipal. A luta dações públicas federais, pos-
progressão no serviço público. “Os é para que não haja perda do vínculo teriormente consolidada.
RADIS 26 ! OUT/2004
[ 11 ]

Hoje, tal risco não mais existi- isso precisam de uma jornada me-
ria, pois a sociedade dispõe de me-
canismos de fiscalização, como o MP,
além de sindicatos e organizações de
A s principais propostas aprova-
das na 12ª Conferência Naci-
onal de Saúde no Eixo Temático 7,
nor”, defende Sanny, representan-
te na comissão da Confederação dos
Trabalhadores Públicos Municipais
trabalhadores mais fortes e atuantes. O trabalho na saúde: a jornada (Confetam).
Irineu cobra ainda a criação de pro- de 30 horas, a regulamentação Irineu Araújo, da CNTSS, lem-
cessos permanentes de capacitação da lei sobre agentes comunitári- bra que a redução da jornada de
e qualificação do trabalhador. os de saúde, a rejeição do Ato trabalho para 30 horas semanais
O governo também está preo- Médico, o trabalho no SUS foi uma diretriz estabelecida na
cupado com a questão da progres- como carreira essencial de Es- 12ª Conferência Nacional de Saúde,
são dos servidores, um assunto que, tado e o piso para todas as ca- realizada em dezembro do ano pas-
segundo Maria Helena Machado, di- tegorias do SUS. sado. “Mas precisamos debater os
retora do Departamento de Gestão impactos econômicos dessa medida,
e da Regulação do Trabalho em Saú- vas políticas, que precisariam abran- pois não queremos prejuízos à po-
de, do Ministério da Saúde, não é ger toda a diversidade nacional. “Há pulação”, reflete.
discutido há duas décadas. “Restau- questões diferentes entre estados e Oito dias antes da última reunião
rar a carreira para o trabalhador é o municípios”, argumenta. da comissão do PCCS do SUS, o secre-
objetivo número um do governo”, tário-geral da CNTS, José Caetano
afirma ela. A JORNADA DE 30 HORAS Rodrigues, em conversa com a Radis,
Para Maria Helena, até agora o Uma experiência no município disse recear que alguns dos pleitos dos
SUS criou identidade apenas para os paulista de São José do Rio Preto é trabalhadores, entre eles a redução
estabelecimentos, mas não para o apontada como exemplo útil à comis- da jornada de trabalho, provavelmen-
trabalhador, que fica identificado são quando o assunto é carga horá- te não seriam contemplados no docu-
como da esfera federal, estadual ou ria. Lá, a jornada de trabalho passou mento da comissão.
municipal — e não um trabalhador a ser de 30 horas semanais depois de Caetano acredita que a discus-
do SUS. “Há várias normas bem-sucedidos seis meses de teste. são sobre o assunto se dará na Mesa
operacionais, portarias e notas téc- A diretora do Sindicado dos Ser- Nacional de Negociação Permanente
nicas que padronizam ações e servi- vidores Municipais de São José do do SUS (portal.saude.gov.br/saude/
ços de saúde para os estabelecimen- Rio Preto Sanny Lima Braga vê na area.cfm?id_area=386), etapa que pre-
tos”, registra. “Porém, quanto aos redução da jornada de trabalho — cede a avaliação do documento final
trabalhadores, até o momento tem- sem redução do salário — a preser- pelo Ministério da Saúde. Ou-
se muito pouca orientação em rela- vação da saúde mental do trabalha- tro pleito é o estabelecimento
ção às políticas públicas referentes dor. De acordo com ela, estudos da de um cargo único, proposta
à gestão do trabalho”. Organização Mundial de Saúde (OMS) dos trabalhadores que possibi-
Outra gestora, a subsecretária mostram que trabalhadores subme- litaria a progressão dos servi-
de Saúde do Estado do Rio, Neuza tidos a jornadas superiores a 30 ho- dores sem a necessidade de no-
Moysés, que representa na comissão ras estão sujeitos a grande desgaste vos concursos. Mas as propostas a
o Conselho Nacional de Secretários físico e psicológico. “São trabalha- serem avaliadas pela comissão devem
de Saúde (Conass), propõe um olhar dores que lidam com muito sofrimen- ser as que defendem a criação de dois
distinto segundo a região para as no- to, inclusive com a morte, e que por ou até três cargos.

José Caetano: desvio de função é Irineu: a jornada de 30 horas foi Sanny: trabalhador da saúde precisa
exploração da inteligência aprovada pela 12ª CNS ter preservada a saúde mental
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[ 12 ]

DESPRECARIZAÇÃO, iniciando suas ati-


A BATALHA vidades, já promo-
Uma grande batalha a ser trava- veu quatro reuni-
da nos próximos capítulos da cria- ões e tem outra
ção do PCCS do SUS é a regulariza- agendada para o
ção da situação dos trabalhadores dia 14 de outubro.
hoje chamados de “precarizados” — Até agora, nenhum
os que prestam serviços em áreas es- material foi publi-
pecíficas da saúde, mas não contam cado, mas o grupo
com carteira assinada e nenhum be- estuda a elabora-
nefício trabalhista, como férias re- ção de folhetos e
muneradas ou 13º salário. Na área da de um documen-
saúde, de acordo com Maria Hele- to-base que vai
na, pessoas nessa situação já somam subsidiar os traba-
600 mil em todo o Brasil, o que equi- lhos.
vale a mais de 30% da força de traba- O Comitê Naci-
lho do setor. onal Interinstitucio-
Desses, os Agentes Comunitári- nal de Desprecari-
os de Saúde (ACS) são, na opinião de zação do Trabalho
José Caetano Rodrigues, da CNTS, os no SUS foi sugeri-
que vivem a situação mais dramática do ao ministro da
(ver box na página 11). Grande par- Saúde pela secre-
te deles é remunerada abaixo do tária de Gestão do Maria Helena: “Objetivo é restaurar as carreiras”
valor do salário mínimo e está sub- Trabalho e Educa-
metida a jornadas de trabalho supe- ção na Saúde do MS, Maria Luiza vadas. Na opinião dele, “a terceirização
riores a oito horas diárias. José Cae- Jaeger, no Seminário Nacional sobre dos serviços de saúde foi um dos maio-
tano defende que, de início, esses Política de Desprecarização das Rela- res crimes já cometidos”.
trabalhadores tenham sua situação ções de Trabalho no SUS, sob o tema Ele acredita que a terceirização
regularizada o mais rapidamente “Em defesa da legalidade da ação do seja a forma que alguns gestores en-
possível, e que sejam definitivamen- Estado e dos direitos dos trabalhado- contram, burlando o concurso público,
te reconhecidos como traba- res”, de agosto de 2003. para nomear “apadrinhados”. E cita o
lhadores da saúde. De acordo com o que está esta- exemplo do auxiliar de enfermagem,
Mudar o atual quadro da belecido pela Agenda Positiva, um cargo efetivo que não poderia ser
precarização será uma tarefa documento do Ministério da Saúde so- terceirizado. Os gestores discordam, e
para o Comitê Nacional In- bre Gestão do Trabalho e da Regulação argumentam que é muito difícil manter
terinstitucional de Despreca- Profissional em Saúde, as atribuições a máquina da saúde funcionando sem
rização do Trabalho no SUS, que está principais do comitê são: elaborar polí- concurso público há tanto tempo.
ticas e formular diretrizes Irineu ressalta que combater a
a serem implementadas forma pela qual esse serviço é pres-
para solucionar o proble- tado não significa deixar sem pro-
ma da desprecarização; fi- teção os trabalhadores que estejam
xar as diretrizes e o nessa situação. Mas avisa que a op-
cronograma para o reca- ção para eles também seria o con-
dastramento nacional dos curso público.
trabalhadores em si- Já Maria Helena Machado
t u a ç ã o precarizada; acredita que a aplicabilidade da
monitorar as formas de terceirização dependa da área de
substituição do trabalho atuação do profissional. Ela não
precarizado nas três es- defende, por exemplo, que a as-
feras de governo; e le- sistência médica seja prestada por
vantar a situação dos tra- terceirizados, mas não é contrá-
balhadores em situação ria a sua presença em serviços
precarizada, quanto às como os de limpeza e segurança.
formas de inserção e vín- De toda forma, ressalta que essa é
culos existentes. uma discussão ampla, em debate
no governo e sobre a qual ainda
TERCEIRIZAÇÃO não há posição de consenso.
SEM CONSENSO O Departamento de Gestão e da
Quando se toca na Regulação do Trabalho informou que,
tecla da terceirização, os quando for concluído, o documen-
acordes produzidos são to final com as propostas de diretri-
por vezes dissonantes. O zes para o PCCS do SUS deverá ser
presidente da CNTSS, entregue ao ministro Humberto Cos-
Irineu Messias de Araújo, ta. Se não houver alterações, será
é enfático ao criticar a apresentado e debatido em outros
Neuza: estados têm problemas específicos prestação de serviços de fóruns, como o Conselho Nacional de
que precisam ser contemplados saúde por empresas pri- Saúde, a Comissão Intergestores
RADIS 26 ! OUT/2004
[ 13 ]

Pressão do MP sobre os gestores


O Ministério Público do Traba-
lho anunciou que estados e
municípios têm até o dia 30 de no-
rantidos em contrato. No dia 2 de
setembro houve reunião do procu-
rador do Trabalho Adélio Justino
já estão trabalhando, uma vez que
parte de seu trabalho se baseia na
confiança e no conhecimento dos
vembro para apresentar propostas Lucas com representantes do Minis- moradores de sua área de atuação.
sobre como pretendem incluir os tério da Saúde, do Conselho Nacio- Outra preocupação é com o pou-
ACS em cargos públicos. Uma notí- nal dos Secretários Estaduais de Saú- co tempo para uma solução do pro-
cia no site do Conselho Nacional de, do Conasems, da Associação dos blema, considerando que os muni-
dos Secretários Municipais de Saú- Secretários e Dirigentes Municipais cípios estão em processo de
de (Conasems) informava no dia 10 de Saúde (Assedisa), da Confedera- mudança de gestão, devido às elei-
de setembro que, devido às ção Nacional dos Prefeitos e da Con- ções de outubro.
contratações irregulares verificadas federação Brasileira de Municípios. Adélio Justino Lucas, segundo
em vários municípios, o MP amea- Os representantes concordaram o Conasems, concedeu então mais
çou impedir na Justiça o envio de que é preciso regularizar a situação seis meses, que poderiam ser pror-
recursos para pagamento dos tra- dos agentes, mas não consideraram rogados se necessário.
balhadores. O Ministério da Saúde que os trabalhadores terceirizados O procurador aprovou ainda a
assinou então um Termo de Ajuste por associações, fundações, organi- idéia do MS de se criar um modelo
de Conduta, com o compromisso de zações sociais e Oscips estejam de emprego público que resguarde
liderar o movimento pela definição desprotegidos de seus direitos, pois a condição de residência do agen-
de regras para a regularização da têm carteira de trabalho assinada. O te no local de exercício.
situação dos agentes. procurador, porém, reforçou a neces- Por fim, Adélio Justino Lucas
Segundo o Conasems, levan- sidade da contratação dos agentes aceitou analisar a possibilidade de
tamento do MS mostra que 45% de saúde por concurso público. o edital de convocação conter clá-
dos 180.106 agentes são contrata- A principal preocupação dos usulas que permitam a contagem do
dos por diferentes meios, e apenas gestores de saúde é quanto à manu- tempo de serviço e a capacitação
26% têm os direitos trabalhistas ga- tenção do emprego dos agentes que do agente, por exemplo.

Tripartite, a Comissão Intergestores de Proposta de Emenda Constitucio- munitários de saúde por proces-
Bipartite, a Mesa Nacional de Nego- nal, só passa pela CCJ e por essa co- so seletivo público”.
ciação Permanente do SUS e levado missão especial antes de ser votada Maurício Rands ressaltou na
à consulta pública. em dois turnos pelo plenário. No Se- justificativa da proposta que com o de-
Isso não impede que sejam pro- nado, a mesma coisa. senvolvimento do SUS surgiu a profis-
postas alterações à versão inicial, A idéia original do deputado são do agente comunitário de saúde,
uma vez que o objetivo é estimular Maurício Rands era que a PEC alte- reconhecida pela Lei nº 10.507, de 10
o debate entre gestores, trabalha- rasse o Inciso II do Art. 37 da Cons- de julho de 2002. E os problemas apa-
dores e o controle social do SUS. A tituição Federal, que diz que “a receram desde então. Além da falta de
partir do momento em que estas di- investidura em cargo ou emprego regulamentação, que lhe garantiria os
retrizes forem pactuadas, o Minis- público depende de aprovação pré- direitos trabalhistas, o ACS sofre com a
tério da Saúde deverá iniciar um tra- via em concurso público de provas indefinição do modelo de vínculo com
balho de assessoramento a estados ou de provas e títulos, de acordo com a administração pública. “Ora são
e municípios que a elas aderirem. a natureza e a complexidade do car- engajados nos termos de parceria en-
go ou emprego, na forma prevista em tre uma Organização da Sociedade Ci-
O CONGRESSO lei, ressalvadas as nomeações para vil de Interesse Público (Oscip) e a ad-
FAZ A SUA PARTE cargo em comissão declarado em lei ministração, ora por contratos
O Congresso, por sua vez, pode de livre nomeação e exoneração”. A temporários, ora por cooperativas”.
acelerar uma solução para os agen- esse texto, seria acrescentado: “(...) O processo seletivo é um trâ-
tes comunitários de saúde. A Comis- bem como as contratações dos agen- mite mais simplificado, que difere do
são de Constituição e Justiça da Câ- tes comunitários de saúde integra- concurso público pela maior agili-
mara dos Deputados aprovou, em 15 dos ao Sistema Único de Saúde que dade na contratação. O processo é
de setembro, a Proposta de Emenda serão admitidos através de processo aberto a todos, e não apenas àque-
Constitucional nº 07 de 2003 (PEC 07/ seletivo público”. les que já exercem a função de ACS.
03), que autoriza os municípios a con- Mas o relator da proposta, depu- As formas de contratação ainda seri-
tratarem agentes por processo sele- tado Luiz Couto (PT-PB), propôs um am discutidas.
tivo público, contemplando um con- substitutivo aprovado pela CCJ, para
tingente de cerca de 90 mil pessoas que, em vez de modificar o texto do Mais informações
sem carteira assinada. Artigo 37, seja acrescentado um quar- Seminário Nacional sobre Política de
A PEC, do deputado Maurício to parágrafo ao Artigo 198 da Consti- Desprecarização das Relações de Tra-
Rands (PT-PE), terá o mérito julgado tuição (que trata diretamente de balho no SUS na internet:
por comissão especial a ser formada ações e serviços públicos de saúde do http://portal.saude.gov.br/saude/
pela presidência da Câmara e deve ir SUS), “permitindo a contratação pela arquivos/pdf/relatorio_seminario_
a plenário neste ano. Por se tratar administração pública de agentes co- desprecarizacao2.pdf
RADIS 26 ! OUT/2004
[ 14 ]

3ª CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE BUCAL

Pelo direito de milhões de brasileiros

FOTOS: HÉLIO NOGUEIRA


3ª CNSB: mais de 1.000 participantes, 300 propostas aprovadas, muito consenso, pouco confronto e tudo nos horários programados

dentista-sanitarista que está à fren- Patologias e do Movimento de Reinte-


Katia Machado
te da Saúde Bucal do Ministério da gração das Pessoas Atingidas pela

A
Saúde (MS). Sua representação foi das Hanseníase (Morhan), com assento no
3ª Conferência Nacional de mais paritárias: 447 delegados eram CNS. “Ela vem em boa hora porque é
Saúde Bucal (CNSB), realizada usuários (o equivalente a 50,63%), 228 uma política prioritária do ministério e
entre os dias 29 de julho e eram trabalhadores (25,82%) e 208, do conselho e porque há uma política
1º de agosto, ocorreu em gestores e prestadores de serviço do nacional de saúde bucal em debate”.
clima de celebração. Depois de 12 anos Sistema Único de Saúde (23,55%). Os Para Flávio Furtado de Faria, de-
de expectativa, 1.007 pessoas se demais 124 eram convidados e obser- legado-usuário do Piauí, “essa confe-
reuniram no Minas Tênis Clube, em vadores, sem poder de voto na ple- rência específica para a saúde bucal
Brasília, para apontar as diretrizes que nária final. A paridade entre as três é importante porque as doenças nes-
servirão de base para a construção categorias é prevista na Lei 8.142/90, se setor são amplas, atingindo uma
de uma política efetiva e eficiente de sobre a participação da comunidade larga margem da população, sobretu-
saúde bucal no país. Foram encami- na gestão do SUS. do nas periferias e camadas mais po-
nhadas e aprovadas cerca de 300 pro- Prevista originalmente para o iní- bres”. Um dado confirmado em pes-
postas e 34 moções. Nos debates, não cio de julho, a 3ª CNSB ocorreu “num quisa recente do Ministério da Saúde.
houve grandes polêmicas, nem mes- momento favorável”, avaliou Rosângela
mo atrasos. Tudo aconteceu no tem- Fernandes Camapom, da Confedera- ESFORÇOS CONJUNTOS
po exato, na medida certa, sob o ção Interestadual dos Odontologistas Desde a mesa de abertura da
tema central “Acesso e qualidade, su- e integrante do Conselho Nacional de conferência ficou evidente a
perando a exclusão social”. Com foco Saúde (CNS), “a primeira com apoio interação da saúde bucal com outras
em duas diretrizes básicas do SUS, a total do ministério e do CNS”. As con- áreas sociais do governo. Estavam pre-
universalidade e a integralidade, o ferências anteriores foram iniciativas sentes o assessor especial de
evento foi dividido em quatro temas: de entidades e universidades, sem Mobilização Social da Presidência da
1) Educação e construção da cidada- apoio oficial, lembrou. E mais, hoje República, Roberto Guimarães, o mi-
nia; 2) Controle social e gestão existe uma política de saúde bucal. nistro do Controle e da Transparên-
participativa; 3) Formação e trabalho; “Precisamos apenas discutir essa po- cia, Valdir Pires, o ministro das Cida-
e 4) Financiamento e organização da lítica, referendar alguns pontos e des, Olívio Dutra, o ministro interino
atenção em saúde bucal. propor mudanças em outros”. Para da Educação, Fernando Hadad, o mi-
A 3ª CNSB ficará marcada na his- Rosângela, isso é muito importante: nistro-chefe interino da Casa Civil,
tória das conferências temáticas “Antes eram reivindicações de movi- Swedenberger Barbosa, e o ministro
como uma das mais democráticas. mentos sindicais, e esta diferença da Saúde, Humberto Costa. Integra-
“Além do grande número de inscri- talvez amplie a perspectiva de o go- vam ainda a mesa representantes de
tos, houve conferências preparató- verno implementar o que foi propos- entidades profissionais.
rias em todos os estados e no DF e to na conferência.” “Falar de saúde bucal é falar so-
em 2.542 municípios, reunindo mais O mesmo ressaltou o delegado- bre o ter de comer. É trabalhar lado
de 90 mil pessoas”, informou o coor- usuário mineiro Eli Carajá, representan- a lado com a Secretaria de Desenvol-
denador do evento, Gilberto Pucca, te do Fórum Nacional de Entidades de vimento Social, é ampliar o direito a
RADIS 26 ! OUT/2004
[ 15 ]

água tratada e fluoretada, dar mora-


dia digna, educação e informação a
todos os brasileiros. É, acima de tudo,
Pesquisa “Saúde Bucal — Brasil”
falar de posse de terra”, disse Pucca
na cerimônia de abertura, para res-
saltar o porquê de vários ministérios
N a pesquisa, 108.921 pessoas fo-
ram examinadas em escolas,
creches e domicílios, entre maio de
uso e necessidade de prótese, má-
oclusão, situação socioeconômica,
auto-percepção, acesso a serviços
presentes ao encontro. 2002 e outubro de 2003. Desse to- de saúde e água fluoretada. Foram
Três portarias foram assinadas no tal, 12.117 eram crianças de 18 a 36 examinadas populações urbanas e
evento pelo ministro Humberto Cos- meses; 26.641, de 5 anos; 34.550, de rurais em 250 municípios das cinco
ta, sob os aplausos da platéia: nº 12 anos; 16.833 adolescentes (15 a 19 regiões: em cada uma foram sortea-
1.570/GM, que estabelece critérios anos); 13.431 adultos (35 a 44 anos) e dos 50 municípios, segundo o porte
para centros de especialidades 5.340 idosos (65 a 74 anos). As equi- populacional.
odontológicas (CEO) e laboratórios pes, formadas por cirurgião-dentista
regionais de próteses dentárias; nº (examinador) e auxiliar (anotador), Saúde Bucal — Brasil na internet:
1.571, sobre o financiamento dos levantaram dados sobre presença de portal.saude.gov.br/saude/arquivos/
CEOs; e nº 1.572, sobre o pagamento cárie dentária e doença periodontal, pdf/relatorio_brasil_sorridente.pdf
de próteses dentárias.
Na opinião de Humberto Costa,
a conferência marcou a construção deu a liberdade de montar minha serviços oferecidos e das ações im-
de uma política pública inédita. “Se equipe, estabelecendo três priori- plantadas. Na execução do controle,
por um lado o SUS conseguiu incluir dades: a primeira era a de dar quali- ela ressaltou os conselhos de saúde,
mais de 60 milhões de pessoas, por dade ao atendimento, a segunda, e como espaço, o município.
outro deixou de incluir essa mesma ampliar o acesso a medicamentos, e “Como dizia Sérgio Arouca, o
população na saúde bucal. Por isso, a terceira, oferecer saúde bucal a município é o espaço para a constru-
hoje, o compromisso do atual gover- toda a população”, disse. ção de uma rede de participação so-
no é mudar essa realidade”. Os temas propostos foram deba- cial de grande capilaridade, entrela-
tidos em mesas-redondas no segundo çando as diferentes instâncias de
A URGÊNCIA DO DEBATE dia do evento. A primeira, “Educação gestão em saúde, articulada ao con-
Na pesquisa “Saúde Bucal – Bra- e construção da cidadania”, buscou junto das outras esferas de governo”,
sil”, concluída em janeiro de 2004, cons- entender o papel da educação na ensinou, acrescentando que é pre-
tatou-se que no país há 8 milhões de melhoria da saúde. Se saúde é um di- ciso evitar a dualidade, ou seja, o que
pessoas sem nenhum dente na boca. reito do cidadão brasileiro, cabe à vem do governo é ruim, o que vem da
Outros 30 milhões nunca foram ao educação em saúde apontar a saúde sociedade é bom.
dentista e cerca de 40% da população bucal como parte da responsabilida- Na visão de Leni, conselho não
não têm acesso regular a escova e de política das esferas municipal, es- é sociedade, é governo e sociedade.
creme dental (ver box). Para Gilberto tadual e federal. Segundo o texto-base “Entre outras coisas, é necessário que
Pucca, coordenador da conferência, aprovado na conferência, a educação o gestor rompa com o tecnicismo, o
esses dados epidemiológicos, o mais é instrumento essencial no fortaleci- elitismo e o confronto nas discussões:
completo levantamento feito nos úl- mento do controle social do SUS e na o gestor tem que falar mais fácil, ser
timos anos, indicam a existência de luta por políticas públicas capazes de menos técnico e compartilhar deci-
uma forte exclusão social. “Daí a ne- diminuir as desigualdades sociais e eco- sões, responsabilidades e recursos”.
cessidade de um evento como este, nômicas do país e mudar o quadro
para mudar a realidade atual”. geral da saúde. A PORTA CERTA DE ENTRADA
Na abertura da conferência, o A terceira mesa-redonda, “For-
ministro da Saúde, Humberto Costa, COMBATE À MÁ POLÍTICA mação e trabalho em saúde bucal”,
mostrou-se indignado com o quadro. A segunda mesa-redonda, “Contro- debateu a precarização do trabalho,
“Essa é uma realidade inaceitável le social, gestão participativa e saúde as formas de contratação de profissi-
num país que ocupa o segundo lugar bucal”, tratou do papel do controle onais e a necessidade de redefinição
em número de transplantes, mas que social na construção de uma política do modelo de formação. “O ponto
não é capaz de repor os dentes da eficiente de saúde bucal. Para o pro- fundamental dessa conferência é re-
população ou de fazer tratamento curador da República Humberto afirmar que a porta de entrada de
do câncer bucal”. A saúde da boca, Jacques de Medeiros, “a tarefa do profissionais de saúde deve ser o con-
ressaltou, é uma das prioridades do controle social é dizer que a dentadu- curso público”, resumiu José Carrijo
governo. “Quando assumiu, o Lula me ra não deve ser oferecida pelo políti- Brom, presidente da Federação Inte-
co, mas pelo SUS”. Isso porque, para restadual de Odontologia. “Este é o
ele, nenhuma política pública pode ser espaço para a defesa da Norma

A Pesquisa OMS-Fiocruz (Radis


nº 23) encontrou 26 milhões
de sem-dentes no Brasil. Gilber-
tomada como moeda de barganha, ou
seja, votos não podem ser trocados por
dentadura. “O controle social vem
Operacional Básica (NOB) de recur-
sos humanos, pois ela trata da car-
reira no SUS, da gestão do trabalho,
to Pucca explica a diferença: “A combater a má política”, alertou. da saúde do trabalhador”, disse.
pesquisa da OMS fala dos que Em sua participação, Leni Lúcia, Outro ponto fundamental, para ele,
perderam todos os dentes natu- secretária de Saúde de Maranguape é a definição de como desprecarizar o
rais. A pesquisa do MS considera (CE), disse que o controle social deve trabalho. “Hoje, temos uma infinidade
os 8 milhões que perderam os ser entendido como controle da ges- de formas de contratação, dificultando
dentes naturais e não usam tão pública, das políticas, do modelo a gestão do trabalho, o desenvolvimento
prótese alguma”. assistencial, da relação entre os seto- das ações do sistema e gerando insegu-
res público e privado, da qualidade dos rança para os trabalhadores”.
RADIS 26 ! OUT/2004
[ 16 ]

A quarta mesa, “Financiamento e bucal, o reforço da intersetorialidade,


organização da atenção em saúde bu- o incentivo à educação permanente
cal”, um tema que Gilberto Pucca con- em saúde bucal, o cumprimento da
sidera essencial para a efetivação da Lei 6.050/74, que prevê a fluoretação
política de saúde bucal, teve um só e o tratamento das águas de abaste-
foco: o cumprimento e a regulamenta- cimento público, e a criação de um
ção da Emenda Constitucional 29 (EC- projeto de lei para a inclusão de con-
29), que estabelece percentuais míni- ceitos e práticas de saúde bucal, meio
mos de aplicação das verbas públicas ambiente e cidadania no currículo
em ações e serviços de saúde pela escolar público e privado.
União, os estados e os municípios, com Carrijo: a porta é o concurso público Em “Controle social, gestão
o objetivo de garantir fontes estáveis participativa e saúde bucal”, as prin-
de financiamento. “Temos que nos ar- cipais propostas aprovadas foram: o
ticular para a aprovação da regulamen- fortalecimento de uma rede de con-
tação da EC-29 ainda neste ano, pois selhos de saúde, a criação de me-
ela se refere ao ano de 2004”, canismos de escuta dos usuários e
conclamou Fernando Eliotério, da Con- profissionais de saúde, maior parti-
federação Nacional de Associações de cipação dos conselhos de saúde na
Moradores e da Comissão de Orçamen- exigência do cumprimento da EC-29,
to e Finanças do CNS. a realização de conferências de saú-
“A partir do ano que vem não de bucal a cada quatro anos, a arti-
temos nenhuma lei que defina quan- culação entre conselhos de saúde e
to deve ser destinado à saúde”, outros conselhos de políticas públi-
Rosângela: um momento favorável
alertou. Para Neide Regina Barriguelli, cas, a garantia de educação continu-
representante dos usuários no CNS ada e permanente para conselheiros,
e integrante da Federação das Asso- gestores, profissionais, entidades, li-
ciações de Transplantados do Brasil, deranças sindicais e movimentos soci-
“é preciso fazer um plantão no par- ais e garantia do pleno funcionamen-
lamento para exigir a regulamenta- to das instâncias de controle social.
ção da emenda”. No tema “Formação e trabalho
René José dos Santos, do Conse- em saúde bucal”, as principais pro-
lho Nacional de Secretários de Saúde postas aprovadas: a redefinição do
(Conass), ressaltou que financiamen- modelo de formação de recursos hu-
to adequado “significa regulamentar manos dos cursos da área da saúde,
a EC-29, depois organizar os serviços a inserção do profissional de odon-
de saúde, os centros de odontolo- Pucca: para mudar a realidade atual tologia nos hospitais para acompanhar
gia, os laboratórios de prótese a saúde bucal dos pacientes, a inclu-
dentária”. Eliotério foi incisivo ao de- a da palavra “odontologia” por “áre- são da disciplina de Odontologia do
fender o aumento urgente dos in- as da saúde”. Para profissionais de ou- Trabalho no curso de graduação em
vestimentos na área. “O MS deverá tras categorias, tratar da boca é ta- Odontologia, a capacitação e a for-
investir no programa Brasil Sorriden- refa de equipe, não apenas do mação adequada de todos os profis-
te aproximadamente R$ 1,3 bilhão. dentista. “Pode-se colocar dente na sionais envolvidos com a saúde bucal
Em 2003, já foram aplicados cerca de boca, mas é preciso também ensinar e a regularização de contratos e tem-
R$ 90 milhões nos incentivos às equi- a falar, a comer. Precisamos do po de trabalho dos auxiliares de con-
pes”, disse. “Mas ainda é muito gran- fonoaudiólogo, do nutricionista, en- sultório dentários (ACD) e técnicos
de o número de pessoas sem trata- tre outros”, defendeu Uliana de Aze- de higiene dental (THD).
mento dentário”. vedo, fonoaudióloga e delegada pelo Principais propostas aprovadas
Distrito Federal, no debate da pro- no tema “Financiamento e Organiza-
PROPOSTAS APROVADAS posta que pedia um fórum de discus- ção da Atenção em Saúde Bucal”: a
NO PRAZO são sobre o currículo dos cursos de implantação de serviços de próteses
O último dia da conferência, Odontologia. dentárias total e parcial nas unida-
como de praxe, foi destinado à apro- Para os delegados-dentistas, po- des básicas de saúde; a garantia de
vação das propostas sem consenso rém, a palavra “odontologia” tinha sig- que as equipes de saúde bucal sejam
dos delegados nas reuniões temáticas. nificado especial. “Esperamos muito formadas por cirurgião-dentista (CD),
Mas uma diferença pôde ser notada tempo para que esse evento aconte- auxiliar de consultório dentário (ACD)
na 3ª CNSB em relação à maioria dos cesse”, rebateu uma delegada do Es- e técnico em higiene dentária THD),
encontros muito amplos: a regulari- tado do Rio. “O odontólogo é uma mediante concurso público para a se-
dade nos horários. Programada para categoria que sofreu discriminação de leção e contratação dos profissionais,
acabar às 19h do dia 1º de agosto, a salário no próprio SUS, e por isso eu e que cada uma das equipes de Saú-
plenária final terminou às 18h, com a gostaria que frisássemos odontologia, de da Família conte com CD, ACD e
presença de grande público. O rigor já que outras áreas estão inseridas na THD, cumprimento da EC-29, maior re-
com o tempo foi a marca da organiza- 12ª Conferência Nacional de Saúde”. passe de recursos financeiros a mu-
ção do evento. As principais propostas aprova- nicípios na implantação de programas
Também foram mínimos os con- das no tema “Educação e constru- de atendimento domiciliar em saúde
frontos na votação. Em algumas pro- ção da cidadania”: a integralidade das bucal e apoio ao Projeto de Lei 24/
postas, apenas substituições: a da ações voltadas para a promoção, a 98, que trata do piso salarial de mé-
expressão “saúde bucal” por “saúde”, proteção e a recuperação da saúde dicos e cirurgiões-dentistas.
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[ 17 ]

E N T R E V I S TA

Humberto Jacques de Medeiros

“Quando o sistema corre risco,


temos que reagir de pronto”

entrevista “coletiva” no dia 2 de se-


Participaram: Aristides Dutra, tembro.
Jesuan Xavier, Justa Helena
Franco, Katia Machado, Marinilda Qual o papel do Ministério Público
Carvalho e Rogério Lannes Rocha
na saúde?

N
É preciso entender que nós não
este momento delicado, somos a locomotiva da história do país,
em que a instituição do somos talvez um fermento, que ace-
Ministério Público é ques- lera os processos, que cataliza, que
tionada em diversas esfe- tenta ordenar. Mas nada de panacéia,
ras, o procurador da República heroísmo, nossa função é viabilizar o
Humberto Jacques de Medeiros, 36 campo para que o jogo possa ser jo-
anos, apega-se antes de mais nada às gado, e não jogar pelas pessoas. Mi-
tarefas que a Constituição atribui à nha tarefa é o interesse da socieda-
MP: zelar pelo regime democrático, de, mas eu não posso substituí-la.
fiscalizar o cumprimento da lei e de-
fender os direitos coletivos. São ta- O que as pessoas envolvidas na saú-
refas elevadas, mas nem por isso ele de devem entender para usar melhor
vê no MP o salvador da pátria. “Nos- o MP?
sa função é viabilizar o campo para A Constituição diz que cabe ao Mi-
que o jogo possa ser jogado, e não nistério Público zelar pelo serviço de
jogar pelas pessoas”. relevância pública, e também diz que a Na saúde, quando o MP é mais enér-
Ainda mais na área em que saúde é um serviço de relevância públi- gico?
Humberto atua: pioneiro na luta do ca. É indiscutível que nós temos que A integralidade é ponto sagrado.
MP Federal pelo cumprimento das trabalhar com saúde. Mas a questão é Quando o sistema corre risco, temos
diretrizes do Sistema Único de Saú- que reagir de pronto. Temos mais ou
de, ele prega, antes de uma atua- menos duas estratégias de atuação.
ção interventiva do Ministério Pú- Nos casos de violência contra a
blico, a democracia participativa Minha tarefa universalização, barreiras de domicí-
em defesa do SUS. A atuação do é o interesse lio para uso do sistema, exclusão de
MP é hoje uma máquina azeitada, minorias a gente reage imediatamen-
empurrada por uma centena de da sociedade, te. Em outros problemas procuramos
procuradores da saúde em todo o mas eu não posso trabalhar pedagogicamente.
país, que contribuem para a cons-
trução de um sistema de saúde
substituí-la Qual é a forma de atuação dos pro-
mais justo para a população brasi- curadores e promotores que traba-
leira. “A integralidade é ponto sa- como trabalhar. A Constituição designou lham na área?
grado”, diz. “Quando o sistema ao MP três tarefas: zelar pelo regime Primeiro tentamos valorizar to-
corre risco, temos que reagir de democrático, fiscalizar o cumprimento das as instâncias. Quando chega
pronto”, aproveitando visita ao Rio da lei e defender os direitos coletivos. uma demanda, indagamos se o quei-
de Janeiro. Mas eu não posso trabalhar com o sis- xoso já passou pelas etapas regula-
Nascido em Juiz de Fora (MG) e tema de saúde de uma maneira tão res. Ou seja, queremos saber se ele
formado na Universidade de Brasília, interventiva, que eu suprima a demo- está começando pela promotoria
descobriu a vocação de “combaten- cracia participativa que já existe, que ou se já tentou resolver seu pro-
te” da saúde em São Paulo, mas fi- torne ociosa a atividade social. De for- blema com o gestor, pelo conselho
cou célebre no exercício da função ma alguma posso dizer para você ficar de saúde etc. A gente espera que
em Porto Alegre. Extremamente fran- quieto no seu canto, que eu vou com- o sistema consiga resolver seus pro-
co, bem-humorado até ao falar dos prar sua briga. Minha função é incenti- blemas. Só quando essas instâncias
obstáculos da carreira, Humberto es- var a democracia participativa dentro não operam adequadamente é que
teve na redação da Radis para esta do sistema de saúde. entramos no processo.
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[ 18 ]

Quando se começa a trabalhar com a extinção do Inamps, perce- dual celebrarem um pacto, a Carta de
na área, o procurador normalmente beu-se que não havia condições de Palmas, firmando um compromisso em
comete um erro, o de tentar o cami- ter uma comissão de saúde baseada favor da defesa do SUS.
nho mais simples para resolver um em Brasília. Aí acionamos vários co-
problema individual. Demora-se um legas federais nos estados, para que E como aconteceu a divisão de tarefas,
tempo para perceber que atuações eles também tivessem iniciativas na entre o MP Federal e os estaduais?
pontuais podem desorientar o siste- área. Hoje somos mais de uma cen- Como os MPs estaduais estão em
ma coletivo. Por exemplo, ao rece- tena que trabalha com saúde. Ou- todos os municípios, estão sempre nas
ber a queixa de alguém que não con- tro marco foi quando o então minis- linhas de frente. Mas os meus cole-
segue marcar uma consulta, o tro da Saúde, Adib Jatene, celebrou gas federais nos estados sentam com
procurador acaba ligando para o se- convênios com todos os MPs esta- o MP estadual e acertam: “Você toma
cretário de Saúde, que o atende na duais para que eles trabalhassem na conta disso e eu daquilo”. É dessa
hora. Essa é uma solução tentadora, fiscalização do sistema de saúde. forma que funciona.
mas que não resolve. A gente já apren-
deu que não pode ser assim. O indiví- Os promotores recebem qualificação
duo é apenas uma ponta do iceberg, Os conselhos se especial?
que pode indicar onde é que está Com certeza. A construção do
furado o sistema. Eu tenho que abrir queixam mais do Programa Nacional de Capacitação do
uma investigação para saber por que sistema de controle MP em Direito Sanitário, financiado
não está havendo resolutividade. Eu pelo Banco Mundial, foi extremamen-
trabalho com direitos coletivos, não
social. Os gestores de te importante para isso. Daí aconte-
com direitos individuais. saúde reclamam ceu um boom de qualificação dos

Quando e como o MP começou efe-


principalmente das colegas. Recentemente, em Salvador,
foi criada a Associação Nacional do
tivamente a trabalhar com saúde? decisões judiciais que Ministério Público em Saúde, presi-
No tempo em que houve um bru- distorcem políticas. dida por Sonia Piardi, promotora es-
tal corte do dinheiro da saúde, no tadual de Santa Catarina.
fim do governo Collor e início do Itamar Imprensa, deputados
(1993), a sociedade civil se organizou etc. denunciam E como a Justiça tem avaliado as
e provocou o MP Federal em Brasília. questões de saúde?
Vários segmentos, a Federação das
especialmente o desvio Qualquer juiz se sente bem
Misericórdias, o Sindicato dos Médi- de dinheiro dando remédio a quem pede. Mas
cos, a CUT etc. foram atrás do pro- a tarefa do MP é fazer com que não
curador-geral da República, Aristides se promova justiça individual que
Junqueira Alvarenga, e fizeram uma Como foi esse início de trabalho nos se transforme em injustiça coleti-
representação, dizendo que estavam estados? va. Vou dar um exemplo disso.
sendo lesados. Ele acionou o procu- No começo havia muita resistên- Quando cheguei a Brasília, todos os
rador federal do Direito do Cidadão, cia. Tudo mudou a partir do dia em juízes da pequena instância se sen-
Álvaro Augusto Ribeiro Costa (hoje que a filha de uma promotora, que era tiam generosos, sensíveis, justos,
advogado-geral da União) e este abriu diretora social da Associação dos Pro- humanitários, quando ordenavam ao
inquérito nacional para investigar o motores, sofreu um grave acidente e Ministério da Saúde que pagasse
que se passava com o SUS. Com ele, foi parar num hospital público. Vários tratamento experimental em Cuba
começou a trabalhar Raquel Elias colegas foram visitá-la e todo mundo de retinose pigmentar. A gente pas-
Ferreira. Quando retornei do Rio se deu conta de que o sistema públi- sou a recorrer ao Tribunal, dizen-
Grande do Sul para Brasília também co existia e precisava funcionar. Esse do: “Olha, é muito lindo, mas o di-
fui trabalhar nesse inquérito. Este foi episódio foi o acelerador de todo o nheiro da saúde é escasso, esse
o marco zero da nossa história fede- processo. Um mês depois, a promoto- tratamento é experimental, e o di-
ral com saúde. ria de saúde estava instalada. A partir nheiro custearia tantos partos, tan-
daí, ninguém mais achou que era um tas vacinas”. Mostramos de onde o
Como é a distribuição dos procura- desperdício colocar um promotor para dinheiro estava sendo retirado para
dores que lidam com saúde? defender a saúde. Foram criadas pro- fazer aquilo. Aí o Tribunal disse,
Iniciado o processo de muni- motorias estado a estado, a ponto de pára! Essa é a nossa tarefa, mos-
cipalização mais radical do sistema, os procuradores-gerais do MP esta- trar o sentido coletivo.

Mas há grupos que precisam de uma


atenção maior do que os outros, ou
O RADIS (cita Humberto Jacques e) ADVERTE de uma atenção específica. Aí a abor-
O trem da sociedade progride quando a gente empurra o último dagem individual precisa ser diferen-
vagão, que é o do doente mental, que é o do presidiário. te da coletiva. Como tratar a univer-
salidade?
Nós tratamos dos direitos huma-
nos de todos, mas sempre respeitan-
do as singularidades. Minha tarefa não
é só transformar o individual em co-
letivo, mas também não fazer um co-
letivo que negue o que há de singu-
lar. A gente briga por algumas
RADIS 26 ! OUT/2004
[ 19 ]

clientelas dentro do sistema com es-


pecial cuidado: criança, mulher, ne-
gros, porque a gente tem que fazer
com que o sistema seja sensível às
singularidades das pessoas, senão ele
fica desumano. O trem da sociedade
progride quando a gente empurra o
último vagão, que é o do doente men-
tal, que é o do presidiário. Você mede
o progresso da sociedade pelo grupo
vulnerável, pelo mais fraco. Na hora

FOTO: ARISTIDES DUTRA


em que o sistema tem condições de
pagar um remédio caro para um gru-
po pequeno ele está mais humanizado
e não monetarizado.

Quais as principais queixas levadas


ao MP?
As principais queixas do usuário tária não é muitas vezes levada pelo Já outros, dos conselhos de saúde,
são os problemas de resolutividade. Os gestor à Justiça. Eles se defendem mal, dizem que, quando se descentrali-
conselhos se queixam mais do sistema não se expressam bem. za, o sistema pode ser contaminado
de controle social. Os gestores de saú- pelo poder da elite local. Como o
de reclamam principalmente das deci- Cursos de capacitação em MP facilita- senhor vê essa diferença?
sões judiciais que distorcem políticas. riam o diálogo? O município é um microcosmo
Imprensa, deputados etc. denunciam Sim, mas poderia fazer parecer muito apaixonado, como um condomí-
especialmente o desvio de dinheiro. que somos mais complicados do que nio ou uma família pequena. A crítica
realmente somos. Eu costumo dizer: que se faz ao universo municipal seria
No caso de resolutividade, o que o a única coisa que nós temos e que os também passível de ser aplicada ao
queixoso deve fazer? conselheiros não têm é a ação penal universo estadual ou nacional, só que
Ele deve esgotar todas as ins- — processar alguém criminalmente. as pessoas não têm a mesma proximi-
tâncias: o posto de saúde, a dire- Tudo o que o MP pode fazer o cida- dade do objeto e aí imaginam que é
ção da unidade gestora, a ouvidoria, dão ou uma associação pode. Eu não um horror o que se passa no município
o conselho de saúde. Se tudo isso tenho nada do outro mundo. e que, num plano estadual, é maravi-
falhar, aí sim, recorre à promotoria. lhoso, e no federal é celeste.
Às vezes, tudo se resolve com pe- Na verdade, é igual, mas só que
quenos atos. O usuário tem tido com esse recorte menor nós conse-
bons resultados mandando apenas Se entre gestor guimos trabalhar com mais facilida-
uma cartinha ao diretor da unida- e conselheiro falta de. É mais fácil separar o joio do tri-
de. Na área de controle social, a go. O problema é que temos um
gente tem que qualificar o confli- um diálogo preconceito grande em relação ao
to. Volte meia nos chega o que cha- amadurecido, entre município, sempre vemos o municí-
mamos de conflito-não amadureci- pio patológico, não vemos o de su-
do. O que pedimos nessas discussões
gestor e sistema de cesso. As mazelas existem no plano
entre gestores e conselhos é que justiça falta um estadual e federal, só que não são
objetivem a discussão, que façam
reclamações fundamentadas — a
diálogo transparente tão próximas e visíveis.

gente quer que seja assim por isso Deveria haver controle social sobre
ou aquilo. Isso obriga o gestor a res- a rede privada também? Como a ini-
ponder com fundamentos, iguais ou E em relação às denúncias de desvios? ciativa privada pode ser alcançada
melhores. Aí, se for o caso de en- A gente cobra o funcionamento pelo exercício do direito à saúde?
trarmos na discussão, vamos anali- de uma outra instância, do Sistema Hoje é mais fácil conversar com
sar questões objetivadas. Nacional de Auditoria (SNA), que é um os hospitais filantrópicos, são entida-
sistema de controle interno do SUS des de interesse social, sobre as quais
E em relação aos gestores? que precisa funcionar adequadamen- a lei permite, via MP ou outras ins-
Com eles a gente procura traba- te. Além do Tribunal de Contas da tâncias, essa abertura. E eles têm de
lhar a idéia do diálogo, no qual o gestor União, existe o sistema de auditoria buscar um espaço de legitimação.
não pode ocultar a verdade. Ele tem municipal, estadual e federal. O TCU Com as prestadoras 100% privadas é
que dizer claramente: não tenho di- já vem cobrando isso há muito tempo. bem mais difícil, na medida em que
nheiro para isto, isto e isto, mas tenho Quando chega alguma denúncia, a são da iniciativa privada. Mas é possí-
dinheiro para isto. Se entre gestor e gente chama um auditor para apurar. vel que o estado condicione o
conselheiro falta um diálogo amadure- Cada promotor trabalha com um audi- aporte, não de compra de serviço,
cido, entre gestor e sistema de justiça tor de sua confiança. No Programa mas de bens, ao sistema de controle.
falta um diálogo transparente. “Não Nacional de Capacitação treinamos Eu vou te emprestar dinheiro, vou te
faço isso por causa disso”. Eu digo sem- vários auditores. financiar, sob a condição de você
pre: abram a caixa-preta. Senão a ten- adotar um determinado modelo. Já
dência da Justiça é dizer que dinheiro Um dos argumentos municipalistas é tem uma lei gaúcha sobre isso, mas
tem! A peculiaridade da questão sani- de que o controle local é mais fácil. ela não emplacou.
RADIS 26 ! OUT/2004
[ 20 ]

SE R
RVVIÇO

EVENTOS públicos quanto de instituições de en- duação. Destacam-se os seguintes


sino e pesquisa, o evento apresenta temas: pesquisa em educação mé-
9º C ONGRESSO B RASILEIRO DE como tema central “Vigilância sani- dica; como inserir conteúdos clí-
I NFORMÁTICA EM S AÚDE tária: consciência e vida”, e está or- nicos no ensino de ciências bási-
ganizado em três eixos: “Ciência, saú- cas nos currículos tradicionais;

P romovido pela Sociedade Brasilei-


ra de Informática em Saúde
(Sbis), o evento debate os seguintes
de e sociedade”, “Tecnologia, ética
e vigilância sanitária” e “Políticas e
sistemas de vigilância nas Américas”.
avaliação objetiva formativa e
somativa do domínio de habilidades
e competências clínicas; educação
temas: “Software livre, o papel no de- Data 21 a 24 de novembro permanente e formação docente
senvolvimento da área de informática Local Caldas Novas, GO para as escolas médicas; a partici-
em saúde”, “Impacto institucional dos Mais informações pação e integração das entidades
sistemas de informação em saúde”, Secretaria do evento: Av. Anhanguera, médicas no processo de avaliação
“Sistemas de apoio ao diagnóstico em 5.195, Setor Coimbra, Goiânia, GO dos cursos de graduação em medi-
imagens médicas” e “Telesaúde”. CEP 74043-011 cina; qualidade de vida em estudan-
Data 7 a 10 de novembro Tel. (62) 201-4149 / Fax. (62) 201-4150 tes e residentes de medicina; e mu-
Local Ribeirão Preto, SP E-mail simbravisa@visa.goias.gov.br danças dos critérios de seleção
Mais informações Site www.simbravisa.com.br para residência médica x diretrizes
Centro de Educação e Aperfeiçoamento curriculares.
Profissional em Saúde do HCFMRP/USP Data 20 a 24 de novembro
Tel. (16) 602-2721 2º S EMINÁRIO I NTERNACIONAL DE Local Centro de Convenções de Vitó-
Fax (16) 602.2730 E NGENHARIA DE S AÚDE P ÚBLICA ria, ES
E-mail secretariacbis@sbis.org.br Mais informações

1º C ONGRESSO DE E CONOMIA DA
A segunda edição do encontro,
promovida pela Fundação Nacio-
nal de Saúde do Ministério da Saúde
Site www.cobem.com.br

PUBLICAÇÕES
S AÚDE DA A MÉRICA L ATINA E C ARIBE (Funasa/MS), apresenta como tema
central “Inovações tecnológicas em L ANÇAMENTO — E DITORA H UCITEC

O encontro, organizado pela Asso-


ciação Brasileira de Economia da
Saúde (Abres), em parceria com a
saneamento ambiental”. Para repetir o
êxito da primeira edição, na qual 900
pessoas marcaram presença, represen-
Cuidado, as fronteiras
da integralidade, or-
Asociación de Economia de la Salud (AES) tando mais de 150 instituições, o semi- ganizado por Roseni
da Argentina, tem como objetivo divul- nário vai intensificar neste ano a troca Pinheiro e Ruben Ara-
gar e promover o desenvolvimento da de informações sobre novas tecnologias újo Mattos. O livro é
área de Economia da Saúde nos países de saneamento ambiental. Para tanto, parte dos esforços
de América Latina e Caribe. Com o tema ocorrerá concomitantemente a 2ª de um grupo de pes-
“A contribuição da economia da saúde Mostra de Experiências Bem-Sucedi- quisadores do cam-
para o alcance da equidade e a eficiên- das, em que serão apresentados tra- po da saúde cole-
cia nos sistemas e serviços de saúde”, o balhos e descobertas relacionadas ao tiva que vem se dedicando ao tema
evento debaterá os seguintes tópicos: tema do evento. da integralidade, no Laboratório
“O desenvolvimento econômico e a saú- Data 1º a 3 de dezembro de Pesquisas sobre Práticas de
de”, “Eqüidade nos sistemas e serviços Local Goiânia, GO Integralidade em Saúde (Lappis)
de saúde” e “Eficiência nos sistemas e Mais informações do Instituto de Medicina Social
serviços de saúde”. Secretaria-executiva do 2º Seminário (IMS) da Uerj. Nesse livro, o lei-
Data 30 de novembro a 3 de dezembro Internacional de Engenharia de Saúde tor poderá conferir artigos como
Local Rio de Janeiro, RJ Pública “Fragilidade social, espaços públi-
Mais informações SAS Quadra 4, Bloco N, 6º andar, cos e novas práticas de cuidado
Tel. (21) 2290-1696 Ala Norte. CEP 70070-040 Brasília, DF em saúde”, “Construção de co-
Email Tel. (61) 314-6278 / 314-6380 / 314-6544 nhecimento, imagens e sentidos:
congresso.econom@ensp.fiocruz.br Fax (61) 3146518 a diversidade na produção do cui-
Site www.abres.cict.fiocruz.br/ E-mail densp.seminario@funasa.gov.br dado e integralidade em saúde”,
congresso Site www.funasa.gov.br “Clínica, gestão e avaliação do cui-
d a d o : a s p e c t o s c o n -c e i t u a i s ,
metodológicos e práticos” e “Tra-
2º S IMPÓSIO B RASILEIRO 42º C ONGRESSO B RASILEIRO DE balho, educação e formação na
DE V IGILÂNCIA S ANITÁRIA E E DUCAÇÃO M ÉDICA integralidade do cuidado: proces-
1º S IMPÓSIO P AN -A MERICANO so de trabalho e de ensino nas
DE V IGILÂNCIA S ANITÁRIA
A Associação Brasileira de Educação
Médica (ABEM) promove o encon-
práticas cotidianas em saúde”.
Mais informações

D estinado a profissionais das di-


versas áreas de abrangência da
vigilância sanitária, tanto dos serviços
tro para debater os aspectos atu-
ais e futuros da educação médica
no nível de graduação e pós-gra-
IMS/Uerj
Tel. (21) 2587-7540 — Ramal 222
E-mail lappis.sus@ims.uerj.br
RADIS 26 ! OUT/2004
[ 19 ]

PÓS-TUDO

Dias de revolta
— logo apelidado de Código de Tortu-
Ana Palma *
ras — interferia diretamente na vida
da população que, já tão massacrada
Artigo publicado na Revista de pelo custo de vida e sem moradia pela
Manguinhos, agosto de 2003 reforma urbana, via-se agora tolhida
no exercício de seus subempregos.

N a quinta-feira, 10 de novembro
de 1904, a cidade do Rio de Ja-
neiro amanheceu em pé de guerra.
“Esse instrumento (a lei de março
de 1904) lhe permite invadir, vistoriar,
fiscalizar e demolir casas e construções.
O motivo para tamanha irritação era Estabelece, ainda, um foro próprio,
a publicação, por A Notícia, do dotado de um juiz especialmente no-
draconiano projeto de regulamenta- meado para dirimir as questões e do-
ção da Lei de Vacinação Obrigatória, brar as resistências. Ficam vedados os
aprovada em 31 de outubro daquele recursos à justiça comum. A lei de re-
ano, após calorosa polêmica. gulamentação da vacina obrigatória, em
Para uma medida que desperta- novembro desse ano, viria a ampliar e
va tanta oposição — pelo menos 15 fortalecer essas prerrogativas, colo-
mil pessoas assinaram listas contra a cando toda a cidade à mercê dos fun-
obrigatoriedade, encaminhadas ao cionários e policiais a serviço da Saú-
Congresso —, sua regulamentação in- de Pública. Se alguém escapara dos
cendiava ainda mais os ânimos, já que furores demolitórios de Lauro Muller
não deixava qualquer saída. e do prefeito Pereira Passos, não teria
O atestado de vacina era exigido mais como escapulir aos poderes
para tudo: matrícula em escolas, em- inquisitoriais de Oswaldo Cruz”, assinala
prego público, doméstico ou nas fábri- o historiador Nicolau Sevcenko.
ARQUIVO/FIOCRUZ

cas, viagem, casamento, voto, hospeda- Contudo, aspectos econômicos


gem em hotéis e casas de cômodos etc. não explicam na totalidade o movi-
A reação foi violenta. Do dia 10 mento. Não se pode descartar as ra-
ao 12, acidade era sacudida por cho- zões ideológicas e morais. Conviviam
ques entre a polícia e a população, dois conjuntos de valores. Se, por
passeata e comícios. No dia 13, es- um lado, a elite protestava contra o
tourava realmente a rebelião, com o Praça da República em 14/11/1904 intervencionismo do governo e o ata-
povo ocupando os pontos centrais da (alto) e cartuns da época que à liberdade individual, por ou-
cidade, construindo trincheiras e tro, o povo se sentia ameaçado pe-
enfrentando a polícia a tiros. No dia na compreensão do longo processo de los desrespeitos à virtude feminina,
seguinte, os combates iniciaram-se expropriação a que foi submetida a à honra do chefe de família e à
cedo e espalharam-se por outros bair- população carioca de baixa renda, inviolabilidade do lar.
ros. Por toda parte, viam-se incêndi- com o bota-abaixo da Reforma Perei- “A Revolta da Vacina permanece
os, saques e depredações. A Escola ra Passos e nas manipulações políticas como exemplo quase único na histó-
Militar da Praia Vermelha aderia à re- das elites nacionais (positivistas, re- ria do país de movimento popular de
volta, rendendo-se apenas na madru- publicanos radicais, descontes com os êxito baseado na defesa dos direitos
gada do dia 15, ante a ameaça de rumos adotados pelo novo regime, dos cidadãos de não serem arbitraria-
bombardeio pelas forças navais. velhos monarquistas instaurados na mente tratados pelo governo. Mesmo
Com a derrota dos cadetes, o mo- restauração, jovens militares), os pro- que a vitória não tenha sido traduzida
vimento assume um caráter mais popu- váveis estopins de uma sublevação que em mudanças políticas imediatas, além
lar. Operários faziam barricadas e ata- deixou nos rostos e na cidade marcas da interrupção da vacinação, ela cer-
cavam fábricas e uma delegacia. E no mais profundas que as da varíola. tamente deixou entre os que dela
bairro da Saúde, segmentos marginali- Oswaldo Cruz, que assumira em participaram um sentimento profun-
zados da população resistiram à invasão 1903 a Diretoria Geral de Saúde Públi- do de orgulho e auto-estímulo, passo
das forças militares. Houve incidentes ca, iniciava suas campanhas com mão- importante na formação da cidadania.
isolados até o dia 19. A revolta tinha sido de-ferro. Brigadas sanitárias, acompa- O repórter do jornal A Tribuna (...)
debelada. Seu saldo: 945 prisões, 461 nhadas por policiais, percorriam a ouviu de um preto acapoeirado: (...)
deportados, 110 feridos e 30 mortos. cidade, invadindo casas, interditando O mais importante era mostrar ao go-
Um acontecimento de tamanhas prédios, removendo doentes à força. verno que ele não põe o pé no pes-
proporções não foi, sem dúvida, mo- Somente no primeiro semestre de 1904 coço do povo”, relata o historiador
tivado apenas pelo medo de injeção. foram feitas 110.224 visitas domicilia- José Murilo de Carvalho.
Revisitá-lo significa delinear o contex- res, com 12.971 intimações e 62 inter-
to em que se deu a Revolta. É buscar ditos. O regulamento sanitário de Cruz * Jornalista da Fiocruz
saúde pública
INOVAÇÃO E CIDADANIA

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