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LEISHMANIOSE
Notificação é
o primeiro passo
para o controle
desta perigosa
doença tropical
PCCS DO SUS
Quer lutar pelo
seu plano de Nº 35 ! Julho de 2005
carreira? A hora
é essa: o projeto Av. Brasil, 4.036/515, Manguinhos
está em fase final Rio de Janeiro, RJ ! 21040-361
de discussão w w w. e n s p . f i o c r u z . b r / r a d i s
Conhece
esta marca?
Gestor esconde
e público ignora
símbolo do SUS,
criado em 1991
O SUS nosso de cada dia
do SUS
! O modelo avança 16
Serviço 18
Pós-Tudo
! O marketing do SUS 19
C AR
RTTA S
H ANSENÍASE , ESPERANÇA E FÉ da hanseníase, mas nenhuma fé. Um tes os assuntos da saúde pública e
grande abraço e todo o meu respei- principalmente sobre o tema aci-
to à equipe Radis. ma. Sugiro que as próximas edições
Cordialmente, venham a publicar temas sobre
! G. Brazão Alzheimer, depressão e luto.
! Neuma M. de Sousa, Redenção, PA
expediente
A credito que todos os leitores,
como eu, estão satisfeitos com as
matérias publicadas nessa revista. O
suporte informativo que a Radis ofe-
Subcoordenação Justa Helena Franco rece aos profissionais da área de saú-
Edição Marinilda Carvalho de, gestores e usuários, vem colabo-
Reportagem Jesuan Xavier (subeditor), rando para o crescimento do SUS.
Katia Machado, Wagner
Vasconcelos (Brasília/Direb) e Thiago Sugiro algumas idéias de pauta que for-
Vieira (estágio supervisionado) talecerão a estrutura do controle so-
Arte Aristides Dutra (subeditor) cial da instituição. Em saúde pública,
Documentação Jorge Ricardo Pereira,
Laïs Tavares e Sandra Susano a telefonia celular e os perigos dessa
RADIS é uma publicação impressa e online Secretaria e Administração Onésimo tecnologia; o controle social na forma-
da Fundação Oswaldo Cruz, editada pelo Gouvêa, Fábio Renato Lucas, ção dos conselhos municipais e estadu-
Programa RADIS (Reunião, Análise e Cícero Carneiro e Mario Cesar G.
Difusão de Informação sobre Saúde), F. Júnior (estágio supervisionado) ais de saúde; os programas Saúde da
da Escola Nacional de Saúde Pública Informática Osvaldo José Filho e Geisa Família/de Agentes Comunitários de Saú-
Sergio Arouca (Ensp). Michelle (estágio supervisionado) de e a formulação de políticas públicas.
Periodicidade mensal Endereço ! Luís Carlos de Sousa, Embu, SP
Tiragem 42 mil exemplares Av. Brasil, 4.036, sala 515 — Manguinhos
Assinatura grátis Rio de Janeiro / RJ — CEP 21040-361
(sujeita à ampliação do cadastro) Tel. (21) 3882-9118 R EPRODUÇÃO DE TEXTOS
Fax (21) 3882-9119
Presidente da Fiocruz Paulo Buss
E
E-Mail radis@ensp.fiocruz.br stou coordenador de Saúde e Se-
Diretor da Ensp Antônio Ivo de Carvalho
Site www.ensp.fiocruz.br/radis gurança do Trabalhador da Asso-
PROGRAMA RADIS Impressão
Coordenação Rogério Lannes Rocha Ediouro Gráfica e Editora SA ciação dos Servidores da Universida-
de Federal do Rio Grande do Sul
(Assufrgs), e gostaria de, na medida
USO DA INFORMAÇÃO — O conteúdo da revista Radis sáveis pelas matérias reproduzidas. Solicitamos aos
pode ser livremente utilizado e reproduzido em qual- veículos que reproduzirem ou citarem conteúdo de do possível, publicar textos da revis-
quer meio de comunicação impresso, radiofônico, nossas publicações que enviem para o Radis um exem- ta Radis, da qual sou assinante. Es-
televisivo e eletrônico, desde que acompanhado dos plar da publicação em que a menção ocorre, as refe-
créditos gerais e da assinatura dos jornalistas respon- rências da reprodução ou a URL da Web. clareço que, no caso de ser possível
RADIS 35 ! JUL/2005
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de 50% a 90% nos medicamentos, o dígenas. A Radis (nº 22) informou na ma agrária e à área social, não so-
projeto exige o credenciamento das matéria “Os convênios da Funasa” fram cortes.
farmácias e um modelo padronizado que a instituição repassa os recursos
de receita que garanta aos médicos públicos a organizações conveniadas.
maior controle sobre o tratamento Quando os serviços são prestados por C OMISSÃOAPROVA ABORTO DE FETO
dos pacientes. Segundo o Ministé- empresas não-indígenas, a parceria SEM CÉREBRO
rio da Saúde, a idéia é evitar que pode ser um risco para a população
hipertensos e diabéticos abandonem
o tratamento por falta de recursos.
Hoje o SUS atende 7,7 milhões de
que recebe serviços desassociados de
sua realidade.
Em 2004, a mortalidade infantil
A Comissão de Seguridade Social e
Família aprovou, com emenda, o
Projeto de Lei 4403/04, da deputada
hipertensos, mas estima-se que no aumentou 15% na região. De janeiro Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que per-
Brasil 16,8 milhões tenham a doen- a abril deste ano, mais de 20 crianças mite o aborto nos casos de fetos
ça. O país tem 5 milhões de diabéti- indígenas morreram no município de anencéfalos (sem cérebro). A decisão,
cos, dos quais 2,6 milhões são aten- Dourados (MS). que altera o Código Penal, autoriza o
didos pelo SUS. Números oficiais indicam que há aborto nos casos em que a anomalia
mais de 600 crianças desnutridas nas impede as chances de vida ao feto
aldeias vizinhas, em risco de vida. O fora do útero. O juiz Rafael Pagnom
V ACINA CONTRA DIARRÉIA atual índice é de 64,33 desnutridos Cunha, de Tupanciretã, no Rio Gran-
por mil nascidos vivos, enquanto a de do Sul, autorizou em maio uma mu-
S I ST E
EMM A Ú N IIC
CO D
DEE SSA
AÚ D
DEE
Identidade
relegada
É
básico. Ao abrir
um negócio, uma
lanchonete que
seja, o dono pen-
sa imediatamente num
nome e numa logomarca
que chamem a aten-
ção do público. Man-
da o marketing que
essa marca esteja em
locais bem visíveis,
para que fique na me-
mória dos usuários e
seja facilmente reco-
nhecida. O Sistema
Único de Saúde, cla-
ro, não é um negócio,
e sim o maior serviço
público de saúde do
mundo. Pois, passados
15 anos de sua criação
no Brasil, ainda não
tem identidade visual.
É mais do que um
simples desleixo. Ins-
tituições públicas de
saúde, em todo o
país, simplesmente ig-
noram determinação
do Ministério da Saú-
de: a “cruzinha”, cri-
ada em 1991, teria de
estar exposta em pré-
dios, veículos, unifor-
mes, ofícios e qual-
quer publicação de
entidades que inte-
gram o sistema. Mas a
realidade é bem dife-
rente. Em diversos lu-
gares, quando apare-
Jader Augusto procura imagem de
Jesus atrás da cruz do SUS: “É ce, está em local
alguma coisa ligada à religião, não?” pouco visível e com-
pletamente descarac-
terizada.
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P ioneiros na valorização da marca municação e Educação em Saúde identidade” e Marcelo criou cartuns
do SUS, os profissionais que de Santa Catarina. O objetivo do e emoticons (carinhas para uso na
compõem o Grupo Interinstitu- Gices é integrar as ações de co- internet) com a marca do SUS (que
cional de Comunicação e Educação municação e educação em saúde ilustram a página 2 desta edição).
em Saúde de Santa Catarina (Gices) no estado, na busca da melhor qua- Rudi escreveu à Radis no ano
lutam contra o descaso. Seu site lidade de vida da população, passado propondo esta pauta, agora
(www.grupogices.hpg.ig.com.br) pu- aprofundar e socializar o conheci- cumprida nos 15 anos da querida Lei
blicou em 2002 uma espécie de ma- mento teórico-prático de comuni- 8.080/1990. (Radis 23, “SUS, marca a
nifesto intitulado “SUS nega seu cação e educação em saúde e pro- valorizar”). Pois bem, Rudi nos enviou
nome — Entidades não divulgam mar- mover a integração das instituições preciosa cópia da cartilha ABC do SUS,
ca do Sistema Único de Saúde”. Diz que desenvolvem ações de comu- que destrincha as regras do uso da
o texto que a logomarca oficial do nicação e educação em saúde. marca. O arquivo em PDF da cartilha
SUS, detalhada em escassos exem- estará à disposição dos interessados,
plares da cartilha ABC do SUS, de 1991 dação do SUS”, continua o manifes- na página do RADIS na internet.
— “que defensores do sistema guar- to. “Ao contrário, reforça uma visão E por que essa dificuldade toda?
dam com zelo” —, raramente está fragmentada, focada na instituição e Quem responde é o próprio Rudi, um
presente em prédios, veículos, sites, muitas vezes no gestor, distorcendo idealista que nada tem de Dom
publicações, peças publicitárias ou o entendimento da população e dos Quixote, pois bem conhece o poder
uniformes de servidores de entida- próprios servidores sobre o sistema”. do marketing. “Pela primeira vez na
des que integram o sistema, como o Lembra o Gices que o deslize é história do Brasil uma Constituição re-
próprio ministério, a Fundação Na- cometido até por organismos volta- gistra em suas páginas a saúde como
cional de Saúde, secretarias estadu- dos ao controle social do SUS, como direito fundamental do cidadão, dan-
ais e municipais de Saúde. o Conselho Nacional de Saúde, cuja do ensejo ao surgimento do Sistema
“Esse comportamento das insti- página na internet é ilustrada somen- Único de Saúde, fruto de profunda
tuições, tal como filhos que negam te pelo catavento do Ministério da discussão da sociedade”, lembra ele
os pais, não contribui para a consoli- Saúde. “A importante e bem-acabada em artigo no site do Gices. Então, por
publicação” do relatório da 11ª Con- que, tantos anos depois, grande par-
ferência Nacional de Saúde, de de- te da população desconhece por
FOTO: G I C E S
Ouvidoria Pública
O
zes de captar as demandas da socie-
pequeno auditório do Insti-
tuto Nacional de Controle
dade a respeito da atuação dos ór-
gãos públicos, promovem o aperfei- A palavra ombudsman, expressão
de origem nórdica, é resulta-
do da junção da palavra ombud,
de Qualidade e Saúde da çoamento institucional a partir da
Fundação Oswaldo Cruz fi- perspectiva do cidadão”, disse. que significa “representante” ou
cou cheio para o seminário “Ouvidoria, A proposta tem por base a Cons- “procurador”, com a palavra man,
instrumento de participação cidadã”, tituição Federal (Emenda Constitu- “homem”. A palavra em sua forma
realizado no dia 23 de maio pela re- cional nº 19, de 1998, parágrafo 3º original foi adotada em vários paí-
cém-criada ouvidoria da Fiocruz. Pre- do artigo 37), que indica a necessi- ses. Outros adotaram denomina-
sente ao evento, Eliana Pinto, ouvidora- dade de promover-se a participação ção própria, a exemplo da Espanha,
geral da União, destacou o número da sociedade na administração pú- que usa “Defensor del Pueblo”,
insuficiente de ouvidorias no país. Dis- blica e de regular o atendimento ao da França (“Médiateur”), de Por-
se ela que entre os 5.565 municípios usuário, o seu acesso a informações tugal (“Provedor de Justiça”). No
“há menos de 100 ouvidorias municipais e a disciplina da representação con- Brasil utilizam-se duas expressões:
e cerca de 10 ouvidorias estaduais”. Em tra abusos ou negligências da admi- “Ouvidor”, denominação predo-
sua opinião, a maioria das pessoas, mes- nistração pública. minante no setor público; e
mo aquelas que passaram por um banco “Ombudsman”, predominante no
escolar, não sabe sequer o que é esta INDEPEDÊNCIA E AUTONOMIA setor privado.
instituição. Para o bom exercício da ouvidoria
Então, pergunta-se: o que é pública, Manoel Eduardo Alves Camargo por representantes/funcionários de
uma ouvidoria e qual a diferença e Gomes, o pioneiro em tal função no todas as unidades da Fiocruz), e ins-
entre a pública e a privada? Difun- Brasil, representando a Ouvidoria Pú- trumento de gestão e transformação
dida nas instituições e caracteriza- blica da Cidade de Curitiba, defende institucional que busca corrigir e
da como um espaço para registro a necessidade de o ouvidor ter auto- aperfeiçoar os serviços por ela pres-
de críticas, sugestões, reclamações nomia suficiente para levar as recla- tados. “A diferença da ouvidoria da
e denúncias, as ouvidorias estabe- mações e sugestões da sociedade às Fiocruz é ter nascido de uma deci-
lecem um canal prático e de fácil instâncias máximas da instituição que são coletiva de seus trabalhadores.
acesso a usuários e consumidores. A representa. “Os ouvidores da insti- Ela passa a contar, desde a sua cria-
diferença entre uma e outra é sim- tuição pública deverão defender os ção, com o apoio da comunidade in-
ples, como explicou Eliana: “A interesses daqueles que não estão terna”, exaltou João Quental.
ouvidoria pública é um espaço que o dentro dela”, disse em sua participa- A primeira ouvidoria, na figura do
cidadão tem para fazer valer seus di- ção no seminário. ombusdman, surgiu na Suécia em
reitos. Diferentemente da ouvidoria Na opinião do presidente da As- 1915. Foi criada para fazer cumprir as
privada, que usa o espaço como sociação Brasileira de Ouvidores leis e denunciar agentes públicos que,
marketing, para obter lucro”. (ABO), Edson Luiz Vismona, também no exercício de suas funções públi-
A proposta da ouvidoria privada palestrante, sendo o ouvidor públi- cas, cometeram ilegalidades ineren-
é melhorar serviços e produtos para co o representante do cidadão e o tes ao cargo, além de canalizar quei-
obtenção de melhores receitas fi- agente de mudança dentro da insti- xas, reclamações e sugestões do povo
nanceiras. O objetivo da ouvidoria tuição, ele precisará ter apoio da relacionadas à administração pública.
pública, porém, é servir de canal de direção, ser pró-ativo, interagir com O segundo país a criar um instituto
comunicação ou meio para que a as demais áreas e ter acesso livre semelhante foi a Finlândia. Hoje, mais
população possa interagir e intervir entre as várias instâncias do órgão de 100 países contam com a ouvidoria
na organização de uma instituição e no qual atua. Cabe a ele ainda: ser como mecanismo de controle social.
fazer valer seus direitos de cidadãos. unipessoal, dar sempre resposta ao No Brasil, a primeira ouvidoria
Como disse a ouvidora geral da União, reclamante, agir com independência pública foi criada em 1986, em Curitiba.
“é um importante canal de controle e autonomia, ter visibilidade e zelar Em 1988, foi criada a Ouvidoria Públi-
social, buscando a melhoria dos ser- pela credibilidade. “O ouvidor não ca do Estado do Paraná. Em 1992, o
viços públicos oferecidos”. tem o poder de decidir, mas de per- Ministério da Justiça instituiu a pri-
Graduado em Farmácia pela suadir para que determinada deman- meira Ouvidoria Pública Federal, sob
UFRJ, especialista em Saúde Pública da tenha solução”, ressaltou. a denominação de Ouvidoria-Geral da
e mestre em Gestão de Ciência e Nesse sentido, destacou Manoel República. Em 1995 foi criada a ABO,
Tecnologia pela ENSP, João Quental, Eduardo, a ouvidoria da Fiocruz, cri- marcando o crescimento deste insti-
o novo ouvidor da Fiocruz, acha que ada em dezembro de 2004 e agora em tuto no país. (K. M.)
a adoção de ouvidorias públicas é operação, é um exemplo a ser segui-
cada vez mais importante no contex- do. A proposta é fruto da determina- Ouvidoria da Fiocruz
to democrático brasileiro. “Sendo ção do Congresso Interno da institui- Tel. (21) 3885-1762
elas os canais de comunicação capa- ção (instância deliberativa composta E-mail ouvidoria@fiocruz.br.
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[ 14 ]
Leishmaniose
U
m grupo de especialistas
do Centro de Pesquisa
Gonçalo Moniz, unidade
da Fiocruz na Bahia, co-
meça a desvendar o modo como o
parasita Leishmania, causador da
leishmaniose, dissemina a doença pelo
organismo humano. O estudo, coor-
denado pelo médico patologista Wa-
shington Luis Conrado dos Santos,
propõe entender como um parasita
que é injetado na pele pode causar
lesões e migrar para órgãos internos
e mucosas. A pesquisa ajuda a encon-
trar uma maneira de controlar a mi- bótomos e caracterizada, em geral, e o interior da boca e a garganta. A
gração do parasita e inibir o desen- por apresentar inflamações crônicas doença só leva à morte quando não
volvimento de formas graves da que é de pele, mucosas ou vísceras, a tratada devidamente. Tem esse nome
considerada pela Organização Mun- leishmaniose afeta cerca de 1,5 mi- porque na maioria dos casos ocorre
dial de Saúde (OMS) uma das seis do- lhão de pessoas por ano no mundo. na Amazônia e em áreas de florestas,
enças tropicais de importância mun- Hoje, cerca de 12 milhões apresen- onde estão presentes os mosquitos
dial e a segunda, após a malária, entre tam umas das duas formas da enfer- transmissores, os flebotomíneos,
as causadas por protozoários. midade: a tegumentar e a visceral chamados popularmente de mosqui-
Transmitida por insetos hemató- americana. to palha, cangalhinha ou asa dura de-
fagos infectados denominados fle- A leishmaniose tegumentar é a vido a sua aparência cor de palha e
forma mais branda da doença. Como com grandes asas dirigidas para trás
explicou Washington do Santos, ela e para cima.
seja proveniente de outros estados”, ma da doença em algumas regiões vel e passível de tratamento e, con-
informou. Nos últimos anos, a média do país ainda está sendo investiga- seqüentemente, menores são os ín-
foi de 30 mil novos casos por ano. do. Luna apontou causas prováveis: dices de mortalidade.
Ainda que os números de casos “Possivelmente esse aumento está Para a OMS, a notificação e a
da leishmaniose tegumentar sejam associado à urbanização maciça e à identificação ainda não são suficien-
importantes, o Ministério da Saúde migração de pessoas e de animais tes na maioria dos países. Acredita-
vem se preocupando ainda mais com para as periferias”, adiantou. “A se que, para cada caso notificado,
a forma visceral da doença, que cres- certeza do real motivo só podere- existam 4 ou 5 não comunicados.
ceu consideravelmente na última dé- mos ter depois de uma investigação O cuidado com as pessoas que
cada, ocasionando muitas mortes. mais profunda”. contraem a leishmaniose está pre-
Segundo dados ainda preliminares, em visto pelo sistema de saúde do país.
10 anos a média anual de casos da CONTROLE COMEÇA Estão garantidos o fornecimento gra-
leishmaniose visceral foi de 3.500, e COM A NOTIFICAÇÃO tuito de medicamento, baseado em
mortes em torno de 10%. Em 2004, Para o Ministério da Saúde, o injeções de glicantim ou petamedina,
registrou-se um total de 2.583 novos primeiro passo a ser dado no contro- e a assistência à saúde, que no caso
casos e uma taxa de letalidade em le e no tratamento da doença é a da leishmaniose tegumentar está
torno de 8,4% (cerca de 300 óbitos). notificação de casos. Na opinião do centrado no atendimento ambula-
Minas Gerais apresentou maior núme- patologista Washington Luis, houve torial, enquanto a visceral, no aten-
ro, 580, seguido do Maranhão, com considerável progresso nas ações dimento hospitalar. Paralelamente,
390, Bahia, com 296, e Mato Grosso para identificação da leishmaniose no disse Luna, o ministério vem realizan-
do Sul, 213. “Em contraponto, vários país. “Antigamente, achava-se que a do a capacitação dos profissionais de
outros estados não apresentam ca- doença era estritamente rural, mas saúde do SUS e organizando o siste-
sos da doença”, informou Luna. percebemos, hoje em dia, que a ma de informação para que a Vigi-
Em sua análise, somente a leish- visceral não está apenas concentra- lância Epidemiológica tenha uma vi-
maniose tegumentar se manteve es- da nas áreas rurais, ela é também ur- são exata do surgimento de novos
tável nessa última década. “Perce- bana e periurbana, e a tegumentar, casos da doença no país para dispor
bemos uma expansão geográfica por exemplo, cresceu com o avanço recursos especiais para os municípi-
quanto à leishmaniose visceral, que da fronteira agrícola”. Para ele, essa os que apresentaram números altos
é a mais perigosa”, disse. O motivo nova percepção sobre as áreas geo- da doença, como Campo Grande (MS)
que explica o crescimento dessa for- gráficas da doença a torna mais visí- e Palmas (TO).
O modelo avança
A
Outra preocupação da catego- Saúde do Ministério da Saúde,
tenção, trabalhadores da ria e que até o momento não faz par- Henrique Vitalino, diz que ainda é
saúde de todo o Brasil: já te das diretrizes já traçadas é a quan- cedo para se falar que algum ponto
está pronto o modelo com tidade de cargos (ou níveis) no em discussão está gerando polêmi-
as diretrizes sobre o Plano serviço público. A reivindicação dos ca. Afirma até que não há “resistên-
de Carreiras, Cargos e Salários do SUS, servidores é por apenas um cargo, cias” por parte do governo. De acor-
o tão aguardado PCCS-SUS. As dire- para que, assim, o servidor possa do com ele, tanto a reivindicação da
trizes estiveram abertas a consulta progredir de níveis ao longo da vida. jornada de 30 horas quanto a do
pública até 20 de junho, e agora en- Acabaria, dessa forma, a atual divi- cargo único serão assuntos a serem
tram na fase final de discussão para são em níveis fundamental, médio e debatidos, novamente, na Mesa de
elaboração de um plano definitivo. superior. Um servidor de nível mé- Negociação Permanente do SUS, que
Consenso, porém, ainda não existe. dio, por exemplo, poderia chegar à volta a se reunir depois que as con-
Há questionamentos sobre pon- classe de nível superior sem neces- tribuições feitas pela consulta pú-
tos considerados vitais para os tra- sidade de fazer novo concurso pú- blica tiverem sido consolidadas pela
balhadores em saúde, como carga blico. Bastaria, para isso, que se qua- comissão formada para elaborar as
horária e progressão na carreira. Por lificasse. Mas o governo, segundo diretrizes do PCCS-SUS.
mais que o tema tenha sido debati- Caetano, não estaria disposto a acei- Sobre a redução da jornada de
do ao longo dos últimos meses, as tar a idéia, dizendo que a progres- trabalho, Henrique ressalta que a
propostas dos trabalhadores e do go- são deve se dar dentro do mesmo questão é complexa, envolvendo,
verno ainda não entraram em per- nível. Por isso, propõe que sobretudo, os municípios, que
feita sintonia. sejam avaliadas pro- concentram a maior parte
O secretário-geral da Confede- postas de dois dos trabalhadores em saú-
ração Nacional dos Trabalhadores ou três car- de. Por isso, também os
em Saúde, José Caetano Rodrigues, gos. gestores municipais te-
não vê razões, por exemplo, para o rão de ser ouvidos, uma
governo temer a redução da jorna- vez que será preciso sa-
da de trabalho para 30 horas sema- ber que impactos a redu-
nais. De acordo com ele, tal políti- ção traria às administra-
ca estaria de acordo com as ções. Sobre o cargo único,
intenções do Palácio do Planalto Henrique afirma que a Mesa
de criar novos postos de traba- debaterá, em princípio, as
lho no país. Além disso, garanti- propostas de dois ou três car-
ria ao trabalhador em saúde gos. Mas isso não significa que
(assim como conseguiram os a proposta de cargo único este-
do setor bancário) melhores ja descartada.
condições de trabalho. A A revista Radis vem acompa-
principal conseqüência dis- nhando as discussões a respeito do
so, aponta Caetano, seria PCCS desde que as reuniões da co-
a prestação do serviço missão responsável pela elaboração
com maior qualidade. O das diretrizes começaram, em agos-
O governo, de acor- que pa- to do ano passado (Radis nº 26). A
do com ele, argumenta rece ser con- comissão é composta por represen-
que a medida traria a ne- senso, até o tantes do governo e dos trabalha-
cessidade de contratar momento, é a dores. Depois da consulta pública,
mais gente, o que redunda- perspectiva de as diretrizes serão novamente avali-
ria em gastos elevados para os carreira com pro- adas pela comissão, numa espécie
gestores. “Acontece que, na práti- gressão a cada de compilação das propostas. Em se-
ca, essa redução já acontece em re- dois anos. Essa guida, a Mesa Nacional de Negocia-
lação a 70% dos servidores públicos progressão se daria ção Permanente do SUS se reunirá
municipais de saúde”, afirma Cae- respeitando-se três para as discussões finais e para a
tano, citando dados do Conasems. critérios fundamen- elaboração do documento, a ser re-
“O que precisamos, agora, é le- tais: qualificação do passado ao Conselho Nacional de
galizar a situação”. Segundo ele, trabalhador, seu tempo Saúde e à Casa Civil da Presidência
o estado de Santa Catarina, de serviço e seu desem- da República. A partir daí, poderá
que aprovou a redução há pou- penho. se tornar projeto de lei. Por isso
cos dias, vem conseguindo O coordenador geral mesmo, a atuação da categoria pode
bons resultados. de Gestão do Trabalho em ser decisiva na reta final. (W.V.)
RADIS 35 ! JUL/2005
[ 17 ]
E N T R E V I S TA
Roberto Gouveia
O
com o presidente da CCJC, depu-
Projeto de Lei Complementar tado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ).
01/2003 (PLP 01/03), que De acordo com ele, o projeto deve
define ações e serviços de ser apreciado ainda no primeiro se-
saúde e estabelece percen- mestre e votado já no segundo
tuais fixos de recursos para o setor semestre. O presidente da Câ-
— obrigando estados e municípios a mara dos Deputados, Severino
investir em saúde no mínimo 12% e Cavalcanti (PP-PE), também já
15%, respectivamente, de sua arreca- disse que fará o possível para
dação, e a União, 10% de suas recei- agilizar a votação do proje-
tas correntes brutas —, está tendo to no plenário.
tramitação no Congresso bem mais len-
ta do que se esperava: não foram A quebra de patentes já exis-
atendidos os pedidos de urgência para te. Qual a razão do projeto?
sua análise. Aprovado em todas as ins- Com a aprovação pela
tâncias da Câmara, só falta a Comissão CCJC, a Câmara entra de vez
de Constituição e Justiça e de Cidada- no processo de discussão de paten-
nia (CCJC). Seu relator, José Pimentel tes, que antes se dava de forma ex-
(PT-CE), deu parecer favorável. Depois, clusiva entre o Poder Executivo e a E o que isso representa?
a prova de fogo: o plenário. indústria farmacêutica, uma novela Basta dizer que três dos 16 me-
Apesar da demora, seu autor, o que se arrasta há tempos. Os depu- dicamentos que constituem o coque-
deputado federal Roberto Gouveia tados se manifestaram contrários às tel consumiram cerca de 70% de todo
(PT-SP), continua otimista. Médico patentes para anti-retrovirais com o o dinheiro usado no programa de Aids
formado pela USP, especialista em saú- objetivo de preservar o controle de no Brasil entre 2004 e 2005. Temos
de pública, deu entrevista à Radis em tratamento da Aids realizado no Bra- de ter cuidado para, daqui a pouco,
Brasília e disse esperar que a votação sil e que é um patrimônio para o mun- não começar a faltar recursos para
ocorra, afinal, no segundo semestre. do inteiro. Devido a esse programa e outras necessidades na saúde em
O deputado também falou sobre à distribuição do coquetel de medi- nosso país. Por isso, é importante
a aprovação na CCJC, em 1º de ju- camentos, já conseguimos melhorar proteger os nossos recursos.
nho, de seu projeto (PL 22/03) que a qualidade de vida dos pacientes,
prevê a quebra de patente dos re- aumentar a esperança de vida e di- São muito elevados os preços?
médios usados no tratamento da Aids. minuir o tempo de internação, as do- A OMS mostra que o laboratório
No dia seguinte a ONU divulgou re- enças oportunistas e até a transmis- Gilead, por exemplo (que produz o
latório mostrando que, apesar dos são, já que a medicação baixa a Tenofovir, usado no coquetel), cobra
investimentos mundiais de US$ 8 bi- infectividade do vírus. 9,7 vezes a mais do que o custo de
lhões, a Aids é mais veloz do que o produção. É um lucro absurdo! Não
controle. O Brasil é citado no relatório Por que quebrar patentes? se pode colocar interesse comercial
como país em desenvolvimento com o mais Com a transformação da Aids acima da vida humana. Tanto a OMS
bem-sucedido programa de combate. Mes- numa doença crônica, os pacientes quanto a ONU consideram os anti-
mo sendo a quebra de patentes tática já passaram a fazer uso de medicamen- retrovirais bens da humanidade. Res-
usada pelo governo, o deputado espera, tos de forma contínua, por um tem- tringi-los, portanto, é um atentado.
com seu projeto, estender o debate tam- po muito grande. Esse uso, contudo,
bém ao Legislativo. gera um certo processo de acomo- Os laboratórios não concordam...
dação do organismo, de resistência. A própria Organização Mundial do
E a aprovação do projeto? Por isso, passa a ser necessário o uso Comércio determinou que, para países
O PLP 01/03 está sendo muito bem de novas drogas. Hoje, o Brasil distri- pobres, a propriedade intelectual des-
aceito pelos deputados e vem tendo bui medicamentos a 156 mil pacien- ses remédios deve ser relativizada, ou
aprovação significativa em todas as co- tes, mas temos números que mostram seja, estar subordinada às necessida-
missões por onde tem passado. Agora, que há mais 600 mil infectados, e a des da população. Temos de proteger
está na CCJC aguardando apenas a vo- tendência é de crescimento. O pro- o orçamento público da saúde no Bra-
tação. O parecer do relator José blema é que essas drogas novas são sil para que os recursos do SUS não
Pimentel foi pela aprovação. protegidas por patentes. escorram pelo ralo da ganância.
RADIS 35 ! JUL/2005
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SE R
RVVIÇO
PÓS-TUDO
O marketing do SUS
seja assegurada pelo Estado.
Gilson Carvalho Assim é que inúmeros países
colocam a questão social como cam-