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NESTA EDIÇÃO

LEISHMANIOSE
Notificação é
o primeiro passo
para o controle
desta perigosa
doença tropical
PCCS DO SUS
Quer lutar pelo
seu plano de Nº 35 ! Julho de 2005
carreira? A hora
é essa: o projeto Av. Brasil, 4.036/515, Manguinhos
está em fase final Rio de Janeiro, RJ ! 21040-361
de discussão w w w. e n s p . f i o c r u z . b r / r a d i s

Conhece
esta marca?
Gestor esconde
e público ignora
símbolo do SUS,
criado em 1991
O SUS nosso de cada dia

ARTE: MARCELO MARQUES DE MELO


M arcelo Marques de Mélo é dentista com espe-
cialidade em Saúde Coletiva. Mas o forte dele é
comunicação. Na Fundação Nacional de Saúde de San-
ta Catarina, onde trabalha na Assessoria de Comuni-
cação e Educação em Saúde, desenhou variações da
marca do SUS para todas as situações: alegria, tole-
rância, indignação. São figuras, tiras de quadrinhos e
emoticons (pequenos ícones da internet que expres-
sam sentimentos) para ilustrar textos, apresentações,
e-mails e conversas em tempo real.
O que Marcelo quer é valorizar o SUS, divulgan-
do sua marca oficial. Marcelo oferece as artes para
download gratuitamente: o que usou na tarefa, do
computador aos aplicativos, pertence ao SUS, res-
salta. “Tudo é mantido com impostos cobrados ao
povo brasileiro, do qual todos somos parte”, diz.
“Portanto, queiram utilizá-las à vontade, amigos!”

Endereços para download (instruções na página):


Figuras e emoticons
www.grupogices.hpg.ig.com.br/Emoticons.html
Tiras
www.grupogices.hpg.ig.com.br/TirasMarcaSUS.html
editorial
Nº 35 — Julho de 2005

Quando o leitor dita a pauta


E sta edição está cheia de suges-
tões de pauta apresentadas pelos
leitores em mensagens que enviam à
— inclusive conveniadas — e profissio-
nais, que têm o dever de trabalhar den-
tro dos princípios constitucionais.
Comunicação e Saúde
! O SUS nosso de cada dia 2
redação. Na seção de cartas, as pro- Dar voz ao cidadão é também a
postas de matérias futuras vão desde tônica da matéria sobre a recém-cri- Editorial
Alzheimer, depressão, efeitos da te- ada ouvidoria da Fiocruz. Em defesa ! Quando o leitor dita a pauta 3
lefonia celular e funcionamento de do orçamento da Saúde, o deputado
conselhos de saúde até informes so- Roberto Gouveia fala à revista Radis
Cartum 3
bre concursos públicos. sobre a importância da mobilização
Na medida do possível e dentro pela aprovação de projetos de lei de
de nossa linha editorial, temos noti- sua autoria para a quebra de paten- Cartas 4
ciado ou retomado temas que nos são tes de remédios contra a Aids e para
sugeridos, como na matéria sobre a definição do que são serviços e ações
leishmaniose, doença tropical que de saúde e dos percentuais de finan-
atinge 12 milhões de pessoas em todo ciamento do setor pela União, os es-
o mundo — com até 1,5 milhão de tados e os municípios. Matéria acer- Súmula 5
novos casos a cada ano, 3 mil só no ca do Plano de Carreira do SUS mostra
Brasil. A Fiocruz sempre pesquisou o que ainda é tempo de os sindicatos
desenvolvimento da doença, sua pre- intervirem em defesa de suas teses. Toques da Redação 7
venção e seu tratamento. Confirmando o valor do olhar ex-
A matéria de capa que destaca o terno, ao elaborar a matéria de capa, a
(não) uso da marca do Sistema Único equipe do Programa RADIS percebeu que
de Saúde foi sugerida pelo leitor Rudi nossa revista, tão defensora do siste-
Lopes. Aparentemente secundário di- ma, não destacava a marca SUS. A par- Sistema Único de Saúde
ante de tantos problemas na saúde tir de agora, portanto, a logomarca [-] ! Identidade relegada 8
pública, o assunto mostrou sua rele- precede Ministério da Saúde, Fiocruz
! Em Santa Catarina, os pioneiros
vância nas falas de integrantes do Con- e Ensp no expediente da página 4. Afi- da causa 12
selho Nacional de Saúde, de profissio- nal, o dito “casa de ferreiro, espeto
nais e usuários dos serviços de saúde e de pau” revela contradição da qual
especialistas em comunicação. Uma nossos leitores, como os demais cida- Ouvidoria Pública
marca tem grande valor simbólico e seu dãos e eleitores brasileiros, devem ! Participação democrática e cidadã 13
ocultamento pode representar a omis- estar fartos atualmente.
são daquilo que ela sintetiza, como o Leishmaniose
direito de todos à saúde e de exercer Rogério Lannes Rocha ! Doença tropical atinge 1,5 milhão
controle sobre governos, instituições Coordenador do Radis por ano 14

Plano de Carreira, Cargos e Salários


DE BRUEGEL, O VELHO

do SUS
! O modelo avança 16

Entrevista: Deputado Roberto


Gouveia
! “Os recursos do SUS não podem
FOTOPOTOCA DE ARISTIDES DUTRA SOBRE PINTURA

escorrer pelo ralo da ganância” 17

Serviço 18

Pós-Tudo
! O marketing do SUS 19

Capa e ilustrações Aristides Dutra


RADIS 35 ! JUL/2005
[ 4 ]

C AR
RTTA S

H ANSENÍASE , ESPERANÇA E FÉ da hanseníase, mas nenhuma fé. Um tes os assuntos da saúde pública e
grande abraço e todo o meu respei- principalmente sobre o tema aci-
to à equipe Radis. ma. Sugiro que as próximas edições
Cordialmente, venham a publicar temas sobre
! G. Brazão Alzheimer, depressão e luto.
! Neuma M. de Sousa, Redenção, PA

O brigado à Radis pela matéria


“Hanseniase — Uma questão de
direitos humanos” (nº 32). Esse pre- S ou cirurgiã-dentista e desde os
tempos de faculdade sempre me

S ou aluno do 2º período do curso


técnico em enfermagem da Escola
de Ciências da Saúde de Patos, PB,
conceito em torno da hanseníase
deve-se à falta de informação das pes-
soas sobre a doença. O governo de-
interessei pelos assuntos relacionados
à saúde coletiva. Recebo Radis desde
a primeira publicação. Gostaria de
mantida pela Fundação Francisco veria agir no sentido de conscientizar agradecer à revista pela imensa con-
Mascarenhas. Tenho 28 anos, sou as- a população quanto à exclusão soci- tribuição que tem nos dado, princi-
sinante da revista há pouco tempo e al a que um portador ou ex-porta- palmente aos profissionais de saúde,
as matérias têm me ajudado muito. dor está sujeito. A Radis trabalha com informações em saúde pública.
Apresentei um seminário sobre nesse sentido, de levar informação Pretendo especializar-me nesta área
hanseníase, baseado na reportagem de forma prática e clara. Com a aju- e gostaria de obter mais informações
de capa da Radis nº 27, que atualizou da da Radis, consigo implementar em sobre a Escola Nacional de Saúde Pú-
os conteúdos transmitidos pelo pro- minhas aulas questões de saúde pú- blica Sergio Arouca e os cursos de
fessor. O resultado agradou muito, um blica com respaldo de quem enten- educação a distância. Sugestão: a re-
verdadeiro sucesso, que me rendeu de do assunto. vista poderia nos informar sobre con-
nota máxima na disciplina. ! Everton Demetrio, professor de His- cursos públicos nas áreas de saúde.
! Simão Pedro dos Santos Cezar, Pa- tória, Lagoa Seca, PB ! Ana Nery Alves de Souza, Jussara, BA
tos, PB
A SSUNTOS EM PAUTA Recomendamos à leitora as páginas
na internet da Ensp (www.ensp.fiocruz.br)

A gradecimentos pela remessa da re-


vista Radis nº 32. Tenho muita es-
perança na atuação do embaixador
S ou psicóloga da saúde pública e
tive contato com a Radis procu-
rando informações sobre a doença
e do Programa de Educação a Distância
Ensp/Fiocruz (http://ead.redefiocruz.
fiocruz.br).
da OMS Sasakawa para a eliminação hanseníase. Achei muito interessan-

expediente
A credito que todos os leitores,
como eu, estão satisfeitos com as
matérias publicadas nessa revista. O
suporte informativo que a Radis ofe-
Subcoordenação Justa Helena Franco rece aos profissionais da área de saú-
Edição Marinilda Carvalho de, gestores e usuários, vem colabo-
Reportagem Jesuan Xavier (subeditor), rando para o crescimento do SUS.
Katia Machado, Wagner
Vasconcelos (Brasília/Direb) e Thiago Sugiro algumas idéias de pauta que for-
Vieira (estágio supervisionado) talecerão a estrutura do controle so-
Arte Aristides Dutra (subeditor) cial da instituição. Em saúde pública,
Documentação Jorge Ricardo Pereira,
Laïs Tavares e Sandra Susano a telefonia celular e os perigos dessa
RADIS é uma publicação impressa e online Secretaria e Administração Onésimo tecnologia; o controle social na forma-
da Fundação Oswaldo Cruz, editada pelo Gouvêa, Fábio Renato Lucas, ção dos conselhos municipais e estadu-
Programa RADIS (Reunião, Análise e Cícero Carneiro e Mario Cesar G.
Difusão de Informação sobre Saúde), F. Júnior (estágio supervisionado) ais de saúde; os programas Saúde da
da Escola Nacional de Saúde Pública Informática Osvaldo José Filho e Geisa Família/de Agentes Comunitários de Saú-
Sergio Arouca (Ensp). Michelle (estágio supervisionado) de e a formulação de políticas públicas.
Periodicidade mensal Endereço ! Luís Carlos de Sousa, Embu, SP
Tiragem 42 mil exemplares Av. Brasil, 4.036, sala 515 — Manguinhos
Assinatura grátis Rio de Janeiro / RJ — CEP 21040-361
(sujeita à ampliação do cadastro) Tel. (21) 3882-9118 R EPRODUÇÃO DE TEXTOS
Fax (21) 3882-9119
Presidente da Fiocruz Paulo Buss

E
E-Mail radis@ensp.fiocruz.br stou coordenador de Saúde e Se-
Diretor da Ensp Antônio Ivo de Carvalho
Site www.ensp.fiocruz.br/radis gurança do Trabalhador da Asso-
PROGRAMA RADIS Impressão
Coordenação Rogério Lannes Rocha Ediouro Gráfica e Editora SA ciação dos Servidores da Universida-
de Federal do Rio Grande do Sul
(Assufrgs), e gostaria de, na medida
USO DA INFORMAÇÃO — O conteúdo da revista Radis sáveis pelas matérias reproduzidas. Solicitamos aos
pode ser livremente utilizado e reproduzido em qual- veículos que reproduzirem ou citarem conteúdo de do possível, publicar textos da revis-
quer meio de comunicação impresso, radiofônico, nossas publicações que enviem para o Radis um exem- ta Radis, da qual sou assinante. Es-
televisivo e eletrônico, desde que acompanhado dos plar da publicação em que a menção ocorre, as refe-
créditos gerais e da assinatura dos jornalistas respon- rências da reprodução ou a URL da Web. clareço que, no caso de ser possível
RADIS 35 ! JUL/2005
[ 5 ]

a (re)publicação de textos, estarei


indicando a fonte. Saúde!
! Julio Oliveira, Porto Alegre
SÚMULA

Como indica a nota “Uso da Infor-


mação”, na página 3, o conteúdo da Uma das saídas, então, tem sido
Radis pode ser livremente reproduzi- S URTO DE PÓLIO PREOCUPA OMS a união de forças. Consumidores es-
do, com os devidos créditos. Solicita- tão se organizando em associações e
mos aos amigos que nos informem so-
bre eventuais publicações, para que
registremos a referência.
A Organização Mundial da Saúde de-
tectou novos surtos de polio-
mielite em 16 países da África e da
já compram produtos até 78% mais ba-
ratos do que nas drogarias. É o caso
dos 100 filiados da Associação Brasi-
Ásia. Só o Iêmen registrou 22 ca- leira de Asmáticos (Abra), do Rio, que
R ADIS AGRADECE sos. Em fevereiro, mais quatro na compram o Singulair por R$ 58. Com
Arábia Saudita, e, em março, dois nota fiscal e receita médica nas mãos,
na Etiópia. A OMS esperava come- retiram na Abra outra caixa do medi-
morar em 2005, após 50 anos da des- camento. Ou seja, cada uma sai
coberta da vacina contra a doen- por R$ 29. Nas farmácias, a caixa cus-
ça, a erradicação total da pólio no ta até R$ 134,21.
mundo. É necessário um período de
três anos sem constatação de ca-
sos para que uma doença possa ser M AIS REMÉDIOS PARA O SUS
considerada erradicada.

S ou agente comunitário de saúde e


parabenizo a revista Radis pelos exce-
lentes trabalhos publicados, especialmen- O LIGOPÓLIO FARMACÊUTICO RESISTE
A nova fábrica de medicamentos da
Fiocruz, em Jacarepaguá, bairro
da Zona Oeste do Rio de Janeiro,
te a “Experiência com idosos mostra um será responsável pela produção de
SUS humanizado”, na edição n° 31. anti-retrovirais e contraceptivos que
! Francisco Valdemício de Almeida, atenderão os usuários do SUS e do pro-
Pimenteiros, PI grama Farmácia Popular. Comprada da
GlaxoSmithKline, a unidade atualmen-
te só fabrica o antibiótico amoxici-

A Pastoral da Criança de São Gabriel


parabeniza pelas excelentes pu-
blicações que têm dado muita ajuda
lina. A transferência total da fábrica

nos conselhos sobre saúde nas reu-


niões da Pastoral da Criança. Somos
15 comunidades católicas ampliando
o trabalho da saúde básica, e agra-
decemos a grande ajuda que a revis-
ta nos traz. É importante saber que
alguém está lutando conosco. As sete
nações preocupadas com pesquisas
para combater o vírus da Aids (Radis
31) mostram que o respeito ao direi-
to humano está em primeiro lugar.
! Ana Beatris Rodrigues Marinho, São
Gabriel, RS
A ssociações, consórcios, farmácias
populares, compras governamen-
tais. Nada disso impede que o mer-
da Fiocruz, em Manguinhos (Zona
Norte) para Jacarepaguá depende
de recursos federais, mas o gover-
cado de medicamentos no país con- no promete repassar o dinheiro ne-
tinue dominado por oligopólio, cessário porque considera o inves-

S ou aluna do curso de enfermagem


e foi na escola, por intermédio dos
professores, que conheci a revista
segundo o Ministério da Saúde. O
governo acha que a estrutura do
setor não mudou nos últimos anos
timento não um gasto, mas uma
estratégia. Os números confirmam:
em 2004, os remédios fabricados na
Radis. Gostaria de parabenizar a equi- — grandes laboratórios mantêm fa- Fiocruz geraram economia de R$ 200
pe pela publicação elaborada e de tia imensa de mercado. As drogas milhões à União.
grande importância para nós, apren- novas, criadas após 1996, têm pa-
dizes da área da saúde. tente protegida por até 20 anos e
! Loiva Regina Pianezzola, Porto Ale- preços bem mais altos; os 9 mil re- R EMÉDIOS MAIS BARATOS
gre, RS médios anteriores a 1996, já sem

NORMAS PARA CORRESPONDÊNCIA


proteção de patente, é que permi-
tem ao país produzir genéricos e
outros medicamentos mais baratos.
A proposta do governo de subsidiar
medicamentos a hipertensos e di-
abéticos que não dependem do SUS
A Radis solicita que a correspondên-
cia dos leitores para publicação (car- Em 1992, o governo liberou o mas têm dificuldades financeiras vi-
ta, e-mail ou fax) contenha identifi- setor: segundo o IBGE, o aumento rou projeto de lei enviado ao Con-
cação completa do remetente: nome, dos preços dos medicamentos en- gresso. O objetivo é garantir remé-
endereço e telefone. Por questões de tre 1994 e 1999 ficou perto de 80%, dios mais baratos nas farmácias
espaço, o texto pode ser resumido. enquanto a inflação acumulada foi populares a 11,5 milhões de pacien-
de 57%. tes. Prevendo descontos que variam
RADIS 35 ! JUL/2005
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de 50% a 90% nos medicamentos, o dígenas. A Radis (nº 22) informou na ma agrária e à área social, não so-
projeto exige o credenciamento das matéria “Os convênios da Funasa” fram cortes.
farmácias e um modelo padronizado que a instituição repassa os recursos
de receita que garanta aos médicos públicos a organizações conveniadas.
maior controle sobre o tratamento Quando os serviços são prestados por C OMISSÃOAPROVA ABORTO DE FETO
dos pacientes. Segundo o Ministé- empresas não-indígenas, a parceria SEM CÉREBRO
rio da Saúde, a idéia é evitar que pode ser um risco para a população
hipertensos e diabéticos abandonem
o tratamento por falta de recursos.
Hoje o SUS atende 7,7 milhões de
que recebe serviços desassociados de
sua realidade.
Em 2004, a mortalidade infantil
A Comissão de Seguridade Social e
Família aprovou, com emenda, o
Projeto de Lei 4403/04, da deputada
hipertensos, mas estima-se que no aumentou 15% na região. De janeiro Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que per-
Brasil 16,8 milhões tenham a doen- a abril deste ano, mais de 20 crianças mite o aborto nos casos de fetos
ça. O país tem 5 milhões de diabéti- indígenas morreram no município de anencéfalos (sem cérebro). A decisão,
cos, dos quais 2,6 milhões são aten- Dourados (MS). que altera o Código Penal, autoriza o
didos pelo SUS. Números oficiais indicam que há aborto nos casos em que a anomalia
mais de 600 crianças desnutridas nas impede as chances de vida ao feto
aldeias vizinhas, em risco de vida. O fora do útero. O juiz Rafael Pagnom
V ACINA CONTRA DIARRÉIA atual índice é de 64,33 desnutridos Cunha, de Tupanciretã, no Rio Gran-
por mil nascidos vivos, enquanto a de do Sul, autorizou em maio uma mu-

O Brasil negocia com a Bélgica a


distribuição da vacina de com-
bate à diarréia do laboratório Glaxo-
média brasileira é de 24 por mil. lher grávida de feto anencéfalo a fa-
zer um aborto. Ele alegou que não
havia “existência técnica de vida” a
SmithKlein. O rota-vírus é responsável MST REIVINDICA CPI NO S ENADO ser resguardada.
por 30% dos casos de infecção gastro- O deputado Rafael Guerra (PSDB-
intestinal no Brasil e atinge princi- MG), relator da proposta na comis-
palmente as populações mais caren- são, apresentou emenda que escla-
tes. A preocupação do Ministério da rece a exclusão de outras anomalias
Saúde é o alto custo da vacina, ain- do projeto de lei. “Se o anencéfalo
da não registrada, quando chegar é um morto cerebral, não podemos
ao mercado. Segundo o acordo pro- afirmar o mesmo de fetos com outras
posto, o mercado brasileiro estaria anomalias graves, irreversíveis e que
garantido à empresa por três anos, até podem chegar a ser incompatí-
em troca da redução substancial do veis com a vida, como algumas altera-
preço. A transferência de tecnologia ções cromossômicas. Essas patologi-
para a produção nacional da vacina as, por mais graves que sejam, não
é outra proposta negociada com a podem ser igualadas à condição da
Glaxo, como também a de que o Bra- anencefalia, que é equiparável à mor-
sil exporte o produto aos países la- te cerebral”, justificou.
tino-americanos.
O Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem-Terra (MST) reivindi-
ca a criação de uma Comissão Parla-
A Constituição brasileira prevê o
aborto somente nos casos de gravi-
dez resultante de estupro ou quan-
C URUMINS : MORTE POR DESNUTRIÇÃO mentar de Inquérito (CPI) para inves- do a vida da gestante corre risco;
tigar as dívidas brasileiras e o nos demais casos é considerado cri-

C hegou ao fim o exame da morte


das crianças indígenas em Dou-
rados (MS) e Campinápolis (MT). A
cumprimento da meta anunciada pelo
governo federal de assentar 430 mil
famílias sem terra até 2006.
me. A Comissão de Constituição e Jus-
tiça e de Cidadania analisa o projeto
antes de ser ir ao Plenário.
comissão externa que analisava o No documento intitulado “O que
caso aprovou o relatório da depu- precisa ser feito para mudar a vida
tada Perpétua Almeida (PcdoB-AC), do povo”, entregue ao presidente do A BORTO AINDA É TABU NO PAÍS
afirmando que as mortes estão as- Senado, Renan Calheiros, os líderes
sociadas à desnutrição, à falta de
água tratada, de esgoto e de sane-
amento. Indígenas e autoridades
do movimento exigem que fazendei-
ros sejam punidos por abusos contra
trabalhadores rurais e que os casos
A Secretaria Especial de Políticas
para as Mulheres avaliou com pre-
ocupação os resultados de pesquisa
dos dois estados e do governo fe- de assassinato no campo passem à do Instituto Sensus feita para a Con-
deral foram ouvidos pela comissão, esfera federal. O documento reivin- federação Nacional dos Transportes.
que enviou o texto aos ministros dica ainda o aumento do dinheiro li- A prática do aborto ainda é tabu no
da Saúde e da Justiça, à Funasa, berado para o Programa Nacional de país: 85% dos entrevistados condena-
ao Ministério Público Federal e à Fortalecimento da Agricultura Famili- ram (12,3% são favoráveis ao aborto
Controladoria Geral da União, para ar (Pronaf), a duplicação do valor real como prerrogativa da mulher); 49,5%
que dêem prosseguimento às inves- do salário mínimo e a não-liberação são contra o aborto mesmo em caso
tigações sobre o descaso com a po- para plantio comercial de sementes de gravidez por estupro, direito as-
pulação indígena. transgênicas. segurado na Constituição. Mas 84,4%
O relatório denunciou a suspen- Renan Calheiros defendeu a pri- apóiam a política de distribuição de
são de suplementos alimentares que oridade das pautas dos movimentos preservativos e pílulas do dia seguin-
eram distribuídos pela Funasa em par- sociais e afirmou que o Congresso te pelo governo, 82,9% defendem o
ceria com ONGs e a falta de orienta- Nacional deve zelar para que os re- planejamento familiar e 87,2%, a ado-
ção dos órgãos oficiais às famílias in- cursos da União, destinados à refor- ção de métodos anticoncepcionais
RADIS 35 ! JUL/2005
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P OUCA INTIMIDADE COM O SUS

A mudança promovida pelo prefeito


José Serra (PSDB) na Secretaria de
Saúde de São Paulo agradou aos ativistas
do Movimento Social de Luta contra a
Aids. A pediatra Maria Cristina Cury, di- PORTAL DE MEDICAMENTOS — O novo
retora do curso de Medicina da Uni- Portal de Compras de Medicamentos ad-
versidade de Santo Amaro, assumiu a quiridos pelo Ministério da Saúde entrou
função no lugar de Cláudio Lottenberg. em funcionamento em junho, segundo
S e g u n d o Paulo Giacomini, do informou o site do Governo Eletrônico
Movimento Paulistano de Articulação FALTA UMA CONFERÊNCIA — A edi- no dia 9/5 (www.governoeletronico.e.
e Luta contra a Aids (Mopaids), o des- ção 44 do Informativo da Rede Uni- gov.br). O sistema, desenvolvido pela
gaste do ex-secretário era resultado da (www.redeunida.org.br) infor- Secretaria de Logística e Tecnologia
de sua “visão empresarial da saúde” ma que o Conselho Nacional de da Informação, do Ministério do Pla-
e da “pouca intimidade” com o SUS. Saúde, seguindo deliberações da nejamento, registrará informações so-
Segundo ele, Lottenberg queria in- 12ª Conferência Nacional de Saú- bre compra de medicamentos e ma-
corporar as Unidades Básicas de Saú- de (novembro/2003), aprovou a re- teriais hospitalares feitas pelo SUS e
de (UBS) ao Serviço de Atendimento alização de três conferências servirá para consulta de gestores de
Especializado (SAE). “Não é isso que temáticas: Saúde do Trabalhador, saúde das esferas federal, estadual e
preconiza o SUS”, afirmou. Gestão do Trabalho e Educação na municipal, como também de fornece-
Para o presidente do Grupo de Saúde e Saúde Indígena. Por en- dores e de toda a sociedade. Com
Incentivo à Vida (GIV), Cláudio Toledo, quanto, apenas a Conferência Na- esse novo recurso, será possível iden-
Lottenberg saiu porque lhe faltava cional de Gestão do Trabalho e tificar os melhores preços de compra;
conhecimento da saúde pública. En- Educação na Saúde (de 13 a 16 de estados e municípios, num segundo
tre as expectativas dos ativistas com a novembro) teve regimento aprova- momento, poderão se unir em con-
nova gestão estão novas ações de pre- do pelo CNS. Convocado pela Por- sórcios para aquisições em escala.
venção e assistência no tratamento dos taria Ministerial 592 (27/4/2005), o O objetivo do Portal de Com-
portadores do HIV/Aids. evento será precedido de etapas pras de Medicamentos é reduzir o
municipais e estaduais. custo das aquisições do setor, per-
Fica aqui uma perguntinha: e a mitindo a integração e a padroni-
G ÊMEOS COM 6 ANOS DE DIFERENÇA Conferência de Comunicação, Infor- zação das informações e aquisição
mação e Educação Popular em Saú- de medicamento pelos governos.

P ela primeira vez na história da me-


dicina brasileira, um tratamento de
fertilização resultante do congelamen-
de, também deliberada na Doze?

PESQUISAS EM SAÚDE — Nosso re-


De acordo com Rogério Santanna,
secretário de Logística e Tecnologia
da Informação, em entrevista ao site
to de embriões cria gêmeos com seis pórter Inocêncio Foca foi atrás e do Governo Eletrônico, o custo dos
anos de diferença. O caso aconteceu descobriu importante oportunida- remédios comprados pelo SUS pode-
em Rio Preto, São Paulo. Em 1998, o de para pesquisadores em saúde. rá cair em pelo menos 20%, a partir
cirurgião-dentista Marcelo Silveira e a Foram liberados R$ 25,4 milhões do uso do pregão eletrônico na ge-
pedagoga Alessandra Câmara Silveira, para financiamento de pesquisas ração de um registro nacional de pre-
com dificuldades para ter filhos, pro- nas seguintes áreas: Saúde Men- ços. Isso significa que, dos R$ 13 bi-
curaram a Clínica de Reprodução Hu- tal, Saúde dos Povos Indígenas, lhões em medicamentos e materiais
mana Sinhá Junqueira, de Ribeirão Pre- Neoplasias, Avaliação Econômica e hospitalares repassados ou compra-
to (SP). Nasceu João Marcelo, o Análise de Custos em Saúde, dos pelo SUS atualmente (dos quais
primeiro filho do casal, e os embriões Hanseníase, Pesquisas para o SUS cerca de R$ 2 bilhões comprados di-
não-utilizados foram congelados. Amazônia e Órteses e Próteses. As retamente, e o restante repassado a
Mas João Marcelo, hoje com 6 áreas foram definidas pela Agenda estados e municípios), cerca de R$
anos, pedia aos pais uma irmã; o casal Nacional de Prioridades de Pesquisa 8,5 bilhões em medicamentos pode-
retornou à clínica e implantou um em Saúde como de grande interes- rão ter redução.
embrião congelado. Resultado: nasceu se para o SUS. Desse total, R$ 17 O portal vai possibilitar, por
em maio Alissa, segunda filha do casal milhões são provenientes do Minis- exemplo, que a União identifique
e irmã bivitelina de João Marcelo, gê- tério da Saúde e o restante do Mi- quando um estado estiver compran-
meos não-idênticos. Para os médicos, nistério da Ciência e Tecnologia, do determinados medicamentos por
as chances de engravidar na primeira recursos resultantes de acordo de preços muito altos. No lugar de con-
tentativa são de 50%; na segunda, 25%. cooperação técnica. Os recursos tinuar repassando recursos, pode
O casal não afasta a possibilidade de serão gerenciados pelo CNPq e comprar diretamente o produto.
ter um terceiro filho gêmeo. Basta re- pela Finep. Para mais informações, Além disso, o governo determi-
correr aos embriões congelados e con- os pesquisadores podem consultar nou que, a partir de 1º de julho,
tinuar contando com a sorte. os editais de financiamento de pes- todas as compras de bens e servi-
quisas na página do Departamento ços comuns da administração públi-
de Ciência e Tecnologia do Minis- ca federal sejam feitas por pregão,
SÚMULA é produzida a partir do acom- tério da Saúde, no endereço ele- especialmente na forma eletrônica.
panhamento crítico do que é divulgado trônico www.saude.gov.br/sctie/ Nada mal nesses tempos de denún-
na mídia impressa e eletrônica. decit, no link Serviços, clicando cias de todo tipo sobre as compras
em Editais. federais.
RADIS 35 ! JUL/2005
[ 8 ]

S I ST E
EMM A Ú N IIC
CO D
DEE SSA
AÚ D
DEE

Identidade
relegada

FOTOS: ARISTIDES DUTRA


Jesuan Xavier e Wagner
Vasconcelos *

É
básico. Ao abrir
um negócio, uma
lanchonete que
seja, o dono pen-
sa imediatamente num
nome e numa logomarca
que chamem a aten-
ção do público. Man-
da o marketing que
essa marca esteja em
locais bem visíveis,
para que fique na me-
mória dos usuários e
seja facilmente reco-
nhecida. O Sistema
Único de Saúde, cla-
ro, não é um negócio,
e sim o maior serviço
público de saúde do
mundo. Pois, passados
15 anos de sua criação
no Brasil, ainda não
tem identidade visual.
É mais do que um
simples desleixo. Ins-
tituições públicas de
saúde, em todo o
país, simplesmente ig-
noram determinação
do Ministério da Saú-
de: a “cruzinha”, cri-
ada em 1991, teria de
estar exposta em pré-
dios, veículos, unifor-
mes, ofícios e qual-
quer publicação de
entidades que inte-
gram o sistema. Mas a
realidade é bem dife-
rente. Em diversos lu-
gares, quando apare-
Jader Augusto procura imagem de
Jesus atrás da cruz do SUS: “É ce, está em local
alguma coisa ligada à religião, não?” pouco visível e com-
pletamente descarac-
terizada.
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[ 9 ]

Desde 2002 o Gices, Grupo de”, rebate um profissional de


Interinstitucional de Comunicação saúde, visivelmente constrangido
e Educação em Saúde de Santa por não identificar a logomarca
Catarina vem denunciando esta que aparece na porta de entra-
omissão (ver box). “O povo brasi- da de seu próprio hospital. Ele
leiro, verdadeiro dono da marca preferiu não se identificar.
SUS, precisa fazer valer seu direi-
to e cobrar de cada autoridade a MARKETING NEGATIVO
divulgação de seu produto pelo Para o neurocirurgião
país inteiro”, conclama o farma- Wilson Okabayashy, este é
cêutico-bioquímico Rudi Pereira um problema menor perto
Lopes, do Gices. de tantos outros que o SUS en-
“É fundamental que consoli- frenta. “Mas, de qualquer forma,
demos essa marca, pois o SUS tem acho que o SUS deveria ter um
grandes conquistas a serem rea- símbolo mais bem divulgado”, con-
firmadas”, conclama Silvio corda. “Psicologicamente isso
Fernandes, presidente do Conse- poderia funcionar de forma po-
lho Nacional de Secretários Mu- Acho que o SUS sitiva tanto para o usuário quan-
nicipais de Saúde. “Em nosso mu- deveria ter um to para as pessoas que traba-
nicípio mesmo, a marca foi
esquecida algumas vezes”, diz ele,
símbolo melhor lham na área”.
Para Mário Scheffer, comu-
que é secretário de Saúde da ci- divulgado nicador social e sanitarista, já
dade de Londrina (PR). “Temos Wilson Okabayashy passou a hora de se fazer um in-
que criar o hábito de usar a mar- vestimento na padronização da
ca, pois simbolicamente ela con- imagem e ampla divulgação da
tribui para consolidar uma imagem marca. “Até para se contrapor
positiva do SUS”. çalves e Frederico Machado da Cos- ao marketing negativo contra o
“É um problema comum que a ta Chaves, ambos estudantes de Me- SUS, que é muito bem feito”. Se-
logomarca não seja respeitada”, la- dicina — reconheceram o símbolo gundo ele, diariamente jornais, rá-
menta Artur Custodio Moreira de como a marca do SUS. dios e televisões mostram as filas
Sousa, do Conselho Nacional de Com a imagem nas mãos, o apo- de espera, os hospitais lotados e
Saúde (CNS) e coordenador naci- sentado Jader Augusto tenta encon- sucateados, o mau atendimento e a
onal do Movimento de Reintegra- trar a figura de Jesus atrás da cruz. falta de remédios. “Realmente exis-
ção das Pessoas Atingidas pela “É alguma coisa ligada à religião, tem essas mazelas, mas o lado bom
Hanseníase. Segundo ele, os con- não?”, divaga. Ao seu lado, Josemar do SUS é pouco conhecido, há pre-
selheiros, freqüentemente, mani- da Silva Queiroz também se surpre- conceito, desinformação e até má
festam repúdio a esse desrespei- ende quando informado de que esse fé de setores que lucram com a ex-
to — inclusive na 12ª Conferência era o símbolo do SUS. “É mesmo? posição negativa dos serviços públi-
Nacional de Saúde. “Isso, muitas Nunca reparei”, admite. “Quem está cos de saúde”.
vezes, reflete algo comum na vida errado não é o médico, e sim o Scheffer, que é representante
política e nos trabalhos públicos: marqueteiro do Ministério da Saú- dos usuários do Movimento de Luta
a prática de os governantes cri- contra a Aids no CNS, lembra que
arem suas próprias marcas, ou o SUS realiza 1 bilhão de proce-
ainda mudarem mesmo o que for dimentos de atenção básica por
positivo da gestão anterior”, diz. ano, mantém 500 mil profissionais
Opinião semelhante à da pes- e cerca de 6 mil hospitais, faz
quisadora da Fiocruz Inesita Soa- 85% de todos os procedimentos
res de Araújo, doutora em Comu- complexos, dá cobertura univer-
nicação e Cultura. De acordo com sal aos pacientes de HIV e re-
ela, a marca do SUS realmente não nais crônicos, faz quase todos os
é usada, apesar das normas exis- transplantes, entre tantas outras
tentes. “As razões disso não es- realizações. “Se cada serviço,
tão, evidentemente, ligadas à mar- cada ação de saúde, cada equi-
ca em si, como dispositivo gráfico, pamento exibisse corretamente
mas ao que ela significa”, diz. “E e de forma padronizada a marca
o que ela significa implica toda do SUS seria, sem dúvida, uma
uma arena de embates políticos”. propaganda positiva”.
Longe dessa arena, nas ruas, Ele ressalta que a marca pre-
quase ninguém reconhece a cruz cisa ser conhecida e populariza-
do SUS. Para conferir essa reali- Se tivesse um fio da, providência elementar para
dade, a equipe da Radis passou passando em cima que o SUS seja identificado, de-
uma manhã em frente ao Hospital
Geral de Bonsucesso (HGB), na
da cruz, eu diria fendido e valorizado por todos
os brasileiros. “Os gestores da
Zona Norte do Rio de Janeiro. que é a Fiocruz. saúde, que gastam tantos recur-
Das 27 pessoas entrevistadas, José Luiz da Silva sos de comunicação com auto-
entre usuários, enfermeiros e mé- promoção e com intenção elei-
dicos, apenas dois — Daniele Gon- toral, deveriam investir na marca
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[ 10 ]

SUS, atendendo, inclusive, reite-


Em Vitória, alguns exemplos rados reclames das instâncias de
controle social”.
Para Inesita, a marca tem o pa-
pel de remeter a um conjunto de
informações que as pessoas já tra-
zem na memória sobre a instituição
ou o produto que representa. “Po-
dem ser informações boas ou ruins,
isto vai depender da vivência que
cada um teve ou tem em relação
àquela instituição ou produto”. Ela
cita como exemplo a suástica. “Um
símbolo que nos remete rapidamen-
te a um mundo de horrores”. Se-
gundo ela, a “cruzinha” do SUS nun-
ca foi devidamente trabalhada pelo
Ministério da Saúde. “Para o usuá-
rio, não representa nada”.
O vendedor de salgados José
Luiz da Silva, que faz ponto na calça-
da em frente ao HGB há mais de um
No Hospital São Lucas, a logomarca correta está em fundo
escuro, desbotada e escondida atrás da fiação da rua ano, nunca tinha reparado no símbo-
lo. “Se tivesse um fio, passando em
cima da cruz, eu diria que é a
No Hospital Universitário, a Fiocruz”, disse, às gargalhadas.
ausência da marca na fachada
Mas Artur não vê tanta graça
assim. Para o conselheiro, a popula-
ção tem que criar intimidade com a
logomarca. “Tem que perceber o sis-
tema como único e nacional, sen-
tir-se proprietário da marca”. Em
sua opinião, é necessário garantir
isso de qualquer forma. Se for o
caso, disse ele, até aprovar uma lei
federal para este fim. “Ignorar a
marca é não trabalhar a lógica do
sistema único!”, enfatiza.

AUSÊNCIA DE NORTE A SUL


A falta que a logomarca faz é
sentida de Norte a Sul. Em Vitória, a
Radis pôde comprovar que as unida-
des de saúde do SUS também desres-
peitam o símbolo, que ou não apare-
No Hospital da PM, a logomarca ce ou é usado fora das especificações.
em local pouco visível “Acaba que depomos contra nós mes-
mos”, reconhece o médico Erivelto Pi-
res Martins, assessor da Subsecretaria
de Saúde do Espírito Santo. Alertado,
ele promete divulgar a imagem do SUS
no estado. “Vou sugerir ao nosso de-
partamento de comunicação que faça
um trabalho em cima disso”, diz.
“Pode parecer que não é nada, mas
se não valorizarmos a marca não valo-
rizamos o nosso próprio trabalho, pois
imagem é tudo, né?”.
Em Belém do Pará, o descaso
geral incomodava a jornalista Roberta
Vilanova, da assessoria de imprensa
do Hospital Universitário João de Bar-
ros Barreto (HUJBB). Por exemplo, a
Numa placa de obra do Hospital Santa Rita, a marca aparece, fachada da Unidade Municipal de Saú-
mas totalmente descaracterizada de do bairro de Sacramenta exibia,
pintada na parede, a logomarca do
SUS. Com a mudança do governo mu-
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[ 11 ]

nicipal, depois de uma reforma a mar-


ca desapareceu. Roberta, então, re- Em Belém, tons errados
solveu pesquisar o assunto.
Especialista em Comunicação e
Saúde pela Fiocruz e em Saúde Públi-

FOTOS: ROBERTA VILANOVA


ca pela Universidade do Estado do
Pará, Roberta entrevistou, nos cinco
primeiros meses do ano passado, 71
pessoas para a sua pesquisa, intitulada
“Comunicação: Teoria e prática no
SUS”. O público era formado por 24
usuários do SUS atendidos no ambu-
latório da Fundação Pública Estadual
Hospital das Clínicas Gaspar Vianna
(FHCGV) e no ambulatório do HUJBB;
20 trabalhadores de saúde dessas
duas instituições; 12 jornalistas que
atuam nos principais jornais de Belém;
cinco jornalistas que trabalham nas
assessorias de comunicação da Secre-
A unidade do bairro de Sacramenta, antes da reforma...
taria Executiva de Saúde Pública
(Sespa) e da Secretaria Municipal de
Saúde (Sesma), e 10 diretores do
HUJBB e da FHCGV.
E o que a pesquisa revela é
preocupante. O desconhecimento do
SUS é geral. “As pessoas não sabem
da amplitude do SUS, acham que o
sistema se limita à realização de con-
sultas”, disse Roberta à Radis.
Roberta testou os diretores dos
hospitais para saber se eles eram ca-
pazes de identificar a logomarca do
SUS. Para isso, criou, por conta pró-
pria, uma logomarca fictícia e juntou-
a à verdadeira marca do SUS e à da
Sespa. E aí veio a decepção: nada
menos que 70% dos entrevistados er- ... e o hospital privado: marca presente, apesar da cor errada
raram, confundindo a logomarca do
SUS com a da Sespa. Os que assumi-
ram desconhecer somaram 10%, e os
que apontaram a logomarca fictícia O MISTERIOSO SUS alguns números. Quem é o responsá-
somaram mais 10%. Mas não é só nas paredes das vel pelo SUS? Apenas 5% dos usuários
Em outra etapa de seu trabalho, unidades públicas de saúde que a e 8,3% dos jornalistas acertaram, di-
Roberta perguntou aos diretores dos logomarca do SUS inexiste. Em ma- zendo que a responsabilidade é das
hospitais que visitou a razão pela qual teriais impressos pelo próprio Minis- três esferas de governo.
a logomarca do SUS não era mostra- tério da Saúde, como cartazes e fo- E a origem do dinheiro usado no
da. A pergunta causou surpresa: a lhetos de campanhas (como a da sistema? Para 25% dos jornalistas, 15%
maioria não soube justificar a ausên- vacinação para idosos, a do combate dos usuários e 20,8% dos servidores, o
cia — mesmo sabendo que se trata à paralisia infantil ou pelo uso de ca- dinheiro vem do governo federal. Ape-
de determinação dos primeiros mo- misinha), não há o menor sinal de que nas 4,16% dos servidores e 8,3% dos
mentos do SUS. As respostas variaram aquilo também é SUS. “A marca não é jornalistas citaram as três esferas. Que
de falta de recursos por parte dos usada em documentos, nas receitas serviços são prestados pelo SUS, além
hospitais até falta de vontade políti- nem nos saquinhos de remédios. Na de consultas e exames? Para 16,6% dos
ca dos gestores. Roberta escreve em verdade, cada hospital tem sua pró- servidores, 50% dos usuários e 8,3% dos
seu trabalho que, para alguns direto- pria logomarca”, diz Roberta. “E não jornalistas, nenhum. Pelo menos a to-
res, “não interessa muito aos políti- custaria nada mostrar que os exames talidade dos jornalistas e dos servido-
cos que a população perceba que o realizados pela população também são res disse que a população não é bem-
SUS é um direito, porque a política bancados pelo SUS”. informada sobre o assunto; mas 20%
brasileira ainda se faz a partir de Assim, o SUS permanece um dos jornalistas que atuam em assesso-
clientelismo e favor”. grande mistério para a população. A rias de comunicação disseram que a
Uma das constatações mais cu- pesquisa de Roberta comprova que população é bem-informada.
riosas da pesquisa é que hospitais as pessoas desconhecem a amplitu- Um consolo: 80% dos usuários do
particulares que atuam de forma su- de de atuação do sistema, não sabem SUS entrevistados disseram ter rece-
plementar ao sistema exibem a quem são os responsáveis por sua bido um bom atendimento.
logomarca do SUS, ao contrário das gestão e muito menos de onde vêm
entidades públicas. seus recursos financeiros. Vejamos * Colaborou Katia Machado
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Em Santa Catarina, os pioneiros da causa


Marques de Mélo. Trata-se de uma
Marinilda Carvalho
O grupo foi criado em 1999, no
1º Encontro Estadual de Co-
reunião de esforços: Rudi escreveu
o artigo “SUS clama por sua própria

P ioneiros na valorização da marca municação e Educação em Saúde identidade” e Marcelo criou cartuns
do SUS, os profissionais que de Santa Catarina. O objetivo do e emoticons (carinhas para uso na
compõem o Grupo Interinstitu- Gices é integrar as ações de co- internet) com a marca do SUS (que
cional de Comunicação e Educação municação e educação em saúde ilustram a página 2 desta edição).
em Saúde de Santa Catarina (Gices) no estado, na busca da melhor qua- Rudi escreveu à Radis no ano
lutam contra o descaso. Seu site lidade de vida da população, passado propondo esta pauta, agora
(www.grupogices.hpg.ig.com.br) pu- aprofundar e socializar o conheci- cumprida nos 15 anos da querida Lei
blicou em 2002 uma espécie de ma- mento teórico-prático de comuni- 8.080/1990. (Radis 23, “SUS, marca a
nifesto intitulado “SUS nega seu cação e educação em saúde e pro- valorizar”). Pois bem, Rudi nos enviou
nome — Entidades não divulgam mar- mover a integração das instituições preciosa cópia da cartilha ABC do SUS,
ca do Sistema Único de Saúde”. Diz que desenvolvem ações de comu- que destrincha as regras do uso da
o texto que a logomarca oficial do nicação e educação em saúde. marca. O arquivo em PDF da cartilha
SUS, detalhada em escassos exem- estará à disposição dos interessados,
plares da cartilha ABC do SUS, de 1991 dação do SUS”, continua o manifes- na página do RADIS na internet.
— “que defensores do sistema guar- to. “Ao contrário, reforça uma visão E por que essa dificuldade toda?
dam com zelo” —, raramente está fragmentada, focada na instituição e Quem responde é o próprio Rudi, um
presente em prédios, veículos, sites, muitas vezes no gestor, distorcendo idealista que nada tem de Dom
publicações, peças publicitárias ou o entendimento da população e dos Quixote, pois bem conhece o poder
uniformes de servidores de entida- próprios servidores sobre o sistema”. do marketing. “Pela primeira vez na
des que integram o sistema, como o Lembra o Gices que o deslize é história do Brasil uma Constituição re-
próprio ministério, a Fundação Na- cometido até por organismos volta- gistra em suas páginas a saúde como
cional de Saúde, secretarias estadu- dos ao controle social do SUS, como direito fundamental do cidadão, dan-
ais e municipais de Saúde. o Conselho Nacional de Saúde, cuja do ensejo ao surgimento do Sistema
“Esse comportamento das insti- página na internet é ilustrada somen- Único de Saúde, fruto de profunda
tuições, tal como filhos que negam te pelo catavento do Ministério da discussão da sociedade”, lembra ele
os pais, não contribui para a consoli- Saúde. “A importante e bem-acabada em artigo no site do Gices. Então, por
publicação” do relatório da 11ª Con- que, tantos anos depois, grande par-
ferência Nacional de Saúde, de de- te da população desconhece por
FOTO: G I C E S

zembro de 2000, voltada à efetivação completo esse “extraordinário instru-


do SUS, por exemplo, só tem as assi- mento de cidadania”?
naturas “Ministério da Saúde e Go- “Sabemos todos que a marca é
verno Federal — Trabalhando em todo uma forma poderosa no processo de
o Brasil”. Pergunta o Gices: foi timi- comunicação de massa”, diz. “No
dez, vergonha da marca ou um pe- caso específico do SUS, sua assinatu-
queno esquecimento? ra completa continua ignorada pelas
instituições de saúde, que fazem
A ‘CRUZINHA’ DO SUS questão de promover a sua não-di-
O grupo faz instigante provo- vulgação”. Rudi afirma que é fácil
cação: “O curioso é que o Ministé- identificar, neste cenário, os princi-
rio da Saúde exige na portaria que pais responsáveis pela “grave omis-
trata do financiamento de progra- são”: as instituições de saúde, que
mas e projetos mediante convênios negam a razão de sua própria exis-
o uso da marca oficial em veículos, tência. Para ele, a assinatura comple-
prédios e placas de obras custea- ta do SUS deveria estar estampada nas
dos com recursos do Sistema Único fachadas dessas instituições, nos ve-
de Saúde”. E acrescenta: “Mais cu- ículos, nos postos de atendimento e
rioso ainda é saber que uma marca hospitais conveniados, na correspon-
não-oficial foi engendrada por uma dência, nos sites da internet e, prin-
agência de comunicação para o mi- cipalmente, “nos corações dos pro-
nistério, ainda na gestão de José fissionais de saúde”.
Serra. O descaso com a logomarca, “O povo brasileiro, verdadeiro
chamada por alguns de ‘cruzinha’ do dono da marca SUS, precisa fazer va-
SUS, persiste na administração de ler seu direito e cobrar de cada auto-
Humberto Costa”. ridade a divulgação de seu produto
No pé do texto, o leitor é enca- pelo país inteiro”, conclama o idealis-
minhado a duas outras páginas do ta (antenado) desta sólida causa —
site: um texto do farmacêutico- cuja dissolução no ar só os usuários
bioquímico Rudi Pereira Lopes e as unidos impedirão. “O SUS não perten-
tiras de quadrinhos do dentista e es- ce às instituições e não é do gover-
pecialista em Saúde Coletiva Marcelo no. O SUS é seu. Lute por ele.”
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Ouvidoria Pública

Participação democrática e cidadã

O
zes de captar as demandas da socie-
pequeno auditório do Insti-
tuto Nacional de Controle
dade a respeito da atuação dos ór-
gãos públicos, promovem o aperfei- A palavra ombudsman, expressão
de origem nórdica, é resulta-
do da junção da palavra ombud,
de Qualidade e Saúde da çoamento institucional a partir da
Fundação Oswaldo Cruz fi- perspectiva do cidadão”, disse. que significa “representante” ou
cou cheio para o seminário “Ouvidoria, A proposta tem por base a Cons- “procurador”, com a palavra man,
instrumento de participação cidadã”, tituição Federal (Emenda Constitu- “homem”. A palavra em sua forma
realizado no dia 23 de maio pela re- cional nº 19, de 1998, parágrafo 3º original foi adotada em vários paí-
cém-criada ouvidoria da Fiocruz. Pre- do artigo 37), que indica a necessi- ses. Outros adotaram denomina-
sente ao evento, Eliana Pinto, ouvidora- dade de promover-se a participação ção própria, a exemplo da Espanha,
geral da União, destacou o número da sociedade na administração pú- que usa “Defensor del Pueblo”,
insuficiente de ouvidorias no país. Dis- blica e de regular o atendimento ao da França (“Médiateur”), de Por-
se ela que entre os 5.565 municípios usuário, o seu acesso a informações tugal (“Provedor de Justiça”). No
“há menos de 100 ouvidorias municipais e a disciplina da representação con- Brasil utilizam-se duas expressões:
e cerca de 10 ouvidorias estaduais”. Em tra abusos ou negligências da admi- “Ouvidor”, denominação predo-
sua opinião, a maioria das pessoas, mes- nistração pública. minante no setor público; e
mo aquelas que passaram por um banco “Ombudsman”, predominante no
escolar, não sabe sequer o que é esta INDEPEDÊNCIA E AUTONOMIA setor privado.
instituição. Para o bom exercício da ouvidoria
Então, pergunta-se: o que é pública, Manoel Eduardo Alves Camargo por representantes/funcionários de
uma ouvidoria e qual a diferença e Gomes, o pioneiro em tal função no todas as unidades da Fiocruz), e ins-
entre a pública e a privada? Difun- Brasil, representando a Ouvidoria Pú- trumento de gestão e transformação
dida nas instituições e caracteriza- blica da Cidade de Curitiba, defende institucional que busca corrigir e
da como um espaço para registro a necessidade de o ouvidor ter auto- aperfeiçoar os serviços por ela pres-
de críticas, sugestões, reclamações nomia suficiente para levar as recla- tados. “A diferença da ouvidoria da
e denúncias, as ouvidorias estabe- mações e sugestões da sociedade às Fiocruz é ter nascido de uma deci-
lecem um canal prático e de fácil instâncias máximas da instituição que são coletiva de seus trabalhadores.
acesso a usuários e consumidores. A representa. “Os ouvidores da insti- Ela passa a contar, desde a sua cria-
diferença entre uma e outra é sim- tuição pública deverão defender os ção, com o apoio da comunidade in-
ples, como explicou Eliana: “A interesses daqueles que não estão terna”, exaltou João Quental.
ouvidoria pública é um espaço que o dentro dela”, disse em sua participa- A primeira ouvidoria, na figura do
cidadão tem para fazer valer seus di- ção no seminário. ombusdman, surgiu na Suécia em
reitos. Diferentemente da ouvidoria Na opinião do presidente da As- 1915. Foi criada para fazer cumprir as
privada, que usa o espaço como sociação Brasileira de Ouvidores leis e denunciar agentes públicos que,
marketing, para obter lucro”. (ABO), Edson Luiz Vismona, também no exercício de suas funções públi-
A proposta da ouvidoria privada palestrante, sendo o ouvidor públi- cas, cometeram ilegalidades ineren-
é melhorar serviços e produtos para co o representante do cidadão e o tes ao cargo, além de canalizar quei-
obtenção de melhores receitas fi- agente de mudança dentro da insti- xas, reclamações e sugestões do povo
nanceiras. O objetivo da ouvidoria tuição, ele precisará ter apoio da relacionadas à administração pública.
pública, porém, é servir de canal de direção, ser pró-ativo, interagir com O segundo país a criar um instituto
comunicação ou meio para que a as demais áreas e ter acesso livre semelhante foi a Finlândia. Hoje, mais
população possa interagir e intervir entre as várias instâncias do órgão de 100 países contam com a ouvidoria
na organização de uma instituição e no qual atua. Cabe a ele ainda: ser como mecanismo de controle social.
fazer valer seus direitos de cidadãos. unipessoal, dar sempre resposta ao No Brasil, a primeira ouvidoria
Como disse a ouvidora geral da União, reclamante, agir com independência pública foi criada em 1986, em Curitiba.
“é um importante canal de controle e autonomia, ter visibilidade e zelar Em 1988, foi criada a Ouvidoria Públi-
social, buscando a melhoria dos ser- pela credibilidade. “O ouvidor não ca do Estado do Paraná. Em 1992, o
viços públicos oferecidos”. tem o poder de decidir, mas de per- Ministério da Justiça instituiu a pri-
Graduado em Farmácia pela suadir para que determinada deman- meira Ouvidoria Pública Federal, sob
UFRJ, especialista em Saúde Pública da tenha solução”, ressaltou. a denominação de Ouvidoria-Geral da
e mestre em Gestão de Ciência e Nesse sentido, destacou Manoel República. Em 1995 foi criada a ABO,
Tecnologia pela ENSP, João Quental, Eduardo, a ouvidoria da Fiocruz, cri- marcando o crescimento deste insti-
o novo ouvidor da Fiocruz, acha que ada em dezembro de 2004 e agora em tuto no país. (K. M.)
a adoção de ouvidorias públicas é operação, é um exemplo a ser segui-
cada vez mais importante no contex- do. A proposta é fruto da determina- Ouvidoria da Fiocruz
to democrático brasileiro. “Sendo ção do Congresso Interno da institui- Tel. (21) 3885-1762
elas os canais de comunicação capa- ção (instância deliberativa composta E-mail ouvidoria@fiocruz.br.
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Leishmaniose

Doença tropical atinge


1,5 milhão por ano
Katia Machado

U
m grupo de especialistas
do Centro de Pesquisa
Gonçalo Moniz, unidade
da Fiocruz na Bahia, co-
meça a desvendar o modo como o
parasita Leishmania, causador da
leishmaniose, dissemina a doença pelo
organismo humano. O estudo, coor-
denado pelo médico patologista Wa-
shington Luis Conrado dos Santos,
propõe entender como um parasita
que é injetado na pele pode causar
lesões e migrar para órgãos internos
e mucosas. A pesquisa ajuda a encon-
trar uma maneira de controlar a mi- bótomos e caracterizada, em geral, e o interior da boca e a garganta. A
gração do parasita e inibir o desen- por apresentar inflamações crônicas doença só leva à morte quando não
volvimento de formas graves da que é de pele, mucosas ou vísceras, a tratada devidamente. Tem esse nome
considerada pela Organização Mun- leishmaniose afeta cerca de 1,5 mi- porque na maioria dos casos ocorre
dial de Saúde (OMS) uma das seis do- lhão de pessoas por ano no mundo. na Amazônia e em áreas de florestas,
enças tropicais de importância mun- Hoje, cerca de 12 milhões apresen- onde estão presentes os mosquitos
dial e a segunda, após a malária, entre tam umas das duas formas da enfer- transmissores, os flebotomíneos,
as causadas por protozoários. midade: a tegumentar e a visceral chamados popularmente de mosqui-
Transmitida por insetos hemató- americana. to palha, cangalhinha ou asa dura de-
fagos infectados denominados fle- A leishmaniose tegumentar é a vido a sua aparência cor de palha e
forma mais branda da doença. Como com grandes asas dirigidas para trás
explicou Washington do Santos, ela e para cima.

A o que tudo indica, o estudo


mostra que certas molé-
culas do sistema imune encon-
aparece como uma úlcera cutânea.
“Em 3% da população doente, é de-
Segundo a OMS, surgem 500 mil
casos da leishmaniose tegumentar
anualmente no mundo — no Brasil,
senvolvida uma lesão mucosa no nariz
tradas na pele têm sua função ou no palato (boca)”. A visceral, co- esse número varia entre 2 mil e 3
alterada pelo parasita e adqui- nhecida também como calazar, mil casos. A maioria está nos esta-
rem a capacidade de se desta- esplenomegalia tropical ou febre dos costeiros, do Pará ao Paraná, e
car, podendo migrar pela cor- dundun, que nas Américas é causada em estados centrais como Goiás,
rente linfática ou sanguínea normalmente pela espécie de Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.
para outros locais. Para tanto, protozoário Leishmania chagasi, é o De acordo com Expedito Luna, di-
os pesquisadores pegaram cé- tipo mais grave da doença, podendo retor do Departamento de Vigilân-
lulas do sangue e infectaram causar febre irregular prolongada, cia Epidemiológica da Secretaria de
algumas com o protozoário. Em hepatoesplenomegalia (aumento do Vigilância em Saúde do Ministério da
seguida, puseram essas células fígado e do baço), pancitopenia (pro- Saúde, em 2004 foram detectados
sobre um pedaço de pele com blemas no sangue), perda de peso, 22.590 novos casos de leishmaniose
uma área de inflamação. “Ob- desnutrição e imunossupressão, e tegumentar. Desse total, o estado
servamos ao microscópio que, levar ao óbito caso a pessoa não re- do Pará registrou 4.095, Mato Gros-
em geral, enquanto as células ceba o tratamento adequado. so, 3.284, e Maranhão, 2.625. Os
não-infectadas aderiam à pele, No Brasil, a forma mais presente estados com os menores números
as infectadas não ficavam pre- é a tegumentar, do tipo leishmaniose foram Santa Catarina, com oito ca-
sas”, contou o patologista Wa- brasiliensis. Provoca o aparecimen- sos, e Rio Grande do Sul, com ape-
shington Luis. to de feridas na pele e, em alguns nas dois. “Acreditamos que a maio-
casos, destrói a cartilagem do nariz ria dos casos surgidos no sul do país
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seja proveniente de outros estados”, ma da doença em algumas regiões vel e passível de tratamento e, con-
informou. Nos últimos anos, a média do país ainda está sendo investiga- seqüentemente, menores são os ín-
foi de 30 mil novos casos por ano. do. Luna apontou causas prováveis: dices de mortalidade.
Ainda que os números de casos “Possivelmente esse aumento está Para a OMS, a notificação e a
da leishmaniose tegumentar sejam associado à urbanização maciça e à identificação ainda não são suficien-
importantes, o Ministério da Saúde migração de pessoas e de animais tes na maioria dos países. Acredita-
vem se preocupando ainda mais com para as periferias”, adiantou. “A se que, para cada caso notificado,
a forma visceral da doença, que cres- certeza do real motivo só podere- existam 4 ou 5 não comunicados.
ceu consideravelmente na última dé- mos ter depois de uma investigação O cuidado com as pessoas que
cada, ocasionando muitas mortes. mais profunda”. contraem a leishmaniose está pre-
Segundo dados ainda preliminares, em visto pelo sistema de saúde do país.
10 anos a média anual de casos da CONTROLE COMEÇA Estão garantidos o fornecimento gra-
leishmaniose visceral foi de 3.500, e COM A NOTIFICAÇÃO tuito de medicamento, baseado em
mortes em torno de 10%. Em 2004, Para o Ministério da Saúde, o injeções de glicantim ou petamedina,
registrou-se um total de 2.583 novos primeiro passo a ser dado no contro- e a assistência à saúde, que no caso
casos e uma taxa de letalidade em le e no tratamento da doença é a da leishmaniose tegumentar está
torno de 8,4% (cerca de 300 óbitos). notificação de casos. Na opinião do centrado no atendimento ambula-
Minas Gerais apresentou maior núme- patologista Washington Luis, houve torial, enquanto a visceral, no aten-
ro, 580, seguido do Maranhão, com considerável progresso nas ações dimento hospitalar. Paralelamente,
390, Bahia, com 296, e Mato Grosso para identificação da leishmaniose no disse Luna, o ministério vem realizan-
do Sul, 213. “Em contraponto, vários país. “Antigamente, achava-se que a do a capacitação dos profissionais de
outros estados não apresentam ca- doença era estritamente rural, mas saúde do SUS e organizando o siste-
sos da doença”, informou Luna. percebemos, hoje em dia, que a ma de informação para que a Vigi-
Em sua análise, somente a leish- visceral não está apenas concentra- lância Epidemiológica tenha uma vi-
maniose tegumentar se manteve es- da nas áreas rurais, ela é também ur- são exata do surgimento de novos
tável nessa última década. “Perce- bana e periurbana, e a tegumentar, casos da doença no país para dispor
bemos uma expansão geográfica por exemplo, cresceu com o avanço recursos especiais para os municípi-
quanto à leishmaniose visceral, que da fronteira agrícola”. Para ele, essa os que apresentaram números altos
é a mais perigosa”, disse. O motivo nova percepção sobre as áreas geo- da doença, como Campo Grande (MS)
que explica o crescimento dessa for- gráficas da doença a torna mais visí- e Palmas (TO).

Perguntas e respostas sobre detecção, tratamento e cura


tando dormir desprotegido sob a ça é denominada leishmaniose visceral
Leishmaniose copa das árvores; enterrar detri- americana ou calazar neotropical.
te g u m e n t a r tos encontrados; evitar entrar ou
permanecer em áreas endêmicas, Como é transmitida?
O que é? no período das 16h às 8h; usar rou- A transmissão entre os hospe-
Doença infecciosa que provo- pas e gorros para dificultar a pi- deiros vertebrados é feita pela pi-
ca o aparecimento de feridas na cada do mosquito; e usar repe- cada do mosquito palha (flebótomo
pele e em alguns casos destruindo lentes contra insetos. Lutzomia longipalpis) infectado por
a cartilagem do nariz e o interior da parasitas do gênero Leishmania.
boca e garganta. É causada por
protozoários de gênero Leishmania. Quem são os hospedeiros da do-
É uma doença de animais silvestres Leishmaniose ença?
(paca, preguiça, gambá, tamanduá vi s c e r a l No Brasil, os mais importantes
e alguns roedores), transmitida aci- reservatórios ou hospedeiros são o
dentalmente ao homem ao penetrar O que é? cão e a raposa. O homem também
numa área de selva. As feridas sur- A leishmaniose visceral é a for- pode ser hospedeiro, principalmen-
gem no local da picada dos insetos ma mais séria dessa doença que pode te quando a doença incide sob a for-
no período de 2 semanas a 3 meses, afetar outros animais além do homem. ma de epidemia. Os cães infectados
na forma de lesões avermelhadas, Quando não é tratada, pode levar à podem ou não desenvolver quadro
endurecidas e elevadas. morte em um ou dois anos após o clínico da doença, que apresenta
aparecimento dos sintomas caracte- sinais de emagrecimento, eriçamento
Como é transmitida? rizados, normalmente, por febres de e queda dos pêlos, nódulos ou ulce-
Através da picada de mosqui- longa duração. A doença pode afe- rações, hemorragias intestinais, pa-
tos conhecidos genericamente tar baço, fígado e medula óssea. Ela ralisia dos membros posteriores,
como flebotomíneos e, popularmen- é causada pelo protozoário da famí- ceratite com cegueira e caquexia.
te, chamados de mosquito palha, lia Tripanosomatidae e gênero Em alguns casos, pode ser fatal.
cangalhinha ou asa dura. Leishmania. Existem três espécies que
causam a leishmaniose visceral: Como controlar a doença?
Em florestas, o que fazer para evi- Leishmania donovani, na Ásia; Eliminação dos cães infectados,
tar a forma da doença? Leishmania infantum, na Ásia, na Eu- redução da população de flebóto-
Dormir sempre que possível ropa e na África, e Leishmania mos, diagnóstico e tratamento pre-
em rede de selva (coberta), evi- chagasi, nas Américas, onde a doen- coce dos casos.
RADIS 35 ! JUL/2005
[ 16 ]

PLANO DE CARREIRA, CARGOS E SALÁRIOS DO SUS

O modelo avança
A
Outra preocupação da catego- Saúde do Ministério da Saúde,
tenção, trabalhadores da ria e que até o momento não faz par- Henrique Vitalino, diz que ainda é
saúde de todo o Brasil: já te das diretrizes já traçadas é a quan- cedo para se falar que algum ponto
está pronto o modelo com tidade de cargos (ou níveis) no em discussão está gerando polêmi-
as diretrizes sobre o Plano serviço público. A reivindicação dos ca. Afirma até que não há “resistên-
de Carreiras, Cargos e Salários do SUS, servidores é por apenas um cargo, cias” por parte do governo. De acor-
o tão aguardado PCCS-SUS. As dire- para que, assim, o servidor possa do com ele, tanto a reivindicação da
trizes estiveram abertas a consulta progredir de níveis ao longo da vida. jornada de 30 horas quanto a do
pública até 20 de junho, e agora en- Acabaria, dessa forma, a atual divi- cargo único serão assuntos a serem
tram na fase final de discussão para são em níveis fundamental, médio e debatidos, novamente, na Mesa de
elaboração de um plano definitivo. superior. Um servidor de nível mé- Negociação Permanente do SUS, que
Consenso, porém, ainda não existe. dio, por exemplo, poderia chegar à volta a se reunir depois que as con-
Há questionamentos sobre pon- classe de nível superior sem neces- tribuições feitas pela consulta pú-
tos considerados vitais para os tra- sidade de fazer novo concurso pú- blica tiverem sido consolidadas pela
balhadores em saúde, como carga blico. Bastaria, para isso, que se qua- comissão formada para elaborar as
horária e progressão na carreira. Por lificasse. Mas o governo, segundo diretrizes do PCCS-SUS.
mais que o tema tenha sido debati- Caetano, não estaria disposto a acei- Sobre a redução da jornada de
do ao longo dos últimos meses, as tar a idéia, dizendo que a progres- trabalho, Henrique ressalta que a
propostas dos trabalhadores e do go- são deve se dar dentro do mesmo questão é complexa, envolvendo,
verno ainda não entraram em per- nível. Por isso, propõe que sobretudo, os municípios, que
feita sintonia. sejam avaliadas pro- concentram a maior parte
O secretário-geral da Confede- postas de dois dos trabalhadores em saú-
ração Nacional dos Trabalhadores ou três car- de. Por isso, também os
em Saúde, José Caetano Rodrigues, gos. gestores municipais te-
não vê razões, por exemplo, para o rão de ser ouvidos, uma
governo temer a redução da jorna- vez que será preciso sa-
da de trabalho para 30 horas sema- ber que impactos a redu-
nais. De acordo com ele, tal políti- ção traria às administra-
ca estaria de acordo com as ções. Sobre o cargo único,
intenções do Palácio do Planalto Henrique afirma que a Mesa
de criar novos postos de traba- debaterá, em princípio, as
lho no país. Além disso, garanti- propostas de dois ou três car-
ria ao trabalhador em saúde gos. Mas isso não significa que
(assim como conseguiram os a proposta de cargo único este-
do setor bancário) melhores ja descartada.
condições de trabalho. A A revista Radis vem acompa-
principal conseqüência dis- nhando as discussões a respeito do
so, aponta Caetano, seria PCCS desde que as reuniões da co-
a prestação do serviço missão responsável pela elaboração
com maior qualidade. O das diretrizes começaram, em agos-
O governo, de acor- que pa- to do ano passado (Radis nº 26). A
do com ele, argumenta rece ser con- comissão é composta por represen-
que a medida traria a ne- senso, até o tantes do governo e dos trabalha-
cessidade de contratar momento, é a dores. Depois da consulta pública,
mais gente, o que redunda- perspectiva de as diretrizes serão novamente avali-
ria em gastos elevados para os carreira com pro- adas pela comissão, numa espécie
gestores. “Acontece que, na práti- gressão a cada de compilação das propostas. Em se-
ca, essa redução já acontece em re- dois anos. Essa guida, a Mesa Nacional de Negocia-
lação a 70% dos servidores públicos progressão se daria ção Permanente do SUS se reunirá
municipais de saúde”, afirma Cae- respeitando-se três para as discussões finais e para a
tano, citando dados do Conasems. critérios fundamen- elaboração do documento, a ser re-
“O que precisamos, agora, é le- tais: qualificação do passado ao Conselho Nacional de
galizar a situação”. Segundo ele, trabalhador, seu tempo Saúde e à Casa Civil da Presidência
o estado de Santa Catarina, de serviço e seu desem- da República. A partir daí, poderá
que aprovou a redução há pou- penho. se tornar projeto de lei. Por isso
cos dias, vem conseguindo O coordenador geral mesmo, a atuação da categoria pode
bons resultados. de Gestão do Trabalho em ser decisiva na reta final. (W.V.)
RADIS 35 ! JUL/2005
[ 17 ]

E N T R E V I S TA

Roberto Gouveia

“Os recursos do SUS não podem


escorrer pelo ralo da ganância”
E quando seria a votação?
Wagner Vasconcelos Já conversei sobre o assunto

O
com o presidente da CCJC, depu-
Projeto de Lei Complementar tado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ).
01/2003 (PLP 01/03), que De acordo com ele, o projeto deve
define ações e serviços de ser apreciado ainda no primeiro se-
saúde e estabelece percen- mestre e votado já no segundo
tuais fixos de recursos para o setor semestre. O presidente da Câ-
— obrigando estados e municípios a mara dos Deputados, Severino
investir em saúde no mínimo 12% e Cavalcanti (PP-PE), também já
15%, respectivamente, de sua arreca- disse que fará o possível para
dação, e a União, 10% de suas recei- agilizar a votação do proje-
tas correntes brutas —, está tendo to no plenário.
tramitação no Congresso bem mais len-
ta do que se esperava: não foram A quebra de patentes já exis-
atendidos os pedidos de urgência para te. Qual a razão do projeto?
sua análise. Aprovado em todas as ins- Com a aprovação pela
tâncias da Câmara, só falta a Comissão CCJC, a Câmara entra de vez
de Constituição e Justiça e de Cidada- no processo de discussão de paten-
nia (CCJC). Seu relator, José Pimentel tes, que antes se dava de forma ex-
(PT-CE), deu parecer favorável. Depois, clusiva entre o Poder Executivo e a E o que isso representa?
a prova de fogo: o plenário. indústria farmacêutica, uma novela Basta dizer que três dos 16 me-
Apesar da demora, seu autor, o que se arrasta há tempos. Os depu- dicamentos que constituem o coque-
deputado federal Roberto Gouveia tados se manifestaram contrários às tel consumiram cerca de 70% de todo
(PT-SP), continua otimista. Médico patentes para anti-retrovirais com o o dinheiro usado no programa de Aids
formado pela USP, especialista em saú- objetivo de preservar o controle de no Brasil entre 2004 e 2005. Temos
de pública, deu entrevista à Radis em tratamento da Aids realizado no Bra- de ter cuidado para, daqui a pouco,
Brasília e disse esperar que a votação sil e que é um patrimônio para o mun- não começar a faltar recursos para
ocorra, afinal, no segundo semestre. do inteiro. Devido a esse programa e outras necessidades na saúde em
O deputado também falou sobre à distribuição do coquetel de medi- nosso país. Por isso, é importante
a aprovação na CCJC, em 1º de ju- camentos, já conseguimos melhorar proteger os nossos recursos.
nho, de seu projeto (PL 22/03) que a qualidade de vida dos pacientes,
prevê a quebra de patente dos re- aumentar a esperança de vida e di- São muito elevados os preços?
médios usados no tratamento da Aids. minuir o tempo de internação, as do- A OMS mostra que o laboratório
No dia seguinte a ONU divulgou re- enças oportunistas e até a transmis- Gilead, por exemplo (que produz o
latório mostrando que, apesar dos são, já que a medicação baixa a Tenofovir, usado no coquetel), cobra
investimentos mundiais de US$ 8 bi- infectividade do vírus. 9,7 vezes a mais do que o custo de
lhões, a Aids é mais veloz do que o produção. É um lucro absurdo! Não
controle. O Brasil é citado no relatório Por que quebrar patentes? se pode colocar interesse comercial
como país em desenvolvimento com o mais Com a transformação da Aids acima da vida humana. Tanto a OMS
bem-sucedido programa de combate. Mes- numa doença crônica, os pacientes quanto a ONU consideram os anti-
mo sendo a quebra de patentes tática já passaram a fazer uso de medicamen- retrovirais bens da humanidade. Res-
usada pelo governo, o deputado espera, tos de forma contínua, por um tem- tringi-los, portanto, é um atentado.
com seu projeto, estender o debate tam- po muito grande. Esse uso, contudo,
bém ao Legislativo. gera um certo processo de acomo- Os laboratórios não concordam...
dação do organismo, de resistência. A própria Organização Mundial do
E a aprovação do projeto? Por isso, passa a ser necessário o uso Comércio determinou que, para países
O PLP 01/03 está sendo muito bem de novas drogas. Hoje, o Brasil distri- pobres, a propriedade intelectual des-
aceito pelos deputados e vem tendo bui medicamentos a 156 mil pacien- ses remédios deve ser relativizada, ou
aprovação significativa em todas as co- tes, mas temos números que mostram seja, estar subordinada às necessida-
missões por onde tem passado. Agora, que há mais 600 mil infectados, e a des da população. Temos de proteger
está na CCJC aguardando apenas a vo- tendência é de crescimento. O pro- o orçamento público da saúde no Bra-
tação. O parecer do relator José blema é que essas drogas novas são sil para que os recursos do SUS não
Pimentel foi pela aprovação. protegidas por patentes. escorram pelo ralo da ganância.
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[ 18 ]

SE R
RVVIÇO

EVENTOS como principal objetivo discutir a versas bases de dados referenciais


preservação ambiental como condi- de informações da fundação, como
2º C ONGRESSO I NTERAMERICANO ção primordial para sobrevivência da projetos de pesquisa, diretório de
DE S AÚDE A MBIENTAL vida humana no planeta. eventos e teses, além de reporta-
Data 30 de agosto a 3 de setembro gens publicadas pela imprensa so-

C uba sediará a segunda edição do


Congresso Interamericano de Saú-
de Ambiental, que traz como tema
Local Centro de Convenções do Hotel
Mabu, Foz do Iguaçu, Paraná
Mais informações
bre a Fapesp e notícias sobre CT&I.
O serviço contribui para a preser-
vação e a disseminação da memó-
central a dimensão ambiental na Secretaria-Executiva do Congresso ria institucional da fundação e co-
saúde humana e qualidade de vida. Fax (61) 328-6912 labora para aumentar a quantidade
O evento, promovido pelo Instituto Site e a qualidade de conteúdos nacio-
Nacional de Higiene, Epidemiologia www.sbbcongressobioetica2005.com.br nais em ciência, tecnologia e in-
e Microbiologia de Cuba, tem por formação que circulam nas redes
objetivo contribuir e concentrar es- eletrônicas e nas novas mídias.
forços de cientistas, especialistas, 2º SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA Site www.bv.fapesp.br
profissionais e técnicos de saúde na DA S AÚDE E 1º E NCONTRO L USO-
promoção de uma melhor qualidade BRASILEIRO DE G EOGRAFIA DA SAÚDE
de vida para todos, enfocando os G UIA DE FONTES E CATÁLOGOS
problemas do ecossistema. Envio de
trabalhos: até 30 de julho.
Data 19 a 23 de setembro
O Rio de Janeiro sediará a segunda
edição do Simpósio Nacional de
Geografia da Saúde que se realiza
EM S AÚDE M ENTAL

Foram lançados este


Local Centro de Convenções de Ha- junto com o 1º Encontro Luso-bra- mês o Guia de Fon-
vana, Cuba sileiro de Geografia da Saúde. Os tes e Catálogos de
Mais informações objetivos do evento são: avaliar e Acervos e Insti-
Email eventosa2005@inhem.sld.cu divulgar a produção científica so- tuições para Pes-
Site www.inhem.sld.cu bre geografia e saúde no Brasil; pro- quisas para Saúde
mover o intercâmbio entre pesqui- Mental e Assistên-
sadores e entre métodos utilizados cia Psiquiátrica no
9º S EMINÁRIO M INEIRO DE P LANTAS pela geografia da saúde e incenti- Estado do Rio de
M EDICINAIS E 2º J ORNADA var a incorporação de abordagens Janeiro e o CD-
F ARMACÊUTICA DE D IAMANTINA geográficas nas temáticas de saú- ROM Catálogo de
de coletiva. O simpósio, que reuni- Periódicos Não-Cor-

P romovido pelas Faculdades Fede-


rais Integradas de Diamantina
(Fafeid), o evento vai abordar, entre
rá pesquisadores da disciplina de
Geografia da Saúde do Brasil e de
Portugal, está dividido em quatro
rentes em Psiquia-
tria da Biblioteca
de Manguinhos. As
os temas centrais, a planta medicinal eixos temáticos: Situação de saú- publicações foram
e o medicamento e o conhecimento de e condições de vida; Pensamen- coordenadas por Paulo Amarante, pro-
popular dos raizeiros. O 9º Seminário to, história e ensino da Geografia fessor do Laboratório de Pesquisa em
Mineiro de Plantas Medicinais, que da Saúde; Território, promoção de Saúde Mental da Escola Nacional de
ocorre concomitantemente à 2º Jor- saúde e cotidiano; e Acesso aos Saúde Pública Sergio Arouca, em par-
nada Farmacêutica de Diamantina, serviços de saúde. ceria com a Casa de Oswaldo Cruz,
terá ainda duas mesas-redondas, qua- Envio de trabalhos: até 14 de julho. ambos da Fiocruz.
tro minicursos e quatro palestras. A divulgação dos trabalhos aprovados No Guia, o usuário encontra algu-
Envio de trabalhos: até 30 de setembro. sairá em 12 de agosto. mas curiosidades, tais como os pron-
Data 10 A 13 de novembro Data 16 a 18 de novembro tuários de Torquato Neto, Lima Barreto
Local Diamantina, MG Local Rio de Janeiro e Ernesto Nazaré, e documentos da ex-
Mais informações Mais informações tinta Liga Brasileira de Higiene Mental.
Tel. (38) 3531-1811 Ramal 255 Site www.geosaude.cict.fiocruz.br/ O trabalho é conseqüência do Proje-
E-mail simposio to Memória, iniciado por Amarante em
xiplantasmedicinais@fafeid.edu.br 1989 ao ingressar na Ensp para locali-
Site www.fafeid.edu.br NA INTERNET zar fontes em psiquiatria, entre livros,
documentos e vídeos.
B IBLIOTECA VIRTUAL DA F APESP O CD é outro importante instru-
6º CONGRESSO BRASILEIRO DE BIOÉTICA mento de pesquisa, pois auxilia o pes-

B ioética, meio ambiente e vida hu-


mana são os temas da sexta edi-
A Fapesp inaugurou sua Biblioteca
Virtual do Centro de Documen-
tação e Informação, reunindo di-
quisador a encontrar mais facilmente
alguns documentos que estavam fora
de circulação há anos. São ao todo 22
ção do Congresso Brasileiro de versas fontes de informação sobre periódicos nacionais não-correntes.
Bioética, que ocorre em Foz do ciência, tecnologia e inovação As publicações estão na Bibliote-
Iguaçu. Organizado pela Sociedade (CT&I) numa única plataforma na ca Multimídia da Ensp, no endereço
Brasileira de Bioética, o evento tem internet. Nela, o usuário acessa di- www.ensp.fiocruz.br/biblioteca/.
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[ 19 ]

PÓS-TUDO

O marketing do SUS
seja assegurada pelo Estado.
Gilson Carvalho Assim é que inúmeros países
colocam a questão social como cam-

N o afã diário de resolver os pro-


blemas emergentes do Sistema
Único de Saúde, os gestores públi-
po de ação primordial do Estado e
têm assegurado o direito à saúde em
impostos e contribuições do cidadão.
cos correm um alto risco, de ficarem A vantagem de ser estatal é a garan-
apenas na administração das “faltas” tia de que será universal a todos os
de cada dia. Cuidando do varejo. Cor- cidadãos ou que, no mínimo, dê co-
rendo atrás do prejuízo. O grande pro- bertura àqueles que mais necessida-
blema enfrentado hoje pelo sistema des têm, provavelmente os que me-
é ter poucos defensores do SUS uni- nos têm e menos podem. Assim alguns
versal e eqüitativo, servindo a todas países dão cobertura universal a to-
as pessoas, em suas necessidades de dos e outros à parcela da população
saúde, numa concepção mais ampla mais carente. Outros limitam não na
e integradora, como manda a Consti- universalidade, mas no alcance da
tuição Federal. ço, recorrem ao SUS. São clientes que cobertura (atendimentos ditos de
Como não aparecem, não circu- pagam por fora a instituições ou pro- alta-complexidade e custo).
lam pela mídia, os feitos de um Siste- fissionais, inconstitucional e ilegalmen- O seguro estatal, financiado pe-
ma de Saúde que realiza mais de 2 te, e se utilizam das guias do SUS “cal- los cidadãos, entre as muitas vanta-
bilhões de atendimentos/ano para çando” o atendimento. Nesta última gens tem as seguintes: inexistência
uma população de 180 milhões de também se incluem os clientes “parti- do lucro (objetivo do privado), possi-
pessoas, 140 milhões que, com cer- culares”, que pagam do que têm e al- bilidade de extensão de cobertura em
teza, se servem exclusivamente dele? guns do que não têm. Esta segunda necessidades emergentes, abertura
Três milhões de mulheres dão à luz classe, usuários de planos e seguros ao controle da sociedade (por meio
em leitos hospitalares pagos pelo SUS privados, é a que acaba atropelando a do Legislativo, do Judiciário e do con-
(isto é, financiados pelos impostos dos primeira, furando filas de espera leva- trole social direto).
cidadãos), e isso não aparece como dos “por alguma mão de anjo” que está Assim é o SUS: um “seguro esta-
serviço prestado pelo SUS? São cer- se favorecendo. Estes não têm inte- tal” garantido por nossos impostos e
ca de 11 milhões de internações por resse em divulgar o SUS. Seria como contribuições sociais, previsto na
ano, realizadas com recursos públi- que uma ofensa, uma humilhação dizer Constituição como “direito de todos
cos do cidadão, gerenciadas pelo que se utilizaram de um sistema que, e dever do Estado”.
SUS... e nada de aparecer na mídia e errônea e pejorativamente, denomi- Este é o primeiro ponto de marke-
na opinião pública! É só problema, re- nam de “sistema dos pobres”. Nunca ting a ser feito. Defenda o que é seu!
clamações... uma avalanche de críti- os vi na mídia louvando, agradecendo Exija dos governos que cumpram a
cas que mais parece orquestração de e, principalmente, defendendo o SUS. constituição e as leis “por pensamen-
inimigos (entre estes, aqueles que en- Defendendo mais recursos para o SUS. tos, palavras e obras”... garantindo
riquecem com as dificuldades)! Defendendo o cumprimento da Cons- os meios, principalmente financeiros,
O SUS tem duas classes de clien- tituição, que garante saúde como di- para que o SUS cumpra seu papel.
tes. Uma dos que a utilizam, só têm o reito universal e de equidade. Ações: Expor a logomarca do SUS
SUS a quem recorrer em suas necessi- Acho que os gestores públicos em unidades, impressos (das receitas,
dades de saúde. Infelizmente, muitas têm que fazer mais marketing positi- dos pedidos de exame etc.), nos me-
vezes nem fazem a associação entre o vo do SUS. Não o marketing por ele dicamentos distribuídos.
serviço de saúde recebido e seu res- mesmo ou para enaltecer administra- De 1994 e 2001 havia obrigatorie-
ponsável, o SUS. Porque não sabem ou ções públicas, deste ou daquele go- dade legal (portaria ministerial) de
porque são iludidos por inescrupulosos, verno ou partido. Marketing para se entregar a todo cidadão interna-
que os enganam dizendo que estão mostrar aos cidadãos brasileiros o que do pelo SUS documento em que
prestando serviços gratuitos, para de- faz o SUS que teimam em querer constasse os gastos totais — só pos-
pois, por exemplo, cobrar o retorno “privatizar à mão branca”. Seria um sível de ser feito graças aos impos-
pelo voto ou outras coisas. trabalho de conscientização para que tos do cidadão. Infelizmente, esta
A outra classe que se utiliza do mais pessoas defendam o SUS. portaria foi revogada, sob o argumen-
SUS faz questão de não aparecer ou No Brasil os últimos levantamen- to de que já existiam outros meca-
de ser escondida. São todos os que tos apontam que seguros e planos nismos de divulgação. Com ou sem
pagam planos e seguros de saúde e que, de saúde têm sido oferecidos a um portaria, o gestor pode tomar tal
quando estes lhes negam algum servi- custo mensal entre 20 e 1.000 dóla- decisão: faça.
res por pessoa, na dependência do
que se cobre e de “quem” é cober- A íntegra deste texto pode ser lida no site
* Médico-pediatra e de Saúde Pública to. A outra alternativa é que a saúde do Gices (www.grupogices.hpg.ig.com.br)

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