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O R Ç A M E N T O DA S A Ú D E
Números
U m leitor disse que o RADIS não deixa
as multinacionais dos transgênicos
em paz. Pois desta vez confrontamos
Às vezes, os números são relati-
vos. Na academia, mede-se o impacto
de artigos pelo quanto ele é citado. Mas Comunicação e Saúde
os números de uma ONG a favor com nem sempre isso corresponde a maior • A serviço do Movimento Sanitário 2
os de outra contrária ao plantio e ao qualidade e mérito, como problematiza
consumo dos organismos geneticamente o artigo da seção Pós-Tudo.
modificados. Divergência de contas à Freqüentemente, porém, os Editorial
parte, fica claro que só oito países re- números confundem mais do que • Números 3
almente entraram nessa, como o Brasil, explicam ou então ocultam inten-
que aceitou o fato consumado de os ções, como nas inúmeras formas
fazendeiros plantarem e venderem o de cálculo do orçamento da Saúde. Cartum 3
que havia sido proibido. A Romênia, que Nossa matéria de capa busca es-
chegou a ter 85 mil hectares plantados clarecer diferentes aspectos desta
em 2005, proibiu o produto em 2006 e questão vital para a saúde pública, Cartas 4
adotou política de descontaminação área que é o coração das políticas
para voltar a ser zona livre de transgê- sociais e carece de recursos maiores
nicos, o que valoriza sua produção. e mais bem aplicados.
Jornalistas adoram números e Dos R$ 16,4 bilhões de contingen-
percentuais para dar mais precisão e ciamento que o governo Lula anunciou
credibilidade às reportagens. Porém, para o Orçamento da União em 2007, Súmula 5
é bom ter cautela. Números ajudam a com o objetivo de acelerar o cresci-
quantificar e descrever fatos, mas nem mento, 46% são da área social, sendo
sempre os explicam. a Saúde a mais prejudicada: bloqueio Toques da Redação 7
É verdade que há números que de R$ 5,7 bilhões de um orçamento que
dizem tudo. Como na notícia da seção já era insuficiente. Ao dar a notícia,
Súmula sobre as vantagens do teste um comentarista de rádio explicou Orçamento da Saúde 2007
rápido de rotavírus desenvolvido em Bio- contingenciamento como “economia • R$ 5,7 bilhões a menos 8
Manguinhos/ Fiocruz, que reduz o tempo de despesas correntes para honrar
do resultado, que ia de 15 minutos a 24 uma dívida, como a pública, que tem
horas, para três minutos e custa R$ 0,60, que ser paga”. E concluiu, orgulho- Radis adverte 12
contra os R$ 6 do importado. Ou quando so: “É simples assim!”
se constata que a África resume a noção Esclarece mais a reação do faleci-
Comissão Nacional sobre Determinates
de determinantes sociais da saúde e a do sanitarista Sergio Arouca, quando o
Sociais da Saúde
situação dos povos pobres do mundo por governo Sarney anunciou que incluiria
concentrar um terço dos contaminados a Saúde em corte linear do Orçamento. • Um ano de trabalho e muitas
pelo HIV e 90% das mortes por malária, Comparando os cortes a amputações, expectativas 13
além de ter 6% de sua população com o então presidente da Fiocruz advertiu
hanseníase. Em São Paulo, o governo que, diferentemente de um dedo ou
Serra reteve 15% do percentual de ICMS até de uma perna, quando se amputa
a que as universidades estaduais (USP, parte do coração o paciente morre.
Unicamp e Unesp) tinham direito há 20
anos, causando dano ao ensino, às finan- Rogério Lannes Rocha Conselho Nacional de Saúde
ças e à autonomia universitária. Coordenador do Programa RADIS • Debate em favor do SUS 14
• Comunicação (ainda) com ruído 16
Cartum Serviço 18
Ruído na comunicação:
às vezes é ruim,
às vezes não.
Pós-Tudo
• Qualidade, impacto e citação. Uma
relação obscura 19
cartas
Radis 25 anos
com uma saúde virtual, cujos números
e índices não espelham a realidade. O
nosso PSF é um exemplo.
S ou estudante do curso de En-
fermagem em Saúde Pública da
Universidade do Estado de Santa
Súmula
“O ISAAA faz afirmações insusten- Amazônia. Sem isso o agronegócio bra- dência química e fobias. Também é
táveis, aumenta os números e ignora sileiro estaria numa grande saia-justa, conhecido como “doença do segredo”,
os impactos negativos dos cultivos disse. “Só não vê quem não quer”. O pois, constrangida, a maioria dos pa-
geneticamente modificados”, afirma. Brasil tem 45% de sua matriz energética cientes não fala do problema.
Segundo ele, são erroneamente citados renovável — “Que país pode dizer isso?”
entre produtores o Irã, que não aprovou — e também 81% da matriz elétrica. A
o plantio de 50 mil hectares de arroz ação cabe, para ela, aos setores que Críticas do representante da Opas
transgênico, com diz o documento, e a lidam com o desenvolvimento.
Romênia, que teria 100 mil hectares de
soja transgênica. O país, que plantou 85
mil hectares em 2005, proibiu o produto
"Temos 575 mil quilômetros qua-
drados de áreas desflorestadas aban-
donadas", disse. O próprio Ministério
E m entrevista ao Estado de S.Paulo,
Horácio Toro Ocampo, representan-
te no Brasil da Opas/OMS aposentado
em 2006 e adotou política de descon- da Agricultura confirma que é possível em 31 de janeiro, afirmou que, embora
taminação para voltar a ser zona livre triplicar-se a produção de grãos sem a saúde tenha a mesma importância
de transgênicos. A ONG também afirma derrubar mais uma árvore, acrescentou. que educação e combate à violência,
que a produção de transgênicos é glo- "Quer notícia melhor? É só usarmos a tec- “nas falas do presidente, porém, a saú-
bal, mas o próprio relatório mostra que nologia que temos". Marina guarda uma de está em segundo plano”. De acordo
99% estão em apenas oito países: EUA, foto do tempo em que entrava sem armas com ele, os últimos ministros da área
53,5%; Argentina, 17,6%; Brasil, 11,3%; na floresta para combater a derrubada permitiram que tomasse corpo a tese
Canadá, 6%; Índia, 3,7%; China, 3,4%; ilegal da mata. “Nessa época só tinha a equivocada de que se gasta muito em
Paraguai, 2%; e África do Sul, 1,4%. vida para lutar contra o desmatamento; saúde no país: “Com todo o respeito que
“O alcance dos transgênicos esta- hoje, poder descer numa área com 480 tenho pelos brasileiros, acho que falta
cionou desde 1996, quando quatro cul- policiais federais é uma oportunidade humildade para reconhecer que há muito
tivos foram liberados comercialmente que só posso agradecer”. a ser feito ainda na área da saúde”.
— soja, milho, algodão e canola — e O Pacto pela Saúde (grupo de
nenhum foi acrescentado desde então”, documentos que substituiu a Lei de
diz. “O relatório informa que 10,3 mi- Nova cepa do H5N1 no Butantã Responsabilidade Sanitária), segundo
lhões de produtores cultivaram transgê- Ocampo, tem a intenção de renovar
nicos em 2006, mas isso corresponde a
0,7% dos produtores mundiais”, lembra.
“Consumidores e produtores assegura-
O Instituto Butantã recebeu em
janeiro do Centro de Controle
e Prevenção de Doenças dos Estados
esse compromisso de gestores e dos
próprios trabalhadores. "Mas muitas
coisas ficam nos documentos, nas boas
rão a rejeição às sementes, aos cultivos Unidos nova cepa do vírus H5N1, da intenções". Para ele, faz falta um ver-
e aos alimentos transgênicos ao redor do gripe aviária, para que seja repetida dadeiro compromisso das autoridades
mundo”, prevê Phelps. “O ISAAA está a tentativa — frustrada no ano passado de Saúde, sejam nacionais, estaduais
chicoteando um cavalo morto”. — de desenvolvimento de uma vacina. ou municipais. "Há um longo caminho
O material foi enviado a 10 fabricantes para percorrer", disse. "É preciso fisca-
internacionais. Se tudo der certo, o lização, cobrança e, para quem cumpre
ONU premia Marina Silva Butantã receberá US$ 2 milhões do go- as metas, premiações". Sem punição,
verno americano. A nova amostra veio afirmou, muitas vezes os seres humanos
do Brasil lhe renderam o prêmio “Cam- Transtorno obsessivo compulsivo Transparência e ética pública
peões da Terra”, do Programa das Nações cresce no mundo
Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Os sete vencedores, entre os quais o ex-
presidente americano Al Gore, que em O Transtorno Obsessivo-Compulsivo
(TOC) já atinge 2% da população
O Diário Oficial da União publicou
em 2/2 decreto do presidente Lula
instituindo o Sistema de Gestão da Ética
2006 lançou o documentário indicado mundial. A pesquisadora Maria Conceição do Poder Executivo, cujo objetivo é
ao Oscar Verdade inconveniente, sobre do Rosário, do Projeto Transtornos do Es- integrar programas de ética pública e
aquecimento global, foram anunciados pectro Obsessivo-Compulsivo do Hospital criar políticas que facilitem o acesso à
em 1º de fevereiro na sede do programa, das Clínicas da Faculdade de Medicina da informação, dando mais transparência
em Nairóbi (Quênia). O diretor-executi- USP disse ao USP Online de 5/1 que as es- aos dados. Qualquer cidadão poderá con-
vo do Pnuma, Achim Steiner, elogiou a tatísticas vêm subindo não pelo aumento vocar a Comissão de Ética Pública, criada
“coragem” da ministra por defender no da doença, mas pelo maior conhecimento em 1999, para apurar infrações éticas de
governo a causa ambiental. a respeito. Para um diagnóstico do TOC agentes públicos ou órgãos estatais.
Em entrevista ao Estado de S. é preciso confirmar obsessões e/ou Telefone (61) 3411-2952
Paulo (7/1), a ministra disse que compulsões que tomem pelo menos uma Fax (61) 3411-2951
não quer ser a única no governo a se hora por dia e que atrapalhem a vida da E-mail etica@planalto.gov.br
preocupar com a questão ambiental, pessoa e da família.
que pode acabar trazendo prejuízos As compulsões mais comuns: de
comerciais ao país. “Esse pensamento limpeza e descontaminação, de veri- “MST e E-Changer: qual o problema?”
estratégico não precisa estar apenas ficação (por exemplo, conferir várias
no Ministério do Meio Ambiente, tem
de estar na Agricultura, em Minas e
Energia, na Indústria e Comércio”.
vezes se uma porta está fechada), de
repetição, de simetria e ordem, além
do colecionismo (juntar objetos e não
E sse é o título do artigo de 1º de feve-
reiro em que o jornalista Rui Martins,
correspondente em Berna do jornal
A ministra afirmou que em cinco se desfazer deles). O TOC é o quarto Expresso, de Lisboa, responde a matéria
anos houve queda de 75% no desmata- transtorno psiquiátrico mais freqüente gratuita do Estado de S. Paulo (25/1) sobre
mento da Mata Atlântica e de 52% na no mundo, atrás de depressão, depen- o repasse de “recursos oficiais do governo
Radis 55 • MAR/2007
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r$ 5,7
BILHÕES
A MENOS o dinheiro de verdade que sobra para Agência Brasil, disse que as políticas
Katia Machado* os ministérios após os cortes impostos sociais estariam preservadas: foram
Q
pela equipe econômica. cortados “apenas investimentos admi-
ual é o orçamento da saúde No dia 13 de fevereiro, o ministro nistrativos, como aquisição de carros
para 2007? Entra ano sai Paulo Bernardo, do Planejamento, novos, computadores ou móveis”.
ano, é sempre complicado anunciou corte de R$ 16,4 bilhões nos Na Subsecretaria de Planejamento
calcular seu valor real. Para gastos de custeio e investimentos da e Orçamento da Secretaria Executiva do
começar, há muitos orça- administração pública federal — se- Ministério da Saúde, em Brasília, feve-
mentos. Pela Emenda Constitucional nº gundo ele, para cumprimento da Lei reiro foi um mês de ansiedade. A equipe
29, que estabelece os recursos mínimos de Responsabilidade Fiscal. No mesmo tentava negociar com o Planejamento,
de destino obrigatório na saúde, o orça- dia, o ministro Agenor Álvares infor- numa reunião após outra, a redução “da
mento deveria ser de R$ 43,9 bilhões. mava ao plenário da 170ª reunião do tragédia”, como disse à Radis um pre-
Se já estivesse aprovado o Projeto de Conselho Nacional de Saúde um corte ocupado funcionário. No dia 22, ainda
Lei Complementar 01/03, que regula- em torno de R$ 3,5 bilhões sobre o sem a definição do decreto oficial de
menta a EC-29, chegaríamos a R$ 56,7 orçamento determinado pela EC-29. programação orçamentária do Ministério
bilhões — o correspondente a 10% das “Um prejuízo incalculável para as do Planejamento — o governo tem 30
receitas correntes brutas da União. No ações do SUS”, protestou o presidente dias para publicá-lo após a sanção da lei,
projeto original do governo enviado ao do CNS, Francisco Batista Júnior. Os ou seja, o prazo final seria 7 de março
exame do Congresso Nacional no ano conselheiros aprovaram moção de —, a equipe esperava um bloqueio de R$
passado, estavam destinados à saúde repúdio “a qualquer política que re- 5,7 bilhões. Ou mais. “Estamos fazendo
R$ 40,7 bilhões — aí incluídas algumas presente corte ou contingenciamento o possível para minimizar o corte”,
despesas tradicional e indevidamente dos recursos do SUS”. disse à Radis o secretário-executivo do
identificadas como gastos em saúde. Em entrevista no fim da tarde Ministério da Saúde, Paulo Coury. “O
O Congresso aprovou para o se- do dia 15, Paulo Bernardo confirmou próprio Ministério do Planejamento está
tor em dezembro R$ 49,7 bilhões (as o bloqueio no Orçamento Geral da tentando ajudar.”
emendas parlamentares superaram R$ União — 46% somente na área social: Uma certeza: para o cumprimento
1,7 bilhão!) que, deduzidas as despesas dos R$ 65 bilhões previstos, sobraram da EC-29, o governo terá que soltar
indevidas (R$ 3,9 bilhões, correspon- R$ 57 bilhões. E o principal corte foi dinheiro ao longo do ano.
dentes ao pagamento de inativos e no Ministério da Saúde: R$ 5,7 bilhões, Antes da má notícia, boa parte
dívidas do setor), resultaria em R$ 45,7 e autorização de gasto de R$ 34,8 do setor andava até animada com as
bilhões. Já a Lei nº 11.451, sancionada bilhões, segundo publicou o site do novidades no Pacto pela Saúde, criado
pelo presidente Lula em 7 de fevereiro, Planejamento (www.planejamento. em março de 2006 pela Portaria Mi-
dizia: o orçamento da saúde será de gov.br) no mesmo dia. No ano passa- nisterial nº 698 e regulamentado, em
R$ 46,2 bilhões. Faltava porém o orça- do, a pasta da Saúde empenhou 35,4 29 de janeiro de 2007, pela Portaria
mento real, o contingenciado, isto é, bilhões. Paulo Bernardo, informou a Ministerial nº 204. Agora, estão deta-
Radis 55 • MAR/2007
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lhadas as transferências de recursos a recursos às ações estabelecidas segun- fundamental a participação não somen-
estados, Distrito Federal e municípios, do a necessidade local. te do conselho de saúde, mas também
com repasses fundo a fundo em cinco Há novidade também no bloco da comunidade, em debates e semi-
blocos de financiamento. Gestão do SUS: contribui-se para o nários regionais que possibilitem um
Os blocos são: Atenção Básica, processo de qualificação da gestão diagnóstico e um plano de ação o mais
composto por Piso da Atenção Básica Fixo ao ser ampliada a capacidade de próximo possível da realidade local”,
(PAB Fixo) e Piso da Atenção Básica Vari- resposta do sistema de saúde às ne- disse Júnior à Radis, otimista, um mês
ável (PAB Variável); Atenção de Média e cessidades da população. Segundo a antes dos cortes nas verbas da saúde.
Alta Complexidade Ambulatorial e Hospi- assessoria de imprensa do Ministério Ele elogiou os incentivos previstos para
talar, composto por Limite Financeiro da da Saúde, isso proporcionará ao ges- o gestor comprometido com as metas
Média e Alta Complexidade Ambulatorial tor condições para elaborar políticas correspondentes à dotação orçamentá-
e Hospitalar (MAC) e pelo Fundo de Ações e ações estratégicas. ria e também as penalidades aos que, de
Estratégicas e Compensação (FAEC); Para receber os recursos devidos, maneira comprovadamente deliberada,
Vigilância em Saúde, composto por Vigi- assim, o município e o estado devem não honrem os contratos.
lância Epidemiológica e Ambiental em aderir ao Pacto pela Saúde e assinar Para o sanitarista Gilson Carvalho,
Saúde e Vigilância Sanitária; Assistência o Termo de Compromisso de Gestão pediatra que se especializou em finan-
Farmacêutica, composto por Básico da (TCG), que inclui metas e compromissos ciamento da saúde, a proposta poderá
Assistência Farmacêutica, Estratégico sanitários prioritários: redução da mor- minimizar alguns problemas sem, con-
da Assistência Farmacêutica e Medica- talidade infantil e materna, controle tudo, resolvê-los todos — a portaria,
mentos de Dispensação Excepcional; e de doenças emergentes e endemias, na verdade, reduz a cinco blocos de
Gestão do SUS, composto por Qualifica- como dengue e hanseníase, e redução financiamento as várias “caixinhas”
ção da Gestão do SUS e Implantação de da mortalidade por câncer de colo do existentes na saúde, usadas para paga-
Ações e Serviços de Saúde. útero e mama. Fazem parte ainda do mento por produção de procedimentos.
Os recursos federais que com- TCG: adoção da política nacional de “O novo pacto traz melhorias, mas
põem cada bloco de financiamento saúde do idoso, elaboração e adoção da não corrige a ilegalidade, pois não há
serão repassados fundo a fundo em política nacional de promoção da saúde uma relação de co-responsáveis nem
conta única e específica para cada um e fortalecimento da atenção básica à a transferência de recursos obedece
deles, observados os atos normativos saúde, tendo como principal mecanismo aos critérios legais da Lei 8.080”, afir-
específicos. Com a nova modalidade, os a estratégia de Saúde da Família. ma. Ele explica que um dos grandes
gestores de saúde passam a ter maior Na opinião do presidente do CNS, problemas do financiamento federal
autonomia a partir do plano de saúde o passo seguinte seria o planejamento da saúde é que temos um sistema
estabelecido e aprovado pelo conselho dos recursos a partir da realidade socio- de pagamento vinculado e tutela-
municipal ou estadual. Isso significa que epidemiológica e do estabelecimento do, muito próximo do pagamento
no bloco de recursos de Atenção Básica, de prioridades que contemplem os três por produção, formando as até 130
por exemplo, o gestor poderá destinar níveis de atenção à saúde. “Para isso, é caixinhas de financiamento, muitas
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ainda existentes. “Pior: para denomi- outra capa, de dezembro de 2004 Aos críticos que consideram a
nar esta operação, usurpou o termo (“Orçamento da saúde: entenda como saúde já bem financiada, mas mal
legal de repasse fundo a fundo, cuja funciona para lutar melhor por ele”), gerida, Gilson responde com cálculos
característica era sua forma regular e dizia que a iminente aprovação do interessantes. O gasto estimado do
automática”. projeto revolucionaria a saúde. Neste setor privado em saúde em 2006 foi
Gilson lembra que a União, nos 2007, a regulamentação é prioridade, de R$ 87,54 bilhões, resultado a que
anos 1980, era responsável pelo declarada em discursos, do presidente o especialista chegou somando três
financiamento de 75% das ações e do CNS, do novo presidente do Conse- componentes: despesas com planos e
dos serviços de saúde. “Hoje, 26 lho Nacional de Secretarias Municipais seguros de saúde (R$ 44,88 bilhões),
anos depois, é responsável por ape- de Saúde, Helvécio Magalhães Júnior, desembolso direto do cidadão (R$
nas 50% do financiamento, mesmo que é secretário de Saúde de Belo Ho- 16,41 bilhões) e gastos com medica-
sendo a única esfera de governo rizonte, e do próprio ministro Agenor. mentos diretamente adquiridos (R$
com poder legal de arrecadar para O problema é que não é prioridade 26,25 bilhões).
a saúde”, observa. A conseqüência da equipe econômica e nem mesmo Já o investimento público fede-
disso são insuficiências em várias do Congresso Nacional, apesar das ral (R$ 40,78 bilhões), estadual (R$
áreas, a exemplo dos déficits na seguidas promessas. 18,69 bilhões) e municipal (R$ 19,44
Atenção Básica, nos medicamentos No primeiro semestre de 2006, bilhões) totalizou R$ 78,91 bilhões (ver
excepcionais, na Atenção de Média por exemplo, o projeto chegou a tabela). Isso significa que em 2006 o
e Alta Complexidade, evidenciadas entrar na pauta de votações, mas investimento do Brasil em saúde por
neste 2007. “Continuo dizendo que não houve deliberação. Para o presi- habitante/ano, calculado pelo dólar
o financiamento da saúde no Brasil dente do CNS, o PLC 01/03 ainda não do câmbio em 3/7/2006 (R$ 2,17),
passa por cinco providências: au- foi aprovado porque está na contra- teria sido de US$ 410,69 — acima dos
mento de recursos, diminuição da mão da lógica que norteia as atuais US$ 300 de há quatro anos (Radis 28).
corrupção, eficiência nos gastos, mu- relações políticas e econômicas no Gilson fez mais contas, seguindo o
dança do modelo de se fazer saúde e Brasil: “O discurso do corte de gas- critério do Annual Report da Organi-
transformação do Brasil”. tos públicos com viés conservador, zação Mundial de Saúde, cujos índices
da desvinculação das receitas, do usam o dólar internacional, com poder
PRIORIDADE PARA POUCOS déficit nominal zero, que funda- real de compra 2,8 vezes maior que
A saúde do país espera, mentam na verdade a proposta do o dólar do câmbio, ou seja, o mesmo
para este ano, a aprovação do Estado mínimo desresponsabilizado dólar, se usado no Brasil, compra mais
PLC 01/03, do ex-deputado das políticas sociais”. e promove mais ações do que, por
federal Roberto Gouveia (PT- Júnior não se cansa de afirmar exemplo, nos Estados Unidos — “Um
SP) que, com 58.290 votos, não se a importância vital do projeto para o moleque com um dólar em São José
reelegeu em 2006. O PLC regulamenta financiamento do SUS e, conseqüen- dos Campos compra mais balas que
a Emenda Constitucional 29, de 13 de temente, para o próprio SUS, “pois um boy em Miami”, exemplifica Gilson.
setembro de 2000 — que por sua vez regulamentaria regras até agora Por esse critério, estima o especialista,
alterou os artigos 34, 35, 156, 160, transitórias”. Afinal, a EC-29 muda o o Brasil teria chegado a US$ 1.154 por
167 e 198 da Constituição Federal e Artigo 198 da Constituição, que prevê habitante/ano e os EUA, a US$ 7.500
acrescentou artigo ao Ato das Dispo- que União, estados, Distrito Federal (ver textos em www.ensp.fiocruz.
sições Constitucionais Transitórias, e municípios apliquem anualmente br/radis/55/web-01.html).
para assegurar os recursos mínimos um mínimo de recursos em ações e Ainda assim, alerta o sanitarista, as
ao financiamento das ações e serviços serviços de saúde. Os percentuais, ameaças à saúde são muitas. Para ele,
públicos de saúde. entretanto, precisam ser definidos por estamos enfrentando a turbulência de
O projeto determina que a União lei complementar. Para Gilson Carva- três grandes bombardeios à aprovação
reserve à saúde 10% de suas receitas lho, a principal vantagem do projeto do 01-03: o primeiro vem do próprio
correntes brutas e define, enfim, o é que eleva o mínimo de recursos governo Lula. “Isso se confirma na opo-
que é e o que não é gasto em saúde. federais anuais para R$ 56,7 bilhões, sição à aprovação pelo ministro do Pla-
Essa espera está sendo longa. A capa bem mais que os atuais R$ 43,915 bi- nejamento, Paulo Bernardo, e pelo atual
da Radis de novembro de 2003 tinha lhões determinados pela EC-29. “Um presidente da Câmara dos Deputados,
como título “Saúde defende apli- incremento de R$ 12,8 bilhões, ou Arlindo Chinaglia (PT-SP), o único líder
cação da Emenda Constitucional”; 29,15% a mais para a saúde”. partidário a não referendar a colocação
Estimativa de gastos com saúde — Brasil — 2006 (R$ bi) Gastos em saúde*
Federal 40,78 EUA
7.500
Estadual 18,69
Público
Municipal 19,44
Total 78,91
Planos e seguros 44,88
Desembolso direto 16,41
Privado Brasil
Medicamentos 26,25 1.154
Total privado 87,54
Público-privado Total Brasil 166,45 *Estimativa 2006 em "dólar internacional" por habitante/ano
FONTE: MS-SPO — MS-SIOPS — ANS — IBGE-POF — ESTUDOS Gilson Carvalho FONTE: Gilson Carvalho
Radis 55 • MAR/2007
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do projeto na pauta, no ano passado”, tem seu orçamento e, quando desviamos próprio do nível domiciliar ou
diz. O segundo bombardeio, segundo o dinheiro da saúde para outros fins, o de pequenas comunidades,
Gilson, vem do economista Delfim Neto, setor fica sem recursos suficientes para desde que aprovadas pelo Conselho de
“amigo de Lula, que reduz a saúde à investir no que de fato são ações e ser- Saúde do ente da Federação, as efeti-
ineficiência e à corrupção e se manifesta viços públicos de saúde”, defende o es- vadas nos Distritos Sanitários Especiais
contra a vinculação de recursos”. pecialista em Medicina Social Edmundo Indígenas e outras a critério do CNS.
O terceiro vem do quase desco- Gallo, pesquisador da Fiocruz/Brasília Fazem parte também do grupo
nhecido “Memorial dos Estados” (ver e professor da Ensp/Fiocruz. Ex-diretor as ações de manejo ambiental, vin-
íntegra em www.ensp.fiocruz.br/ra- de Investimentos e Projetos Estratégicos culadas diretamente ao controle de
dis/55/web-02.html), apresentado em da Secretaria-Executiva do Ministério da vetores de doenças, a gestão do sis-
2006 a parlamentares e ressuscitado este Saúde, ele lembra que essa é uma dis- tema público de saúde e a operação
ano após o lançamento do Programa de cussão antiga, anterior à EC-29. “Há das unidades prestadoras de serviços
Aceleração do Crescimento (PAC), no quem queira saneamento como gasto públicos de saúde, investimentos na
qual os governadores pedem “algumas de saúde não porque o considere rede física do sistema de saúde — obras
adequações jurídico-financeiras” em como tal, mas porque quer desonerar de recuperação, reforma, ampliação
vários artigos do PLC 01/03. Uma das a pasta deste serviço, jogando o ônus e construção de estabelecimentos de
“adequações” propõe explicitamente a para a saúde”, salienta. saúde —, ações de apoio administra-
diminuição em cerca de R$ 10 bilhões de tivo das instituições públicas do SUS
sua responsabilidade no financiamento AÇÕES DE SAÚDE imprescindíveis à execução de ações e
da saúde, “abrindo caminho para ou- Segundo o PLC 01/03, são despe- serviços de saúde e a remuneração de
tras usurpações do dinheiro da saúde”, sas com ações e serviços públicos de pessoal ativo em exercício na área da
denuncia Gilson. saúde: vigilância em saúde, incluin- saúde, incluindo encargos sociais.
Sem a aprovação necessária, do a epidemiológica e a sanitária; Assim, ficam de fora as seguintes
ficam valendo as regras transitórias atenção integral e universal à saúde despesas: pagamento de inativos e
da EC-29, pelas quais estados e muni- em todos os níveis de complexidade, pensionistas, inclusive os de saúde,
cípios destinam a ações e serviços de incluindo assistência terapêutica e despesa que cabe ao Tesouro Nacional;
saúde 12% e 15%, respectivamente, recuperação de deficiências nutricio- pessoal ativo da área da saúde quando
das receitas próprias e transferências nais; capacitação do pessoal de saúde em atividade alheia à respectiva área;
constitucionais e legais. À União, do SUS; desenvolvimento científico e serviços mantidos preferencialmente
cabe repassar apenas o mesmo que tecnológico e controle de qualidade para o atendimento de servidores ati-
gastou no ano passado, mais a varia- promovidos por instituições do SUS; vos e inativos, civis e militares, bem
ção nominal do PIB. produção, aquisição e distribuição de como dos respectivos dependentes e
A falta da lei abre brechas para insumos específicos dos serviços de pensionistas; merenda escolar e outros
que ações de saneamento e combate à saúde do SUS, como imunobiológicos, programas de alimentação, ainda que
fome, por exemplo, continuem contabi- sangue e hemoderivados, medicamen- executados em unidades do SUS, res-
lizadas como gastos de saúde. “Não que tos e equipamentos médico-odontoló- salvada a recuperação de deficiências
isso não seja importante, mas cada setor gicos; e ações de saneamento básico nutricionais; ações de saneamento
Radis 55 • MAR/2007
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básico em cidades em que os servi- Outro antigo debate diz respeito de demandas de suas bases eleitorais”,
ços sejam implantados ou mantidos à eficiência dos gastos em saúde. Em diz. E acabam absorvendo de 5% a 8%
com recursos provenientes de fundo artigo de 2004, Gilson Carvalho aler- do orçamento da saúde.
específico, taxas, tarifas ou preços tava para a necessidade não apenas Para Francisco Júnior, as emendas
públicos; limpeza urbana e remoção de aumento dos recursos no limite têm conteúdo historicamente perverso
de resíduos; preservação e correção legal e possível, como também do e prejudicam a eficiência dos gastos.
do meio ambiente por órgãos de meio bom uso dos poucos recursos disponí- “Vejo essa questão com profunda tris-
ambiente dos entes da Federação e veis. “A chave do cofre será aumentar teza e desmesurada preocupação”, diz
entidades não-governamentais; ações recursos ou gastar melhor?”, pergun- o presidente do CNS. “Na área de saúde,
de assistência social; obras de infra- tava. Defensor de ambas as alterna- então, têm sido utilizadas em procedi-
estrutura urbana, ainda que benefi- tivas, Gilson criticava as emendas mentos ilícitos”. E também vão contra
ciem direta ou indiretamente a rede parlamentares. Para ele, embora os conselhos de saúde, “que geralmente
de saúde; e ações e serviços públicos previstas na Constituição e na legis- não têm qualquer participação em sua
de saúde custeados com recursos que lação, as emendas podem ser argüidas elaboração e vêem suas propostas orça-
não os especificados na base de cálculo de inconstitucionalidade. “Ferem a mentárias solenemente violentadas”.
definida na lei complementar ou vin- cláusula pétrea de independência dos Isso, para ele, configura crime dos mais
culados a fundos específicos. três poderes, porque a grande maioria graves cometidos contra a população
Para o presidente do CNS, o pro- não atende a prioridades e planos de brasileira. Por isso, defende energica-
jeto estabelece uma forma legal de investimentos, oportunizam atos de mente a extinção dessa prática.
vinculação de receitas federais, esta- corrupção e acabam sendo usadas Gallo sugere que o Ministério
belecendo de maneira cristalina o que como poder de troca do Executivo da Saúde assuma a responsabilidade
pode e o que não pode ser considerado com o Legislativo diante das necessi- de instruir o parlamentar sobre as
efetivo gasto em saúde, cria mecanis- dades daquele de aprovação de seus reais necessidades de um plano de
mos de fiscalização efetivos, o que projetos no Congresso”. investimento. “O problema não é a
significaria na prática um incremento Conhecedor da área por sua expe- emenda em si, pois de um modo geral
razoável de recursos, bem como uma riência no ministério, Edmundo Gallo elas são usadas em projetos de inves-
democratização que contribuiria para a concorda: normalmente, as emendas timento na saúde, não são custeio”,
aplicação mais racional e resolutiva dos parlamentares não costumam guardar ressalva. “O problema é a forma como
recursos da saúde. O projeto, destaca relação com o processo de qualificação se conduz o processo de elaboração,
Júnior, “encerra um debate de conte- de ações e serviços de saúde. “São aprovação e liberação”.
údo fortemente ideológico, que neces- feitas, na verdade, em função dos
sita do envolvimento dos conselhos de interesses dos parlamentares a partir * Colaborou Marinilda Carvalho
saúde, dos setores progressistas e da
sociedade civil organizada”. E envolve
instrumentos de mobilização política
que podem ser o diferencial para sua
aprovação, enfim, no Congresso.
Radis adverte
As etapas
municipais
da Treze
começam em
abril. O SUS
precisa da sua
participação!
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[ 13 ]
Um ano de trabalho
e muitas expectativas
tão dos determinantes sociais da saúde, Filho, pesquisador de políticas públicas
E
m 13 de março de 2006 foi por outro lado, cresceu muito nos deba- da Escola Nacional de Saúde Pública
criada a Comissão Nacional tes políticos e técnico-científicos do país Sergio Arouca, lembra das três principais
sobre Determinantes Sociais da depois do surgimento da CNDSS”. linhas de ação da comissão: produção
Saúde (CNDSS), por decreto do Como coordenador, ele aguarda de informação e conhecimento; apoio
presidente da República. O objetivo os resultados dos 83 estudos contrata- a políticas e programas para a eqüida-
principal: propor políticas eficientes dos em setembro do ano passado pela de; e mobilização social. Deste tripé,
baseadas em pesquisas fincadas na rea- Secretaria de Ciência e Tecnologia do disse Pellegrini, a primeira linha foi
lidade para combater as desigualdades Ministério da Saúde a partir do edital muito bem-exercida pela CNDSS neste
sociais e mobilizar a sociedade nesse de pesquisa em determinantes sociais primeiro ano; a segunda, parcialmente,
sentido. Afinal, o Brasil, 13ª economia do e outros temas, lançado em julho. Os faltando formalizar-se o intercâmbio
mundo, é o 8º país com pior distribuição estudos se dividem em quatro linhas com ministérios; a terceira, muito pouco
de renda, revelou pesquisa publicada de apoio: determinantes sociais, que desenvolvida. “Houve divulgação, mas
pelo Programa das Nações Unidas para o conta com recursos de R$ 3,2 milhões; não mobilização”, reconheceu.
Desenvolvimento em 2005. Hoje, depois saúde da pessoa com deficiência, R$ Ações como a constituição do
de um ano, pergunta-se: quais os avan- 1,5 milhão; saúde da população negra, grupo de trabalho com integrantes de
ços conquistados pela comissão? R$ 2,2 milhões; e saúde da população vários ministérios, do Conselho Nacional
Integrada por 17 pessoas de várias masculina, R$ 1,5 milhão. Ou seja, um de Secretários de Saúde e do Conselho
áreas — médica, econômica, jurídica, investimento total de R$ 8,4 milhões. Nacional de Secretarias Municipais de
empresarial, social, cultural e ecológica Para o advogado e professor de Saúde, assim como reuniões para discus-
—, a CNDSS conseguiu em pouco tempo Direito da USP Dalmo de Abreu Dallari, são de metodologias de intervenção so-
motivar algumas mudanças nas políticas outro integrante da CNDSS, a comissão bre os determinantes sociais, ocorridas
públicas, enfatizando o direito à saúde é muito nova e não há precedentes em Genebra e no Brasil em 2006, podem
no Brasil. Esta é a análise feita pelo em que ela possa se apoiar. “Ela está ser consideradas boas iniciativas. Mas,
coordenador da comissão, Paulo Buss, ganhando experiência e eficiência a ressalva Pellegrini, com expectativa
presidente da Fiocruz, médico e titular partir de suas próprias atividades”, de maior mobilização em 2007, “ainda
da Academia Nacional de Medicina. “As atestou. Além disso, seu objetivo é há muito a fazer”. Ele participou, com
evidências se acumulam em muitos es- muito amplo e os resultados de seu tra- Paulo Buss, de programas de televisão
tudos reunidos pela CNDSS, mostrando balho dificilmente serão obtidos e vistos em 2006 para divulgar a CNDSS e en-
que renda, emprego, escolaridade e imediatamente”. Em tão pouco tempo, caminhou carta aberta aos candidatos
saneamento são, entre outros, podero- segundo Dallari, são evidentes alguns à presidência da República na eleição
sos determinantes da mortalidade, da bons resultados: “A CNDSS vem dando do ano passado (Radis 49), visando um
morbidade, da qualidade de vida e da maior precisão a seu papel e definindo debate sobre o tema. “No entanto, não
saúde”, destacou. Isso ficou claro, por métodos de atuação e aumentando tivemos a repercussão desejada”.
exemplo, em boa parte dos trabalhos gradativamente sua eficácia”. Neste primeiro aniversário a
apresentados ao 8º Congresso Brasileiro CNDSS lança o Sistema de Informação
de Saúde Coletiva, em agosto de 2006, BALANÇO TÉCNICO Nacional sobre Determinantes Sociais,
no Rio de Janeiro. Além de muitas Dallari acredita que a comissão que ficará disponível no site da co-
dessas relações de causalidade, foram conseguiu a priori chamar a atenção missão (www.determinantes.fiocruz.
apresentados programas, estratégias e despertar a consciência dos respon- br). O sistema inclui dados sobre os
e projetos de intervenção sobre os sáveis pelas políticas sociais. “Esse é vários determinantes. Os interessados
determinantes sociais da saúde. o primeiro passo”, afirmou. A expec- poderão acessar, por exemplo, o índice
No que diz respeito ao enfrenta- tativa, segundo ele, é que a partir de desemprego no país. Paralelamen-
mento de alguns dos determinantes no de agora, e gradativamente, a CNDSS te, está em execução a formação de
Brasil, o coordenador da CNDSS acredi- exerça maior influência sobre as políti- uma rede entre pesquisadores com a
ta no acerto da estratégia da Saúde da cas públicas e contribua cada vez mais participação de gestores de saúde para
Família e do programa Bolsa-Família. com dados e propostas relativas às conferir os resultados preliminares das
“Outro progresso foi o lançamento respectivas áreas de atuação social e pesquisas desenvolvidas, assim como a
da Política Nacional de Promoção da profissional de cada integrante, assim preparação de um portal para debates
Saúde do Ministério da Saúde, em como na elaboração de diagnósticos. sobre os determinantes sociais, a ser
março do ano passado, juntando-se aos “Somente assim”, salientou, “teremos lançado no primeiro semestre deste
esforços da comissão”, ressaltou. objetividade em nosso trabalho”. ano, e de um relatório final em fascí-
Paulo Buss não está plenamente Responsável pela Secretaria Técni- culos. “Para tanto, a partir de julho,
satisfeito. “Acho que podíamos ter feito ca, que dá apoio administrativo e técni- cada grupo vai tratar de um tema
mais”, disse. “Mas a presença da ques- co à CNDSS, o médico Alberto Pellegrini específico”, informou. (K.M.)
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A
pesar do nome, a centésima plexidade que é gerir o sistema público processos administrativos. E também
sexagésima nona reunião or- de saúde e, bem-humorado, chegou a para cumprir integralmente a Emenda
dinária do Conselho Nacional sugerir a criação do “seguro-gestor”. Constitucional (EC) 29: “A gordura que
de Saúde — realizada nos dias E explicou o porquê da proposta: “Em existia no nosso orçamento até dois
17 e 18 de janeiro, no auditório do CNS, determinado período, tive em minha anos atrás foi cortada, com o apoio do
em Brasília — não foi comum. Pela pri- mesa mais de 1.000 convênios para presidente Lula”. Os desafios para este
meira vez, um presidente eleito pelos assinar e, se minha assinatura faltasse ano, segundo apontou o ministro, são a
conselheiros — o farmacêutico Francisco numa única via, um promotor poderia regulamentação da EC-29, a qualificação
Batista Júnior — comandou o encontro, me denunciar alegando que pretendo da Atenção Básica, a regulação da média
como salientou na abertura o ministro fraudar os recursos públicos”. e alta complexidade, a normatização da
da Saúde, José Agenor Álvares da Silva. Aproveitando para criticar a judi- urgência e emergência e a regulamenta-
“Esse fato representa o avanço do contro- cialização do setor, citou outro exemplo ção da assistência farmacêutica.
le social no país”, disse. E citou exemplos para justificar o “seguro”: caso um se-
que provam a boa atuação de conselhos cretário de Saúde não cumpra decisão A TREZE EM DESTAQUE
em todo o país: as máfias das sangues- que o obriga a fornecer, por exemplo, Mas a principal pauta da reunião foi
sugas e dos remédios foram denunciadas um cogumelo indiano contra disfunção a 13ª Conferência Nacional de Saúde, a
por conselheiros de Mato Grosso do Sul e erétil a determinada pessoa, vai preso. Treze. Se, por um lado, os conselheiros
do Distrito Federal, respectivamente. “Eu defendo que o Ministério Público concordaram quanto à data do evento
“Mas nós sabemos que há conse- continue atuando contra os maus (Radis 54), por outro discordaram em
lhos e conselhos”, ressalvou, para em gestores, o que não aceito é envolver relação ao tema central. A mesa-dire-
seguida pedir o fortalecimento do con- todos na sujeira”, acentuou. “Se não, tora sugeriu que a 13ª fizesse referência
trole social nos estados e municípios. daqui a pouco ninguém mais vai querer aos 20 anos da 8ª, realizada em março
“Sempre falo que o primeiro, o segun- ser gestor na área”. Para Agenor, é de 1986, aproveitando para avaliar os
do, o terceiro e o quarto compromisso preciso tirar da gestão os que não têm avanços do Sistema Único de Saúde e
dos conselheiros é com a população; respeito pela coisa pública, mas sempre traçar estratégias para a superação dos
o quinto pode ser corporativo, se não respeitar os que estão comprometidos problemas. “O SUS nunca esteve tão na
prejudicar os interesses do povo”, des- com a população. Ele ainda reclamou berlinda como agora; há um movimento
tacou. Encarregado de fazer uma aná- de que a economia feita e os gargalos para modificar o sistema para pior”,
lise de conjuntura, o ministro Agenor tampados são pouco valorizados. disse Júnior — como é tratado por todos
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o presidente do CNS —, justificando a municípios que não fizeram suas eta- nião pública porque suas resoluções não
necessidade de resgate dos princípios pas). Os conselheiros ainda ratificaram são cumpridas. “Nós podemos deliberar
da 8ª. Na prática, o conselho estimula- a decisão de que, até novembro, que a União não mais repasse recursos
ria municípios e estados a analisarem a nenhuma conferência temática seja a hospitais cuja gestão foi terceirizada,
atenção básica, secundária e terciária promovida. Foi também consenso que mas precisamos cobrar a aplicação
sob a luz dos pactos de Gestão, pela o formato das conferências, que divide dessa decisão”, propôs. Enquanto isso,
Vida e em Defesa do SUS. opiniões, seja discutido na 13ª. a terceirização avança — como desta-
Já a conselheira Raquel Maria Outra decisão unânime: desta cou Lígia, citando o exemplo do Rio de
Rigotto, representante do Fórum vez, não haverá um documento-base, Janeiro, cujo governador, Sérgio Cabral,
Brasileiro de ONGs e Movimentos So- e sim um roteiro indicando as principais anunciou a criação de uma fundação
ciais para o Meio Ambiente, propôs questões que precisam ser debatidas para contratar profissionais de saúde.
que a conferência tratasse do desen- nos municípios e estados. Foi decretado “E olha que ele representa o novo na
volvimento e seus reflexos na saúde ainda o fim das subcomissões de organi- política”, comentou.
da população. A idéia não agradou a zação — por exemplo, de infra-estrutura
todos. “O desenvolvimento deve ser e comunicação. A partir de agora, haverá FORMAÇÃO EM
discutido pelo país, temos que focar apenas a comissão geral. Após intenso de- SAÚDE COLETIVA
no SUS”, defendeu Lígia Bahia, do bate, que acabou rejeitando a proposta A Residência Multiprofissional em
Centro Brasileiro de Estudos de Saú- da mesa-diretora, o pleno do CNS estabe- Saúde (RSM) — modalidade de ensino
de. Mas o presidente da Associação leceu que a comissão seja formada por 16 de pós-graduação destinada às profis-
Brasileira de Pós-Graduação em Saúde conselheiros (oito usuários, quatro traba- sões que se relacionam com a saúde e
Coletiva, José da Rocha Carvalheiro, lhadores e quatro gestores e prestadores desenvolvida em ambiente de serviço
disse entender que as duas propostas de serviço) e quatro convidados (um de (Radis 51) — foi outro tema da reunião.
não eram excludentes. O secretário de entidade que represente os municípios, Em sua apresentação, o secretário de
Gestão Estratégica e Participativa do um da Associação Nacional do Ministério Gestão do Trabalho e da Educação na
Ministério da Saúde, Antônio Alves de Público de Defesa da Saúde, um da aca- Saúde do Ministério da Saúde, Fran-
Souza, lembrou que a saúde contribui demia e um da Plenária dos Conselhos de cisco Eduardo de Campos, festejou a
para o desenvolvimento do país — “A Saúde). O Ministério da Saúde destinou regulamentação da RSM, publicada
Anvisa regula 30% do Produto Interno R$ 9 milhões à 13ª CNS. dois dias antes do encontro. Segundo
Bruto nacional” —, mas acaba sendo ele, este é um importante passo para
vista pelo governo como despesa, e não CNS X TERCEIRIZAÇÃO melhorar a formação de estudantes,
como investimento. O consenso predominou no de- que normalmente se orientam para o
Nas falas seguintes, outros temas bate seguinte — “Terceirização de modelo hospitalar sem ter em vista
surgiram: saúde como direito do cida- gerências e gestão do SUS”: o CNS o trabalho no Programa Saúde da
dão, universalidade e integralidade. “Eu tem que fazer valer suas decisões Família, por exemplo.
não discutiria essas questões, porque sobre o tema. Em março de 2005, os Carvalheiro quis saber de uma
abriríamos brechas para revê-las; isso conselheiros condenaram a terceirização eventual aprovação da graduação em
já está posto”, polemizou José Eri de da gerência e da gestão de serviços e de Saúde Coletiva, que há anos divide as
Medeiros, do Conselho Nacional de pessoal do setor saúde, assim como da opiniões dos sanitaristas (Radis 13).
Secretários Municipais de Saúde. Na administração gerenciada de ações e Francisco respondeu: “Eu não tinha
reunião ordinária de fevereiro — dias serviços, a exemplo das Organizações uma opinião formada, mas o Naomar
12 e 13 —, os conselheiros finalmente Sociais (OS), das Organizações da Socie- de Almeida [reitor da Universidade
decidiram que o tema central da Treze dade Civil de Interesse Público (Oscip) Federal da Bahia] e o Jairnilson Paim
será "Saúde e qualidade de vida: Política ou outros mecanismos com objetivo [professor do Departamento de Saúde
de Estado e desenvolvimento". E adiaram idêntico. E estabeleceram prazo de 12 Coletiva da UFBA] conseguiram me
as etapas municipais: de 1º de abril a 5 meses para que os órgãos de gestão do convencer de que é uma boa propos-
de agosto, as municipais; de 15 de agosto SUS adotassem medidas para cumprir a ta”. Um dos argumentos a favor: as
a 15 de outubro, as estaduais. deliberação — o que não aconteceu. pessoas estão aprendendo a gerir o
Ainda no encontro de janeiro, Como lembrou Sérgio Ricardo SUS por tentativa e erro, já que menos
em meio a tantas divergências os Góis, da Confederação Nacional do de 5% dos cerca de 100 mil gestores
conselheiros concordaram em que as Comércio, o Ministério Público Federal da área no Brasil têm pós-graduação
conferências estão sendo vulgarizadas determinou, em maio de 2006, o fim em Saúde Coletiva. “E nós precisamos
— principalmente por conta do excesso das Organizações Sociais de Saúde reorientar essa lógica”.
de temáticas. Armando Bardou Raggio, (OSS) na cidade de São Paulo com base Do lado contrário, os críticos
do Conselho Nacional dos Secretários em deliberação do conselho municipal afirmam que a graduação em Saúde
de Saúde, chegou a propor que as eta- (Radis 43), mas a prefeitura recorreu Coletiva aponta para a formação de
pas municipais aconteçam no mesmo da decisão. “Estados e municípios um profissional com competências que
dia em todo o país, numa tentativa de alegam autonomia administrativa deveriam estar em todas as carreiras
mobilizar a população e a imprensa, o para não respeitarem a decisão do da área. Essa formação, afirmam, tam-
que gerou nova polêmica. conselho”, acrescentou a secretária- bém empobrece duas características
Reconhecida a dificuldade da executiva do CNS, Eliane Cruz. “Essa da saúde coletiva, a interdisciplinari-
proposta na prática, a secretaria-exe- é uma disputa política que devemos dade e a multiprofissionalidade: seria
cutiva do CNS se dispôs a consultar os debater na 13ª”. Sérgio frisou que os como dizer aos demais profissionais
estados sobre a possibilidade de que conselheiros devem se municiar judi- de saúde que o trabalho na área é
promovam suas etapas no mesmo perí- cialmente para embate de igual para privativo de um novo profissional.
odo. Também ficou acertado que o con- igual com os gestores. Além disso, com esse novo profis-
selho não reconhecerá as deliberações O perigo, afirmou Antônio Alves, é sional ficaria intocado o modelo
de conferências regionais (que reúnem o CNS ficar desmoralizado perante a opi- biomédico hegemônico.
Radis 55 • MAR/2007
Comunicação
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Para Venício, a mídia alternativa jornalismo voltado para o cidadão. O pro- nas. Com tiragem de 10 mil exemplares,
deve ser valorizada, já que propicia o fessor da UFMG Valdir de Castro Oliveira é enviado a vereadores, deputados, fa-
diálogo — a possibilidade de informar e salientou que fazer comunicação não é culdades e à rede (própria e prestadora
ser informado. De acordo com o profes- apenas publicizar as ações do conselho: de serviço) do SUS na cidade.
sor da UnB, há 4 mil rádios comunitárias boletins, informativos e sites devem ser “Os conselheiros têm que enten-
legalizadas no país e 13 mil à espera de ferramentas para se promover a intera- der de tudo, coitadinhos: precisam
permissão para funcionamento legal. A ção com a população, frisou. ser contadores, fiscais, psicólogos...”,
comunicação alternativa também foi brincou a pesquisadora da Ensp/Fiocruz
abordada na fala do jornalista Sérgio NA INTERNET E NO PAPEL Maria Eliana Labra. E pior, não recebem
Gomes, diretor da Oboré (empresa Os conselhos de Santa Catarina, nada por isso, acrescentou. “Agora,
especializada em comunicação popu- Amazonas e Curitiba apresentaram têm mais uma função: promover a co-
lar), no dia seguinte. “Os conselheiros experiências de comunicação e infor- municação e a informação em saúde”.
reclamam das barreiras entre eles e a mação na manhã do dia 12. Em Santa Na tarde do dia 12, os participantes do
grande imprensa, mas subestimam o Catarina, partiu da Secretaria estadual seminário foram separados em quatro
poder dos pequenos radialistas, que de Saúde a iniciativa de criar-se o grupos para a Elaboração da agenda
estão em contato direto com a comu- Portal do Controle Social em Saúde na 2007 de comunicação e informação em
nidade”, argumentou. Internet (http://controlesocial.saude. saúde. Todos pediram que os conselhos
E não adianta reclamar das grandes sc.gov.br). O site reúne os contatos dos criem suas comissões de comunicação
redes de TV, que não mostram o lado conselhos no estado, sua composição, e informação em saúde.
positivo do SUS. “A verdade é que a notícias sobre ações, legislação e in- Como no primeiro encontro, foi
imprensa ainda não aprendeu a cobrir dicadores de saúde. proposta a contratação de jornalistas
a participação social”, sentenciou Aloí- No Amazonas, também foi criado que auxiliem no trabalho das comissões
sio Milani, editor-executivo da Agência um site (www.saude.am.gov.br/ces/ e a realização de uma conferência na-
Brasil, portal de notícias da estatal index), um informativo impresso e cional sobre o tema. No encerramento
Radiobrás. Ele enfatizou que sua equipe o Alô Conselho, central telefônica do evento, Francisco Júnior reforçou
tem se empenhado em preencher essa que orienta a população e informa sobre que a comunicação e a informação têm
lacuna, acompanhando as conferências os serviços de saúde no estado [(92) muito a contribuir com o fortalecimen-
de saúde, por exemplo. E alertou: a co- 3643-6349 e 3643-6377]. Na capital do to dos conselhos, principalmente ao
municação dos conselhos não deve fazer Paraná, a comissão de comunicação e estabelecer um diálogo com as bases,
o chamado “jornalismo chapa-branca”, informação em saúde passou a produzir ou seja, com a população que essas
sem a contraposição de idéias, e sim um um informativo trimestral de seis pági- entidades representam. (B. C. D.)
75%
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l
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Radis 55 MAR/2007
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Pós-tudo