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Este livro constitui mais um resultado do

esforço individual e coletivo dos membros


do Grupo de Psicologia Escolar/Educa-
cional da Associação de Pesquisa e Pós-
graduação em Psicologia (ANPEPP) que dá
continuidade a um trabalho de discussão e
produção científica que vem se desenvol-
vendo sistematicamente desde 1994. Esta
obra, expressão do interesse do grupo em
analisar e discutir novas formas de atuação
dos psicólogos perante a difícil situação da
educação na realidade brasileira, integra os
trabalhos apresentados e discutidos no X
Simpósio de Pesquisa e Intercâmbio Cientí- Psicologia Escolar
fico organizado pela ANPEPP que teve lugar
em Aracruz, Espírito Santo, de 24 a 28 de e C o m p r o m i s s o Social
maio de 2004.
O livro, importante para a mudança de
visões e práticas, revela novas formas de
atuação do psicólogo na instituição escolar Novos discursos, novas práticas
para fazer frente tanto a demandas sociais
emergentes quanto a políticas públicas
relevantes como as relacionadas com o
processo de inclusão escolar. Também
apresenta experiências do trabalho do
psicólogo em outros contextos educativos Albertina Mitjáns Martínez
institucionalizados e debate os desafios que organizadora
a necessidade de novas formas de atuação
e de visão da realidade apresentam para a
formação do psicólogo, especialmente os
relacionados com a dimensão pessoal da
formação. A construção de novas represen-
tações e a procura criativa de novas formas
e alternativas de atuação, reflexões que a
obra estimula, podem constituir importantes
formas de expressão do compromisso dos
psicólogos, não apenas com processos
educativos que contribuam realmente para
o desenvolvimento, mas também com uma A
sociedade maisjusta.

Alínea
EDITORA
Capítulo—8

Estratégias
Mediacionais:
Possibilidades de inserção
do psicólogo eseolar/
educacional em abrigos

Célia Vectore

Nunca perdi a esperança de que essa grande transformação viria


a ocorrer. Não por causa dos grandes heróis que já mencionei,
pela coragem dos homens e mulheres comuns de meu país. (..)
Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou
por sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam
aprender; e, se elas podem aprender a odiar, podem ser
ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao
coração humano do que o seu oposto. A bondade humana é
uma chama que pode ser oculta, jamais extinta.
Nelson Mandela, 4 janeiro de 2000.

A infância, com as suas múltiplas transformações históricas,


observadas através do total descaso do passado a um inegável
reconhecimento de sua importância no presente, tem se constituído
numa inesgotável fonte de estudos e pesquisas dentro das mais
diversificadas áreas de conhecimento responsáveis pela ampla
disseminação de informações que buscam a decifração do gigantesco
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Estratégias Mediacionais

quebra-cabeça que se constitui a criação de uma criança e o desenrolar


Em relação à qualidade dos serviços prestados à infância
de sua formação, na constituição de um ser humano saudável físico e
brasileira, o recente relatório do UNICEF (2003) mostra que há ainda
mentalmente, mais solidário e capaz de conviver com as diferenças em
38,6% de crianças na faixa etária de 4 a 6 anos que não são atendidas
uma sociedade plural.
em instituições pré-escolares; nas classes mais desfavorecidas este
Um período em especial, representado pela faixa etária de
índice chega a 48,9%. Em acréscimo a tal situação, dados obtidos pelo
zero a seis anos, tem sido objeto constante de investigação da ciên-
Censo Escolar do MEC (2003) revelam que a ampla maioria dos
cia psicológica, devido à identificação de possíveis correlações en-
professores brasileiros (69%) que trabalha com crianças de quatro a
tre experiências vividas nessa época do desenvolvimento e
seis anos não possui nível superior, certamente um indicador de
comportamentos exibidos posteriormente, ao longo da vida do indi-
qualidade. Assim, além de se ter carência de instituições voltadas para
víduo, constituindo-se numa etapa crucial da vida humana. Um
o atendimento infantil, há uma gritante falta de qualidade nesse
exemplo pode ser dado pela relação evidenciada por Chu e Dill
atendimento.
(1990), entre maus-tratos na infância e comportamentos psicopato- Os números acima apresentados denunciam uma realidade
lógicos na vida adulta. Tal constatação tem motivado, nos dias de estarrecedora para um grande contingente de crianças, pois há
hoje, a mobilização de vários setores da sociedade para a necessida- infelizmente uma grande distância entre o conhecimento produzido
de de medidas preventivas, colocando em destaque a importância cientificamente acerca da educação de zero a seis anos e a prática efetiva
de políticas públicas eficazes para os pequenos e suas famílias. nas instituições infantis brasileiras, onde não raras vezes, a variável
No Brasil, conforme aponta Góis (2004), observa-se o "gostar de crianças", independente da capacitação ou formação
esforço empreendido por representantes de várias ONGs, da Justiça profissional, é a de maior peso na escolha do educador. Assim, estudos
e dos governos federal, estaduais e municipais na efetivação de uma evidenciando a íntima relação existente entre o desenvolvimento do
nova rede de proteção à criança pequena, cujo objetivo, no presente cérebro humano e a qualidade da estimulação ofertada na primeira
ano de 2004, é capacitar 10 milhões de famílias para que aprendam infância (Shore, 2000), bem como o papel das brincadeiras infantis para
formas mais adequadas de criação de filhos. o desenvolvimento dos hemisférios cerebrais (Antunha, 2000), não são
Observa-se também, simultaneamente às questões sobre qual a disseminados nas práticas educativas, como seria desejado.
melhor forma de se educar as crianças acopladas ao modo como a Desse modo, paralelo à questão da necessidade de instituições
família e a instituição podem promover uma educação de qualidade, infantis de qualidade, normalmente denominadas creches e
uma busca de novas propostas que possam garantir os preceitos pré-escolas, um outro quadro extremamente preocupante emerge no
advogados tanto pela Constituição atual (1988) quanto pelo Estatuto cenário brasileiro, sendo representado pelo grande contingente de
da e do Adolescente Criança (Lei Federal n°. 8.069/1990) em especial, crianças vivendo em instituições abrigos. Tais instituições, criadas
os aspectos que apontam para a legitimidade dos direitos das crianças e para acolherem provisoriamente crianças em situação de risco pesso-
de suas famílias no acesso aos serviços de atendimento à infancia. al e social, não poucas vezes, se constituem numa alternativa "provi-
A elaboração de práticas mais adequadas visando à promoção do soriamente definitiva" para os pequenos e suas famílias, haja vista ser
desenvolvimento infantil está intimamente ligada ao oferecimento de a pobreza o fator mais citado como motivo de abrigamento, segundo
serviços de qualidade que atendam as necessidades tanto das crianças a pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
quanto de suas famílias. E interessante lembrar que no início dos anos (2003), no levantamento nacional sobre os abrigos.
90, vários países europeus, em especial a Itália, viram com preocupação Nesse círculo vicioso, a família sem condições materiais de
o decréscimo da taxa de natalidade em suas populações, levando-os a manter a guarda da criança e excluída de programas oficiais de auxílio,
criar novas estratégias que respondessem às peculiaridades detectadas, devido à falta de políticas públicas eficientes, acaba por cristalizar a
como por exemplo os centros para atendimento conjunto das crianças e situação de institucionalização, a qual deteriora vínculos familiares e
de suas famílias (Vectore, 1998). deixa de cumprir, dessa forma, os ditames do Estatuto da Criança e do
Adolescente.
Estratégias Mediacionais
Célia Vectore

A constatação da importância da estimulação ambiental para o A criança não se limita apenas a ser influenciada pela atuação dos
desenvolvimento global humano, através prioritariamente, do outros sobre ela, mas também é influenciada por todos os que a
conhecimento dos mecanismos de mediação utilizados por adultos ou cercam e determinam com suas características os modos das
crianças mais capazes em suas interações com os pequenos, originada interações empreendidas.
pelo extraordinário trabalho desenvolvido por Vygotsky (1989), O referido autor acentua que ocorre uma transição ecológica
corroborou para o aparecimento nas duas últimas décadas do século sempre que a posição da pessoa é alterada em resultado de uma
passado, de programas visando à implementação, em larga escala, dos mudança de papel, do ambiente ou ambos, sendo que um dos
processos mediacionais em contextos educacionais com diferentes indicadores do desenvolvimento relaciona-se à capacidade como a
comunidades. pessoa percebe seu ambiente e lida com ele. O ambiente ecológico é
Segundo Hundeide (2003), os programas de intervenção entendido como uma série de estruturas concêntricas, denominadas:
mediacional devem ser assumidos pela própria comunidade, a qual microssistema, isto é, o ambiente imediato, no qual a pessoa em
deve aprender a identificar e a lidar com suas necessidades, de desenvolvimento participa; mesossistema, refere-se a um ambiente,
modo que suas práticas propiciem aos mediadores, informações e onde a pessoa pode ou não participar; exossistema, ambiente em que a
estratégias preventivas cruciais, para garantir a sustentabilidade de pessoa não participa, porém é afetada por ele; macrossistema é o mais
seus efeitos em longo prazo no desenvolvimento da criança. amplo dos sistemas, abrange a cultura na qual a pessoa está inserida.
Um desses programas é denominado MISC - Mediational Sem a intenção de traçar um quadro exaustivo e substancial de
Intervention for Sensitizing Caregivers - o qual apoiando-se nos como são organizados os contextos ecológicos considerando o ambiente
pressupostos vygotskianos enfatiza a mediação, como fator propul- de instituições infantis, a título de exemplo, Oliveira-Formosinho (2001,
sor para a aprendizagem e o desenvolvimento mental da criança. O 2002) sugerem que, o microssistema pode ser entendido como o local
outro programa conhecido por APE - Processo de Avaliação e Me- onde a educadora desenvolve as suas práticas com as crianças (contexto
lhoramento da Qualidade na Aprendizagem Pré-Escolar Efetiva - vivencial imediato de caráter profissional); o mesossistema constituiria
fundamenta-se na teoria de Bronfenbrenner (1996), em relação à as interações entre esse local específico e a instituição infantil e o
ecologia do desenvolvimento humano e os contextos de desenvolvi- macrossistema, todos os contextos abrangentes da instituição.
mento. Vale apontar que neste texto tentaremos traçar um panorama Bronfenbrenner salienta que apenas a utilização de um
de tais programas, fazendo uma apresentação de caráter introdutório planejamento transcontextual, inserido no mesossistema, e a avaliação
dos mesmos, com o objetivo de divulgação à comunidade científica dos padrões emergentes de atividade molar tornarão possível a
brasileira, além de refletir sobre a pertinência da utilização de tais identificação das propriedades ecológicas específicas do ambiente
propostas, por psicólogos escolares/educacionais atuantes nas insti- institucional que afetam o curso do desenvolvimento da criança. A
tuições que atendem as crianças e famílias em situação de risco. capacidade de qualquer ambiente - como a creche, a pré-escola, o
abrigo ou o lar - de gerar e sustentar atividades molares e estruturas
interpessoais estáveis depende dos relacionamentos entre aquele
ambiente e outros. Portanto, ao se vislumbrar as possibilidades de
As implicações teóricas oferecimento de serviços de qualidade para a criança pequena, não se
de Bronfenbrenner nas pode desconsiderar a importância que assume a família na consecução
instituições infantis de medidas capazes de promover ou, ao contrário, prejudicar a
interação entre essas duas instituições nas quais, quase sempre, a
Bronfenbrenner (1996) defende que é possível identificar criança está inserida.
uma multiplicidade de influências sobre a criança ao longo do seu
No caso mais específico referente às crianças abrigadas
desenvolvimento (mãe, pai, avós, educadores etc.), sendo que estas
observa-se que nesses ambientes os vínculos familiares não são
influências são bidirecionais e se caracterizam pela reciprocidade.
16 Célia Vectore 161
Estratégias Mediacionais

suficientemente estabelecidos, quando não se encontram totalmente


risco tanto pela ameaça direta quanto pela ausência de oportunidades
ausentes. Em geral, a pobreza material, acrescida às dificuldades como,
(Garbarino & Ganzel, 2000).
por exemplo, da distância geográfica entre a instituição e a residência
Por outro lado, Masten, Best e Garmezy (apud Oliveira-
familiar, toma por rarear as visitas, solidificar o abandono e consolidar a
institucionalização da criança, privando-a, na maior parte das vezes, da Formosinho, Sousa & Araújo, 2004) ponderam que se a adaptação a
convivência em outros contextos de desenvolvimento. um novo contexto, em virtude de situações adversas, for bem sucedida
pode suscitar mecanismos de resiliência, os quais permitem à criança
Desse modo, a institucionalização ratifica o fracasso do
uma maior competência em lidar com circunstâncias ameaçadoras.
microssistema familiar que trata-se de um contexto marcado,
Os estudos teóricos realizados no âmbito da ciência psicológica
geralmente, por abusos físicos, sexuais, negligência, ausência parental,
enfatizam a importância da compreensão das interações e de suas
psicopatologia parental, alcoolismo e/ou comportamento anti-social dos
implicações nos diferentes contextos que subsidiam o desenvolvimento
pais (Oliveira-Formosinho, Sousa & Araújo, 2004, p. 202). E interessante
observar que no Brasil o motivo mais freqüente para as crianças humano, conforme aponta a perspectiva ecológica desenvolvida por
estarem em abrigos é a pobreza, de acordo com a já citada pesquisa Bronfenbrenner, a qual pode ser comparada, de acordo com Braga (2002),
realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2003), com a abordagem sistêmica em Psicologia, cujo enfoque é a pertinência
sendo seguido pelo do abandono, pelo da violência doméstica, pelo do indivíduo a vários sistemas, tais como a família, os amigos e a escola.
da dependência química dos pais e responsáveis, da vivência de rua Cada grupo é um sistema ao qual o indivíduo pertence, sendo que um
e, finalmente, da orfandade. grupo tanto influencia quanto sofre a influência do outro.
Conforme aponta Osório (2000), o próprio indivíduo é um
Considerando que a criança ao adentrar em um abrigo vivência
sistema, o qual passa a ser membro de um outro, quando inserido
um difícil momento de transição ecológica, normalmente carregada de
num grupo. O principal axioma proposto pelo autor é "as partes em
fatores estressores, torna-se de fundamental importância a
sensibilização por parte da instituição das dificuldades inerentes a tal interação", representando que um grupo é mais que a soma de seus
situação. membros, que devem estar em contínua e dinâmica interação. E é
esta interação, esta reciprocidade, que forma o processo de
É comum observar, dentro do contexto da instituição, que o
retroalimentação, que acaba por abastecer o próprio sistema.
primeiro grande impacto sofrido pela criança é o despojamento de
Os trabalhos desenvolvidos tanto por Bronfenbrenner, quanto
todas as suas referências existentes até então; muitas vezes, até as
pela abordagem sistêmica, mostram a importância de se criar no
roupas íntimas são coletivas, o que pode acarretar o comprometimento
da construção de sua identidade infantil, uma vez que ali tudo é de espaço institucional, um acolhimento efetivo, possibilitando na
todos e nada é de ninguém. transição ecológica de um contexto ao outro modos mais adequados,
considerando principalmente a formação de vínculos estáveis entre os
A institucionalização exige a adaptação a novos contextos e
cuidadores e as crianças.
papéis, o que pode ser vivenciado pela criança como uma tarefa
hercúlea, além de suas possibilidades, sendo desejável que a instituição
ofereça alguns mecanismos para a superação desse delicado período,
como: a pertinência de um acolhimento individualizado; a avaliação das O programa MISC
necessidades infantis; a consideração pelo contexto familiar de cada e a formação dos mediadores
criança, entre outros.
O desconhecimento do processo de desenvolvimento humano O programa MISC- Mediational Intervention for Sensitizing
atrelado às práticas inadequadas no contato com a criança dentro do Caregivers- tem como objetivo a formação de recursos humanos, de
contexto institucional tem gerado estudos mostrando que, com modo que esses possam atuar como bons mediadores em suas
freqüência, a institucionalização não promove o desenvolvimento interações com as crianças sob os seus cuidados.
infantil e, o que é pior, acaba por se constituir como mais um fator de A construção de uma boa mediação fundamenta-se, segundo
Klein e Hundeide (apud Silver, 2001), na necessidade de definir,
16 Estratégias Mediacionais 163
Célia Vectore

avaliar e modificar as variáveis de comportamento dos adultos que para responder a essa mediação, a qual é expressa através de suas
se constituem em condições necessárias e suficientes para a respostas verbais ou não verbais a tal comportamento.
realização de uma adequada interação entre pais e filhos ou ainda A expansão está presente quando o mediador tenta ampliar a
entre educador e educando no seu sentido mais abrangente. compreensão da criança daquilo que está à sua frente, fornecendo
Portanto, tal programa pode ser utilizado tanto com famílias quanto novos subsídios para o que deve ser compreendido. Normalmente
em contextos institucionais mais específicos. ocorre através da explicação, da comparação e do acréscimo de
Parte desse programa já foi adaptado às condições brasileiras novas experiências além das necessárias para o momento.
para a interação mãe-criança e educadora-criança (Vectore & A afetividade diz respeito a toda a energia emocional
Alvarenga, 2004; Vectore & Silva, 1999), procurando identificar os utilizada pelo adulto durante a interação com a criança, levando-a a
comportamentos específicos das mães e das educadoras, que afetam a compreender o significado dos objetos, pessoas, relações e eventos
capacidade cognitiva da criança pequena, especificamente em relação ambientais.
à faixa etária de zero a três anos, de modo a aprender transcendendo as A recompensa ocorre quando os adultos expressam satisfação
experiências concretas do aqui e agora, utilizando-as para desafios com o comportamento das crianças e explicam o porquê de estarem
futuros, ou seja, aguçando seus sentidos, propiciando encadeamentos e satisfeitos, facilitando à criança sentimentos de autocontrole, de
associações entre os eventos quotidianos e também planejando, capacidade e sucesso, além de ampliar a sua disponibilidade para
avaliando e finalmente testando a realidade. explorar ativamente o novo.
É interessante observar que, segundo Klein e Hundeide (1992), A regulação do comportamento ocorre quando o adulto
as crianças que não desenvolvem a capacidade de correlacionar os ajuda a criança a planejar antes de agir, levando-a a se conscientizar
eventos, tendem a perceber o mundo de forma fragmentada e com da possibilidade de "pensar" antes de agir, planejando os passos do
poucas condições de encontrarem significados para aquilo que não é seu comportamento para atingir um objetivo.
percebido diretamente pelos seus sentidos. O Programa MISC inclui tanto componentes estruturados quanto
Tanto os pais quanto outros adultos, que efetivamente tomam desestruturados. O componente estruturado diz respeito ao programa de
conta da criança e que assumem o papel de educadores, podem formação dos mediadores, o qual acontece normalmente em oito
beneficiar-se do Programa MISC, pois aprendem a melhorar suas sessões, após a identificação do critério de mediação mais utilizado pelo
percepções sobre a criança e suas possibilidades de desenvolvimento, adulto, sendo assim organizado:
além de fomentarem em si a representação de bons mediadores,
• Sessão 1 - O que é mediar?
segundo Klein (apud Kunkle, 2003).
• Sessão 2 - Criar os próprios exemplos de mediação.
Os comportamentos que levam a uma boa mediação foram
identificados por Reuven Feuerstein (1980) e descritos em sua • Sessão 3 - Demonstrar a mediação dentro do seu contexto.
teoria sobre a modifícabilidade cognitiva, cujo ponto nevrálgico é o • Sessão 4 - Identificar os critérios mediacionais.
postulado "todo o ser humano é modificável" e para isso deve • Sessão 5 - Conhecer as muitas possibilidades de mediação.
contar com um bom mediador. • Sessão 6 - Testar as habilidades mediacionais.
Klein (1996a, 1996b) descreve cinco comportamentos básicos • Sessão 7 - A mediação junto às populações de "risco".
numa mediação de qualidade, ou seja, a focalização, a expansão, a • Sessão 8 - Identificar a mediação nas interações adulto-
afetividade, a recompensa e a regulação do comportamento. criança.
A. focalização ocorre quando o mediador assegura-se de que a O componente desestruturado está ligado às interpretações
criança está direcionando a atenção (focalizando) em algo que está ao culturais, que vão organizar os critérios de mediação em cada população
seu redor e que deve ser a ela ensinado. Deve estar clara a indicação da a ser trabalhada e dão suporte ao programa propriamente dito. Portanto,
intencionalidade do adulto para mediar e a reciprocidade da criança nas sessões são utilizadas as experiências vivenciadas pelo próprio
Célia Vectore Estratégias Mediacionais

grupo, as quais foram anteriormente documentadas por meio de


mediação familiar e as habilidades das crianças, principalmente em
video-gravações, permitindo que sejam acentuados os fatores
idiossincráticos de cada cultura. E interessante apontar que em um relação à atenção, fator importantíssimo para o desenvolvimento do
estudo brasileiro com mães de baixa renda, Vectore e Silva (1999) ser humano em todos os seus aspectos.
encontraram a utilização freqüente do critério regulação do A análise dos estudos supracitados leva-nos a concluir que,
comportamento, enquanto o critério denominado expansão foi o que sensibilizar e oferecer às famílias estratégias mediacionias, retiradas de
teve menor ocorrência, provavelmente em virtude do baixo nível de seu meio cultural e sem a necessidade de instrumentos sofisticados para
escolaridade da população estudada. a sua implementação, pode contribuir na reorganização do contexto
familiar, propiciando a tão desejada reinserção da criança ao seu lar
De acordo com Hundeide (2003), bons mediadores devem ter
como características desejáveis o conhecimento das necessidades biológico. Para tanto, é necessário a identificação das habilidades
infantis, uma profunda compreensão da realidade socioeconômica e positivas ainda preservadas pelos grupos familiares, enfatizando a
cultural da população que receberá a intervenção, além da capacidade dimensão "salutogênica", que foca os aspectos sadios e de sucesso do
grupo familiar ao invés de remarcar os desajustes e falhas (Yunes, 2004, p. 66).
para criar relações empáticas e não autoritárias. Ter capacidade para
prever e utilizar recursos mediacionais simples, como brinquedos e
brincadeiras, e conhecer a sua importância para o desenvolvimento
infantil também se constituem num atributo altamente pertinente para O projeto APE
o mediador, especialmente no trabalho com crianças pequenas. O
programa tem mais a formatação de um processo de facilitação e O projeto APE, idealizado pelos pesquisadores ingleses
sensibilização, que um procedimento de instrução impositiva Pascal e Bertram (1999), e conhecido como "Processo de Avaliação
altamente estruturado e rígido. e Melhoramento da Qualidade na Aprendizagem Pré-Escolar
Efetiva - APE", visa aferir a um atendimento, intervir nele e
Ressalta-se que os estudos como os de Chiswanda (1997), promovê-lo. Tal projeto foi trazido ao Brasil por Oliveira-
Seokhoon (2001) indicam que as crianças, cujos pais ou educadores Formosinho (2000) e está sendo implementado em alguns Estados
participaram do programa tiveram um melhor desempenho nas brasileiros, por meio da rede de pesquisadores coordenada por
habilidades envolvendo linguagem e abstração, bem como Kishimoto (Vectore, Maimone & Costa, 2003).
apresentaram um pertinente desenvolvimento social, sendo capazes de As bases psicológicas do Projeto APE encontram-se em Laevers
se empolgarem e apreciarem o sucesso de outras pessoas. Além disso, (1993,1996), em que o autor realça a importância do "envolvimento" na
as crianças que recebem uma mediação cuidadosa dos adultos tendem aprendizagem, mensurando-o através da "Escala de Envolvimento
a também propiciar aos outros uma boa mediação. Leuven para Crianças Pequenas". Laevers acredita que o envolvimento
Levando-se em conta que as famílias cujas crianças encon- é uma qualidade da atividade humana, podendo ser reconhecido pela
tram-se abrigadas raramente são atendidas por projetos ou políticas concentração e persistência, caracterizado pela motivação, atração e
eficazes, capazes de reverter tal situação, minimizando ou extin- entrega aos estímulos e pela intensidade da experiência, tanto em nível
guindo os fatores de risco que culminaram com a institucionaliza- físico, como cognitivo e ainda por uma profunda satisfação e forte fluxo
ção, acredita-se que o Programa MISC, ao ser empreendido com de energia. Além disso, o envolvimento é determinado pela tendência
tais famílias possa se constituir num instrumento adequado, devido para explorar o desconhecido e pelo desejo da criança em compreender a
à maleabilidade e à flexibilidade de sua execução, bem como na realidade.
consideração dos aspectos culturais de cada contexto envolvido. Desse modo,
É interessante apontar que o recente estudo empreendido pelo
National Institute of Child Health and Human Development (2003) uma criança envolvida está totalmente focalizada, conscien-
mostrou, através de dados e números, a íntima relação entre a temente concentrada e totalmente imersa na atividade que
está a fazer, seja ela social, matemática, lingüística, científi-
16 Estratégias Mediacionais 167
Célia Vectore

ca, espiritual ou, muito provavelmente, uma mistura de to- com valor próprio) e a compreensão empática (quando o educador é
das elas (Pascal & Bertram, 1999, p. 23). capaz de se colocar no lugar do outro). O conceito de empenho
A escala de envolvimento da criança de Laevers possui dois aborda este conjunto de características que sinalizam a natureza da
componentes: uma lista de indicadores característicos de um relação entre o adulto e a criança.
comportamento de envolvimento e os níveis que são apresentados Assim, baseando-se nos estudos de Rogers, Ferre Laevers (1993)
numa escala de cinco pontos. Os indicadores de envolvimento que o identificou três categorias no comportamento do adulto, que são:
autor considera são: concentração, energia, complexidade e • Sensibilidade: a atenção e cuidado que o adulto demonstra ter
criatividade, expressão facial e postura, persistência, precisão, para com os sentimentos e bem-estar emocional da criança,
tempo de reação, linguagem e satisfação. Estes indicadores são incluem também sinceridade, empatia, capacidade de
meios para uma melhor compreensão do observador, ou seja, resposta e afetividade.
aspectos que permitem-no apreciar o envolvimento da criança. Os • Estimulação: o modo como o adulto concretiza a sua
níveis são assim classificados: intervenção no processo de aprendizagem e o conteúdo
1. Sem atividade; dessa intervenção.
2. Atividade interrompida freqüentemente; • Autonomia: o grau de liberdade que o adulto concede à criança
para experimentar, emitir juízos, escolher atividades e
3. Atividade quase contínua;
expressar idéias e opiniões. Engloba também o modo como o
4. Atividade contínua com momentos de grande intensidade; adulto lida com os conflitos, regras e problemas de
5. Atividade intensa prolongada. comportamento.
É interessante observar que para a ocorrência de envolvimento Esta escala, cujo formato é de uma escala de cinco pontos, é
é necessário que a criança atue na zona de desenvolvimento proximal, utilizada para observar os educadores e outros adultos nos momentos
onde a solução de problemas só é alcançada sob orientação de um de interação com as crianças, possibilitando a caracterização dos
mediador (Vygotsky, 1989). estilos educativos mais comuns num determinado contexto. É assim
Outro aspecto de fundamental importância, quando se destaca a constituída:
preocupação com a qualidade dos serviços oferecidos às crianças, é
considerar a disponibilidade do adulto para fomentar o desenvolvimento • Ponto 5: representa um estilo de empenho total.
infantil. Uma oportuna revisão realizada por Spodek & Brown (1996) a • Ponto 4: representa um estilo predominante de empenho,
respeito dos modelos curriculares adotados na educação da criança mas com algumas atitudes de falta de empenho.
pequena permite observar que há uma correlação direta entre ensino de • Ponto 3: representa um estilo em que não predominam
qualidade e certas qualidades atitudinais do educador. nem as atitudes de empenho, nem as de falta de empenho.
O projeto APE reconhece a correlação acima apontada ao • Ponto 2: representa um estilo, principalmente de falta de
considerar a Escala de Empenho do Adulto. Esta escala foi empenho, porém é possível observar algumas atitudes de
construída para permitir uma avaliação da eficácia do processo de empenho.
ensino desenvolvido em instituições infantis, tendo sido originada no • Ponto 1: representa um estilo de ausência total de empenho.
trabalho de Carl Rogers (1983), que identificou algumas das E quando não há como avaliar o comportamento do adulto
qualidades facilitadoras da aprendizagem, como: a sinceridade e a em qualquer uma dessas categorias de ação, há a opção NP
autenticidade (quando o educador se apresenta tal como é, e não referente à ausência de comportamentos do educador em relação à
como uma fachada); a aceitação, a valorização e a confiança (quando criança, ou seja, o educador realiza outros serviços não ligados
o educador aceita, valoriza o aprendiz e confia nele enquanto pessoa inteiramente à criança.
16 Célia Vectore 169
Estratégias Mediacionais

Desse modo, a escala de empenho pennite focar o olhar do


de desenvolvimento da criança. Acredita-se que seriam
observador nas características de intervenção do adulto, considerando a
sua sensibilidade em relação à criança, a sua capacidade de perceber a interessantes estudos mostrando sua possível pertinência em
vulnerabilidade infantil e de estimular, portanto, a sua autonomia, contextos como os de abrigo, haja vista a carência de propostas
desenvolvendo a possibilidade de uma convivência legítima, sem a educativas que possam representar um ganho efetivo tanto para as
presença da manipulação (Maturana, 1997) tão freqüente nas interações crianças ali institucionalizadas, quanto para suas famílias; bem
adulto-criança. como para os educadores cuja falta de delimitação de suas funções,
Considerando as dificuldades inerentes envolvendo uma não poucas vezes, emperra e prejudica o trabalho que deve ser
conceituação universal sobre critérios de qualidade, uma vez que desenvolvido.
são culturais, dinâmicos e mutáveis, o programa descrito propõe Um estudo brasileiro em andamento - Vectore e colaboradores
dez parâmetros, que devem ser avaliados num serviço de qualidade - tem buscado identificar quais são os comportamentos de
à criança. Ei-los: envolvimento exibidos por crianças de até seis anos em diferentes
1. Metas e objetivos; contextos institucionais, além de identificar os comportamentos de
empenho emitido pelos educadores infantis em sua prática diária com
2. Experiências de aprendizagem enriquecedoras; as crianças. Espera-se que tal trabalho lance alguma luz, no sentido de
3. Estratégias de estimulação ambiental; permitir o aflorar de um adequado nível de envolvimento das crianças,
4. Planejamento, avaliação e manutenção de registros; quanto de empenho dos adultos, de modo a contribuir com a
5. Organização da equipe técnica; organização das metas de qualidade envolvendo principalmente as
crianças, os familiares e os educadores da instituição abrigo.
6. Espaço físico;
7. Relações e interações;
8. Igualdade de oportunidades; Psicologia escolar/educacional
9. Parceria parental e ligação entre o lar e a comunidade
e mediação: possibilidades
10.Gestão, monitoração e avaliação.
de trabalho em abrigos
O processo de avaliação e melhoramento da qualidade do
As inúmeras variáveis presentes no contexto das instituições
sistema APE submete os participantes a um processo sistemático e
infantis, em especial nas instituições - abrigo, cujas crianças ao
rigoroso de Avaliação e Controle da Qualidade, o qual possui quatro
fases: avaliação (inclui as escalas de envolvimento da criança e de adentrarem as suas portas já trazem a história de uma série de
empenho do adulto), planejamento da ação (planejar com um privações quer sejam de ordem material ou psíquicas exigem do
levantamento das prioridades de ação, recursos e competências), profissional da Psicologia uma ampla variedade de competências
melhoramento da qualidade (com um programa de desenvolvimento que, muitas vezes, a passagem pela academia não pode propiciar.
individual e/ou institucional relacionado com as prioridades O trabalho envolvendo a compreensão dos aspectos idiossin-
estabelecidas previamente) e reflexão (avaliar comparando os cráticos da instituição, a vulnerabilidade da família, a fragilidade e
resultados, captando as alterações na qualidade da aprendizagem). as necessidades da criança, os procedimentos legais que envolvem
Considerando que tal projeto pode ser implantado e instituições desta natureza corroboram para a necessidade de uma
desenvolvido em qualquer contexto, sendo o seu impacto vasto e reflexão contínua sobre a efetividade das práticas ao alcance do psi-
diversificado, por fomentar, entre outras habilidades, o cólogo, bem como para a adequação das mesmas em tão diferencia-
desenvolvimento da autonomia na infância e o incentivo da do contexto.
participação dos grupos familiares, enquanto parceiros no processo Questões sobre a pertinência da institucionalização como um
recurso alternativo aos contextos desenvolvimentais inadequados e
170 Estratégias Mediacionais
Célia Vectore

a efetiva capacidade da instituição nos moldes atuais de tornar-se Os programas acima mencionados devem, por meio da
promotora de desenvolvimento, ou seja, capaz de aferir um serviço discussão e compreensão dos conhecimentos científicos, capacitar
de qualidade às famílias e às crianças sob os seus cuidados, o mediador, seja ele o educador ou a família, na superação dos
constituem-se em incômodas dúvidas que nos assolam e desafiam o conceitos espontâneos (ruptura com a forma de pensamento e ação
nosso conhecimento na busca de um atendimento capaz de garantir, próprios do cotidiano), de modo que possa atingir um novo patamar
pelo menos minimamente, um adequado acolhimento da criança de interações mediacionais, redimensionado através de:
em um momento tão adverso de sua vida.
a. Incremento de competências técnicas e didáticas;
O abrigamento da criança em idade tão tenra traz em si uma
grande responsabilidade por parte de quem efetivamente se b. Atitudes, valores e comportamentos (ligados ao conheci-
responsabilizará por esse ser humano em desenvolvimento, mento do desenvolvimento infantil numa perspectiva holís-
gerando necessidades como a organização da instituição para o tica e à ética profissional);
acolhimento e o aflorar de vínculos estáveis, além da capacitação e c. Capacidades relacionais e colaborativas (superação da
da sensibilização de seus profissionais sobre a importância do solidão profissional e dos sentimentos de impotência);
trabalho ali desenvolvido e do impacto dessas experiências na vida d. Capacidades de organização e gestão institucional.
das crianças, o que torna desafiadora a intervenção do psicólogo
inserido em tal contexto educativo. A interação da tríade instituição - família - comunidade é
vital em propostas dessa natureza, considerando a importância
Por outro lado, a possibilidade de garantir a adesão e o
desses três contextos como fonte de conhecimento e formação para
envolvimento dos pais, para que não desistam de seus filhos e
construam mecanismos para trazer a criança de volta para casa é um o desenvolvimento humano.
outro desafio a exigir competência e aprimoramento profissional Desse modo, é de fundamental importância, num primeiro
contínuo. Conforme salienta Arola (2000, p. 95), não podemos momento, a clarificação do conceito de criança refletido nas práticas
esquecer que o foco da intervenção é a família e não a criança, mesmo institucionais. Numa instituição alicerçada nos parâmetros de
quando os filhos encontram-se abrigados. qualidade, a criança é vista como sujeito de direitos, ou seja, direito a
Assim, com o intuito de iniciar a discussão sobre possíveis ser educada de forma que alcance o seu pleno desenvolvimento, além
modos de atendimento em abrigos, os programas aqui apresentados, de ser competente, rica e potente (Dahlberg, Moss & Pence, 2003), o
desde que devidamente adaptados ao contexto em questão, poderão que significa a possibilidade de investir na criança enquanto
subsidiar as práticas do profissional da psicologia escolar/educacional. promotora de sua própria cultura e não apenas reprodutora das
Observa-se que tanto o Programa MISC quanto o Projeto APE práticas sociais já estabelecidas pelos adultos e assim, enriquecer as
lançam luz em um ponto pouco discutido em relação aos procedi- experiências vivenciadas por ela.
mentos de intervenção, representado pelo fomento às dimensões Em síntese, a qualidade do atendimento à criança abrigada deve
simbólicas e subjetivas do indivíduo em formação. Como ambos os estar alicerçada em vários patamares, como a existência de políticas
programas contêm elementos desestruturados que devem ser consi- públicas eficientes, a consolidação de um projeto educacional visando
derados ou estruturados a partir das necessidades e particularidades à capacitação dessas instituições e também na necessidade de
culturais da população a ser atendida, tem-se que o conhecimento e a compreender que a utilização de estratégias mediacionais pode ser
escuta das subjetividades parecem propiciar uma melhor adesão do fundamental para a promoção do desenvolvimento no contexto da
participante em relação ao que deve ser implementado. Olivei- instituição, devido à possibilidade de enriquecimento das estimulações
ra-Formosinho (2001) considera tais escutas um componente essen- ambientais, através das interações estabelecidas com os pequenos,
cial dos processos formativos, devido às possibilidades de libertação advindas de bons mediadores.
das angústias e do stress profissional. A possibilidade de conhecer profundamente os diferentes
contextos responsáveis pelo desenvolvimento da criança e de suas
Célia Vectore
Estratégias Mediacionais

famílias torna o profissional da psicologia, em especial o psicólogo


escolar/educacional, um elemento de vital importância no Referências
reconhecimento da dimensão humana presente nessa grande rede Antunha, E. (2000): "Jogos sazonais" - Coadjuvantes do amadurecimento das
de interações, conscientizando-se da necessidade de envolvê-los funções cerebrais. In V. B. Oliveira (Org.). O brincar e a criança do nascimento
holisticamente, orientando os seus saberes e práticas na construção aos seis anos. (pp. 33-56). Petrópolis, RJ: Vozes.
de um efetivo atendimento à infância. Arola, R. L. (2000). Casa não é lar: O abrigo como contexto de desenvolvimento
Assim, concordamos com as considerações de Oliveira- psicológico. São Paulo: Salesiana.
Formosinho, Sousa e Araújo (2004, p. 229) sobre Braga, E. M. (2002). Promoção na qualidade da educação infantil: Uso das
escalas de empenho do adulto e envolvimento da criança (relatório de bolsa de
... as questões Deverá ou não a institucionalização ser iniciação científica encaminhado a FAPEMIG), Faculdade de Psicologia,
considerada um recurso alternativo a contextos Universidade Federal de Uberlândia.
desenvolvimentais desadequados? É ou não promotora de Bronfenbrenner, U. (1996). A ecologia do desenvolvimento humano: Experimentos
desenvolvimento? A resposta é sim se o trabalho institucional na naturais e planejados. Porto Alegre: Artes Médicas.
proteção e assistência à infância constituir um cenário propício Chiswanda, M. (1997). Hearing mothers and their deaf children in Zimbabwe:
ao desenvolvimento humano, favorecendo a construção de Mediated learning experiences. (pp. 44-46). Dissertation. Oslo, Norway:
novos significados para a experiência, a construção de recursos Department of Special Education, Faculty of Education, University of Oslo.
para lidar com a adversidade e o desenvolvimento de Chu, J. A., & Dill, D. L. (1990). Dissociative symptoms in relation to childhood
competências. physical and sexual abuse. American Journal ofPsychiatry, 147, 887-892.
Dahlberg, G., Moss, P., & Pence, A. (2003). Qualidade na educação da primeira
Entretanto, vale observar que no exercício da psicologia infância: Perspectivas pós-modernas. Porto Alegre: Artmed.
escolar/educacional, trabalhando com as crianças, com as famílias, Feuerstein, R. (1980). Instrumental enrichment. Baltimore: University Park Press.
com as demandas e as frustrações dos educadores de abrigo, que
Garbarino, J., & Ganzel, B. (2000). The human ecology of early risk. In J. P. Shonkoff
sofrem por não tereni clareza de suas funções, pois com freqüência & S. J. Meisels (Eds.). Handbook of early childhood intervention. (pp. 76-93),
atitudes que são primariamente do grupo familiar devem por eles ser Cambridge: Cambridge University Press.
tomadas, põem em xeque o quanto podemos intervir e a efetividade de Gois, A. (2004). Menor é melhor. Folha de S. Paulo. [On-line] Disponível em:
nossa intervenção. <http://wwwl.folha.uol.com.br>. Acesso em: 05/02/2004.
Nessas situações, ser psicólogo é vivenciado de forma dolorosa Hundeide, K. (2003). An introduction to the 1CDP Programme. [On-line]
e desconfortável, perante as demandas de tão diversos atores Disponível em: <www.ed.psu.edu./.>. Acesso em: 05/08/2004.
institucionais e a impossibilidade de se ter soluções prontas e/ou Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2003). Levantamento nacional de
acabadas. Assim, é evidente que o trabalho não acontece de forma abrigos para crianças e adolescentes da rede SAC. Brasília: Autor.
harmônica ou linear, pelo contrário, é marcado por uma grande dose de Klein, P. S., & Hundeide, K. (1992). Mediated learning experiences and at-risk
angústia, que precisa ser experienciada pelo profissional, a fim de children. In L. R. Williams & D. P. Fromberg (Eds.). Enciclopédia of early
poder ser trabalhada. childhood education. New York: Garland Publishers.
Uma palavra final talvez deva ser acrescentada para lembrar Klein, P. S. (1996a). Early intervention: Cross-cultural experiences with a
que nesses momentos de dúvida ou de desânimo, a atitude de Hércules, mendiational approach. New York: Garland Publishers.
ao vencer a "hidra de Lerna" quando reconheceu a sabedoria das Klein, P. S. (1996b). Early childhood education: Seventy-first yearbook of the
palavras de seu Mestre que "nós nos elevamos, ajoelhando", possa nos national societyfor the study ofeducation. Chicago: University of Chicago Press.
ajudar a ter humildade para reconhecermos nossa impotência, porém Kunkle, C. (2003). Educators can use mediational intervention to help students.
atrelar a coragem e a discriminação para a busca de novas práticas, Penn State University. [On-line] Disponível em: <http://www.ed.psu.edu/.>.
posturas e possibilidades de atuação. Acesso em: 10/04/2004.

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