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O patinho foi a julgamento e todos os
animais estavam presentes. Havia a sensao
compartilhada de que algo de muito importante
estava j a acontecer quando os juzes
comearam a uivar para o incio do julgamento.
Como sempre faziam na quinta, o acusado teve o
dever de pronunciar-se sobre a sentena:
- Eu vou-me matar nem que seja a ltima coisa
que eu faa. Acham que eu no consigo impedir
o corao com o pensamento?! - uns riam,
outros estavam em choque - O suicdio prova o
qu?! Pena natural?! Mas vocs so malucos?!
Acham que eu no sei que vou morrer?! Acham
que eu no sei que vou morrer?!
- Ordem no tribunal! Ou o arguido modera o tom,
ou..
- Ou o qu? No me deixam matar-me?! Vocs
so todos malucos, todos!
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A sesso terminou por ordem dos juzes e o
pato foi obrigado a viver. Preso por todas as
partes, lavado lngua sem deixar a cama de
ferros e alimentado por injeces, o pato passou
anos a tentar persuadir os guardas peludos a
deixa-lo morrer.
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A dada altura, como a lei no previa um caso
destes e ningum pensou nisso a tempo para
mudar, o pato tornou-se Coordenador do Sistema,
posto que o cargo era direito do animal mais velho.
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Foi libertado direitinho para a tomada de
posse, na qual dispunha de um palco para
discursar:
- Nesta quinta, nasci filho de uma pata que j no
se encontra entre ns. No fiz muitos amigos;
tampouco o procurei fazer. Estou perante vs
como lder, libertado esta tarde, j no mais
aprisionado pelo sistema mas com ele por baixo
da asa. Oiam. A vida conseguiu ser pior do que
eu poderia supor quando tentei matar-me.
Fizeram tudo para manter-me vivo e consciente,
preso ao interior do meu prprio corpo. Implorei
para morrer a ces, a cavalos, a porcos... Eu no
queria cometer suicdio: eu queria morrer.
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Depois de dizer isto, o pato lanou-se de
peito a uma estaca e sentiu muitas dores antes de
falecer. Isto sim, um pato com sangue no olho.
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