You are on page 1of 147

Amar é humano e fácil, apenas é necessário um coração!

Sentir o amor dos outros por


nós é bem mais difícil, é próprio dos Deuses, são necessários dois corações...
Por esta razão, estes poemas são dedicados a todos aqueles que eu amo e sobretudo
aqueles, que de alguma forma, se sentem por mim amados.

1
PARTE UM

2
COBARDE

Poltrão te mostras Inferno,


Porque te escondes oculto
Armado e dizes que és terno!
Não te cala impune o vulto
Cadavérico das trevas,
Onde enlevado dominas
Onde entravado me levas,
Cobrar-me das minhas sinas.

Não te despi nesse credo,


Descrente mártir da crença
Senti-te puro de ofensa!
Com passo que mal arredo,
Pensando-te paraíso
Dei-te pensar por instantes,
Ho!, tumba vil dos errantes,
Dá-me o nocivo juízo:

Viverei com as lágrimas não derramadas


Em sangue que por mim não tenho, oferendadas.

NOITE

Embalando o berço
Rosário e terço
Oração na noite.
Dormem os ponteiros
Esperando o açoite
Dos tempos, inteiros.
Dessa noite o fumo
Igual e sumo,
Já claro no brilho
Continua baço,
Ilumina o trilho
Nesse morto abraço.

Suplica uma vida


Trá-la depois de ida!
Viva, depois de ida.

3
NADA TE É COMPARÁVEL

Soubesse minha voz em Português correcto,


Dizer-te sem receio de temer teu veto,
Que procuro e a ti nada tenho comparável,
Que por ti nem a dor doente me é lesável.
Pudesse o coração meu tornear teus braços,
Em graça o amor furtar desses carnais abraços,
E com ou sem espada, capa ou véu tentar ser,
O que em torno de mim teus braços assim vão ter.
Teu coração por mim não, jamais se compara
Ao que de preferência ele nunca amara,
Ao amor desesperado que nele buscava
E no sacrificado prendar se escusava.
Desse ilhéu encantado quero o mapa, o instinto
Desse outro amor jamais vivido, digo extinto
Do castanho meloso, do amor teu nascente,
Rogo-te a petição de um olhar diferente.
Dá-me da baioneta o fio te suplico,
Por amor sem suplício me sacrifico,
Só queria da brisa o tom da voz estável
Para dizer a ti ninguém é comparável.

VERÃO DE OUTRORA II

Numa dolência atroz digo e sinto


O coração sangrar, até lá quero
Amar-te em sonho por sangrento esmero,
Nunca estancando o sangue, o amor que finto.

O amor nasceu, quem a cuidado o quer ter?


Faremos nós de nossas mãos cautela,
Vais minha mão possuir crente, vela
Para tomar vã extorsão do vil ser!

Nada me apraz neste mudar constante,


Numa ruela de lugar distante
Procuro só, o ido Verão de Outrora.

Caminhos ínvios, manchados, sujos,


Lágrimas vos hão-de limpar intrujos,
Do sangue pelo sangue já sem hora.

4
AS PENAS DO AMOR

Definha triste no vento


A pena órfã com que escrevo,
Teu olhar que sorri de atrevo
Colorindo o sentimento.
Flagela-me ainda essa pena
Que me vai cirrando amena,
Que mirrando sei que aflora
Porque germinando chora.
Emerge à tona sem guisa
Face prostrada ante a brisa,
Abraçando a espuma ousada
Da tristeza instrumentada.
Como das aves se aparta
Da procela calma farta,
Embriona já desejo
Na placenta do que ensejo.

ASILO ENVELHECIDO

Dragado amor porque razão te asilas


No desterrado já rebuço? O Nilo
Oxida o turvo do imoral asilo,
Sorriso crespo que já não cintilas.

Onde os deixámos procurando casa,


Nos deixarão lá a nós sós chorando
Cientes da écloga deturpe amando,
Caruncho são, cansado e sem calasa.

A caridade ao quilo pão lhe chamam,


Mais valerá os corações que enganam,
Logo desseca em precaução, cuidado!

Sucata humana, não! Paredes nadas,


Frias e forradas a prisões forjadas,
Encarecendo o amargo sem amado.

5
PORTUGAL

Quiseram-te chamar néscio país nosso,


Sonharam de ti não sei que esponsal só vosso,
Disso, de quê? De todos, por tudo esquecido
Quem és tu, Portugal de berço enriquecido?
Guimarães é alcova de Henriques só, tão só
Nesta imensidão que és. Teu berço de embalar, mar
Navegante perdido nas montanhas em pó,
A ouvir medieval trova em rima, mas sem par.
Da ladeira oceânica veio luz de oiro
Rubis enamorados desse bom agoiro,
Enormes descobertas de novas jazidas
Negada ostentação ante tão novas vidas.
Das ilhargas Beirãs, conflitos e tratados
Com o próximo sôfrego de sede por nós,
Enclave do sul, cauda avir dos avançados,
Desaguas, procuras ver o que dá à foz.

PÉTALAS DE AMOR

Plantas de um campo fértil tragam vurmo,


Vivendo em estações diversas voam
Por florir diferentes que me ecoam,
Afluentes do enredo onde vos durmo.

Peço que me regueis em perdão sumo


Por um beijo meu, tanto ou mais escoam
Em sulcos erodidos que me entoam,
Da vossa boca um choro a que me assumo.

No vento expatriadas vão e sem cor,


Rumo a um profundo zénite invejado
Pétalas do meu amor, por enquanto em flor.

Sopraram-me na pele como a ver-me,


Híbridas e fingidas sem legado,
Rasgaram-se tentando no vão ter-me.

6
ESPERANÇA

Range dentes em mim minha esperança,


Feita corda nas minhas mãos vencilhas
Mal a seguro e trémulo, sem trilhas
A vou deixando arder, alegre e mansa.

Deixou-me cuidadoso, na fiança


De um coração que sei com muitas bilhas,
Bilhas de amor até que volte em milhas,
Passageira na flor presa que dança.

Para isso quer um vórtice em som calmo,


Bramido lancetado em que desalmo,
A lonjura cansada que ma afasta.

Porque sei malfeitora a despedida,


Tentei dizer adeus antes da vida
No alvorecer de tudo, pouco agasta!

FLOR MARINHA

Dizem o vento hoje selvagem, brasa


Viva que não magoará a minha
Flor, mergulhada num jardim sozinha,
De uma cabilda de daninhas casa.

O verdadeiro amor ficou, na vaza


Da tempestade, que assolada vinha
Meu coração já assolando. A tinha
Querido amar, mas por amor me arrasa.

Desamparado procurava vida


Num coração, um lar humilde, farto
Nos que se dão em amor sem medida.

Procura sem ter esperança aparto,


Para um lugar onde morrer ferida,
Eu lho recuso sem teimar, mas parto...

7
POEMA DESCONHECIDO

Pedestal de ouro incensado


De um vermelho incandescente,
És coração perturbado
Na confusão que é a mente.

Musa és e não te mereço


Rei sou se me tens apreço,
Não, não o sou! Só o aspiro
Como por amor suspiro.

Além túmulo resido


Procurando-me perdido,
A antífona é quem me leva
Voar no seu som que eleva.

Perderam mel as palavras


No papel do tempo em lise,
Olvidarão o que lavras
Sem aval que to amenize.

17 DE JUNHO DE 1998

Um pássaro voando também plana,


Outro do mesmo bando é quem me encanta
Porque não desafina a voz que canta.
Apuraivos ouvidos que é quem sana

A dor, que por ser tão pesada é lhana,


De um calor sufocante que o ar espanta,
Turvo arrependimento que levanta
Saudade de fazer com mesma gana.

Fugi de ti medonho ter terreno,


Vivo agora em enxergas de outro feno,
Sem espiga e sem pétalas de espinhos.

Era um mosteiro sem ter castidade,


Venal até no crer, na caridade
Confusa, no babel destes caminhos.

8
AMOR CÁRCERE

De preso estar ao maior bem que prezo,


Enxergo cheio de estremunho, cedo
Enxergo cheio de espantoso medo,
A triste cárcere que mais desprezo.

É a tristeza da prisão e leso,


O que me tem preso a esse amor tão ledo,
Tropeço em túneis de luzente enredo,
Das orações que sem destino rezo.

Já dolemente imunidade quero,


Para fugir e voltar rosa pura,
Levar a idade por acaso mero.

Precocemente quem de ti se cura,


Prematuro é nesse alcançar que espero,
Eternamente procurar candura.

JUSTIÇA

A justiça são grandes veleidades,


Palavras que nas ruas nunca andaram,
Fome e degradação as sei herdades
Desta mentira que ontem aclamaram.

Tal não é condenável, só verdades


Que deram ao papel, onde acalmaram
Numa ética que só joga saudades,
Na berma social se acumularam.

Lembrar-te-ás filósofo da vida,


Agora para todo o sempre, outrora
Alguém a moldou pela falta tida.

Disparo na justiça fumegante


De uma arma carregada, luz da aurora
Sumida na mão trémula, ofegante.

9
FELICIDADE

Felicidade é luz que nada emana,


Na prospecção temos sofrer, borbulha
Certo querer mais desejar, que pulha,
Só dá retalhos com a mão catana.

Felicidade é um viver, que irmana


Com longo braço um coruchéu de agulha,
Altivo instável, fraca chama de hulha
Em analepse, que a saudade sana.

Felicidade é inalar da rosa,


Não só perfume mas a cor bacante,
Que faz perder o rumo à mariposa.

Sim, só saudades tenho na verdade,


Dessa felicidade inebriante
Que teve já morada em mim, saudade.

ANCORADO EM TI

Navegar, farto de rasgar a veste


A esse mar, tanto o nadei à deriva
Que mesmo não querendo em ti altiva
Morada, cânforas de amor me deste.

Era o teu peito a cirandar, disseste


Ser respirar mas não o aceito. Estiva
Tua nereide o amor pesado, esquiva
De mim o leva até que não me reste.

Jamais içar âncora vou, pesada


E infinita é a carga a ti legada,
Que me redoma o vento desse norte.

Aquece tuas mãos que dão amparo


Precipitando-se no estrondo raro
De me abraçar, sem atalhar a sorte.

10
NÃO O IMPLORES
QUE JÁ O TENS ...

Suspeita confessaste que atormentas


Meu coração. O amor de que sobeja
Raras vezes em mim preso o deseja,
Senão pelos teus dedos com que o tentas.

A ti todo se quer dar, como o atentas


Até a estima quer levar, ou seja,
A mim. Mas não entendo, de bandeja
To entreguei pioneiro o que alimentas.

Eras desconhecida, facilmente


Te eterizava em sonho o brando manto,
Que na agrura sei doce realmente.

E agora teu serei e tu sereia,


Minha serás ou só darás o encanto
Do teu canto à bolina que tonteia.

A PONTE DA FELICIDADE

É repelente a inveja que te emprestam,


Que em muitos por ti sobra. Em rede estreita
Faz o despoletar, da ponte eleita
Onde mergulhas os anzóis que restam.

São honras aclamadas que lhe prestam,


Na entranha do mesmo caudal que espreita,
Um olhar esquecido que se deita
Em teu ser, nas areias que protestam.

Se é amor que por ti em mim arrasto,


Esse sentir de desejar tão vasto,
Anunciem-me às lamas do desterro.

Vou sujar o incolor da água pura,


Num branco lamacento que pendura
A sua cor no verde ser de um erro.

11
TEMPO PARA OUVIR

Brandura! Brandura! Ouvidos


Que não ouvis os sonidos
Da Natureza, calai-vos
Com essas vagas de laivos.

Agasalhai-vos do vento
Escutai-o ciumento,
A furtar da chuva dada
A queda precipitada.
Abeirai-vos dos vidros da nossa janela,
Vede-os sorrir com meus olhos na lapela.

Abri de contentamento
Ao cantar de envolvimento,
Do pardal, da rebanhada
Mugida na paliçada.
Não. Não a ouvis chamar por vós, ouve-vos ela.
Machuca-vos agora a surpresa? Sois dela

Da multidão e perdidos,
Mapas desaparecidos
Tende pressas e encontrai-vos,
Tende brandura e escutai-vos.

12
“BANG A DRUM”
( Inspirado no tema do mesmo nome, incluído na banda sonora do filme “young Guns II, da
autoria de Jon Bon Jovi”)

Aprendi a rezar desesperado,


Num nada deu do amor um santo, agrado
Afável ordenou-me num sorriso,
O acreditar do coração e da alma
Algemando ao suor as mãos com calma,
Ao bramir “assim seja”,... ao paraíso.

Reza pelos pecadores


Reza pelos seus pecados,
Ora pelos perdedores
E pelos seus vencedores.
Corta em sons aziumados
Ou doces se preferires,
Os termos que proferires.

Diz algo teu pela morte


Diz do teu mundo a verdade,
Dos inocentes a sorte
Rendida ao mal que é mais forte.
Por ti filho da saudade
E por mim se te lembrares,
Vai se um irmão escutares.

Fala a pensar no futuro


Não deixes ir o passado,
Levar os heróis do puro
Para sempre sem auguro.
Promessa?! Ele está cansado
De quem as finge, mentiras
Agradáveis como liras.

Os que as fazem descrentes são, duvidam


Da humildade do Céu. Como trucidam
A compaixão que tem! Porque eles nada
De amor tecem, sovinas abatidos.
Por fim, irás pedir pelos feridos
De amor, o choro da pessoa amada.

13
“ TA PRAGMATA”
( Expressão dos antigos gregos que genericamente significa: o poder nas mãos do Homem,
porque as coisas são aplicadas e/ou transformadas por si)

Trepa-me pelos poros este barro


A subir, pela força da moldagem
Desfigurado, à força, em vassalagem
Pelo querer das minhas mãos o amarro.

Tão carinhosamente sou que esbarro


Na sordidez do mais dito selvagem,
Tentando joeirá-lo, sem passagem
Tomo nas mãos o vento com que o varro.

Alguns tombam da escada que lhes deram,


Outros sobem a braços, salientes
Veias como vergões, não desesperam.

Temo o seu rompimento, pela vida


Menos que pelo amor, dele frementes
O há-des ter no tocar deles adida!

14
PARTE
DOIS

15
SONHO

Acordo em sobressalto desperto


Do suor falto de calor,
Chagando a ferida do incerto
Com dedos raquíticos e vis
Ai! Levaste-me o sonho ainda em flor,
Sacrificaste-o ao além dos senis.

Mas sou sonhador e sonharei


Ter outro sonho e despertar,
De que jamais serei
O único a cair no sono
E de novo a sonhar,
Do teu sonho ser dono.

Ob-roga-se-me a realidade
Num virtual fingimento,
De que o nosso amor tem a mesma idade.
Salve desejo incendiado
De pelo teu pensamento
Sempre estar rodeado.

Nestas ruas em forma de vida


Por onde em fábula me arrasto,
Neste viver de forma esquecida
Apenas sonho com a realidade,
Para quem o sonho é um vasto
Sonhar com a frivolidade.

16
... de amor ele não sabe falar!

Ungiste de brilho bento


O equinócio das noites sem alento,
Neste tempo que anoitece
Onde o amor nunca adormece.
Viverei o dia eterno,
Do suspiro terno
De boa sorte que a sorte me deu
E nos teus lábios, reverbereceu.

Sei que não é condão


A indignidade da minha mão,
Nos teus cabelos curtos
Onde vivem do meu amor furtos.
Breves mas de encantos longos
Carinhos tónicos e ditongos,
Onde procuro na terra do tarol
O mais belo tropical atol.

Vagueia no castanho do teu olhar


A doçura que impede o crespar,
Da água das lágrimas que te amuam
Os ais de amor que lá flutuam.
Tartamudas são as palavras
Que tu minha caneta lavras.
Saberás meu coração amar
Se de amor ele não sabe falar?

17
SE ALGUM DIA EU PODER...

Corre-me a vida
Como o licor deste rio, perdida,
Osculando os pachorrentos penedos
Com lágrimas de mil enredos.
Num sussurrante cascatear
De um solavanco sorriso penar,
Eles vão dizendo adeus
Aos perdidos olhares teus.
Assim navego eu
No desejo que já não é meu,
Das mulheres que tanto amei
E que por amor me afastei.

Sabes que continuo a amar,


O azul do céu que se vem espelhar
No mel diamantífero
Dos teus olhos, poder mortífero.
De que adianta
A veludosa manta,
Se são as estrelas que me aconchegam
Nos momentos que não chegam.
Estas águas amam os penedos,
Por amor os afastam
Do sofrer que arrastam,
Mas sabem que em tempos ledos
Por ali voltarão a passar,
Apedrejando-os de amor
Numa pedrada sem dor,
Para sempre se evaporar.

Julga-se a vida neste direito,


De roubar a oferenda
que presenteou a lenda
de amor no teu leito.
Tu és mulher
Mas meu coração é rocha
Que da minha acracia debocha,
Se algum dia eu puder...

18
SERPENTEANDO

Afectos de castanha melodia


Pelo verde estais enamorados,
Não da paisagem que antes vos acolhia,
Mas do baú de carinhos antes estagnados.

Durante muito crespastes do mar o sal,


Surripiando-lhe tuas lágrimas entristecidas
Pela sombra de um sol estival,
Abrilhantadamente escurecidas.

Não tentes almejar tudo


Fugindo sempre do mesmo,
Esse silêncio estrondoso e mudo
Com voz de contrário vantesmo.

Se te sentires perdida,
É um novo princípio que chama
No destino da vida,
Inflamada quando clama.

Não tenhas medo da serpente


Que te estrangula o coração,
Ela é inimiga que não mente
Dos amigos que te recusam a mão.

Pede-lhe que te ensine a lutar


Sem veneno mas com a mente,
Com o calor do teu abraço a podes letar
Se não aprenderes a amar a serpente.

19
ESTUDANTE

Vaga no vago oceano


Vaga a vida de um ano,
Folhas, livros, papéis,
Fronteira dos boémios anéis.

Cinquentona a hora
Enferma que chora,
Por um décimo de vida
Que logo enoja perdida.

Inerte a preguiça
Do sol que se enguiça,
Lesto no anoitecer
Do futuro amanhecer.

Pelo asfalto caminhante


Abandona o vante,
Um marinheiro de labor
Em cada porto um amor.

Enlutas o alferes
A quem em lutas auferes,
Galhardetes e condecorações
Póstumas emoções.

Em lágrimas não rumas


Mas na calma das brumas,
Almas rochosas
Flores que não rosas.

20
RECORDAR

Recordo tão bem o ontem


Peço encarecidamente que mo contem,
Esse tempo que julguei feliz
Acorrentado a uma candura petiz.
Acode-me ainda o dia em que parti
Para o hoje rumo ao futuro que sorri,
Astutamente negando-me o não
Deu-me guarida o cometa, em vão,
Oculto na sua luz feita véu
Julgava rumar ao Céu.

Recordo tão bem o presente


A luz do cometa, cadente,
Não sabendo se fica se vai
Do passado fadar as dívidas. Voltai!
Tenho tanto para vos dizer,
No vazio das palavras ler
O amor que antes não disse,
O carinho que me permiti-se
Da quimera a realidade,
Mas pereceu de tenra idade.

Recordo tão bem o futuro


Se fico algo vai que não aturo,
Se vou algo fica
Numa fé carente que não se explica.
Serão lágrimas? Essa crença
Que chorei todos estes anos sem ofensa!
Mas é o coração que vai ficando
E fica, ao chamamento recuando,
Empunhando a tímida bravura
De viver o amanhã que perdura.

CULTIVAR O AMOR..!

O orar a Deus do agricultor


É chorar à Natureza,
A chuva que tarda, o calor
Piroga de uma certeza,
Alpaca leve do crescer,
Dos frutos do oiro, da terra
Esbraseada que berra,
Ao perfume da correnteza
Que vos quer ver, beber
Do lavrado rural que erra.
21
CAMA DE ROSAS

Os espinhos do meu dormir,


São aspérrima distância
Que nos separa com ferir,
De um canto róseo a florir.
Ouvi anjos a minha ânsia...

Rouxinóis! Afinai o cantar


E em cuidados amanhecei,
À barra dessa onde deitar
Em rosas a mulher que amar,
Dulcíssima pétala eu a sei.
Queria eu ser simbiose, contigo ir
A teu lado, na instância
De um anjo da guarda sentir,
O ladrilho que trilhas rir.
Ouvi anjos a minha ânsia...

UMA PALAVRA E UM OLHAR... OU FRASES QUE FALAM!

Ainda que eu fale


Amaríssimo mal,
Acre tal como homem
Em mim se consomem
Letras sapientes,
As dos indulgentes
Que só outrora escrevi,
No mundo as esqueci.
Debalde e perdido
Da rima esquecido,
Sem as ironias
Procuro alegrias,
Encontrei-as tristes
Nos outros, não as vistes?
Nada com instrução
Dita meu coração,
Análgico e inculto,
Qual ser disforme
Na morte conforme.

22
CORAGEM

Quem sois vós?


Vós que tendes coragem para acreditar
E corações para partilhar?
Não vos conheço a voz!
Sois estranhos
Porque estranho pareço
Insofrido e sem apreço,
Pelos caminhos castanhos
De um mapa sem fado
Esse que chamam coragem,
Mais a procuramos em voragem
Se a encontramos ao nosso lado.
Ela são sombras abandonadas
Que cimentam muros demolidos
Ainda das fundações adidos,
Como da corte de poeiras estagnadas.
És da espada a mão que a segura
E eu só, o metal amadeirado
Do sabre estropiado
Bebendo cálices de amargura,
Refugiando os vergões
Da face abraçada
Aos braços da tua espada,
Capturada como arpões
Por um chão que não me larga,
Não me deixa levantar
E eu deixo-me levar,
Filho bastardo na sua ilharga.

23
AVÔ

Avô é ser rei de um regaço,


Avô é de Deus, um abraço,
Avô é um senhor herói, senhor
Príncipe principal, avô.
Um instruído instrutor
Da vida que à morte expulsou,
Da lassidão convidar
Majólica do arvorar.
O amor de avô que entoa
Um desejo,...
Um desejo que voa
Rumo ao arvorar do homem,
Ao som do realejo
Sem desvelos que o tomem,
Sem acordes escravos
Dos espinhosos cravos.
Inebria-se louco
Pelo jovem borboto,
O avô donzel esquece
E mais se rejuvenesce.

AVÓ

Nosso berço primeiro, Nosso sofrer cimeiro


Primeiro regaço É cimeiro embaraço,
É na avó pioneiro Para uma avó inteiro
Dado o primeiro abraço. Preocupar tão baço.
Avó é um viveiro Sudário cocheiro
De onde ele nasce escasso, Ela é amarras de aço,
Feliz dorido viver Com que aloqueta o sofrer
Para o coligir de um ser. Desse por quem sofreu ao ter.

Um filho caminheiro
Descalço sem dinheiro,
Exige da morte o perecer
Avó, como bom é te ver.

24
O UNIVERSO EM TORNO DE TI

Dar-te o claro azul,


Da esmeralda coroa serrana
Do desfraldado mar do sul,
Curto manto de pérolas em ti Joana.
Acima calvas serras
Calmas nuvens,
Alvo sangue de nobres guerras
Homem do mundo clamas, não tens
Para ela suficiente,
Celestial cerúleo imponente.
Solidário, empenhou Saturno
A riqueza dos seus anéis,
Confiando-os a um vento soturno
Desabafou-lhes, não mais me pertenceis.
Serenou triste o vento
Num perene soluçar,
Por não mais sentir o acalento
Do Universo aí a fulgurar.
Explodiu de raiva, em rajadas
Escalou o infinito,
Desalojou a tristeza num grito
Que inflamou as estrelas fatigadas,
Sacudiu a giesta em flor,
Onde ainda orvalhavam
As lágrimas da sua dor.
Como o magoavam!
No tédio da convalescença,
Depressa entendeu estar na presença
Do prodígio coronário da Natureza,
Confiar o ceptro da beleza
Àquela a quem ele oscula o rosto,
Enrubescendo o envaidecer do gosto.

25
FOGO

Chama fria
Aragem que arrepia,
As peles suadas
Das léguas galgadas
Pelos soldados da paz,
Pela Natureza, seu capataz.
A árvore é uma frágil criança
Que à sorte afiança
Um dorso homicida,
Rebento degenerado
O fósforo que roga apagado,
Ser vivo sem coração, sem vida.
Não se cansa
O rio de declamar
Versos de criança,
Para o fogo alertar:
“O Homem é dinheiro,
Saciedade da Natureza
Decrépito viveiro
De poetas sem dor e sem tristeza,
Senhores de palavras imerecidas
Autores de cantatas esquecidas.”
O pinheirinho já não clama perdão,
Clama só a ânsia altiva
De abraçar a Faia sua diva,
Mas desfalece sem o desabafo do coração.
Assim o mundo
Doente, moribundo,
Se há-de sufocar na avareza
Que sufoca os estomas da Natureza.

26
TEZ RENASCENTISTA

Floresce a Primavera
Desabrocha contente,
Quem lhe dera
Um sol pungente!
Receia a profecia
Do tempo que foi, que virá
Do tempo da luz que não havia,
Do tempo da luz que não alumiará.
Enxugam ainda a face
Os mantos de um céu florentino,
Frescos de um tecto bizantino,
Dos retábulos onde nasce
O ar que não vejo,
A vida que desejo,
O amor que não beijo.

Floresce a rosa
Desabrocha carente,
Quem lhe goza
A chuva ausente?
Sente um pesaroso envelhecer
Na vacância de viver,
Um tempo uxoricida
Pândego de sua vida.
Não sente já o bulir do seu perfume,
Desse aroma que lhe extorquiu
A terra, um vulto de lume,
Génese que a sua mitose não viu
Na meiose do ensejo,
Do homizio cortejo
De caminhar sem bordejo.

27
GABAROLICE

À gabarolice chama-se regar,


Tal garganta nunca há-de secar
Por aquilo que fez e não fez,
Feliz se tal lhe causa satisfatez.

Sua alegria, a dos justos sacrifício


De tanta paciência para tal vício,
Recitar tantas baboseiras
De qualquer sanidade tamanhas asneiras.

Um raio de sol no horizonte desponta


E tanta água imprópria absorve,
Para uma nuvem que tudo ao mundo conta,
Graça tanta de verdade na Terra chove.

Escoa-se sua garganta na seca da vergonha,


Pelo que em si vai dor de traição
Corpo meu, minha mão,
Nunca no fogo por tal te ponha.

Tão grande és tu ó mundo


Como tamanho teu desconcerto,
A justiça medalhas com aperto,
O falso esplendor com ufanos sem fundo.

Será justo haver justiça


Se justos sei não haver?
Esses que vão beber
Numa gabarolice postiça!

28
EMPIRICAMENTE

Quão difícil é descrever-te beleza tua,


De olhar só o supérfluo posso contemplar,
O que só o creme das tuas mãos pode tocar,
Pois a distância que nos separa raia na lua.

Quão difícil é sentir a luz do teu olhar,


De tão escuro clareia o deslustre do meu coração,
Aquilo de teu sorriso grande estupefacção,
Pois em mim vai num tumefacto esporar.

Quão difícil é amar sem sonhar,


Que delícia, o coração nunca se enganava
Naquilo que com a mente sonhava,
Neste escabelo sempre me hei-de anestesiar.

Quão difícil é fingir o ódio que esconde o amor,


Se de teu rosto enrubescente quero o sabor,
Aquilo que no coração tens, algema cupidal
Que prenda o esbravejar de uma calma tão trivial.

QUEM SEMEIA VENTOS...

O Céu está cinzento,


Colorido a medo de um branco embirrento,
Pelo prostrar das folhas amarelecidas
Tapetado leito das colheitas idas.

Palco do seu folclore


Ao som do vento que na encosta morre,
Do timbre áspero de uma crepitação
Na constante permuta de posição.

Fica a árvore mãe


Despida, na nudez,
Numa calvície que a sustem,
Numa latência ávida de surdez.

Mas ela só adormece


Quando cessam essas romarias,
Arrais de pequenos dias
Sobre o húmus que arrefece.

29
MUSA MINHA

Coração meu, bomba e sentinela


Zelosamente meu amor vigias,
Entre as mágoas escuras e os dias,
De facho na mão sem vacilares na tua vela.

Teu folgo sanguíneo minha razão de ser,


Teu fogo amoroso chama de viver,
O amor em ti é mais inflamável
Que um fluido ardente, afável.

Se a chama do fluido se suprime


Tu nunca deixarás de iluminar,
Aquilo que por amor dizemos que é amar,
Expressado enlevo que nos imprime!

Clarão maior expedes tu


Musa minha, cegante,
Cega a vista e a vida sufocante,
Na correnteza de um amormado amuo.

FAMILIAR ESTRANHEZA

A cada passo constrói o passo que caminha,


A sacola nas costas salienta a dianteira formosura,
Bloqueamento meu, inoperância minha
Ante tamanho deslumbramento, em pequena estatura.

Cabelos de vago nome, loiros


De ao Sol fazerem consumir inveja,
Teorizam os cientistas do amor agoiros,
Salientando na íris de um cego força que veja.

Noutra montanha se cinzelou a rocha de meu coração,


Mas só se avascular fosse não sentiria por ti admiração,
Laboriosamente na minha insignificância se edifica um lamento,
Excelsamente inaudível no cirandar do vento.

Indivisível é a massa rochosa


Do bosque onde nidificam as aves do meu amor,
De tão sensível e maleável goza
De uma dureza lacerada no tegumento protector.

30
NÃO QUERO MAIS AMAR!

Não quero mais amar!


Já alguém desabafou este suspiro de gostar.
Sofrer de amor a todos dói, oh peste da vida,
Nela indolor, no coração tanta dor, profunda ferida.

A todos dói mas a mim de imensidão arrasa,


Se não amo, odeio e a felicidade catapulto,
O paraíso terreno da ventura eterna oculto.
Dilacera-me este dilema, como oxigénio em acesa brasa.

Como ele livre quer que eu seja,


Mas em nós encarcerado viver nos deixa,
O amor simula tal osmose
Na vida que logo entra em metamorfose.

Mas, se desde a cela que a ateia


Ela é devir constante,
Se na liberdade do mundo sem amar fica meia,
Minha alma grita pela energia amante!

CAMÕES

Brincalhão eras tu Camões,


Brincavas com os corações, A este Inferno foste dado
Fazias versos de doces palavras, Com a sina reflectida do destino,
O ódio em amor transformavas. Partiste como miserável desgraçado
Em nossos corações como celestino.
Brandos carinhos teus sonetos,
Bravura de opiniões, incautos Poetavas
Os Lusitanos eminenciaste mais altos, Da fonte que amavas,
Quando nos legaste tua vida de espetos. De bom na vida viveste
O amor que mereceste.
Como pobre se pode reclamar
Quem em Terra não quiseram amar, Senhor meu mestre
No Céu fizeram um paraíso de louvores Com a bucólica humildade campestre,
Que em vida, só seus amores. Reconheço minha pequenez
Perante vossa elevadez.

31
ÉDEN

Olha que lindo aquele jardim!


A terra molhada é como tu trigueira,
Corada pelo Sol que faz dourar a eira,
Iluminar de brilho aquele jasmim.

A rosa vermelha brotou do meu coração,


Lançou raízes do fundo do seu solo
Minha dor, seu berço e colo
Está de espinhos cravada no lençol do seu chão.

O cravo em nós cravado


Rei das flores num trono de verdura sentado,
Sou eu e tu a Imperadora
Do meu sobrado rainha e senhora.

Que imponência se põe a prumo nesta esquadria?!


Será eucalipto, será felicidade ou será carvalho?
Tem as folhas deleitadas em gotas de orvalho,
No raiar matinal de uma térrea maresia.

PÉRSIA

Ocultos nossos ósculos, Turba um clímax vaporoso


No biombo que são Turbante amoroso,
os olhos, meninas chorando pão Esvai de tua boca luz
Por trás do véu dos seus óculos. Céu em que tudo reluz.

Escuros esperançados Sinto flutuantemente


Verdes mortalhados, Que saudade ausente,
Com o amor que jaz na Pérsia Que flatulência oscilante
Fulgente inércia. Tapete ondulante.

32
VÍCIOS

São vícios, são hábitos, socialismos


Que salientam a síndroma inorgânica de egoismos,
Deste retracto de autoria à sociedade incumbida.
São vícios sem solestícios no globo da vida.

Nuvens bailam sobre meu pensamento,


Que lindas ao enlaçarem seu torneamento,
De tanto não sou digno sombra de alma pervertida.
São vícios sem solestícios no globo da vida.

Tumulam em nossa mente que repugnância,


Macabras conjecturas, falsidade por soberba ânsia,
Para no Império alheio procurar jazida.
São vícios sem solestícios no globo da vida.

Furta-nos o pensamento a auto – superioridade,


No seio de protótipos omniscientes, a sociedade,
Não é seu tecto para todos igual guarida?
São vícios sem solestícios no globo da vida.

Não há júri nem jurados


Que condenem tais pecados,
Pois são-nos inatos pela personalidade destruída.
São vícios sem solestícios no globo da vida.

INFÂNCIA

Joga e brinca um menino, Um aperto irás sentir no coração,


Na calçada joga a bola, É o amor que não tem definição,
No campo pontapeia e rebola, É diferente do de pai e mãe
Da liberdade pela vida faz um hino. Por ele, teu coração chorará também.

Vai crescer São lágrimas que teu rosto invadem,


Ao amor se prender. Evadidas não sabes de que dor
Vive por inteiro a infância Digo-te que é de ardor,
De crescer não tenhas ânsia. Da chama que alimenta sua viagem.

Que saudade do que não vivi,


Tão cedo o amor de mim se apoderou,
Do tanto que meu coração amou
Jamais me arrependi.
NASCIMENTO DO ALÉM

Chama da vela que tudo velas,


Velas o defunto no nascimento do além,
O moribundo que para ele vai porque sequelas,
A espiritual entrega também.

A Deus tudo se roga e em apertos se ora,


Para qualquer saúde a vida é um céu infinito,
Que não tem calendas nem para a morte hora,
Ruidosa é a sua fronteira, acanhada de tanto grito.

Das trevas soprou uma corrente escura


Para o Purgatório, aragem fria
Para o Inferno, amarra de tanta secura,
Era só uma alma que o primaveril Céu pedia.

Por desengano se muda a vida desta passagem,


A morte passou à frente dos olhos como uma miragem,
Então se percebe que nada aqui é nossa pertença
Homem vil, percebe isso antes da divina sentença.

Dos que ficam lágrimas correm,


Não, não são de saudade, são de temor!...
Pelo que de idêntico lhes virá, igual dor!
Acabada por aquela contra quem nada podem.

CIÚME OU TIRANIA

Não foi ciúme, não foi de ti querer hegemonia,


Não foi esse fermento não foi tirania,
Foi um querer, de não querer por mais querer,
Que catalisou esta reacção turbilhona do amor a crescer.

Tanto cresceu que irou o mar,


Ergueu-se uma onda para o espelhar
Que logo ordenou que emudece-se o vento,
Que me levassem a ti as aves por sustento.
A EMOÇÃO DA CHUVA

Precipita-se a precipitação no solo,


Lágrimas do coração de Apolo.
Que veias são que as derramam
Na estação ventricular dos que amam?

Meu afecto também é nascente


Do quinhão repartido por todo meu ente,
Por cada dilatação jorram em toalha
As que na contracção vazam da minha talha.

A torção dos beirados recita melancolia,


Minhas pálpebras estão pesadas
Vão derramar o líquido da alegria,
Fechar-se-ão ao mundo em suas entradas.

Começam por escurecer


Ter uma visão de céu nublado,
Emoção de um arrependimento calado
Pela ofuscação do nosso amanhecer.

SER POETA

Ser poeta é ser superior, Ser poeta é unicidade do coração,


Viver a enaltecer o verdadeiro amor, Submergir do mar do amor social,
É confidenciar ao papel o inaudível, É ao fogo eterno condenar esse mal
Segredar o que só à dor é visível. Ser exemplar, ditar essa condenação.

Ser poeta é idolatrar o indolatrável, Ser poeta é amar para viver,


Não ter fronteiras para amar Escalar o que só a ele é permitido ver,
É desejar o indesejável, É sonhar a mulher do inacessível trono,
Ter o espírito que a dor faz cantar. Por intercessão do amor seu patrono.

Que lise me trespassaria


Se não fosse poeta,
Fruto da confidência que em mim se acumularia,
Pela clemência que só no papel é completa.
UMA VIDA NA BEIRA ALTA

Era uma aldeia Rosa não era flor


Anafada de tanto sentir, Que digo? Era um jardim,
Pequena que já mais irá ruir De que todos queriam o sabor
No coração, na ideia Do aroma, era um frenesim
Que guardo a sete chaves, À volta de Rosa,
Que nem a morte ma roubará. Todos os catraios a regavam
As casas, são quem casará Não passava sede de galanteios a prosa,
O belo e o simples, graves Mas nela não se guardavam.
As faces do granito Pois não era rosa,
Mas de feição alegre, Eram seus olhos pétalas de um azul
Mal tapam o frio que segue De que azul era aquela glosa,
Por essas frinchas, envergonhadito Pestanas como as florestas do Sul.
Não ousa entrar Que esbelta silvestre
No calor, A elegância,
No trabalho e no amor O moreno lascivo que lhe veste
Desse rústico lar. O trabalho desde tenra infância.
Era a Beira – Alta Sim, que sendo filha,
Ali a acenar à Estrela, Boa filha de lavrador abastado,
Por isso os telhados ao vê-la Jamais do calejar largou trilha
Se curvaram, como que em falta, Como a todos fala com agrado,
Obrigação de resguardar Desde o mais servente criado
Das lágrimas suas, À mais obediente rês.
Os abeirados, as enxergas nuas, Era a menina da terra, fruto pousado
Quem lhes dera descansar. De despeito, as demais só têm altivez,
As serras eram um forte Faltam-lhes as mãos cuja tez
Rodeando sua fortaleza, Ampara suavemente sem tocar,
Dos campos a beleza A voz da sensatez
Jugada ao seu porte. Que aconselha sem falar.
Os seus caminhos A chuva de Novembro tomou morada
Eram a esplanada da cidade, Cravelhando as portas da colheita,
Para namorar a mocidade Convidando o gado ao pasto, sentada
Ou para trocar pergaminhos. Rosa o guardava satisfeita.
Eram caminhos
Rasgados na pedra, pela caridade
dos chinelos descalços de vaidade, Amanhecia cedo
Dos pés da Rosa escaninhos. A pastorinha sem medo,
Eram os lobos que a guiavam
Na serra, a primeira que demandavam.
Não temia as madrugadas frias
Agasalhava-se nas quentes penedias,
Que saudava cá do fundo
A meio do íngreme caminho do mundo,
Que os antigos respeitados
Diziam ter tido moldura nos passados,
Romanos que por ali passaram
Por longos dias pernoitaram
Mas esses, os romanos, Pelas enzimas que o une.
Nada diziam à Rosa, os fulanos. Mexe Rosa, mexe
Por enquanto satisfeito, Que não quero essa coagulada
O gado levantava a eito Grossa, encortiçada
Logo todo “acarrava”, Para não haver cliente que me vexe!
Luzia no Sol a hora de descer Era isto que da salmoeira
Até ao lameiro de erva a reverdecer, Lhe gritava a mãe
O bardo tomava dos animais a liberdade A ungir de sal, obreira
Dando a Rosa outra responsabilidade. O fresco que já valia vintém.
Por essas alturas Ali ficava porque dias
Que loucuras, Cintado, a chorar soro e arrelias
O São Martinho lendário Que o queijo, é um menino
Era quem ordenava o calendário. De muitas tropelias.
Mas antes, antes da jeropiga látega Enquanto esperava cura,
Deram os castanheiros uma bátega, Filhos seus tomavam destino
Que importa britar, abrir Requeijões enfeitados de brancura
Que são muito recatados no sorrir, No açafate de vime rendilhado.
Os ouriços lacrados Lá vinha o armário esperado!
Pela cicatriz dos segredos guardados. Junto à lareira
Mas quem já pedia atenções Resvés com o calor,
Era mãe dos mais cremosos requeijões, Que ora era chama
A fornada de queijo do Natal Ora se estendia em braseira,
Que no frio sua o manejo laborial. Porque o queijo quer-se corado
Mas não em torpor.
Depois, o Natal aclama
Região demarcada A feira rainha,
Do Queijo Serra da Estrela, Que na oliveira a rama
Ovelha bordalesa ordenhada Perdeu os encantos da florinha.
No raiar da matina, que ao vê-la
Assim pelo seio acariciada,
Mais lhe empina e enfeita Malabarista a azeitona,
O embuste frontal Ali a balouçar-se
Que deleita Nos ramos flexionados, a dar-se
O pastor do centro boreal. Por severas estocadas à lona,
Já alimentada Que na vara da nossa tradição
A ferrada, Não rangiam motores,
Da destilação branca Os braços eram detentores
Que leva o criado, pesada Do que guardo hoje no coração.
Pela mão a gingar a anca, Eram castelares
Às mãos da mãe de Rosa. As oliveiras de então,
Artífice dessa apetitosa Nos seus ramos, braços de ostentação
Amálgama de coalhada, Acolhiam os homens lá nos ares.
Faz ranger os azinchos Em Janeiro
De flatulentos guinchos, Havia que tomar nos pés cuidados,
Espremendo o soro Que os ramos antes purgados
Para a francela que porque choro, Vestiam-se de musgo traiçoeiro.
O deleita na panela grande Lá no chão
Que irá ao lume, A azáfama também não descansava,
Até que novo coalhar mande Os toldos outra oliveira já chamava
Havia que tomar o negro filão.
A azeitona é uma criança Nos tabuleiros já esperavam
Como gosta de saltar, Cheias de alvura, belas
Esperta lá se vai deitar Toalhas que se lavavam
Junto de Rosa que lhe afiança, Em águas cheirando a serra,
As únicas mãos de suavidade Que mais lhe davam
As únicas que quer, A pureza que se ferra
Agora e no curtir que vier. No asseado branco.
Mas os porcos pediam piedade Até à ribeira
No arrabalde de casa, Iriam agasalhar o pranto
Roncavam pela vianda rasa Das vísceras, que à beira
Que já lá vinha a hora da verdade. Da correnteza
Serão expurgadas.
Bebendo leveza
Pois é, despertava Regressam a casa já lavadas.
O Sábado gordo, Venha o almoço satisfeito
Em casa de Rosa já estava Canja e cozido,
Madrugador o homem engodo, Que o que é nosso é feito
Sangrador carismático Com orgulho hoje perdido.
Quase fazia o animal esquecer a dor, A tarde Invernosa
Quase se pranteava apático Era do mulherio,
Se por muito o agoniava sofredor. A água quente em agitação, nervosa
Era o mata bicho Já chamava a fio
Antes do bicho matar, As morcelas cheias,
Na cozinha as mulheres em cochicho Que hão-de depois defumar
Preparavam sal e pão num alguidar. No borralho que não lhes chega,
Firme, na mão grossa A outras à que dar lugar
De dedos firmes forjada, Que não tarda já chama, da adega
Procurava a faca sem moça O aroma correnteza
Longa e longamente afiada, Da carne em devinha d’alhos,
O externo que havia de tocar Para o que será a riqueza
Para o coração palpitante De outros fumeiros não falhos.
Do animal alcançar. Vá Rosa, isto é uma pressa
Ali, estirado ofegante Lava e limpa a louça
No banco já manchado, Que amanhã, com promessa
Pelo sangue que escorria Hás-de ir ao bailarico, moça.
Para o alguidar de pão e sal mesclado,
Em gritos que a Terra ouvia,...
Mas venha a “tranca” O Sol ainda não era
Que já toda a terra os conhecia. Sol de Primavera,
Havia que coruscar franca Mas ao Domingo à tarde
De lume a palha centeia, O largo era de alarde,
Para o pêlo do animal chamuscar Que a mocidade ansiosa
E a pele que então arqueia, Não espera formosa.
Logo rudemente lavar. Os mais velhos, saudosos
O bisturi assassino Lá estavam briosos
Vai sem deboche Daquela sua juventude,
Debuxar, o defunto erguido a pino Ao som do alaúde.
Que as tripas ou eram de boche Ainda em casa
Ou para as morcelas. Rosa de adrenalina rasa,
Começava a dar corpo e que forma Pequenas belgas e sensatas.
Ao fato domingueiro que adorna. Ali não, ali é sagrado,
E se era lindo aquele fato, Ao cebolo está consagrado
Não o era se por desacato E ali ao lado, lá está o tomateiro
Temporal Rosa o esquecia, De braço dado com o pimenteiro.
Um Domingo não o vestia, O vento assobiava a passear
Era ela, ela que lhe dava cor, Por entre as searas maduras,
À blusa de chita o bajulador Descompondo-as as vai despentear
Peito, à saia a moda Num bailado de tonturas.
O tornozelo arredondado e que roda,
Na dança de roda que empoeirava
O ar, mas não sujava Ladeira fora
O branco e a renda De manhã cedo se cantava,
Das suas meias, na senda Abrilhantando o Sol que se levantava,
De umas chinelas luzentes Cadenciando a mão que devora
Doridas da dança, penitentes. O centeio pela foice a segar,
Sua mãe marcava presença A quer segurar, ainda que tente
Por precaução que se adensa, Ela corta mais rente,
O grupo de pretendentes Cega de fúrias pelo pão cortar.
Por uma só razão confluentes, Vá lá pessoal,
Tomar de Rosa a atenção Apertai os aventais
Era bom! Quem lhes dera o coração! Tocai o lenço que apertais
Não te distraias borboleta E vinde, vinde ao ramal
Gingando como uma roleta, Da vida, o dejejuadoiro
Nos braços da brisa leve Divulga-se na toalha, que simplicidade
Que a trazer a corneta e a voz se atreve, Não é miséria nem fome, é humildade.
Desses campos clementes Boa, a broa de amarelo oiro
Por novas sementes. Há-de ser, esteira
Do molho da chouriça
Que a ela se enriça,
A canga, a charrua, Era sempre lampeira
O cambão nada descansou, A primeira que Rosa tomava,
Aos bois nada faltou O queijo da cura, a farinheira,
No lameiro já com a pele nua. Vamos ao presunto companheira!
Assente de força perante a aiveca Que bem que cheirava.
Lá deu a conhecer o avesso, Vamos, ainda não vimos meta,
Venha a grade de travesso Depois de carinhosamente deitado
Depressa que se seca. O feno com ternura acamado,
Antes da grade Havia que lhe dar erecta
Se espalhar por aqueles sulcos Posição, lindas bonecas
Havia que espalhar indultos, De um folclore estático
Na semente que invade Nasciam de um chão apático,
As entranhas Varrido por mãos vivas como setas
Daquele solo consagrado com estrume, Disparadas pelo vento,
Milho, abóbora e feijão era o costume. Que com as bonecas brincava
Já não lhe eram estranhos. Por vezes as soprava
Não se esqueciam as batatas, Não lhes dando desprovimento,
Os regos eram em oblíquo Os vencilhos
Para o regar ser profícuo, Que se contorciam
E nas mãos de Rosa se torciam, Num desses dias, deu assalto
Eram-lhe grandes empecilhos. Ao milharal um castanho,
Já de costas, lusco-fusco, Anunciando o amanho
Não viram o engenho acenar Da foice que logo lhe davam,
Um adeus a quem há-de voltar Porque era festa que anunciavam
Para o sugar brusco, E urgia que as neblinas
Que era a vénia curvar Já eram nuvens meninas,
De ti engenho a arte, A soldo procurando “caldeireiros”
Ao fundo levar-te O véu dos outeiros.
Beber para regar. As batatas tomemos antes
Da terra, que fulminantes
São os homens de enxadas
Os dias eram compridos Lado a lado empunhadas.
Ao longo de Julho e Agosto, Lindo o tapete que tecem
As noites eram breves pedidos Atrás de si o esquecem.
De compaixão para com o desgosto Sucumbia finalmente
Do dia, o murchar das plantas O definhar agoniado e penitente,
Vergadas porque sedentes. Do milho então abraçado
Quem lhes vale? Tantas Pela foice antes do braçado.
Bocas carentes, O Sol já pestanejava
A semana vai-se arrastar Sonolento já pouco brilhava,
E só dá uma “vela”. Quando o arraial tomou assento
Quem lhes vela até lá o ar No escurecer do firmamento,
De frescura? Sim o sentinela Em torno do monte macerado
Engenho, içado Tombando do elevado.
Ampara-se nos raios da aurora, Tangeu-se pelas mãos figadais
É o primeiro e o último a ser molestado Que queriam mais,
Pelo e com o pai de Rosa que a nora, Porque o milho rei brincava
Levam-na os bois. Com elas jogava
De tanto rodarem À cabra cega,
Já tontos e depois, Assim não desalenta a estrafega.
Sossegarão até se cansarem Descansai olhos femininos
Daquelas moscas canibais, Focados em olhares masculinos,
Sugando-os à esturreira Ele há-de aparecer
Eles cordiais Em beijos sem malícia vermelhecer.
Dão-lhe da cauda a beira, Com gosto se despiam
Convidando-as escorraçadas Todas as espigas que se riam
À pena de se exilarem Com grãos amarelos,
Deles, porque como verdoadas Mas eram os negros elos
São se lhes ferrarem. Que os rapazes vasculhavam,
O verão envelheceu depressa, Só assim osculavam
Quem o viu? E quem o segura As faces de Rosa,
Em Setembro? Rumando com pressa Sempre a primeira, briosa.
Ao calor do sul Eram espigas enegrecidas
De quem é urdidura, Como as uvas suicidas
A quem acende o azul. Da parreira, esperando a hecatombe,
Que sobre elas tombe
O harpejo carrasco dos pés,
Rosa acordou em sobressalto Que as rasoira de lés a lés.
Estas palavras que legou
À vida que deixou,
Os manguais romperam Alguma da lembrança
Já o sofrimento, Desses tempos de criança,
Com que torturaram o tormento O esquecimento a degolou.
Das espigas que tangeram, Não te esqueças tu papel,
Sofrendo no ar Do que me lembrei
Bailando com o vento, um coreografar E altruisticamente te dei!
Incerto que se retalhava A boa recordação não é fel
Quando o chão da laja tocava. Mas deli-se, com a vivência
Agora, é o Sol Desgasta-se na humidade do ar,
Que se vem municiar nesse paiol Noutros ares não se irá decifrar
De doirado, de luz e de imensidão Não têm para ela sapiência.
Que não alcança visão. São de muita gente
Era quando se revolviam As Beirãs experiências,
Os folhedos das videiras, Tanta que não cabe nestas excrescências
Procurando os que haviam De tinta. É deles o indulgente
De ser divino mel, bebedeiras Perdão que peço,
De açucares fermentados Se de algum afazer me esqueci
Pelos pés imbuidamente esmagados. Nessa casa farta me perdi,
Iminentemente intimidativas, A fugir do seu decesso.
Vinham tesouras A nossa flor
Tomar das vinhas e lavouras, Perfuma como nunca antes,
De amor abastados sedativos. Às faces de amor caminhantes
A noite era de festa Descoradas, emprestando a cor.
No lagar de granito sem fresta, Com tanto amor
Em abraços, arregaçados cantavam Que tem sem saber tanto abraço,
Os homens que as uvas pisavam, Nem todos terão regaço
Também a eles esmagavam Para o colo da sua flor.
Com o peso do mosto.
Que alegria naquele rosto
Do vinho límpido a jorrar
A pipa o há-de guardar,
Para todas as actividades descritas
O há-de chamar,
Como chamam as almas aflitas.

Tudo o que dura acaba,


O tempo passa, a existência corre
Desconvidando o passado que morre,
Tomado pelo esquecimento que desaba.
A melhor forma de perdoar
É pedir perdão,
Ao saudoso viver Beirão
Pela vida a descaracterizar.
Vida que me levou
Viver outro viver,
Pediu-me para escrever
PARTE
TRÊS
MANHÃ TRISTE

Amanhece por favor! Manhã triste


O raiar da luz no horizonte,
Parece tuas lágrimas cintilantes
Iluminando teu rosto iluminado.

Recusas o decesso da noite,


Aquando da alegria do nascer
Da tristeza de acordar,
Do sonho
Que as estrelas queriam sonhar.

Horizonte de júbilo,
Tão depressa me abeiro
Tão depressa me aparto
E parto do porto desejado,
Onde atracam os galeões
Do amor,
Do rejúbilo,
Da magia de sentir
O que eu sinto.

Amarei os sentimentos que não sinto?


Deleitarei nos sonhos que não sonho?
NADA TENHO A DIZER
(Originais de Jon Bon Jovi, tradução livre de Fernando Figueiredo)
Nada tenho a dizer, Serei as tuas lágrimas,
Aqui sentado Porque meu coração sangra
Observando-te a dormir, Todas as noites que dormes,
Tentando adormecer na tua mente, Não sabendo se faço parte do teu sonho.
Ser Ás vezes penso,
Uma espécie de sonho multicolor. O amor pertence a alguém
Pensas ser feia Que não tu e eu,
Mas se és feia, Quando abro meu coração
Também o sou nos teus olhos E tudo o que consigo é sangrar,
Onde o céu tem um diferente azul. Não posso no entanto perder-me,
Se te pudesses ver a ti Pois estarei a perder-te a ti.
Como os outros te vêm, Devia ter reparado,
Desejarias ser tão bonita Quando o Verão acabou nos teus olhos
como tu própria. E disseste boa noite,
Como seria bom ser uma câmara, Dizendo na verdade adeus.
Fotografar-te na minha mente Foi então que a mãe me disse:
Fazer um filme para te mostrar, Tu és louco!
O quão bela és para mim. Eu disse-lhe que tinha de tentar,
Não sei se é ódio Pois todos os meus heróis morreram.
Se é amor, Foi então que parti ambas as pernas
Apenas sei que cada uma destas Querendo aprender a voar,
palavras Mas tudo o que consegui
É um pedaço do meu coração. Foi aprender a cair.
Por vezes penso odiar-te, Como é duro ver-te partir,
Apenas porque não consigo amar-me a Quem me dera
mim mesmo Que este lugar que chamamos casa
E sei, que nunca conseguirei escapar-te. ardesse,
Pensas conhecer-me Este lugar onde perdi minha alma e o
Só porque sabes o meu nome, teu amor.
Pensas ver-me Hoje ouvi um senhor de idade
Só porque vês todas as linhas da minha Cantando velhas canções de esperança,
face, Mas nada me disseram.
Dizes que me amas Pedi então a Deus um favor,
Só porque eu digo que te amo, Que me ensinasse a morrer como
Não interessa se o que eu digo, é na Homem,
verdade, a verdade. Já que nunca me ensinou a viver como
Momentos há tal.
Em que Deus chama os seus anjos, Da maneira como me sinto hoje,
É mais um bocadinho de amor Estou incapaz de escrever uma canção
Que parte do mundo. de amor,
Nunca te esqueças, De cantar uma canção de esperança,
Quando tiveres fome Nada tendo a dizer
Eu sinto-o dentro de mim, Traduzi então estes versos,
Se tiveres sede Que fazem da música
Bebe do meu amor e repete, A biografia da vida...
Se chorares
MATAR ÁFRICA

Foi num crepúsculo sombrio


De alvorada e desabafo,
Libaste o sabor agro da minha vida,
Viste o meu sonho de lutar
Lutar contra o meu irmão,
Lembrar o grito do Criador
Filho...! A tua única herança é a vingança.
Sabes que é algo que não posso mudar,
O inimigo branco continua aqui,
Quando no meu coração zangado
Ouço alguém chorar com fome,
Eu mato para presentear a arma.

Como te roguei e ordenei


Encarecidamente,
A carícia de te apartares
Já longe de presenteares uma arma,
Longe da minha vista
Longe da minha mente
Mas, sinto-te perto do coração.

É tão fácil quando não se ama alguém,


Preocupa-nos ninguém e
Toda a gente,
É apenas mais um alvo a abater.
Tomamos cárcere a presa,
Jamais a faremos feliz
Deitando-a num leito de balas,
Pêcas e de entranhas vazias
Quais espinhos de rosa,
Que ferem as pétalas acamadas
Onde te deitei amor meu,
Sentindo o que já não sinto
Porque sinto, que deixei de sentir.
DESPEDIDA

Morre sufocada
A miriade de cigarros que fumo,
No fumo mascarado pela dissipação.
Mortifica-me a ânsia de que chegue o último,
Para então na cauda de tudo
Recordar o nosso derradeiro olhar,
A batida consentânea do coração
Na última canção
Que te ouvimos cantar.
Desespero já na saudade
Do adeus próximo no próximo despertar.
Hei-de visitar as águas do rio que te viu nascer,
Num dia de tempestade
Que desde então
Assola meu coração.
Mãos abençoadas pela maldição
As que te tocam o corpo,
Te repelem o coração
E te fazem moribunda, a agonia da alma.
Continuo sem saber
Se hei-de viver,
Mas recuso-me a dizer
Ainda que há força de alabardas,
Morrer, desistir,
Viver morto
De pranto e horto.
É lenta a morte
Que me vai fazendo viver,
Procurando leito
No teu peito.
OLHOS VERMELHOS

Está a rua adormecida


Despida de gente,
Suspirando burburinhos.
Agasalhada nas penas das aves
Empoleiradas nos beirados
Elas lhe velam a solidão.
Eu e ela
Sempre fomos amigos do peito,
Nela vejo coisas que nunca serei,
Tento ser coisas que nunca vi.

Procuro já o tempo
Em que dentro de mim te indaguei,
Sentimento estranho
Que sinto nunca ter sentido,
Esse de ver tua face cintilar
Nos grafitis escurecidos.
Encontrei já esse tempo
Longo mas criança,
Não precisou de mestres
Para tirocinar as mentiras sociais,
Fundo nos teus olhos
Olhos vermelhos, vermelhos de chorar.

ÁS VEZES

Ás vezes, clamo por tempo,


Para viver
Para dar-te o amor de que careces.
Pensas de meu coração uma penedia,
Mas ele está escarpado e sozinho.
Ás vezes, é tão áspero,
Presenciar a realidade que escasseia
Por detrás da nossa fantasia.

Ás vezes, clamo viver por minha conta,


Sozinho, no meio da multidão,
Essa coreografia mutilada
De pensamentos, de emoções comovidas
Estonteando danças repetidas.
Ás vezes, é tão áspero
Quando o destino da nossa realidade,
Parasita a fantasia.
IR

Vai poeta,
Vai
Como um gato varando a noite,
A passos largos entrepassados
Rumo à luz.
Pairando nas ruas da vida
Procuras ódio e algum amor,
Mas nunca será tarde
Para ti.
O mal
Edifica o teu grito, mas tu continuas,
Cansado eu sei,
Mas tu continuas
Porque lá fora, algures
Alguém confia no idílio.

Vai poeta,
Vai
Sê sincero para a tua dor,
Tu és amante e não um louco,
Escreves a chuva que te rodeia
E cantas a tempestade,
Que teima em não amainar dentro de ti.
Não temendo irresponsável
Pelo caminhar dos zéfiros,
Sempre serás escravo dos teus erros,
Não deixando de lutar até ao fim
Pelo teu pedaço de terra,
Um lugar para as rosas na tua campa,
Algum espaço
Para as lágrimas na tua face.
ORAÇÕES

Agonio numa tristeza pesarosa


Desde que parti de ti,
Mas quero ser osculado pela morte,
No dia em que te deixar partir
Da minha memória, do meu coração.
Eu sei,
Os raios de sol enxugaram já
A veludo urdido de carícias,
A tua lágrima talismã
Mas ainda retumba em mim,
O grito da tua oração silenciosa.

Paguei já todos os meus preços,


Rezei já todas as minhas orações,
Continuo a ouvir alguns sentimentos
Dizer-me que não têm razão para viver,
Que não têm nada mais para dar.
Tu sabes,
O Tempo aportou e é tempo
Das velas agasalharem os mastros,
Da âncora repousar reflectidamente
Na maneira correcta,
De escrever Amor...
CHORA CRIANÇA NEGRA, CHORA!

Chora criança negra, chora!


Limpa com as tuas lágrimas
O sangue dos teus irmãos,
Voluntários à força
Da vontade dos outros.

Chora criança negra, chora!


Eu sou o teu pior inimigo
Porque não posso ser o alimento que precisas,
O rasgar do teu grito
Algum açúcar para o teu sonho.

Chora criança negra, chora!


Não clames pelo Homem
Ele está muito ocupado para te audir,
É tudo fama mas Jesus reza por ti,
Prostrado na tua sombra.

Chora criança negra, chora!


Alguém rega os seus campos
Com as lágrimas da tua dor,
Enquanto eu posso sentir o teu coração,
Onde não encontro ressentimentos que saquear
Nem ódio para pilhar.
Chora criança negra, chora!
VIDA SELVAGEM

Sentir- te – às arrefecer
Esta noite na tua tarimba,
Quando o teu lado selvagem
Ouvir que chamas a morte,
Enquanto tentas esquartejar de esquecimento
O último pesadelo.
Sonhaste não teres espaço para o sonho,
A minha mente não te entende
Mas o meu coração,
Sabe o que queres dizer.

Os lábios do amor nunca te beijaram,


Nunca ninguém te disse a verdade,
Para ti avisos são proibições,
Quando vives um cessar fogo
Não estás na paz asilado,
Vives antes uma guerra silenciosa, mas sangrenta.
Tu sabes criança da rua,
Qualquer caminho que escolhas
Serás sempre o acusado.

Quando eles viram


Que não havia nada para ver,
Roubaram-te a fantasia
Naquele momento demoníaco,
Furtaram-te a realidade.
Agora, és tu quem vê
Que não há nada para ver,
Deixaram-te a insanidade
De quem não sabe sonhar,
Porque há muito te roubaram a fantasia!
FLORESTA EM CHAMAS
Algo ardia
Do lado de fora da minha janela,
Mortificava-me o interior
Já de si contorcido,
Como nas labaredas
Os ferros do leito
Que foi de minhas raízes.
A inspiração dolorosa
Inflamava-se em mim,
Num combustível que insisto em não encontrar,
Tive-o nas mãos
Naquele momento de purgatório,
Mas não tomei
De assalto a frente, à frente
De um calor que não era amor.
Como queria ser nuvem choraminga,
Evadir-me destes poros sujos
Pelas cinzas adormecidas,
Vir agora em teu socorro,
Assear-te de verde festivo,
Mas temo ser
Mais uma farpa mal apagada.
Sugou-te a terra
As raízes para sempre, como a mim...
Em breve de ti,
Só restolho putrefacto
Que ainda assim,
Não te embaciará a alma
Que lá continuará,
Purgando o chão
Para almofadar novas sementes...
Pudesse o gotear do orvalho,
Ou as lágrimas sinceras
Que as crianças dão à luz,
Pela luz cadente e em chamas
Que abate florestas,
O fogo apagar!
Não haveria segredou-me a Faia,
Conífera que não se enchoupa-se
E choupo,
Que os seus largos braços não levanta-se.
O engenho e a picota
Soltariam ondas de satisfação,
Por saberem
Que não mais precisariam
Saciar às árvores a sede de vida,
Mas só
A sede da vida.
AMOR OU SEMELHANÇA

O bom e dorido amor


Quer do amanhecer
O tempo que a noite levou,
Como o bom, velho
E deleitado vinho
Da fermentação o estuar,
Conforto dos espíritos amotinados.
Trago após trago,
Eles tentam seduzir o relembrar
Do castanho do teu olhar,
Um presente que Deus te deu
Mas que amaldiçoo-o,
Porque de igual valor
Nada tenho para te dar.

Apesar de baços, nestes dias


As pessoas continuam a confiar nos espelhos,
Vêem-se a elas próprias
Num ecrã de cinema,
Nada sendo o que parece
Quando os sonhos acordam.
Vivendo o que não são
Podem realmente sentir o que lhes vai na alma,
Quem sabe um dia,
Conseguirão ver a face dessa mesma alma.

FELECIDADE OU SOLIDÃO

O vinho é o único amigo da dor,


Como o tempo não é amigo da distância
E a distância, não é amiga do amor.

Uma vez, assisti a uma luta


Entre a felicidade e a solidão,
Ambos contendores lutavam por um pedaço do teu amor.

Nenhum perdeu e ambos se perderam


Num imensurável descampado,
Na refrega da batalha já muito além do meu coração.
APENAS UM

Hoje, sempre será ontem


Sempre será medo,
Ontem nunca será amanhã
Porque amanhã é amor.
Por isso hoje tenho medo,
Medo de conhecer
As razões da minha dor.
Não o vejo, mas consigo senti-lo
Perto, a rondar
No outro lado da rua,
Do outro lado das minhas artérias
Como um atirador furtivo.
As suas balas
Conseguem ferir-me tão perto,
Tão perto...

É aterrador
Marchar sem corneta e sem tambor,
Lutar por nada
Nesta guerra sem armas.
Cada vez que tombo
Não tenho baioneta que me ampare a queda,
Fico de ouvidos pregados ao chão, vivo
Podendo ouvir mães chorando pelos seus filhos,
Esses loucos que buscam felicidade no amor,
Saindo com o coração chicoteado
E o fôlego vergastado.
No fundo,
Tudo o que consigo ouvir
São os espíritos de Valhalla, tão perto,
Tão perto...
DANÇA DOS BRAVOS

Perdoa-me!
Mas não olvides a crueldade
Em que te cravei,
És a rosa que nunca roubei,
Pelo que os teus espinhos de aço
Nunca me fizeram sangrar.
Sou demasiado humano para ler
O discurso das tuas sépalas,
Tão rendilhado como as tuas pétalas.
Deixa-me entrar num templo,
Da Batalha, em Delfos ou num quarto ofegante de amor,
Senão voltarei a dar assalto
Ao espinhar errante.

Não te aquietes
Que eu também quis pedir perdão,
Pensando mais fácil,
A dificuldade que me emprestaram
Os teus braços à volta do meu coração,
Não me deixavam falar
Volatilizando o destilar do amor,
Que para pedir perdão e perdoar
É imperioso amar.
Há muito que o amor
Palmilhou a maratona em que vivemos,
Era o último depois de uma amálgama de sentimentos,
Mas parecia tão rápido.

É uma armadilha,
Mas um véu é mais que uma máscara
Não me deixando ver o amor nos teus olhos,
Essa lenda que ouço desde o tempo heleno,
Erguida no mesmo mármore que o Pártenon,
Feriu de sedução Deuses e homens bravos,
Rendidos ante a compreensão que é deixar-se seduzir.
Por mim, não deixei cair a máscara,
Apenas a deixei para trás
Como tantas outras vezes.
Também eu me escravejei a ti, nós somos escravos
Dançando nas ondas
A dança dos bravos.
VERÃO ENVELHECIDO

O verão está a envelhecer,


A sede do teu coração ajardinado
Está prestes a sucumbir,
Onde tu és a rosa e eu o espinho
Somos ambos as asas do unicórnio.
Amor,
É tudo o que esta terra
Onde meu coração teceu raízes te pode dar,
Tu és a sua rainha
Quem me dera ser o seu rei,
Alguma água fresca em Julho
Mas as lágrimas em que me esvaio,
São tão quentes.

Tanto amor nos teus olhos,


Tanto jogo nas tuas mentiras
É sempre o mesmo,
Eu não sei as regras
Mas jogo,
Ontem e hoje
Derrotado ou vencido.

Quando tinha apenas dez anos,


Disse-me uma voz
Que se eu queria ser um homem verdadeiro,
Jamais poderia chorar
E sem resposta perguntei:
“Como se fecham as portas ao verdadeiro amor?”
Nunca mais ouvi essa voz,
Porque a sua grande verdade
Mentiu-lhe,
Quando as lágrimas
Emergiram nos seus olhos,
Lembrou o seu frio conselho
Mas era tarde,
Já estávamos em Setembro.
MÚSICA TÍMIDA
Louvar a música!
Ouvir esse colorir na tela da voz
Dos versos do coração,
Dos pensamentos da emoção.
Voz que tantas e tantas vezes
Não fala pela boca de quem a escreve,
A quem gostaria de se fazer ouvir.
É muitas vezes
Timoneira de um mavioso padecimento,
Sofrível o sufocar do coração
Sobreposse de um silêncio rude,
Que fala na poesia
Cerce sevícia longada,
Do longânime loquete da sua servidão.
O culto do vate,
É a parede dupla de um gabinete amoroso
Onde se consulta a timidez,
O papel vê tudo o que vai em nós
Jamais compreenderemos o que lhe confiamos.
A timidez
É a própria Natureza no limite do som,
Que poeta o planger do Platonismo
E ausculta o plebeísmo do medo.
Quando ouço música,
Dou comigo a prestidigitar a fantasia
Com as cores da melodia,
Dos faiscados estalidos
Agonizados de uma guitarra em Dó penoso,
Dum piano cujas teclas movem o mundo
Fazendo-o saltitar pleno de juventude.
Liberto no riso leve e suado
Como leve soa um Sol,
Sopeia todo o verde de uma planície
Planando todo o planalto,
Ousa fazer-lhe cócegas
Subjugando-o numa vénia de suplício,
Perdão penitencial
Duma bateria que põe a claro o bater do coração.
A água que cruza
Esse campo de isostasia,
É de um cristalino suave
Ávido de vida,
Numa contramarcha de morte
Em pedras salgadas, lenitivas,
Como na pirraça de um choro proselista,
Efervescência amarga
Que ao invés de navegar o calcário,
O perfura perecidamente como ao coração.
PEQUENA PRINCESA

Esta noite
O Céu ganhou uma nova estrela,
A rainha do coração do povo.
Doce como a chama de uma vela,
Sempre serás a luta
Dos que precisam lutar.
A tua influência
Faz a diferença,
Contra a dor e a indiferença,
Dor e indiferença.

Hoje
Tiveste que partir,
Um moribundo te chamava algures.
É uma criança chamada mundo
Quem clama o teu amor e carinho,
Rainha do xadrez dos Deuses.
Nunca saberás nada
Acerca do último conto de fadas,
Uma fada confidente nunca falha,
Nunca falha.

Finalmente
O Céu é paraíso
Com o azul dos teus olhos.
É o princípio do fim,
A Terra está num leito de morte
A idade da escuridão é a vingança.
Ontem, tinhas dezanove anos,
Lembro a tua beleza tão tímida
A tua timidez tão doce,
Tímida e doce.

Já mais poderei abrir


Os portões do meu coração,
A estas palavras que odeio
Porque vieram,
Quando partiste.
Escrevo-vos em papel silêncio,
Para que não vos apagueis com vossas lágrimas
Oh palavras do vácuo,
Deixai a pequena princesa em paz,
Em paz.
TÃO PERTO DA DISTÂNCIA

O tempo está tão distante Embora me seduzas longe,


E a distância tão perto Através do ocaso frio
De dizer adeus, Com um coração em forma de Sol
De morrer mesmo, quente,
De tocar o céu Bola de fogo
Antes de o fazer, Que te traga o fumo do cigarro,
Antes de aprender a voar. Embora Deus disponha
O sonho falou-lhe mais alto, O amor,
Tão alto Que os nossos corações tentam
Que não conseguiu ouvir a voz dos construir,
factos, Jamais...! o toque da sua ordem divina
Reflexo dos actos reflexos Proibirá o meu coração de chorar,
Desatentos, Sempre que os meus olhos brilham
Que tenta coordenar Nos olhos de outra mulher.
Quando sorvida de amor. Só a morte o drenará
Mas então, serei eu quem passará a
chorar.

OLHOS AZUIS

Podeis estar firmes de vós Penareis em rotações


Olhos do mais azulado azul, E translações inacabadas,
Sempre como antes Entre vossos irmãos planetários,
Me cortejareis heroicamente, Que vos adulam bela beleza natural
No seio da plumagem do Azimute Que ainda em vós verdeja,
Em que recolheis Levada em braçados
Vosso índigo ebúrneo, Por braços que não cedem,
Que escondeis Em vénias descaídas.
Da sedição das nuvens, Sois cavaleiros
Que ainda assim De cara destapada,
Não o ousam eclipsar, Que feris
Mas depressa se sepulta Como o gume da espada.
Se sobre ele se derramam, Receio que sejais no amor que vos têm,
Lençóis escurecidos Caleidoscópio gigante
Em leitos amargos. Manipulado por cegos.
AO RITMO DA NOITE

Esta manhã,
Quando dei à luz
De um sono que mal consegui dormir,
Senti uma espécie de fobia
Estava gelado, sem ar
Apesar do vazio dentro de mim,
Para onde olhei e vi
Que o meu coração já lá não estava.
Não, não o procurei,
Sabia exactamente onde ele pernoitou,
No lugar onde acordaste
Com alguém que não eu,
Mas nos meus braços.
Perguntou-te ele
O que queria dizer
Esse maldito anel na tua mão,
Ele apenas se deixou perseguir
Quando seguiu o compromisso nos teus olhos,
O meu carteado
Costumava ser um céu de estrelas,
Quando tu jogaste a rainha dos corações
Alguém na outra equipa jogou o rei,
Contra as lágrimas
Na face da senhora.

Neste chão abanado


Pelo trautear dos pés que dançam,
Por cada cerveja fria
Na minha mão,
Há outra lágrima quente,
Dançando nesse mesmo chão.
Tão engraçado
Quando o teu marido,
Que se casou contigo
E não com os teus sentimentos,
Fala de bebidas espirituais.
Ele bebe por prazer,
Ama os teus sentimentos
Mas não te ama, na verdade
Ele bebe para te ferir,
É essa a arma que enverga
Sempre, ao alcance de um disparo.
É por isto,
Que todas as noites
Durmo à tua porta,
Com os meus ouvidos
Por detrás das paredes,
Suplicando-te amor
Como sou pobre.
Querida
Pede-te ele que fiques,
Porque o último comboio
Já partiu,
Digo-te eu
Que o autocarro está à espera,
Que não ouças
As prometidas palavras de mudança,
Que as promessas anteriores
Já desiludiram.
Sinto-te sempre tão ocupada
Para que possas dizer o meu nome,
Sempre espezinhado noutros lábios
Que não conheço, que fecho à força de indiferença,
Porque sem a razão de ouro
Que ondeia os teus.
ÚLTIMA GARRAFA

Acabei por pagar


Um alto preço,
Pela última garrafa de whisky
Naquele bar,
Mas teve de ser,
O papel chamava o conselho
Das palavras dentro do meu peito,
Não sabendo quem conduzir a casa
Nessa noite.
Não tenho agora
Nada para beber,
A não ser estas lágrimas secas
Na minha cara,
Quem me dera fazer aflorar mais
A este “ring” de boxe,
Onde a fraqueza
É tão forte.

Perguntaram-me os teus olhos


O que queria eu de ti,
Os meus lábios
Tentaram dizer-lhes a verdade,
Mas meu coração
Não lhes respondeu.
No que lhe respeita,
Tenta conhecer-se a si mesmo,
Para se odiar e ser
Quem te irá fazer feliz.
Já não é uma pequena criança,
Sem coragem para acreditar
Na última milha,
Onde ninguém se interessou
Acerca das palavras certas nas suas orações.
Todas as noites ele dizia:
“Deus, deixa os anjos viver!...”
CORAÇÃO

Como és feliz coração!


Os teus caprichos,
Fisiologicamente enclausurados
Num viver coarctado
À cobiça espiritual,
Não te deixam perder pelo carnal,
Amarás eternamente
Fremente da alma,
Truão do corpo,
És o investimento heurístico
De sempre mondar o amor.
Graças a ti
Muitos foram
Os que conheceram novos mundos,
Além mar
Da Terra vivida,
Além do horizonte do pensamento,
Super – Ego sem voz de comando.
És um mito,
Ordenas o amor
E deixas-te subjugar por ele,
Teu nome retesa o arco
E lapida mais a flecha,
Encurtando a distância que os separa
Não da vida,
Mas do olhar de ambos,
Que escondes
Entre as flores desse jardim,
Onde só os eleitos,
Têm o privilégio de olfactar
A brisa perfumada do amor,
Olhar esse
Que nos separa do frontão,
Que por amor
Afronta a entrada,
A todo o veneno transparecente.
És flora rica
De ambiente tropical,
Tens humidade que brota
Do ebulir dos corpos em paixão,
E o frio, teme a força do teu calor.
Como és terreno fértil,
Quando hibrídas por ti as sementes
E excomungas o daninho.
LUÍS VAZ DE CAMÕES

Olho para o buraco escuro


Do meu desconhecer,
Conseguindo ouvir apenas
O timbre desfocado da minha voz:
Quem foste tu?
Quem foste tu?
Tu!
Que puseste a salvo
Do esquecimento eterno os Portugueses,
Nadando num mar confuso
De correntes sem Norte,
Escoradas por escarpas
Cabisbaixas, envergonhadas
Por darem abrigo a tais águas.
Quem me dera,
Da ignorância
Como tu ser ilibado,
Pela análise examinativa e experiencial
Da prática existencial.
Pela bravura!

Terá tua vida sido assim,


Desde o mais tenro
Vicejo de alforria,
Até ao edificar de um Império
De tão certos secretários,
Papéis amarrotadamente esquecidos
Num bolso, numa mão pensativa,
Para afogar o esquecimento
Que o mundo tinha de ti.

Foste imaculado,
Na devoção à Pátria
Que ao mundo te deu,
À Belém
Que ao mundo te entregou.
A REVOLTA DENTRO DE MIM

Nascem nações ainda maiores,


Eram rostos de quem partia, Como das revoltas revoltadas
Mas que jamais partirão Do espírito Humano,
Do meu coração. Nascem almas
Ouvindo não sei que chamamento De uma adamastora sensibilidade,
Que lhes cegava de peso o rosto, Essas almas
Trocavam o seu viver Que vi partir.
Pela vida, Mas estarei então condenado,
Emparedados entre o Mundo Ao rebentar eterno de pequenas vagas,
E o Universo. Que assolam o meu cabo das tormentas
O seu olhar, Enfim,
Que ora penetrava fundo Ser a alma do Adamastor.
O desconhecido, Brado ante o fuzilamento,
Ora pestanejava demoradamente Que prefiro cerrar os dentes
Para segurar a imagem, À dor de uma bala,
A lágrima de quem ficou, Que um dia cicatrizará,
Esse olhar tentava Do que trazer na lapela do meu peito
Dizer-me alguma coisa, Uma flor,
Que não tendo tempo de ouvir Que jamais provará
Me revoltou, O albino da crespação,
Porque receio fundamentadamente Porque o caule
Não poder atender. Me suga o néctar linfático,
Na verdade, Enquanto o cálice
Só as grandes nações Me aperta as pétalas venenosas,
Fazem as grandes revoluções, Que jamais deixarei cair.
Mas penso não ser um grande Homem Dessas flores,
Para ter em mim uma grande revolta. Cujo cheiro inebria
Sei também, E se as cheiramos,
Que das grandes revoluções Morremos.

As pequenas revoltas,
Com disparos destas flores
Que na realidade,
Ninguém irá cheirar
Mas espezinhar um dia,
Ao contrário das grandes revoluções,
Não buscam a edificação
De um ideal futuro,
Mas a destruição do passado
O seu veneno,
Mas também o seu antídoto.
ÍNTEGRO

Desejo,
Na fraca lucidez
Dos momentos mais cortantes,
A morte.
Porque não desejo antes
O eriçar do meu tronco,
Duro como a integridade,
Como o veio de uma rocha
Jamais esnocável,
Ao ponto de esmurrar
Essa lâmina que nos retalha,
Às vezes os sonhos,
Às vezes o sofrer.
No rumor
Da mente do poeta,
Na tinta imóvel
A que dá forma
É fácil,
Mas por vezes,
Também ele
Vai entregando a mão a esse sucedâneo,
Deixando falecer o corpo.
VALSA

Biltres, inconsequentes e desgovernadas


Que fazeis?
Parai! Com os olhos fitos, paralisados,
Gemendo indolores
Os bramidos da mudez,
Vos ordeno que pareis!
Quietude vos peço.
Não vedes ou
Não quereis ver,
Que já a noite
Levou do Céu o azul,
Vindes vós agora
Nuvens de luto,
Dançar em torno da chama
Que apesar de tudo,
Continua a seduzir.

De madrugada sereis nevoeiro,


Orvalho empalidecido pela manhã,
A pingar como estalactites
Das minhas pestanas pesadas.
A custo, por inércia
Vou abrindo os olhos,
Para finalmente ver
Que nunca mais te verei.
Não me choreis agora
Com a claridade o perdão,
Pois só sabe perdoar
Quem já foi perdoado.
Também o meu crime,
De alumiar a noite
Quando queria ser trevas,
De a apagar
Quando queria ser luz,
Jamais será redimido,
Senão pela abdução
Da aurora aparecida do Sol,
Que vos despiu o luto
Vestindo de claro a luz,
Do dia que jamais
Me deixará adormecer
No fechar dos olhos,
Pestanejando apenas
Ao chamamento dos teus.
CONHECESTE O FRIO...

Perguntaste-me o que era o frio.


Disse-te que era ausência de calor,
Ter frio é perder calor!
Para ti
Esta explicação não podia ser viável,
Eu era o seu caso recalcitrante.
Tantas vezes
Havias sorvido o sopro gélido do meu coração
E não, não era calor.
Ficaste incendiada é certo,
Mas esse fogo foi crespado pelo teu calor,
Que eu calor nunca tive.
Ardes e vais sentir sede,
Serei então gota de orvalho
Esculpida pelo frio dentro de mim.
Até o frio me vais querer roubar
Quando com ela saciares a tua sede.
Saberás então a minha maior mágoa,
Ter-me condensado num jardim com muitas flores,
Mas onde não havia rosas suficientemente bonitas para ti!
VISEU, 4 DA MANHÃ

Se eu soubesse sorrir ao teu olhar


E olhar para o teu sorriso,
Seria agora mais fácil sorrirmos
Entre um beijo e outro,
Um abraço e um adeus.
Por te amar tanto
Tive medo de me magoar,
Ferir-nos a ambos,
De uma felicidade de sorrisos áureos
Que nos esforçamos fisiologicamente por mostrar,
Pois que emocionalmente não existem.
Sorrir, penso que foi o melhor caminho
Para mostrar as nossas lágrimas,
Para chorar mesmo,
Sem que ninguém se atreva a limpá-las por nós.
As rosas que te dei
Não eram da cor dos meus sentimentos,
Nessa noite até o luar enrubesceu
E o Sol da manhã seguinte ficou pálido,
O teu coração bateu mais forte,
Só tu ficaste indiferente, alheia,
Seguramente mais apaixonada.
Sonhador?!
Se amar-te é isso,
Então sou-o,
Se ser a personagem dos teus sonhos,
Já não sei...
FUGA

Se o nosso olhar fosse a nossa voz


Continuaríamos a fugir um do outro?
Não podemos fugir
Se vivemos um no outro,
Mas eu sou pobre e sem tecto,
Papel sem texto,
Escritor sem pena,
Poeta sem dor,
Enfim, um desalojado hospedado em ti.
O mel dos teus olhos
Continua com o castanho mais doce, mas sem guarida
E eu sou o culpado
Do teu olhar ser o meu olhar
Nos momentos em que tu me olhas
e eu te olho,
mas não nos olhamos,
tu me desejas e eu te desejo,
mas não nos desejamos.
Trocava todas as noites da minha vida pela tua presença
No meu leito,
Escrever palavras de amor no teu peito
Com o suor confundido das nossas mãos,
Ouvir as queixas do teu dia a dia
E pela magia do teu suspiro
Tecer pétalas de rosa.
As mesmas palavras que escrevo no corpo de alguém
Que ainda que tente, não as sabe decifrar.
Bradadas ao vento, o teu marido as ouve
E as declama para ti durante a noite
Mas não as diz,
São só mais algumas palavras de que ele não sabe o significado,
Mas sabe que tu mereces.
Não sei o que lamento mais,
Não ter sido um dos teus segredos
Ou não ter sido confidente dos teus outros segredos.
Já sei o que lamento,
Não saberes o segredo dos meus olhos,
A maneira como eles te vêm...
A DOR QUE ROUBEI

Serei mercenário da dor dos outros?


Digo que na realidade sou feliz
Sem na realidade saber o que sou!
Nada de meu me dói
Finjo-me dorido se me magoas
Mas só a dor dos outros me estrima!
Serei mercenário da dor dos outros?
Sinto-me estropiado
Pelo olhar mutilado
dos que têm razão para chorar.
A mãe indulgente
Que toma do filho a dor,
As crianças altruístas
Que tomam dos adultos o sofrer.
Eu que posso fazer?
Por ti, que posso fazer?
Já sei!
Tomar pela coragem
Em minha mão direita a espada da paixão,
Pelo sonho
Em minha mão esquerda o escudo do amor,
Lutar sem medo de morrer
Pois havendo amor para além da morte,
Continuarei a amar-te.
Saberei então se eram os teus olhos que brilhavam,
Ou apenas reflectiam a luz dos meus.
Na verdade, nem os meus brilhavam,
Apenas mostravam o saque
Furtado à chama que ardia dentro de mim.
VOU TENTAR O IMPOSSÍVEL!

Parece impossível!
Tantas e tantas vezes o poeta tem medo de escrever!
Deve ser medo o que sinto agora,
Medo de não dizer o que mereces,
De não escrever o que realmente sinto,
Mas vou tentar, tenho de tentar!
O verdadeiro amor
É como as águas de um rio,
Passam por nós num qualquer espaço
Num qualquer tempo,
Mas continuam a correr,
Sem as vermos
Continuam-nos a levar
Onde só elas ordenam.
Vão-se diluir nas águas do mar
Ou será uma aguarela
Esboçada pelo Céu,
Pintada pelo Sol?
Seja o que for
Elas continuam lá, escondidas,
Esperando voltar ao sítio de onde partiram.
1 DE SETEMBRO DE 1999

Os cupidos deviam estar distraídos,


Talvez tivessem adormecido,
Não viram que te fizeste mulher
E vieste até mim.
Não sei de qual deles eras mulher,
Amante ou amor idílico,
Apenas sei que não eras feliz,
Por isso vieste.
Continuas a olhar para trás,
Recusas ver o futuro
Sobrevivendo no presente.
Quis dar-te o que tinha,
Mas tu, julgando que já de alguém o tinhas
Quiseste mais do que isso!
Perguntei-te o que seria mais que a vida, ou o amor.
Ser mel quando tens pesadelos,
Ser realidade quando sonhas,
Ser calor quando tens frio,
Ser frio quando tens calor,
Ser a vigília do teu sono,
Ouvir-te falar mesmo quando durmo!
Nada disto tinha para te oferecer!
Implorei-te que me desses
Ou mesmo me emprestasses algo do que pedias,
Para contigo o compartilhar!
Nada disseste mas alguém disse
Que há muito mo tinhas dado.
SE TU FOSSES UMA FLOR...

Se tu fosses uma flor...


Qual serias?
E eu que seria?
Ás vezes penso que seria o próprio jardim
Outras, o seu jardineiro.
Qualquer uma das duas alternativas
Deixa angustiada a minha preocupação!
Se fosse jardim
Seria pequeno para a tua beleza,
Não teria solo para a força das tuas raízes,
A tua simpatia não teria oxigénio que respirar,
Enfim,
Não teria flores suficientemente belas para te oferecer,
A não ser tu própria!
Se fosse o jardineiro,
Teria que me ocupar também de todas as outras flores do jardim,
Não teria todo o tempo,
O tempo todo para admirar as tuas formas.
Oh! Se pudesse capturar a tua alma
Através do brilho do teu olhar,
Embrulhá-la no meu coração
E rematá-los com o meu amor!
Tudo o que posso ser para ti é poesia,
Ainda assim,
Com uma rima oculta e triste,
Receosa de não descrever toda a tua bondade.
Por fim e pedindo ajuda ao Frank,
Tudo o que posso dizer
É que cada uma das palavras anteriores, é um pedaço do meu coração,
Talvez tenha dito demasiado, mas não disse o suficiente,
Porque cada uma das palavras anteriores, é um pedaço do meu coração!
Enfim, quem me dera
Um dia poder roubar-te o meu coração!
SÓ AGORA?

Só agora que te amo,


Sei o que é ser ilegal.
As leis biológicas prevêem
E eu quero ser os teus lábios,
Mas as leis dos Homens não deixam.
Se os meus lábios fossem os teus lábios,
Não deixariam que ele te beijasse,
Que outros me beijassem,
As minhas palavras não seriam as dele, mas as tuas.
Somos proscritos biológicos
Cumprindo as leis dos Homens.
Falhámos!
As rosas que trocámos
Prometeram que nunca iriam murchar,
Mas cresparam. Porquê?
Dizemos que não sabemos,
Fingindo não saber das lágrimas
Que sobre elas vertemos...
Apenas te chamo a atenção para um pormenor,
As pétalas ficaram, vermelhas como sempre.
ACENO

Nessa manhã de Setembro,


Deus perdeu um dos seus anjos
Perdeu-o para mim!
Enquanto cavalgava
Ia limpando com lágrimas
O pó oferecido à minha face pelo vento,
Carregando no meu cavalo
Quilos de atenção para quem não merecia,
Parei para dar passagem à tua carruagem,
Olhei o Universo pelo teu retrovisor,
Observei os teus olhos castanhos,
Vi neles o meu olhar,
Como ficou leve o meu cavalo nesse instante,
Levaste toda a atenção porque a conquistaste,
Derrotaste um país de campos inférteis,
Verdes por engano ou por tirania.
Eras a democracia que procurava,
Vou para sempre viver em ti,
Ainda que partilhe a bancada do teu coração
Com outro deputado.
Como podes então ser tão tirana,
Governares todo o território do meu coração,
Onde o povo faminto clama
Pelo alimento da tua presença,
Mas és a sua imperatriz,
Acalmas os motins com o teu sorriso,
A tua voz culta e sapiente,
Da tua carruagem acenando com a mão esquerda.
AMAR E/OU SER AMADA?

Agora,
Foste tu quem foi permeável,
Ao meu sinal, ao meu desejo,
Guardaste-o minimizando o seu valor
Negando que o querias,
Apenas precisavas dele!
Antes clamavas,
Agora sabes como clamar,
Podes fazer da tua voz ondas electromagnéticas,
Que no meu coração
Elas se farão a tua voz.
Podes chamar por mim
Até ao fim do segundo 86 400
Desse mesmo dia sem fim,
O primeiro, o último, o único
Dia das nossas vidas
Em que poderei bradar-te como minha,
Prostrando o grito
Em que há muito afirmo ser teu.
Todos sabem que não o amas,
Talvez te sintas amada...
À CONVERSA COM UM PORTÃO ENTREABERTO

Hoje
Estive à conversa com um portão entreaberto,
Foi ele quem me abordou,
Reconheceu a tua imagem no meu olhar
E com a voz do ruído do seu correr embargada,
Suspirou que estás cada vez mais bonita.
De onde a conheces? Perguntei.
Invejei-o quando me disse
Que houve uma época
Em que todos os dias passavas por ele.
Apesar de quase não reparares nele
Ele sempre te cumprimentava,
Negava a tua indiferença
Contorcendo-se para te saudar,
Com a ajuda do arrepio que sentia
As suas dobradiças choravam,
Escondidas algumas lágrimas de óleo.
Perguntou-me quem é o responsável
Pela mancha de infelicidade no teu olhar,
Disse-lhe que foram as minhas lágrimas
Quem manchou a fotografia,
Não acreditou, pois lágrimas de amor não mancham,
Fazem brilhar...
No adeus, contorceu-se e abraçou-me,
Depois vergou-se e tirou dos seus carris uma súplica,
Que todas as semanas lhe trouxe-se no meu olhar
Novas fotografias de ti,
Que te trouxe-se a ti própria,
Enquanto ele continua entreaberto
Como a aliança que nos separa...
CONQUISTA

Senti-me o rei daquela noite


as luzes que rodavam em cima da minha cabeça
coroavam-me de glória,
envolto num manto de fumo
jurei preservar a independência do meu território.
Logo me propuseste parcerias amigáveis,
mas os teus beijos
não eram mais do que lanças
tentando ocupar os meus lábios
e daí, encetar uma ofensiva até ao meu coração,
fazendo assim cair a capital.
Negociámos o armistício durante toda a noite,
tendo a lua e as estrelas como únicas testemunhas,
redigimo-lo nos nossos olhos
e selámo-lo com carícias.
Mas eu não cumpri
a minha parte do acordo
falhei, fraquejei,
verme, cobarde,
não mereço governar este território,
por isso to entrego.
Quem me dera saber quem és!

Finalmente descobri,
Procurei, escavei, divaguei, delirei e encontrei-te,
Pobre de mim,
Forasteiro numa terra de nacionalistas xenófobos,
Perseguido, espezinhado, torturado
Pelos olhares,
Apenas, tão só, porque te livrei
Da túnica de mulher feita que envergavas.
Deixai-me com esses fantasmas
Que há muito havia enterrado e que libertei,
Quando tentei libertar-te das amarras que nos separam.
De todas as lutas,
A mais fratricida e sangrenta
Abriu chagas incomensuráveis no meu coração,
Na verdade já não tenho coração,
Apenas uma fístula infectada e bolorenta.
Essa luta travei-a comigo mesmo
E arranquei-o de mim como troféu
Que não soube guardar.
Temo agora que o venhas reclamar
Por isso o procuro,
Não, não fujo de ti como dizes,
Apenas o procuro para ti,
Porque não me mereces sem coração.
Ansioso, estafado e sedento,
o tempo calcorreou o próprio tempo,
atravessou segundos,
correu pelos minutos,
subiu horas,
rolou pelos dias,
descansou nas semanas,
andou à boleia pelos meses,
até lançar amarras no fundo dos anos,
não sem antes pagar ao deserto
um peso de água e mil de sal,
o que fez com lágrimas,
lágrimas salgadas,
as únicas que tinha e conhecia.
Sempre lhe foi mais fácil dizer adeus,
começar de novo,
pois que as amarras
tinham um preço demasiado alto.
Por fim,
até o adeus lhe era difícil,
preferiu só o deserto da solidão,
onde te conheceu,
oásis mais vasto que o mar,
onde lhe deste a beber lágrimas,
doces como o mel dos teus olhos,
droga inebriante
em que viciaste o meu tempo.
Agora,
correm-me nas veias essas lágrimas,
sem antídoto,
estou viciado nas tuas lágrimas doces,
que bebo,
estou viciado em ti!
NAUFRÁGIO

Ninguém me ensinou a navegar,


para quê, se nem sou barco!
Mas foi um barco que me levou a vida,
com medo que ele naufragasse,
prendi-me ao seu mastro
e soprei-lhe as velas.
Apesar do cuidado, não pude evitar o choque
com o iceberg do meu coração
e ele afundou-se,
bem fundo no seu peito.
Apesar de ainda estar preso ao mastro,
fiquei para trás, perdido, náufrago,
na ilha imaginária do meu pensamento.
No seio das tempestades que assolavam esta ilha,
a alucinação trazia-me na tua voz,
as palavras que há muito, muito tempo,
havia colocado dentro de garrafas e lançado ao mar.
Pensei seres o barco que me vinha resgatar,
mas estavas só a pernoitar na insónia do meu pensamento,
onde o doce toque do teu fantasma
acariciava as ondas do mar,
como o mar acariciava as tempestades da minha alma.
Muitas vezes roguei a Deus,
mas para quê
se nem o seu próprio filho ele conseguiu salvar.
Só lamento que não tenhas deixado a vela
onde reuniste os versos soltos do meu coração.
TUDO SOBRE TI

Hoje sentei-me para escrever tudo sobre ti,


chama-lhe ambição, sonho, querer ou desejo,
eu chamo-lhe apenas destino.
Desfolhei todo o Dicionário da Língua Portuguesa,
os Dicionários de todas as Línguas,
não encontrei palavras com sapiência suficiente para te definir,
desabafei com o dicionário dos poetas
e ele segredou-me que apenas uma palavra,
apenas uma, poderia falar de ti: Mulher.
Foi necessário conhecer-te
para ser o único homem a saber o significado desta palavra.
Disse-me também que gostaria de te conhecer,
pois só assim, poderia apagar das suas páginas
a dor e os seus sinónimos,
na dúvida, talvez deixasse o ciúme,
apenas por te saber tão desejada por mim.
Talvez nunca possas ser a minha mulher,
mas serás sempre a Mulher da minha vida!
MAPEAR O TEU CORPO

Encontrei um mapa
Um mapa que diziam ser uma lenda,
De um local belo, aprazível e fértil,
Não, não é o mapa da Atlântida,
É o mapa do teu corpo.
Resolvi conhecer esse local
Meio desnorteado e sem bússola,
Tendo-te apenas como sorte
A Norte do meu destino.
Comecei por soprar a areia dourada dos teus cabelos,
Peguei numa mão cheia
E deixei-a escorregar por entre os dedos,
Que suavidade, que brilho e que aroma.
De seguida,
Subi as serranias do teu peito e gritei por ti,
Ordenei ao vento que gritasse comigo,
Às aves que levassem a nossa voz,
Amo-te, quero-te.
Sentei-me contemplando a vastidão do teu Universo,
Esperando ouvir o eco destas palavras na tua boca.
Desci às planícies do teu ventre,
Deitei nelas a minha cabeça,
Repousei e adormeci.
Sonhei estar encurralado numa gruta,
Mas não me senti prisioneiro, tinha alguma liberdade,
Uma vontade de fugir que me impelia para fora
E a tua voz de queixume prazenteiro,
Que me chamava para dentro.
Fiquei confuso, mas optei pela reclusão.
Querias apenas salvar-me e proteger-me,
Guardando-me dentro de ti,
Tu e eu seremos apenas um.
ERÓTICO

Treme já o transpirar
Fruto ignóbil do medo,
Da ansiedade de amar
Num tempo ledo,
De beijos e carícias
Consanguíneas sevícias.
Teus lamentos
São uma acha de lume,
Que nossos corpos une
Em bródios desatentos.
A Terra
Não é mais o nosso manto
Mas o Éden do encanto,
Segredos, que um lençol encerra.
Numa volúpia volátil
Serenamos além do versátil,
Pousamos além, além da fímbria da vida
Que já não vivemos, esquecida.
Ergástulo tua fusta
Do canonizar de minha alma,
Venial a augusta calma
Do fuste, que a furta e degusta.
Em delíquio adormece já a mente,
De tuas serranias uma torrente,
Inamovíveis capitosos
Ribeiros airosos.
(Re)Encontro

Vi a noite despedir-se do dia,


Pedi-lhe permissão para a acompanhar,
Calada, apontou-me a lua cheia como guia,
Então sorriu com o luar
Como consentimento
E com sentimento.
O que fazia por aquelas paragens
Perguntei por entre as quentes aragens,
Procurava o dia
Cuja partida consentia.
Não percebi, certamente pelo cansaço,
Sugeriu-me o orvalho como regaço
E as estrelas como agasalho.
Adormeci sem atalho
E voei a bordo da minha imaginação,
Fui bem longe sem sair do meu coração,
Onde te encontrei repousando
Da viagem que te trouxe do paraíso,
No espaço remando
Para me levares sem aviso.
A minha canoa havia encalhado
Ia no meu coração algo muito pesado,
Todo o meu amor por ti.
Salvaste-me, sobrevivi,
Coloquei-te na mão
O meu coração,
Implorei-te que me levasses o olhar
Para não te ver partir,
Olhar para trás com sentir,
Mas que me deixasses lágrimas para chorar.
Supliquei-te aparto da audição
Para te não ouvir dizer adeus,
Deixa-me os suspiros teus
Mas recuar, não, não quero esse chão.
As mão já me arrefecem,
Como posso remar? Os dedos enlouquecem,
De um lado para o outro, ficam duros,
Vai, sobrevive! Estou em apuros,
Porque sem teu viver
Morrerei sem chegar a ser!
BOLAS DE FOGO

Inacabadas são as noites


Em que partes sem nunca chegares.
Olho para elas, vejo bolas de fogo
E fico com o olhar lancetado,
Pelos punhais de saudade que exalam.
Então, fecho os olhos
Não, não! Continuo a vê-las
Dentro de mim, que adianta?
Elas habitam dentro de mim,
Essas saudades que já se empurram umas às outras,
Partem então para povoar o Universo
Mas ninguém as conhece,
Porque saudade, sentir a tua falta,
É apenas uma maneira diferente de dizer amor.
Também as malditas te amam
E têm ciúmes do meu amor,
Aliaram-se ao anjo negro
Colonizaram os teus lábios
Impediram-me de te beijar.
Nunca vencerão as malditas!
O AMOR VENCEU A FORÇA DA GRAVIDADE

A lua cheia, pesarosa, pesada,


Quis por à prova a força da gravidade,
Chamou-me com um sussurro mansinho,
Acenou-me com um gesto leve,
As estrelas sorriram atrevidas, sensuais,
Fui, procurava-te, tinha que ir,
Imaginava-te lá, deitada nas manchas negras,
Imaginava-te lá, com o teu body preto.
Era uma armadilha,
Mal assomei o ventre das suas crateras,
Ordenou ao luar que se fechasse,
Trancasse, amarrasse e electrificasse,
Todos os portões, estava preso.
Porquê eu? Porquê eu!
Eu num mar de lágrimas do seio,
De uma humanidade de biliões, crescente.
Percebi,
São minhas as lágrimas mais verdadeiras,
É meu o amor maior
E a lua queria testar a força da gravidade.
Aparentemente, resistiu à aparência dessa força,
Mas toda ela já tremia, abalada,
Não de frio, em ebulição,
Mas queria mais, a cientista.
Pôs-me na cela a nossa cama,
Os nossos lençóis, massacrados e suados,
Embrenhei neles os meus dedos,
Encontrei sinais de ti,
Fios de seda aloirados,
Encostei neles os meus ouvidos,
Ouvi a rima dos nossos corações,
Escutei a rima do nosso respirar,
Sussurrei a rima dos nossos gritos de prazer.
Cravei neles os meus olhos,
Espreitei as nossas carícias,
Os nossos pés enlaçados,
Mas não, tu não estavas lá.
De repente, tudo estremeceu,
A lua sobressaltou-se
Implorando-me que partisse!
Ela já não aguentava, ia cair!
Vai, imploro-te que vás,
O teu amor é mais forte, tão mais forte
Que a força da gravidade,
Que todas as forças do Universo,
É Carla o seu nome, não é?
Quis saber antes de eu partir!
Sim é, respondi com uma lágrima!
Vai, vai…
ACORDAR DE UM COMA PROFUNDO

Sentei-me para escrever,


Se escrever eu sei longe de ti,
Levantei-me para te lembrar,
Mas nem por um nanosegundo te esqueci!
Vou ser condenado a um fogo cruel,
Daqueles que ardem e não consomem,
Dói mais, vive mais, respira mais,
Olho para o dicionário e as palavras somem,
Não sei dizer tudo o que mereces
Porque devo-te tudo o resto,
O sentimento que vivo, a vida que sinto,
Até do escrever o gesto.
Era amnésico meu coração,
Contigo, lentamente,
Acorda do coma em que viveu,
As palavras que lhe dedicas, lê-as atentamente,
Deixa-as desmemoriadas
Para recuperar a sua própria memória,
Escrever coisas sentidas e com sentido
Encontrar nelas a sua própria história.
SUICIDIO DO CORAÇÃO

O meu coração tentou enforcar-se,


O tonto, gostou tanto do nosso amor
Que fortemente o cingia,
Comprimido contra si próprio,
O tonto, como é bom o nosso amor!
Apertou-se a si próprio,
Mas não se sentia agradado e não percebia,
O tonto, que nada tem a força do nosso amor!
E tudo, tudo
Com ciúmes do vento,
O vento que te liba o perfume,
O vento que te acaricia por baixo das tuas vestes,
O vento com poeira que te faz chorar,
O vento que se roça nas tuas unhas,
Para se arranhar como tu me arranhas.
MULTIDÃO DE SAUDADES

O Mundo baloiça em roda de si mesmo,


A Terra baila em torno do Sol,
Tu danças em torno do Universo.
Quem agita mais esta multidão?
Tu és a energia potencial
Transformada em energia cinética,
O Mundo pára e a Terra estanca
Para te verem dançar,
Mas a multidão continua agitada
Redemoinhando à procura de si mesma,
Encontrar-se-á se te encontrar,
Portanto és tu quem agita a multidão
Dos sentimentos de amor
Que calcorreiam as minhas veias.
Outras multidões há,
Não se lhe comparam,
Pessoas com corpos,
Corpos sem pessoas,
Sem alma ou à procura dela,
As multidões do dia-a-dia
Onde me agito sem ti,
Com as mãos mutiladas
Porque os meus dedos não podem abraçar os teus.
Não, não procuro a minha alma,
Procuro-te a ti, só a ti,
Porque tenho a minha alma em ti,
Tens a tua alma em mim.
Reconheci-te num baile de máscaras,
De incomensuráveis bailarinos,
Onde debutei e revivi para sempre,
Mas não te encontro nesta multidão,
Os teus pés não acariciam as pedras desta calçada,
Outras pedras se aprazem com eles,
Noutra multidão me procuras certamente.
Tu e eu havemos de reunir novamente,
Os nossos corpos e o nosso olhar,
Fazendo descansar a multidão dos nossos sentimentos.
POESIA OU AMOR?

Li todos os poemas de amor,


Reli as suas entrelinhas,
Desci e voltei a subir
A escadaria das suas rimas,
Mas não, nenhum deles,
Nem uma só palavra se mostrou meritória de ti!
Tentei eu escrever, mais uma vez,
As palavras nada poderiam dizer de ti,
Por mais que tentasse,
Que forçasse a mão trémula,
Era uma questão de tinta,
É sempre a mesma tinta em todos os poemas!
É com sangue soprado a fogo,
O meu sangue, o meu amor
Que tenho de escrever-te,
Talvez apenas uma pintura abstracta,
Mas estão lá o amor e a vida,
É disso que falam os poemas, não é?
Talvez assim acredites,
As minhas palavras ganhem reputação a teus olhos,
A disposição de chorar por ti seja aceite,
A vontade de morrer por ti
Seja lavrada nos nossos lençóis,
Um tratado de amor eterno
Assinado com o nosso suor.
Em 15/ 08/ 2005
VIDAS PASSADAS

Reencarnei no nosso amor,


Descarnei a minha alma,
Esfoliei o coração dos prazeres mundanos!
Reencarnar num amor fortificado,
Que não cede, proibido, cheio de sede,
É o preço venial que tenho a expiar,
Pela ferida chagada que terei aberto em ti,
Nessa outra vida, vidas,
Que não terei vivido
Por não te ter esquecido,
Sem nunca te ter encontrado.
Perdoa-me amor esse mal,
Que mal parecido esse mal!
Desenhava mapas do mundo,
Encantado com a geometria das belas formas
Dos continentes e das ilhas,
Como não te descobri? Ilha maior que um continente!
Agora que te encontrei,
Já não retrato nem continentes nem ilhas,
Retrato a incontinência deste coração
Que te ama, carnando por ti!
Dizes fazer do pouco muito,
Peço-te que por uma vez
Me faças muito,
A teus olhos talvez pouco,
Concede-me exílio eterno
No teu coração terno,
Até ao poente desta vida
E das que havemos de viver.
Não quero envelhecer
Nem voltar a nascer,
Sem a tua perfeita geometria facial,
Prefiro auto proclamar a minha morte
Num purgatório exicial. Em 20/ 08/ 2005
PRIMEIRO BEIJO

Senti-me o rei daquela tarde,


O sol rodava em cima da minha cabeça
Coroando-me de glória.
Soprando levemente o seu calor
Derreteu o gelo do meu coração.
Este milagre era fácil para ele,
Mas o gelo era quente e mole
Perto do meu coração empedernido,
Verdadeiro condensado de Bose-Einstein.
Foste tu quem o ajudou!
Ainda que as estrelas e a lua,
Tivessem vindo lá do outro lado do mundo
Deixando-o às escuras,
Bailar em torno do Sol,
Foste tu, tu quem o ajudou,
Quem me tornou novamente água viva.
As nuvens que me envolviam
Foram-se dissipando,
Deixando para trás uma neblina,
Só para evitar o choque
Dos meus olhos voltarem a ver a luz,
Assim, tão repentina e tão clara.
Carinhosamente,
Tuas mãos sopraram essa neblina,
Desnudando-me o peito.
Cerrando os dentes,
Jurava ainda preservar a independência
Do meu território,
Como parcerias amigáveis,
Os teus beijos não eram mais do que lanças,
Tentando ocupar os meus lábios
E daí, encetar uma ofensiva até ao meu coração,
Fazendo cair a minha capital.
Negociámos o armistício durante dias,
Tendo essas recordações como únicas testemunhas,
Redigimo-lo nos nossos olhos
E selámo-lo com carícias.
Por mereceres governar o território do meu coração,
O conquistaste,
Dele fiquei apenas com o amor,
Para eu próprio tu oferendar.
Em 10/ 09/ 2005
FIM DO MUNDO

Muitos profetas,
Muitas palavras
Ponderaram já sobre o fim do mundo,
Fome, peste e guerra,
Água, vento e fogo.
A minha alma já teve fome de amar
E o mundo ficou,
Sentiu a peste de dar amor sem amar
E o mundo aguentou,
Guerreou fratricidamente por ilusões
E o mundo sangrou,
Nadou nas minhas lágrimas
E o mundo não se afogou,
Sentiu o vento gélido da solidão
E o mundo não se agastou,
Aqueceu-se em chamas ténues
E por isso as apagou.
Lamento contrariar a sabedoria popular
Mas não é assim que o mundo acaba.
Eu senti-o acabar
Com a respiração ofegante,
As palavras embargadas,
O olhar trémulo,
Os músculos enrijecidos,
A força paralisada,
Naquele dia triste
Em que quiseste saquear-me,
Levar-me o mundo para o destruíres,
Naquele dia em que te reclamaste a ti própria,
Em que quiseste levar-te de mim,
Para nunca mais voltares.
Na tua crueldade,
Quiseste enterrar-me vivo
Com as tuas lembranças materiais!
As memórias não as podias levar
E essas, meu amor,
Eram suficientes para me fazerem penar
Eternamente no purgatório,
Causando pena ao próprio Inferno. Em 27/ 08/ 2005
ESSE DIA 6 DE JUNHO DE 2005

Nesse dia de Primavera,


Deus perdeu um dos seus anjos,
Perdeu-o para mim!
Quando me sentei naquela mesa,
Tinha aportado de uma longa cavalgada pela vida,
Limpando com lágrimas
O pó oferecido à minha face pelo vento,
Carregando no meu cavalo
Quilos de atenção para quem não merecia,
Parei para dar passagem à tua moto,
Olhei o Universo pelo teu retrovisor,
Observei os teus olhos castanhos,
Vi neles o meu olhar,
Como ficou leve o meu cavalo nesse instante,
Levaste toda a atenção porque a conquistaste,
Derrotaste um país de campos inférteis,
Verdes por engano ou tirania.
Eras a democracia que procurava,
Vou para sempre viver em ti,
Ainda que partilhe a bancada da tua vida
Com outro deputado.
Como podes então ser tão tirana,
Governares todo o território do meu coração,
Onde o povo faminto clama
Pelo alimento da tua presença!
Mas és a sua imperatriz,
Acalmas os motins com o teu sorriso,
A tua voz culta e sapiente,
Os teus discursos em forma de mensagens,
Da tua moto acenando com o olhar.
Em 1/ 10/ 2005
SEM ABRIGO
Era Primavera nas leis dos Homens,
Mas Inverno Rigoroso no meu íntimo,
Órfão, mendigo sem abrigo,
Agasalhando a alma
Em emoções desleais às leis do amor!
Agasalho roto,
Esfarrapado pelas minhas unhas
Que se procuravam cravar na vida,
Estava nu é certo,
Mas tinha que enganar o frio,
Não podia ceder perante ele,
Fingia-me aquecido
Sendo hipócrita comigo mesmo,
Para não lhe dar o prazer
De me espezinhar calorosamente.
Foi assim,
Indigente, com fome e frio,
Que bati à porta das tuas mãos,
Convidei-te a sair de ti,
Para vires dançar no meio da chuva!
Recusaste, talvez com medo da tempestade,
Talvez também estivesses molhada,
Talvez também procurasses abrigo!
Foi então que vi,
Deixastes entreabertos os teus lábios,
Entraste em mim, entrei em ti
Sem forçar o esforço,
Construímos um abrigo
Que já provou a sua força
Nas quatro estações do amor,
Vivemos ardentemente Primaveras e Verões,
Já suportámos algumas tempestades de Outono
E resistimos ao Inverno da distância. Em 8/ 10/ 2005
SONHO
(A Propósito da incerteza de poder ver-te…)

Acordei num sobressalto desperto


Com suor falto de calor,
Chagando as feridas
Da certeza incerta de poder ver-te.
Chega autoritária e arrogante,
Certa incerteza errante,
Para com dedos raquíticos e vis
Levar-me o sonho ainda em flor,
Sacrificá-lo aos além dos senis.

Mas sou sonhador e sonharei


Ter outro sonho e despertar,
Ser o único a cair no sono
E de novo sonhar,
Do teu sonho ser dono.
Salve desejo incendiado
De pelo teu pensamento
Sempre estar rodeado.

Nestas ruas em forma de vida


Por onde em fábula me arrasto,
Neste viver de forma esquecida
Apenas sonho com a realidade,
Apenas sonho contigo,
Realidade mais doce que o sonho!
Em 3/ 9/ 2005
MAPEAR A TUA ALMA

Saí do teu coração sem o abandonar,


Pé ante pé,
Com o silêncio cúmplice
Do seu bater!
Estava decidido a mapear a tua alma,
Bati à porta com carícias
E a minha própria voz deu-me permissão para entrar!
Entrei, percebi que a minha voz
Veio de longe, muito longe,
Convidar-me a entrar.
Uma vez lá dentro,
Percebi o significado da palavra enorme,
Era inglório tentar mapear a tua alma,
Agora tinha que fazer um outro mapa,
Para me encontrar a mim e à minha voz
Na vastidão da minha alma!
Tomei a boleia do meu coração,
Visitei o bom e o bem
Que pensei nunca existirem,
Deste-me a beber alguma da chuva
Com que regas as tuas férteis planícies,
Estava abrigado no meu coração
Que me transportava pela tua alma,
A chuva escorria
Limpando as minhas feridas sem sangue,
Acariciando as janelas das minhas aurículas,
Batendo à porta dos meus ventrículos.
Não resisti e saí para fora,
Bebi esse doce néctar,
Rebolei-me nele e adormeci.
Regressou o Sol e acordou-me,
Mas não veio sozinho,
Fazia-se acompanhar dessas nuvens alvas,
Com ar palaciano que emolduram os céus,
Cheias da chuva que amam
Mas que não podem derramar!
Senti-me como elas,
Já que estou a transbordar de amor por ti,
Amo esse amor como te amo a ti,
Conquistei o teu amor
Mas não te posso conquistar a ti…
Clamei aos ventos, tempestades e furacões,
Que fossem transformar o mundo feio e triste,
Esse mundo fora da tua alma e do teu coração,
Onde longe de ti aprendo a morrer,
Mas que nunca agitassem o céu em que me fazes viver,
Perdido de amor por ti
Na tua alma e no teu coração!
Vou esperar por ti
Nestas nuvens almofadadas,
Vou enlaça-las e fazer delas lençóis,
Os nossos lençóis da eternidade.
Enfim, vou ficar perdido para sempre na tua alma!
Mesmo que algum dia me queiras expulsar,
Não deixarei, hei-de resistir,
Fugitivo dentro de ti,
Escondido com vergonha de mim próprio,
Por não merecer o paraíso!
Em 22/ 10/ 2005
O COFRE DOS TEUS SEGREDOS

Acariciando os meus pés na areia molhada,


Os meus olhos caminham pela imensidão do mar,
À procura de águas calmas onde me sentar,
Mas todo ele é revolta e saudade,
Ciúme e tempestade,
Pelo tempo incontável que passas comigo.
Sentei-me aqui na areia
Molhada pelas lágrimas da minha saudade,
Esperei que ele viesse até mim,
Depois de acalmar, o mar.
Em esforço se impelia para mim
Rebolando-se sobre si mesmo
(lembrei-me do teu ventre vibrante de prazer),
Mas algo mais forte o violentava
e constrangido, recuava.
O meu olhar mudo
Continuou a chamá-lo,
Cerrei os meus olhos
Como quem cerra os lábios para beber,
Queria tragar toda a sua força,
Saciar com ela a minha alma,
Onde eu poderia mergulhar
E desvendar, quem sabe decifrar,
Todos os segredos que confiaste ao mar.
Mas, foi a promessa que ele te fez
Que não o deixava vir até mim,
Prometeu-te segredo eterno,
Sacrificou a sua calma
Para viver as tempestades por ti,
Confiou-te a suas alma
Para seres maior que ele!
Abri os olhos,
Ele não veio,
Mas mandou-me algumas palavras
Escritas nas nuvens que alimenta:
Não olvides jamais
Que ela é toda a minha água
E tu, apenas,
O ignóbil sal dissolvido nela”.
Olha Amor,
As nuvens estão a enviar-me as suas lágrimas
Confundir-se com as minhas,
Mas não me vieram acariciar,
Também não vieram por vir,
Vieram, apenas,
Para sentir o toque das tuas mãos na minha pele.
Vou voltar para ti amor,
Porque és o mar
Onde quero dissolver todos os meus segredos!
Em 29/ 10/ 2005
A VERDADEIRA HISTÓRIA DO TEU SONHO

Não era mais uma noite,


Tão pouco uma noite a mais,
Porque toda a minha vida era noite!
Neste quarto revestido com trevas,
Cheio de mim, vazio de tudo,
Porque tudo em mim era vazio,
Conversava com as sombras da minha solidão,
Só elas me faziam companhia
Enquanto me aconchegava nos espinhos do meu lençol.
Gostava da dor com que me lancetavam,
Pois era então que as sombras me consolavam,
Partilhavam das minhas ideias
E como isso me fazia feliz,
Saber que outros, uma multidão
Partilhava das minhas crenças,
Crente dos valores e da falta de valor que eu tinha,
Nada valia a meus próprios olhos:
Os elogios soavam-me a insultos,
As ofensas a louvores.
Sabiam de todas as minhas penas,
As penas que tinha de mim
E cansadas,
Vieram devolvê-las.
Com elas me vesti,
Não a alma, mas o corpo.
As mais duras deram-me asas
E nessa noite aprendi a voar,
Pensando que iria aprender a cair,
Mas fui, tropeçando nos meus medos, fui!
Voei cada vez mais alto,
Larguei as nuvens que me envolviam,
Encontrei a lua cheia
Cheia de brilho e esplendor,
Apontou-me um caminho
Que segui sôfrego,
Para me livrar de mim,
Para me entregar!
Esse caminho de luz
Aninhava-se sorvido nas paredes do teu quarto,
Janelas transparentes como o teu coração,
Onde pousei desajeitado,
Pois era a primeira vez que voava
E pousava no amor.
Foi então que percebi,
Eu não passava de um pássaro,
Uma ave de mau agoiro!
Quando me beijaste transformei-me em mim,
Desapareceram quase todas as minhas penas
E as que ficaram,
Foi apenas para voltar a escrever,
Melhor,
Para começar a escrever acerca do amor!
Quem me acompanha agora
Nas paredes brancas do meu quarto,
É o eco dos teus gemidos,
O vigor dos teus gestos de prazer,
A canção que tu cantas
E que apenas eu posso ouvir,
É a tua presença, mas também a tua ausência,
És tu, o sentir do meu amor por ti,
O sentimento do teu amor por mim!
Em 5/ 11/ 2005
PERGUNTAS

Está o Universo escrito em perguntas,


Essas que os Homens da razão tanto gostam,
São muitas as respostas para elas,
Algumas vivem, outras sobrevivem
No coração da mente,
Na mente do coração,
Mas como gostavam de as colocar em prática,
De as testar e divulgar ao mundo.
São Homens da razão é certo,
Mas é o coração quem os alimenta,
Olha amor o caso de Alfred Wegener,
Cientista alemão do início do século XX.
Lutou calorosamente
Até ao gelo da sua morte na Gronelândia,
Por uma resposta que então
Quase todos bramiram por disparatada,
Mas décadas passadas no gelo da sepultura,
Todos aplaudiram calorosamente.
Sabemos hoje
Que a emoção não vive sem a razão,
Tão pouco
A razão sem a emoção.
Na tua busca,
Perguntaste-me o que iríamos fazer?
Com tanto sentimento?
Com tanto amor?
Talvez não seja essa a pergunta, amor!
Talvez devamos perguntar
O que vai fazer connosco esse sentimento,
Esse amor?
Trazer ansiedades, incertezas e medos,
É certo, já os sentimos,
Vontade de viver, abraçar o mundo,
Conquistar a imortalidade do amor
Paralisando o tempo,
Também nos orgulhamos disso!
Mas pensa em Alfred Wegener,
Seria ele hoje lembrado se tivesse cedido ao medo?
Se tivesse calado a sua resposta?
É certo que respondi, tentei responder!
Não sei se o que querias ouvir,
Mas respondi
O que sentia e sinto,
O sentir que sentes e que me alimenta,
Pois é em ti que está a resposta!
Não a procures desesperadamente,
Podes assustá-la,
Mostra-lhe antes o amor que me dás
E ela virá ao teu encontro!
Chicoteando-me de prazer,
Fizeste-me jurar que nunca me perderias,
Mas foste tu,
Que afugentando a resposta
Me implorou para te perder de mim próprio!
Tu,
A segunda mãe que Jesus escolheria,
Quiseste deixar órfão o nosso amor!
Agora,
Sou eu quem pede para jurares,
Mais do que o nunca me perderás,
O nunca me deixarás,
Para trás!
Em 1/ 10/ 2005
AMOR

Amor,
Palavra pequena, fácil, useira e vezeira
Em muitas bocas,
Em poucos corações.
Estranho sentimento este
Que antes de ti me era estranho,
Que confundia o próprio dicionário:
“sentimento que nos impele para o objecto dos nossos desejos;
objecto da nossa afeição;
paixão, afecto, inclinação.”
Tanto! Numa palavra tão pequena!
Perante tal emaranhado,
Não me contemplava perante a desordem do coração,
Analfabeto e sem dicionário.
Porque tu me ensinaste,
Hoje sei que amar
É querer de alguém os braços
Confundidos nos nossos abraços,
É querer de alguém os lábios
Na nossa boca, beijos saborosos e sábios,
Palavras tecidas em ternura
Escritas no olhar com candura,
É iluminar o coração
Com o brilho desse olhar,
Para sempre o acompanhar
Para sempre nos guiar!
Amor é tudo o que eu quero,
Que nós quisermos!
Obrigado, eternamente grato meu amor,
Por seres a professora do meu coração,
Por lhe ensinares o amor!
Em 19/ 11/ 2005
…serias o jardim!

Quando te perguntei que flor eras,


Julgaste não ser jardim
Para nenhuma das palavras desse poema,
Agora sei que és uma rosa,
Jardim de pétalas sem espinhos,
És a flor que alimenta todas as flores,
A cor onde vem beber o arco-íris,
A suavidade que lustra a seda,
O toque que excita o veludo,
A limpidez que purifica a água,
A força que lapida o diamante
E lhe sopra o brilho,
Eras a minha sede,
Agora és o meu alimento.
Sou a abelha a que deste guarida,
Saciaste-me com as sementes do teu coração,
O néctar das tuas entranhas,
O prazer do teu ventre,
A biblioteca do teu pensamento.
É escarpado o caminho
Da congosta que tenho que voar,
Para te ver, para te encontrar,
Como o Homem sabe que Marte existe,
Sem o tocar, sem nele pisar,
Mas sabe o dia…
Um dia nele vai caminhar,
Lado a lado
Pelas ruas da vida.
Em 19/ 11/ 2005
Querer tanto … é AMAR!
(Comentário a “O que eu quero”)

Não, Amor
Não, por clemência ou dolorosa piedade,
Não me peças para te amar como tu me amas,
És tão generosa no amor, na vida,
Pede-me para te amar mais do que tu me amas!
Mas não,
Não me peças para te amar infinitamente,
Vida após vida, eternamente,
Porque esse é o meu sonho
E podes molestá-lo
Com a dúvida por detrás do teu pedido!
Esse que sonhei estar a sonhar quando te conheci,
Esse é o meu sonho eterno e infinito,
Que quero realizar noite após noite,
Em cada palavra traduzida em carinhos,
Em cada toque sussurrante de prazer,
Desejo pirómano de te possuir.
Esse é o meu sonho eterno e infinito,
Que quero realizar dia após dia,
Em cada telefonema que toca na alma,
Em cada mensagem que fala ao coração,
Em cada lágrima que sufoca as algemas que nos prendem,
Em cada preocupação que partilhamos,
Em cada solução das nossas brigas,
Lado a lado pelas ruas
Da vida pela vida
Desses que são os frutos do teu ventre,
Com sumo da tua alma e do teu coração!
Não, não penso em ti só quando fecho os olhos,
Penso e vivo por ti todos os nanosegundos,
Todos os micrómetros dos passos da vida,
Sinto a tua falta,
Mesmo quando estás por perto,
Não por me faltares com algo,
Mas porque sei que terás de partir!
Em 26/ 11/ 2005
…PARA SEMPRE
(Comentário a “E o Sonho Acontece”)

És a minha inspiração
No amor e no ciúme que partilho com a lua,
És a sua inspiração
E só por isso
Quando te sentes só,
Ela é capaz de desenhar para ti o meu rosto,
Também te ama
Mas sabe que é a mim que amas!
Lágrimas e sorrisos
Urdem-se na contradição do amor,
Mas neste amor que sinto, verdadeiro,
Não há contradição nas lágrimas e nos sorrisos,
Choro por ti, como nunca chorei por mim,
Mas como não fazê-lo?
Também me emprestas o sorriso,
É quando rasgo a boca
Trespasso os lábios com a língua
Que se desfralda humedecendo-os,
À espera que a lágrima chegue
Para a beijar como te beija.
É possante o grito do teu coração
Quando chamas por mim,
Tão intenso mas tão carinhoso
Que acorda o meu sonho,
Fazendo-me sonhar embalado
Voando em bandos de asas
Das aves que acordaram com o teu grito,
Fazendo-me sonhar embalado
Rebolando em tapetes de folhas
Das árvores que se despiram com o teu grito!
Deixo-me rebolar com o tempo,
Os anos com os meses,
Os meses com as semanas,
As semanas com os dias,
Os dias com as horas,
As horas com os minutos,
Os minutos com os segundos
E O SONHO ACONTECE!
Acontece na areia do nosso mar,
Nos lençóis do nosso suor,
Nos dias da nossa vida,
No amor dos nossos dias,
Na paixão das nossas noites,
Fazendo ondas nos nossos lençóis
Como o mar faz na areia!
Em 08/ 12/ 2005
TAMBÉM TENHO SEDE!
(Comentário a “SEDE…”)
Clemência amor,
Clemência te peço,
Te implora o meu coração
Na guilhotina da saudade,
Estou paralisado, só ele bate,
Porque não posso ser para ti,
O que para ti posso e quero ser…
Não chames a tua alma
Necessito da sua força,
A força com que sopra as ondas do mar,
A força com que ondeia os nossos lençóis,
Necessito da sua ternura,
A ternura com que afaga os meus olhos,
A ternura com que fortalece o meu ser!
Pecaste, vem reclamar a tua penitência,
Rasgaste a seda da tua pele
Cravando-lhe as tuas unhas,
Deixa que seja o meu toque
A cravar-se na tua pele,
Retalhando-a com força,
Deixa que seja o meu toque
A tecer novamente a tua pele,
Entrelaçando-a com ternura!
Germinei em teu peito,
Também tenho sede,
Vontade de beber tudo o que vem de ti,
Até a própria sede!
Plantado em teu peito,
Também tenho fome,
Mais do que vontade de comer,
Vontade de te guardar
Para sempre,
Vontade de te ter a meu lado,
Para sempre!
Em 19/12/2005
VOU ENVELHECER…A TEU LADO!

Estou a envelhecer AMOR,


Sempre tive certo medo receoso
De nunca encontrar a velhice,
Mas logo a seguir
Temia encontrá-la a sós comigo,
No imenso deserto da solidão!
No oásis do teu coração,
No sol do teu sorriso,
No calor do nosso amor,
Na areia dos nossos lençóis,
Nas dunas do teu corpo,
Nos suspiros dos nossos actos de paixão,
Mão na mão contigo,
Encontrei o mapa da velhice,
Também já não temo encontrá-la,
Porque estarei acompanhado por ti!
Estou a crescer,
Fizeste fermentar em mim o dom do amor,
Fizeste-me verdadeiramente Homem,
Que Homem não era
Tão pouco selvagem primitivo,
Pois que o medo
É a nossa emoção mais primitiva,
Imortalizado no nosso cérebro reptilíneo,
É a emoção que herdámos dos répteis.
Agora,
Percebo também o espírito do Natal,
Concebi-te dentro de mim
Fazendo-me nascer para mim próprio,
Regressando a casa, a mim,
Caminhando para ti,
Com os meus dedos
Por entre os teus cabelos enriçados ,
Com a minha língua
Contornando os teus lábios,
Auscultando a força do teu coração!
Em 22/ 12/ 2005
FOI UMA ESTRELA QUE ME GUIOU ATÉ TI!

Foi há dois mil anos,


Uma estrela de cadência fulgurante
Guiou os reis magos até Jesus,
Jesus, sinónimo de amor,
Aconchegado em palhas secas
Fez brotar a água fresca do seu amor.
O mundo bebeu dessa água,
Impregnou-se do seu amor
E não mais voltou a ser o mesmo.
Este ano abeira-se do último suspiro,
Mas foi nele que comecei a suspirar
De amor, de saudades,
De saudades, de amor…
Ergui-me do buraco negro onde me escondi
Com vergonha de mim mesmo,
Eram negras as profundezas
Daquilo que me mostraste
Ser o meu coração.
Como a luz se algema aos buracos negros,
O meu coração não libertava o amor!
Foi em Junho
Que a estrela se voltou a incendiar,
Tinha a mesma cadência fulgurante
A mesma luz de à dois mil anos,
Cegou de brilho o buraco negro que me aprisionava,
Libertou-me e guiou-me
A ti, sinónimo de amor,
Alimentaste-me de amor
E não mais voltei a ser o mesmo.
Mas estou triste nesta quadra,
Contemplando um quadrado de paredes frias,
Vazia a moldura de uma fotografia
Que gostava de preencher contigo,
Amparando no nosso abraço
O primeiro grito de Jesus,
Que voltou a nascer para o mundo
E para mim!
Em 27/ 12/ 2005
SOU TEU
(Comentário a “Sou tua”)

Na vitória conquistada
Do teu amor por mim,
Do nosso amor,
Sei que por vezes te sentes vencida,
Porque não podes abraçar,
Erguer o troféu
Perante o público que te aplaude
E o que se corrói de inveja.
Por mais que a espada
Da saudade ansiosa pese
E o escudo protector do segredo se arraste,
Não deixes nunca de me procurar,
Estarei sempre lá
Onde sabes que eu estou.
Não tenho o brilho da prata
Nem a beleza do ouro,
Sou apenas uma taça de cobre,
Mas a transbordar de amor.
Vem, acaricia-me com o teu olhar,
Olha-me com as tuas mãos,
Abraça-me com os teus lábios
E bebe desse amor que é teu,
Percorre-me com a tua língua
Alcança aquela gota
Que escorre por mim,
Guarda-me no cofre do teu coração,
Tranca-o zelosamente,
Verifica que ninguém o poderá assaltar,
Deita fora a combinação da chave
E esquece-a!
Sinto-me seguro no teu coração,
Mas oxido com medo, muito medo,
Que alguém, ou a distância ansiosa,
Faça a minha trasladação
Para a vitrina triste das memórias.
Em 7/ 1/ 2006
PRECISO DE TI

Tenho precisão de ti,


Que o teu amor me venha beijar
Como o Sol beija o mar
Abraçando-o ao deitar,
Mas não te encontro
Fora de mim,
Não é lá que estou
Que tu estás!
Tenho que lancetar o meu peito,
Deixar esvair todo o meu sangue,
Porque ai sei que te posso encontrar,
A luz do teu olhar
Pode beijar o meu sangue,
Como o Sol beija o mar
Abraçando-o ao deitar.
Vem por favor
Rasgar-me as veias,
Faz-me morrer para a morte
Viver numa hemorragia de amor.
Vem saciar os meus olhos,
Dá-lhes a beber toda a tua luz
Que o Sol cegou e nada vê,
Nada deixa ver.
Chamo pela lua
Que nada responde,
Foi guiar o Sol
Deixou-me aqui sozinho.
Em 7/ 1/ 2006
CRIME PASSIONAL

Toma AMOR o meu coração


Guarda-o com carinho,
É a única coisa de mim
Que merece ser guardada,
Quem me dera que fosse uma coisa única!
Há quem o considere assassino
Atenuado criminoso passional
Que por amor me degolou,
Lá está ela, a minha cabeça
No desterro das almas impuras,
Bamboleando no cimo de uma árvore cadavérica,
Clamando pela pressa dos necrófagos
Também eles de mau agoiro,
Até que chegue o quebra-ossos
E limpe todas as migalhas,
Daquilo que em vida
Demasiado viva,
Não passou de poeira esmigalhada!
Demasiado viva
Traiu demasiado o meu coração
Não cumprindo as suas ordens,
Dizendo o contrário do que ele lhe ordenara.
Agora tens só o meu coração
Sem cabeça, analfabeto,
Com as cordas vocais mudas
E sem mãos para escrever,
Mas poderás sempre encontrar os seus poemas
Nas lágrimas que ele chora.
Em 13/ 01/ 2006
ESCULTURA RESSUSCITADA

És a escultura ressuscitada
Que habitou a minha mente,
Antes de viver no meu coração.
Desde que o pó
Se desfigurou para me dar forma,
Tu viveste lá
Na minha mente,
Escondida, memorizada, marmorizada
Na imagem que sempre procurei.
Como te olhava só
Pelo recanto dos meus olhos sozinhos,
Procurava-te em cada sala vazia
Do vazio do meu coração,
Mas estavas só,
Ainda na minha mente.
Cada vez que chamava por ti,
O eco vazio do meu coração
Soprava-me o teu gemer,
Mais uma fenda que abrias
Na rocha em que te escondias.
Voltei atrás,
Olhei com mais atenção
Aquela forma que estava na minha mente.
Sofregamente a fui despindo,
A cada lágrima minha que sulcava as suas formas
Tornava-se mais nítida,
Confundindo-se com as tuas lágrimas
Que também te ajudaram a moldar.
O meu coração, esse,
Quando te contemplava
Através do recanto dos meus olhos,
Batia estonteado como um martelo pneumático,
Tentando esmurrar a nuvem que te envolvia
E te roubava a nitidez.
Ignorante de sentimentos
Não percebia que era pelo calor,
Pelo amor, não pela força,
Que haveria de dissipar esse nevoeiro.
Os meus dedos, quais guilhos,
Tentavam ingloriamente
Enxertar-se em ti.
Todos fracassaram
Quando tentaram esculpir-te.
Usei então o meu olhar
O recanto de cada canto dos meus olhos,
Estremeceste, tomaste-me os dedos
Quebraste o que não eras,
Esculpiste o que és,
Foi então que afloraste na minha vida
Dando vida ao meu coração!
Nadaste no meu sangue,
Desceste a veia cava superior
E vieste anichar-te no meu coração,
Plantaste-lhe no útero
Um embrião chamado amor,
Embrião que cresce todos os dias,
Todos os dias chora outras lágrimas
O seu líquido amniótico,
Potáveis para o coração,
Límpidas, cristalinas.
Em 20/01/2006

COMENTÁRIO A DE VOLTA À VIDA


Quando digo que não tenho talento para comentar, não é desculpa, é verdade!
Mas vou tentar… As tuas palavras esculpidas neste poema, fizeram-me lembrar os
primeiros tempos, após ter-te conhecido. Não nego que o teu corpo me incendiou (és
uma pirómana), mas o que via dentro dele, através dos teus olhos, da tua voz, dos teus
gestos e das tuas atitudes, figurava-se ainda mais encantador. Tornaste-te uma droga
para mim, cada dose era sempre insuficiente e queria sempre mais, como qualquer
dependente, mais e mais, morrendo de medo de não ter a dose do dia seguinte! Ainda
hoje, esse medo se cruza com a minha sombra! Tinha tanta vontade de te descobrir
como receio! Para terminar, deixa-me só salientar uma coisa: nada do que te orgulhas de
ter conquistado a meu lado o deves a mim, eu fui apenas a motivação, a inspiração, mas
foste tu a escultora… CARNADO PARA SEMPRE
PALAVRAS INCÓGNITAS

És todas as palavras de amor que já escrevi,


Todas as que nunca saberei escrever em papel,
As que já gravei no meu pensamento,
As que nunca saberei gravar nos troncos das árvores,
As que tatuei no meu peito,
As que nunca saberei tatuar nas paredes,
As que já sussurrei no teu ouvido,
As que nunca saberei sussurrar ao vento.
A todas as palavras incógnitas,
Essas que nunca saberei,
Que se despeçam da ausência de fugir
Porque para ti as guardei,
Todos estes anos-luz sem te conhecer,
Numa vida sem luz
Em sentimentos sem brilho.
Sei-as em mim, mesmo que as não saiba
Escrever, gravar, tatuar ou sussurrar,
As desenharei a fogo no teu coração
Cinzelando cada letra
Com os meus dedos incandescentes,
Enrubescidos pelo fogo do meu coração.
Em 04/ 02/ 2006
TORTURA

A inquisição assomou dentro de mim


No seu santo ofício de me torturar,
Condenado a ir para Norte
Desnorteado de saudade.
Acorrentado à rosa-dos-ventos,
Os meus pés a Norte
Para onde se arrastam,
O braço esquerdo no Nascente
Dizendo-te adeus,
O braço direito no Poente
Soprando-te beijos,
A cabeça no Sul
Pensando em ti.
À voz do carrasco,
Os pontos cardeais insuflam a distância
Cada vez mais longínqua,
Tentando esquartejar-me,
Ouço as ondas do mar
Que chicoteiam os cavalos
Em que o vento cavalgueia,
Empurrando os pontos cardeais
Para tão longe,
Que os quatro se fundem, algures…
Por estares tatuada nos meus olhos,
A lua cheia já me cegou
De tanto olhar para ti,
Não posso mais escrever!
Braga, 10/ 02/ 2006
PELE, SUOR…CARNE E SANGUE!

Minhas mãos cingidas à tua pele,


Meus dedos marejando no teu suor,
Descobrindo sensações que penetram a alma
Como um oceano profundo
Transbordante de sentimentos.
Os grãos de areia da praia são incontáveis
Como incontáveis os segredos
Os medos que partilhei com eles.
Neles enterrava os meus dedos
Escavados pelas tempestades
Que abatido me consumiam.
A tua pele restituiu a carne aos meus dedos
E do teu suor
Eles beberam sangue transbordando de amor.
Se hoje enterrar os meus dedos na areia,
Como arpões ela os sugará,
Ficarão presos como âncoras,
Será ela a sugar toda a minha carne
A libar todo o meu sangue,
Porque é a tua carne
O teu sangue,
És o corpo pelo qual ela se estendeu,
Para ficar sempre cingida à tua pele.
Não, não posso ancorar na areia,
Os raios de sol perseguem-me
Como uma matilha que se espraia,
Cercam-me como tangentes
Esgrimem-se como lanças,
Querem raptar-me
Mas não é a mim que querem,
Nada tenho para lhes abonar
A não ser a condição de refém,
A quem eles pouparão
Em troca do dourado dos teus cabelos,
Esse loiro que eles tanto invejam.
Em 25/ 02/ 2006
Se algum dia a inspiração me desamparar,
Vem comigo procurar as palavras que não encontrar,
Empresta as tuas cordas vocais à minha alma,
A tua voz que tanto me acalma,
Mas o que escrevo,
Com a humildade de quem ama me atrevo
A dizer, que vai muito além,
Ainda que fique aquém
De ser um bom poeta,
Vai muito além da meta
Das palavras, dos poemas, das rimas,
São fotografias da minha alma, que animas
De vida, sem medo de viver
Se de respirar eu me esquecer,
Asfixia-me no teu beijo,
Afoga-me de ar no sopro do teu desejo
E se ainda assim eu morrer,
Faz a minha cremação no fogo do teu ser,
Guarda as cinzas em teu coração,
As cinzas que sempre te amarão!
Em 04/ 03/ 2006
MUNDOS
(Antes de ti e contigo)

Aqui estou eu sentado


Mais uma vez,
A mesma cadeira, a mesma secretária,
Mas são maiores
A vontade de escrever e o amor que a inspira!
Antes de dar liberdade ao pensamento e à mão
Para colonizarem o papel com palavras,
Detive-me por segundos
A olhar o mundo pela minha janela,
Tão exíguo esse mundo lá fora
Que se o quisesse ver,
Seria obrigado a abrir a janela,
Fazer romper a minha cabeça
Por entre a multidão de ar repousado no exterior,
Desfraldar em gestos desatentos
Com a cabeça bamboleante,
Mas se quisesse ir mais além,
Por mais além que procurasse,
Chamasse, acenasse, alcançasse,
Continuaria sem ver, a olhar
Para um pouco menos que quase nada.
Tudo o que hoje vejo
Está dentro de mim,
A vontade de viver e te viver,
Te fazer viver por ti, por mim e por eles…
Esses dois mundo maiores do que nós!
Por ti e por eles,
Ajudar a melhorar o mundo lá fora,
Nem que seja só da parte de fora da minha janela,
Onde tenho agora por companhia
Dois pardais que se namoram,
O devir dos automóveis numa estrada,
Conduzindo pessoas à multidão
Onde procuram o que só, muitas vezes a sós,
Dentro deles podem encontrar.
Também o Sol se vem aninhar no meu peito,
Buscar calor na estrela do amor
Que ilumina e acalenta o mundo dentro de mim.
Era minha intenção escrever um poema,
Aqui na mesma cadeira, na mesma secretária,
Um poema daqueles, que um dia,
Todos pudessem declamar,
Acabei por escrever um poema vivido,
Para continuarmos a viver
Eu, tu, eles…
Era sobre aquele dia,
Eu queria escrever sobre aquele dia,
Em que vieste ensinar-me a beijar,
Não com os lábios, com a boca ou com a língua,
Mas com o coração,
Movimentando e entrelaçando os sentimentos.
Já não consigo escrever sobre datas especiais,
Porque contigo
Todas as datas são especiais!
Em 10/ 03/ 2006
SANTARÉM

Na nossa viagem longada


Por sítios esparsos em contracção,
Pequenos para um amor de mais fremente,
Fomos fundear nas águas do Tejo,
Nesse vale que inspirou outras viagens1
De poetas maiores que eu,
Mas se poesia é sinónimo de dor,
Então eu sou um grande poeta
Moribundo agonizante de saudade
Da saudade que antes sentia,
Que de tão febril
Ensandecido julgava morrer,
Mas vivi para sentir uma saudade maior,
Esta que fundiu o aço
Das nossas mãos, dadas
Pelas ruas abraçadas,
Como se davam nossos braços
Em flamejantes abraços,
Oferendas, nossas mãos nos despiram,
Enquanto nossos olhos
Declamavam poemas de amor,
Os ouvidos compunham recitais de paixão,
As bocas, tremendo ziguezaguearam
Pelo corpo do nosso prazer.
As águas do Tejo ancoraram,
Como um jogo de espelhos
Fotografaram os nossos momentos,
A noite limpou-se
Despojando-se das estrelas,
Para que nela, qual tela,
A lua cheia pintasse os nossos momentos.
1
Refere-se às Viagens na Minha Terra de Almeida Garret
A Terra parou de girar,
Ficou atenta a cada gota de suor
Foragida da nossa ebulição,
Sorveu-as no seu ventre,
Aqueceu as entranhas do seu núcleo
Que agora, cálido como nunca,
Se contorce em correntes de convecção,
Como se contorce meu coração
Em taquicardia que só teu abraço acalma.
É uma criança a quem deste luz,
Que se sobressalta no medo
Do escuro da tua ausência.
Não, não quer adormecer
Mas quer que o embales,
Como os limpa pára-brisas
Embalaram minhas lágrimas
Na viagem de regresso,
Que será sempre um ponto de partida,
Para a viagem…
Em 17/ 03/ 2006
PRIMAVERA CHO(U)R(V)OSA

No regaço da Primavera
Erguem-se flores em tua direcção
Gera o ar entrançados do seu aroma
Mão na mão bailam contorcidas
Soma de rendilhados como teus braços
Perdidos na cintura do ar
Passos sem coreografia desenho no chão
Procurar a hipnose dos teus movimentos
Coração e braços meus em ti quero
Momentos eternos abraçar a dança
Espero a música mudar o ritmo acelerar
Esperança mudança mudança e esperança
Esperar quero mandar na espera
Lembrança que me remete a saudade
Desespera a loucura em mim
Há-de sublimar-se no fogo do AMOR
Assim como se sublinha em minha face
Dor da tua ausência
Enlace o vento todas as flores que puder
Anuência lhes dão meus braços para tas entregar
Mulher jardim de flores sivestres
Cuidar de ti em ti quero!
Em 25/ 03/ 2006
SENTIMENTO PASCAL

Bem vindo sou


Porque me admitiste há tua presença,
Nicho divinal de que não sou digno
Por mais dignidade que copie de ti,
Sou um pobre mendigo de amor
Ao teu cuidado, albergado
No coração do Olimpo, o teu,
Onde ao não entrar temi entrar
E ao entrar tremi,
Tremi pelo frio que já não tinha,
Mas tinha deixado retalhadas
As feridas da minha alma.
Limpaste-me as feridas
Pagando um preço caro, é certo,
O teu coração que restituiu
A carne e o sangue
À besta dorida que eu era!
Homem sou agora,
Nessa carne me deste inteligência
Nesse sangue me deste amor.
Com a inteligência
Irei na distância procurar caminhos
Próximos, tristes pela fugaz proximidade,
Atalhos para me prostrar ante teu corpo,
Avenidas para repousar em tua alma.
Com o amor enrubescido de paixão,
Vou dizer, gritar, clamar, bradar,
Arrombar a porta dos Deuses
Profanar com cólera o seu sossego,
Só para lhes segredar
O quanto te amo!
Em 14/ 04/ 2006
ORIGEM

Corre-te nas veias essa água


Do mar imenso
Banha os socalcos das tuas células
Como os socalcos da Terra
Que nas praias se ajoelha diante dele
Como que conversando com Deus
Ou consigo própria
Assim vais tua diante dele
Caminhando pelos teus pensamentos
Provocando-lhe calafrios
Lá bem nas profundezas do céu onde nasce
E todo ele tremendo
Vem em ondas ajoelhar-se perante ti
Beber força em ti
Oferecer em troca as suas ondas
Orações vibrantes
Que vibram desde lá
Onde o mar beija o horizonte
E acaricia a face do céu

Em 28/ 04/ 2006


RENASCIMENTO

Nascemos para renascer


Voltarmos a nascer a cada dia
A cada acordar
Em que meus dedos contornam teu corpo
Esculpindo-te no ar
Pintando-te nos lençóis,
Como se estivesses a meu lado!
Vem, verte sobre mim
A humidade do teu suor,
Faz-me desabrochar
Como a rosa que juntos plantámos,
Da qual tu és as pétalas
De púrpura ardente,
O aroma inefável
Que afável abraça o ar!
E eu que sou?
Os espinhos lancinantes
Que romperam as pétalas,
As pétalas de que eram guardiães,
Traidores cobardes
Sem força, prostrados
Na vontade de te vingarem,
Rompendo-se a si próprios!
Em 15/ 06/ 2006
PROCURA

As mãos dormentes
Suspiravam pelas palavras latentes
Que o coração em silêncio declamava
Como que rezando, esperava…
O milagre de voltar a escrever
Orações de amor que só o teu sabe ler!
És a professora, o dicionário
A voz em compasso quaternário,
És quem me ensinou das letras o torneamento,
Das palavras o sentimento!
Mestre, confesso-me aluno da lição da vida
Da minha sina sem ti perdida
Senti que sem ti nada senti,
Vendo ceguei e nada vi
Falando emudeci e nada disse
Minha alma para que se ouvisse
Procurando a tua caminhou
Abraçando-a novamente se levantou.
Em 05/ 07/ 2006
SAUDADE…SEMPRE!

Com os corações
veremos o invisível,
sentiremos mandar no difícil
que, ás vezes, se mascara de impossível,
só para abalar o escuro silêncio da saudade
à espera que o sol nasça realidade
sentir saudades da saudade
talvez não, não de certo,
porque saudades sinto
sempre que não estás a
ao alcance dos meus olhos
aconchegando o meu abraço,
abraçando os teus lábios aos meus,
acariciando tua língua na minha,
fundindo nossos dedos
como é funda a saudade!
Fecho os olhos
E as luzes não se apagam,
És a luz vital
Com brilho de cristal!
Só se vê bem com o coração,
O meu sempre te olha
Pulsando a cada abraço teu,
Sempre te beija
Língua na língua,
Dedos nos dedos.
Em 02/ 09/ 2006
AO LONGE, EM MIM!

Vejo-te numa nuvem alta


Com porte altivo
O mesmo do amor que cultivo!
Beijo-te em pensamento
Pensando-te cravada em mim
Como cravavas tuas unhas num fim
Que, enfim, não terminava!
Desejo-te em sentimento
Que arde com medo de ser ardente
Tanto, que evapore da tua mente
A nuvem em que ainda vens,
Lá ao longe, até mim!
Em 23/ 11/ 2006

You might also like