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1
PARTE UM
2
COBARDE
NOITE
Embalando o berço
Rosário e terço
Oração na noite.
Dormem os ponteiros
Esperando o açoite
Dos tempos, inteiros.
Dessa noite o fumo
Igual e sumo,
Já claro no brilho
Continua baço,
Ilumina o trilho
Nesse morto abraço.
3
NADA TE É COMPARÁVEL
VERÃO DE OUTRORA II
4
AS PENAS DO AMOR
ASILO ENVELHECIDO
5
PORTUGAL
PÉTALAS DE AMOR
6
ESPERANÇA
FLOR MARINHA
7
POEMA DESCONHECIDO
17 DE JUNHO DE 1998
8
AMOR CÁRCERE
JUSTIÇA
9
FELICIDADE
ANCORADO EM TI
10
NÃO O IMPLORES
QUE JÁ O TENS ...
A PONTE DA FELICIDADE
11
TEMPO PARA OUVIR
Agasalhai-vos do vento
Escutai-o ciumento,
A furtar da chuva dada
A queda precipitada.
Abeirai-vos dos vidros da nossa janela,
Vede-os sorrir com meus olhos na lapela.
Abri de contentamento
Ao cantar de envolvimento,
Do pardal, da rebanhada
Mugida na paliçada.
Não. Não a ouvis chamar por vós, ouve-vos ela.
Machuca-vos agora a surpresa? Sois dela
Da multidão e perdidos,
Mapas desaparecidos
Tende pressas e encontrai-vos,
Tende brandura e escutai-vos.
12
“BANG A DRUM”
( Inspirado no tema do mesmo nome, incluído na banda sonora do filme “young Guns II, da
autoria de Jon Bon Jovi”)
13
“ TA PRAGMATA”
( Expressão dos antigos gregos que genericamente significa: o poder nas mãos do Homem,
porque as coisas são aplicadas e/ou transformadas por si)
14
PARTE
DOIS
15
SONHO
Ob-roga-se-me a realidade
Num virtual fingimento,
De que o nosso amor tem a mesma idade.
Salve desejo incendiado
De pelo teu pensamento
Sempre estar rodeado.
16
... de amor ele não sabe falar!
17
SE ALGUM DIA EU PODER...
Corre-me a vida
Como o licor deste rio, perdida,
Osculando os pachorrentos penedos
Com lágrimas de mil enredos.
Num sussurrante cascatear
De um solavanco sorriso penar,
Eles vão dizendo adeus
Aos perdidos olhares teus.
Assim navego eu
No desejo que já não é meu,
Das mulheres que tanto amei
E que por amor me afastei.
18
SERPENTEANDO
Se te sentires perdida,
É um novo princípio que chama
No destino da vida,
Inflamada quando clama.
19
ESTUDANTE
Cinquentona a hora
Enferma que chora,
Por um décimo de vida
Que logo enoja perdida.
Inerte a preguiça
Do sol que se enguiça,
Lesto no anoitecer
Do futuro amanhecer.
Enlutas o alferes
A quem em lutas auferes,
Galhardetes e condecorações
Póstumas emoções.
20
RECORDAR
CULTIVAR O AMOR..!
22
CORAGEM
23
AVÔ
AVÓ
Um filho caminheiro
Descalço sem dinheiro,
Exige da morte o perecer
Avó, como bom é te ver.
24
O UNIVERSO EM TORNO DE TI
25
FOGO
Chama fria
Aragem que arrepia,
As peles suadas
Das léguas galgadas
Pelos soldados da paz,
Pela Natureza, seu capataz.
A árvore é uma frágil criança
Que à sorte afiança
Um dorso homicida,
Rebento degenerado
O fósforo que roga apagado,
Ser vivo sem coração, sem vida.
Não se cansa
O rio de declamar
Versos de criança,
Para o fogo alertar:
“O Homem é dinheiro,
Saciedade da Natureza
Decrépito viveiro
De poetas sem dor e sem tristeza,
Senhores de palavras imerecidas
Autores de cantatas esquecidas.”
O pinheirinho já não clama perdão,
Clama só a ânsia altiva
De abraçar a Faia sua diva,
Mas desfalece sem o desabafo do coração.
Assim o mundo
Doente, moribundo,
Se há-de sufocar na avareza
Que sufoca os estomas da Natureza.
26
TEZ RENASCENTISTA
Floresce a Primavera
Desabrocha contente,
Quem lhe dera
Um sol pungente!
Receia a profecia
Do tempo que foi, que virá
Do tempo da luz que não havia,
Do tempo da luz que não alumiará.
Enxugam ainda a face
Os mantos de um céu florentino,
Frescos de um tecto bizantino,
Dos retábulos onde nasce
O ar que não vejo,
A vida que desejo,
O amor que não beijo.
Floresce a rosa
Desabrocha carente,
Quem lhe goza
A chuva ausente?
Sente um pesaroso envelhecer
Na vacância de viver,
Um tempo uxoricida
Pândego de sua vida.
Não sente já o bulir do seu perfume,
Desse aroma que lhe extorquiu
A terra, um vulto de lume,
Génese que a sua mitose não viu
Na meiose do ensejo,
Do homizio cortejo
De caminhar sem bordejo.
27
GABAROLICE
28
EMPIRICAMENTE
29
MUSA MINHA
FAMILIAR ESTRANHEZA
30
NÃO QUERO MAIS AMAR!
CAMÕES
31
ÉDEN
PÉRSIA
32
VÍCIOS
INFÂNCIA
CIÚME OU TIRANIA
SER POETA
Horizonte de júbilo,
Tão depressa me abeiro
Tão depressa me aparto
E parto do porto desejado,
Onde atracam os galeões
Do amor,
Do rejúbilo,
Da magia de sentir
O que eu sinto.
Morre sufocada
A miriade de cigarros que fumo,
No fumo mascarado pela dissipação.
Mortifica-me a ânsia de que chegue o último,
Para então na cauda de tudo
Recordar o nosso derradeiro olhar,
A batida consentânea do coração
Na última canção
Que te ouvimos cantar.
Desespero já na saudade
Do adeus próximo no próximo despertar.
Hei-de visitar as águas do rio que te viu nascer,
Num dia de tempestade
Que desde então
Assola meu coração.
Mãos abençoadas pela maldição
As que te tocam o corpo,
Te repelem o coração
E te fazem moribunda, a agonia da alma.
Continuo sem saber
Se hei-de viver,
Mas recuso-me a dizer
Ainda que há força de alabardas,
Morrer, desistir,
Viver morto
De pranto e horto.
É lenta a morte
Que me vai fazendo viver,
Procurando leito
No teu peito.
OLHOS VERMELHOS
Procuro já o tempo
Em que dentro de mim te indaguei,
Sentimento estranho
Que sinto nunca ter sentido,
Esse de ver tua face cintilar
Nos grafitis escurecidos.
Encontrei já esse tempo
Longo mas criança,
Não precisou de mestres
Para tirocinar as mentiras sociais,
Fundo nos teus olhos
Olhos vermelhos, vermelhos de chorar.
ÁS VEZES
Vai poeta,
Vai
Como um gato varando a noite,
A passos largos entrepassados
Rumo à luz.
Pairando nas ruas da vida
Procuras ódio e algum amor,
Mas nunca será tarde
Para ti.
O mal
Edifica o teu grito, mas tu continuas,
Cansado eu sei,
Mas tu continuas
Porque lá fora, algures
Alguém confia no idílio.
Vai poeta,
Vai
Sê sincero para a tua dor,
Tu és amante e não um louco,
Escreves a chuva que te rodeia
E cantas a tempestade,
Que teima em não amainar dentro de ti.
Não temendo irresponsável
Pelo caminhar dos zéfiros,
Sempre serás escravo dos teus erros,
Não deixando de lutar até ao fim
Pelo teu pedaço de terra,
Um lugar para as rosas na tua campa,
Algum espaço
Para as lágrimas na tua face.
ORAÇÕES
Sentir- te – às arrefecer
Esta noite na tua tarimba,
Quando o teu lado selvagem
Ouvir que chamas a morte,
Enquanto tentas esquartejar de esquecimento
O último pesadelo.
Sonhaste não teres espaço para o sonho,
A minha mente não te entende
Mas o meu coração,
Sabe o que queres dizer.
FELECIDADE OU SOLIDÃO
É aterrador
Marchar sem corneta e sem tambor,
Lutar por nada
Nesta guerra sem armas.
Cada vez que tombo
Não tenho baioneta que me ampare a queda,
Fico de ouvidos pregados ao chão, vivo
Podendo ouvir mães chorando pelos seus filhos,
Esses loucos que buscam felicidade no amor,
Saindo com o coração chicoteado
E o fôlego vergastado.
No fundo,
Tudo o que consigo ouvir
São os espíritos de Valhalla, tão perto,
Tão perto...
DANÇA DOS BRAVOS
Perdoa-me!
Mas não olvides a crueldade
Em que te cravei,
És a rosa que nunca roubei,
Pelo que os teus espinhos de aço
Nunca me fizeram sangrar.
Sou demasiado humano para ler
O discurso das tuas sépalas,
Tão rendilhado como as tuas pétalas.
Deixa-me entrar num templo,
Da Batalha, em Delfos ou num quarto ofegante de amor,
Senão voltarei a dar assalto
Ao espinhar errante.
Não te aquietes
Que eu também quis pedir perdão,
Pensando mais fácil,
A dificuldade que me emprestaram
Os teus braços à volta do meu coração,
Não me deixavam falar
Volatilizando o destilar do amor,
Que para pedir perdão e perdoar
É imperioso amar.
Há muito que o amor
Palmilhou a maratona em que vivemos,
Era o último depois de uma amálgama de sentimentos,
Mas parecia tão rápido.
É uma armadilha,
Mas um véu é mais que uma máscara
Não me deixando ver o amor nos teus olhos,
Essa lenda que ouço desde o tempo heleno,
Erguida no mesmo mármore que o Pártenon,
Feriu de sedução Deuses e homens bravos,
Rendidos ante a compreensão que é deixar-se seduzir.
Por mim, não deixei cair a máscara,
Apenas a deixei para trás
Como tantas outras vezes.
Também eu me escravejei a ti, nós somos escravos
Dançando nas ondas
A dança dos bravos.
VERÃO ENVELHECIDO
Esta noite
O Céu ganhou uma nova estrela,
A rainha do coração do povo.
Doce como a chama de uma vela,
Sempre serás a luta
Dos que precisam lutar.
A tua influência
Faz a diferença,
Contra a dor e a indiferença,
Dor e indiferença.
Hoje
Tiveste que partir,
Um moribundo te chamava algures.
É uma criança chamada mundo
Quem clama o teu amor e carinho,
Rainha do xadrez dos Deuses.
Nunca saberás nada
Acerca do último conto de fadas,
Uma fada confidente nunca falha,
Nunca falha.
Finalmente
O Céu é paraíso
Com o azul dos teus olhos.
É o princípio do fim,
A Terra está num leito de morte
A idade da escuridão é a vingança.
Ontem, tinhas dezanove anos,
Lembro a tua beleza tão tímida
A tua timidez tão doce,
Tímida e doce.
OLHOS AZUIS
Esta manhã,
Quando dei à luz
De um sono que mal consegui dormir,
Senti uma espécie de fobia
Estava gelado, sem ar
Apesar do vazio dentro de mim,
Para onde olhei e vi
Que o meu coração já lá não estava.
Não, não o procurei,
Sabia exactamente onde ele pernoitou,
No lugar onde acordaste
Com alguém que não eu,
Mas nos meus braços.
Perguntou-te ele
O que queria dizer
Esse maldito anel na tua mão,
Ele apenas se deixou perseguir
Quando seguiu o compromisso nos teus olhos,
O meu carteado
Costumava ser um céu de estrelas,
Quando tu jogaste a rainha dos corações
Alguém na outra equipa jogou o rei,
Contra as lágrimas
Na face da senhora.
Foste imaculado,
Na devoção à Pátria
Que ao mundo te deu,
À Belém
Que ao mundo te entregou.
A REVOLTA DENTRO DE MIM
As pequenas revoltas,
Com disparos destas flores
Que na realidade,
Ninguém irá cheirar
Mas espezinhar um dia,
Ao contrário das grandes revoluções,
Não buscam a edificação
De um ideal futuro,
Mas a destruição do passado
O seu veneno,
Mas também o seu antídoto.
ÍNTEGRO
Desejo,
Na fraca lucidez
Dos momentos mais cortantes,
A morte.
Porque não desejo antes
O eriçar do meu tronco,
Duro como a integridade,
Como o veio de uma rocha
Jamais esnocável,
Ao ponto de esmurrar
Essa lâmina que nos retalha,
Às vezes os sonhos,
Às vezes o sofrer.
No rumor
Da mente do poeta,
Na tinta imóvel
A que dá forma
É fácil,
Mas por vezes,
Também ele
Vai entregando a mão a esse sucedâneo,
Deixando falecer o corpo.
VALSA
Parece impossível!
Tantas e tantas vezes o poeta tem medo de escrever!
Deve ser medo o que sinto agora,
Medo de não dizer o que mereces,
De não escrever o que realmente sinto,
Mas vou tentar, tenho de tentar!
O verdadeiro amor
É como as águas de um rio,
Passam por nós num qualquer espaço
Num qualquer tempo,
Mas continuam a correr,
Sem as vermos
Continuam-nos a levar
Onde só elas ordenam.
Vão-se diluir nas águas do mar
Ou será uma aguarela
Esboçada pelo Céu,
Pintada pelo Sol?
Seja o que for
Elas continuam lá, escondidas,
Esperando voltar ao sítio de onde partiram.
1 DE SETEMBRO DE 1999
Agora,
Foste tu quem foi permeável,
Ao meu sinal, ao meu desejo,
Guardaste-o minimizando o seu valor
Negando que o querias,
Apenas precisavas dele!
Antes clamavas,
Agora sabes como clamar,
Podes fazer da tua voz ondas electromagnéticas,
Que no meu coração
Elas se farão a tua voz.
Podes chamar por mim
Até ao fim do segundo 86 400
Desse mesmo dia sem fim,
O primeiro, o último, o único
Dia das nossas vidas
Em que poderei bradar-te como minha,
Prostrando o grito
Em que há muito afirmo ser teu.
Todos sabem que não o amas,
Talvez te sintas amada...
À CONVERSA COM UM PORTÃO ENTREABERTO
Hoje
Estive à conversa com um portão entreaberto,
Foi ele quem me abordou,
Reconheceu a tua imagem no meu olhar
E com a voz do ruído do seu correr embargada,
Suspirou que estás cada vez mais bonita.
De onde a conheces? Perguntei.
Invejei-o quando me disse
Que houve uma época
Em que todos os dias passavas por ele.
Apesar de quase não reparares nele
Ele sempre te cumprimentava,
Negava a tua indiferença
Contorcendo-se para te saudar,
Com a ajuda do arrepio que sentia
As suas dobradiças choravam,
Escondidas algumas lágrimas de óleo.
Perguntou-me quem é o responsável
Pela mancha de infelicidade no teu olhar,
Disse-lhe que foram as minhas lágrimas
Quem manchou a fotografia,
Não acreditou, pois lágrimas de amor não mancham,
Fazem brilhar...
No adeus, contorceu-se e abraçou-me,
Depois vergou-se e tirou dos seus carris uma súplica,
Que todas as semanas lhe trouxe-se no meu olhar
Novas fotografias de ti,
Que te trouxe-se a ti própria,
Enquanto ele continua entreaberto
Como a aliança que nos separa...
CONQUISTA
Finalmente descobri,
Procurei, escavei, divaguei, delirei e encontrei-te,
Pobre de mim,
Forasteiro numa terra de nacionalistas xenófobos,
Perseguido, espezinhado, torturado
Pelos olhares,
Apenas, tão só, porque te livrei
Da túnica de mulher feita que envergavas.
Deixai-me com esses fantasmas
Que há muito havia enterrado e que libertei,
Quando tentei libertar-te das amarras que nos separam.
De todas as lutas,
A mais fratricida e sangrenta
Abriu chagas incomensuráveis no meu coração,
Na verdade já não tenho coração,
Apenas uma fístula infectada e bolorenta.
Essa luta travei-a comigo mesmo
E arranquei-o de mim como troféu
Que não soube guardar.
Temo agora que o venhas reclamar
Por isso o procuro,
Não, não fujo de ti como dizes,
Apenas o procuro para ti,
Porque não me mereces sem coração.
Ansioso, estafado e sedento,
o tempo calcorreou o próprio tempo,
atravessou segundos,
correu pelos minutos,
subiu horas,
rolou pelos dias,
descansou nas semanas,
andou à boleia pelos meses,
até lançar amarras no fundo dos anos,
não sem antes pagar ao deserto
um peso de água e mil de sal,
o que fez com lágrimas,
lágrimas salgadas,
as únicas que tinha e conhecia.
Sempre lhe foi mais fácil dizer adeus,
começar de novo,
pois que as amarras
tinham um preço demasiado alto.
Por fim,
até o adeus lhe era difícil,
preferiu só o deserto da solidão,
onde te conheceu,
oásis mais vasto que o mar,
onde lhe deste a beber lágrimas,
doces como o mel dos teus olhos,
droga inebriante
em que viciaste o meu tempo.
Agora,
correm-me nas veias essas lágrimas,
sem antídoto,
estou viciado nas tuas lágrimas doces,
que bebo,
estou viciado em ti!
NAUFRÁGIO
Encontrei um mapa
Um mapa que diziam ser uma lenda,
De um local belo, aprazível e fértil,
Não, não é o mapa da Atlântida,
É o mapa do teu corpo.
Resolvi conhecer esse local
Meio desnorteado e sem bússola,
Tendo-te apenas como sorte
A Norte do meu destino.
Comecei por soprar a areia dourada dos teus cabelos,
Peguei numa mão cheia
E deixei-a escorregar por entre os dedos,
Que suavidade, que brilho e que aroma.
De seguida,
Subi as serranias do teu peito e gritei por ti,
Ordenei ao vento que gritasse comigo,
Às aves que levassem a nossa voz,
Amo-te, quero-te.
Sentei-me contemplando a vastidão do teu Universo,
Esperando ouvir o eco destas palavras na tua boca.
Desci às planícies do teu ventre,
Deitei nelas a minha cabeça,
Repousei e adormeci.
Sonhei estar encurralado numa gruta,
Mas não me senti prisioneiro, tinha alguma liberdade,
Uma vontade de fugir que me impelia para fora
E a tua voz de queixume prazenteiro,
Que me chamava para dentro.
Fiquei confuso, mas optei pela reclusão.
Querias apenas salvar-me e proteger-me,
Guardando-me dentro de ti,
Tu e eu seremos apenas um.
ERÓTICO
Treme já o transpirar
Fruto ignóbil do medo,
Da ansiedade de amar
Num tempo ledo,
De beijos e carícias
Consanguíneas sevícias.
Teus lamentos
São uma acha de lume,
Que nossos corpos une
Em bródios desatentos.
A Terra
Não é mais o nosso manto
Mas o Éden do encanto,
Segredos, que um lençol encerra.
Numa volúpia volátil
Serenamos além do versátil,
Pousamos além, além da fímbria da vida
Que já não vivemos, esquecida.
Ergástulo tua fusta
Do canonizar de minha alma,
Venial a augusta calma
Do fuste, que a furta e degusta.
Em delíquio adormece já a mente,
De tuas serranias uma torrente,
Inamovíveis capitosos
Ribeiros airosos.
(Re)Encontro
Muitos profetas,
Muitas palavras
Ponderaram já sobre o fim do mundo,
Fome, peste e guerra,
Água, vento e fogo.
A minha alma já teve fome de amar
E o mundo ficou,
Sentiu a peste de dar amor sem amar
E o mundo aguentou,
Guerreou fratricidamente por ilusões
E o mundo sangrou,
Nadou nas minhas lágrimas
E o mundo não se afogou,
Sentiu o vento gélido da solidão
E o mundo não se agastou,
Aqueceu-se em chamas ténues
E por isso as apagou.
Lamento contrariar a sabedoria popular
Mas não é assim que o mundo acaba.
Eu senti-o acabar
Com a respiração ofegante,
As palavras embargadas,
O olhar trémulo,
Os músculos enrijecidos,
A força paralisada,
Naquele dia triste
Em que quiseste saquear-me,
Levar-me o mundo para o destruíres,
Naquele dia em que te reclamaste a ti própria,
Em que quiseste levar-te de mim,
Para nunca mais voltares.
Na tua crueldade,
Quiseste enterrar-me vivo
Com as tuas lembranças materiais!
As memórias não as podias levar
E essas, meu amor,
Eram suficientes para me fazerem penar
Eternamente no purgatório,
Causando pena ao próprio Inferno. Em 27/ 08/ 2005
ESSE DIA 6 DE JUNHO DE 2005
Amor,
Palavra pequena, fácil, useira e vezeira
Em muitas bocas,
Em poucos corações.
Estranho sentimento este
Que antes de ti me era estranho,
Que confundia o próprio dicionário:
“sentimento que nos impele para o objecto dos nossos desejos;
objecto da nossa afeição;
paixão, afecto, inclinação.”
Tanto! Numa palavra tão pequena!
Perante tal emaranhado,
Não me contemplava perante a desordem do coração,
Analfabeto e sem dicionário.
Porque tu me ensinaste,
Hoje sei que amar
É querer de alguém os braços
Confundidos nos nossos abraços,
É querer de alguém os lábios
Na nossa boca, beijos saborosos e sábios,
Palavras tecidas em ternura
Escritas no olhar com candura,
É iluminar o coração
Com o brilho desse olhar,
Para sempre o acompanhar
Para sempre nos guiar!
Amor é tudo o que eu quero,
Que nós quisermos!
Obrigado, eternamente grato meu amor,
Por seres a professora do meu coração,
Por lhe ensinares o amor!
Em 19/ 11/ 2005
…serias o jardim!
Não, Amor
Não, por clemência ou dolorosa piedade,
Não me peças para te amar como tu me amas,
És tão generosa no amor, na vida,
Pede-me para te amar mais do que tu me amas!
Mas não,
Não me peças para te amar infinitamente,
Vida após vida, eternamente,
Porque esse é o meu sonho
E podes molestá-lo
Com a dúvida por detrás do teu pedido!
Esse que sonhei estar a sonhar quando te conheci,
Esse é o meu sonho eterno e infinito,
Que quero realizar noite após noite,
Em cada palavra traduzida em carinhos,
Em cada toque sussurrante de prazer,
Desejo pirómano de te possuir.
Esse é o meu sonho eterno e infinito,
Que quero realizar dia após dia,
Em cada telefonema que toca na alma,
Em cada mensagem que fala ao coração,
Em cada lágrima que sufoca as algemas que nos prendem,
Em cada preocupação que partilhamos,
Em cada solução das nossas brigas,
Lado a lado pelas ruas
Da vida pela vida
Desses que são os frutos do teu ventre,
Com sumo da tua alma e do teu coração!
Não, não penso em ti só quando fecho os olhos,
Penso e vivo por ti todos os nanosegundos,
Todos os micrómetros dos passos da vida,
Sinto a tua falta,
Mesmo quando estás por perto,
Não por me faltares com algo,
Mas porque sei que terás de partir!
Em 26/ 11/ 2005
…PARA SEMPRE
(Comentário a “E o Sonho Acontece”)
És a minha inspiração
No amor e no ciúme que partilho com a lua,
És a sua inspiração
E só por isso
Quando te sentes só,
Ela é capaz de desenhar para ti o meu rosto,
Também te ama
Mas sabe que é a mim que amas!
Lágrimas e sorrisos
Urdem-se na contradição do amor,
Mas neste amor que sinto, verdadeiro,
Não há contradição nas lágrimas e nos sorrisos,
Choro por ti, como nunca chorei por mim,
Mas como não fazê-lo?
Também me emprestas o sorriso,
É quando rasgo a boca
Trespasso os lábios com a língua
Que se desfralda humedecendo-os,
À espera que a lágrima chegue
Para a beijar como te beija.
É possante o grito do teu coração
Quando chamas por mim,
Tão intenso mas tão carinhoso
Que acorda o meu sonho,
Fazendo-me sonhar embalado
Voando em bandos de asas
Das aves que acordaram com o teu grito,
Fazendo-me sonhar embalado
Rebolando em tapetes de folhas
Das árvores que se despiram com o teu grito!
Deixo-me rebolar com o tempo,
Os anos com os meses,
Os meses com as semanas,
As semanas com os dias,
Os dias com as horas,
As horas com os minutos,
Os minutos com os segundos
E O SONHO ACONTECE!
Acontece na areia do nosso mar,
Nos lençóis do nosso suor,
Nos dias da nossa vida,
No amor dos nossos dias,
Na paixão das nossas noites,
Fazendo ondas nos nossos lençóis
Como o mar faz na areia!
Em 08/ 12/ 2005
TAMBÉM TENHO SEDE!
(Comentário a “SEDE…”)
Clemência amor,
Clemência te peço,
Te implora o meu coração
Na guilhotina da saudade,
Estou paralisado, só ele bate,
Porque não posso ser para ti,
O que para ti posso e quero ser…
Não chames a tua alma
Necessito da sua força,
A força com que sopra as ondas do mar,
A força com que ondeia os nossos lençóis,
Necessito da sua ternura,
A ternura com que afaga os meus olhos,
A ternura com que fortalece o meu ser!
Pecaste, vem reclamar a tua penitência,
Rasgaste a seda da tua pele
Cravando-lhe as tuas unhas,
Deixa que seja o meu toque
A cravar-se na tua pele,
Retalhando-a com força,
Deixa que seja o meu toque
A tecer novamente a tua pele,
Entrelaçando-a com ternura!
Germinei em teu peito,
Também tenho sede,
Vontade de beber tudo o que vem de ti,
Até a própria sede!
Plantado em teu peito,
Também tenho fome,
Mais do que vontade de comer,
Vontade de te guardar
Para sempre,
Vontade de te ter a meu lado,
Para sempre!
Em 19/12/2005
VOU ENVELHECER…A TEU LADO!
Na vitória conquistada
Do teu amor por mim,
Do nosso amor,
Sei que por vezes te sentes vencida,
Porque não podes abraçar,
Erguer o troféu
Perante o público que te aplaude
E o que se corrói de inveja.
Por mais que a espada
Da saudade ansiosa pese
E o escudo protector do segredo se arraste,
Não deixes nunca de me procurar,
Estarei sempre lá
Onde sabes que eu estou.
Não tenho o brilho da prata
Nem a beleza do ouro,
Sou apenas uma taça de cobre,
Mas a transbordar de amor.
Vem, acaricia-me com o teu olhar,
Olha-me com as tuas mãos,
Abraça-me com os teus lábios
E bebe desse amor que é teu,
Percorre-me com a tua língua
Alcança aquela gota
Que escorre por mim,
Guarda-me no cofre do teu coração,
Tranca-o zelosamente,
Verifica que ninguém o poderá assaltar,
Deita fora a combinação da chave
E esquece-a!
Sinto-me seguro no teu coração,
Mas oxido com medo, muito medo,
Que alguém, ou a distância ansiosa,
Faça a minha trasladação
Para a vitrina triste das memórias.
Em 7/ 1/ 2006
PRECISO DE TI
És a escultura ressuscitada
Que habitou a minha mente,
Antes de viver no meu coração.
Desde que o pó
Se desfigurou para me dar forma,
Tu viveste lá
Na minha mente,
Escondida, memorizada, marmorizada
Na imagem que sempre procurei.
Como te olhava só
Pelo recanto dos meus olhos sozinhos,
Procurava-te em cada sala vazia
Do vazio do meu coração,
Mas estavas só,
Ainda na minha mente.
Cada vez que chamava por ti,
O eco vazio do meu coração
Soprava-me o teu gemer,
Mais uma fenda que abrias
Na rocha em que te escondias.
Voltei atrás,
Olhei com mais atenção
Aquela forma que estava na minha mente.
Sofregamente a fui despindo,
A cada lágrima minha que sulcava as suas formas
Tornava-se mais nítida,
Confundindo-se com as tuas lágrimas
Que também te ajudaram a moldar.
O meu coração, esse,
Quando te contemplava
Através do recanto dos meus olhos,
Batia estonteado como um martelo pneumático,
Tentando esmurrar a nuvem que te envolvia
E te roubava a nitidez.
Ignorante de sentimentos
Não percebia que era pelo calor,
Pelo amor, não pela força,
Que haveria de dissipar esse nevoeiro.
Os meus dedos, quais guilhos,
Tentavam ingloriamente
Enxertar-se em ti.
Todos fracassaram
Quando tentaram esculpir-te.
Usei então o meu olhar
O recanto de cada canto dos meus olhos,
Estremeceste, tomaste-me os dedos
Quebraste o que não eras,
Esculpiste o que és,
Foi então que afloraste na minha vida
Dando vida ao meu coração!
Nadaste no meu sangue,
Desceste a veia cava superior
E vieste anichar-te no meu coração,
Plantaste-lhe no útero
Um embrião chamado amor,
Embrião que cresce todos os dias,
Todos os dias chora outras lágrimas
O seu líquido amniótico,
Potáveis para o coração,
Límpidas, cristalinas.
Em 20/01/2006
No regaço da Primavera
Erguem-se flores em tua direcção
Gera o ar entrançados do seu aroma
Mão na mão bailam contorcidas
Soma de rendilhados como teus braços
Perdidos na cintura do ar
Passos sem coreografia desenho no chão
Procurar a hipnose dos teus movimentos
Coração e braços meus em ti quero
Momentos eternos abraçar a dança
Espero a música mudar o ritmo acelerar
Esperança mudança mudança e esperança
Esperar quero mandar na espera
Lembrança que me remete a saudade
Desespera a loucura em mim
Há-de sublimar-se no fogo do AMOR
Assim como se sublinha em minha face
Dor da tua ausência
Enlace o vento todas as flores que puder
Anuência lhes dão meus braços para tas entregar
Mulher jardim de flores sivestres
Cuidar de ti em ti quero!
Em 25/ 03/ 2006
SENTIMENTO PASCAL
As mãos dormentes
Suspiravam pelas palavras latentes
Que o coração em silêncio declamava
Como que rezando, esperava…
O milagre de voltar a escrever
Orações de amor que só o teu sabe ler!
És a professora, o dicionário
A voz em compasso quaternário,
És quem me ensinou das letras o torneamento,
Das palavras o sentimento!
Mestre, confesso-me aluno da lição da vida
Da minha sina sem ti perdida
Senti que sem ti nada senti,
Vendo ceguei e nada vi
Falando emudeci e nada disse
Minha alma para que se ouvisse
Procurando a tua caminhou
Abraçando-a novamente se levantou.
Em 05/ 07/ 2006
SAUDADE…SEMPRE!
Com os corações
veremos o invisível,
sentiremos mandar no difícil
que, ás vezes, se mascara de impossível,
só para abalar o escuro silêncio da saudade
à espera que o sol nasça realidade
sentir saudades da saudade
talvez não, não de certo,
porque saudades sinto
sempre que não estás a
ao alcance dos meus olhos
aconchegando o meu abraço,
abraçando os teus lábios aos meus,
acariciando tua língua na minha,
fundindo nossos dedos
como é funda a saudade!
Fecho os olhos
E as luzes não se apagam,
És a luz vital
Com brilho de cristal!
Só se vê bem com o coração,
O meu sempre te olha
Pulsando a cada abraço teu,
Sempre te beija
Língua na língua,
Dedos nos dedos.
Em 02/ 09/ 2006
AO LONGE, EM MIM!