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Adriana Amaral
Raquel Recuero
Sandra Montardo
Blogs.com
Estudos sobre blogs e comunicação
Momento Editorial
1
2
Blogs.com:
estudos sobre blogs e Comunicação
Adriana Amaral, Raquel Recuero e Sandra Portella Montardo
(Orgs.)
AUTORES
AGRADECIMENTOS
As autoras gostariam de agradecer a todos os colegas, amigos e familiares
que, de alguma forma, nos apoiaram durante todas as etapas de produção,
elaboração e organização desta obra, que surge a partir da confluência de
nossos desejos e do cruzamento de idéias entre nossos distintos projetos de
pesquisa, assim como à intensa colaboração e discussão com os nossos alu-
nos e às instituições em que trabalhamos. Também é com muita honra que
agradecemos aos colegas André Lemos e Henrique Antoun pelo prefácio e
pósfácio, respectivamente; ao tradutor, Fábio Fernandes, pela colaboração; a
Sergio Amadeu, que acreditou na proposta; à organização do Campus Party e
a Murilo Machado. Também somos agradecidas à leitura atenta e às revisões
gramaticais de Ana Maria Montardo. Uma atenção especial vai para Fabrício
Castro, Henrique Weber, Liliana Passerino, Márcia Benetti, Paula Puhl, Ricar-
do Araújo, Roberto Tietzmann e Suely Fragoso pela interlocução e o apoio
dado a este livro.
3
Conteúdo licenciado pelo Creative Commons para Uso Não Comercial (by-nc, 2.5). Esta
licença permite que outros remixem, adaptem, e criem obras derivadas sobre sua obra
sendo vedado o uso com fins comerciais. As novas obras devem conter menção a você
nos créditos e também não podem ser usadas com fins comerciais, porém as obras de
rivadas não precisam ser licenciadas sob os mesmos termos desta licença.
Revisão e Diagramação
Murilo Bansi Machado
Capa
Fabricio Gorpo
B 612 Blogs.Com: estudos sobre blogs e comunicação./
Adriana Amaral, Raquel Recuero, Sandra Montardo
(orgs.)- São Paulo: Momento Editorial, 2009.
ISBN 978-85-62080-02-9
1. Comunicação 2. Web – Internet – Blogs 3.
Jornalismo 4. Sociabilidade I.Amaral, Adriana II. Recuero,
Raquel III. Montardo, Sandra.
CDD- (21ed.)302.23
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca José Geraldo Vieira
Momento Editorial
Rua da Consolação, 222 - Consolação - CEP 01302-000 - São Paulo/SP
momento@momentoeditorial.com.br - www.arede.inf.br
Fone: (11) 3124-7444
4
Sumário
Prefácio
André Lemos | 07
Introdução
As organizadoras | 21
5
SEÇÃO II – USOS E APROPRIAÇÕES DE BLOGS
Sobre os autores
Sobre as organizadoras | 287
Sobre os convidados | 288
Sobre os participantes | 289
Sobre o tradutor | 292
6
André Lemos
Prefácio
N
ada melhor para escrever um prefácio sobre o livro BLOGS.
COM: estudos sobre blogs e Comunicação, organizado por
Adriana Amaral, Raquel Recuero e Sandra Montardo, do que
pegar como inspiração textos de um... Blog. E, mais ainda, colocá-lo
em forma de um post em um blog. Propus às autoras publicar este
prefácio como um post do meu Carnet de Notes, retomando e ampliando
algumas informações e reflexões feitas aqui sobre esse tema. Com
espírito de abertura, coragem e ousadia, elas toparam. Este prefácio
é, assim, o que indica a palavra em sua etimologia: prae-fatia (“falado
antes”), ou prae-factum (“feito antes”), já que está publicado aqui no
Carnet antes mesmo de o livro estar em formato papel e disponível nas
livrarias. É um prefácio que não está, ainda, acoplado à materialidade
do livro, servindo, no entanto, como uma fala anterior que pretende
explicar o fenômeno dos blogs e a importância do livro, indicando por
que os leitores devem lê-lo. Agradeço, assim, às organizadoras por
permitir que este prefácio de um livro sobre blogs esteja, antes de tudo,
em um blog!
7
A experiência
8
A cultura de massa criou o “consumo para todos”. A nova cultura
“pós-massiva” cria, para o desespero dos intermediários, daqueles que
detêm o poder de controle e de todos os que usam o corporativismo
para barrar a criatividade que vem de fora, uma “isegonia”, igualdade
de palavra para todos. Os blogs refletem a liberação do pólo da
emissão característico da cibercultura. Agora, todos podem (com
mínimos recursos) produzir e circular informação sem pedir autoriza
ção ou o aval a quem quer que seja (barões das indústrias culturais,
intelligentsia, governos...). O fenômeno dos blogs ilustra bem essa cul
tura pós-massiva que tem na liberação do pólo da emissão, na co
nexão telemática e na reconfiguração da indústria cultural seus pilares
fundamentais (ver meus últimos artigos).
Post It...
9
- If you spend a little time searching before you post, you
can probably find your idea well articulated elsewhere
already.
- Always include some adjective describing your own
reaction to the linked page (great, useful, imaginative,
clever, etc.).
- Credit the source that led you to it, so your readers have
the option of “moving upstream”.
- Re-post your favorite links from time to time, for people
who missed them the first time”.
10
Para mostrar que esse não é um fenômeno menor, forneço alguns
dados para compreender a sua amplitude. Em dezembro de 2007,
Technorati contava 112 milhões de blogs. A cada dia, são criados mais
de 175 mil novos e produzidos 1,6 milhões de posts (cerca de 18 por
segundo). Últimos dados do State of the Blogsphere de 2006 indicavam
que o número de blogs dobra a cada 5,5 meses e que um blog é criado a
cada segundo todo dia. Em relação ao Brasil, estima-se que há entre 3
a 6 milhões de blogueiros/blogs e 9 milhões de usuários (as estatísticas
variam muito em fontes como Ibobe/NetRatings, Intel, entre outras), o
que corresponde a quase metade dos internautas ativos no país. Nos
EUA, por exemplo, 64% dos adolescentes participam de alguma forma
de criação de conteúdo on-line. Os blogs são mantidos por 28% deles,
e 39% disponibilizam e compartilham suas próprias criações artísticas
on-line (fotos, vídeos, textos, etc.). Os dados são de um estudo de
2006 realizado pelo Pew Internet & American Life Project. Matéria do
Estadão On-line aposta que, em 2012, 25% do conteúdo da internet
será criado pelos próprios usuários. Essa é uma das diferenças entre
as mídias de função massiva e as mídias de função pós-massiva. Se
gundo a pesquisa, “...as pessoas terão um desejo genuíno não só de
criar e compartilhar seu próprio conteúdo, como também de fazer re
mixagens e mashups, e passá-los adiante em seus grupos – numa
forma de mídia social colaborativa (...)”. Artigo do francês Telerama
de fevereiro de 2008 informava que os blogs ultrapassaram o jornal
The New York Times como fonte para busca das informações mais im
portantes da atualidade. Segundo o Telerama:
11
la popularité des blogs eux-mêmes! Vont-ils pour autant
supplanter les sites de presse traditionnels? Rien n’est
encore joué
Política e ativismo
12
suram blogs, revelando que a liberação da emissão tem uma forte
conexão política. Dar voz a todos (liberação da emissão), permitir o
compartilhamento e a troca de informações (conexão) são poderosas
ferramentas políticas de transformação da vida social (reconfiguração).
Vou citar alguns exemplos. Post do Global Voices Online de janeiro
de 2008 trazia em destaque a brutal condenação de jornalista à morte
por circular um texto encontrado em blog iraniano sobre direito das
mulheres e religião:
13
found. The Time China blog brings us one European
tourist’s writing, photos and video from Lhasa earlier this
week.
14
Bloggers, activists and organizers in Pakistan are using
SMS - short test messages - to coordinate protests and
send updates on the political situation since Pakistani
President Pervez Musharraf imposed martial law on
November 3. Only 12% of Pakistanis have access to the
internet (...) Bloggers in Pakistan report that November
3 had the “highest number” of SMS messages sent -- an
average of about 10 per mobile phone.(...) The Aurat
Foundation, a women’s rights organization in Islamabad,
has organized an SMS center to organize protests
and send political updates. Members of the network
“decided to circulate their message of protest through text
messages and work towards the restoration of human
rights, the judicial system and the removal of the media
blackout amongst other issues”. (...) “Recently with help
from a number of brilliant technologists around the globe
we have enabled LIVE SMS-2-BLOG services allowing
citizen reporters in Pakistan to directly update this blog by
sending this blog, readers shall now be given live updates
from the field as it happens”.
15
l’e-mail, tous ces moyens de communication instantanée
reproduisent les interactions habituelles des enfants dans
la rue ou dans leurs chambres. L’e-mail, en comparaison,
peut sembler guindé et laborieux. Ecrire demande de la
méthode et du temps, l’e-mail est plus proche de la lettre
que de la conversation. Même son temps de diffusion,
à peine quelques secondes, est considéré comme
terriblement lent (...).
O uso dos blogs é tão intenso que outro post do Rue 89 de abril
de 2008 – que apareceu agora, no momento em que estou escrevendo
esse prefácio – aponta para a angústia do blogueiro diante da tela
branca, do estresse que a atividade quotidiana cria (mais uma!). Vejam
abaixo alguns depoimentos:
16
sete anos. Como compreender esse fenômeno sócio-comunicacional
de impacto planetário? Os blogs se transformam não só em um objeto
fundamental de pesquisa para as ciências sociais, mas também em
um poderoso instrumento pedagógico. Vários acadêmicos, e me incluo
aqui, usam os blogs para lançar idéias e colher comentários; para criar
ambiente de discussão que amplia a sala de aula e permite aos alunos
trocar idéias, adicionar comentários; como memória de pesquisa; como
obra de arte... Os usos e os tipos são inúmeros e crescem a cada dia.
Não é, como me diziam alguns há sete anos, um fenômeno me
nor, passageiro, mas sim um verdadeiro sintoma da cibercultura e do
desejo de conexão e comunicação permanente. Isso não significa fim
de conflitos e problemas. Como mediar o debate sem centralizar o po
der? Como criar mecanismos de confiabilidade nas informações e nos
comentários sem implementar regimes corporativos esclerosados?
Como criar qualidade e tirar o joio do trigo nessa polifonia planetária?
Não há respostas simples para essas questões.
O jogo está aberto. O desafio é achar uma saída criativa que evite
o pensamento binário e simplório que, por um lado, insiste entre a “me
diação” clássica (dos pares, dos editores, dos sábios) e, por outro, no
populismo pobre que dá voz a todos sem hierarquias de valores. A
riqueza da cibercultura está na criação de ferramentas que potencia
lizam a pluralidade e a democratização da emissão. Mas tudo é virtual
e só o debate político poderá atualizar essa dádiva. O atual estado de
tensão e complementaridade entre os sistemas massivos e pós-mas
sivos deve amadurecer.
A vida social tira proveito dessa tensão. As pessoas convivem com
esse duplo sistema sem muita dificuldade: elas vêem TV e acessam
a internet, baixam podcasts e ouvem rádios, lêem críticas dos experts
em veículos massivos e acessam blogs de “pessoas comuns” ao re
dor do globo. A reconfiguração da cibercultura criou um ambiente mais
rico, já que hoje, como usuários, temos mais opções de escolha de in-
17
formação e, pela primeira vez, podemos publicar e distribuir, de
forma planetária, conteúdo em forma de áudio, texto, foto, vídeo. E,
com os novos dispositivos sem fio, em mobilidade.
O fenômeno dos blogs merece ser estudado, debatido e visua
lizado em todas as suas facetas. O livro que está em suas mãos tem
o mérito de abordar esse fenômeno por todos os ângulos, com rigor e
competência. Os artigos tratam de temas fundamentais para a compre
ensão da blogosfera e são uma contribuição importante para as ciê
ncias sociais e a para comunicação em particular. O livro é útil tanto
para acadêmicos como para o público em geral.
As organizadoras Adriana Amaral, Raquel Recuero e Sandra Mon
tardo, estudiosas do fenômeno e blogueiras de primeira linha, compa
nheiras de debates em congressos e, claro, em blogs e microblogs,
dividem o livro em duas seções que guiam o leitor para o que inte
ressa: uma perspectiva epistemológica, tentando situar os blogs como
objeto de pesquisa científica (“seção 1 - definições, tipologias e meto
dologias”), e uma outra socio-antropológica, dando ênfase aos usos
e apropriações da ferramenta (“seção 2 – uso e apropriações”). No
seu conjunto, o livro trata de questões conceituais, históricas, políticas,
sociológicas, jornalísticas, subjetivas, educacionais, dando um quadro
bastante completo do fenômeno, já nascendo como uma referência
para professores, pesquisadores e alunos de Comunicação e das Ciê
ncias Sociais como um todo.
Gostaria de ressaltar também o cuidado em recuperar não só uma
bibliografia internacional (o que todos fazem), mas de prestar atenção
e dar o merecido valor aos autores nacionais, aos papers apresentados
em congressos e aos artigos e livros publicados no país por autores
brasileiros. As organizadoras e os respectivos autores mostram que,
às vezes, “santos de casa” fazem milagres sim!
Devemos, assim, louvar a iniciativa e congratular os(as) auto
res(as) pela excelente contribuição acadêmica para a análise desse
18
fenômeno vivo que cresce diante dos nossos olhos. Cabe ao leitor des
cobrir. Espero que o livro possa alimentar e criar mais blogs, que os lei
tores possam postar suas opiniões, críticas e sugestões para que pos
samos conhecer e circular os novos conhecimento gerado pelo livro.
Montreal, abril de 2008
19
20
Adriana Amaral, Raquel Recuero e Sandra Portella Montardo
Introdução
21
Dentro da mesma lógica, percebemos o aumento de eventos aca
dêmicos específicos sobre o tema, como o BlogTalk4 – que acontece
desde 2003 –, o ICWSM, International Conference on Weblogs and
Social Media5 – que acontece desde 2004 – e o Encontro Nacional
e LusoGalaico sobre Weblogs,6 que ocorre anualmente em Portugal.
No Brasil, o evento Blogs: Redes Sociais e Comunicação Digital, ocor
rido em duas edições na Feevale, em 2007, e, em 2008, reuniu pes
quisadores em grupos de trabalho e palestras. Este livro é reflexo
da pluralidade de teorias e metodologias a respeito do objeto blog.
Partimos de uma divulgação de call for papers para o livro em nossos
blogs pessoais e em listas como a da Aoir (Association of Internet
Researchers),7 Compós (Lista de discussão da Associação Nacional
dos Programas de PósGraduação em Comunicação),8 a da ABCiber9
(Lista de discussão da Associação Brasileira de Pesquisadores em Ci
bercultura) e a da Cibercultura10 (Lista de discussão sobre Cibercultura
da UFBA), entre outras.
Ao todo, recebemos 24 artigos, todos inéditos, de pesquisadores
de vários lugares e instituições do Brasil11 e do exterior, dos quais, por
questões de critério editorial, tivemos que optar por apenas 12. Quan
do observados em conjunto, os textos ofereciam uma miríade de con
ceitos e de definições de blogs, bem como diferentes interpretações
quanto a seu histórico. Provavelmente, isso se deve à falta de um
consenso sobre os blogs, que, paradoxalmente, são consistentes en
quanto suporte de comunicação mediada por computador e, por isso,
4 http://blogtalk.net/. Acesso em 13/09/2008.
5 http://www.icwsm.org/2009/index.shtml. Acesso em 13/09/2008.
6 http://shire.icicom.up.pt/3encontro/index.php. Acesso em 13/09/2008.
7 Disponível em: http://listserv.aoir.org/listinfo.cgi/airlaoir.org.
8 Disponível em: http://groups.yahoo.com/group/Compos.
9 Disponível em: http://tech.groups.yahoo.com/group/associacao_cibercultura.
10 Disponível em: http://www.listas.ufba.br/mailman/listinfo/cibercultura. Acesso em 14/09/2008.
11 Uma questão interessante observada ao longo da organização do livro, está no fato de que uma
boa parte dos pesquisadores que tratam do objeto blog, possuírem um; seja ele de uso pessoal
ou acadêmico. A lista de blogueiros pesquisadores em comunicação do Brasil elaborada por Ro
gério Christofoletti nos apresenta mais de 100 links (disponível em http://monitorando.wordpress.
com/2007/07/30/listadepesquisadoresblogueiros), que na seqüência criou uma lista similar incluin
do os portugueses (disponível em http://monitorando.wordpress.com/2007/09/09/listalusofonade
blogsdepesquisadoresemcomunicacao).
22
resistiram ao desafio da obsolescência tecnológica e são relativamente
recentes como objeto de estudo. Como resultado desse quadro, tem
se a fragmentação das tentativas de sua sistematização formal em
vários campos de estudo.
Percebese, com isso, a versatilidade do blog em ser apropriado
para as mais variadas tarefas como a principal justificativa para a sua
surpreendente permanência na web depois de mais de uma década de
seu surgimento. Devese concordar que dez anos é uma eternidade
quando se trata de tecnologia web. Porém, essa longevidade tornase
compreensível quando combinada com a necessidade de socialização
do ser humano. Quanto a isso, ainda que se entenda a impossibilidade
de tomar a materialidade de uma tecnologia isoladamente de seus
usos, observase que estes últimos se oferecem em um espectro mais
diverso do que as alterações tecnológicas dos blogs nesse período.
Por isso, optamos por abrir este livro com uma retomada do his
tórico dos blogs, seguida de uma discussão conceitual a respeito dos
mesmos, como estratégia de leitura para acolher os diversos pontos
de vista presentes nos artigos selecionados. Essa decisão deve ser
entendida não como a ilusão de sermos definitivas sobre o tema, mas
com o propósito de um alinhamento histórico e conceitual do estudo
sobre blogs no marco de seus primeiros dez anos de existência.
Dividimos a obra em duas seções. A primeira delas concentra
os artigos que tratam do objeto a partir de conceitualizações, sejam
elas históricodiacrônicas ou estruturais, antropológicas, discursivas,
sociológicas, entre outras, além de propostas de tipologias e de me
todologias para o seu estudo empírico e a constituição da chamada
blogosfera. Observase o estado da arte da pesquisa sobre blogs e
análises de como eles representam a escrita de si e até mesmo como
elemento “despersonalizado” e voltado meramente para as questões
mercadológicas nos contextos publicitários e de marketing. A questão
do feminino nos blogs e o estado da blogosfera alemã também estão
presentes nessa primeira parte.
23
Já na segunda seção, predominam as práticas, usos e apropriações
dos blogs, sejam eles da ordem do ativismo político, da educação, do
jornalismo e no que se refere à busca e organização das informações.
Discussões como as aplicações dos blogs no contexto da web 2.0 e
as relações com as tecnologias móveis encerram esse panorama, do
qual emerge um amplo espectro de questões, como mudanças nas
rotinas de produção jornalísticas, relações e práticas de sociabilidade,
subjetividade, afetos e construções de identidade e gênero, analisadas
sob um prisma comunicacional.
De forma alguma, os textos que estão nesta coletânea apresentam
se como definitivos, mas nos dão algumas pistas sobre a compreensão
do objeto blog como um importante elemento no amplo universo de fe
nômenos emergentes da cibercultura. Por fim, gostaríamos de indicar
que as discussões aqui iniciadas podem se desdobrar na web através
do blog do livro, disponível em http://www.sobreblogs.com.br.
As organizadoras,
Setembro de 2008
24
SEÇÃO I
BLOGS:
definições, tipologias e metodologias
25
26
Adriana Amaral, Raquel Recuero e Sandra Portella Montardo
Blogs:
mapeando um objeto
27
como guia e mostrar um pouco daquilo que já foi produzido sobre o
assunto no país, além de auxiliar no mapeamento realizado neste
capítulo.
28
Merriam-Webster`s Dictionnary, em 2004, com a compra do Blogger
pelo Google no mesmo ano, o que pode ser percebido como indícios
da consagração dos blogs na época.
Uma das primeiras apropriações que rapidamente se seguiu à
popularização dos blogs foi o uso como diários pessoais, documentado
por vários autores (vide Carvalho, 2000; Lemos, 2002; Rocha, 2003;
Miura e Yamashita, 2007). Esses blogs eram utilizados como espa
ços de expressão pessoal, publicação de relatos, experiências e
pensamentos do autor. Ainda hoje, o uso do blog como um diário pes
soal é apontado por muitos autores como o mais popular uso da fer
ramenta (vide, por exemplo, Oliveira, 2002; Herring, Scheidt, et al.,
2005; Schmidt, 2007).
Feitas essas breves considerações sobre a origem dos blogs e
seus primeiros desdobramentos, importa analisar e problematizar as
definições e os conceitos referentes a essa ferramenta. O próximo item
trata desse ponto.
29
Websites freqüentemente atualizados onde o conteúdo
(texto, fotos, arquivos de som, etc) são postados em
uma base regular e posicionados em ordem cronológica
reversa. Os leitores quase sempre possuem a opção
de comentar em qualquer postagem individual, que são
identificados com uma URL única.4
30
caráter conversacional tanto dos textos publicados quanto pelas fer
ramentas anexadas e que hoje são características dos sistemas, como
os comentários. “Weblogs constituem uma conversação massivamente
descentralizada onde milhões de autores escrevem para a sua própria
audiência” (Marlow, 2004:3).5 Para esses autores, o blog é mais do que
uma ferramenta de publicação caracterizada pelo seu formato: é uma
ferramenta de comunicação, que é utilizada como forma de publicar
informações para uma audiência.
Em ambas as definições, vemos a noção do blog como uma fer
ramenta capaz de gerar uma estrutura característica, constituída en
quanto mídia, ou seja, enquanto ferramenta de comunicação mediada
pelo computador. A percepção do blog como ferramenta é, no entanto,
propositalmente genérica, pois objetiva abranger todos os usos que al
guém pode fazer do sistema, que são classificados como gêneros por
diversos autores.
Uma outra definição conceitual sobre os blogs tende a compreendê
los como artefatos culturais (Shah, 2005). Essa percepção, advinda
de um olhar antropológico e etnográfico, “representa a oportunidade de
uma aproximação do contexto sóciohistórico de apropriação dos arte
fatos tecnológicos a partir do olhar subjetivo dos próprios atores que
interatuam com as TICs”6 (Espinosa, 2007:272).
31
e narrativas mutuamente definidoras mais do que cria
uma narrativa mestra linear. (…) [sua legitimação se dá]
pelas práticas vividas das pessoas que os criaram (Shah,
2005).8
8 Tradução das Autoras: “A cultural artefact, to avoid any confusion, can be clearly defined as a
living repository of shared meanings produced by a community of ideas. A cultural artefact is a
symbol of communal (in the nonviolent, nonreligious sense of the word) belonging and possession.
A cultural artefact becomes infinitely mutable and generates many selfreferencing and mutually de
fining narratives rather than creating a master linear narrative but by the lived practices of the people
who create it” (Shah, 2005). Disponível em: http://www.cutup.com/news/detail.php?sid=413. Acesso
em 05.09.2007.
9 Tradução das Autoras: “Blogs, if looked upon as cultural artefacts, can reveal different ideas as to
why people blog and what are the motifs of the medium – cyberspace that they inherit” (Shah, 2005).
32
sua visibilidade enquanto meios de práticas jornalísticas, seja através
de relatos opinativos, seja através de relatos informativos. No conceito
estrutural, por outro lado, permite apreenderse o blog enquanto for
mato, abrindose para múltiplos usos e apropriações.
Em busca de uma maior clarificação do blog como objeto de pes
quisa, discutiremos, a seguir, alguns dos elementos mais focados pela
literatura a seu respeito.
A questão da personalização
10 Tradução das autoras: “Each was a mixture in unique proportions of links, commentary, and per
sonal thoughts and essays”. (Blood, 2000). Disponível em: http://rebeccablood.net/essays/weblog_
history.html. Acesso em 04/03/2008.
33
blico. Essa expressão individual é tomada como uma qualidade da
apropriação: blogs são pessoais. Eles permitem que as pessoas ex
pressem opiniões, construam textos individualísticos e proporcionem
um “espaço pessoal protegido” (Gumbrecht, 2004). Nesse sentido,
Efimova e Hendrick (2005) apontam para o fato de que blogs são
formas de publicação diferenciadas porque se tornam uma forma de
apropriação do ciberespaço como modo de expressar a identidade de
seus autores.
34
têm na sua escolha de links, de textos para publicar etc., seu autor
espelhado nessas escolhas. A partir da compreensão do blog como
um espaço pessoal, ele é também compreendido como uma escrita
íntima (Schttine, 2004; Silva, 2006) e um espaço de narrativa de si
(Lemos, 2002, Carvalho, 2002; Sibilia, 2003, 2004; Herring, Scheidt,
Bonus e Wright, 2004). Essa narrativa é constituída diante de um es
paço público, um espaço de vigilância (Sibilia, 2004; Bruno, 2005).
Essa vigilância, compreendida como a consciência da observação do
weblog como espaço pessoal e da construção das impressões que o
blogueiro deseja expor para sua audiência, também são aspectos do
estudo da personalização dos weblogs.
Conforme aponta o estudo de Amaral e Quadros (2006), a relação
blogueirosaudiência e a visibilidade do autor do blog podem gerar
“conflitos semelhantes aos enfrentados por artistas e/ou pessoas que
ganham notoriedade, aqui relacionados à cobertura da prensa rosa
e aos comentários anônimos enviados aos blogs”, além de distúrbios
nas comunidades blogueiras e webrings (Recuero, 2003), gerados por
trolls13 e cyberstalkers, em práticas de xingamentos e flamming,14 na
tentativa de legitimação de sua participação no debate online (Donath,
1999). A questão da audiência também está presente na análise do
papel dos lurkers – os que visitam um determinado blog, mas não co
mentam ou participam – elaborada por Ferreira e Vieira (2008).
35
portes para a comunicação mediada por computador, ou seja, permitem
a socialização online de acordo com os mais variados interesses. O
caráter fragmentário dos estudos sobre blogs se reflete no fato de que
a maioria das publicações sobre blogs os trata a partir de abordagens
específicas e tem sido feita sob forma de artigos.
Há, também, as coletâneas de artigos sobre o tema ou livros que
levantam questões gerais sobre blogs. Exemplos desse tipo de publi
cação têm sido lançados recentemente e muitas delas, como se po
de notar, apelam para a alteração que os blogs impingem às comu
nicações, enfatizandose o aspecto “revolucionário” dos blogs e de
seus usos em seus títulos. Em 2002, Blood e outros autores participam
da coletânea We’ve Got blog: how weblogs are changing our culture.
Já Biz Stone é autor de Who let the blogs out?: A hyperconnected peek
at the world of weblogs, publicado em 2004. Blog! How the newest
media revolutions is changing Politics, Business and Culture, de Kline
et al., foi lançado em 2005 nos Estados Unidos. Axel Bruns e Joanne
Jacobs, que atuam na Austrália, lançaram, em 2006, Uses of blogs,
reunindo vinte e dois artigos sobre a ferramenta. No mesmo ano e
com o mesmo propósito, José Luis Orihuela lança La revolución de los
blogs na Espanha. Também em 2006, mas em Portugal, foi lançado
Blogs e a fragmentação do espaço público de Catarina Rodrigues,15
que traz um apanhado geral sobre as características da ferramenta,
porém enfatizando os usos jornalísticos e participativos. Já em 2007,
Orihuela se junta a outros (Orduna, Alonso, Antunes, Varela) e lança em
português Blogs: revolucionando os meios de comunicação, cuja ên
fase é dada ao jornalismo participativo e ao uso empresarial dos blogs.
Outra tradução lançada em 2007 no Brasil é Blog: entenda a revolução
que vai mudar o seu mundo, do norteamericano Hugh Hewitt.
Outro aspecto decorrente da apropriação dos blogs como fer
ramenta de comunicação é a constituição de estruturas sociais.
15 O livro também está disponível em: http://www.labcom.ubi.pt/livroslabcom/pdfs/rodriguescatarina
blogsfragmentacaoespacopublico.pdf. Acesso em 22/02/2008.
36
Compreendendo os blogs como ferramentas de comunicação e, con
seqüentemente, de interação social, diversos autores vão analisar
os blogs a partir das redes sociais constituídas através das trocas de
comentários e links, percebidos como interação social (AliHasan e
Adamic, 2007; Marlow, 2006; Mishne e Glance, 2006; Recuero, 2003).
Weblogs, assim, são ferramentas de publicação que possuem tam
bém um impacto social, auxiliando na construção de estruturas sociais
por meio das trocas de comentários (Mishne e Glance, 2006) e con
versações (Efimova e De Moor, 2005). Essas trocas de links entre blo
gueiros, que podem acontecer nos comentários, nos blogrolls e mes
mo nos textos das postagens, são frequentemente analisadas como
conversação (Efimova e De Moor, 2005; Primo e Smaniotto, 2005).
Essas conversações podem, assim, ser indicativos de capital social,
de comunidades virtuais (Herring et al., 2005; MereloGeurvos, Prieto,
Rateb, e Tricas, 2004) e webrings (Recuero, 2003) etc.
Pesquisas têm sistematicamente apontado para o fato de os
weblogs valorizarem bastante os comentários recebidos e que essa
presença pode ser fundamental para que se continue a postar (Miura e
Yamashita, 2007; Nardi et al., 2004). Esses apontamentos podem mos
trar que os comentários são elementos significativos da cultura dos
blogs, e que são, se não essenciais, muito importantes como elementos
de motivação para os blogueiros e fundamentais como ferramentas de
interação social.
O estudo dos blogs como constituintes de estruturas sociais
também engloba o estudo dos fluxos de informação nesses sistemas.
A troca de links entre blogueiros pode construir blogs muito populares,
cuja divulgação de informações impacta a rede. Esses estudos também
focam nos usos dos blogs como ferramentas de publicação e os tipos
de informação que são trabalhados entre os blogueiros.
Adar e Adamic (2005) e Gruhl et al. (2004), por exemplo, procu
raram compreender como os padrões de linkagem poderiam auxiliar
37
na previsão do caminho do fluxo de informação. AliHasan e Adamic
(2007) e Kumar et. al. (2003) mostraram que os blogueiros estão fre
qüentemente envolvidos em grupos pequenos em que leitores e co
mentadores dividem interesses similares. Muitos dos estudos dos flu
xos de informação estão também relacionados com a propagação de
memes16 (Adar et al., 2004; Halavais, 2004), ou seja, a propagação de
pequenos pedaços de informação blog a blog. O estudo dos fluxos de
informação também é direcionado a partir dos estudos de motivações
dos blogueiros na publicação das informações (Nardi et al., 2004).
Já as relações entre blogs e jornalismo no Brasil encontramse
entre as mais profícuas nos estudos sobre blogs. Talvez devido a isso,
a maioria dos artigos recebidos para publicação deste livro se ateve
a essa relação. Sobre a discussão a respeito de produção, edição e
distribuição de notícias em blogs e suas conseqüências, bem como
sobre aspectos discursivos da mesma, ver Matheson (2004), Singer
(2005), Garnieri (2006), Christofolleti e Laux (2006), Quadros, Vieira e
Rosa (2005), Quadros e Sponholz (2006), Cunha (2006, 2008), Primo
e Träsel (2006), Storch (2007), Escobar (2006) e Vieira (2007).
Sob o enfoque do jornalismo, também foram feitos estudos sobre
coberturas de guerra. Destes, podese destacar Recuero (2003), que
tratou dos blogs na Guerra do Iraque. Em 2005, foi publicado Baghdad
burning: girl blog from Iraq, de autoria de Riverbend. O livro consiste
no testemunho de uma jovem também na zona de Guerra do Iraque
durante sua ocupação pelos Estados Unidos e ganhou um importante
prêmio de Jornalismo Literário (Lettre Ulisses Award). Matthew Burden
lançou The blog of war: front-line dispatches from soldiers in Iraq and
Afghanistan em 2006. Especificamente sobre a Guerra do Afeganistão,
foi lançado, em 2007, Captains blog: the chronicles of my afghan va-
cation, por Mark Bromwich. O livro traz as postagens feitas por um
soldado no Afeganistão em um blog. Ainda que não tenha sido feita
16 O conceito de “meme” foi cunhado por Richard Dawkins em seu livro “O gene egoísta”. Para o
autor, o meme é análogo ao gene e propagase mente e mente.
38
por um jornalista, esse blog tem a função de informar sobre o mundo
da guerra.
Os blogs de guerra são percebidos por Perlmutter (2008) como um
novo campo de batalha político. Dentro dessa esfera, Aldé e Chagas
(2005) e Aldé, Chagas e Escobar (2007) investigam as questões po
líticas nos blogs jornalísticos. Os blogs como espaço de discussão
política são o tema de Davis (2005) e Bahnisch (2006) e também foram
abordados, de uma perspectiva de rede, por Adamic e Glance (2005),
que estudaram os blogs nas eleições americanas de 2004. Bolaño e
Brittos (2008) realizaram uma abordagem dos blogs brasileiros nas
eleições de 2006, mas a partir da perspectiva teóricometodológica da
economia política da Comunicação.
Outra área bastante profícua é a da utilização dos blogs pelas
organizações. Nesse sentido, podese indicar, no mínimo, três tipos
de usos de blogs. Um é o que se dá com fins institucionais, sendo
que uma variedade de práticas pode ser empreendida com o que se
convencionou chamar de blogs corporativos. Segundo Cipriani (2006),
os blogs corporativos permitem uma maior interatividade e insta
ntaneidade na comunicação da organização com os públicos interno
(colaboradores, acionistas) e externo (fornecedores, clientes finais,
possíveis investidores) da organização. Podese dizer que o objetivo do
blog em todas as suas aplicações é possibilitar o diálogo mais informal
entre a organização e o seu público, conferindo transparência a essa
relação (Cipriani, 2006; Scoble e Israel, 2006; Efimova e Grudin, 2007;
Terra, 2008).
Um segundo tipo é o que atende a fins promocionais das orga
nizações, como a utilização dos blogs como método de pesquisa mer
cadológica junto ao público e a criação de blogs para promover deter
minados produtos e serviços como, por exemplo, a ação de marketing
viral em blogs. Gardner (2005), Wright (2005), Bly (2007), Jennings
(2007) e Brown (2008) são referências importantes quanto a essa
abordagem.
39
Finalmente, o terceiro foco de análise dessa área é aquele que
busca na proliferação dos blogs uma oportunidade de tomálos como
objetos de percepção e análise de risco para imagem das organiza
ções, com a elaboração de ontologias em torno do negócio do ou das
áreas de interesse do cliente. Sabese que uma busca mais eficiente
do que a dos motores de busca convencionais permite o rápido acesso
sobre o que está sendo dito em blogs a respeito das organizações e,
conseqüentemente, possibilita a tomada de decisão por parte desta.
Sobre esse tema, ver Carvalho et al. (2006), cuja pesquisa está em
andamento. No mesmo sentido, mas não necessariamente com o
mesmo método, encontrase a contribuição de Berkman (2008) intitu
lada The art of strategic listening: finding market intelligence in blogs
and social media.
Já foram apontados anteriormente estudos relativos ao padrão de
linkagem entre blogs, de distribuição de informação nos mesmos, bem
como de questões referentes à formação de comunidades virtuais em
blogs. Cabe ressaltar agora algumas aplicações deste último campo
de estudos. Alguns estudos privilegiam aspectos sóciodemográficos
na blogosfera, com destaque para questões de gênero e de idade dos
blogueiros (Pedersen, Macafee, 2007; Schler et al., 2005; Nowson,
Oberlander, 2006; Schmidt, 2007; Herring, Scheidt e Wright, 2004;
Huffaker e Calver, 2005).
As questões de gênero e de identidade em blogs também sur
gem sob a perspectiva dos Estudos Culturais, das mediações e das
interações simbólicas (Herring, Scheidt e Wright, 2004; Herring et al.
2005; Hawkins, 2005; Gregg, 2006; Braga, 2004, 2007a, 2008; entre
outros). We are iran: the persian blogs, de Nasrin Alavi (2005), chama
a atenção de estudo para a questão da identidade. Notase que as
práticas subculturais são terreno fértil para serem examinadas em
blogs. Ainda que enfatizando a perspectiva das redes sociais, Recuero
(2005) apresentou estudo sobre as redes formadas a partir de comu
40
nidades de blogs próanorexia e próbulimia. Hodkinson (2006) analisa
a comunicação e a sociabilidade da subcultura gótica na blogosfera
inglesa; Ferreira, Vieira e Rigo (2007) descrevem os usos dos blogs
dos EMOs brasileiros em seu discurso e visual; Amaral (2007b) co
menta sobre as práticas de blogagem da subcultura electroindustrial
associadas a outras plataformas de distribuição de música. Mesmo
dentro do âmbito dos que analisam a blogosfera netpornográfica
(Shah, 2005; Messina, 2006; Amaral, 2007a; Jakubowski, 2008a,
2008b) há distinções. Um uso apontado por Vieira (2006) descreve
a representação da vida das pessoas que morreram e tiveram seus
blogs atualizados por membros da família e amigos.
O cruzamento entre blogs e literatura aparece nas pesquisas
de Prange (2002), Fernandes (2005), PazSoldan (2005), CortesHer
nandéz (2006), Di Luccio e NicolacidaCosta (2007), Casciari (2007) e
Vidal, Azevedo e Aranha (2008).
Outros usos analisados apontam para os blogs como forma hí
brida de entretenimento, divulgação de informação e de marketing,
como no caso dos blogs de música (Jennings, 2007), blogs de moda
(Amaral, Ferreira e Vieira, 2007; Ferreira, 2007) e o blog mesmo como
ferramenta produtora de moda (Ferreira e Vieira, 2007).
Uma outra vertente mostra como a utilização de blogs por Pes
soas com Necessidades Especiais (PNE) vem crescendo. Quanto
às possibilidades tecnológicas apresentadas pelos blogs para o desen
volvimento dessas pessoas a partir da socialização, bem como suas
limitações em função da falta de acessibilidade dessas ferramentas,
vale destacar Goggin e Noonan (2006) e Bez, Montardo e Passerino
(2008). A socialização online em blogs de familiares de PNE, que
neles discutem sobre tratamentos, angústias e vitórias na educação de
seus filhos, pode ser vista em Montardo e Passerino (2008).
Também são freqüentes as investigações sobre a utilização dos
blogs em Educação. Já entre os primeiros trabalhos publicados so
41
bre usos de blogs no Brasil, por exemplo, encontramse estudos que
estabelecem essa relação (Barbosa, 2003; Gutierrez, 2003, por exem
plo). De maneira geral, os estudos tomam os blogs na sua dimensão
pedagógica, como um instrumento no Ensino Básico, Médio e Superior.
Em Penrod (2007), Piontek (2008), Richardson (2006), Farmer (2006),
Burgess (2006), Gutierrez (2005) e Hendron (2008) encontramse
questões relativas a esse aspecto em diferentes acepções. Já os blogs
como espaço de discussão acadêmica e divulgação científica são o
objeto de estudo de Halavais (2006) e Walker (2006).
Embora não ancorado em uma perspectiva pedagógica, mas sim
sociológica, Gomes (2007) traz os blogs como pano de fundo para a
questão do conhecimento e da complexidade.
Na direção da articulação entre blogs e tecnologias móveis, de
stacamse os estudos de Lemos e Novas (2005), Pellanda (2005, 2006)
e Silva (2007a, 2007b). Tais trabalhos atentam para a construção dos
blogs como espaços móveis, que podem ser acessados e constituídos
independentemente do espaço físico e que podem, ainda, auxiliar nas
reconstruções desses espaços.
Outro ponto fundamental quanto à investigação sobre blogs é
a metodologia utilizada para sua apreensão como objeto de estudo.
Sobre diferentes aplicações nesse sentido, a próxima seção indica
algumas abordagens pertinentes.
42
e mesmo através da aplicação de ferramentas como o Google
PageRank (Kirchhoff, Bruns, Nicolai, 2007). Um rastreamento e a aná
lise de algumas metodologias mais utilizadas foram levantadas por
Quadros (2007).
Uma perspectiva utilizada por muitos autores é a netnografia
(Hine, 2000, 2005; Kozinets, 2002, 2007), como uma adaptação do
método etnográfico para os ambientes online. Em seu mais recente
artigo, Kozinets (2007) inclui os blogs como uma rica ferramenta para
a aplicação do método, principalmente ligado às questões dos perfis
de consumo. Os usos da netnografia aparecem no estudo de blogs de
Montardo e Passerino (2006) e de Braga (2007). No mesmo sentido,
temse a abordagem do blog em si problematizado como diário de
campo ou ferramenta etnográfica (Ward, 2006), assim como o blog
do próprio pesquisador compreendido como narrativa autonetnográfica
(Amaral, 2008). Outra metodologia bastante utilizada é a Análise de
Redes Sociais (Recuero, 2006; Benkenstein, Montardo e Passerino,
2007; AliHasan e Adamic, 2005; Adamic e Glance, 2006, entre outros).
Dentro dessa abordagem, estudamse as redes compostas em blogs
através de seus comentários e/ou conexões e observamse as carac
terísticas estruturais e dinâmicas dessas redes. A partir desses ele
mentos, estudamse as características dos laços e capital sociais
(Recuero, 2004).
Ao término desse capítulo, podese dizer que é na diversidade
de apropriações que os blogs suscitam que reside a sua permanência
como ferramenta de socialização online e como objeto de estudo na
web depois de dez anos de existência. Frente a isso, projetase que
o incremento dos blogs quanto à mobilidade e os novos formatos de
microconteúdos (Pownce,17 Twitter,18 Jaiku19), já em curso, tendem a
continuar dinamizando os usos dos blogs e a inspirar novas investi
gações sobre os mesmos.
17 http://pownce.com.
18 http://twitter.com.
19 http://jaiku.com.
43
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53
54
Rosa Meire Carvalho de Oliveira
O ciberespaço e a escrita de
si na contemporaneidade:
repete o velho, o novo blog?
55
humano. Estranhamente, esta busca tem como meio
um instrumento frio e técnico: a máquina, o computador
(Muzart, 2001:6).
56
pessoas possam, de uma maneira simples, postar pensamentos, idéi
as, reflexões, escrever sobre tudo e sobre nada na rede mundial de
computadores.
Diários e a invenção de si
57
de interesse para outras mulheres e mesmo novelas
para mulheres (durante o séc. XIX, mulheres eram a
viga mestra do público leitor de novelas) (apud Gannett
1992:95).
58
e até nelas lecionando, essa porta foi fechada no Renascimento. E,
durante muito tempo, no Ocidente, elas ficaram impedidas de acessar
a educação até metade do séc. XIX e, em alguns casos, até o séc.
XX. Gannett lembra que Oxford não abriu suas portas às mulheres até
1920, e Cambridge, até 1948. Às mulheres, repetidamente, segundo a
autora, “têm sido dito que não podem e não devem escrever na esfera
pública. E, quando o tem feito, têm sido ridicularizadas, criticadas ou
ignoradas (Idem, ibidem)”.
59
históricas. Os diários de mulheres publicados eram
às vezes de pessoas famosas, mas freqüentemente
eles eram [de autoria] da esposa, mãe ou irmã de
um homem famoso. Porque mulheres não estavam
na maior parte escalando montanhas ou correndo
para o escritório, ninguém tinha considerado seus
diários particularmente interessantes.
60
autor de American diaries: an annotated bibliography of american
diaries written prior to the year 1861, publicado em 1945 pela Editora
da Universidade da Califórnia, Bekerley; e, no livro American diaries:
an annotated bibliography of published american diaries and journal,
publicado em 1983 por Laura Arskey, Nancy Pries e Marcia Reed, são
diários escritos por mulheres.
Em contrapartida, o próprio Culley produz em A day at a time:
the diary literature of american women from 1764 to the present, uma
antologia contendo 29 diários de mulheres de diversas classes e cul
turas, revelando um painel de mais de 200 anos de tradição do gênero.
Também Ronald Blythe (1989), em The pleasures of diaries; four cen
turies of private writing, apresenta uma antologia de 67 diaristas, den
tre os quais 19 – ou seja, 28% – são mulheres.
Diários de mulheres passaram a ganhar destaque mais recen
temente, sendo a maior parte deles publicada no séc. XX. O séc. XIX,
considerado o século dos diários íntimos, está ligado à obra de uma
francesa, Amandine Aurore Lucie Dupin, que, curiosamente, adotava
pseudônimo masculino: George Sand, cujo diário, intitulado Journal
Intime, foi publicado pela primeira vez em 1926.
Vale lembrar, ainda, que, na tradição do diarismo, o marco dos
diários pessoais é atribuído ao escritor inglês Samuel Pepys (1633
1703), considerado escritor modelo do gênero. Ele escreveu entre
1660 e 1669, em escrita taquigráfica, os 64 volumes de seus diários
chamados de Memoirs, que foram publicados somente em 1825, após
terem sido descobertos e decifrados. Através desses exemplares,
Pepys exercerá o hábito crítico da mente, associado com a observação
e reflexão do mundo físico, social, e do mundo interior. Nos dez anos
em que escreveu os diários – entre os 27 e os 36 anos –, Pepys refletiu
sua atuação como um homem importante da corte inglesa, circulando
nos altos escalões científicos e culturais do reinado de Charles II, a
quem serviu de perto como membro da marinha.
61
Blogs femininos e construção de identidades
62
Blogs femininos militantes, só mesmo na cabeça de
quem faz estudos de gênero”. – Quatro Caminhos7
63
BEEEEEMMMM detalhados sobre as mesmas. De uma
forma ou de outra, coisas tão pessoais que elas só
contariam naquela rodinha com as melhores amigas.
Mas por que diabos elas gostam tanto de colocar na cara
de milhares de pessoas essas coisas tão íntimas? (cf.
Blog Ranzinza).10
64
de Estocolmo,18 Mulheres e Deusas,19 Com o Sotaque Francês20 e
Blogotinha21 –, concluiu:
65
indivíduos podem construir identidades produzindo informações, em
lugar de consumilas.
Nesse sentido, criar páginas pessoais (e mesmo blogs) oferece ao
autor uma oportunidade sem igual de autoapresentação em relação
a qualquer dimensão de identidade pessoal e social que alguém
escolhe assumir. O ambiente virtual, segundo Chandler, oferece um
contexto único no qual alguém pode experimentar modelar sua própria
identidade.
Ainda reportandose a identidades forjadas por home pages,
Chandler cita Sherry Turkle para dizer que a identidade de alguém
emerge das associações e conexões desse autor. Ele lembra uma
frase do escritor Hugh Miller nesse sentido: “Mostreme seus links
que eu direi quem você é”, e afirma que interfaces digitais como home
pages (e blogs) permitem que se crie um “eu virtual” pronto a interagir
com outras pessoas que acessem a página pessoal do autor. Esta
concepção de um “eu virtual” conforme Chandler, é antiga e já estava
presente nas idéias de Platão, o qual sustentava que pessoas podem
encontrar idéias de outras em forma de um “eu textual” quando se lê
um livro, por exemplo.
O fato, inclusive, de reportarse a futilidades em páginas pessoais
não é algo temeroso para Chandler. Para ele, muito mais de se tratar
de julgar se os pensamentos e idéias produzidos são inteligentes, o
conteúdo produzido em web pages responde mais diretamente sobre
a necessidade de os indivíduos se dizerem e construir a própria
identidade, na tentativa de responder à questão: quem sou eu?
66
Lemos (2001:9) completa ao dizer que:
67
divulgados, corrobora para marginalizar as atividades de mulheres e
adolescentes blogueiras e, indiretamente, reproduzir o sexismo e o
preconceito sobre o discurso dos adolescentes, distorcendo, assim, a
natureza fundamental do fenômeno dos weblogs, que seria o seu cará
ter democrático e aberto.
Para a análise, as autoras coletaram 357 blogs de um famoso
indexador, o site blo.gs,24 durante o ano de 2003. Elas concluíram que,
na adolescência, meninas blogam mais do que meninos e que, na fase
adulta, são os homens que estão em maior número. Analisando as
funções que os blogs representam, concluíram que a função diário
íntimo, escrito por adolescentes do sexo feminino, é a que mais predo
mina, sendo que a função de filtro – ou seja, informações temáticas ou
orientadas sobre blogs existentes – é mais típica de ser realizada por
homens. As autoras sustentam, preocupadas:
68
● Os homens são citados mais cedo do que as mulheres;
● A probabilidade de os homens serem citados é maior do que a das
mulheres;
● Todos os 94 homens citados são adultos, contra um adolescente do
sexo masculino.
Conclusão
69
o sistema de filtros nos leva a refletir sobre prováveis repercussões na
construção de identidades femininas no ciberespaço. Herring preocupa
se claramente com aquilo que chama de “efeito nãointencional” da
prática de filtros, traduzido como sendo o de associar “o ato de blogar
em termos de uma elite minoritária (adulta, masculina, educada), ao
tempo que marginaliza, nesse processo, as contribuições de mulheres
e jovens – e uma minoria de homens – para o fenômeno dos weblogs”.
Poderíamos ir além sobre as conseqüências dessa prática ao
associála também ao papel que jogam os blogs na construção de
identidades e subjetividades na contemporaneidade. Diferentemente
dos modernos diaristas que tinham em boa parte da tradição diarística
a clara noção de privacidade e das fronteiras de espaços privado e
público,26 os “novíssimos” escritores de diários, os ciberdiaristas têm
diante de si um novo cenário proporcionado por esse novo suporte, o
computador conectado em rede, que se configura naquilo que Bezer
ra (2002, apud Silva, 2006:39) identificou como o desmonte da priva
cidade ou dos contornos das esferas do público e do privado.
É a partir da reflexão sobre os contornos dessa lógica apresentada
por Bezerra e também discutida por autores como Oliveira (2002),
Lemos (2002), Sibilia (2003) e Bruno (2004), que somos convocados
a pensar sobre seus significados. Nas análises de base foucaultianas
que produziu, Bruno (2004:118), por exemplo, vê uma transformação
no sentido da própria intimidade contida na escrita de si. “(...)O foro
íntimo deixa de ser experimentado como o refúgio mais autêntico e se
creto para se tornar uma matéria artificialmente assistida e produzida
na presença explícita do olhar do outro. (...)”, reforça.
Caberia aos “novíssimos” diaristas, produtores de subjetividades,
a responsabilidade de atrair para si o olhar do outro, momento em que
constrói suas variadas identidades, as quais, ao contrário do que acon
tecia na Modernidade, tornamse múltiplas, variáveis, transformamse
26 Em sua gênese e evolução a escrita diarística variou bastante em termos de publicização, ganhan
do, conforme a época o status de pública, semipública, privada e novamente pública, com os diários
online (Cf Oliveira 2002).
70
naquilo que Rolnik (1997) chamou de identidades prétàporter, ou
seja, prontas para serem usadas.
É nesse sentido que Bezerra (Idem, ibidem) afirma: “Faz parte
das regras do sucesso tornarse visível. Na sociedade do espetáculo, o
anonimato não tem valor positivo (...)”. Bruno (2004:119) complementa
essa noção de visibilidade ao constatar que “(...) A exposição de si na
internet constitui um segundo passo nesta demanda por visibilidade
na medida em que esta se desconecta do pertencimento do mundo
extraordinário da fama, do sucesso e da celebridade para se estender
ao indivíduo qualquer, naquilo que ele tem de mais ordinário e banal”.
Ou seja, quando retomamos os dados recolhidos por Herring e
sua equipe e os confrontamos ao esforço de produção de identidades
femininas no ciberespaço, podemos admitir que o sistema de filtro
identificado nos blogs é equivalente àquele sistema de preconceitos
identificado por Gannett (1992 apud Oliveira, 2002) ao longo da prática
diarística tradicional de mulheres.
A constatação da existência de filtros exercidos por instituições
variadas coincidentemente toma ainda como parâmetros os mesmos
referenciais sobre os modos masculinos de estar no mundo utilizados
na Modernidade, tradicionalmente mais voltados para ação, em contra
posição ao universo feminino, que tende a enfocar o mundo doméstico,
espiritual, interior e, por esse motivo, considerado menor.
Isso nos leva a concluir que, embora tivesse facilitado às mulheres
falar publicamente de si, participar da cibercultura não reduziu sobre as
suas produções (os blogs) os preconceitos que elas carregam ao longo
dos séculos.
Nesse sentido, salientamos com Chandler que o importante na
escrita dos blogs femininos não é exatamente seu significado como
formador de conteúdo, mas a oportunidade ímpar que especialmente
as mulheres, por seu histórico de preconceitos enfrentados, têm de
construir suas próprias histórias, a partir de seus próprios textos.
Para tanto, não é demais lembrar as palavras da blogueira Isabel
71
Matos Ferreira, autora do blog português Miss Pearls27 sobre a par
ticipação política das mulheres em seus blogs, citada por outra blo
gueira, Tati – autora de Adufe.pt: boys should be boys, girls should be
girls28 –, como resposta a um leitor:
72
Referências
BLYTHE, R. The pleasures of diaries: four centuries of private writing. London: Penguin
Books, 1989.
CHANDLER, D. Personal home pages and the construction of identities on the web.
Disponível em: http://www.aber.ac.uk/media/Documents/short/webident.html. �cesso
em: 15/07/2005.
COCHEYRAS, J. La place du journal intime dans une typologie linguistique des formes
littéraires. Gèneve: Librairie Droz, p. 227228, 1978.
CULLEY, M. A day at a time: the diary literature of american woman from 1764 to the
present. New York: Feminist Press, 1985.
GANNETT, C. Gender and the journal: diaries and academic discourse. New York: State
University of New York Press, 1992.
HERRING, S. C. et. al. “Women and children last: the discursive construction of weblogs”.
In: GURAK, S.; ANTONIJEVIC, L.; JOHNSON, C.; RATLIFF, J.; REYMAN (Eds.). Into the
blogosphere: rhetoric, community, and culture of weblogs. Disponível em: http://www.
blogninja.com/women.children.pdf . Acesso em 02/07/2006.
73
SILVA, C. M. da. “Intimidade online: outras faces do diário íntimo contemporâneo”.
Universidade Federal Fluminense. Departamento de Psicologia. Dissertação de
Mestrado, 2006.
Sites Consultados:
http://www.wikepedia.com
http:// www.technorati.com
http://www.robotwinsdom.com
http://www.pitas.com
http://www.blogger.com
http://www.dicweb.com
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http://www.burburinho.com
http://www.userland.com
http://www.crislaphan.com
http://www.novae.inf.br
http://searchengine.com
http://cigarranapaisagem.blogspot.com
http://pantufa.blogspot.com
http://aferidanarcisica.com
http://daniellefalks.weblogger.terra.com.br
http://quatrocaminhos.blogspot.com
http://www.perseus.com
http://blog.vovici.com
http://dn.sapo.pt
http://bombainteligente.blogspot.com
http://planetahilda.blogspot.com
http://ervilhas.weblog.com.pt
http://passeaiflores.blogspot.com/
http://unseoutras.blogspot.com
http://www.sindromedeestocolmo.com
http://www.rosaleonor.blogspot.com
http://horvallis.blogspot.com/
http://blogotinha.blogspot.com
http://www.megeras.com
http://blo.gs.com
http://misspearls.blogspot.com.
http://adufe.weblog.com.pt
74
Adriana Braga
75
Interações digitais: um esboço teórico
76
mente, nos países do chamado “Primeiro Mundo”, a penetração da
atividade on-line conta com mais que 60% da população,1 apesar da
realidade de outros países ser muito diferente.
O computador pode ser usado como ferramenta, quando realiza
tarefas como processamento de texto e gerenciamento de base de
dados; bem como meio de comunicação, quando usado para a comu-
nicação interpessoal através da rede de computadores. Enquanto a
tecnologia é mera máquina, à medida que é utilizada para o uso de
um código simbólico e se estabelece em certo espaço social, torna-
se meio, isto é, um ambiente social e intelectual criado pela máquina
(Postman, 1985). A interação estabelecida entre usuários/as cria o am-
biente de mídia, esse novo espaço intelectual e social denominado
ciberespaço.
A idéia de usar computadores como meio de comunicação foi in-
troduzida por J.C.R. Licklider e Robert Taylor, segundo Barnes (2003).
Em artigo publicado em 1968, intitulado “The computer as a communi-
cation device”, os autores forneciam as idéias conceituais para o de-
senvolvimento da internet: i) redes de comunicação são mais que en-
viar e receber informação de um ponto a outro, os/as agentes são par-
ticipantes ativos/as que têm papel central no processo comunicativo;
ii) comunicação é um processo de reforço mútuo, que envolve criati-
vidade; iii) o computador digital é um meio flexível, interativo, que pode
ser utilizado para a comunicação humana cooperativa; iv) a comu-
nicação baseada em computadores exige um enquadramento comum
da situação.
A internet pode ser usada como suporte de comunicação humana
ou de massa, e essa natureza híbrida a torna um meio difícil de estudar
por incorporar aspectos de ambos os modos comunicativos. Enquanto
a disciplina da Comunicação tem separado a comunicação humana e
de massa em duas áreas distintas, com literatura, perspectivas e teo-
rias próprias, a internet traz características de ambas. O telefone, assim
1 Fonte: Nielsen/NetRating Service, novembro de 2005.
77
como a internet, problematiza essa distinção de categorias por ser um
suporte usado para a comunicação humana que não requer um am-
biente físico para sua ocorrência. Entretanto, tem sido negligenciado
pelos estudos na área. Se a comunicação interpessoal mediada com-
preende a interação entre pessoas através de um suporte que trans-
cenda os limites de tempo e espaço, isso inclui telefone, carta, e-mail e
secretária eletrônica, por exemplo.
Com as tecnologias da CMC, amplia-se o espaço de acolhimento
e visibilidade da expressão individual ou interesses de grupos espe-
cíficos. Entretanto, é importante ressaltar que esse mesmo movimento,
que promove a “democratização” desse espaço, entendido como espa-
ço público, tem como paraefeito uma banalização e desconfiança com
relação a grande parte do volume dos conteúdos publicados nesses
ambientes. Páginas na web são criadas por uma variedade de indiví-
duos e organizações, tornando indispensável uma avaliação das infor-
mações veiculadas quanto à exatidão, autoridade, objetividade, segu-
rança e atualidade por parte de quem as utiliza. Se a informação ali
é livre, é também duvidosa. Conseqüentemente, é possível observar
em várias instâncias da internet a utilização desse espaço como uma
possível via de acesso às mídias tradicionais, que possuem a legiti-
midade pretendida pelos/as autores/as: o sonho do blog é virar livro.2
A maioria dos blogs disponibiliza um espaço de interação, de
debate, de “arena pública”, em que visitantes podem deixar seus co-
mentários, criticar, interagir com o/a blogueiro/a, e com os/as demais
visitantes. Os blogs geralmente oferecem uma lista de indicação com
links internos e externos que apontam para conteúdos de arquivo, ou-
tros blogs recomendados e conteúdos que guardam afinidade com o
tema de interesse do grupo. Geralmente, é possível encontrar comen-
tários de outros/as blogueiros/as (acompanhados do endereço eletrô-
2 Reitera esse ponto o slogan de um popular blog português, Blogue dos Marretas: o blogue livre que
não quis ser livro!, que ressalta o fato de ter sido convidado por uma editora para publicar um livro – e
recusado – como sinal de distinção e independência no contexto da blogosfera.
78
nico) da lista dos indicados no Livro de Visitas3 de cada blog, formando
uma rede de interação em que uns referem-se aos outros e tem-se
a sensação de constituírem uma mesma “comunidade”,4 interagindo
através de textos, imagens e hipertextos. Assim, o uso substantivo do
espaço social do blog promove a criação e a freqüência a outros blogs
e a outros ambientes comunicacionais da rede.
Muitos dos primeiros estudos acerca da emergência dos blogs
partiram de uma analogia com a chamada “escritura de si,” os diários
íntimos em voga nos séc. XVIII e XIX. Entretanto, se considerarmos
que a narração de uma história implica a adequação da experiência
vivida no âmbito privado à aparição pública, como no caso dos blogs –
textos visando publicização –, fica claro o limite frágil dessa analogia.
Nesse processo de escritura do vivido, a experiência passa por um
processo de transformação, desprivatização e desindividualização
(Arendt, 1997). Assim, a perspectiva desses estudos se mostrou re-
ducionista, principalmente à medida que o uso dos blogs foi se esta-
belecendo por outros caminhos, especialmente na interação que es-
tabeleceu com os discursos literário e jornalístico. Assim, os blogs
rapidamente configuraramse e têmse configurado como um espaço
social diverso, até certo ponto democrático, para expressão individual,
interação e informação noticiosa, suscitando uma estreita convergência
com o campo jornalístico e literário, o que tais pesquisadores/as não
supunham.5 Os ambientes sociais proporcionados pela internet são es-
paços de interação específicos, a que uma caracterização mais apres
sada pode tentar encontrar um referente análogo para fins de com
paração. Entretanto, apesar de muitas vezes terem precedentes em
3 O Livro de Visitas (guestbook) é um espaço para comentários dos/as visitantes de um blog. Em
alguns casos, esse espaço é disponibilizado a partir de um único link; em outros, há um link específico
abaixo de cada texto na página principal (post). De qualquer forma, um espaço de interação entre
produção e recepção neste ambiente.
4 Existe uma extensa discussão no campo acadêmico sobre a pertinência da noção de comunidade
aplicada à internet.
5 Como exemplos, podem-se mencionar a cobertura internacional da invasão do Iraque, que se valeu
largamente de blogs de jornalistas iraquianos, quebrando um monopólio de décadas das grandes
agências de notícias, além dos diversos blogs que foram publicados em forma de livro.
79
outros contextos comunicacionais, esses objetos empíricos têm tam-
bém especificidades, tornando qualquer comparação imediata uma re
dução da complexidade do objeto em questão.
Os blogs têm consolidado um modo de expressão individual e
interação interpessoal, a promover nesse processo o surgimento de
uma existência mediada e midiática. Além disso, os blogs tornaram-
se atualmente locus da emergência de uma importante forma de jor-
nalismo individual e, até certo ponto, independente, a representar um
papel crítico na aceleração dos ciclos noticiosos. O crescimento vulto-
so dessa modalidade jornalística aponta para uma demanda social por
pontos de vista díspares e múltiplos acerca dos fatos, ao contrário da
abreviação da pluralidade de informação praticada por muitos veículos.
Entretanto, apesar de serem citados por jornalistas como fonte de
alguns artigos, matérias e reportagens com relativa freqüência e uti-
lizados como ferramenta de marketing para empresas e políticos, os
conteúdos veiculados nos blogs carecem de triagem apurada e linha
editorial coerente, elementos valorizados na veiculação desse tipo de
informação. O formato do blog, que associa funcionalidades interativas
com produção de ferramentas eficientes e de simples operação e ain
da oferece a disponibilidade “sem custos” do provedor, propiciou con-
dições para o surgimento desse fenômeno que parece ter lugar estável
na CMC que ora se estabelece.
80
como um todo seria inviável para uma única investigação. O ambiente
disponibilizado pela internet não é ocupado de forma homogênea,
há muitas estruturas distintas. Das muitas aplicações disponíveis, al-
gumas se estabelecem e permanecem, enquanto que outras formas
de uso dos recursos técnicos proporcionados caem em desuso. Entre
os formatos que parecem ter se estabelecido com vigor, pode-se des-
tacar o e-mail – meio de comunicação em geral pessoal e privado –,
o website – institucional e público – e, mais recentemente, os comu-
nicadores instantâneos – pessoal, privado e sincrônico – e o blog – pú-
blico e pessoal, ou seja, espaço público, mas “com dono/a”.
O blog chama a atenção por promover uma democratização
dos recursos para a produção da enunciação midiática, resultando
na emergência de enunciadores/as dispersos, que veiculam grande
diversidade de conteúdos. O contato com esse universo me levou a
delimitar um caso específico no qual está presente um conjunto de fe
nômenos relativos à problemática maior da CMC.
O ponto de partida para a operacionalização deste estudo con-
siste em uma coleção dos comentários publicados no LV do blog
Mothern durante um período de pouco mais de quatro anos, entre 11
de abril de 2002 – data do início das atividades do blog – e agosto
de 2006. A constatação da limitação dos comentários oriundos do
LV como fonte exclusiva de dados conduziu a dinâmica da aplicação
metodológica deste estudo em atividades para além da base de dados
da internet. Assim, a esses dados acrescentam-se entrevistas pre-
senciais e por telefone com as blogueiras e algumas participantes,
além de observação participante em encontros promovidos por elas,
experiências registradas sistematicamente em um diário de campo
etnográfico. Essas opções visam a ampliar a base empírica de dados
para a compreensão do fenômeno investigado em sua complexidade,
evitando os perigos de ter como única fonte de dados os registros ori-
ginados pela própria tecnologia da CMC.6
6 Ver neste sentido, Greiffenhagen e Watson (2005).
81
A opção de recolha dos dados provenientes do LV desde suas
primeiras mensagens se justifica, dadas as questões específicas sus
citadas pela pesquisa acerca da interação comunicativa ocorrente na-
quele espaço. Para o exame das representações do self encontradas
nesses ambientes, alguns elementos se apresentam como profícuos:
descrições pessoais, informação para contato, links, letra de música,
citações, sinais de afiliação, testemunhos pessoais, informações cor
relatas e ainda a chegada ao ambiente social sob investigação, matéria
da primeira impressão disponível aos/as participantes da interação.
Assim, a coleta dos comentários desde seu início permite analisar a
formação e o processo de configuração de diferentes aspectos desse
espaço interacional, como os protocolos de entrada em cena de no-
vas participantes, critérios de inclusão/exclusão/ostracismo de visitan-
tes, princípios formativos daquele circuito comunicacional, além do
tratamento dado a temas específicos convergentes com o tópico de
abrangência do blog.
Além disso, pela peculiar organização da disponibilização das
páginas antigas – contadas retroativamente em grupos de 10 comen-
tários –, torna-se mais fácil coletar e sistematizar a totalidade dos textos
do que voltar à internet a cada consulta. Tal coleta possibilita a criação
de uma base de dados portátil, que pode ser facilmente utilizada a
partir de um dispositivo de armazenamento. O total de comentários
veiculados no LV do Mothern no período considerado ficou em torno de
40.000. Para fins de catalogação, o volume de comentários compilado
nesse período foi agrupado em 40 arquivos Word for Windows, con-
tendo cada arquivo um total de 1000 comentários (em torno de 300
páginas de texto), perfazendo um número superior a 12.000 páginas
de texto, material rico e volumoso que demandou um longo trabalho de
classificação e análise. Essa opção permitiu uma busca relativamente
rápida por palavras-chave, descritores, nomes de participantes ou nú-
meros de comentários específicos dentro de cada arquivo. O fato de
cada comentário apresentar um número individualizado, além de data e
82
hora da postagem, facilitou o trabalho de catalogação e relacionamento
entre eles, bem como fazer inferências acerca de dados de ordem
quantitativa, bastante úteis para fins de caracterização do objeto em
etapas iniciais da análise, fornecendo pistas para a estipulação de
categorias.
A leitura de todos os comentários a partir do início das ativida-
des do LV até o número 3000 operou como uma espécie de obser-
vação não-participante digital (Braga, 2007), na medida em que o
acompanhamento da interação na ordem de sua ocorrência permitiu-
me uma compreensão do caráter intersubjetivo daquela interação. A
análise foi dividida de modo a privilegiar dois aspectos: interacionais,
uma perspectiva sobre a ordem da interação comunicativa; e discur-
sivos, em que priorizo elementos temáticos relativos ao que denomino
teorização informal da feminilidade, a partir do conjunto de comentá-
rios registrados no LV, participação em encontros presenciais e realiza-
ção de entrevistas, conjunto de procedimentos a que tenho chamado
netnografia.7
A unidade básica de análise para lidar com os numerosos dados
provenientes dos registros disponíveis na rede consiste no thread,8
um conjunto de comentários relativos a um mesmo tema, fenômeno
verbal típico da interação social na internet descrito por Rutter e
Smith (2002a; 2002b). Em um thread, os/as participantes alternam co-
mentários datados e numerados, em uma espécie de radicalização da
dinâmica de “turnos de fala” (Schegloff, Sacks & Jefferson, 1974) na
conversação face a face, na qual não há corte ou sobreposição de
falas, mas uma seqüência numericamente configurada.
Após a análise dos discursos dos comentários do LV, ponto de
partida desse percurso, selecionei informantes entre as participantes,
que foram contatadas por e-mail. Entrevistas foram agendadas, grava-
das e transcritas. Ainda, realizei observação participante em alguns dos
7 Ver, nesse sentido, Bishop et al., 1995; Braga, 2008.
8 Na falta de uma boa palavra em português que caracterize o conjunto de comentários denominado
por thread (literalmente, “fio”), optei, por enquanto, por reproduzila em sua grafia original em inglês.
83
freqüentes encontros presenciais promovidos pelas freqüentadoras do
LV. A participação nesses encontros foi acompanhada da elaboração
de um diário de campo etnográfico, de modo a preservar o máximo
possível da riqueza das situações naturais de campo.
As opções metodológicas aqui explicitadas buscam dar conta de
um aspecto particular de um fenômeno midiático – o blog Mothern no
contexto da internet. A internet, como meio de comunicação, trouxe
uma série de alterações na configuração do campo das mídias, não
apenas redefinindo os meios tradicionais, mas criando e ampliando
contextos de interação social, que são apropriados por sujeitos enun-
ciadores de diversas maneiras, a partir de protocolos e lógicas de inte-
ração específicas.
No conjunto de comentários componente do LV do Mothern, é
possível observar diálogos inteiros, sem um conteúdo preciso, e que
parecem ter o único propósito de manter o contato e prolongar a co-
municação, cumprindo apenas uma função fática da linguagem, con-
forme a clássica definição de Jakobson (1969). Entretanto, a partir da
entrada de certas temáticas – espontânea ou originada por assunto
proposto na página principal –, um novo thread se desenvolve. Esses
comentários apresentam uma recursividade geradora de outras inter-
pretações. A compreensão do tópico específico apresentado por um
comentário dá origem a outras interpretações a respeito daquele mes-
mo assunto, causando um efeito que muitas vezes pode durar dias ou
mesmo semanas. Sendo assim, o tema introduzido por um comentário
que desestabiliza a sociabilidade cotidiana fornece um eixo para que
se desenvolva uma seqüência de comentários relativos, uma continui-
dade da interação comunicativa em torno daquele tópico específico,
até que esta se estabilize em um novo ponto de equilíbrio, voltando aos
termos da sociabilidade cotidiana – fática. A cada percurso desse tipo
– tema / comentários relativos / comunicação fática –, um novo thread
se apresenta como unidade possível de análise.
Assim, considero importante buscar, além da diversidade dos
84
conteúdos apresentados no ambiente interacional do LV, “os princípios
estruturantes que fornecem ordem em meio ao fluxo” (Smith, 2004:51).
A estipulação dos threads, a observação de sua duração, freqüência e
conteúdos para a organização e exame desses dados em seu conjunto
demonstram grande potencial analítico, uma vez que é no confronto
entre posições manifestas ao longo dos threads que a negociação so-
cial dos sentidos se realiza, tanto na ordem do discurso quanto na
ordem da interação.
O fenômeno comunicacional originado pelo LV comparece em
diferentes ambientes da Internet, em trocas de e-mails, visitas a fo-
tologs, fórum de comunidade Orkut, comunicação por programas de
mensagens instantâneas, outros LVs, lista de discussão restrita etc.
Algumas relações estabelecidas no LV ultrapassam os limites da CMC
e lançam mão de outros recursos técnicos para realizar suas trocas,
como telefone celular, câmaras digitais, além de encontros presenciais.
Na tentativa de precisar algumas unidades de leitura no conjunto
de dados, me vi levada a fazer algumas escolhas de ordem teórico-
metodológicas e eleger, dentre os diferentes ambientes de interação,
alguns pontos interconectados: o LV e sua “relação reflexiva” com os
posts,9 de um lado, e com outros LVs e fotologs, de outro. Tendo em
vista o fenômeno comunicacional sendo constituído no contexto da
internet, é possível perceber articulações que se fazem através de en-
vios (na forma de mensagens verbais e links) e reenvios entre esses
espaços. A partir de vários mecanismos observados na relação entre
essas partes, um circuito comunicativo é estabelecido e representa-
ções discursivas veiculadas.
A seguir, apresento um exemplo do modo como dados quantita-
tivos, facilmente disponíveis na rede, podem ser articulados a técnicas
de pesquisa qualitativa, como observação participante e entrevistas
em profundidade, contribuindo na caracterização do objeto de pesqui-
9 “Posts” são as atualizações na página principal de um blog, podendo ou não pertencer ao mesmo
gênero de escrita, tratar do mesmo assunto ou ter sido escrito pelo/a blogueiro/a. Ao longo do texto,
utilizo a palavra “post” por se tratar de um termo êmico.
85
sa, neste caso, a trajetória do blog, da comunicação mediada por com-
putador aos meios de comunicação de massa.
86
Número de Comentários no Livro de Visitas por mês
4500
número de comentários/mês
4000
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
abr/02
jun/02
ago/02
out/02
dez/02
abr/03
jun/03
ago/03
out/03
dez/03
abr/04
jun/04
ago/04
out/04
dez/04
abr/05
jun/05
ago/05
out/05
dez/05
abr/06
jun/06
ago/06
fev/03
fev/04
fev/05
fev/06
m ês e ano
87
começa a se estabelecer de visitas de outros/as blogueiros/as, que
se identificaram com a proposta e passaram a freqüentar o LV co
tidianamente.
Uma nova fase se iniciou quando o Mothern foi noticiado em três
veículos de mídia impressa, em meados de 2003: uma coluna mensal
na revista TPM, uma matéria com fotos e entrevista na revista Crescer e
uma fotografia e menção ao blog e suas criadoras em uma reportagem
sobre o crescimento da blogosfera na revista IstoÉ, em maio daquele
mesmo ano. A partir daí, houve um crescimento vertiginoso na atividade
daquele espaço, que chegou a um pico de quase 4000 comentários em
abril de 2004 – registrando queda somente entre dezembro e fevereiro,
pelas razões já mencionadas. Nesse período, em março de 2004, foi
criada uma lista de discussão paralela restrita, que viria a provocar
um esvaziamento impressionante nas atividades do LV. Em poucos
meses, a lista absorveu quase completamente aquela atividade, apre-
sentando mais de 4000 registros em agosto, mesmo mês da queda
mais significativa do fluxo do LV registrada no gráfico.
Em outubro de 2004, as blogueiras anunciaram na página principal
do blog o encerramento das atividades por parte delas, ou seja, o
fim da produção de novos posts. Sob o lamento das freqüentadoras,
as anfitriãs argumentaram estar envolvidas com outras tarefas pro
fissionais e interesses pessoais. Entretanto, convidaram todas para
continuarem a freqüentar o ambiente mesmo na sua ausência. As fre-
qüentadoras reagiram de modo compreensivo, apesar de ficar claro
o desagrado frente àquele afastamento. Os números caíram a níveis
próximos aos dos primeiros meses da criação do LV. Entretanto, após
o choque inicial, a freqüência ao LV manteve-se estável em torno de
150 comentários por mês, demonstrando uma relativa autonomiza-
ção daquele ambiente com relação à atividade e participação de suas
criadoras.
88
Pouco tempo depois do encerramento das atividades do blog, as
autoras receberam o convite de uma editora comercial para publicar o
conteúdo do blog em forma de livro, cujo lançamento ocorreu em 16 de
abril de 2005, por ocasião do dia das mães. A campanha publicitária e
os eventos de lançamento do livro – que promoveram um novo fluxo
de visitantes ao blog – levaram as blogueiras a retomar as atividades
da página, e a freqüentar novamente o LV, para responder e dar as
boas vindas a todas as recém-chegadas. A partir daí, com o crescente
interesse das mídias tradicionais no fenômeno dos blogs, o Mothern
passou a ser fonte constante para pautas de suplementos femininos
e de informática em jornais e revistas de circulação nacional, atraindo
novos grupos e promovendo rotatividade naquele ambiente. O número
de comentários manteve-se estabilizado entre os meses de janeiro de
2005 a julho de 2006, registrando número de comentários em torno
de 700, apesar da pouca atualização da página principal. A estréia do
programa televisivo Mothern, série de ficção elaborada a partir dos
textos do livro no canal fechado GNT, em agosto de 2006, motivou
novamente a atualização do blog. A massiva campanha publicitária
da emissora colocou o tema da maternidade moderna como pauta de
diversos programas de sua grade, como Saia Justa, Sem Controle e
Marília Gabriela Entrevista, além das chamadas constantes para o pro-
grama propriamente dito durante a programação. Essa exposição à
mídia de massa despertou o interesse de outros veículos de expressão
nacional, como o jornal Folha de S.Paulo, a revista Época, e o programa
Hebe, do SBT, e levou a um crescente afluxo de novos/as visitantes,
elevando o número de comentários no LV de modo exponencial. Em
agosto de 2006, o número de comentários foi mais que o dobro do
registrado em julho, mostrando, ao final da contagem desses dados,
um iminente ciclo de expansão.
89
Para Concluir
90
Referências
ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997.
BISHOP, A. P.; STAR, S. L.; NEUMANN, L.; IGNACIO, E.; SANDUSKY, R. J., &
SCHATZ, B. “Building a university digital library: understanding implications for academic
institutions and their constituencies.” In: Higher Education and the NII: from vision to
reality. Proceedings of the Monterey Conference, Sept. 26-29. Washington, DC, Coalition
for Networked Information, 1995.
SITES:
91
92
Marcelo Träsel
93
caso do blog de tecnologia Engadget. Em maio de 2007, o Engadget
publicou um e-mail enviado pela diretoria da empresa Apple a seus
funcionários anunciando erroneamente um atraso no lançamento de
dois produtos. A publicação causou uma queda de US$ 4 bilhões no
valor de mercado das ações da Apple (Arrington, 2007). O equívoco foi
desfeito e as ações voltaram a seu valor original em pouco tempo, mas
a disposição dos investidores em tomar decisões financeiras com base
em um post do Engadget pode ser considerada um símbolo da acei-
tação social dos blogs como canais confiáveis de informação.
Para todos os efeitos, o formato blog tornou-se ubíquo na web.
No entanto, a disseminação tende a estressar os limites da definição
desse gênero de website à medida que as ferramentas de publicação
permitem arquiteturas e desenhos mais complexos e ocorre uma pro-
fissionalização da produção de conteúdo. O objetivo desse trabalho é
discutir até que ponto as definições mais aceitas de blog dão conta dos
fenômenos atuais e iniciar um debate que leve a um conceito o mais
atemporal e independente da tecnologia possível. Não se pretende
aqui dar qualquer resposta definitiva sobre o conceito de blog, mas
sim incentivar os pesquisadores do tema a questionar seu objeto de
análise.
94
gráfica. De fato, o objetivo principal dos autores pioneiros era guardar
um arquivo de referências interessantes, numa época em que as
ferramentas de busca ainda eram muito pouco desenvolvidas. Encon-
trava-se conteúdo interessante na web por acaso ou por indicação
de outros internautas, então os links fornecidos nos primeiros blogs
eram um ativo muito valioso para seus autores e leitores. Um nome al-
ternativo para weblog é diário virtual, tradução do inglês on-line journal,
mas normalmente entende-se que essa denominação se refere a um
tipo específico de blog, que privilegia as impressões pessoais de seu
autor em detrimento dos links comentados.
Os pesquisadores que se debruçam sobre esse objeto, sobre-
tudo os de origem americana, tendem a adotar uma definição baseada
na fórmula proposta por Blood (2002): uma página da web atualizada
freqüentemente com entradas datadas, as mais novas posicionadas
no topo, contando quase sempre com espaços para comentários. Há
pesquisadores que definem os blogs a partir de características de sua
linguagem e narrativa, apontando, no mais das vezes, a auto-refe-
rência e a subjetividade que conformam esse gênero textual.3 Auto-
res de ambos os grupos tendem a identificar também os blogs com
as ferramentas de publicação usadas para produzi-los – embora seja
possível manter esse tipo de website usando o mesmo método da cria-
ção de sítios tradicionais, isto é, mudando o código HTML e atuali-
zando-o diretamente no servidor em que o blog está hospedado. De
uma maneira geral, porém, os acadêmicos que se debruçam sobre
o fenômeno dos blogs falham em dar uma definição operacional dos
mesmos.4 É bem verdade que a constante evolução tecnológica pre-
judica qualquer tentativa de delimitar o objeto, fator que, de resto, in-
terfere em todo estudo sobre fenômenos da comunicação mediada por
computador, mas talvez essa dificuldade devesse se tornar um incen
tivo para encontrar definições independentes do gênero textual ou da
3 Ver, por exemplo, Sibilia (2003) ou Primo (2005).
4 Ver Schittine (2004), por exemplo, que faz uma análise do uso dos blogs para a escrita íntima sem
definir claramente o que entende por blog em nenhum momento.
95
ferramenta, não para evitar o problema. Estudos científicos que se exi
mem de apresentar alguma definição operacional de seu objeto car
regam uma fragilidade primordial.
Os artigos e livros escritos pelos próprios blogueiros e trabalha-
dores especialistas em internet e web costumam abordar o problema da
conceitualização com maior freqüência. Um apanhado das definições
mais recorrentes para blogs realizado por Garfunkel (2004) identificou
os seguintes traços, que podem ser complementares ou concorrentes:
96
manda do público mais jovem e de marcar posição estratégica como
empresas “antenadas”. A partir desse movimento, os outros traços da
definição de blog citados acima passaram a ser mais difundidos entre
blogueiros, pesquisadores e público em geral, e esse tipo de website
ganhou respeito.
Porém, foi breve a conquista do reconhecimento pelos blogs. No
momento mesmo em que passam a ser aceitos e se multiplicam por
todos os cantos da web brasileira, começam a perder credibilidade. Os
pioneiros da blogosfera vêem o seqüestro do formato pela mídia e a
mercantilização por meio de anúncios e até mesmo venda de espaço
editorial como sinais do fim de uma “era de ouro” dos blogs. Ao mesmo
tempo, características antes típicas dos blogs estão presentes em todo
tipo de sítio e as próprias ferramentas criadas para mantê-los servem
aos mais diversos fins. Onipresentes, os blogs parecem se dissolver
em meio a outras propostas editoriais e empresariais. Uma verdadeira
vitória de Pirro.
Armadilhas publicitárias para navegadores incautos podem ser
consideradas blogs? As colunas de jornais publicadas em ordem cro-
nológica decrescente e com espaços para comentários podem ser con-
sideradas blogs? Arquivos cronológicos de comunicados de imprensa
são blogs? O que é, afinal, um blog? Na tentativa de encaminhar um
debate sobre essas perguntas, far-se-á uma análise crítica de cada um
dos traços característicos mais comumente apontados nos weblogs.
97
apresentadores mais famosos da emissora, o que foi entendido pela
blogosfera como uma mera assimilação do formato por interesses mer-
cantis (Netto, 2007).
A vulgarização levou ainda à criação blogs cujo objetivo principal
é a “monetização”, isto é, vender anúncios suficientes via serviços
automáticos6 para obter lucro. A monetização, no entanto, tem levado
muitos blogueiros a publicar conteúdo que visa meramente obter uma
boa colocação no ranking das ferramentas de busca, ou ainda extrair
cliques do que chamam “pára-quedistas” – os internautas desavisados
que caem no blog via ferramentas de busca, em geral procurando por
informações a respeito de celebridades ou pornografia, e, confundidos
pelo design ambíguo da página, acabam clicando em anúncios, para
jamais voltar àquele sítio novamente (ver Campos, 2007). Após par-
ticipar de um evento reunindo blogueiros em 2007, um professor uni-
versitário e pioneiro da blogosfera relatou com pesar:
98
primeiros artigos a respeito do fenômeno (Rodzvilla, 2002) chamase
We’ve got blog, ou seja, “Nós temos blogs”, expressão que se asse-
melha em muito a uma frase de protesto. Os autores reunidos no livro,
em sua maioria, posicionam os blogs como bastiões de resistência
do cidadão comum contra a mídia e o governo, tomados tacitamente
como instituições traiçoeiras e manipuladoras – não à toa, o autor de
um dos mais conhecidos blogs políticos do mundo, o Instapundit,8 pu-
blicou um livro chamado Um exército de Davis: como os mercados e
a tecnologia permitem às pessoas comuns derrotar a grande mídia, o
grande governo e outros Golias (Reynolds, 2006).9
Além dos blogs com fins francamente comerciais criados por
indivíduos, há os blogs empresariais e impessoais criados por orga-
nizações. Algumas instituições mantêm blogs anônimos que, em lugar
de publicar textos com forte caráter autoral, veiculam uma série de co-
municados de imprensa. Reynolds considera a subjetividade um traço
inseparável dos weblogs: “Então, apesar de você poder ter um blog
‘institucional’ anônimo (...) ele está fadado a ter uma voz institucional
(...) Então voz pessoal parece ser terrivelmente importante para a qua-
lidade de um blog” (2006:116-7).10 Se os blogs são primordialmente
um espaço de construção do “eu” no ciberespaço (Recuero, 2004:4),
é preciso concluir que blogs institucionais anônimos não podem ser
considerados verdadeiros blogs, ou que esse traço não pode ser
determinante na definição do que é um blog. Da mesma maneira, à
medida que blogs passam a ser criados visando exclusivamente à
“monetização”, o cunho não-comercial deixa de ser útil para delimitar
esse objeto.
8 http://www.instapundit.com.
9 “An army of Davids: how markets and technology empower ordinary people to beat Big Media, Big
Government and other Goliaths”. Tradução livre.
10 Tradução do Autor: “So while you can have an anonymous ‘institutional’ blog (...) it’s bound to
have an institutional voice (...) So the personal voice seems to be awfully important to good blogging”.
99
Ordem cronológica reversa e freqüência de atualização
100
publicação de conteúdo em ordem cronológica reversa, como a dos
blogs − vide as listas de “últimas notícias” desses veículos, sempre
apresentadas com a manchete mais recente no topo. No entanto, o
jornalismo se caracteriza pela primazia da organização hierárquica
da informação sobre a organização cronológica, daí serem raros os
webjornais que até hoje adotaram a cronologia reversa como critério
principal de distribuição do conteúdo em suas home pages. Pode-se
citar como exemplos de uso da cronologia reversa no jornalismo o
Observatório da Imprensa e a revista Exile.ru.11
Ao passo que algumas revistas eletrônicas adotam a ordem cro-
nológica reversa, certos blogs abandonam essa característica. Tome-
se, por exemplo, o caso do Judão,12 website sobre cultura cuja página
principal segue uma ordem hierárquica da informação, apesar de rodar
no CMS WordPress e se autodenominar um blog. Na figura 1 (página
seguinte), pode-se ver que a página principal apresenta uma manchete
gráfica; a seu lado, um destaque também gráfico para algum artigo
ou especial; abaixo da manchete, destaques menos relevantes or-
ganizados por tópico; e, finalmente, uma lista de últimas notícias, única
seção da home page organizada cronologicamente.
O Judão, no entanto, tem uma voz subjetiva e é um website ori-
ginalmente de cunho pessoal e não-comercial, embora hoje conte com
uma equipe de redatores e veicule anúncios. Porém, oferece espaços
para comentários dos leitores e relatos da vida de seu editor, Thiago
Borbolla, em uma seção determinada. Isso o colocaria na categoria de
blog conforme a maioria dos traços normalmente identificados nesse
tipo de sítio. A evolução do design de sítios informativos para a web
parece apontar para uma “bloguização” das revistas eletrônicas e de
“jornalistização” dos blogs, resultando em um híbrido da lógica hierár-
quica do jornalismo e da lógica temporal dos blogs.
101
Figura 1: Reprodução da página principal do sítio Judão.
Fonte: http://www.judao.com.br. Acesso em 11/12/2007.
102
reversa são mais características exclusivas dos blogs. Portanto, não
podem continuar sendo o eixo principal de sua definição.
103
Figura 2: Página de arquivo do blog pioneiro Robot Wisdom,
dezembro de 2000 a janeiro de 2001.
Fonte: http://www.robotwisdom.com. Acesso em 11/12/2007.
104
As impressões e comentários sobre fatos cotidianos e notícias
também têm sido canalizados para outros tipos de websites que não
blogs. Esse tipo de expressão já era possível nos fóruns eletrônicos,
ferramentas ainda anteriores aos blogs. Hoje, há sítios cujo objetivo
principal é veicular a opinião dos internautas sobre os fatos sociais,
como o Jornal de Debates,15 em que se pode publicar artigos sobre te-
mas escolhidos pelos editores ou votados pelos leitores, mediante ca-
dastro, bem como inserir comentários e responder a artigos de outros
colaboradores com novos artigos.
Além disso, os próprios webjornais têm atrelado espaços para
comentários às suas notícias, como por exemplo o Estadão.com e
a Zerohora.com.16 Como nos blogs, os leitores podem deixar suas
impressões sobre determinadas notícias, bastando, para isso, cadas-
trar-se. Essas intervenções são, no mais das vezes, moderadas pela
equipe editorial. Os espaços para leitores tecerem comentários ligados
diretamente ao conteúdo em questão não constam das definições
mais comuns de blog, mas são uma das inovações mais importantes
introduzidas por esse formato de circulação de informação na web.
A maioria dos blogs conta com esse tipo de sistema, em que são ge-
radas conversações frutíferas e ocorre a criação e reforço de laços
sociais (Primo, 2006). Atualmente, porém, quase todos os webjornais
e variados tipos de sítios, inclusive corporativos, introduziram espaços
para comentários, de modo que esses não contribuem mais para uma
definição operacional de blog.
Já os diários virtuais propriamente ditos, os on-line journals, nos
quais os indivíduos relatam eventos de seu cotidiano, devaneios e sen-
timentos, estão lentamente migrando para as redes sociais. Serviços
como o Orkut, Facebook e MySpace17 apresentam nos perfis de seus
assinantes seções em que eles podem escrever pequenos textos e
15 http://www.jornaldedebates.com.br. Um serviço semelhante é o também brasileiro Eu Acho Que
(http://www.euachoque.com.br), que opera sob a palavra de ordem “onde a sua opinião é pública”.
16 Http://www.estadao.com.br e http://www.zerohora.com.br.
17 http://www.facebook.com e http://www.myspace.com, respectivamente.
105
recados. Essas seções são freqüentemente usadas para fazer relatos
da própria vida e expressar sentimentos. Um serviço chamado Twitter18
consiste unicamente neste tipo de página de recados e ainda permite
que o assinante crie uma rede social e acompanhe as atualizações das
pessoas em sua rede através de mensagens de texto enviadas a seu
telefone móvel. O YouTube,19 repositório que permite a distribuição de
vídeos na web, tem sido usado para a produção de relatos da vida co-
tidiana e comentários sobre fatos sociais, resultando em um gênero de
publicação conhecido como “videolog”, geralmente contraído para vlog.
Os vlogs são considerados blogs audiovisuais. Há ainda os blogs em
áudio, chamados podcasts, nos quais indivíduos ou pequenos grupos
apresentam músicas, tecem comentários sobre o cotidiano, realizam
entrevistas ou mesmo lêem as notícias do dia.
Em outras palavras, alguns dos usos mais comuns dos blogs es-
tão sendo divididos entre outros serviços especializados da web, tor-
nando inviável a tarefa de delimitar o objeto a partir do tipo de conteúdo
publicado.
Conclusão
106
construção de “eus” na web e para a formação de redes sociais. Essa
presença de características dos blogs em toda categoria de sítios põe
em cheque as definições mais comuns do fenômeno. É irônico que o
sucesso dos blogs possa acabar por diluir seu significado e, no limite,
fazê-los desaparecer como um gênero de publicação em separado.
A meta deste artigo é mostrar que os blogs não são objetos evi-
dentes, mas sim um formato de publicação na web que ainda carece de
uma definição clara e, se possível, não concorrente com outros fenô
menos das redes telemáticas, bem como imune ao desenvolvimento
de novas tecnologias. Não se faz aqui proposta alguma de uma tal de-
finição. Tratase apenas de um encaminhamento para o debate e uma
provocação aos pesquisadores interessados em estudar o objeto blog.
107
Referências
ARRINGTON, M. “Engadget knocks $ 4 billion off Apple market cap on bogus iPhone
email”. Techcrunch, 16/06/2007. Disponível em: http://www.techcrunch.com/2007/05/16/
engadget-knocks-4-billion-of-apple-market-cap-on-bogus-iphone-email. Acesso em
22/11/2007.
BRUNS, A. Gatewatching: collaborative online news production. Nova York: Peter Lang,
2005.
BLOOD, R. “Introduction”. In: RODZVILLA, J. (Org.). We’ve got blog!: how weblogs are
changing our culture. Cambridge: Perseus, 2002.
NETTO, M. “BBB8, Bloglog, layout novo. Será que a Globo entendeu a Web 2.0?.
Tecnocracia, 05/09/2007. Disponível em: http://tecnocracia.com.br/arquivos/bbb8-
bloglog-layout-novo-sera-que-a-globo-entendeu-a-web-20. Acesso em 10/12/2007.
SIFRY, D. “The state of the Live Web, April 2007”. Sifry’s alerts, 05/04/2007. Disponível
em: http://www.sifry.com/stateoftheliveweb. Acesso 22/11/2007.
108
Jan Schmidt
Práticas de blogging em
língua alemã*:
resultado da pesquisa “Wie ich blogge?!”²
1
.
2
109
sideração e explicada através da análise de “práticas de blogging”.
Elas consistem em episódios individuais em que um blogueiro utiliza
um software específico para trabalhar a gestão de identidade, a gestão
de relacionamento e a gestão de informação dentro da estrutura de
três dimensões estruturais de regras, relações e código. Em outras pa
lavras: o uso individual e situado de blogs é balizado por (1) rotinas e
expectativas compartilhadas em relação ao uso “correto” do blog para
conseguir gratificações buscadas; (2) relações sociais e hipertextuais
pré-existentes formando redes das quais o blogueiro e o blog fazem
parte e (3) funcionalidades de softwares específicos que ajudam ou
permitem certas ações enquanto restringem outras. Esses elementos
das práticas de blogging são “estruturais” no sentido de que residem
analiticamente além do blogueiro individual, mas, na verdade, são as
ações dele que as reproduzem ou alteram, contribuindo assim para
uma interdependência recursiva de aspectos individuais e estruturais
de práticas de blogging.
A maior parte da crescente pesquisa empírica sobre blogs está
se concentrando em características individuais, motivações, rotinas e
expectativas ou em propriedades estruturais da blogosfera, de modo
mais proeminente nas redes de links entre blogs ou nos públicos
emergente (ver Schmidt, 2007 para uma visão geral da literatura exis-
tente). Esses estudos contribuíram para uma análise de práticas de
blogging dando insights sobre rotinas existentes e sobre o tamanho e
a composição de redes emergentes baseadas em blogs. Entretanto,
embora dados recentes sugiram que o inglês não é mais o idioma do-
minante dentro da blogosfera (Sifry, 2007), a pesquisa é normalmente
concentrada em blogs de língua inglesa. As exceções notáveis são as
análises específicamente culturais ou territoriais para as blogosferas
persas (Esmaili et al., 2006), espanholas (Merelo et al., 2005) e polo-
nesa (Trammell et al., 2006), bem como a análise comparativa das
redes de linguagem da popular plataforma de blogging internacional
LiveJournal (Herring et al., 2007), mas não existem estudos similares
110
para a blogosfera de língua alemã. Este artigo relata descobertas de
uma pesquisa on-line de larga escala realizada em outubro de 2005,
que tinha como objetivo avaliar empiricamente as práticas de blogging e
sociodemográficas dentro da blogosfera de língua alemã. Após algumas
observações introdutórias sobre o projeto da pesquisa, os resultados
selecionados serão apresentados e discutidos, concentrando-se na
distinção entre gestão de identidade, gestão de relacionamento e ges-
tão de informação.
Uma última nota introdutória: a difusão de blogs dentro da Ale
manha, Áustria e Suíça perdeu terreno para outros países europeus,
como França, Polônia ou Reino Unido, e os Estados Unidos, o que le-
vou a uma parcela menor da população on-line em geral usando blogs,
seja como autores ou como leitores. Segundo uma pesquisa repre-
sentativa (van Eimeren & Frees, 2006), 7% de todas as pessoas co-
nectadas à web na Alemanha já usaram blogs, sendo que 35% desse
grupo é de colaboradores ativos, ao passo que os dois terços restantes
são apenas leitores. Como a parcela de usuários de internet entre a
população alemã ao longo de 14 anos alcançou 60 por cento em 2006,
o número de blogueiros ativos na Alemanha seria de aproximadamente
um milhão de pessoas. Como o conceito de “colaboração ativa” po-
deria incluir desde a postagem de um comentário até a criação de
um blog, e como um número desconhecido de blogs pode ser des-
continuado depois de semanas, meses ou anos, não se pode dire-
tamente concluir, a partir do número de usuários de blogs, quantos
blogs ainda estão realmente ativos. Entretanto, um recente esforço no
sentido de percorrer a blogosfera de língua alemã3 dá um número de
cerca de 100.000 blogs acessíveis publicamente em alemão que foram
atualizados entre maio e julho de 2007.
111
Projeto da pesquisa
4 “Wie ich blogge?!“ significa tanto “Como estou blogando?“ quanto “É assim que eu blogo!”.
5 A maior pesquisa sobre blogs até agora havia aparentemente sido a “MIT Blog Survey”, realizada
no verão de 2005, com cerca de 35.000 participantes (Marlow, 2005).
112
Modo do convite Contatos Início da Fim da Taxa de
pesquisa pesquisa respostas
Mail twoday.net 11.916 1.149 980 8.2 %
Mail blogg.de 659 107 96 14.6 %
Auto-ecrutamento Não 10,309 4,170 Não
aplicável aplicável
Total Não 11,565 5,246 Não
aplicável aplicável
Resultados
113
algumas questões, resultados separados para subgrupos (com base
na idade dos autores e na idade dos blogs, respectivamente) foram
computados, com os resultados de um teste chi e o coeficiente do
quociente-eta dado. (quociente eta é uma variável estatística)
Descobertas gerais
Sexo (N=4,218) %
Masculino 54.4
Feminino 45.6
Idade (N=4,186)
< 20 anos 17.7
20 a 29 anos 41.8
30 a 39 anos 24.3
40 a 49 anos 10,7
> 50 anos 5,4
Educação formal (N=4,193)
114
Sem diploma 3,8
“Hauptschule“ (9 anos) 4,2
“Mittlere Reife“ (10 anos) 19,3
“Abitur“/“Matura“ (12/13 anos) 42,8
Nível universitário 29,9
115
Pouco menos da metade dos participantes começou seus blogs
aproximadamente seis meses antes da pesquisa, demonstrando que
a adoção desse novo formato ficou um tanto atrás dos EUA. Cerca
de 60% usam um provedor de blogs (sendo os mais comuns myblog.
de, twoday.net ou blog.de) para hospedar seus blogs, enquanto cerca
de um terço (31,9%) têm software stand-alone instalado. Entre eles, o
WordPress é o mais comum (49,9%), seguido pelo Serendipity (10,8%)
e Movable Type (5,7%). 7,6% dos participantes afirmam que não sabem
qual é a base técnica de seus blogs.
N=4,391 %
< 6 meses 45,2
6 to 12 meses 20,6
12 to 24 meses 20,5
24 to 36 meses 8,3
> 36 meses 5,4
Tabela 5: Idade do blog
116
N=4,309 < 20 anos(%) > 20 anos(%) Total (%)
Por diversão 75.9 70.0 70.8
Gosto de escrever 79.4 59.8 62.7
Registro idéias e 72.2 59.9 61.7
experiências para mim
Compartilho idéias e 56.0 47.8 49.0
experiências
Desabafo meus 69.9 40.1 44.5
sentimentos
Compartilho meu 22.2 35.3 33.4
conhecimento sobre certos
tópicos
Permaneço em contato 35.1 32.9 33.2
com amigos e conhecidos
Faço novos contatos 34.3 26.0 27.2
Por motivos profissionais 1.3 14.7 12.7
Outras razões 9.3 10.9 10.7
Tabela 6: motivos para manter um blog pela idade dos blogueiros
Foram dadas opções para resposta; múltiplas respostas eram possíveis.
117
outros conteúdos on-line, com comentários. Apenas um pequeno nú-
mero inclui arquivos multimídia como videoclipes e podcasts em seus
blogs. Mais uma vez, diferenças de idade se sobressaem: blogueiros
adolescentes têm mais chances de compartilhar poemas, letras de mú-
sicas e/ou contos, e – em menor escala – a blogar sobre episódios e
histórias da vida pessoal e da escola. Blogueiros mais velhos, por sua
vez, têm mais chances de apontar para outros conteúdos on-line e a
fazer comentários sobre questões políticas.
118
Poemas, letras de músicas, 49.8 28.9 32.1
contos
Outros conteúdos 15.6 20.5 19.7
Videoclipes 4.9 4.6 4.6
Podcasts 1.8 3.2 3.0
Tabela 8: Conteúdo de blogs pela idade dos blogueiros
Foram dadas opções para resposta; múltiplas respostas eram possíveis.
119
Gestão de relacionamento: comentários e blogrolls
120
N=3,783 < 6 meses (%) > 6 meses (%) Total (%)
1 35.3 16.2 24.5
2a5 56.9 65.9 62.0
5 a 10 6.2 13.2 10.2
10 a 50 1.4 4.2 3.0
> 50 0.2 0.5 0.4
Tabela 11: Número médio de comentários por post por idade do blog
121
N=2,119 < 6 meses (%) > 6 meses (%) Total (%)
1 a 5 links 45.9 21.3 31.1
6 a 10 links 31.7 23.8 27.0
11 a 15 links 9.7 15.5 13.2
16 a 20 links 6.0 13.8 10.7
> 20 links 6.7 25.6 18.0
Tabela 12: Número de links de blogroll por idade do blog
122
Gestão de informação: leitura de blogs e RSS
123
comentários e apresentem a opinião pessoal do autor. A maioria tam-
bém espera um estilo informal de escrita, conteúdo único que não é
apresentado em outros formatos de mídia, e fotos e imagens. Por outro
lado, relativamente poucos blogueiros esperam que os blogs tenham
um design sofisticado ou que entrem em uma discussão objetiva sobre
os assuntos abordados.
Comparando grupos diferentes de blogueiros, algumas diferenças
significativas aparecem. Com relação à idade do blog, autores de blogs
mais novos são especialmente menos propensos a esperar feeds de
RSS. Blogueiros adolescentes também têm menos chances de esperar
feeds, assim como trackbacks, busca por palavras-chave e conteúdo
exclusivo. Por outro lado, eles têm mais chances de esperar um estilo
informal de escrita, uma página separada ”sobre mim” e um design
sofisticado.
124
Muitos links para outros 25.8 26.1 26.0
conteúdos on-line
Design sofisticado 25.7 22.9 24.1
Discussão objetiva de 18.5 19.4 19.0
tópicos
Tabela 17: expectativas de “blogs típicos” por idade do blog
Foram dadas opções para resposta; múltiplas respostas eram possíveis.
125
Discussão
126
de imagens públicas de blogging, os resultados aqui enfatizam que
práticas de blogging em rotinas particulares de gestão de identidade
dependem da idade dos blogueiros: blogueiros adolescentes parecem
utilizar blogs basicamente como diários pessois, como um espaço on-
line no qual fazem suas reflexões e compartilham idéias e experiências
de suas vidas privadas. Essa prática também é muito comum entre
blogueiros adultos, mas aqui encontramos um número razoável de au-
tores utilizando blogs como sites de gestão de conhecimento ou tam-
bém para comunicação profissional.
Uma parte importante da gestão de identidade é a decisão de
blogar anonimamente ou revelar informações pessoais. A parcela de
blogueiros anônimos ou pseudônimos dentro da blogosfera de língua
alemã (cerca de 30%) é ligeiramente maior que os números (não-
representativos) dados em Viégas (2005), em que 81% dos blogueiros
declararam que se identificavam dentro do blog.9 Entretanto, até mais
importante do que essas diferenças parece ser o fato de que uma clara
maioria dos blogueiros se identifica. Aparentemente, para eles, os
benefícios de dar um contexto adicional aos seus posts e comentários
parecem compensar os riscos potenciais que advêm da persistência
de postagens nos blogs, que vão desde geração de conflitos por certos
posts na vida privada ou profissional até possíveis implicações para
uma futura procura de emprego. Não fica claro se a maior tendência de
adolescentes a revelar informações pessoais em posts ou sites “sobre
mim” separados resulta de um efeito da idade (em que blogueiros mais
jovens vão começando a evitar revelar cada vez mais informações à
medida que envelhecem) ou de visões diferentes sobre privacidade e
aspectos públicos entre a geração mais jovem.
Em contraste com a gestão de identidade, rotinas de gestão de
9 Herring, Scheidt et al. (2005) relatam uma parcela semelhante ao estudo “Wie ich blogge?!” com
base em uma análise de conteúdo: 67,6% de 203 blogs incluem primeiro nome ou o nome todo do
autor, e 54% fornecem outras formas de informações pessoais explícitas como idade, ocupação ou
localização geográfica. Uma análise longitudinal realizada por Herring; Scheidt et al. (2006) mostra
que a parcela de blogs anônimos ou pseudônimos diminuiu para menos de 20% entre 2003 e 2004.
127
relacionamento e gestão de informação dependem mais da idade dos
blogs que da idade dos blogueiros. Como a idade de um blog pode
ser considerada um indicador de experiência com blogs e com a blo-
gosfera em geral, essas descobertas realçam o fato de que as práti-
cas de blogging mudam com o tempo. À medida que os blogueiros
incorporam blogs às suas rotinas comunicativas, eles expandem suas
relações sociais com outros blogueiros por intermédio de blogrolls e
comentários, e também expandem seus repertórios de leitura. Com
base nas expecativas do que constitui um “blog típico”, os comentários
parecem ser mais importantes do que blogrolls para a gestão de re-
lacionamento. Embora nem todos os posts recebam comentários,10 a
parcela de posts comentados e o número de comentários propriamente
ditos aumenta com a idade do blog.
Podemos observar dinâmicas similares com relação aos blogrolls
e, com um número cada vez maior de blogs a serem seguidos, blo-
gueiros experientes têm mais probabilidade de utilizar RSS para ge-
renciar a quantidade de informações. Em outras palavras, olhando
para blogrolls, comentários e rotinas de leituras, podemos observar um
processo de formação de redes, tanto em relação a links hipertextuais
e a laços sociais. Embora as três estratégias de gestão de identidade,
gestão de relacionamento e gestão de informação tenham sido se-
paradas analiticamente para fins de discussão das descobertas da
pesquisa, elas são, na verdade interdependentes: a gestão de rela
cionamento terá uma influência sobre a gestão de informações, pois
as redes sociais baseadas e manifestadas em conexões de hiperlinks
entre blogs ajudam a direcionar a atenção a certas informações. Além
disso, comentários e blogrolls servem não só para manter relações so
ciais, mas também para permitir maneiras de apresentar a identidade
on-line de alguém. Por exemplo, a pessoa a quem um blogueiro linka
10 Os resultados da pesquisa estão alinhados (embora não sejam comparáveis diretamente) às des-
des
cobertas de Mishne e Glance (2006), que analisaram cerca de 685.000 posts de blogs publicados em
julho de 2005. Eles descobriram que 28% de todos os blogs e apenas 15% de todos os posts rece-
biam comentários. Na média, havia 6,3 comentários por post (excluindo os posts sem comentários).
128
em seu blogroll também ressaltará certas facetas de sua identidade,
como amizades ou interesses temáticos. Falando de modo mais geral,
a identidade é sempre construída sintetizando-se aspectos pessoais e
sociais do self – uma idéia originalmente concebida por teóricos clás
sicos como George Herbert Mead (1934). Em comunicações com base
em blogs, esse processo de construção do self é tornado visível.
129
mas ainda não foi definido se fatores culturais gerais ou características
institucionais dos diversos sistemas de mídia nacionais (ou combina-
ções das duas coisas) são responsáveis por essas diferenças. Uma
pesquisa comparativa ajudaria a fechar o abismo desta pesquisa e
também levantaria insights quanto à relativa importância dos blogs den-
tro da paisagem maior do “software social”. Usuários de internet apli-
cam cada vez mais todo um repertório de aplicativos para networking
on-line, auto-apresentação e gestão de informação. Adolescentes
são especialmente ansiosos para criar conteúdo on-line e gerenciar
seus relacionamentos sociais com seus pares por intermédio de toda
uma série de ferramentas para comunicação interpessoal, entre eles,
Instant Messaging, sites de networking social e celulares (Lenhart e
Madden, 2005). Será um desafio cada vez maior para as pesquisas em
Comunicação estudar as práticas dinâmicas que se formam ao redor
do uso dessas inovações técnicas.
Referências
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L.; RATLIFF, C.; REYMAN, J. (Eds.), Into the Blogosphere. Rhetoric, Community, and
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LENHART, A., MADDEN, M. “Teens, privacy & online social networks: how teens
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130
http://www.pewinternet.org/pdfs/PIP_Teens_Privacy_SNS_Report_Final.pdf. Acesso em
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MEAD, G.H. Mind, self and society. Chicago: University of Chicago Press, 1934.
MERELO, J. J.; ORIHUELA, J. L.; RUIZ, V.; TRICAS, F. “Revisiting the spanish
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SCHLOBINSKI, P.; SIEVER, T. (Eds.). Sprachliche und textuelle Aspekte in Weblogs. Ein
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SCHMIDT, J.; WILBERS, M.; PAETZOLT, M. „Use of and satisfaction with blogging
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New communication media working paper 0604. Bamberg. 2006. Disponível em: http://
www.fonkbamberg.de/pdf/fonkpaper0604.pdf. Acesso em 10/07/2007.
SIFRY, D. “The state of the live web”. Sifry’s Alerts, abril de 2007. Disponível em: http://
www.sifry.com/alerts/archives/000493.html. Acesso em 10/07/2007.
131
132
SEÇÃO II
usos e apropriações de
BLOGS
133
134
Cláudio Penteado, Marcelo Santos e Rafael Araújo
O movimento “Cansei” na
blogosfera:
o debate nos blogs de política
135
leitores. Como principais características, destacamse a pessoalidade
e a flexibilidade na composição do conteúdo (posts) e a interatividade
entre o autor (blogueiro) e os seus leitores, por meio dos fóruns de
discussões e de outros meios de interação disponibilizados pelo blog.
Os blogs que tratam de política se destacam pela pessoalidade
das opiniões e pela idéia de “independência” do autor (Aldé et al.,
2006). Os blogueiros famosos são os que mais obtêm acessos e credi
bilidade, atraindo um número maior de visitantes. Contudo, temse ob
servado a formação de uma blogosfera independente, inclusive com a
formação de comunidades de blogs, que permitem que os autores des
conhecidos também aumentem sua visibilidade. Os blogs têm a pos
sibilidade de se tornarem referências informacionais, trazendo análises
sobre a política para o cotidiano dos seus leitores.
Dentro desse universo, que compreende o blog enquanto es
paço de comunicação e ator político, a pesquisa teve a finalidade de
estudar a influência dos blogs no quadro da política contemporânea,
destacando como objetivos específicos: (1) o desenvolvimento de uma
metodologia para a análise dos blogs;1 (2) o estudo das diferentes
abordagens sobre o movimento Cansei por meio dos blogs de Ricardo
Noblat, Mino Carta, Zé Dirceu e “Nariz Gelado”; e (3) a observação dos
blogs como novos espaços de ação política na Era da Informação.
136
uma nova relação de força na política que pode ser considerada mais
horizontalizada, se comparada com a dinâmica propiciada pela mídia
tradicional. Na mídia tradicional, a informação, até ser veiculada, passa
por diversos filtros hierárquicos de edição (gatekeepers), podendo
assumir, inclusive, uma edição final diferente daquela que foi imagi
nada por seu autor. Os blogueiros têm maior liberdade para publicar o
material que desejam, pois não precisam passar por um editor.
A maior liberdade de produção de informação leva a uma maior
participação política via internet. Um exemplo seria o fenômeno também
conhecido como “netroots”, ativismo político de “raiz” que é organizado
com as NTICs e se constitui enquanto “paradigma de incorporação da
web pela democracia representativa” (FSP, 09/08/06:F1). Ou seja, di
ferentemente do que ocorria no século anterior, o ativismo político hoje
se realiza na e pela mídia, na “ágora virtual”, em vez da “ágora real” e
concreta das cidades, transformando os mecanismos da ação política.
Dados divulgados recentemente da PNAD (Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios) 2006 do IBGE mostram que o número de
residências com computador no Brasil chegou a 22,4% (quase do
brando em 5 anos). Dos domicílios com computador, 16,9% possuem
acesso à internet em casa. Cabe ressaltar que o número de brasileiros
com acesso à internet cresce ainda mais se considerarmos o ambiente
de trabalho, universidades e escolas, além de lan houses.2 Atualmente,
19% (1,25 bilhões) da população mundial têm acesso à internet, e o
Brasil ocupa o 6º lugar no ranking de acessos, com 39,1 milhões de
usuários (FSP 13/11/07: B7).
Nas eleições passadas, no Brasil, a internet virou sinônimo de bus
ca por informações. Calculase que 25% dos internautas vasculharam
blogs todos os dias em busca de informação ou entretenimento (Épo
ca, 31/07/06:99). Acreditavase que o número de eleitores com acesso
a Web chegava a 30% do número total (FSP, 09/08/06:F1F8). Nas
eleições presidenciais, a internet e principalmente os blogs foram utili
2 Espaços privados onde são locados computadores com acesso a Internet para o público em geral
137
zados para busca de informações políticas, conforme pôdese verificar
nos sites que medem as visitas de blogs.3
O movimento Cansei
138
como alguns esportistas e várias entidades da sociedade civil, prin
cipalmente as ligadas a grupos empresariais. O Cansei também se
articulou através das NTICs: por meio de um blog na internet,4 comu
nidades no Orkut e também com vídeos no YouTube.
Desde o seu surgimento, o Cansei causou polêmica. Muitas pes
soas reprovaram o fato de o movimento ter surgido em plena crise
aérea no país, sendo classificado por alguns como oportunista, além
do fato de alguns de seus criadores e propagandistas serem notórios
críticos do governo Lula e próPSDB. Na própria OAB, houve um grupo
liderado pela seccional do Rio de Janeiro que se recusou a participar e
aderir ao movimento, colocandose contra a sua organização.
O grande acontecimento do Cansei foi o comício marcado pelos
seus organizadores para o dia 17 de agosto, na Igreja da Sé, em São
Paulo, exatamente um mês após o acidente. O movimento acabou
desautorizado pelo arcebispo de São Paulo, que não permitiu que
ocorresse na Catedral por classificálo como um movimento de cunho
político e nãocívico. O ato foi, então, transferido para a Praça da Sé,
onde ocorreu sem grandes problemas. O ato acabou se transformando
numa crítica ao governo Lula, com gritos de “Fora Lula”, atitude que
seus criadores sempre negaram ter sido intencional.
139
A definição do histórico do blog permite identificar seus elementos
fundadores, assim como um perfil do responsável. A descrição possi
bilita uma visualização da disposição gráfica e estética da página. Para
a análise interna dos blogs, foram aplicadas cinco planilhas: a plani
lha 1 classifica os blogs de política quanto à localização e ao perfil do
blogueiro; na planilha 2, é feita a análise da estrutura do blog; o conte
údo dos posts e as imagens são estudados na planilha 3; a planilha 4
faz a análise dos comentários dos posts pelos usuários; e a análise da
interface dos blogs é realizada por meio da planilha 5. Cabe aqui fazer
algumas ressalvas quanto à metodologia desenvolvida. Para o preen
chimento das planilhas de análise dos conteúdos dos posts e análise
da interatividade (planilhas 3 e 4), foram selecionados somente os
posts que abordaram o movimento Cansei e seus respectivos comen
tários (amostra dos 10 primeiros), retratando o período de 17 de julho
a 31 de agosto de 2007. Outra observação diz respeito à nãoinclusão
da planilha de análise da interface (planilha 5), uma vez que ela está
voltada para o estudo de questões especificamente técnicas, que não
são pertinentes para o objetivo desta pesquisa.
Blog do Noblat
a) Histórico
O Blog do Noblat5 nasceu na noite do dia 20 de março de 2004
com um único post: “Bemvindos ao meu blog”. Ele se destaca por ser
um dos primeiros blogs de jornalismo político voltado para os temas da
política brasileira. O blog nasceu dentro de um formato mais impessoal,
no qual o autor disponibiliza seus arquivos, músicas e pensamentos
para seus visitantes. O jornalista Ricardo Noblat tem uma longa carreira
dentro das redações dos principais jornais brasileiros.
140
Ao longo de sua existência, o blog foi crescendo em número de
acessos, colaboradores e freqüência de posts, chegando a ser fonte
jornalística para outros meios, especialmente durante os escândalos
políticos, período em que se observou um aumento do número de
acessos.
b) Descrição
O blog é composto de uma barra superior do portal hospedeiro
(O Globo Online), com links para outras páginas e serviços do grupo
Globo. Abaixo, existe um banner com a foto do jornalista à esquerda,
nome do blog (Blog do Noblat), data e 3 links: “Regras do Blog”, “Perfil
do Noblat”, “Publicações do Noblat”. Na parte esquerda, existem links
internos para as seções do blog: mecanismo de busca interna, “Página
principal”, “Artigos”, “Entrevistas”, “Vale a pena acessar”, “Arquivo do
blog”, “Podcast”, link para a coluna do Noblat publicada no jornal O
Globo, “Espaço desabafe”, “Ouça: estação de jazz e tal”, “Coluna: fale
com o blog”, acesso a sites de outros colunistas (Anselmo.com, Miriam
Leitão e Rádio do Moreno).
Na parte central, estão dispostos os posts, por ordem de atualiza
ção. Cada dia, o autor começa com uma “frase do dia”. Os posts se
guem o seguinte formato: autoria, data e hora; título; texto; serviço per
malink; RSS; canal para enviar o post para outro internauta; acesso
para escrever um comentário e para ler os comentários. Já na parte
direita, existem os seguintes links: espaço publicitário, “Enquete”, “Bi
blioteca” (crônicas, discursos, documentos, editoriais, frases de 2006,
histórias exemplares, notas oficiais e reportagens), “Coberturas espe
ciais” e “Propaganda”.
A leitura dos comentários de outros leitores não é possível para
os posts muito antigos e só se pode enviar um novo comentário sobre
um post que tenha sido publicado há até um mês atrás. A partir dessa
data, os arquivos ficam limitados à leitura.
141
Blog Nariz Gelado
a) Histórico
O blog Nariz Gelado6 teve início em março de 2003 e, como a
própria autora diz,7 ele é um espaço no qual ela faz uma “egotrip”, es
crevendo seus pensamentos sobre política, cultura e sociedade. O blog
é independente e não está vinculado a nenhuma instituição da mídia
tradicional. Faz parte da comunidade de blogs Apostos.8 Segundo a
autora, tratase de uma atividade não remunerada que ganhou proje
ção a partir da citação por parte de alguns veículos da imprensa (Folha
de S. Paulo, Blog do Noblat9 e Observatório da Imprensa) e do au
mento do público que busca informações políticas através de blogs,
principalmente após os escândalos políticos ocorridos a partir de 2004
no país.
A blogueira considera seu posicionamento político como sendo de
centrodireita. Possui uma visão crítica frente à atuação dos partidos
políticos, não se alinhando com nenhum deles, e se posicionou de for
ma favorável ao direito de compra de armas de fogo. O uso de pseu
dônimo está ligado a uma cultura própria dos primeiros blogueiros que
se utilizaram dessa ferramenta para ter maior autonomia em seus co
mentários. Afirma ter uma preocupação ética ao evitar a divulgação de
coisas que ainda não foram publicadas na imprensa.
Em relação ao Cansei, a blogueira, apesar de ser contra o governo
Lula, foi crítica em relação aos objetivos e eficácia do movimento, pos
tando comentários desfavoráveis a ele. Cabe destacar a polêmica cria
da em torno das declarações de Jô Soares em seu programa sobre
o movimento, criticando e questionando a posição do apresentador.10
6 Disponível em: http://narizgelado.apostos.com.
7 Correspondência eletrônica com a autora, resposta em 11/10/07.
8 Disponível em: http://www.apostos.com.
9 Foram observadas, durante a pesquisa, referências pelos comentarias do Noblat ao blog Nariz
Gelado.
10 Sobre a polêmica, cf.: http://narizgelado.apostos.com/archives/2007/08/mostra�jo. Acesso em
22/10/2007.
142
b) Descrição
O blog possui uma estética simples e oferece poucos serviços aos
seus usuários, principalmente se comparado ao Blog do Noblat. Mon
tardo sobre um fundo branco, na parte superior esquerda existe uma
foto que mostra parte de um rosto (dos olhos à boca). Ao lado, há o
banner com o símbolo do blog: uma indiazinha com olhos verdes, com
a imagem de um teclado ao fundo, com o nome “Nariz Gelado”. Abaixo
da foto existe um pensamento que expressa a tarefa do blog, um link
para endereçamento de email para a autora, calendário do mês, motor
de busca interno, últimos posts, links para outros blogs (“Eu leio”), links
para blogs em língua espanhola (em espanhol também), arquivos e
medidor de visitas (sitemeter). Do centro para direita, são dispostos os
posts em ordem de atualização. Cada post tem um título, texto, autor
(no fim do texto), horário de postagem e link (“Pode meter o nariz”) para
o fórum de comentários.
Somente ao comentar um post percebese que existem regras de
participação, aparecendo uma mensagem dizendo que o comentário
irá ao ar somente depois de verificada se não existem ofensas e pala
vras de baixo calão.
Blog do Mino
a) Histórico
O blog do jornalista Mino Carta11 surgiu oficialmente no dia 4 de
setembro de 2006. Como em outros blogs, ele apareceu em momentos
de grandes debates, neste caso, as eleições realizadas no mesmo
ano. Mas, no dia 30 de agosto, é publicado o primeiro post, com o título
“Você ainda não viu nada”, em que aparece uma pequena amostra
do que seria escrito. O post versa sobre PCC, eleições, fracasso do
143
PSDB, democracia no Brasil e a mídia brasileira. Há ainda um aviso
de que ele próprio, auxiliado por mais dois jornalistas do site da revista
Carta Capital, atuariam como moderadores.
Mino Carta é um jornalista italiano que migrou ao Brasil ainda
criança. É considerado um dos mais respeitados e importantes jorna
listas do país. Ajudou a criar o Jornal da Tarde, as revistas Veja, Isto
É, Quatro Rodas, além de Carta Capital, na qual permanece como
diretor de redação.
b) Descrição
O blog possui uma barra de ferramentas do portal que o hospeda
com um sistema de buscas dentro do site. Abaixo, vem um banner de
propaganda do portal e, em seguida, o blog propriamente dito, que
apresenta uma foto do jornalista com uma máquina de escrever. Na
parte esquerda, links para as revistas Carta Capital e Carta na Escola,
além de informações de como adquirilas e assinálas. Na parte direita,
existe um link para serviços RSS e, abaixo, um breve perfil do jornalista.
Uma outra parte é intitulada “Política do blog”, em que constam as re
gras de participação para os comentaristas. Também há um espaço
com os arquivos do blog e um espaço para links de outros blogs. Existe
ainda a oferta de dois serviços: informações para que o usuário crie
seu próprio blog e avisos de atualização.
Os posts são publicados na parte central do blog, por ordem de
atualização. O post começa com o título, seguido do texto, logo abaixo.
Depois, aparece a frase “enviada por Mino”, seguido por link para en
viar o comentário, o número de comentários dos posts, um link para
enviar a mensagem e um link para o post. O blog oferece uma gama
de serviços simples em relação a outros blogueiros analisados. Não há
grande interação do jornalista com os seus comentadores.
144
Blog do Zé Dirceu
a) Histórico
Semelhante ao Blog do Mino, o Blog do Zé Dirceu12 tem menos
serviços do que outros que tratam de política e também está associado
a um grande portal de internet. A trajetória política de José Dirceu está
associada ao Partido dos Trabalhadores, ao movimento estudantil con
tra a ditadura militar e aos escândalos políticos no período em que ocu
pava o cargo de ministro da Casa Civil. No entanto, não foram encon
tradas informações sobre o histórico do blog.
b) Descrição
O blog possui uma barra de ferramentas do portal que o hospeda
com um sistema de buscas dentro do portal IG. Atualmente, o blog está
dentro do site do político. Logo abaixo, vem um banner com a foto do
Zé Dirceu e uma frase: “um espaço para a discussão do Brasil”. No
canto esquerdo, existem links que permitem a navegação dentro do
site, itens denominados “Juventude, entrevistas, convidados” (em que
outras personalidades escrevem artigos), “Artigos do Zé”, “Trajetória”,
“Clipping”, “Defesa” e “Contato”. Um pouco mais ao centro, existe um
banner com a frase: “Blog do Zé Dirceu” e, abaixo, um arquivo com os
seis últimos meses de postagens. Ao lado, estão publicados os posts,
que começam com a data e horário de envio do texto, seguidos do título
do post e o texto propriamente dito. O espaço com os comentários vem
logo abaixo, com número de comentadores do post e um canal pelo
qual é possível enviar um email. Por fim, no canto superior direito, junto
a uma foto do autor, existe um aviso sobre a moderação e as regras de
participação no debate do blog. Não existem imagens, charges, vídeos
ou música, como é possível encontrar em outros blogs.
145
Análise comparativa dos blogs
146
b) Perfil dos blogueiros
Ricardo Noblat é um jornalista conhecido dentro do cenário do
jornalismo político nacional, mas, por ser um dos pioneiros dos blogs
de política no Brasil, seu nome já está associado ao universo da in
ternet. Jornalista com bons contatos dentro do universo político, usa
de suas fontes para trazer ao leitor informações atualizadas de basti
dores, em muitos casos, tentando antecipar as notícias (como nas elei
ções de 2006). Apresenta espaço para a divulgação de outros tipos
de informações e serviços, o que o aproxima do formato de páginas
pessoais. Em relação ao Cansei, o jornalista manteve uma posição
neutra, postando colaborações contrárias e favoráveis ao movimento e
alimentando os debates em seus fóruns de discussão.
Não se sabe o verdadeiro nome da titular do blog Nariz Gelado. A
autora utiliza o pseudônimo “Nariz Gelado” para se identificar. Por ser
desconhecida, a blogueira tem total liberdade para escrever e expressar
sua opinião e posição política (contrária ao presidente Lula). Apesar de
sua postura política em relação ao atual governo federal, a autora ma
nifestase críticamente em relação ao movimento, questionando suas
ações e estratégias, o que garantiu polêmicos debates no fórum de
comentários. Cabe também destacar que a blogueira responde, em
alguns casos, os comentários dentro do próprio fórum de discussão.
Mino Carta é um jornalista de origem italiana que vive no Brasil
desde 1946. Sua extensa trajetória jornalística lhe confere credibilidade
e destaque junto ao público, atraindo grande número de leitores ao seu
blog. A partir da leitura de seus posts, verificouse o pouco uso de links
de direcionamento e a adoção de textos com um estilo mais pessoal,
com comentários ácidos contra o que ele chama de “direita” e “elite”,
utilizando a ironia em diversos momentos.
José Dirceu é expresidente do PT e deputado federal cassado.
Como líder petista, comandou o crescimento do partido e a campanha
vitoriosa de Lula em 2002. Afastado da política, Dirceu utiliza o seu
147
blog para divulgar suas idéias e participar da vida política do país por
meio da discussão na blogosfera. Por ser um político com grande reno
me nacional, consegue atrair um número razoável de leitores para seu
blog. Sua credibilidade depende do alinhamento político do usuário.
Seus posts se caracterizam por comentários e interpretações das notí
cias e artigos publicados na imprensa. Dirceu também se destaca por
responder ou comentar alguns dos comentários feitos sobre os posts.
a) Posts
Nos quatro blogs, os posts são publicados diariamente, variando a
quantidade de dia para dia. No Blog do Noblat, existe um grande número
de postagens, enquanto que no, Nariz Gelado, são postados um ou dois
por dia, e um pouco mais nos blogs do Mino e Zé Dirceu. Dentro dos
posts, em alguns casos, existem links de direcionamento para outros
sites (por exemplo, textos de jornais ou vídeos do YouTtube). No Blog
do Noblat, existe uma rede de colaboradores que postam regularmente
no espaço. Mino Carta não publica nada aos finais de semana, e em
seu site, não há postagens de outros autores. Zé Dirceu não publica
nada aos domingos e também não possui postagens externas. Há um
espaço, intitulado “Convidados”, no qual pessoas diferentes escrevem
artigos, mas não posts.
b) Interatividade
A interatividade do leitor com o blogueiro, nos quatro blogs ana
lisados, é realizada por dois meios: contato através de email e comen
tários dos posts dentro de um fórum de discussão. No Blog do Noblat,
existe um outro meio que é a seção “Desabafe”. Em relação às regras
de participação, podese observar que todos eles seguem algumas
normas, mas, no Nariz Gelado, as regras não estão explícitas, somen
te aparecem quando o interessado envia um comentário.
148
c) Biografia
Ricardo Noblat disponibiliza para os leitores um perfil mais com
pleto, com mais informações pessoais e com uma foto sua. “Nariz Ge
lado” não se identifica, mas deixa um pensamento a ser interpretado
pelos leitores13 e uma foto que mostra um rosto, aparecendo olhos, boca
e nariz. O Blog do Mino não apresenta tantos detalhes biográficos, é
bastante sucinto na descrição de seu perfil e possui uma foto. Os dados
biográficos de Zé Dirceu aparecem no item denominado “Trajetória”.
Há ainda um outro link intitulado “Defesa”, em que trata com detalhes
as acusações sofridas e a crise que o tirou do ministério e levou à sua
cassação.
d) Links
O Blog do Noblat e o Nariz Gelado apresentam links internos (di
recionamento para páginas internas) e links externos (direcionamento
para outros sites). No Blog do Mino, não há a existência de links,
apenas o seu próprio texto escrito, e não há postagens externas. No
Blog do Zé Dirceu, existem links que reportam para vídeos ou textos
de jornais.
e) Outros serviços
O Blog do Noblat oferece para seus usuários entrevistas, charges,
imagens, áudios, vídeos, arquivo com todos os posts (incluindo fotos
e vídeos), arquivos para download, além de enquetes e artigos com
análises da política brasileira. O blog ainda disponibiliza arquivos com
discursos políticos, documentos históricos, editoriais e notas oficiais.
Também estão presentes no blog as seções “Desabafe”, “Estação jazz
& tal”, “Frase do dia”, “Serviço de RSS/XLM”, Newsletter e seção com
coberturas especiais.
13 “�uando a geada ameaça a planície, este meu arrebitado nariz congela. A geada é minha razão
de ser. A História é meu escudo e minha lança. À espera de um longo e rigoroso inverno, escrevo.
Eu sou Nariz Gelado”.
149
O blog Nariz Gelado é mais simples, disponibiliza animações,
imagens, links para vídeos (YouTube), calendário, email para contato,
motor de busca interno, últimos posts, seção “Eu leio” (links para ou
tros blogs), seção “Em espanhol também” (links para blogs de língua
espanhola), arquivos, serviço RSS e medidor de visitas (sitemeter).
O Blog do Zé Dirceu possui links para: site pessoal, seção “Juven
tude” (destinado aos jovens), seção “Entrevistas”, seção “Convidados”
(espaço para artigos de amigos), “Artigos do Zé”, “Trajetória” e “Clip
ping” (entrevistas e reportagens que tratam do autor em outros meios
de comunicação), seção “Defesa” e Contato (enviar um email). O blog
ainda disponibiliza uma seção de arquivos, que se encontra incompleta.
O Blog do Mino contém links para o site da Carta Capital, para o
projeto Carta na Escola, sobre assinaturas desta revista e informações
sobre onde encontrálas, além de serviços RSS e Arquivos.
150
“avaliativo moral” quando o comentador expressa agressividade ou
julgamentos sobre o conteúdo do post. Somase a essas categorias
uma outra que diz respeito apenas à interatividade. Um comentário é
“dispersivo” quando ignora o tema em debate, referindose a outra coi
sa, dando um novo rumo para a discussão ou dispersandoa.
151
sinalizando a formação de uma blogosfera com múltiplas formas, em
que a pessoalidade do blogueiro é determinante para o conteúdo dos
posts. Uma outra característica observada foi que Noblat posta textos
de colaboradores de diferentes posições ideológicas, ampliando o de
bate político na página principal no blog.
Foi somente encontrada uma imagem nos posts referentes ao
movimento Cansei. Tratase de uma charge, postada por Noblat, que
tem a função de criticar e ironizar o movimento.
A tabela 2 indica que o blog Nariz Gelado é o que mais utiliza links
de direcionamento, tanto para outras informações como para outros
blogs. Por ser desconhecida, a autora utiliza esse recurso como meio
de dar credibilidade às informações postadas em seu espaço. O Nariz
Gelado ainda faz referência a outros blogs, recurso muito utilizado por
blogueiros independentes. Também foi constatado que, em todos os
posts estudados do Zé Dirceu, existe um link de direcionamento para
uma matéria ou artigo, que comenta ou faz referência. Observouse,
por outro lado, que Mino Carta utiliza muito pouco o recurso de links,
preferindo a postagem somente de textos.
152
Propositivo 1,8 0 1,7 5
Avaliativo Moral 22,8 38,1 16,7 35
Dispersivo 8,8 15,6 38,3 15
153
Ocorrências Noblat Nariz Gelado Zé Dirceu Mino Carta Total
Posts 16 8 4 14 42
Comentários 2.220 78 156 1.173 3.627
Tabela 4: Posts e Comentários sobre o Cansei (números absolutos)
Acessos
154
do blog diz respeito aos links que citam o blogueiro. �uanto mais cita
ções, maior a importância do blog. Essa contagem é obtida através
do número de menções que outros blogs fizeram aos blogs avaliados.
Nesse quesito, o Blog do Noblat é o mais citado, com 692 citações de
diferentes blogs. Mino Carta aparece em segundo, com 516 citações,
enquanto o blog Nariz Gelado foi mencionado 102 vezes, nos últimos
180 dias.
Um outro site de medição da quantidade de acessos é o Alexa.
Por ele é possível escolher diferentes periodicidades para análise, mas,
para efeito de comparação, optouse pela manutenção dos últimos seis
meses. A medição é realizada entre os usuários da barra de ferramentas
do Alexa, que, segundo os idealizadores, são milhões de pessoas no
mundo todo. Os dados sobre o número de usuários (Reach) do Alexa,
que acessam cada um dos blogs, indicam uma vantagem para o Blog
do Noblat em relação ao de Mino Carta. Há seis meses, ambos os
blogs eram acessados por 0,6% dos usuários. Atualmente, esse índice
subiu para quase 0,65% em relação ao Noblat. Já o Blog do Mino caiu
para 0,55%. Esse site ainda disponibiliza o ranking que o blog ocupa
no país. Nesse quesito, o Blog do Noblat aparece como 10º colocado,
e o Blog do Mino, em 11º lugar; o Nariz Gelado aparece na 9.718ª po
sição, seguido pelo site do José Dirceu, com a 10.634ª posição.
Um fator muito importante que deve ser destacado é que, tanto
no Technorati como no Alexa, o site do Zé Dirceu não possui muitos
registros que permitam comparação. Uma hipótese para isso é que
atualmente o Blog do Zé Dirceu está hospedado no site pessoal do
próprio autor e não mais dentro dos blogs do IG, em que se hospedou
durante parte do período pesquisado. E esses sites de busca priorizam
a procura por blogs, e não sites da internet, como é o caso deste último.
155
Considerações Finais
15 Essa parcela da população é formada por pessoas com acesso à internet e com interesse em
política.
156
relação ao movimento, seu fórum de debate foi o mais tenso, com troca
de ofensas e acusações entre os comentaristas com posições políticas
contrárias. No blog do Mino, houve maior ocorrências de comentários
dispersivos e irônicos, com um debate político de pouca qualidade16 e
diversidade de opiniões. Já o Blog do Zé Dirceu se caracterizou pela
maior ocorrência de comentários alinhados com a posição política do
titular, mas predominando avaliações morais e opiniões contrárias ao
movimento, havendo pouco debate de posições diferentes. Os comen
tários com a emissão de opiniões e posicionamentos políticos são pre
dominantes no blog Nariz Gelado. Nesse blog, observouse um con
flito entre críticas ao movimento e menções de apoio, inclusive com a
participação da blogueira.
De uma maneira geral, foi constatado que, apesar de haver debate
político dos comentadores, a maioria dos comentários fugiram ao tema
do post de referência, ou então foram avaliativos morais, não se preo
cupando em apresentar propostas ou tecer reflexões com análises
críticas, gerando um debate de conteúdo estéril para a promoção da
democracia. Apesar de serem novos espaços para a promoção da de
mocracia, os blogs por si só não garantem a formação de um debate
no qual os participantes procuram apresentar argumentos e fatos que
comprovem suas posições; pelo contrário, os fóruns se transformam
em espaços de expressão de sentimentos pessoais, muitas vezes des
contentes com a vida política brasileira.
Os blogs estudados também se afirmam como novos espaços
eletrônicos de ação política informacional, uma vez que podem cons
tituir grupos afinados politicamente, promover ações e movimentos so
ciais, arrecadar fundos, conquistar novos simpatizantes e disseminar
informações. No caso do Cansei, o próprio movimento lançou um
blog para divulgar suas propostas e eventos. Os blogs estudados fun
cionaram como “caixa de ressonância”, que, na maioria dos casos,
16 Pouca qualidade no sentido da falta de apresentação de comentários com análises críticas ou a
apresentação de propostas.
157
serviu para desqualificar o movimento através de críticas e, princi
palmente, ironizando suas lideranças e posicionamentos.
Dessa forma, os blogs se constituem como novos mecanismos
de representação política, no qual os blogueiros podem atuar na for
mação da agenda política (com alguma liberdade para selecionar os
conteúdos, temas e enquadramentos), promover debates através de
seus fóruns (possibilitando a expressão da pluralidade de visões sobre
os assuntos abordados) e criando esferas públicas nas quais grupos,
segmentos sociais e indivíduos podem expressar seus interesses. No
entanto, a representação política é limitada na blogosfera. Os dados
indicam que, na maioria dos casos, os blogueiros com maior número
de acessos são os que conseguiram construir sua reputação anterior
mente ao início de seu blog (Noblat e Mino Carta). Os blogs de des
conhecidos (Nariz Gelado) são acessados por uma parcela bem redu
zida, com pouco alcance e participação nos fóruns de discussões.
Podemos, portanto, afirmar que o movimento Cansei gerou uma
efêmera repercussão na blogosfera, mas que atraiu um grande nú
mero de comentaristas aos posts dedicados ao tema. Entretanto, o
debate ficou marcado pelo conflito de posições pessoais e avaliações
morais, que refletiram uma divisão entre os que apoiavam o governo
Lula e os descontentes com ele, que aproveitaram o movimento para
expressar seu descontentamento. Por outro lado, os defensores da
administração Lula procuraram ridicularizar o Cansei e acusálo de
golpista, associando muitas vezes à “Marcha pela Família e Proprie
dade”, movimento que antecedeu o golpe militar de 1964. Assim, a blo
gosfera repercutiu um debate marcado não pela promoção da cidada
nia e democracia, mas pela troca de acusações e ofensas morais, ca
racterísticas que parecem moldar o atual debate político no país.
158
Referências
159
160
Helaine Rosa e Octávio Islas
161
sibilidades de supervivência. A palavra “ecologia” implica o estudo de
ambientes: sua estrutura, conteúdo e impacto nas pessoas.
Entre as distintas escolas ou correntes da Ciência da Comunicação
que têm se preocupado em analisar de forma integral o complexo pro
cesso da comunicação, a ecologia dos meios particularmente se dis
tingue por conceder particular ênfase no estudo das tecnologias e nos
ambientes comunicativos, pois, como afirmou Marshall McLuhan em
Comprender los medios de comunicación: las extensiones del ser hu
mano – cuja primeira edição foi publicada em 19644 –, em última ins
tância, os meios de comunicação admitem ser compreendidos como
tecnologias. De acordo com Marshall McLuhan, toda tecnologia pode
ser considerada como lógica extensão dos órgãos, sentidos, faculdades
ou funções do ser humano: “Qualquer invento ou tecnologia é uma
extensão ou autoamputação do corpo físico, e, como tal extensão,
requer ainda novas relações ou equilíbrios entre os demais órgãos e
extensões do corpo” (McLuhan, 1996:64).
Marshall McLuhan e, principalmente, Neil Postman empreenderam
enérgicos questionamentos aos meios de comunicação alterando a
cultura e as tradições. Postman, que faleceu em 5 de outubro de 2003,
hoje é considerado um dos principais críticos dos meios de comuni
cação. No livro Amusing ourselves to death: public discourse in the
age of show business (1986), Postman expressou algumas das mais
enérgicas e racionalizadas críticas que se escreveu sobre a televisão
em sua história.
De acordo com o célebre marxista francês Louis Althusser, nas
sociedades capitalistas, as escolas e as tecnologias da informação
cumprem as funções de aparatos ideológicos do Estado – os quais
fundamentalmente operam através da persuasão com menores doses
de violência. Os aparatos ideológicos do Estado contribuem para ga
rantir a reprodução ampliada da ideologia dominante e a reprodução
4 Comprender a los medios de comunicación: las extensiones del ser humano foi o terceiro livro
de Marshall McLuhan. Sem ser seu best seller, o citado livro foi traduzido para mais de 20 idiomas.
162
da qualificação diversificada da força de trabalho. A instrução escolar
nas sociedades capitalistas simplesmente reproduz a desigualdade
social, perpetuando o sistema de exploração classista. O aparato ideo
lógico escolar (AIE) – o qual compreende o conjunto de distintas es
colas – admite ser considerado como um dos aparatos ideológicos he
gemônicos das sociedades capitalistas.
Conforme Marshall McLuhan (1996), os meios de comunicação,
como as tecnologias em geral, incidem na incessante transformação
da ecologia cultural das sociedades, resultando em inevitáveis trocas
de sentido que, inclusive, alteram nossa percepção de tempo. Os efei
tos da tecnologia, sustentou McLuhan (1996:39), “não se produzem ao
nível das opiniões ou dos conceitos, senão que modificam os índices
sensoriais, ou pautas de percepção, regularmente e sem encontrar re
sistência”. Os meios – sustentou McLuhan – configuram nossa consci
ência e experiências. A fenomenologia da mudança tecnológica se en
contra intimamente associada com os processos de aprendizagem e,
portanto, de transmissão do legado cultural de todas as sociedades. As
“remediações” que experimentam os meios inevitavelmente produzem
mudanças significativas nos “ambientes educativos”.
No desenvolvimento de todo meio de comunicação, é possível
perceber uma progressiva transformação, com o propósito, nem sem
pre consciente ou deliberado, de fazer o meio mais parecido com o
homem. Esse processo é designado como “remediação”.
A “remediação” efetivamente não é um processo simples e, por
isso, nem todas as pessoas conseguem percebêlo. O conceito “reme
diação” admite pelo menos duas interpretações na ecologia dos meios.
No livro The Soft Age, Paul Levinson (1997) empregou o termo “meio
remedial” para descrever como nossas sociedades utilizam um meio
para reformar ou melhorar o outro. De acordo com Levinson, em um
esforço do qual nem sempre somos conscientes, tentamos fazer que
os meios se pareçam mais com o homem. Em um de seus recentes
163
livros, Cellphone: the story of the world’s most mobile medium and
how it has transformed everything!, Levinson afirmou que “os meios de
comunicação ainda competem – e de forma mais intensa – pela aten
ção das pessoas” (Levinson, 2004:12). Em termos darwinianos, sugere
ele, a seleção do ambiente mediático se dá nas mãos das pessoas,
as quais contribuem com sua preferência para a evolução de um meio
determinado.
Constantemente, elas decidem entre ir ao cinema ou ficar em ca
sa para ver televisão, ler um livro ou ver um vídeo, falar ao celular ou
enviar um correio eletrônico. Os meios não evoluem por uma seleção
natural senão por uma escolha humana. O meio que melhor evolui é
aquele que se ajusta mais às diversas necessidades do homem. O
processo de remediação dos meios de comunicação sintetiza tal ade
quação dialética que permite aos meios de comunicação “imitar” as
faculdades ou órgãos do ser humano.
Nas primeiras linhas de Comprender a los medios de comunicación:
las extensiones del ser humano, Marshall McLuhan (1996) afirmou
que o conteúdo de todo meio é outro meio. Portanto, a internet é um
novo meio remediador, pois assimila os meios que o antecederam. Os
conteúdos da internet são os meios que a antecederam.
5 “Blogs, el quinto poder”. Entrevista de Amaia Arribas a José Luis Orihuela. Cidade do México,
Excelsior, Suplemento Dinero, p. 11, 21 de agosto de 2006.
164
Os weblogs ou blogs representam o coração da web. Tal afirma
ção adquire particular significado se reparamos no seguinte fato: Tim
BernersLee,6 o criador da web, desde janeiro de 1992, registrava a
evolução de seu projeto e pesquisas no site What´s New in ´92, que
tem sido considerado por alguns especialistas como o primeiro blog,
entre os quais se destaca Dave Winer. De acordo com Winer [http://
www.scripting.com], citado pelo destacado blogueiro argentino José
Luis Orihuela (2006:40): “o primeiro weblog foi o primeiro site da web”.
José Luis Orihuela, autor do blog ecuaderno.com,7 catedrático
da Universidade de Navarra, Espanha, propõe a seguinte definição de
blog:
165
entre o espaço público e o privado (que vai aumentar
com a passagem para a internet) e a relação com o
romance (ficção) e com o jornalismo (a observação dos
fatos) (2004:1415).
166
ças à oportuna contribuição dos blogs destinados a análises e ao relato
de tão absurdo episódio bélico.
Os blogs têm sido objeto de freqüentes remediações em sua bre
víssima história. A incorporação de outras tecnologias à internet tem
propiciado o desenvolvimento de fotoblogs e videoblogs, os chamados
“blogs de nova geração” (2.0) que permitem a incorporação de imagens,
sons e vídeo.
Em 2005, registrouse outra importante remediação da internet –
e, portanto, também dos blogs – com a introdução do podcasting, tec
nologia que permite gravar áudio no formato MP3 para ser distribuído
na internet por meio de conexão RSS. O impacto do podcasting logi
camente se estendeu aos blogs. Quando os conteúdos são publicados
de um telefone móvel, falase de moblogs.
De acordo com estatísticas do Technorati,10 no começo do mês de
abril de 2007, o número estimado de blogs no mundo atingia a marca
de 170 milhões. A cada dia são gerados 120 mil novos blogs: 1.4 por
segundo, em média. E, quanto ao número de textos que diariamente
são publicados nos blogs, o Technorati estimou uma média diária de
1.5 milhões por dia: 17 comentários ou posts por segundo.
No Brasil, de acordo com o Ibope/NetRatings, “em agosto deste
ano (2007), aproximadamente nove milhões de usuários acessaram e
leram blogs. O número representa 46% de internautas ativos no mês
e reforça o crescimento da blogosfera no País”11. Outro levantamento,
realizado pela Intel, mostra que, dos 170 milhões de blogueiros do
mundo, 5,9 milhões são brasileiros.
Segundo os resultados do estudo 2007 do Technorati, o número
e porcentagem de novos splogs (spam blogs) registrou um sensível
incremento no Natal de 2006, quando diariamente foram gerados entre
três mil a sete mil novos splogs. A geração de mensagens publicitárias
de caráter intrusivo definitivamente representa uma delicada ameaça
10 http://technorati.com.
11 http://www.comuniquese.com.br.
167
ao desenvolvimento da web 2.0.
Orihuela, quando analisa os blogs e a blogosfera no meio e na
comunidade, afirma que:
A nova educação
168
do conhecimento. O discurso pronunciado pelos governos gira em
torno do fato de que a implantação das novas tecnologias na educa
ção ajuda a diminuir as falhas educativas, se entendermos que a de
sigualdade de oportunidades de que padecem as crianças, jovens e
adolescentes de setores desfavorecidos é um problema que não está
radicado somente na parte econômica, mas que tem suas raízes nas
áreas cultural, política e, o que aqui nos concerne, pedagógica.
A implementação das novas tecnologias na educação está crian
do espaço de apropriação significativa das mesmas. As escolas estão
sendo providas de equipamentos de informática, mas sem uma capa
citação de docentes ou com capacitação somente para professores
de áreas muito específicas, em que a utilização da informática só era
dada como uma disciplina.
Com a incursão das tecnologias no âmbito docente, o centro do
saber, pelo menos o que se considera legítimo, deixa de ser os centros
educativos, que têm sido questionados, e passa a apontar como saída
possível a modificação das estratégias de ensino com as novas pro
postas didáticas.
Existem três posturas a respeito da incorporação das tecnologias
da informação e comunicação na prática docente. A primeira é de re
sistência, associada ao medo, ao desconhecido, ao receio de fazer
um mau papel frente aos alunos – os verdadeiros especialistas em
tecnologias. A segunda é a postura de conformismo, segundo a qual
os professores aceitam se atualizar sob a alegação de que não lhes
resta outra alternativa. E a terceira é a mais otimista, que mostra que
a educação necessita de uma revolução com o uso adequado das tec
nologias de forma dialógica e contínua.
A origem de não aceitar as tecnologias está radicada na dificuldade
de pensar sobre as culturas juvenis (Reguillo, 2000), o que impede
de ver que os jovens estão experimentando e, por certo, vivenciando.
Assim, a diferença geral, que de certa maneira se assenta ao vínculo
169
pedagógico, se converte em um obstáculo, uma lacuna muito difícil de
ser superada.
Frente a esse cenário, as perguntas que nos podemos fazer ver
sam sobre o que ocorre nas nossas instituições ante a erupção dos
novos espaços gerados pelas ferramentas de informática, como são
utilizadas, como lhes dão significado e sentido, e os imaginários que se
articulam e as práticas que se geram em torno delas.
Então, por que continuar pensando em um espaço áulico como
um conceito que tem limites espaciais? Por que somente se concebe a
tecnologia como algo diretamente relacionado com os grandes centros
de desenvolvimento tecnológico e econômico? Podemos dispor da tec
nologia de ponta, mas devemos ser capazes de criar e inovar um pen
samento e conhecimento através das tecnologias.
Os blogs definitivamente superam as plataformas educativas ado
tadas por algumas instituições – como Learning Space ou Blackboard,
por exemplo – que foram uma resposta lógica dos ambientes educati
vos que migraram junto com o desenvolvimento da web 1.0.
Algumas instituições universitárias dispõem de sofisticados campi
virtuais que servem para tarefas administrativas e docentes, assim
como para a comunicação interna com os alunos. Apesar de haverem
desenvolvido essas ferramentas, reproduzem o ensino universitário
tradicional, já que mudam muitos elementos (exames, provas) da do
cência tradicional combinada com atrativas utilidades. Dessa manei
ra, os campi virtuais não aproveitam as potencialidades da internet e
das tecnologias,12 como a interatividade e o movimento, por exemplo,
fatores distintos da denominada sociedade da ubiqüidade, cujo lema é
comunicação para todos, em qualquer lugar, a toda hora.
E, quanto aos blogs, embora existam pretensões individuais de
se tirar partido, não são uma ferramenta freqüente nas universidades,
mas sim entre os universitários. Os blogs são muito populares e estão
12 Renomadas universidades, como a de Stanford (EUA), têm recorrido ao desenvolvimento vincula
do ao espaço e ao imaginário dos jovens. Os videogames e as ferramentas musicais como o iTunes
fazem parte da tecnologia docente.
170
sendo adotados massivamente pelos jovens graças a sua gratuidade e
sua alta capacidade de difusão da informação, além de os internautas
quererem ser protagonistas com sua participação, colaboração e in
teratividade em benefício próprio. Talvez seu aspecto mais conhecido
seja seu impacto nos meios de comunicação tradicionais.
Além dos blogs, surgiram há dois anos, na Califórnia, os micro
blogs, criados por um grupo de amigos com o objetivo de compartilhar
suas rotinas – um deles, Evan Williams, que foi o criador do Blogger. A
principal ferramenta do gênero é o Twitter,13 no qual cada usuário tem
uma rede de amigos, que recebem automaticamente as postagens de
seus contatos em mensagens curtas de até 140 caracteres, podendo ser
enviadas e lidas pela web, por programas de mensagens instantâneas
(MSN Messenger) ou por telefone celular. Além de os jovens usarem
como mais um agregador de rede social, as empresas já começam
a fazer parte da conversa global dos microblogs, utilizando o Twitter
como instrumento de comunicação com seus clientes (Fusco, 2008).
Esse instrumento é ainda um aliado para enviar mensagens de com
promissos e apontamentos, como marcação de provas e avaliações.
O antecedente mais objetivo no âmbito universitário é o Universia’s
blog, em que os estudantes mostram sua capacidade para assimilar
14
171
O uso do blog acadêmico contribuiu para que os alunos
se tornassem mais conscientes da progressão de seus
conhecimentos em relação às discussões da disciplina.
Os processos de comunicação e conversação existentes
em um blog foram os principais responsáveis pelo su
cesso da experiência (Cipriani, 2006:67).
172
software livre, uma vez que está servindo de suporte para experiências
inovadoras que seriam economicamente inviáveis com ferramentas
comerciais, facilitando ainda o acesso às TICs (Tecnologias da Infor
mação e Comunicação).
Apesar das benesses dos blogs, não se trata de substituir os
blogs pelas plataformas virtuais. O campo virtual admite um âmbito
restrito da comunicação entre alunos e docentes. Os blogs podem ser
utilizados também para esse tipo de uso (já que também se pode co
locar senha de acesso), mas estaria em desvantagem, já que não foi
concebido para esse fim. Por isso, é conveniente pensar em uma fer
ramenta complementar e compatível com os campos virtuais.
A incorporação das novas tecnologias na educação é já uma rea
lidade que nos facilita o aprendizado e a comunicação porque é um
objetivo irrenunciável. Por isso, se faz necessário que as tecnologias
sejam parte dos currículos com competências bem definidas. A for
mação dos professores é fundamental em matéria tecnológica, já que
eles têm que se atualizar no uso das ferramentas que seus alunos
dominam quase à perfeição. A alfabetização digital ainda está como
uma disciplina pendente entre os professores, que devem reorientar
suas práticas a projetos em que a aprendizagem instrumental seja um
meio e não um fim, em que se criem motivações e a máxima seja “que
rer fazer para querer aprender, querer atuar para querer produzir”.
Evidentemente, a questão da infraestrutura, com internet de ban
da larga em todos os centros educativos, é requisito fundamental. Além
do mais, seria interessante difundir o uso de esquemas abertos de
propriedade intelectual que fomentem o trabalho colaborativo e a parti
cipação, um dos eixos fundamentais no uso dos blogs em aula.
Assim, não devemos confundir a conectividade e infraestrutura
com os conteúdos. Devese estimular os alunos para a construção de
seus próprios conteúdos, com práticas abertas em que se estimule o
enfrentamento à tecnologia, desde a intuição e a reflexão. Esse é o
verdadeiro objetivo dos blogs pedagógicos.
173
Perspectiva possível: a aprendizagem móvel
174
A web 3.0, batizada de semântica, permitirá colocar dados na
web que não apenas se tornem acessíveis às pessoas, mas também
permitam a análise por máquinas de conteúdos RDF, sigla em inglês
de “Estrutura de Descrição de Recursos”. Entre os benefícios que po
derão surgir disso, estão a integração de dados “escondidos” e sua
reutilização, e imitar a associação de idéias realizadas pelas pessoas
por meio de combinação de informações com dados interoperacionais,
com relações explícitas, utilizando a linguagem ontológica da web
[OWL, na sigla em inglês].
Em entrevista concedida à Spotlight e divulgada na revista HSM
Management (n.64, p.122128, setembrooutubro 2007), Timothy
BernersLee, criador da world wide web, fala sobre a web 3.0 e afir
ma que “quando olhamos agora para a web semântica, o lado do có
digo aberto é extremamente importante para a criação, para o setor
acadêmico, para a ciência da computação e para os sites”. Além da
convergência de mídias,
175
nessa direção, que chama de cloud computing,17 o conceito de infor
mação em todos os lugares, passando a ter serviços online, que
podem ser acessados a partir de quaisquer microcomputadores ou
dispositivos conectados à internet, como celulares.
No portal Campus Technology,18 Howard Rheingold e Jerry Kane,
professor do Boston College e especialista em temas de tecnologia
educativa, apresentaram um “webinar” sobre estratégias para o em
prego de wikis e outras tecnologias associadas com o desenvolvimento
da web 2.0, destinadas a estimular a discussão nos processos de
aprendizagem, assegurando uma efetiva gestão.
O repertório de temas abordados, na realidade, é parte da agenda
de exigências educativas que hoje fazem parte do difícil trânsito dos
modelos educativos próprios da Educação 1.0 para a Educação 2.0,
tais como: criar comunidades em linha para transcender a experiência
educativa para além do espaço áulico tradicional; transformar o pro
cesso de aprendizagem em efetiva gestão do conhecimento; estimular
o desenvolvimento de projetos wikis e blogs entre estudantes; criar
estratégias para o efetivo emprego de iPods e celulares como o iPhone
com programas de educação móvel.19
O aprendizado móvel representa uma profunda remediação edu
cativa que definitivamente vai além da já existente web 2.0. O apren
dizado móvel, integrado e elaborado com a participação de todos, pode
ser considerado uma das principais “idéias força” do futuro.
176
Referências
“A WEB 3.0, semântica”. Revista HSM Management, n. 64, Ano 11, v. 5, setembro
outubro 2007.
“BLOGS, el quinto poder”. Entrevista de Amaia Arribas a José Luis Orihuela. Excelsior,
Suplemento Dinero, p. 11, 21 de agosto de 2006.
CAREY, M. “The Intellectual Roots of Media Ecology”. The new jersey journal of
communication. V. 8, n. 1, p. 18, primavera de 2000.
FUSCO, Camila. “O enigma dos microblogs”. Revista Veja, Ed. 910, ano 42, n.1.
LEVINSON, P. Cellphone: the story of the world’s most mobile medium and how it has
transformed everything! London: Palgrave Macmillan, 2004.
LEVINSON, P. The soft age: a natural history ad future of the information revolution.
London: Routeledge, 1997.
ORIHUELA, J.L. La revolución de los blogs. España: La esfera de los libros, 2005.
SITES
177
178
Rogério Christofoletti
179
passadas “aprenderam” a beijar com astros e estrelas do cinema; as
maisatuaisfazemsexoeamigospelainternet.Trabalhadoresdoséculo
passadoampliaramemmuitosuascapacidadesprodutivas;operários
atuaiscumpremsuasjornadaslongedesuasempresas,ampliandoas
horas de dedicação a tais atividades e, com isso, as ocorrências de
doençasocupacionais.
Atecnologiaalteroutambémnossasrelaçõescomodivino.Igrejas
evangelizampelaTV,pastorespregampelainternet,1 textos sagrados
podemserouvidosemCDseáudiolivros,comtrilhasonoraeefeitos
edificantes.Publicaçõesdirigidasaosfiéiscirculamcomfacilidadeem
mercadoseditoriaiscadavezmaisrentáveiseinfluentes.Crentespro
duzem vídeos e os compartilham em portais,2 experimentando uma
nova comunhão.
Contornandoestrategicamenteodebateredutordatecnofiliaver
sus tecnofobia, encaremos a tecnologia como um advento histórico
irreversível, de proporções totalizantes e de ritmo crescentemente,
aceleradonasúltimasdécadas.Mais:dealtainfluêncianavidasocial
contemporânea. E, se as repercussões se dão na esfera pública,
não ficam de fora as conseqüências internas, privadas.A tecnologia
modifica sensivelmente nossas relações com o conhecimento, por
exemplo.Comoaescola,historicamente,construiusecomoumam
bienteaglutinadordossaberes,seuspilaressãoabalados,inicialmente,
comadifusãodosmeioseletrônicosdecomunicação(TVerádio...)e,
depois, com a disseminação das redes telemáticas (com ênfase na
internet).
Istoé,antesafontedoconhecimentoeraoprofessor.Empoucos
anos,aexclusividadeseesvaiueoutroscentrosirradiadoresentraram
emcena,disputandonãoapenasaatençãodosalunos(seuspais,suas
famílias...),mastambémaautoridadeparadestacaroqueérelevante
ounãonomomento.Formaçãoeinformaçãoseaproximaram,tornando
1http://www.arcauniversal.com.
2http://www.godtube.com.
180
porosas as fronteiras que as dividem. As paredes que cercavam o
mundodaescolaruíram,eastrocascomoexterioracontecemcom
maisfacilidadeeintensidade.ATV,ovideocasseteedepoisoaparelho
reprodutor de DVD ganharam espaço nas salas de aula; o projetor
de slides e o datashow sobrepuseramse ao quadro negro.Antenas
parabólicas foram “plantadas” nos pátios de escolas antes isoladas;
computadores disseminaramse não só como máquinas de escrever
mais modernas, mas como ferramentas de ensino e aprendizagem
comrecursosatéentãoinéditos.Ainternet–porviatelefônica,acabo,
arádioouporsatélite,emacessodiscadooubandalarga–conectoua
saladeaulaeoslaboratóriosdeinformáticaemtemporealaomundo
que, desde sempre, circundou a escola. O silêncio e o isolamento
anteriores deram lugar a uma polifonia cacofônica, parente próxima
do caos.
Esteéumensaio3sobrepanoramasemmovimento,cenáriosem
contínuaconstrução.Asobservaçõeslançadasaseguircorremumris
codeliberadodeapoiarhipótesesembasesmovediças,oquepode
incorrernãoapenasnainstabilidadedasidéiascomonasuanatureza
provisória.
Oqueparececertoéquemudançastãoprofundasemperíodotão
curtoaindafazemrodopiarcabeçasemtodaaparte.Tornase,então,
urgenteeincontornávelrepensaroqueéeducaçãohoje,dequeforma
deveseraescola,comoseensinaecomoseaprende,equepapel
ocupa o professor nesse processo.4Éevidentequeesteensaio,limi
tadopornatureza,nãoresponderáaindagaçõestãodecisivasecom
3ComentandoaforteinfluênciadeJeanBaudrillardnosEstadosUnidos,mesmoapóssuamorte,
JuremirMachadodaSilva(2007)fazumacontundentedefesadoensaiocomorecursoconsistente
das Ciências Humanas e Sociais.
4Paraumadiscussãoequilibradaesuficientementeclarasobreessestemas,verKensky(2007).
181
plexas. Entretanto, quero fazer apontamentos que tangenciem
esses temas, atendo-me ao ensino de jornalismo, hoje circunscrito no
Brasil às escolas de nível superior. Vou concentrar a discussão em torno
do uso dos blogs como ferramenta pedagógica e recurso didático, com
o objetivo de destacar suas funcionalidades e potencialidades, dando
também maior relevo aos elementos que podem auxiliar professores
e formadores desses profissionais. Martelam aqui as perguntas: como
os blogs são usados nos cursos de jornalismo? O que têm aos pro
fessores da área? Como se pode lançar mão dos blogs de forma eficaz
pedagogicamente? Pode-se, afinal, pensar uma pedagogia do uso dos
blogs?
Antes, porém, de perseguir essas questões, destaco cinco carac
terísticas que ajudam a conformar (e a problematizar) a educação nos
tempos atuais e nos anos próximos. Elas ajudam a compor o pano de
fundo das discussões que aqui apresento.
182
• Por conta do aumento na oferta de oportunidades de educação/
instrução, o professor perdeu parte de seu prestígio como ator
principal dessa história. Não goza mais de exclusividade, enfra
quecimento que lhe custa na autoridade, antes só comparável a
dospaisouresponsáveis.Assimcomoaescola,oprofessorper
deu terreno para outros centros irradiadores de conhecimento e
informação.
• Osalunosjánãosãomaisosmesmostambém.Porquesuasfon
tesdealimentaçãoinformacionalsãomuitas,seusinteressessão
difusosefragmentados.Alémdisso,prevalecementreelesmoti
vaçõesmaisimediatistasepragmáticas.Assim,osalunosparecem
ter uma relação mais utilitária com o conhecimento, atitude bem
diversadoantigodesejodedispordeumaculturaampla,erudita
e humanística;
• Seescola,professorealunomudaram,arelaçãoentreessesato
resnessecenáriotambémsemodificou.Antes,eralíquidoecerto
queprofessoresensinavamealunosaprendiam.Hoje,issoacon
tece.Tambémháocasiõesemqueosalunosdemonstramtermais
familiaridade e atualização de certos assuntos. Isso porque têm
acesso a fontes que os professores não acessam, por exemplo.
Nessescasos,oalunoparece“sabermais”queoprofessor.Geral
mente,essainversãodepapéisficamaisevidentequandooste
mas pertencem às culturas de massa ou às áreas tecnológicas.
Então,algumascenasserepetemnasaladeaula:oalunoexibe
maisdestrezanomousedoquesuaprofessora;aaluna“conhece
mais” cinema e games do que seu mestre... O discurso de que
“professoréquem,derepente,aprende”deixadeserretóricaega
nhanovoscontornos.Mudouarelaçãoentreprofessoresealunos
noprocessodeensinoaprendizagem;
183
• As neurociências, a psicologia e a educação têm avançado nas
respostassobrecomofuncionaocérebrohumano,comoospro
cessoscriativos,deinteraçãoedeconstruçãocolaborativainter
ferem no desenvolvimento humano.
Dessasobservações,derivamaomenosseisconseqüências:
• Parasemantercomoespaçoprivilegiadodeproduçãoedifusão
deconhecimentos,aescolanãopodesedistanciardomundoex
terior,dasrotinaseagendassociais.Tambémnãopodeignoraro
mercado ou o mundo do trabalho;
• Pararedesenharsuafunçãonaeducaçãoeacompanharoritmo
dasmudançasqueafetamoseucampodetrabalho,oprofessor
deveadotarumaposturacontínuadereciclagemprofissional;5
• Paraocuparumespaçonaescolaquenãosejasódecorativo,os
professores terão de ser mais atrativos em suas estratégias, sa
tisfazendomaisosinteressesdeseusalunos.Nãosignificadizer
queoprofessorvaisedeixarescravizarpelasmuitasvontadesdo
alunato,masquedeveráouvirmaisseuspúblicos;
• Um desafio maior será construir uma nova relação entre profes
soresealunos,emqueambosaprendam.Comisso,aeducação
precisarádeslocarofocodesuasatenções,dossujeitos(professor
ealuno)paraoobjeto(oconhecimento).Aoqueossintomasindi
cam,essarelaçãodevesermaisfranca,aberta,horizontalizadae
colaborativa;
• Comoaindaestamosnoolhodofuracão,hámuitoadescobrirno
campodaeducação,oquesignificadizerqueoutrascertezasatu
ais podem vir abaixo nos próximos tempos;
5EngrossoaquiocorodeDemo(2006).
184
• Se a escola, o professor, o aluno e o processo já não são mais
osmesmos,éprecisoreinventáloscomliberdade,criatividadee
semoapegoavelhasnoções.Essedesapegonãoconsisteem,
comosediz,jogaracriançacomaáguadobanho,masemuma
disposição autêntica de buscar soluções, de criar, de estudar e
pesquisarsaídas.Nadaémaiseducativoqueisso.
185
leiradePesquisadoresemJornalismo(SBPJor),bemcomooFórum
NacionaldeProfessoresdeJornalismo(FNPJ),quelideraimportantes
debatessobreascondiçõesdeensinooferecidasnasescolas,sobre
aavaliaçãodoscursosesobreaprópriacapacitaçãodosprofessores
daárea.8
Independente de direcionamentos institucionais, há movimentos
muitointeressantesnoensinodejornalismo.Elesvêmdeprofessores,
que,deformaisoladaedesordenada,investemempráticaspedagó
gicas,experimentandotécnicaseprocessosparaaprimoraraformação
naárea.Háqueseressaltarquetêmsobradocriatividadeeousadia
emdetrimentodapreocupaçãocomoregistroeareflexãoacadêmica
acerca desses experimentos. Isto é, a atitude mais comum entre os
professoresdaáreatemsidoesforçarseparaquesuasaulassejam
maiseficientesouatraentes,deixandodeladooestudorigorosoesis
temáticodesuaspráticaspedagógicas,oquemuitocontribuiriapara
avançosnocampo.
Asexperiênciasdidáticasnoensinodejornalismosedão,geral
mente, em duas frentes: consumo midiático com reflexão crítica ou
produçãosupervisionada.Noprimeiro,estariampráticascomoaexi
bição de áudios, filmes, documentários, reportagens e outros mate
riais,seguidosdedebates,eosexercíciosdecríticademídiaoude
comunicaçãocomparada.Asegundafrentedeexperiênciasdidáticas
–produçãosupervisionada–compreendeasatividadespráticaslabo
ratoriaisemrádio,televisão,meiosimpressoseinternet,devidamente
acompanhadas por professores e orientadas para a experimentação
de formatos e linguagens.
Nosúltimosanos,porcontadaavassaladoraexpansãodainternet,
dosbaixoscustosedafacilidadedemanejo,osblogstêmsidousados
como ferramentas de ensino em diversas situações (cf. Mantovani,
2006).GomeseSilva(2006),porexemplo,oferecemoestadodaarte
8Em2007,oFNPJpassouaeditaraRevista Brasileira de Ensino de Jornalismo(Rebej),primeiro
periódicocientíficovoltadoespecificamenteaessasreflexões.Versãoeletrônicaem:http://www.fnpj.
org.br/rebej/ojs.
186
no uso dos blogs em contextos educacionais. Apesar de o foco das
autorasserablogosferaportuguesa,asreferênciasapresentadasper
mitemobservarque,tantonosEstadosUnidosquantonaEuropa(prin
cipalmentenaPenínsulaIbérica),háconvergênciasconceituaissobre
as vantagens da aplicação desses diários virtuais nos processos de
ensinoeaprendizagem(OrihuelaeSantos,2004;Martindale,2004).
Gutierrez(2005),porsuavez,enfrentaocampoteóricodaeducação,
tentandoarticularospensamentosdeVygotsky,PauloFreire,Bakhtin
ePrigogine,naclaraintençãoderespaldarconceitualmenteousoe
aapropriaçãodosblogsnasaladeaula,nosambientesdeinteração
com os alunos.
Sejanasuautilizaçãocomorecursoouestratégiapedagógica,os
blogstêmservidonãoapenascomomeiosdecomunicaçãoentrealu
noseprofessoresoucomorepositóriosdeexercíciosdeclasse,mas
também como ambientes de incentivo à interação/conversação.9 No
casodoensinodejornalismo,asaplicaçõessemultiplicam,conforme
veremos adiante.
187
queestáacontecendocomaindústriadamídiaparacompreendero
contextoparaoqualestãosendopreparadosnovosprofissionaise,aí
sim, definir um perfil que satisfaça as expectativas do mercado e da
sociedade.
ApesquisaaqueFranco(2007)sereferefoirealizadaporC.Max
MageenaNorthwesternUniversity,comorientaçãodeRichGordon,e
objetivouresponderquaissãoashabilidadesnecessáriasparaseatuar
numaredaçãodigital.11Alémdealgumastradicionais–comoatenção
aos detalhes, senso de notícia, gramática e estilo, versatilidade,
habilidadesdecomunicaçãoeparatrabalharsobpressãodorelógio–,
outras tantas habilidades foram mencionadas por jornalistas e gestores
napesquisa:
• Escrevertantoparameiosimpressosquantoparaeletrônicos;
• Sabereditaráudioevideo;
• Podergerarprodutosmultimedia;
• Ternoçõesdeusabilidade;
• Conhecer formas alternativas de contar histórias;
• Entenderanarrativadigital;
• Sabercriar,promovereadministrarcomunidadesonline;
• Ternoçõesdejornalismoparticipativo;
• Estarfamiliarizadocomossistemasdeadministraçãodeconteúdos;
• Saber relacionar tipos de conteúdos com dispositivos móveis;
• Sercapazdeentenderhábitoserazõeseconsumode
informaçãopelospúblicos.
188
Interessadosemmapearascompetênciasqueumcomunicador
digitaldeveternaatualidade,ospesquisadoresdaRedeIberoamericana
deComunicaçãoDigital(RedeICOD)realizaram,em2005,umainves
tigaçãocom113profissionaisegestoresdemeioseorganizaçõesmi
diáticas em sete países. Por meio de entrevistas em profundidade e
gruposfocais,oestudorecolheuumconjuntodecompetênciasvincu
ladasaoconhecimento(saber)eàscapacidades(fazer),sejamelas
digitaisounão.Por“competênciasdigitais”,aRedeICODentende“to
dos os conhecimentos e capacidades que derivam da introdução de
novastecnologiasinformáticasdentrodosambientesdetrabalhoco
municacional”.Ospesquisadoresexplicamqueaidentificaçãodessas
competências não descarta ou substitui os conteúdos tradicionais da
área,masampliaesselequedeconhecimentosecapacidades.
189
aurgênciadosprofissionaisconhecerem“umpoucodetudo”emsuas
áreas.
Observandooconjuntodoqueseespera,osblogsparecemser
as plataformas mais à mão para o desenvolvimento dessas habilidades
e competências.
Noscursosdejornalismo,émuitocomumverificarqueprofessores
de disciplinas de caráter instrumental ou tecnológico recorrem aos
blogs14para dinamizar suas aulas, facilitar a escoagem da produção
dasturmasoupermitiratividadesmaispráticas.Entretanto,osblogs
podem ser usados por quaisquer disciplinas do curso, mesmo as
maisteóricasoudistantesdaspreocupaçõescomatecnologia.Oque
irá determinar as vantagens dessa utilização serão os objetivos pe
dagógicos a serem alcançados, a definição das competências e ha
bilidadesaseremdesenvolvidas,acriatividadenaconduçãodasaulas
eafamiliaridade doprofessorcomsistemasdepublicação e hospe
dagem de blogs. Combinadas e satisfeitas, essas condições contri
buirãoparaoêxitodaexperiência.Nãoénecessárioatenderatodas,
masasduasprimeirasmeparecemindispensáveisparaumbomuso.
Blogssãorecomendáveisnoensinodejornalismoporreunirum
conjunto de aplicabilidades que permitem o desenvolvimento de di
versashabilidadesecompetências.Alémdisso,apresentamcondições
operacionaistentadoras:baixocusto(inclusive,muitasopçõesdeser
viço gratuito), facilidade de postagem e atualização dos conteúdos,
ofertadetemplatesprontosepossibilidadedecustomizaçãodoblog
peloautor.Porsuasprópriascaracterísticas,osblogspermitemainda
14 Para conceituar “blog”, seguimos a discussão empreendida por Barbosa (2003), a taxonomia
oferecida por Recuero (2003), considerando os blogs na sua dimensão de terreno que hospeda/
converge/dispersacomunidadesvirtuaisedeambientedeinteraçãoecolaboração(cf.PrimoeRe
cuero,2003).
190
oestabelecimentodeumaredepessoalderelacionamentos(pormeio
doslinksnoblogroll),condiçãoquemuitoatraiosmaisjovens.
Emcontextosbrasileiros,BeatrizRibasfazumaconsistenterefle
xãosobreousodosblogsnaformaçãodejornalistas,apresentando
também sua experiência em duas instituições de ensino superior na
Bahia.Entresuasconclusões,aautoradestacaque
Emtermospráticos,osblogspermitemoestabelecimentodeuma
outrarelaçãodeprofessoresealunos,maisaberta,maisfluida,próxima
ehorizontalizada.Comisso,possibilitamtambémaemergênciadeno
vos processos de ensinoaprendizagem, não só mais centrados na
direçãopropositivadoprofessor.Oblog–comorecursoouestratégia–
exigeumaposturamenosdependentedoalunofrenteaomestre,jáque
dessealunoseráesperadoumconjuntodeperformancesresultantes
detomadasdedecisãoqueopróprioaprendizdeveassumir.Assim,os
blogs permitem que emerjam competências e habilidades bemvindas
aosfuturosjornalistas,comoversatilidade,autonomia,disciplina,capa
cidadedeexecuçãosimultâneademuitastarefas,entreoutras.
Numa estratégia pedagógica que elege o blog como elemento
central,oalunoélevado,primeiro,acriaroseumeiodecomunicação:
escolherumtítuloparaoblog,optarporumserviçodehospedageme
191
pelostemplatesoferecidos,definirastemáticasdequevaitratar,oque
significadizerapontarparaumpúblico.Emseguida,énecessáriotomar
decisões sobre que widgets colocará em seu blog, que estratégias
adotaráparadivulgarsuamídia,aquemdarálink em seu blogroll. De
poisdemaisoumenosorganizadooterreno,onovoblogueirovaise
depararcomosdesafioscotidianosecomunsaoutrasmídias:man
terperiodicidade,produzirconteúdos,diferenciarsedaconcorrência,
manteraqualidadetécnicadoproduto,fidelizaropúblico.
Parecepouco,masnãoé.
Noblog,seuautorescreve,aplicaimagens(fotosouilustrações),
estabelece links com outros sites e blogs, vincula arquivos de áudio
e vídeo, edita, publica os conteúdos e administra os comentários de
seupúblico,dandorespostas,checandonovasinformações,repelindo
spams.Alémdisso,diariamente,oblogueiroprecisafazerarondaem
seusfavoritos,deixarcomentáriosemoutrosblogs,informarsesobre
os movimentos da blogosfera, definir suas pautas. A quantidade de
operaçõesderivadasdacriaçãodeumblogconsomemuitotempo,de
dicaçãoeenergia,semfalaremoutrosrecursos,comoinvestimentos
materiais(equipamentos,softwares,sistemas)eoperacionais(cursos
rápidosdemanuseiodeaplicativosetc.).
Seoblogéamídiadeumhomemsó,aquantidadedetrabalho
sobrecarregaoblogueiro.Nocasodoalunodejornalismo,possibilita
queeleseenvolvadiretamenteemtodasasetapasdeplanejamento,
produção, edição e difusão de conteúdos. Professores de Redação
Jornalísticapodemrecorrerablogsparaoensinopráticodeestruturas
textuaisdiversasnojornalismo.Orecursoauxiliaadefinireformatar
estilos de escrita; funciona como laboratório de experimentação nos
gêneros opinativos; contribui para delimitar dimensões de textos, já
queasuaveiculaçãonainternetimpõeoutrasregrasdeconsumoe
circulação.Aindanasdisciplinasderedação,osalunosblogueirospo
derãoexploraralternativasestruturaisedelinguagem,bemcomo ex
perimentar outras narrativas hipertextuais.
192
A manutenção de um blog coloca desafios também na área da
edição de conteúdos. Os professores da área poderão desenvolver
em seus alunos as habilidades não apenas de juntar conteúdos em
textoeimagem,mastambémeditararquivosemáudioevídeo,com
apreocupaçãosobressalentedeconceberoprodutocomcoesão,or
ganização,clarezaeapuroestético.Istoé,entraemcenaaarquitetura
dainformação.Eporqueosalunostratarãodeelementosdediversas
procedências, professores de �egislação em Comunicação, de Ética
e de Deontologia Jornalística vão dispor de exemplos práticos para
a discussão de direitos autorais, licenças de uso de conteúdos, ma
nipulaçãodigitaldeimagens,plágios,invasãodeprivacidadeeoutras
questõesrelativasàéticanouniversodigital.
ProfessoresdeTécnicadeReportagemoudisciplinassemelhan
tespoderãolançarmãodeblogsparaensinaraplanejargrandesco
berturas,paraorientarproduçãoeveiculaçãodejornalismoemtempo
real,oumesmoexperimentar modalidades como aque seapóiaem
dispositivosmóveis(telefonescelulares,smartphonesetc.).
Às aplicações descritas anteriormente, devem se somar outras
quatro,queconsideroasmaisrelevantesedistintasnousodosblogs
como ferramentas educativas no jornalismo. Penso que elas dimen
sionem o raio de alcance das contribuições exclusivas dos blogs no
ensino de jornalismo.
• Maisdoqueemoutrasmídias,oblogueiroprecisatrabalharemre
gimecoletivoecolaborativo.Eletrocalinks,checainformaçõescom
outrosblogueirose,muitasvezes,postaumconteúdoquemescla
produçõesautoraisecedidasporsuasfontesoucolegas.Emter
mospedagógicos,osblogsensinamseuseditoresaestabelecer
redesderelacionamentos,cultiválaseatuarsolidariamentecom
elas. O trabalho colaborativo se distancia tanto do pool quanto da
competitividade agressiva que enxerga no concorrente não um ri
val,masoinimigo;
193
• Menosporcontadosblogsemaisdecisivamentepeloespíritoda
chamadaweb2.0–queincentivaparticipação,interatividade,ser
viçosecompartilhamentoderecursoseprodutos–,blogueirossão
instadosatrabalharcommaistransparência,adotandoapostura
deumjornalismo“opensource”,aindaumtabu.
• E, talvez mais importante do que foi mencionado antes: blogs
levam seus editores a lidar com a crítica e o público. Devido ao
sistemadecomentáriosquepermitenãosóelogiosesugestões,
como reclamações, queixas e correções, os blogs amplificam as
vozesdeseusleitores,quebuzinamnosouvidosdoseditores.Tra
194
dicionalmente,ojornalismotrataseupúblicodeformapaternalista,
distanciadaesemadevidaconsideração.Comaexperiênciados
blogs,osalunosdaárea–futurosprofissionais–poderãomedir
o retorno de seus públicos (feedback), prepararse melhor para
enfrentarsuasdemandaseexigências,epermitirseenxergaralia
dos nos leitores. Blogueiros parecem ouvir mais seu público do
quejornalistas.Demonstrampreocuparsemaisemcativálostam
bém.Essascapacidadessãomuitobemvindasnojornalismocon
temporâneo,aindamuitoensimesmadoearrogante.
Querdizer,oblogéasalvaçãodoensinodejornalismo,certo?
Errado,claroquenão.Eleémaisumaferramentaeducativa,queofe
rece potencialidades diversas e permite o desenvolvimento de habi
lidadesecompetênciasdesejáveisàprofissão.Maséprecisoentender
queoblogéumamídiadetransição.Sim,elejámudoumuitonosseus
primeirosdezanos,deixandodeserapenasodiáriovirtualdoadoles
cente.Vaimudarmaisnospróximostempos,etalvezatédeixedeexis
tir.Oblogéumrecurso,umaestratégia,umpretexto.
O que importa mesmo é ver o que essa ferramenta permite
extrair em termos de ensino e aprendizagem na prática jornalística.
Não basta jogar os alunos nos blogs como se atiravam cristãos aos
leões.Hálimitaçõesnaprópriamídia:seualcancemassivoémenor
secomparadoaodaTV,porexemplo;ascondiçõesdeidentificação/
conhecimentodopúblicoconsumidorsãoaindaprimitivas,entreoutros
aspectos.
Énecessárioconsideraraindaoutroselementosrestritivosaosu
cessonousodosblogscomoferramentaseficientesdeensinodejor
nalismo:despreparodosdocentes,indefiniçãopedagógicadoseuuso,
conservadorismodidáticoefatorescomoasbarreirasdesegurançade
algumas escolas, que impedem a livre navegação na web, temendo
pornografia,pedofilia,crimesvirtuaiseciberdissidência.Todosesses
195
limitadores podem tornar os blogs ferramentas tão úteis quanto hoje
sãomáquinasdeescrever.
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198
Leonardo Foletto
Blogosfera x campo
jornalístico:
aproximação e conseqüências
199
Nós tivemos uma explosão de testemunhos pessoais e
públicos, e alguns deles eram bastante poderosos. Eu
me lembro do velho clichê que dizia que os jornalistas
escreviam o primeiro rascunho bruto da história. Bem,
agora os blogueiros é que estavam escrevendo esse
rascunho (Gillmor apud Andrews, 2006).1
Poucosmesesdepois,jásenotavaumcrescimentosignificativo
de blogs sendo usado como fontes de informação de relevância jor
nalística, fazendo com que eles, de alguma maneira, passassem a
influenciar o jornalismo. Recuero (2003) diz que “essa influência se
tornou muito mais clara a partir do início da guerra no Iraque [em
março de 2003] com o aparecimento na mídia e no ciberespaço dos
warblogs, blogs que têm como foco central a questão da Guerra, sob
as suas mais diversas formas”. Os editores dessas páginas da web
contavam o diaadia da guerra sob o seu ângulo, personalizando a
informação passada na persona do autor que as divulga, contrapondo
se com a visão objetiva e impessoal que o jornalismo tem como prática
consolidada.
A partir de então, os weblogs com informações jornalísticas, pro
duzidos por jornalistas ou não, passaram a ganhar espaço no jornalismo
digital. E, naturalmente, esse crescimento provocou discussões sobre o
real valor da informação postada nos blogs, já que muitos deles não se
utilizavam dos procedimentos adotados pelo jornalismo praticado pela
mídia tradicional. Esaas discussões surgiram em torno principalmente
de uma questão: podem os blogs praticar o jornalismo?
Na academia, diversos autores questionamse sobre essa per
gunta.AamericanaRebeccaBlood(2001)afirmaqueastécnicasjor
nalísticas não poderiam ser praticadas pelos blogueiros – pelo menos
não da forma como foram concebidas inicialmente; Lasica (2002) citou
os blogs como uma forma de “jornalismo amador”, em que muito das
expectativas profissionais atuais não estarão mais presentes; Wall
1 Disponível em http://www.wired.com/news/culture/media/0,717530.html. Acesso em 10/11/2007.
200
(2004) vai numa mesma linha ao dizer que eles são como um “merca
do informal” do jornalismo, em que a entrada é mais fácil para os “pe
quenos jogadores” – no caso, os jornalistasblogueiros.
Numoutroladodadiscussão,Regan(2003)dizqueosurgimento
desse tipo de weblog expõe os pontos fracos do jornalismo, mudando
muitas das opiniões convencionais sobre quem é o jornalista e o
queéojornalismo;Rosen(2005)dizqueelessãocomo“uma força
que abrirá os buracos existentes nas ‘muralhas’ dos gatekeepers, dan
doumfimaoreinodesoberaniadojornalismo”2(Rosen,2005).Autores
como Salaverría (2005) e Aldé & Chagas (2005) apontam ainda para
outras questões, indicando o weblog como um novo gênero dentro do
jornalismo digital.
Enquanto os pesquisadores de jornalismo buscam compreender
o fenômeno dos weblogs, o mercado começa a incorporálos grada
tivamente. Grandes grupos de mídia passam a contar, em seus portais,
com blogs de seus colunistas mais experientes ou mesmo de editorias
específicas,embora,numprimeiromomento,muitodelessejamapre
sentados como colunas “que mudaram de nome e se tornaram mais
dinâmicas, com atualização contínua e a possibilidade de inserção de
comentários dos leitores” (Palacios, 2006b). Mesmo com essas limi
tações, um número considerável de jornais online passa a adotar os
weblogs como ferramentas de seus sítios, “acreditando no poder indi
vidual e no interesse do público que busca notícias na internet pelos
blogs”(Quadros,RosaeVieira,2005);nosEstadosUnidos,86%dos
100 maiores jornais americanos3 utilizamse de blogs em suas ver
sõesnaweb.NoBrasil,nãoháaindaumapesquisaquequantifique
essesdados,masumaobservaçãorápidaésuficienteparanotarque
pelo menos alguns dos jornais considerados mais importantes do
2TraduçãodoAutor:“aforcethatwill‘blowopenholesinthegatekeepers’firewalls’,andasending
journalism’sreignof‘sovereignty’(Rosen,2005).Disponível em: http://journalism.nyu.edu/pubzone/
weblogs/pressthink/2005/01/21/berk_essy.html. Acesso em 14/11/2007.
3 Os resultados completos da pesquisa podem ser vistos no http://journalism.nyu.edu/pubzone/blue
plate/issue1/top100.html. Acesso em 23/11/2007.
201
país (Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo, Jornal do
Brasil, Zero Hora) mantêm blogs de seus jornalistas em suas versões
na rede. Isso sem contar os blogs com informações de relevância jor
nalística que são editados de forma independente, sem vinculação a
grandesportaisdemídia,que,empaísescomoEstadosUnidoseIn
glaterra, passam a ganhar um espaço cada vez maior, com alguns até
disputando a audiência com empresas jornalísticas tradicionais.
202
pela blogosfera acabam provocando efeitos de várias ordens no mes
mo. Palacios (2006a) aponta como sendo oito esses efeitos de apro
ximação entre a blogosfera e o campo jornalístico. Eles serão expli
cados a seguir.
203
lístico. Como decorrência, é possível que haja uma revisão, ou reor
denamento, do habitus do mesmo.
204
fato, e essa informação ganhou importância para determinado grupo
de pessoas, adquirindo para eles status de notícia. Daí se deduz que a
presençadepessoasalémdocampoclassificandofatoscomonotícia,
com interesses diferentes dos agentes do campo, pode reforçar a ‘pro
ximidade’comoumimportantecritériodenoticiabilidade.OblogXtam
bém se beneficiou pela liberação do pólo emissor da informação de
relevânciajornalísticaparaproduziroseupost,oqueexemplificaopri
meiro efeito causado pela aproximação da blogosfera e do jornalismo;
eomesmoblogueiroX,quenãoéjornalista,passouaocupar,semse
dar conta, um lugar no habitatdocampojornalístico,oqueconfirmao
segundo efeito.
205
ferramenta de comentários também o é. Em grande parte dos blogs
existentes, podese deixar um comentário apenas clicando no link que
é oferecido; por vezes, é exigido que o usuário se cadastre no servidor
em que o blog está hospedado, o que prontamente se pode fazer colo
cando o email e nome da pessoa. Essa facilidade encontrada propicia
um aumento do debate entre o produtor da informação de relevância
jornalística e o seu leitor, possibilitando que haja maior quantidade e
rapidez na troca de informação entre as duas partes.
7) De audiência a rede;
A relação entre os produtores e os consumidores de notícia no
jornalismo de hoje, que ainda tem como esquema predominante o “um
muitos”, pode vir a se tornar “muitosmuitos”, formando assim uma rede
mundial de produção e transmissão de conteúdo e informação. O leitor
deixa de ser passivo e passa a ser um usuário dessa rede.
As decorrências para o campo jornalístico desta nova relação que
seformasãoconsideráveis.Umadelaséqueestarededeprodução
de informação – sendo informação de relevância jornalística – pode
reivindicar uma posição dentro do campo jornalístico, independente da
5Ojornalismoparticipativoédefi
Ojornalismoparticipativoédefinidopor�.D.�asicacomo“oatodeumcidadãoougrupodecida
nidopor�.D.�asicacomo“oatodeumcidadãoougrupodecida
dãos, desempenhar um papel ativo nos processos de recompilação, cobertura, análise e difusão de
notíciaseinformação”(�asica,2003).Disponívelem:http://www.ojr.org/ojr/workplace/1017958873.
php. Acesso em 09/03/2007.
206
aceitação ou não dos agentes deste campo (jornalistas), o que pode
ocasionarumaredefiniçãodoprópriohabitus do campo jornalístico.
Essa constatação leva a crer que o jornalismo pode passar por
uma transformação de suas normas e leis, incorporando novas carac
terísticas ou modificando as já existentes, e, dessa maneira, o cam
po jornalístico como se conhece hoje poderá passar por uma séria
transformação.
207
no disperso, não organizado, e produziu efeitos de várias ordens no
habitus desse campo. Como conseqüência dos efeitos, três diretrizes
para o aumento do campo jornalístico foram pensadas, apontando
direções para o alargamento do mesmo.
A seguir, serão apresentadas as três diretrizes:
1) Jornalismo difuso;
“�ornalismodifuso”éonomedadoporPalaciosaousodoblog
como instrumento de reportagem – ou de um testemunho, de uma
crônica – de determinado local onde fatos de extrema relevância jor
nalística estão acontecendo. É dada a voz aos que estão na “cena do
crime”, vendo com seus próprios olhos a realidade que lhes é oferecida
para enxergar. Os blogueiros utilizam sua posição privilegiada em de
terminado local para noticiar aquilo que vêem de forma mais direta,
pessoal, o que acarreta não respeitar todas as normas do campo jor
nalístico. A apuração, que acaba sendo de menor qualidade, é com
pensada pelo maior uso da opinião do blogueiro que, estando no local
dos acontecimentos, tem a possibilidade de melhor contextualizar a
sua informação com ações que o jornalismo tradicional não teria inte
resse, condições e liberdade para fazer, como, por exemplo, ouvir
todo o tipo de pessoas (mesmo que elas não sejam categorizadas
como “fontes confiáveis”) e usar a primeira pessoa para relatar uma
experiência vivida.
Exemplo prático do jornalismo difuso são os warblogs, blogs que
tem como foco central a questão da guerra criados por pessoas que
estãonoslocaisondeocorremconflitosarmados.Essesblogs,como
citado anteriormente, foram responsáveis pelo aumento da visibilidade
edainfluênciadablogosfera no jornalismo ainda em 2003, quando o
seu uso foi bastante comum em decorrência da proximidade da Guerra
do Iraque e da invasão americana ao Afeganistão.
Palacios (2006a) aponta como principal força desse tipo de jor
nalismo a multivocalidade presente nele e o testemunho direto com
208
que seus autores se propõem a fazer. Como fraqueza, sinaliza a “in
capacidade de fornecer um contexto interpretativo de maneira que
a chuva de informações possa adquirir significado e transformarse
em conhecimento” (Palacios 2006a), daí surgindo, também, o nome
“difuso”daclassificação.
209
3) Jornalismo de aprofundamento da colaboração (“jornalismo
colaborativo”);
A capacidade conversacional dos blogs por meio da blogosfera
traz a possibilidade de se produzir uma informação de relevância jor
nalística em que mais pessoas estejam envolvidas em sua produção,
e até mesmo na sua apuração. Isso ocorre de duas formas: através
da ferramenta de comentários, e, principalmente, dos links, que possi
bilitam uma interligação de diversas pessoas, ao mesmo tempo, apu
rando e complementando a informação praticamente até o seu esgo
tamento completo.
Um dos resultados dessa colaboração é o aprofundamento de
assuntos que ela pode trazer, na medida em que mais pessoas traba
lhando na abordagem do fato proporcionarão maior riqueza de detalhes
ao apresentálo como notícia. Outra decorrência é que a permanência
da notícia em um circuito que se retroalimenta constantemente pela
multiplicidade de vozes faz com que novas perspectivas e olhares
sempre possam ser acrescentados.
Como as perspectivas apontam uma web cada vez mais rápida e
fácil de usar nos próximos anos, o potencial de crescimento desse tipo
de jornalismo de aprofundamento da colaboração só tende a crescer.
Conclusão
210
emrelaçãoàformasimplificadaereducionistaquepredominahoje.A
esse tipo de jornalismo mais praticado hoje, que está dentro do campo
sendo pressionado pela blogosfera, Mar de Fontcuberta (2006) chama
de “jornalismo mosaico”.
É um tipo de jornalismo que não atende a todas as necessidades da
sociedade complexa atual, em que os fenômenos sociais estão “a cada
dia mais interrelacionados, e onde a busca do isolamento de cada um
destesafimdeseacharumasoluçãoúnicae,portanto,simples,levaa
ocultar toda a realidade que se pretende solucionar” (Morin, 2005:12).
Em contraponto a esse tipo de jornalismo, compartimentalizado, orga
nizado como um sistema fechado em si mesmo, a autora propõe que
o jornalismo desejável hoje deva responder às características de um
sistema aberto, que está em contínua relação com o entorno no qual
se desenvolve, recebendo informação desse entorno e lhe dando a
resposta possível. É então que Fontcuberta (2006) apresenta o conceito
de jornalismo sistema, como aquele que não isola os acontecimentos,
mas os organiza em um contexto determinado que estabelece uma
gama de interações com seus receptores, contribuindo assim na
construção do sentido e na compreensão da realidade:
211
para sua compreensão pluridimensional6 (Fontcuberta &
Borrat, 2006:42).
212
nalismo. Se ele é fruto de uma reivindicação da sociedade por um
jornalismo mais complexo, articulado e não tão reducionista e simplista,
comoque,naprática,sedaráessaconfiguração?Comotransformar
o consumidor em usuário de um sistema de produção de notícias sem
que o mesmo não perca a credibilidade e adote procedimentos que
não estão no habitus do campo jornalístico? Ou mesmo o habitus, não
terá ele que se “adaptar” a esse sistema complexo, tendo de passar
por mudanças que tocam diretamente no seu âmago?
São questões que, por ora, não encontram respostas. A busca
por elas, aliada à expansão da web para cada vez mais lugares e
pessoas distintas, é que possivelmente provocará o surgimento de al
gumas hipóteses mais consistentes para explicar a situação. Como
diz Orihuela (2006), “os blogs abriram a porta para que as pessoas se
convertam em protagonista dos processos comunicativos. Mas mais
além dos blogs se estende o fenômeno de todos os meios sociais, e
isso não é uma moda nem uma tendência, mas uma mudança de para
digmas que não tem mais volta”.
213
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autoridade cognitiva e na relação entre jornal e leitor)”. In: Pauta Geral, n.7. Salvador:
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215
216
Juliana Lúcia Escobar
217
tendo como hipótese a possibilidade de o jornalismo de blog estar se
configurando como uma nova categoria para o webjornalismo. Esco
lhemos o Blog do Noblat por termos constatado, em trabalho anterior,
que, embora não tenha sido cronologicamente o primeiro jornalista
brasileiro a criar um blog, o destaque alcançado pela atuação de Noblat
como blogueiro durante o desenrolar do escândalo que ficou conhecido
como mensalão permitenos considerar que ele teria inaugurado, em
2005, o jornalismo de blog no Brasil.2
Adotamos a perspectiva que considera, no desenvolvimento tanto
do jornalismo quanto das tecnologias de comunicação, aspectos de
continuidade mais do que os de ruptura. Concordamos com Palácios,
para quem
218
do que chama de personal knowledge publishing (publicação de co
nhecimento pessoal) e, em seu artigo, faz uma breve descrição do
surgimento do fenômeno nos EUA. Especialmente naquele país, po
demos citar ao menos duas situações que ilustraram bem o uso dos
blogs como veículos noticiosos: os atentados de 11 de setembro de
2001 (Schittine, 2004:158) e a cobertura da Guerra do Iraque com os
warblogs (Recuero, 2003).
Em pouco tempo, os blogs ganharam versões destinadas à pu
blicação de fotos — fotologs ou flogs — e de vídeos — videologs ou
vlogs, ainda que eles não dispensem o uso da escrita. Já não se limi
tam mais a diários virtuais e nem podem ser considerados apenas es
critos íntimos ou adolescentes publicados na web, como chegaram a
ser vistos inicialmente.
Antes de discorrer sobre o fenômeno dos blogs jornalísticos, va
mos delimitar o universo sobre o qual estamos falando, apresentando,
abaixo, nossa definição de blog. Alertamos o leitor para o fato de que
este é o nosso entendimento particular, a definição a que chegamos a
partir da nossa pesquisa. Portanto, será discordante do entendimento
de outros autores e colegas, inclusive de alguns também presentes
nesta coletânea. Em termos gerais, consideramos que blog é um no
vo mecanismo de produção e divulgação de conteúdos na web que
gera um modelo específico de site. A nosso ver, do ponto de vista
tecnológico, três atributos caracterizam um site como blog:
219
que diferencia os blogs de outros tipos de publicação online (Paquet,
2002; Blood, 2003);
c) Data, hora e autor de cada post registrados automaticamente.
220
virtual settlement, mas somente dará origem a uma verdadeira comu
nidade virtual se as pessoas de fato utilizarem este lugar no ciber
espaço para a criação e manutenção de laços e relações sociais. Co
munidades virtuais surgem a partir dos usos que as pessoas fazem de
um determinado virtual settlement.
Para tornar mais clara a distinção entre as três acepções para
blog que adotam, Primo e Smaniotto dão os seguintes exemplos de
referência a cada uma delas:
221
a possibilidade de inclusão de comentários dos leitores (Chagas,
2006:48). E esse recurso está presente também em outros tipos de
sites como o Comunique-se,5 o Overmundo6 e O Globo Online,7 que
publicam comentários de leitores logo abaixo dos textos, na mesma
página. Nos blogs, por sua vez, os comentários geralmente situam
se em janelas ou espaços separados da área principal destinada aos
posts.
5 http://www.comuniquese.com.br.
6 http://www.overmundo.com.br.
7 http://www.oglobo.globo.com.
222
Ainda que caibam divergências teóricas quanto em que medida
o relato jornalístico seria um retrato fiel (teoria do espelho), uma sele
ção (teoria do gatekeeper), uma construção ou reconstrução social
(newsmaking), ou uma representação distorcida da realidade (teorias
instrumentalistas) (Traquina, 2005a e 2005b; Pena, 2005; Wolf, 1987),
é consensual a idéia de que o jornalismo referese à realidade, aqui
entendida como aquilo que se passa no mundo factual.
Assim, como prática profissional consolidada, entendemos que
jornalismo é a difusão para um grande número de pessoas, geralmente
com periodicidade determinada, de acontecimentos reais dotados de
atualidade, novidade, universalidade e interesse.
Como prática social, o jornalismo é fruto da ação de agentes huma
nos situados no espaço e no tempo que, apropriandose das tecnologias
e inovações disponíveis, promovem renovações e reconfigurações de
tal prática. A partir do uso de novos suportes, surgiram as variantes
radiojornalismo, telejornalismo e, mais recentemente, webjornalismo,
cada qual apresentando características particulares configuradas em
grande parte como adequações às potencialidades técnicas da mídia
utilizada — rádio, televisão e internet, respectivamente.
Com nosso estudo, pretendíamos verificar se o jornalismo de blog
pode ser considerado uma nova categoria de webjornalismo. Segundo
a tipologia proposta por Deuze (2002), os blogs estariam situados em
algum patamar entre os sites do tipo metajornalísticos e de comentários
(meta and comment sites) e os destinados a compartilhamento e dis
cussão (share and discussion sites). O autor considera que blogs são
publicações altamente individuais e personalizadas e que, portanto,
não poderiam ser consideradas propriamente como jornalísticas.
Para nós, no entanto, é justamente a personalização que torna
possível considerar um blog como jornalístico, pois a apropriação es
pecífica de cada agente humano é o que determina o tipo de conteúdo
de um blog. E se para Díaz Noci (2005) a personalização é apenas uma
223
conseqüência da presença das cinco características que considera
como próprias do webjornalismo (interatividade, multimidialidade, hi
pertexto, assincronismo e memória), para nós, esta é justamente a
característica mais distintiva dos blogs jornalísticos: é a maneira como
este novo mecanismo de publicação de conteúdo online é utilizado
que nos permite classificar determinado blog como jornalístico. Blood
lembra que
224
Como exemplo, cita o caso do jornalista do The New York Times,
Jayson Blair, que durante anos inventou histórias e entrevistas que
foram publicadas no conceituado diário.
Conforme constatou Schittine, “enquanto os blogueiros manifes
tam um desejo de escrever como jornalistas, estes buscam uma escrita
mais leve, menos informativa e mais ficcional do que aquela que rea
lizam em seu diaadia” (2004:156). Os jornalistas entrevistados pela
autora não pretendiam usar seus blogs profissionalmente. Assim, se o
blog de um jornalista se destina a um outro tipo de conteúdo que não o
noticioso, não é um blog jornalístico. De forma similar, “blogs mantidos
por respeitadas empresas noticiosas serão certamente qualificados
como jornalismo se mantiverem os mesmos padrões da organização”
(BLOOD, 2003).10
Analisando o aspecto da difusão, o fato de estar disponível na
www não é suficiente para considerar um blog como voltado para um
grande número de pessoas, uma vez que há blogs cujo acesso é res
tringido segundo a vontade do próprio blogueiro.11
Por fim, os blogs não possuem periodicidade determinada para
atualizações. As publicações podem ser feitas a qualquer momento,
também segundo a vontade do blogueiro, que tanto pode postar várias
vezes ao dia quanto ficar dias, semanas ou meses sem disponibilizar
conteúdo novo.
Dito isso, consideramos que blogs jornalísticos são aqueles cujos
endereços são públicos, estando acessíveis a qualquer pessoa com
acesso à internet; que se destinem, na totalidade ou na maior parte do
tempo, a divulgar acontecimentos reais dotados de atualidade, novi
dade, universalidade e interesse; e, ainda, cujos blogueiros tenham a
preocupação e se esforcem para:
225
a) disponibilizar freqüentemente conteúdos novos, ainda que sem
periodicidade fixa ou determinada;
b) e divulgar seus “blogs/lugares”, tornandoos endereços na web
amplamente conhecidos com o intuito de atrair um número expressivo
de internautas, ou seja, uma grande audiência (que na internet é ex
pressa por número de page views).
226
campo de visão é a de numeração ímpar. Ou seja, a organização da
informação tem como base os automatismos que o homem moderno
letrado ocidental incorporou ao processo de leitura no suporte escrito,
notadamente o livro, do qual jornais e revistas são herdeiros diretos.
Mas a diagramação não nasceu com os jornais. Durante muito
tempo, a disposição das notícias era feita de acordo com uma lógica
que obedecia a critérios diferentes dos que se tem atualmente. Notícias
começavam na primeira página e continuavam nas páginas internas,
por exemplo, sem que houvesse indicação para o leitor sobre essa
continuidade. Com a introdução da diagramação, a leitura passou a ser
ordenada seguindo, entre outros, critérios de importância estipulados
pelos jornalistas em conjunto com diagramadores e paginadores.
Essa lógica hierárquica também está presente no jornalismo ra
diofônico e televisivo com a escalada (no jargão jornalístico, a leitura
das manchetes daquela edição na abertura dos programas jornalísticos
em forma de chamadas — frasessíntese sobre cada matéria). Assim,
radiojornais e telejornais são divididos em blocos e é comum que os
primeiros sejam dedicados às hard news ou notícias “pesadas”, como
as de política e economia, e os últimos, às notícias mais “leves”, soft
news, sobre cultura e esporte, por exemplo.
E o jornalismo online, notadamente de portal, também seguiu tal
padrão: temse uma capa ou home – página inicial do portal que cor
responde à primeira página dos jornais impressos –, em que temos
chamadas para cada seção do site, que nada mais são além de man
chetes e submanchetes – frases curtas, capazes de chamar a atenção
e despertar a curiosidade do internauta.
Com o blog, abandonase esse modelo de hierarquização da in
formação. Devido à disposição em ordem cronológica inversa, a infor
mação mais importante é simplesmente a mais recente ou, melhor
dizendo, a que foi publicada mais recentemente. O que vemos é o
rompimento de um modelo organizativo da informação pela primeira
227
vez em décadas: não se tem mais capas, manchetes, chamadas. A
primeira página ou capa de um blog é o último post publicado, tenha
sido no próprio dia, há semanas ou meses atrás. Os posts registram,
automaticamente, dia e horário das publicações. A organização básica
do arquivo é por data. A definição das informações quanto ao que é
mais ou menos importante segue tão somente um critério: o tempo.
No caso de blogs jornalísticos, há nuances: além do critério tem
poral automatizado, o jornalista/blogueiro também interfere na deci
são sobre o que é importante. Entre os utilizados por blogueiros em
geral, e não apenas jornalistas, está o de retardar a publicação de no
vidades. Mantendo um post como o mais recente durante algum tem
po, o blogueiro foca a atenção dos leitores sobre aquele assunto. Pode
também repetir sua publicação em dias e horários diferentes. Quan
to ao arquivamento dos posts, alguns blogs oferecem alternativas ao
registro simples e automático organizado por data.12
O que nos parece é que o jornalismo de blog pode estar se apre
sentando como a primeira categoria de webjornalismo nascida genui
namente a partir da internet, uma vez que esse novo fazer jornalístico
apresenta características muito próprias. Uma delas seria, no que diz
respeito à apresentação das informações, o rompimento com padrões
criados pelo jornal impresso e de tal forma consolidados, que passaram
a ser repetidos nos formatos jornalísticos midiáticos subseqüentes.
Nesse ponto, cabe uma outra inferência: o modelo organizativo
proposto pelo blog, dispensando homes, manchetes e destaques, pres
supõe a relação com um tipo diferente de leitor. Este seria caracterizado
pelo interesse na informação mais recente, mas, sobretudo, por se
considerar capaz de dispensar a hierarquização dos textos proposta
por terceiros, jornalistas ou não. Para tal leitor, jornalistas, portais e
blogs são alguns dos elementos que lhe servem de guia ou filtro para
que obtenha as informações que deseja. Isso nos leva a concordar
12 Ricardo Noblat, criou seções em seu blog de modo a publicar diferentes tipos de conteúdo, como
textos de colaboradores, documentos etc. e também para agrupar posts sobre um determinado tema.
Ver http://oglobo.globo.com/pais/noblat/
228
com uma reflexão de Dominique Wolton:
229
pode ser ilustrada pelo que Bolter e Grusin chamam de windowed style:
230
sites consolidados e confiáveis. A grande quantidade de dados e a
variedade de fontes disponíveis na web podem ser também um di
ficultador: para obter o que se deseja, é preciso informação e espírito
crítico.
Retomamos, aqui, mais uma vez, o ponto destacado por Wolton
sobre as competências do internauta e a necessidade da permanência
dos intermediários humanos e não só tecnológicos no acesso ao co
nhecimento e na busca por informações na rede.
231
e intermediários para os internautas inexperientes e ainda não alfa
betizados na linguagem da web. Como organizadores avalizados do
conhecimento (Aldé e Chagas, 2005), os profissionais da comunicação
funcionam como filtros ou guias para os internautas em geral, mesmo
os mais experientes. São intermediários no processo de transmissão
das mensagens, selecionandoas, formatandoas, enquadrandoas.
Os comentaristas e colunistas avançam ainda mais nessa intermedia
ção, uma vez que não lhes cabe apenas mostrar ou relatar os aconte
cimentos, mas sim analisálos, interpretálos.
Um último post
232
destaque, tornandose um dos grandes diferenciais dos blogs jorna
lísticos. A simplicidade e agilidade para a publicação de conteúdos
novos, características tecnicamente inerentes ao blog, conferem a
essa ferramenta um par perfeito de atributos para que se alcance um
antigo fetiche jornalístico: vencer o tempo. Os jornalistas, auxiliados
pelas tecnologias surgidas em cada contexto técnicocultural, vêm im
primindo cada vez mais velocidade à produção das notícias a fim de
diminuir o intervalo entre a ocorrência de um fato e sua divulgação.15
Nos nossos dias, o blog se apresenta como uma ótima arma nessa
eterna corrida contra o tempo.
Por fim, acreditamos que o jornalismo segue tendo um papel a
desempenhar, mesmo num contexto socialtecnológico que facilita a
produção e divulgação de conteúdos, em tese, para qualquer pessoa.
Afinal, conforme Dominique Wolton provocativamente perguntou em
debate com o público durante palestra proferida na Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, em 2005, “se todos falam, quem está sendo
ouvido?”. Hoje, uma resposta para essa indagação é: os jornalistas,
eles continuam sendo ouvidos e tendo suas opiniões consideradas.
15 A tradicional “luta” do jornalista contra o tempo, uma relação histórica, é tema amplamente discu
tido por Franciscato (2005).
233
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235
236
Maria Clara Aquino
237
de uma tag ao registro e recuperá-lo através dessa tag nomeada livre-
mente por cada usuário.
O objetivo deste artigo é traçar um panorama atual dos métodos
de representação e recuperação de conteúdo nos blogs, desde suas
primeiras manifestações até o contexto atual para apresentar alter-
nativas colaborativas de gerenciamento de informação baseadas na
folksonomia e propor que as práticas hipertextuais na web 2.0 têm
seus padrões alterados devido à participação de qualquer usuário na
representação e na recuperação de informação.
238
Guerra Mundial resgatou uma forma de escrita já praticada em sé-
culos anteriores,1 o hipertexto, que, através do Memex,2 permitiria3 o
armazenamento de informações e o acesso a elas de maneira seme-
lhante ao pensamento humano, ou seja, de forma associativa, e não
em ordenações hierárquicas. O hipertexto foi nomeado em 1965 por
Theodor Holm Nelson, que, inspirado em Bush, propôs o Projeto Xanadu
no intuito de construir uma espécie de Biblioteca de Alexandria, só que
através de computadores, em que todo o conhecimento produzido
pudesse ser armazenado de forma conectada.
Antes desses sistemas, as formas de representar e recuperar in-
formação eram regidas por sistemas baseados em modelos hierárqui-
cos, classificações numéricas, alfabéticas, ordenações por classes e
subclasses e outras formas de taxonomia que determinam a busca por
meio de palavras-chave em sistemas de vocabulários controlados. O
principal problema apresentado por sistemas de informação baseados
em taxonomias é, segundo Feitosa (2006), a insuficiência de termos
de busca abrangidos pelos sistemas. Se o indivíduo que faz a pes
quisa pela informação utiliza uma palavra-chave que não está rela-
cionada ao documento que procura no sistema, os resultados são in-
completos, insatisfatórios e até mesmo inexistentes. Para o autor, a
indexação das informações é fundamental, pois interfere diretamente
nas operações de busca e recuperação e, assim, se o sistema não
abrange determinado termo, cuja relação com a informação que procu-
ra é subentendida pelo o usuário, os resultados não atendem às ne-
cessidades do usuário, que é obrigado a utilizar novos termos de bus-
ca para encontrar o documento.
Na web, até pouco tempo, os sistemas de busca por informação
não se diferenciavam muito do que havia antes do surgimento das pá-
1 As primeiras manifestações hipertextuais ocorreram em textos impressos nos séc. ��, com o surgi-
mento da pontuação e nos séc. �V� e �V��, por meio de manuscritos e marginalias.
2 “As We May Think” – ensaio publicado em 1945 em que Bush propunha a construção do Memex.
Disponível em: http://www.theatlantic.com/doc/194507/bush,
3 O Memex nunca chegou a ser construído.
239
ginas. Hoje, comumente chamados de buscadores, existem dois tipos
de mecanismo de recuperação na web: os diretórios e os motores de
busca (Céndon, 2001; Feitosa, 2006). Os diretórios foram a primeira
solução encontrada para o problema da organização da informação na
web, e são sistemas que constroem hierarquicamente índices de sites,
divididos em categorias, que podem trazer subcategorias. A coleta dos
dados é realizada por editores humanos que realizam a tarefa por meio
de pesquisas na web, de sugestões de usuários e do auxílio de robôs.
Ao contrário dos diretórios, os motores de busca não organizam seus
índices de forma hierárquica, mas buscam colecionar o maior número
possível de informações através da utilização de robôs que percorrem
continuamente a web, visitando sites e indexando suas páginas. A re-
cuperação dos dados pelos usuários se dá por meio de palavras-chave
e/ou até mesmo de linguagem natural.
As possibilidades oferecidas pelos buscadores disponíveis na
web dificultam a recuperação da informação devido a:
240
c) critérios de busca estabelecidos pelos sistemas: muitas vezes,
o usuário pode realizar uma busca que, no final, considera inútil. De
vido à pluralidade de formas de como a informação é organizada, di-
versas também são as formas de encontrá-la e, assim, o usuário é
obrigado a consultar as páginas de ajuda dos diferentes sistemas que
consulta. Segundo Branski (2004), a maioria dos internautas não do
mina controles básicos e não explora todas as potencialidades dos
buscadores.
d) ausência de mecanismos de filtragem e a falta do uso de for
mas padronizadas para o armazenamento de informações na web,
apontadas por Maedche apud Feitosa (2006): geram resultados confu
sos, incompletos, insatisfatórios, irrelevantes. Técnicas de indexação
automática, baseadas em popularidade de sites e links, como no caso
do PageRank4, ou então baseadas em algoritmos de resultados de
localização e de frequência de palavaras em um site, dificultam as
pesquisas e nem sempre oferecem resultados relevantes ao usuário
(Céndon, 2001). A listagem de páginas fornecidas ao usuário que realiza
a pesquisa pode, muitas vezes, apresentar, nas primeiras posições,
páginas que não possuem relevância nenhuma para a sua pesquisa.
Dessa forma, o usuário termina sem a informação que buscava ou en-
tão inicia outra busca, em outro buscador, o que pode demorar, já que
ele pode realizar a tentativa em mais de um sistema.
241
Blogs como ferramentas de representação e recupe
ração coletivas de informação
242
Nos blogs, a representação e a recuperação de informação por
meio do hipertexto ocorre desde sempre, ou seja, antes mesmo do
surgimento do termo web 2.0. Os primeiros blogs, que se constituíam
em listas de links para outras páginas na web, já demonstravam a von-
tade do autor do blog de linkar o que considerava útil e interessante e
de permitir que outros internautas visualizassem as informações que
encontrava pela web, e assim facilitar a recuperação das mesmas.
�nicialmente, os blogs traziam, nas laterais das páginas, as cha-
madas “blogrolls”, listas de links para outros blogs, organizadas de acor-
do com critérios estabelecidos pelo próprio autor do blog. As blogrolls,
inicialmente, continham links que apontavam para outros blogs que
o autor costuma ler e também para seus conhecidos que possuíam
blogs. Mais tarde, as blogrolls começaram a ser povoadas com links
não só para blogs, mas também para outros sites na web, escolhidos e
linkados também de acordo com a preferência de cada autor de blog.10
O hipertexto é útil para que os blogs ganhem visibilidade na web.
Quando são criados, seu autor passa a visitar e comentar em outros
blogs deixando o link do endereço do seu blog, que assim é visitado
pelo autor do blog que recebeu seu comentário e pelos demais leitores.
De acordo com Recuero (2003), essas práticas formam “webrings”,
círculos de relações entre blogueiros que se visitam e se linkam mu-
tuamente.
A utilização do hipertexto como forma de escrita nos blogs resulta
na proliferação de links tanto para dentro da própria página, linkando
a antigos posts e arquivos, como para outros blogs e endereços exter-
nos na web. Assim, além de alterar a rede hipertextual como um todo,
os blogs instauram um processo de representação da informação na
web realizado pelos próprios blogueiros, que passam a possuir mais
10 Com o tempo, os blogs também passaram a apresentar anúncios publicitários, já que fica
fica a cargo
do dono do blog liberar ou não o espaço para publicidade. O Google possui o AdSense, um sistema
que agrega anúncios em blogs e gera retorno financeiro ao blogueiro proporcional ao número de
vezes em que seus leitores clicarem nos anúncios que são definidos pelo Google de acordo com o
conteúdo postado no blog.
243
uma forma de recuperar informação que não somente por meio de
sistemas de busca. Por conseguinte, a atuação do hipertexto como
instrumento de representação e recuperação de informação nos blogs
favorece tanto autores quanto leitores, já que estes últimos também
podem inserir links nos comentários que efetuam.
Para um grupo de blogueiros que “se lê” mutuamente, com certa
freqüência, a busca por informação na web ocorre, muitas vezes, por
meio dos blogs. É comum ler uma informação em determinado blog e
depois percorrer o resto do círculo de blogs que se costuma ler para
saber como os outros blogueiros estão comentando o assunto, para
saber se estão falando sobre isso ou não e, conseqüentemente, para
encontrar novas informações a respeito do que foi postado, já que
cada blogueiro tem uma opinião, um estilo de escrita, e assim pode
linkar para outras páginas que o leitor ainda não encontrou a respeito
do tema.
Um dos problemas apontados anteriormente no que concerne à
busca por informação na web é a centralização da organização das
informações pelos buscadores, que pode acarretar resultados insa-
tisfatórios no momento em que determinados termos de busca não são
incluídos no sistema. Os blogs se tornam uma nova opção de pesquisa
na web no momento em que estariam classificando as informações
em função do conteúdo que disponibilizam. Recuero (2003) faz uma
classificação dos tipos de blog de acordo com o conteúdo publicado
que facilita a percepção de como a busca pela informação pode ficar
mais direcionada quando efetuada apenas em blogs:
244
c) Weblogs literários – contam histórias ficcionais ou agrupam
um conjunto de crônicas ou poesias com ambições literárias.
d) Weblogs clippings – apresentam um apanhado de links ou
recortes de outras publicações, visando filtrar a informação publicada
em outros lugares.
e) Weblogs mistos – misturam posts pessoais e informativos,
com notícias, dicas e comentários de acordo com o gosto e opinião
pessoal do autor.
245
Os trackbacks e os permalinks são importantes no que diz respei-
to ao que vem sendo discutido como o poder da longa cauda. A longa
cauda (do inglês the long tail) é um termo utilizado na estatística para
identificar distribuições de dados da curva de Pareto, em que o volume
de dados é classificado de forma decrescente. O livro The long tail foi
publicado nos EUA e é resultado de um estudo desenvolvido por Chris
Anderson, editor-chefe da revista Wired,11 no qual analisa as alterações
no comportamento dos consumidores e do próprio mercado a partir da
convergência digital e da internet. Antes do surgimento da rede, a compra
e venda de produtos feita unicamente no meio físico abarcava apenas
a oferta de produtos populares, que tivessem um relativo sucesso, já
que os custos de armazenagem, distribuição e exposição dos produtos
são muito altos. Com a internet e a transformação da matéria em bits,
é muito mais fácil ofertar produtos de forma praticamente ilimitada,
devido aos baixos custos de armazenagem, distribuição e exposição.
Assim, tornou-se possível encontrar todo o tipo de produto na rede, o
que permitiu que as pessoas passassem a experimentar mais e a con-
sumir produtos que até então desconheciam.
Os blogs também se regem pelo poder da longa cauda, pois, por
meio do microconteúdo e da reunião de pequenos grupos com inte-
resses segmentados, ganham espaço na rede ao se conectarem com
outros sistemas. Dessa forma, ao lado de um modelo centralizador de
distribuição de informações, tem-se, através dos blogs, um sistema ba-
seado na conexão de microrredes de blogueiros. É por isso que Tim
O’Reilly (2005) afirma que a web 2.0 fortalece as bordas da rede, ao
contrário da web anterior, que, não permitindo a qualquer usuário a
publicação de conteúdo na rede, focava-se em um centro distribuidor
de informações.
As ferramentas de busca especializadas em blogs também fa-
cilitam a pesquisa por informação nessas páginas. No caso do
11 http://www.wired.com
246
Technorati,12 o site traz na página inicial uma grade de temas e uma
lista de blogs falando sobre o assunto. É possível escolher entre vídeo,
música, cinema, DVD, jogos, notícias e negócios e visualizar o número
de links para posts que falem, por exemplo, sobre o Wii, videogame da
marca Nintendo.
Porém, há quem não confie na liberdade dos usuários e na or
ganização das informações por meio dos links. A quantidade de in-
formações na web e a forma como estão organizadas, conectadas
através de links que podem ligar um documento a qualquer outro sem
nenhuma autoridade para a criação desses links, que então podem
surgir de acordo com a intenção de quem quer que seja que os criou,
são dificuldades na busca dos dados na web, segundo Dreyfus (2001).
Para ele, os links não foram introduzidos porque são um modo mais
fácil de encontrar informação, mas porque são uma forma natural de
usar a velocidade e o poder de processamento dos computadores
para relacionar uma grande quantidade de informação independente
de significado e estrutura. Se tudo pode ser linkado com tudo, des
considerando o significado, o crescimento do tamanho da web e a
arbitrariedade dos links dificultam a recuperação de conteúdo (Dreyfus,
2001). O autor também atribui o fracasso da Inteligência Artificial ao
fato de que os computadores não entendem o senso comum, que in-
fluencia na organização das informações e que muda com o tempo e
com o contexto (Dreyfus, 2001).
Dessa forma, num primeiro momento, o posicionamento de Dreyfus
(2001) tem sentido frente ao que poderia parecer uma certa desor-
ganização na web. Porém, além de viabilizar a escrita coletiva on-line,
algumas das novas ferramentas13 que surgem com a web 2.0 agregam
a folksonomia como uma forma de representação e recuperação de
conteúdo, o que vai de encontro aos postulados do autor.
Como uma nova alternativa aos buscadores atuais, a folksonomia
12 http://technorati.com
13 Como, por exemplo, Flickr, Del.icio.us e demais sistemas baseados na folksonomia.
247
traz a possibilidade de o usuário comum da web relacionar qualquer
palavra a um dado que publica. Assim, a informação fica armazenada
e pode ser recuperada através da tag que o próprio usuário criou, e
não mais por meio de um vocabulário controlado, que muitas vezes é
desconhecido de quem faz a busca.
A folksonomia corresponde às características da web 2.0 e atende
aos princípios de cooperação apontados por Tim O’Reilly (2005) como
alicerces desta nova fase da web: a) arquitetura de participação; b)
aproveitamento da inteligência coletiva; c) riqueza decorrente da ex-
periência dos usuários; e d) crença nos usuários como co-desenvol-
vedores. Como se pode observar, são todos princípios que se per-
fazem com a participação ativa dos usuários no gerenciamento das
informações.
Nos blogs, a folksonomia pode ser vista através da prática dos
marcadores,14 que, assim, se constituem como tags, criadas pelos pró-
prios blogueiros e utilizadas tanto por estes como pelos leitores para
recuperar algum post. Nas ferramentas de busca especializadas em
blogs, como no Technorati, existem listas de tags criadas através da
contribuição dos blogueiros que inserem um código em seus posts e,
dessa maneira, automaticamente, o Technorati adiciona tags em sua
página relacionadas com os posts.
Poderíamos dizer que a folksonomia é uma espécie de “vo-
cabulário descontrolado”, mas isso não significa que o esquema
seja uma desordem total. Na verdade, de acordo com Spiteri (2006),
“Folksonomias são simplesmente o conjunto de termos através do qual
um grupo de usuários etiquetou conteúdo; elas não são conjuntos de
classificação de termos ou etiquetas prédeterminadas”.15
É um mecanismo de representação e recuperação de informação
14 �m post falando sobre um show do Foo Figthers em Porto Alegre traria marcadores como “músi- “músi
ca”, “Foo Fighters” e “Porto Alegre”.
15 Tradução da autora: “folksonomies are simply the set of terms that a group of users tagged content
with; they are not a predetermined set of classification terms or labels” (Spiteri, 2006). Disponívem em:
http://weblogy.ir/2007/v4n2/a41.html. Acesso em 22/08/2007.
248
que não é feito por especialistas anônimos – o que muitas vezes pode
limitar a busca por não trazer determinadas palavras-chave –, mas sim
um modo em que os próprios indivíduos que buscam informação na
rede ficam livres para representála e recuperála, realizando essas
ações com base no senso comum e tendo, assim, um novo leque de
opções ao efetuar uma pesquisa para encontrar algum dado.
Assim, esse “vocabulário descontrolado” altera as formas de re-
presentar e recuperar informação na web e também os padrões hiper-
textuais até então praticados, pois é construído de forma coletiva,
permitindo uma organização semântica do conteúdo e ampliando as
possibilidades de busca dos dados na web. Eis então que surge um
novo tipo de hipertexto, o hipertexto 2.0 (Aquino, 2007), no qual os links
são as tags, construídas pelos próprios usuários que por elas podem
navegar com base no significado das informações, representando e
recuperando informação de forma não-linear e coletiva.
Dessa forma, os blogs, antes mesmo de se ouvir falar em web
2.0, concederam a liberdade de publicação ao usuário comum. Hoje,
a folksonomia vem permitir ao usuário, por meio da representação do
conteúdo, a organização dos dados para posterior recuperação. Com
tais possibilidades, os blogs, as ferramentas de busca que se restringem
a esse tipo de página e também a folksonomia são vistos como um
processo alternativo de representação e recuperação de conteúdo na
web capaz de contornar as dificuldades dos sistemas de busca base
ados em uma organização limitada e apenas eficiente quando o termo
adequado é digitado no momento da procura pela informação. Agora,
os usuários podem percorrer novos caminhos por conta própria e não
mais permanecer presos às limitações dos buscadores.
A falta de atualização de um sistema de busca, que dificulta a
recuperação da informação, já que a web é dinâmica e muda cons-
tantemente, modificando o conteúdo das páginas, criando novos ende
reços e excluindo outros, pode ser reparada nos blogs. Ainda que vários
249
blogs sejam criados em um dia e abandonados no outro, são vários
também os blogueiros que se preocupam em manter suas páginas
atualizadas, muitas vezes acrescentando mais de um post por dia. São
blogs que assumem um compromisso com seus leitores, trazendo a
informação, comentando-a, permitindo a discussão e atualizando o
decorrer dos acontecimentos.
É comum também os próprios leitores de um blog avisarem ao
blogueiro do surgimento de um novo fato relacionado ao post, ou seja,
a atualização é feita não só pelo autor do blog, mas com a colaboração
de leitores atentos que acompanham os fatos em outros sites, ou
até mesmo outros meios, e se preocupam em atualizar a informação
disponibilizada nos blogs que costumam ler. �sso permite a atualização
constante do conteúdo dessas páginas pelos próprios usuários e ga-
rante a eficácia da busca por informação nos blogs.
As ferramentas de busca e até mesmo as de construção de blogs,
como no caso do Blogger,16 costumam trazer em suas páginas iniciais
os blogs que foram atualizados nos últimos minutos, permitindo ao in-
ternauta que faz uma busca ter constantemente à disposição o que
vem sendo atualizado na blogosfera nos últimos minutos.
A ausência de mecanismos de filtragem e a falta do uso de
formas padronizadas para o armazenamento de informações na web
– apontados por Maedche (apud Feitosa, 2006) –, que geram resul
tados confusos, incompletos, insatisfatórios e irrelevantes, são difi
culdades novamente passíveis de serem contornadas pelos blogs
por meio dos marcadores. Assim, é o próprio usuário da web que re-
presenta e recupera as informações no blog através do hipertexto. É
certo que os marcadores também podem servir como formas de “es-
conder conteúdo”, ou seja, dependendo da palavra que o blogueiro
utiliza como marcador, se for algo totalmente absurdo, em desacordo
com o conteúdo do post, algo como uma tag “mascarada”, um leitor
comum não conseguirá encontrar o post que procura. �sso seria uma
16 http://blogger.com.
250
desvantagem para o blogueiro, mas também uma forma de proteção
para o autor do blog, ainda que pareça contraditório querer esconder
informações publicadas na web.
Essas práticas ilustram a percepção de que, em uma busca tan-
to em listas pessoais de blogs favoritos ou blogrolls como em sis-
temas especializados de busca em blogs, a informação buscada foi
representada por um usuário comum da web, que criou uma página
pessoal e começou a publicar assuntos de seu interesse, que, conse-
qüentemente, interessam a outros internautas. Essa representação se
dá por meio do hipertexto que passa a ser construído pelos próprios
usuários da web, que conectam as informações que encontram pela
rede em seus blogs e também permitem que outros usuários possam
relacionar novos links nos comentários.
No entanto, alguns obstáculos surgem em função da representação
e recuperação coletivas do conteúdo. Problemas como o tagspace (�u
et al., 2006), no qual os usuários adicionam a mesma tag para da-
dos diferentes; a polissemia, quando uma única palavra tem múltiplos
significados relacionados; e a sinonímia, quando palavras diferentes
têm o mesmo significado (Golder e Huberman apud Marlow, 2006)
são dificuldades encontradas na prática da folksonomia. No caso dos
marcadores, a utilização de tags “mascaradas”, visando ocultar infor-
mações do leitor, também dificulta a recuperação.
Se, por um lado, o usuário fica livre das limitações dos buscado
res, ele pode sentir-se desorientado em uma busca por meio de dados
organizados com base na folksonomia, já que as pessoas pensam di-
ferente e criam tags diferentes.
Ainda não foram encontradas soluções para tais problemas,
porém, Marlow et al. (2006) acreditam que o que poderia auxiliar na
resolução do impasse seria a utilização de um sistema de sugestão de
tags no qual, no momento em que o usuário fosse adicionar a tag, seria
disponibilizada uma listagem com as tags mais comuns já relacionadas
com aquele dado, o que já se utiliza em sistemas de bookmarks on-
251
line como o del.icio.us,17 mas ainda não em blogs. No entanto, Guy e
Tonkin (2006) alertam para a ocorrência de favorecimento de algumas
tags, o que obrigaria novos usuários a se familiarizarem com tags já
existentes. Outra opção é o debate entre os usuários acerca da ela-
boração das tags, o que pode ocorrer em sistemas como o Flickr,18
que é uma espécie de fotolog em que os usuários podem trocar co-
mentários e mensagens e assim discutir sobre as tags que podem
adicionar tanto nas próprias fotos como nas dos outros. No caso do
blogs, essa discussão poderia ser feita entre autores e leitores por
meio de comentários ou então em espaços de discussão propiciados
por ferramentas de busca desse tipo de página.
No entanto, a maioria das sugestões dadas pelos autores que
estudam a folksonomia é direcionada para sistemas baseados em
folksonomia. Os blogs não são fundamentalmente baseados em
folksonomia, mas a utilizam por meio dos marcadores. Utilização de
plural ao invés do singular, “bundles”, que são conjunto de tags utili-
zadas no del.icio.us19 (Guy e Tonkin, 2006), bem como o uso de “te-
sauros” (Noruzi, 2007) e/ou guias para construção de vocabulários
controlados como um auxílio na construção de sistemas taxonômicos
(Spiteri, 2007) são sugestões direcionadas para sistemas em que
qualquer usuário pode representar e recuperar informação. No caso
de um blog, a representação do conteúdo é feita unicamente pelo blo-
gueiro, e assim os problemas diminuem, já que não é qualquer inter-
nauta que cria os marcadores. Ainda que todas as sugestões sejam
úteis aos blogs, a utilização de tesauros ou guias de vocabulários
controlados não parece ser tão utilizável quanto a discussão, a criação
de bundles e a preferência pelo plural, o que parece fazer mais sentido
em um blog.
É o dono do blog que decide qual palavra irá usar como marcador
17 http://delicious.com.
18 http://flickr.com.
http://flickr.com.
19 O usuário cria uma bundle e define quais tags farão parte da bundle. Cada vez que etiqueta um
bookmark com uma tag que faz parte de uma bundle, o del.icio.us automaticamente insere o book-
mark dentro daquela bundle.
252
e, somente se os leitores não entenderem o significado das marcações
e não conseguirem recuperar algum post, podem então, por meio dos
comentários, solicitar ao autor do blog que utilize outras palavras. As
bundles se mostram equivalentes às categorias de posts. Em sistemas
de publicação de blogs, como o WordPress,20 o blogueiro pode criar
categorias de posts, e seria interessante para os leitores que o blogueiro
mantivesse um padrão de tags para cada categoria. A recuperação se
tornaria mais fácil para os leitores que, conhecendo as tags de uma
categoria, poderiam encontrar posts específicos.
Percebe-se, então, que a principal diferença da utilização da
folksonomia em blogs e outros sistemas baseados em folksonomia é
o fato de que a representação da informação em um blog é feita pelo
blogueiro, ainda que comentários também possam ser considerados
como parte do conteúdo do blog. É a partir da criação dos marcadores
que a folksonomia começa a fazer parte de um blog, porém, com a
sugestão de utilizar bundles nas categorias, outras potencialidades
folksonômicas para os blogs podem surgir, e certamente surgirão. Os
blogs são espaços de escrita coletiva, já que, por mais que os leitores
não possam modificar um post, podem escrever junto com o blogueiro
através dos comentários, muitas vezes influenciando a criação de
novos posts. Os leitores são aqueles que procuram informação dentro
de um blog e assim, estão tão interessados no aperfeiçoamento dos
marcadores quanto o blogueiro que tenta ganhar visibilidade na web
criando marcações que tragam novos leitores para seu blog.
Frente aos problemas decorrentes de uma prática coletiva entre
blogueiros e leitores, as soluções também podem ser elaboradas de
forma coletiva dentro dos próprios ambientes de representação e re-
cuperação de informação. Pelo formato que possui, permitindo uma in-
teração dialógica entre os internautas por meio dos comentários, o blog
se diferencia de outros sistemas baseados em folksonomia por não ter
a prática como instrumento principal ou fundamental, mas por poder
20 http://wordpress.com.
253
utilizá-la para gerenciamento de conteúdo e permitir a participação
ativa de leitores e blogueiros na criação dos marcadores.
Considerações finais
254
por qualquer usuário que assim adquire liberdade para mapear os
dados e utilizar formas alternativas de encontrar informação. A depen-
dência de critérios de busca, de vocabulários controlados e de padrões
de organização lineares para encontrar algum dado na web pode ser
substituída por outros meios de dispor e encontrar conteúdo. São
formatos coletivos que, por mais desorganizados que possam parecer,
são feitos pelos próprios usuários, alterando práticas antigas e criando
um novo tipo de hipertexto através da folksonomia.
A web, bem como a internet, sempre funcionou com base na
cooperação (Martins, 2006), ainda que, no início, tenha limitado a
criação de páginas aos programadores. Porém, logo foram criados
instrumentos que recolocaram nas mãos dos usuários o poder de par-
ticipação. Os blogs e a folksonomia são um bom exemplo de como
representação e recuperação de conteúdo são práticas cada vez mais
delegadas aos usuários e aqui serviram para demonstrar como novas
vias de acesso podem ser construídas de forma coletiva dentro da web.
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256
Fernando Firmino da Silva
Moblogs e microblogs:
jornalismo e mobilidade
257
das postagens gerando um vínculo em “tempo real” com as redes
telemáticas.
Portanto, percebe-se que essa modalidade de blog, pelas carac-
terísticas apresentadas, enquadra-se num perfil adequado para o uso
jornalístico, que exige, mais que qualquer outra prática, o caráter do
imediatismo e da atualização contínua em situações de cobertura de
um evento (crises, acidentes, conflitos) em que está em jogo a compe-
tição pelo tempo real entre diversas mídias.
Entendese aqui por blog os diários pessoais que surgiram na
rede caracterizados pela atualização cronológica (similar aos diários,
alguns íntimos) com narração de fatos cotidianos e pessoais de jovens
internautas. Os blogs evoluíram para plataformas mais sofisticadas e
diversificadas de usos para difusão de informações, de notícias, de
opiniões, constituindose em verdadeiras redes sociais e jornalísticas
de comunicação no ciberespaço.
Este artigo pretende explorar essas novas condições que os blogs
apresentam para o jornalismo do ponto de vista de mobilidade e de
plataforma tomandose como objetos o moblog e o microblog. As co
nexões sem fio disponíveis (Blutooth, Wi-Fi, Wimax, GPRS4 e de ter
ceira geração), as tecnologias móveis digitais de diversas naturezas,
como celulares, smartphones, PDAs, câmeras digitais e outros dis-
positivos portáteis apresentam uma reconfiguração da relação mobili-
dade+jornalismo5 nunca antes experimentada nas características e
4 Bluetooth, Wi-Fi e Wimax e GPRS são padrões de conexão sem fio utilizados principalmente para
conectar equipamentos móveis à internet.
5 No jornalismo, sempre foi utilizado algum tipo de tecnologia móvel ou tecnologia sem fio, como o
telégrafo, o gravador analógico, o microfone, as câmeras fotográficas e de vídeo. Entretanto, deve-
se ater ao termo “tecnologia móvel digital”. O uso do termo “digital” ajuda a entender de que tipo de
tecnologia está se tratando no momento. Esse qualificativo define com mais precisão o contexto do
aparato de dispositivos portáteis. O processo de digitalização das tecnologias móveis do tipo câme
ras e gravadores digitais, celulares, palmtops e smartphones muda a natureza da relação que se
estabelece devido às novas potencialidades oferecidas. Aplicado ao jornalismo, esses dispositivos
digitais vão se caracterizar pela facilidade de produção, distribuição e instantaneidade, propiciando
a condição de mobilidade em todas as etapas produtivas. Um material em formato digital pode ser
enviado instantaneamente para distribuição em redes telemáticas, enquanto que o formato ana
lógico passa por outros processos de decodificação e edição até a distribuição final. Identifica-se
também a presença da convergência tecnológica com um único dispositivo concentrando uma mul
tiplicidade de funções e diminuindo, conseqüentemente, a quantidade de equipamentos a carre
258
nas dimensões expostas atualmente nos blogs móveis.
No nosso entender, os moblogs parecem ser a porta de entrada
para novas experiências no campo do jornalismo em relação ao
uso de plataformas portáteis, dada a especificidade que Castells et
al (2006:127) colocam de que “os dispositivos móveis são pessoais,
portáteis e pode-se caminhar com eles”.6 O repórter necessita de
ferramentas que facilitem o seu deslocamento urbano de forma rápida
e prática durante o desenvolvimento de suas atividades de apuração,
reportagem, edição e publicação.
No entanto, essa visão não seria, necessariamente, a de um
repórter cyborg com um aparato tecnológico preso ao corpo, que
vai sacando cada equipamento nas situações que surgem no seu
trabalho. Com a crescente portabilidade e a convergência multimídia
que concentra num único dispositivo, diversas funções, a exemplo
do celular, cada vez mais se precisa de menos para se fazer mais
com esses aparelhos híbridos e ubíquos que disparam múltiplas
operações, como atesta Lemos (2007b) no artigo “Comunicação
e práticas sociais no espaço urbano” quando apresenta a noção de
hibridismo que os celulares adquiriram.
259
funcionando por redes sem fio digitais, ou seja, de Co
nexão; e Multirredes, já que pode empregar diversas
redes, como: Bluetooth e infravermelho, para conexões
de curto alcance entre outros dispositivos; celular, para
as diversas possibilidades de troca de informações; in
ternet (Wi-fi ou Wi-max) e redes de satélites para uso
como dispositivos GPS (Lemos, 2007b).7
260
o desencadeamento do processo de produção jornalística do próprio
mainstream media.
A experiência da agência de notícias Reuters com o projeto de
jornalismo móvel10 é um fato concreto das potencialidades do uso de
tecnologias móveis que devem adentrar os meios de comunicação de
massa e a blogosfera. Em outubro de 2007, a Reuters, em parceria com
a fabricante finlandesa de celulares Nokia, construiu um protótipo, um
kit de ferramentas para o repórter móvel que permite editar e publicar
textos, áudio, imagens e vídeo a partir do celular. Este kit se constitui
de um celular Nokia N95,11 um teclado externo bluetooth da Nokia, um
microfone direcional da Sony para reduzir o ruído e captar melhor o
áudio, e um tripé para gravação de entrevistas em vídeo.
10 http://www.reutersmojo.com
11 As especificações técnicas do Nokia N95 incluem uma câmera embutida de 5 megapixels com
qualidade de gravação de vídeo similar ao do DVD, um HD de 8 gigabytes para armazenamento
de dados, geolocalização via GPS (Sistema de Posicionamento Global), editores de fotos e vídeos.
261
apresentou no livro Journalism and New Media como estação de tra
balho do jornalista móvel em desenvolvimento na Universidade de Co-
lumbia e definido como um “sistema integrado de apuração e de pro-
dução da notícia para o repórter em campo” (Pavlik, 2001:49).12 Na
apresentação de três cenários para o uso da estação de trabalho do
jornalista móvel (reportagem política, reportagem internacional e co
bertura de convenção), Pavlik formula uma questão instigante: “Isto é
um cenário de ficção ou realidade jornalística?”.13 Sete anos depois,
percebese que, não somente é uma realidade jornalística (a Reuters
é exemplo disso) como, a partir da sofisticação das tecnologias mó-
veis digitais e as conexões sem fio, o jornalismo caminha para o uso
intensivo desses dispositivos integrados à produção jornalística. Os
repórteres cidadãos, ou seja, usuários que também se tornam pro
dutores de notícias enviando fotos, vídeos e textos para publicação
(Bruns, 2005; Brambilla, 2006) já vêm praticando isso há um tempo
com o importante papel de relatar situações que fogem da cobertura
da mídia.
Para o âmbito do mainstream media, evidenciamse algumas
questões, como a qualidade final da notícia instantânea e a pressão
sobre o repórter com um deadline permanente, o domínio de diversas
ferramentas ou funções que devem ser levados em consideração na
análise dessa nova natureza do jornalismo em que as rotinas produtivas
se dimensionam. Por isso, há a necessidade de se explorar esse insti-
gante universo discorrendo sobre as implicações e potencialização do
moblog e do microblog a partir do uso de dispositivos móveis e sem
fio procurando entender como o jornalismo se posiciona nesse ambi-
12 Tradução do Autor: “integrated system of news gathering and production for the reporter in the
field” (Pavlik, 2001:49).
13 Em 2001, não se tinha ainda o iPhone com sua tela sensível ao toque e uma interface inovadora;
não existia o iPod com a experiência ampliada de ouvir música em mobilidade; os celulares ainda não
traziam embutidos câmeras de vídeo e de fotos e eram pouco navegáveis na internet se limitando ao
sistema Wap; os smartphones não concentravam como hoje as funções de telefone e computador de
mão; as conexões sem fio não se apresentavam tão sofisticadas e tão amplas em termos de cober
tura como atualmente (Bluetooth, Wi-Fi, GPRS, 3G). Isso demonstra que, num pequeno intervalo de
tempo, a tecnologia digital evoluiu muito rapidamente, justificando, em parte, a questão de Pavlik.
262
ente na perspectiva de produção e difusão da notícia no séc. XXI em
situação de mobilidade.
263
a formulação de algumas questões a serem observadas como a com
pressão do espaçotempo, desaparecimento do deadline e uma outra
dimensão do uso do ciberespaço na navegação em dispositivos mó
veis online (Sousa e Silva, 2006). Essas circunstâncias fazem parte
da circularidade do fenômeno da cibercultura com sua abrangência
em termos de penetrabilidade caracterizada pela ubiqüidade que as
tecnologias digitais representam na cena contemporânea com modifi-
cação da noção de espaçotempo.
Nesse contexto, o moblog, que surgiu em janeiro de 2001
(Goggin, 2006), se caracteriza como uma modalidade ideal de blogs
para fins jornalísticos por apresentar a especificidade de atualização
a partir de qualquer lugar, utilizandose de uma gama de dispositivos
portáteis com conexão à internet via wi-fi ou GPRS, por exemplo, para
produção e upload de textos, áudio, vídeo, fotos. Notebooks, palmtops,
smartphones e celulares se constituem como tecnologias com essa
finalidade. Os dois últimos, mais ainda, por expandir a condição de ubi-
qüidade caracterizada pela portabilidade e pelos recursos disponíveis
nos aparelhos como editores de texto, câmera digital para fotos, áudio
e vídeo, acesso à web, e-mail e conexão GPRS ou de terceira geração
para produção15 e envio do conteúdo produzido via MMS.
No tocante às experiências que usam essa estrutura disponível
para o exercício da prática jornalística em mobilidade, têm surgido pro
jetos em diversos lugares como: na África, com o Voices of África,16
em que repórteres de Gana, Quênia, Moçambique e África do Sul pro-
duzem e enviam textos, imagens e vídeos para o Africa News através
celulares Nokia E61 equipados com GPRS; nos Estados Unidos, com
os repórteres do jornal NewsPress17 produzindo suas matérias na rua
15 Este presente artigo, por exemplo, foi produzido a partir de um smartphone da Palm utilizando-se
o editor de texto embutido no aparelho e a navegação pela internet para pesquisa. Evidentemente,
que para a produção de textos em grande quantidade, há uma série de inconvenientes como as in
terfaces dos aparelhos e o tamanho diminuto do teclado, mas pontua-se uma série de vantagens no
tocante à produtividade com a possibilidade de escrever e fazer pesquisas específicas de qualquer
lugar como na fila de um banco, numa parada de ônibus ou nos intervalos de aula. As tecnologias
da mobilidade ampliam a experiência para novos ambientes no deslocamento pelo espaço urbano.
16 http://www.africanews.com/site/list_messages/10175.
17 http://www.news-press.com/apps/pbcs.dll/frontpage.
264
e enviando do local do acontecimento, sem deslocamento até à re-
dação. Para isso, saem munidos de notebooks, celulares e gravadores
digitais com um trabalho dentro do conceito de jornalismo móvel; no
Brasil, o Jornal de Debates18 fez, em maio de 2007, uma cobertura
móvel da Festa Literária Internacional de Parati utilizando o celular
como plataforma de produção; em Recife, uma equipe de fotógrafos
e repórteres do Sistema Jornal do Commercio (TV, jornal e portal JC
Online) realizou a cobertura em tempo real do carnaval 2008 a partir
de um blog19 utilizando celulares Nokia N95 com banda larga 3G; o
blog do Globo Esporte20 tem realizado coberturas em tempo real em
ocasiões como os jogos da seleção brasileira e corridas de Fórmula
1 com postagens diretamente do local, identificando sempre o selo
“tempo real” .
265
As operadoras de telefonia celular como Tim, Claro e Vivo
também têm iniciativas relacionadas a moblogs e ambientes de com
partilhamento de vídeos e fotos produzidos pelos usuários, como o
Vivo Moblog,21 definido como um diário multimídia móvel e que tem
mais de 200 mil pessoas cadastradas; a TIM criou o TIM Studio,22 em
que os usuários enviam pelo celular áudios, vídeos e imagens; e a
Claro apresenta o Claro VideoMaker,23 com a mesma idéia de envio
de vídeos. Essas experiências são todas oriundas dos moblogs e dos
fotologs.24
Desdobrandose mais ainda essas iniciativas para o campo do
jornalismo, os blogs tornaramse um fenômeno e uma plataforma para
jornalistas e empresas do mainstream media que os utilizam para
interagir de uma forma mais próxima dos internautas – devido às suas
características de circulação –, mais próprias e personalizadas das
notícias com agregação via RSS, Del.icio.us, espaço para comentários,
adição de vídeos e fotos e uma infinidade de novos serviços que são
constantemente adicionados para gerar uma interação mais intensiva
na blogosfera.
A interface entre espaço urbano, tecnologias móveis e ciberespaço,
identificadas na modalidade moblog, estabelece reconfigurações na
esfera da experiência ampliada de envio e acesso a mensagens e no
tícias em condições de mobilidade. A atualização de um blog através
do uso de dispositivos móveis digitais provavelmente é diferente de
uma atuação diante de um desktop e abre espaço para novas ca
racterizações desse gênero e a formulação de novas questões, prin
cipalmente se for levado em consideração o uso no mainstream media.
Pode-se indagar: que aspectos das rotinas produtivas jornalísticas
contemporâneas se alteram com uma produção em mobilidade propor
21 http://moblog.vivo.com.br/v1/default.aspx.
22 http://www.timstudio.com.br/home.
23 http://www.claroideias.com.br/portal/site/CIdeias/menuitem.1927e42abbf8aebb5d3e001064805
1a0/&idlocal=48.
24 Fotologs são blogs fotográficos com compartilhamento de imagens na internet.
266
cionada pelo moblog jornalístico? Como a convergência de funções (um
único profissional incorporando funções de produção de fotos, vídeos
e áudio, edição de textos) e a convergência multimidiática (um único
dispositivo incorporando câmara de foto e vídeo, gravador de áudio,
editor de textos, navegador de internet, acesso a email, conexões sem
fio e GPS) potencializa a produção da notícia ou interfere nela? Den-
tro desse contexto, devem ser identificadas como conseqüências ou-
tras características que resultam do desaparecimento do deadline (a
conexão permite a condição do estar online, em tempo real o tempo
todo) e da compressão do espaçotempo.
O uso intensivo de tecnologias móveis e da própria mobilidade
vinculado à conexão sem fio generalizada de fato diminui o tempo
para a execução de diversas tarefas antes centradas em um escritório
central. “[...] Os sistemas de conexão sem fio reduzem a busca e a
incerteza diminuindo o tempo exigido para que se obtenha o que se
necessita” (Mitchell, 2003:57).25 Pellanda (2006) enfatiza essas alte-
rações observadas no uso do moblog fora de um ambiente estático
caracterizado por um desktop em favor de dispositivos móveis com
acesso always on ao ciberespaço:
25 Tradução do Autor: “[...] wireless systems reduce search and uncertainty, and minimize the time
required to get what we need” (Mitchell, 2003:57).
267
desenvolvimento da microeletrônica com a minituarização dos com
ponentes a partir da década de 1970 (Castells, 1999), o que vai de
sencadear na portabilidade das tecnologias móveis digitais de co
municação na década de 1990 e início do séc. XXI (Castells, Fernández-
Andèvol, Qiu e Sey, 2006).
Lemos (2004) situa esse desenvolvimento em três fases: a pri
meira, na década de 1970, com o computador pessoal (PC); a segunda,
nas décadas de 19801990 com o “computador coletivo (CC); e, no séc.
XXI, “computadores coletivos móveis” (CCM), proporcionados pelas
tecnologias como laptop, palms e, principalmente, celulares e smart
phones voltados para a mobilidade e a conexão dentro de um cenário
de computação ubíqua. O termo “computação ubíqua” ou “ubicomp”
surgiu em 1991 com Mark Weiser para designar o aspecto de onipre-
sença dessas tecnologias nas quais “o computador desaparece nos
objetos”. Esse aspecto relacionase ao conjunto de ferramentas que
invade o diaadia das pessoas de forma quase imperceptível, de
tão natural que se torna num processo de convergência como o dos
aparelhos, o que está bem caracterizado no iPhone com sua tela táctil,
interface amigável e um conjunto de funções como PC, TV, rádio, câ-
mara, telefone, web.
Para Salaverría (2007), a convergência tecnológica, num sentido
mais amplo, se verifica no campo da comunicação no âmbito da pro-
dução, da difusão e recepção, empresarial e profissional. Fonseca e
Sousa (2006)26 enfatizam que “além da sobreposição/supressão de
funções, a busca da instantaneidade e a convergência para um pa
drão multimídia [presente nas empresas de comunicação com carac-
terísticas de cross mídia27] são fortes implicações da compressão do
tempo nas rotinas produtivas do jornalismo industrial”, com os re
pórteres assumindo outras funções.
268
Microblog – outra face dos blogs móveis
269
criou o Micrografias,³¹ uma categoria de microblog fotográfico, mas
que parte da mesma idéia. O Micrografias é atualizado a partir de um
telefone celular com fotografias do cotidiano, do espaço urbano. O jor-
nalista Javier Castañeda utiliza uma câmara VGA (SonyEricsson T610
e K320i). As imagens são postadas sem tratamento, sem edição e os
internautas podem fazer comentários.
270
dessa perspectiva de conexão sempre online com o ciberespaço, a
produção jornalística contemporânea (incluindose principalmente o
jornalismo cidadão) tem à disposição um cenário formatado para o de-
senvolvimento da narração em condições de mobilidade e em tempo
real. Esse “ambiente móvel de produção” reestrutura o campo do jor
nalismo no tocante à produção e difusão de informação, permitindo,
mais do que nunca, a instauração da instantaneidade da notícia devido
à conectividade dos dispositivos móveis digitais. Nesse sentido, Pellan-
da vai considerar que com
Considerações finais
271
Entendese que essas modalidades de blog geram uma nova relação
com os leitores/internautas, pois estes também realizam, muitas vezes,
navegação pelas notícias por meio de telefones móveis em movimento,
em deslocamento pelo espaço urbano. Logo, essa audiência é mais
sensível aos aspectos da atualização contínua e instantânea. A ques
tão da mobilidade e da conexão sem fio se apresenta como um ponto
central nessa perspectiva e deve ser levada em consideração no pro
cesso de produção.
Diante da observação dessas características, tornouse comum
no jornalismo digital o selo “em tempo real”, inserido em blogs e sites
noticiosos visando à caracterização de um jornalismo mais dinâmico do
ponto de vista da produção e da difusão. Portanto, parece factível que
os moblogs e microblogs, em combinação com as tecnologias móveis
digitais, representem movimentos indicativos de novos formatos para
o jornalismo, tanto em relação à demanda na produção quanto na di-
fusão e na recepção de conteúdo; e essa exigência pelo imediatismo
reflete-se, conseqüentemente, nas funções jornalísticas, no deadline e
na relação tempoespaço. As organizações jornalísticas também não
são imunes às transformações. Pelo contrário, elas precisam integrar a
produção e os canais de difusão de conteúdo gerados pelos repórteres
em campo que alimentam os moblogs e a produção geral.
As configurações da sociedade contemporânea, via expansão da
cibercultura, ensejam novos movimentos na interação entre espaço ur
bano e ciberespaço. Para o campo do jornalismo, os pesquisadores
devem lançar olhares atentos para a identificação das conseqüências e
das potencialidades inerentes ao processo da mobilidade e da adoção
intensiva de tecnologias móveis e conexões sem fio que permitem um
vínculo mais forte com as redes digitais. A blogosfera se revela como
uma das catalisadoras dessas condições através dos moblogs e dos
microblogs. Esses blogs móveis operacionalizam atividades relaciona
das à condição da mobilidade, que sempre foi almejada pelo jornalismo
272
na sua busca incessante pela notícia instantânea, em tempo real, do
noticiar primeiro. Durante os períodos de crises e de emergências, o
frenesi de uma cobertura com essas características ganha mais rele-
vância na disputa pela audiência alimentada pelo próprio anseio do
imediatismo do público.
Referências
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Porto Alegre: Sulina, 2006.
274
275
276
Henrique Antoun
Posfácio
277
paço das páginas web traziam para essa realidade, a conversa a partir
do início do novo século gira em torno dos blogs e do segundo es
tágio da web: uma rede totalmente democratizada e acessível para
os homens comuns publicarem seus conhecimentos e exprimirem sua
opinião. Há mesmo quem diga que a web 2.0 é o blog, e que o universo
www começou na Internet como “web logs”: páginas hipertextuais que
remetiam aos sítios e seus conteúdos. Não fosse a emergência das
interfaces de redes sociais e uma vaga sensação de engodo que nos
acomete, poderíamos nos entregar cegamente a essa interpretação.
Por um lado, chama a atenção que no blog haja certa fusão de
elementos fundamentais dos grupos de discussão com características
determinantes das páginas web. Os grupos de discussão que vão
emergir nos anos 1980, constituindo a rede usenet e a base das comu
nidades virtuais então nascentes, se organizam em torno da partilha do
conhecimento sobre algum tópico ou tema. Essa maneira de se ordenar
torna as redes sociais visíveis e duradouras, contribuindo para o seu
crescimento e proliferação. Diferentes das instituições ou dos grupos,
as redes sociais fazem circular, através de seus canais, notícias, dicas,
interesses, no seio de uma comunidade que partilha certas atividades
e age coletivamente. O canal de uma rede social é formado pela in
teração de seus membros. Em termos do conhecimento, uma grande
economia se faz quando os problemas da ação coletiva podem ser
resolvidos de modo simples e econômico por alguma tecnologia de co
municação. As redes sociais promovem comunidades de atividade ou
interesse, em vez dos grupos de opinião da imprensa ou das massas
de consumo da mídia irradiada.
Já as páginas web foram construídas a partir da necessidade de
se fazer de forma simples, fácil e dinâmica um documento virtual com
o material produzido de modo independente e disperso sobre certo
assunto. Tim-Berners Lee criou o universo das teias de comunicação
para automatizar a confecção de documentos a partir do material es
278
palhado na rede. Desse modo, o endereço virtual do sítio atrairia e
ordenaria textos, imagens, sons e vídeos disponibilizando um docu
mento organizado informacionalmente. As páginas web fizeram da in
ternet um espaço hipermediatizado, gerando um local concentrador de
informações sobre alguém, algo ou algum assunto. Esse espaço foi
apropriado pelos participantes das comunidades virtuais, criando os
sítios das comunidades ou seus anexos, que disponibilizavam seus
diversos materiais.
Há quem considere o sítio Slashdot o antepassado dos blogs.
Nesse sítio, era proposta alguma discussão sobre tema ligado à tecno
logia computacional, conectando alguns documentos com alguma no
tícia atual para propor o debate. Ele era formado por programadores
envolvidos com o movimento ligado ao sistema operacional Linux e à
programação com fonte aberta à modificação pelos usuários. Embo
ra o sítio tenha começado como uma ação entre uns poucos amigos
participantes do movimento open source, foi tendo sua leitura e parti
cipação ampliada e obrigou seus criadores a inventarem modos de pos
sibilitar essa expansão sem sacrificar seu caráter autônomo e informal.
Já havia, então, o material aberto para a discussão, o espaço para que
se fizessem os comentários, a enquete automatizada capaz de avaliar
o valor e o peso das opiniões na comunidade, o grupo dos produtores
e opinadores com valor acumulado para se tornarem moderadores
temporários dos materiais diariamente propostos, as páginas para que
os freqüentadores pudessem dar livre vazão a suas opiniões. Mas o
Slashdot não é um blog, do mesmo modo que os sítios da Amazon ou
do eBay tampouco o são.
Os blogs vão se tornar a principal maneira de se comunicar na
internet logo depois dos sítios e dos grupos de discussão enfrentarem
seu colapso comum no seio do processo da radicalização da guerra
em rede, a partir do recrudescimento do Zapatismo, por um lado, e
dos movimentos globais de resistência iniciados em Seattle, por outro.
279
Era como se o atentado de 11 de Setembro impetrado pela Al Qaeda
revelasse um limite para a primeira internet – vislumbrado nas violentas
e intermináveis guerras verbais (flame wars), nos palhaços que falam
de tudo para aparecer, nos ególatras que acham que sabem mais do
que ninguém sobre algo, nos trogloditas (trolls) que gostam de ofender
e humilhar os participantes das discussões (característicos dos grupos
de discussão), ou nas desfigurações (defacements) dos sítios por seus
antipatizantes, nos ataques de negação de serviço (DDOS) aos sítios
tornados alvos, nas derrubadas e seqüestros de redes, computadores
e salas de bate papo (chat rooms) do universo www – e, ao mesmo tem
po, apontasse a necessidade de ultrapassar esse limite com a trans
formação de suas práticas. Pois, desde o início, a internet permitira aos
movimentos e às atividades sociais uma crescente emancipação em
face das instituições e das comunidades tradicionais, permitindo que
a informal fluidez do movimento social ganhasse força e duração por
meio dos processos interativos da comunicação distribuída em rede.
Mas os limites dessa expressão seriam apropriados pelas empresas
e Estados e voltados violentamente contra esses movimentos a partir
do final de 2001.
Desde os anos 1980 que os movimentos de advocacia social e a
geração das Organizações Não-Governamentais estavam fortemente
condicionados ao uso dos grupos de discussão e da utilização das BBS.
E foi a gestão de informação impulsionada por essas redes interativas
que fez da comunicação distribuída uma das principais armas na luta
contra os governos disciplinares e as megacorporações no período.
A eficácia da reunião da ação militar desmanteladora com o controle
total da distribuição da comunicação, que mantinha os governos disci
plinares no bloco soviético, vai conhecer seu colapso funcional com a
entrada em cena da internet na comunicação globalizada. Por outro
lado, as guerras de informação dos estados e corporações contra as
redes dos movimentos sociais vão esbarrar na dinâmica transversal
280
dos grupos de discussão, que vão garantir a integridade dessas redes
nesse desigual embate.
Nos anos 1990, o poder integrador das páginas web e do uni
verso www trouxeram para a comunicação distribuída a reunião dos
diferentes movimentos em ações coletivas, seja para empreender uma
luta comum, seja para construir uma atividade comum. A dinâmica da
distribuição das informações e dos debates desenvolvidos pelos gru
pos de discussão se alia à gestão do conhecimento como um bem
comum de todos das páginas web e sítios virtuais. A paixão dispersiva
das opiniões e ideologias e a paixão concentradora do consumo e dos
gostos encontram sua remediação na mídia interativa de comunicação
distribuída. Nasce a guerra em rede (netwar), que permite aos movi
mentos sociais enfrentar vantajosamente estados e corporações. O
movimento zapatista, nascido em 1994, será o principal exemplo desse
poder, e a principal escola de aprendizado para ONGs e movimentos
sociais.
Duas novas modalidades de ação emergiam com a guerra em
rede. A primeira nasce da reunião dos grupos de discussão com as
páginas web, que vão trazer segurança para a comunicação anônima
entre parceiros na rede – pois os instrumentos interativos de busca
e enquete da comunicação distribuída tornam o anonimato reputável.
Na medida em que me mantenho no âmbito da ação empreendida
pela rede, sei que posso confiar em meu desconhecido parceiro por
meio das informações que a rede me oferece automaticamente a seu
respeito, produzidas pelo histórico de sua participação e pelas enque
tes feitas com o resultado das interações passadas de outros mem
bros da rede com ele. Esse tipo de informação impulsiona as orga
nizações sem líder (leaderless) como forma privilegiada de ordem
nas comunidades virtuais. A segunda é a zoação, ou enxameamento
(swarm), e o movimento de afluência (swarming) como táticas de luta.
Por meio desse tipo de ação, posso transformar instantaneamente
281
qualquer lugar em uma praça de guerra. A rede, sobretudo a rede
sem fio, permite coordenar a reunião e a dispersão dos participantes
anônimos de uma ação distribuídos em pequenos agrupamentos.
Como previsto no projeto original da internet, era possível manter a
segurança, o anonimato e a integridade da comunicação entre aliados
em um processo de luta qualquer. O rosto eternamente encoberto do
subcomandante Marcos exprimia essas qualidades na rede zapatista,
fazendo dos seus comunicados a voz anônima do coletivo, pois o rosto
e a voz de Marcos eram os de qualquer um que pertencesse à rede.
Teria essa primeira web sucumbido ao seu sucesso? Pois foi
o sucesso dessa primeira web quem gerou a marcha zapatista de
Chiapas à Cidade do México e o Fórum Social Mundial de Gênova
em 2001. O atentado de 11 de Setembro põe esse sucesso na contra
mão, rachando a instável aliança desses movimentos com seus partici
pantes e a opinião pública globalizada. Um exemplo significativo dessa
divisão pode ser visto por meio do colapso do tradicional grupo de
discussão formado para organizar os congressos hackers da série
HOPE, em 2001/2002, sob o impacto dos efeitos do atentado. Até o
congresso de 2000, a lista de discussão capitaneada pelo grupo 2600
mantinha uma coesão em suas posições; mas, após o atentado, o gru
po rachou e os hackers a favor de cooperar com a guerra e com os
EUA contra os fanáticos e comunistas vão se chocar violentamente
com os libertários anárquicos e vegetarianos indies contrários à guerra
e ao governo Bush. A lista naufragou em meio ao ódio, racismo e in
tolerância generalizados. Para o congresso dos hackers de 2004, um
blog substituiu a tradicional lista de discussão, abrigando um fórum de
debates. Após o atentado, os grupos foram submersos pela avalanche
de palhaços, ególatras e trogloditas e as páginas web sucumbiram aos
desfiguradores e invasores. Isso, acrescido aos spams, decreta a mor
te da web 1.0, abrindo espaço para a nova web e seus filtros eficientes,
mineração de dados miraculosa e redes sociais promissoras.
282
O movimento da web 2.0 começa em 2000 no blog do Cluetrain
Manifest, em que publicitários, marketeiros e empreendedores pensam
a internet como um lugar capaz de revolucionar a publicidade, o mar
keting e os negócios desgastados com a violência e estupidez da mídia
proprietária de massas e seu modelo invasivo e esmagador. A internet
devia ser como o blog: uma plataforma em que programas open source
tornariam o conhecimento de programação desnecessário e tornariam
o usuário um produtor e cooperador das empresas. Na nova web, a
publicidade encontraria a nova voz dos grupos da cultura da mídia, que
transformariam a publicidade em uma honesta recomendação crítica
dos usuários. Os usuários se transformariam em sócios das empresas
por meio de sua cooperação interessada na mesma medida em que as
empresas reconhecessem seu valor e garantissem sua livre expressão
e participação. A cooperação, a colaboração e a livre expressão seriam
os instrumentos desta nova web que uniria empresários e usuários por
meio da livre comunicação.
Em 2003, essa nova web mostra seu poder político auxiliando os
movimentos contra a Guerra do Iraque a promoverem a primeira ma
nifestação internacional descentralizada de massas através do blog
Move On. Pouco depois, ela mostra sua força novamente, arrecadan
do através do blog Dean for America 40 milhões de dólares em con
tribuições de 50 e 100 dólares para o candidato à indicação do partido
democrata Howard Dean. Independente de serem considerados os
espaços de uma personalizada “escrita de si”, os blogs guardavam o
poder organizador das páginas web reunido ao poder noticiador dos
grupos de discussão. E os códigos impulsionados pelos programas de
fonte aberta permitiam que novas aplicações fossem inventadas a partir
dos fluxos de comunicação de base produzidos pelos usuários. Se,
em 2003, o The New York Times vai celebrar a opinião pública global
como quarto poder por sua manifestação contra a guerra, em 2006, a
tradicional revista Times vai eleger o anônimo “você” como homem do
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ano pela cooperação generalizada promovida por meio da nova web
entre usuários e empresas, com o YouTube sendo apresentado como
principal exemplo.
Uma coisa chama de imediato a atenção: os blogs já nascem com
filtros de palhaço, derrubadores de ego, pesquisadores de opinião,
controladores de spam e mineradores de dados – todos os antídotos
contra as mazelas da primeira web. Um sítio como o Digg pode surgir
como uma promissora empresa da Nova Economia, tendo todo o seu
trabalho realizado pela interação entre os instrumentos de classificação
e enquete da interface e a produção dos blogs na web. Um trabalho
inteiramente colaborativo, com a cooperação emergindo da conexão
dos blogueiros com as ferramentas da interface.
A revolta no Digg quando da divulgação da chave criptográfica das
mídias de alta definição revelou um estremecimento nessa imagem
idílica. Em uma nova versão das antigas revoltas de trabalhadores, os
“sócios,” que até então trabalhavam graciosamente para o empreen
dimento bilionário, resolveram pôr de lado a cooperação e partiram
para a guerra, forçando a empresa a fazer várias reviravoltas até aco
modar a situação. Era como se o espírito da velha web se insurgisse
e trouxesse de volta todo o conflito varrido para debaixo do flash,
com direito a hackers, protestos e revoltas. A web 2.0 sempre fora um
modo de exorcizar a revolução democrática despertada em Seattle. Os
protestos de então traziam a internet para as ruas, bradando contra o
modelo irradiativo da indústria, do comércio, da mídia e dos governos. O
atentado de 11 de Setembro autorizou o forte controle dos aeroportos,
que bloqueou o swarming, enquanto a brutal repressão policial aos
protestos e a institucionalização da tortura em Guantánamo fizeram a
multidão refluir para a web javanizada.
Mas a nova aliança entre interfaces de redes sociais e blogs co
meça a ensaiar sua revanche, conduzindo uma revolta de dimensões
planetárias que transformaram Obama em presidente dos EUA. A derro
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ta de Hillary para a indicação do Partido Democrata seguida da derrota
de McCain mostraram a viabilidade de construir uma candidatura fun
dada no apoio dos eleitores. A internet já havia garantido a derrota do
conluio das elites católicas e da mídia proprietária de massas brasileira
nas eleições de 2006. McCain tentou usar a net como mídia de massas
comprando o topo do Google e do Digg, o que não funcionou. Assim
como não havia funcionado o conluio dos conservadores e tucanos no
Brasil despejando milhares de agentes na web para repetir suas pia
das infames contra os adversários, além de orquestrar um uníssono
na mídia proprietária de massas afinado com seus interesses. Parece
que os velhos métodos de mesmerização e repetição ininterrupta não
funcionam tão bem na web. Lá como cá, as poucas vozes dissonantes
existentes puderam se fazer ouvir e soaram mais fortes que a dos en
dinheirados. O capital social parece ter encontrado sua mídia na inter
net para combater o capital monetário.
Do que os blogs serão capazes, ainda estamos por ver. Este livro
ajuda a compreender essa nova mídia investigando as transformações
que ela introduz nas mais diversas áreas de atuação.
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Sobre os autores
Sobre as organizadoras
Adriana Amaral é doutora em Comunicação Social pela PUCRS (Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul), mestre e jornalista pela mesma
instituição. Fez Estágio de doutorado em Sociologia da Comunicação no
Boston College, Estados Unidos, com bolsa do CNPq (2004-2005), do qual
também é Consultora ad hoc. É professora e pesquisadora do Mestrado em
Comunicação e Linguagens da UTP (Universidade Tuiuti do Paraná). Autora
do livro Visões Perigosas: uma arque-genealogia do cyberpunk (Editora Sulina,
2006), Adriana também é sócia-fundadora e membro do Conselho Científico
Deliberativo da Associação Brasileira dos Pesquisadores em Cibercultura
(ABCiber), além de co-editora da Revista Interin (UTP) e parecerista de
diversos periódicos científicos. Seus interesses de pesquisa são: comunicação
e cibercultura, imaginário da ficção científica, cultura cyberpunk, plataformas
sociais de música online e apropriações e reconfigurações das tecnologias
pelas culturas juvenis . Seus temas de pesquisa encontram-se no blog http://
palavrasecoisas.blogspot.com. Contato: adriamaral@yahoo.com
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Sandra Portella Montardo é doutora e mestre em Comunicação Social pela
PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) e publicitária
pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Fez estágio de Doutorado
na Université René Descartes, Paris V, Sorbonne, com bolsa concedida pelo
CNPq. É consultora ad hoc do CNPq. Faz parte do corpo docente do Mestrado
Profissionalizante em Inclusão Social e Acessibilidade do Centro Universitário
Feevale e é professora do Curso de Comunicação Social da mesma instituição.
Atua também como pesquisadora dos Grupos de Pesquisa Comunicação e
Cultura e Informática na Educação, vinculados ao CNPq. É membro do Con-
selho Científico Deliberativo da Associação Brasileira de Pesquisadores em
Cibercultura (ABCiber), gestão 2007-2009. Escreve sobre publicidade on-line,
marketing digital e análise de redes sociais na web no blog Tekhnè (http://www.
tekhne.blogspot.com. Contato: sandramontardo@feevale.br.
Sobre os convidados
André Lemos é Ph.D. em Sociologia pela Paris V, Sorbonne (1995), Pós-
Doutorado pela University of Alberta e McGill University, Canadá (2007-2008),
Professor Associado da Faculdade de Comunicação da UFBa e Pesquisador 1
do CNPq. Autor de vários artigos e livros sobre cibercultura foi membro do júri
do prêmio Best of Blogs, da Deutsche Welle, Bonn, Alemanha e é membro do
conselho internacional do Prix Ars Electronica para Digital Communities e Board
do “Wi. Journal of Mobile Media” e “Canadian Journal of Communication”, Ca-
nadá. Blogueiro desde 2001, idéias, livros, artigos, projetos, podem ser vistos
em http://andrelemos.info.
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Sobre os participantes
Adriana Andrade Braga é pós-doutora (PUCRS), doutora em Ciências da Co-
municação (Unisinos/RS) e graduada em Psicologia (FUMEC-MG). Atualmente,
é professora adjunta no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
da PUC-RJ, onde desenvolve o projeto de pesquisa Interações Digitais. É
autora do livro Personas Materno-Eletrônicas: uma análise do blog Mothern
(Sulina, 2008), organizadora da coletânea CMC, Identidades e Género: teoria
e método, (Editora da UBI, Portugal, 2005) e vencedora do Harold Innis Award
2007 (Media Ecology Association/EUA) e do Prêmio Capes de Teses 2007.
Contato: adrianabraga1@yahoo.com.br.
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Jan Schmit possui doutorado em Sociologia pela Bamberg University (Ale-
manha). Atualmente, é Pesquisador Senior em mídia interativa digital e comu-
nicação política no Instituto Hans-Bredow em Hamburgo. Seus interesses de
pesquisa incluem comunicação on-line em geral e a web 2.0 e os softwares
sociais em particular. Mais informações podem ser encontradas em seu blog,
disponível em http://www.schmidtmitdete.de.
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de interação e redes sociais. Seu principal tema de pesquisa é a participação
do público no jornalismo on-line. Tem publicado artigos sobre fenômenos de
interação social mediada por computador em serviços de escrita coletiva e
na blogosfera. É um dos administradores da comunidade Insanus.org (www.
insanus.org), em que edita os blogs Martelada, Garfada, Conversas Furtadas
e colabora no blog Nova Corja. Contato: marcelo.trasel@pucrs.br.
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da transição, ed. Univali, 2001, e Monitores de Mídia, ed. UFSC e Univali,
2003) e co-organizador de outros três títulos, além de duas dezenas de artigos
em periódicos do Brasil, Portugal, Peru, Equador e Colômbia. Desde maio de
2005, mantém o blog Monitorando (http://monitorando.wordpress.com). Conta-
to: rogerio.christofoletti@uol.com.br.
Sobre o tradutor
Fábio Fernandes é jornalista e tradutor de vários livros, como A era das má-
quinas espirituais, de Ray Kurzweill, e a nova tradução de Neuromancer, de
William Gibson, lançada em 2008. Fábio é doutor em Comunicação e Semió-
tica pelo programa da PUCSP, professor e vice-coordenador do curso de
Tecnologias e Mídias Digitais da PUC-SP. É autor de A construção do imaginário
cyber: William Gibson criador da cibercultura (ed. Anhembi Morumbi, 2006)
e mantém o blog Pós-Estranho (http://www.verbeat.org/blogs/posestranho).
Contato: ffernandes1@uol.com.br
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