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O filme de Baz Luhrmann é uma orgia de cor, romance, música, tristeza, dor, amor.

A película
pretensamente musical é um hino à boémia romântica parisiense do final do século XVIII. Um escritor
inglês de nome Christian (Ewan McGregor ),novato em Paris, talentoso aspirante aos meandros artísticos
da cidade-luz, mistura-se acidentalmente na troupe boémia de, imagine-se, Toulouse-Lautrec (John
Leguizamo). Zidler (Jim Broadbent), o patrão do Moulin Rouge de então dirige uma casa que é mais do
que uma sala de espectáculos. Toda a nobreza e alta burguesia parisiense ali desfila nas noites quentes
potenciadas por belas mulheres, dispostas a tudo. Christian é proposto para escrever uma peça para o
Moulin Rouge, cujo destino depende de um poderoso Duque (Richard Roxburg).
Conflito: Satine (Nicole Kidman), a mola que tudo despoleta. A mais bela cortesã de Paris, prometida ao
Duque por Zidler, apaixona-se pelo escritor inglês como quem trai a sua própria natureza, adquirida com
uma vida de sexo e luxúria. Christian encanta-a com as incontornáveis palavras de poeta, que chamam o
amor nas noites frias. O argumento é todo ele clássico, de tragédia grega, ou não tivesse Luhrmann
rodado Romeo And Juliet.
Ideologicamente, os valores presentes não fogem da convencional salvação do artista perante o poder
materialista através da liberdade, da beleza e do amor. Convencional para os preceitos das vanguardas
modernistas da Belle époque, entenda-se. De Resto, em termos de mecânica intertextual, são nítidas
diversas referências de certa forma codificadas a músicas ou mesmo clássicos do cinema, como é
exemplo a colagem a The sound of music, de Robert Wise, (1965). Por falar em música, a banda sonora,
diacronicamente estranha ou mesmo inadequada, serve imperativos interpretativos e cognitivos dirigidos
ao espectador. Quando Luhrman cola uma cena do filme a uma música dos Queen ou dos Police, espera
do espectador um conhecimento à-priori, que leva a um entendimento perfeito da cena em si. De resto,
em termos puramente comerciais e de propaganda às ambiências do espaço Moulin Rouge, a colagem
funciona na perfeição.
Como dizia no início, Moulin Rouge de Luhrmann tem um charme clássico alicerçado ainda em A Dama
das Camélias de Dumas filho ou no mito de Orfeu, o Deus grego da música que tem que salvar a sua
Eurídice do submundo. Até o coro está presente nos boémios modernistas da companhia de teatro. Tem
um charme contemporâneo que nos é dado inevitavelmente pela beleza pura e ao mesmo tempo
sofisticada de Kidman, autêntica deusa grega dos nossos dias, e pela banda sonora marcadamente pop,
a fazer lembrar os espectáculos da Broadway. As cores são garridas, os trajes muito mais do que
provocatórios, os ambientes escuros e quentes, românticos e muitas vezes poeticamente intimistas.
Quando me preparo para visitar Paris no final do mês, senti-me claramente deslumbrado com o filme, que
incompreensivelmente ainda não tinha visto. Aconselho, mesmo àqueles que desconfiam da estética
massiva das grandes produções de Hollywood. Um filme verdadeiramente marcante, come what may.

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