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Cascais Criativo

Estudo sobre o potencial de desenvolvimento do


concelho de Cascais com base nas indústrias criativas

Relatório Intermédio
(draft)

Câmara Municipal de Cascais

Dinâmia – Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica

ISCTE – Instituto Superior de Ciência do Trabalho e da Empresa

Abril 2008
Equipa:
Pedro Costa (Coordenação)
Berta Rato
Bruno Vasconcelos
Gustavo Sugahara
Miguel Magalhães
Nuno Teles
Ricardo Ferreira

Abril 2008
Dinâmia – Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica
ISCTE – Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa
Av. Das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa
Contacto: dinamia@iscte.pt
ÍNDICE
0. Sumário executivo
1. Introdução: contextualização e objectivos do estudo
1.1. Contextualização e objectivos genéricos
1.2. Estrutura deste relatório intermédio e seu enquadramento no plano de trabalhos global
2. A noção de cidades criativas e sua aplicabilidade a um concelho como Cascais
2.1. Enquadramento: as indústrias criativas das margens para o centro das políticas públicas,
no mundo e em Portugal
2.2. Delimitação do quadro teórico e conceptual usado na análise
2.2.1. Actividades criativas, clusters e desenvolvimento territorial
2.2.2. As origens do interesse pela criatividade e da sua associação às dinâmicas
territoriais locais/regionais
2.2.3. Indústrias criativas, indústrias culturais e cidades criativas: aspectos
conceptuais
2.2.4 Um conceito operativo para a análise do cluster das indústrias criativas no
concelho de Cascais
2.3. A aplicabilidade a um concelho com as características de Cascais
3. Apresentação de estudos de caso internacionais (benchmarking)
3.1. Introdução
3.2. Uma estratégia holística de fomento da cidade criativa a nível local - Toronto (Canadá)
3.3. A iniciativa “Capital da Cultura” como fomento da cidade criativa: Liverpool – Capital da
Cultura 2008 (Reino Unido)
3.4. A cidade criativa com base na combinação de regeneração urbana e da densificação do
cluster dos media - Manchester (Reino Unido)
3.5. A reconversão de zonas industriais em declínio através da dinamização do sector da
cultura – Sheffield: O Cultural Industries Quarter e o Cluster de indústrias criativas e digitais
(Reino Unido)
3.6. A cidade criativa na motivação da população para as artes e na integração de grupos
étnicos minoritários - Christchurch City (Nova Zelândia)
3.7. A cidade criativa assente em grandes projectos de renovação urbana, associados a
novos clusters económicos – Barcelona: 22@Barcelona (Espanha)
3.8. Uma aposta integrada e coesa em dois sub-clusters específicos: o design e os media -
Singapura (Singapura)
3.9. A cidade criativa promovida pelos grupos artísticos: uma iniciativa bottom-up -:
Amesterdão – o Kinetisch Noord e a regeneração da doca NDSM (Holanda)
3.10. O desenvolvimento da cidade criativa com base num cluster-motor: a indústria
cinematográfica – Glasgow: a capital do cinema da Escócia (Reino Unido)
4. O sector cultural e criativo em Cascais
4.1. A actividade cultural e criativa em Cascais
4.1.1. Os equipamentos culturais e a sua utilização
4.1.2. A actuação municipal na cultura
4.1.3. Outros indicadores sobre a actividade criativa no concelho
4.2. Uma tentativa de estimação do peso do sector cultural-criativo em Cascais
4.2.1. O mapeamento das actividades culturais e criativas e as suas limitações
4.2.2. Avaliação do peso das actividades culturais e criativas no concelho de Cascais
4.3. Os públicos da cultura em Cascais
4.4. Principais instituições e eventos
4.5. Políticas culturais e financiamento do sector cultural e criativo no concelho
5. Os “recursos criativos” em Cascais
5.1. Cascais: um concelho com algumas especificidades no quadro de uma região
metropolitana em evolução
5.2. A avaliação do potencial criativo do concelho
5.2.1. A importância da medição da capacidade criativa e cultural das cidades e o
papel dos indicadores enquanto ferramentas metodológicas
5.2.2. Uma proposta de dimensões de análise e indicadores para o estudo do
concelho de Cascais
5.2.3. Formulação e análise de um índice de criatividade local
6. Diagnóstico do potencial das actividades criativas no concelho – visão síntese
6.1. Síntese dos recursos criativos para o desenvolvimento de Cascais
6.1.1. As pessoas
6.1.2. Os espaços
6.1.3. O empreendedorismo
6.1.4. As instituições
6.1.5. Os mercados
6.1.6. As representações
6.2 Análise SWOT
7. Princípios gerais e linhas estratégicas de actuação
7.1 Dos estrangulamentos fundamentais à identificação de uma visão estratégica para o
desenvolvimento das indústrias criativas no concelho
7.2. Identificação preliminar de linhas estratégicas de desenvolvimento
7.3 Identificação preliminar de alguns projectos estruturantes
8. Nota conclusiva: sequência dos trabalhos
9. Bibliografia

Anexos
Sumário Executivo
Sumário Executivo

- Dado o papel que as actividades criativas desempenham no crescimento económico das


sociedades mais dinâmicas dos nossos dias, elas são crescentemente uma prioridade da
intervenção pública um pouco por todo mundo. Este relatório apresenta um diagnóstico das
indústrias criativas e o seu papel no desenvolvimento económico do concelho de Cascais e
propõe algumas estratégias, no domínio das políticas públicas, que coloquem estas
indústrias no centro da dinamização económica e social do concelho. Embora demonstre
uma forte articulação com os principais agentes criativos do concelho, este é um relatório de
carácter intermédio. Só após a sua discussão com peritos e agentes do concelho, podem as
linhas intervenção propostas beneficiar da estruturação e afinamento que permitam a sua
implementação óptima.

- Se bem que sejam hoje ubíquos na promoção do desenvolvimento por parte das principais
instituições internacionais (UE, OCDE, UNESCO, etc.), a plasticidade de conceitos como
indústrias criativas, indústrias culturais ou cidades criativas adquiriram nas mais diversas
realidades, produziram alguma ambiguidade e confusão na delimitação do campo de
análise e intervenção. No entanto, só com um campo teórico bem delimitado se conseguirão
instrumentos de intervenção concretos que potenciem as oportunidades financeiras
disponíveis (p.e. QREN) e a articulação dos diferentes actores: Estado (administração local
e central), terceiro sector e empresas e sociedade civil do concelho. Neste relatório partimos
para o nosso estudo com uma definição razoavelmente estreita de indústria criativa: a
indústria que têm a sua origem na criatividade, competências e talento individuais e que tem
um potencial para criação de bem-estar e emprego através da geração e exploração da
propriedade intelectual.

- A análise comparativa de diferentes casos internacionais de sucesso da aplicação de


estratégias públicas neste domínio permitem-nos retirar valiosas pistas para intervenção
para o concelho de Cascais. A propositada diversidade dos casos apresentados apontam
um amplo conjunto de instrumentos e condições essenciais ao sucesso desta estratégia de
intervenção (a importância da criação de clusters criativos cujo impacto físico e simbólico
sinalize a transformação do tecido económico; a criação de estruturas de apoio que
permitam sinergias entre diversos sectores; as melhores estratégias de angariação e
canalização de fundos; o envolvimento das populações, etc.).

- O estudo da realidade cultural e criativa do concelho de Cascais, ainda que concentrado


em algumas instituições e eventos, mostra um concelho com um forte investimento
municipal no campo da cultura, com públicos fiéis. Contudo, o mapeamento do sector
criativo do concelho mostra um cenário comparativamente débil em relação aos concelhos
vizinhos. Embora com uma classe criativa em crescimento, esta manifesta um peso relativo

1
no emprego total do concelho baixo para região (embora acima da média nacional). O
carácter suburbano do concelho e a forte concorrência regional podem explicar por isso que
ao investimento cultural não se associe uma classe criativa com um peso robusto na
população e no tecido empresarial local. É, todavia, de sublinhar a existência de uma
concentração, acima da média da região, no subsector da arquitectura, o que se pode
traduzir numa vantagem comparativa em relação aos concorrentes.

- O concelho mostra, contudo, um enorme potencial nesta área. Além do seu dinamismo
cultural, a existência de um enquadramento institucional mobilizável no âmbito das
indústrias criativas (existência de sólidas instituições culturais e de apoio ao
empreendorismo), a sua caracterização simbólica (Cascais enquanto estância balnear e
espaço de múltiplas memórias), demográfica (perfil sócio-económico e educacional acima
ao nacional, multiculturalidade, ) e geográfica (localização da maior área metropolitana do
país, permitindo o acesso a recursos e procura necessários ao desenvolvimento das
indústrias criativas) mostram um concelho com grande potencial de atracção das indústrias
criativas. No entanto, é necessário apostar na criação de redes, mobilização e articulação
dos recursos disponíveis de forma a ultrapassar o ponto de partida mais recuado do
concelho face aos seus vizinhos. A elaboração de um indíce quantitativo de “criatividade”
local que permita a comparação do concelho face aos seus vizinhos quanto aos recursos e
potencialidades pode ser um valioso instrumento na avaliação e atracção das indústrias
criativas.

- A identificação de um conjunto de seis eixos de avaliação: pessoas, espaços,


empreendorismo, instituições, mercados e representações, permite-nos não só uma
sistematização das potencialidades, fraquezas, ameaças e oportunidades do concelho
(análise SWOT) quanto às indústrias criativas, como avançar as linhas de intervenção das
políticas públicas que devem nortear os diferentes propostas estratégicas no concelho (p.e.
desenvolvimento de pólos de formação, criação de clusters criativos, articulação de
agentes, abertura de novos mercados, promoção externa do concelho, etc.).

- Partindo da análise feita dos recursos, constrangimentos e oportunidades do concelho,


apresentamos o que consideramos serem as maiores ameaças do concelho, que importa
ultrapassar: ausência de massa crítica, débil aposta na diferenciação do concelho,
assimetria territorial, fraca mobilização das populações e débil reconhecimento social das
actividades criativas. Oito propostas exploratórias de dinamização das indústrias criativas
para o concelho são assim delineadas tendo em conta a realidade e idiossincracias do
concelho: 1 - cluster audiovisual/multimédia; 2 - pólo criativo no centro histórico; 3 - pólo de
formação avançada; 4 - agência para a promoção da criatividade do concelho; 5 - cluster de
artes visuais criativas; 6 - enquadramento institucional para a articulação dos usos dos
equipamentos municipais; 7 - projecto de inclusão social pela arte e criação; 8 - exploração

2
do interface mar-ambiente-natureza-cultura. Acreditamos que estas propostas não devem
ser tomadas isoladamente. Só a aposta múltipla em diferentes áreas pode criar efeitos que
extravasem os sectores de intervenção e beneficiem todo o concelho.

- Na sequência deste relatório intermédio, pretende-se um processo de discussão


participado e mobilizador, que tenha por alvo o diagnóstco efectuado bem como,
particularmente, as linhas estratégicas apontadas e as propostas de projectos
estrreuturantes identificadas. Numa lógica de envolvimento das diversas estruturas
municipais e de abertura aos agentes económicos, culturais e sociais do concelho importa
agora nesta fase discutir abertamente estas propostas bem como todas as outras que
venham a ser sugeridas, de forma a consubstanciar, no relatório final, uma visão estratégica
e um conjunto de acções concretas a executar que sejam o mais consensualizados e
mobilizadores da sociedade local que for possível.

3
Introdução: contextualização e
objectivos do estudo - Discussão com painel de
Estud
-- Apresentação à CMC

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1.1. Contextualização e objectivos genéricos

Este trabalho resulta de uma solicitação feita pela Câmara Municipal de Cascais ao
1
Dinâmia/ISCTE , no âmbito de um protocolo estabelecido entre as duas entidades, com o
objectivo de analisar o potencial de desenvolvimento do concelho de Cascais com base nas
indústrias criativas.
Este objectivo geral passa por duas linhas de trabalho paralelas mas complementares:
por um lado perceber o papel que estas actividades podem desempenhar no
desenvolvimento de médio/longo prazo do concelho e como poderá o município apostar
numa estratégia que as permita valorizar e aproveitar o seu potencial ao nível da criação de
valor económico, qualidade de vida e bem-estar; por outro lado, averiguar qual o efectivo
potencial que o concelho de Cascais apresenta para o desenvolvimento destas actividades,
e para, de forma diferenciadora, aproveitar os seus recursos criativos para estruturar uma
estratégia de desenvolvimento que, tendo em conta as vantagens competitivas de Cascais,
se foque nas suas especificidades, e dessa forma possa ser mais apropriada e sustentável,
num quadro de uma economia e de uma região que inevitavelmente apostarão também de
forma crescente neste tipo de actividades.
Este estudo surge num contexto em que, seja em termos académicos, seja no policy-
making, a importância das actividades criativas emerge como fonte de crescimento e
competitividade económica, bem como de todo o seu potencial nos domínios da inclusão
social e de participação, ou da requalificação urbana. Este interesse, está bem patente aliás
na leitura do ponto 2.1, ou seja um interesse renovado pelas actividades culturais e
criativas e sua importância para a promoção de um desenvolvimento territorial sustentável
(seja particularmente a nível internacional, seja também já no contexto nacional).
Neste quadro, e conforme definido na proposta de trabalhos efectuada pelo
Dinâmia/ISCTE, este estudo envolve três níveis de análise e de actuação distintos,
correspondentes a outros tantos objectivos específicos a atingir com este projecto:
(i) Um primeiro nível, correspondente à realização de um diagnóstico da situação do
concelho em relação aos seus recursos criativos e ao seu potencial de
desenvolvimento (incluindo a exploração e análise do conceito de cidade criativa,
a recolha de “boas práticas” e análise de casos de sucesso noutros países e o
diagnóstico específico da situação do concelho de Cascais);
(ii) Um segundo nível, correspondente à elaboração de uma estratégia de intervenção
neste domínio e ao desenho de uma estrutura institucional de implementação
que suporte a actuação a desenvolver; e,
(iii) Um terceiro nível, correspondente ao apoio directo à Câmara Municipal na
implementação de uma eventual estrutura institucional que lidere a acção a
desenvolver.

1
O Dinâmia - Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica, é uma unidade de investigação
associada ao ISCTE - Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa

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Uma visão global esquemática de todo este processo, bem como de alguns
pressupostos metodológicos de base pode ser obtida através da consulta da figura 1.
A primeira fase, de diagnóstico, implica uma síntese analítica da caracterização da
2
situação do concelho face aos recursos criativos e culturais , bem como a esquematização
das principais potencialidades e debilidades, bem como ameaças e oportunidades, através
de uma análise SWOT.
Neste quadro, este diagnóstico da situação do concelho em relação aos recursos
criativos, pode ser decomposto, em três vertentes de análise complementares, que
confluem para a referida análise SWOT: (i) uma exploração e análise conceptual do
conceito de cidade criativa; (ii) uma recolha de “boas práticas” e análise de casos de
sucesso um pouco por todo o mundo, numa lógica de benchmarking; e (iii) um efectivo
diagnóstico da situação do concelho de Cascais, seja no que concerne à situação em
termos de agentes, recursos e práticas culturais e criativas, seja, de forma mais ampla, em
termos dos recursos mobilizáveis para a dinamização de actividades criativas.
Em termos metodológicos, esta primeira fase, implica uma variedade de técnicas e
formas de actuação. Por um lado, apoia-se na recolha, análise e discussão de informação
sobre o conceito de cidade criativa (e na operacionalização da sua utilização a este caso
concreto) bem como sobre as actividades criativas e o seu papel na promoção do
desenvolvimento territorial e da competitividade; Por outro lado, assenta igualmente na
sistematização e avaliação de resultados de case studies diversos em outros países
(particularmente em europeus); Para além disso, e naquilo que é a parte mais substancial
do diagnóstico efectuado, centra-se numa análise detalhada das actividades e práticas
culturais no concelho de Cascais, com base na informação empírica existente (estatísticas,
estudos, carta de equipamentos,...), e no contacto com agentes e instituições chave, bem
como num esforço de identificação e análise detalhada dos recursos criativos do concelho,
com base na recolha de informação empírica, tanto quantitativa como qualitativa, e em
entrevistas com agentes-chave.
A segunda fase, associada à elaboração da estratégia de intervenção e ao desenho de
estrutura institucional de implementação, passa, num primeiro momento por uma
identificação preliminar de linhas estratégicas de desenvolvimento e de alguns projectos
estruturantes (a qual centra a abertura à discussão alargada com os agentes do concelho)
pela identificação, para depois, numa lógica participada, levar a um plano de intervenção
local mais especificado, com o afinamento das linhas estratégicas de intervenção e a
estruturação e aprofundamento de eixos de intervenção assentes em projectos bem
definidos e concretizados, bem como pela sugestão de uma solução institucional adequada
à implementação das medidas preconizadas.

2
E não uma caracterização de base propriamente dita (realizada de raiz e de carácter mais
descritivo), face à existência de diversos documentos de caracterizações recentes, seja no âmbito dos
principais documentos de planeamento e definição estratégica para o concelho de Cascais, seja no
campo específico das actividades culturais (em particular com os diversos estudos efectuados pelo
Observatório das Actividades Culturais recentemente no concelho).

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Esta fase implica não só uma discussão interna à equipa (e alargada ao painel
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consultores especializados respectivo ), com base no diagnóstico efectuado na 1ª fase,
como igualmente uma discussão aprofundada e elaboração de uma estratégia e de
propostas concretas de actuação em estrita articulação com a Câmara Municipal e com os
agentes que se identifiquem como fulcrais para a actuação; e uma discussão aprofundada e
mobilização dos mesmos agentes para a identificação e implementação de uma estrutura
institucional responsável pela dinamização da actuação.
Finalmente, a 3ª fase, corresponde à implementação de estrutura institucional e
respectivas medidas. Procura-se neste caso a colaboração com a Câmara Municipal (e
demais agentes identificados) no processo de facilitação e na mobilização dos actores de
forma a implementar uma estrutura institucional eficiente para prossecução da estratégia
definida (com o apoio directo pela equipa à actuação da Câmara Municipal, ao nível de
consultoria técnica específica).
Note-se que a lógica metodológica subjacente a todo este processo é a do planeamento
estratégico, justificando-se esta opção não só face aos objectivos de reflexão estratégica
pretendidos (e ao contexto de gestão permanente da mudança exigido a um processo deste
tipo), como particularmente face à utilidade do envolvimento dos diversos agentes
relevantes para este processo, o qual beneficiará claramente da mobilização dos actores
potencialmente interessados nesse processo de mudança e do estabelecimento de
parcerias visando a sua implementação.
A Câmara Municipal de Cascais tem aqui um papel fundamental como facilitador e como
mobilizador dos agentes existentes (e de potenciais novos actores) bem como das suas
vontades. A capacidade de envolver estes agentes e de os motivar para a acção será um
factor-chave decisivo para o sucesso da estratégia de desenvolvimento definida.
A metodologia de planeamento estratégico preconizada passa então pelo envolvimento
de actores no diagnóstico da situação e na proposição de medidas concretas de actuação
(sendo um ponto crucial aqui a discussão deste relatório intermédio), num quadro
abrangente de mobilização na resposta aos desafios competitivos com que Cascais se
defronta, a qual passará pela afirmação de clusters fortemente estruturados, e
territorialmente enraizados, para a qual a articulação entre actores e a colaboração dos
poderes públicos com a comunidade envolvente é fundamental.

3
O painel de especialistas consultores da equipa (nos campos das actividades culturais e do
desenvolvimento urbano e planeamento regional) é constituído pelos Professores Doutores Idalina
Conde, João Seixas e José Manuel Henriques.

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Diagnóstico Definição da Estratégia Implementação

DIAGNÒSTICO DA SITUAÇÂO

Definição de uma Afinamento das


Exploração e análise Visão linhas
conceptual estratégicas
Apoio à
implementação
Identificação de uma
Estudo de casos a nível ANÁLISE preliminar das Estruturação e estrutura
internacional SWOT Linhas aprofundamento institucional de
(benchmarking) Estratégicas de dos eixos de suporte à
Desenvolvimento intervenção actuação

Análise da situação do
concelho: Sugestão de
- o sector cultural e projectos Definição e
criativo estruturantes concretização
- os “recursos para discussão dos projectos
criativos”

Fórum de APRESENTAÇÃO
discussão PÚBLICA
Com base em: (envolvimento FINAL
 Análise documental RELATÓRIO RELATÓRIO
dos agentes)
 Recolha e tratamento de INTERMÉDIO FINAL
informação qualitativa e
quantitativa
 Entrevistas a actores-chave
- Discussão com painel de peritos - Discussão com painel de peritos
-- Apresentação à CMC -- Apresentação à CMC
1.2. Estrutura deste relatório intermédio e seu enquadramento no plano de trabalhos global

No âmbito da lógica global de estruturação do trabalho apresentado no esquema da figura 1, este relatório
intermédio visa, por um lado, sintetizar os resultados do processo até ao momento, e em particular do diagnóstico
efectuado, bem como da proposta preliminar de linhas de actuação estratégica e de alguns projectos
estruturantes, mas por outro lado, procura igualmente servir como ponto de apoio fundamental à discussão e ao
envolvimento dos diversos stakeholders (dentro e fora do universo das instituições ligada à câmara municipal) em
torno de um projecto de desenvolvimento para o concelho centrado nas indústrias criativas e nas actividades
culturais.
Neste quadro, este relatório intermédio, é pela sua própria natureza, um relatório incompleto e inacabado,
aberto a sugestões e a melhorias que os diversos intervenientes considerem pertinentes, seja no que toca ao
próprio diagnóstico, seja, particularmente, no que concerne ao esboço (e é de isso mesmo que neste momento
ainda falamos, de um esboço) de linhas estratégicas de actuação e de sugestões de eixos ou projectos
estruturantes que são efectuados neste relatório.
Este relatório será uma base para o seguinte (o relatório final), que resultará das correcções deste mesmo
documento, das sugestões e comentários apresentados (e alguma informação complementar que não foi possível,
por razões diversas incluir neste relatório intermédio), bem como, obviamente do aprofundamento das linhas
estratégicas de desenvolvimento e da definição em concreto dos projectos, na linha do anteriormente referido e do
patente na figura 1.
Nessa altura, após a conclusão do período de definição de estratégia (para a qual apontamos um prazo de
mais 1 a 2 meses), prevê-se não só a entrega do relatório final pela equipa à CMC, como igualmente com uma
sessão pública final de apresentação de resultados, com a Câmara Municipal e a participação dos agentes locais.
Por agora, e no âmbito deste relatório intermédio, fica então a matéria de base para uma discussão alargada
sobre o potencial de desenvolvimento do concelho de Cascais com base nas indústrias criativas.
Este relatório prossegue, após este primeiro ponto introdutório, de enquadramento, com uma reflexão
conceptual sobre a noção de cidades criativas e sua aplicabilidade a um concelho como Cascais (no capítulo 2). É
analisada a crescente centralidade das actividades criativas na formulação das políticas públicas (e
contextualizada a sua aplicação em Portugal), e é delimitado o quadro teórico e conceptual utilizado na análise,
procurando explicitar um conceito “cidades criativas” que seja operacional, em articulação com os problemas do
desenvolvimento local/regional e competitividade territorial. Neste sentido procura-se ainda apresentar uma leitura
acerca da aplicabilidade deste conceito ao concelho de Cascais.
No capítulo seguinte (capítulo 3) é efectuada uma breve apresentação de alguns “casos de sucesso”, mais ou
menos emblemáticos, de operações de desenvolvimento territorial assentes nas actividades criativas
(maioritariamente resultantes de políticas públicas explícitas mas também algumas resultantes de dinâmicas
territoriais mais “espontâneas”). Numa lógica de benchmarking, e tentando tirar conclusões/ensinamentos que
sejam úteis para o caso de Cascais, são sintetizados através de um conjunto “fichas-síntese” os factores-chave
em relação a algumas experiências, de diversos tipos, ocorridas nos anos recentes um pouco por todo o mundo.
No capítulo 4 (O sector cultural e criativo em Cascais), faz-se uma síntese de alguns aspectos caracterizadores
da situação do concelho em relação a estas actividades. Não se pretendendo, como acima se refere, mais uma
caracterização exaustiva do concelho nem deste sector em particular (face às diversas caracterizações recentes
existentes, que nos permitem um bom volume de informação de base e uma análise cuidada das principais
tendências em curso, em particular os diversos estudos do OAC sobre as actividades culturais no concelho), e
efectuada uma breve síntese de alguns elementos caracterizadores, numa óptica de diagnóstico da situação
concelhia face ao potencial de desenvolvimento de um cluster de actividades criativas.
Na prática, é efectuada inicialmente uma breve apresentação do que é o sector cultural, a actividade cultural e
os agentes culturais no concelho, numa perspectiva comparada com os concelhos envolventes e os padrões
nacional e metropolitano (equipamentos existentes e sua utilização, despesas com cultura, dados sobre outras
actividades criativas). A partir deste enquadramento é efectuado um exercício de mapeamento do sector criativo
no concelho, numa lógica de estimação do peso do sector cultural-criativo em Cascais, seguido depois de uma
focagem nalguns aspectos particulares que são aprofundados nesta lógica de diagnóstico: uma breve análise dos
públicos culturais existentes no concelho; um realçar das principais instituições e eventos actualmente existentes;
e uma breve referência à evolução das políticas culturais e do financiamento do sector cultural e criativo no
concelho
No ponto seguinte (capítulo 5 - os “recursos criativos” em Cascais), a ideia é ter uma visão mais ampla sobre o
concelho e uma base para a identificação dos recursos criativos que possam proporcionar o seu desenvolvimento
(as instituições existentes; a qualificação dos recursos humanos; os hábitos culturais; o ambiente; a qualidade de
vida; a diversidade e tolerância; a receptividade à inovação; etc.). Isto é feito por duas vias complementares.
Num primeiro momento, efectuando uma breve síntese panorâmica da situação do concelho de Cascais em
relação a um conjunto de aspectos fundamentais para o desenvolvimento destas actividades, como a
caracterização do tecido socioeconómico do concelho (principais aspectos em relação a tendências demográficas;
qualificação da população; evolução da actividade/sectores económicos), do seu tecido institucional (principais
agentes e políticas mobilizáveis e oportunidades que representam) e da sua situação “geoestratégica” (inserção
no âmbito da Área Metropolotina de Lisboa e caracterização das dinâmicas locais no âmbito de uma realidade
maior – movimentos pendulares, etc).
Num segundo momento, tentando a elaboração de um índice (não obstante todos os desafios e questões
metodológicas que esta opção possa levantar), que permita comparar a situação do concelho com a envolvente
(concelhos limítrofes; AML; país), no que concerne ao seu potencial criativo, com base num conjunto de
indicadores que cubram diversos domínios fundamentais em termos dos recursos criativos (qualificações,
empreendedorismo, tolerância, inovação, etc…).
O capítulo 6 (Diagnóstico do potencial das actividades criativas no concelho – visão síntese), dá-nos já, como o
próprio nome indica, uma perspectiva de síntese em relação ao diagnóstico efectuado. Partindo de uma leitura
transversal às dimensões de análise anteriores, e assumindo um conjunto de seis elementos centrais em termos
dos recursos criativos identificados (as pessoas; os espaços; o empreendedorismo; as instituições; os mercados;
as representações) é dada uma perspectiva de síntese, mais qualitativa, do potencial “criativo” do concelho de
Cascais, à qual se segue, uma síntese final dos pontos fortes/fracos e oportunidades/ameaças, através de uma
matriz SWOT.
No capítulo 7, e já numa perspectiva clara de definição de estratégia e de linhas de acção concretas, são
identificados alguns princípios gerais e algumas linhas estratégicas de actuação, ainda que preliminares, que são
colocados à discussão dos stakeholders locais nesta fase do processo, e que são uma base fulcral para os
trabalhos a desenvolver na fase seguinte do processo. São identificados alguns estrangulamentos fundamentais
que têm dificultado o desenvolvimento das actividades criativas no concelho, e com base na proposta de uma
visão estratégica para o desenvolvimento das indústrias criativas em Cascais, são sugeridas quatro linhas
estratégicas de desenvolvimento, para servirem de base à estruturação de um conjunto de medidas e eixos de
intervenção a serem definidos e concretizados na fase posterior dos trabalhos. Nessa óptica, e tendo por base
esses princípios, é ainda efectuada a identificação preliminar de um conjunto de projectos (ou mais exactamente
de “cachos” de projectos) estruturantes que poderão ter um papel fundamental no desenvolvimento desta
estratégia e cuja importância e exequibilidade importa discutir, nesta fase, com os diversos agentes concelhios.
Finalmente, no ponto 8, uma breve nota conclusiva dá-nos conta do planeamento dos trabalhos previstos na
sequência deste relatório intermédio.
A noção de cidade criativa
e a sua aplicabilidade
a um concelho como Cascais
2.1. Enquadramento: as indústrias criativas das margens para o centro das políticas públicas, no
mundo e em Portugal

As indústrias criativas têm vindo a tornar-se cada vez mais importantes nas estratégias de desenvolvimento
nas modernas economias do conhecimento “pós-industriais”. Assim, e depois de durante muito tempo o sector
criativo ter sido considerado como tendo apenas um interesse relativamente marginal para as economias,
actualmente ele é reconhecido em muitos países como uma chave estratégica essencial para assegurar a
competitividade internacional.
O reconhecimento crescente do impacto – potencial ou actual – destas indústrias nas economias e sociedades
actuais (sejam directos, através dos gastos e rendimentos gerados em bens e serviços provenientes das
indústrias criativas; sejam indirectos, em negócios “não criativos” mas que beneficiam destas actividades, como a
restauração, a hotelaria, o imobiliário, etc.; sejam ainda os múltiplos efeitos induzidos sobre a economia -
acumulação de know-how, criação de públicos, regeneração urbana, inclusão e expressão participativa de
minorias,…) tem estado na base deste interesse. Estas actividades, para além de gerarem emprego, criarem valor
e fomentarem também o desenvolvimento económico local nas suas diversas outras vertentes (promovendo a
inclusão social, associando-se à qualificação ambiental e regeneração urbana, possibilitando a participação cívica
e a expressão cultural e identitária,…), têm vindo igualmente a assumir-se como centrais em estratégias de
marketing territorial ou de afirmação da imagem e da identidade das cidades ou regiões, podendo fazer com que
estas se tornem mais atractivas ao estabelecimento de novos negócios, residentes ou visitantes.
Conforme reconhecem aqueles que profusamente têm vindo a analisar o sector das indústrias criativas nos
anos mais recentes, de entre os factores decisivos que contribuem para a sua emergência e sucesso, destaca-se
geralmente a existência de um ambiente cosmopolita, aberto e tolerante, que facilite o estabelecimento de
contactos externos e onde a inovação e a criatividade se possam desenvolver sem entraves burocráticos ou
limitações de carácter institucional e onde o contacto com os mercados potenciais seja facilitado.
É neste quadro de fundo que tem sido crescentemente destacado o peso destas actividades nas sociedades
contemporâneas (em termos do seu contributo para a criação de valor acrescentado e de emprego, mas também
de todas as diversas outras vertentes do desenvolvimento territorial acima referidas), e sobretudo, o seu elevado
crescimento, destacando-se as indústrias criativas como aquelas que mais crescem no conjunto das actividades
económicas. Segundo estudos de diversas entidades internacionais (como a UE ou a ONU), as indústrias criativas
representam já cerca de 7% da produção mundial, esperando-se que cresçam nos próximos anos a uma taxa
4
média superior a 10% .
Para além da profusa produção académica e teórica, em várias áreas disciplinares, sobre este tema e das
múltiplas experiências e apostas efectuadas nos últimos anos em termos da actuação política nestas actividades,
é admitida, crescentemente, ao nível das instituições internacionais (UE, OCDE, UNESCO, Conselho da Europa),
a importância e o peso destas indústrias criativas para o desenvolvimento dos territórios. Em particular, e para
além da assunção clara pela OCDE do papel das industrias criativas no desenvolvimento local (OCDE, 2005),
4
Embora as metodologias de cálculo variem substancialmente consoante as fontes, como se verá de seguida, estes valores em
relação o peso destas actividades e sobretudo, às suas tendências de crescimento, são reconhecidos unanimemente (com
pequenas variações) – veja-se por exemplo, o mais mediático destes estudos – CE/KEA (2006).
destaca-se a defesa por parte da União Europeia desta importância (na sequência aliás de um claro compromisso
por parte de alguns dos seus estados-membros, como o Reino Unido ou outros, de políticas fortes neste
sentido…), que tem trazido esta questão para o centro do debate académico e político, em particular nos anos
mais recentes. Após a declaração de Essen, em 1999 (Essen Declaration - Ten Axioms for the Culture Industries
in Europe. EU Presidency Conderence: “Culture Industries in Europe – a comparasion of development concepts”,
Essen, Maio 1999), que defende a centralidade das indústrias culturais, é sobretudo com o mediátco estudo da
KEA para a Comissão Euiropeia (EC/KEA (2006), The Economy of Culture in Europe, Study prepared for the
European Commission (Directorate-General for Education and Culture), October 2006, Brussels: EC) que se veio
a popularizar esta noção e institucionalizá-la definitivamente no discurso e na praxis política (mesmo em países,
como Portugal, onde ela não era muito adoptada anteriormente). Este facto abriu caminho para a recente
Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao
Comité das Regiões sobre uma agenda europeia para a cultura num mundo globalizado (EC, 2007), cuja
discussão está actualmente em cima da mesa na Europa alargada a 27 países.
Face ao exposto, importará portanto impulsionar o desenvolvimento de uma economia mais “criativa” criando
condições para que as indústrias criativas se desenvolvam, através do aproveitamento de sinergias e dos efeitos
multiplicadores que daí possam resultar. Alguns dados permitem constatar que para Portugal este desafio ganha
uma urgência acrescida, já que o país apresenta em geral resultados bem pouco favoráveis nos indicadores e
índices utilizados em comparações internacionais no campo da criatividade e do emprego criativo. Por exemplo,
no que se refere ao emprego no sector cultural, dados do Eurostat referem que em 2002 Portugal apenas
apresentava 1.4% da população activa em comparação com os 2.5% na EU15 e com 2.1% nos novos membros e
candidatos (EC/KEA; 2006).
É neste contexto externo e internacional favorável que se começam a notar alguns fortes sinais de
oportunidade, a nível nacional, para uma actuação consistente que possa apoiar a consolidação de um cluster de
indústrias criativas no concelho de Cascais.
Para além da existência de vontade política e de uma actuação voluntarista a nível local, começa a verificar-se
um contexto favorável em termos da definição de políticas a nível nacional que permitam enquadrar uma actuação
consistente e consequente neste campo.
Com efeito, pela primeira vez, alguns dos documentos de reflexão estratégica e de orientação política a nível
nacional (e regional) consagram a importância da aposta neste sector e constatam a oportunidades de
crescimento deste cluster.
O Estado Português materializa esta prioridade no âmbito do Plano Tecnológico ao definir como principais os
objectivos estratégicos no capítulo das Indústrias Criativas: Divulgar e promover o conceito de Indústrias Criativas
em Portugal; Consolidar a base de conteúdos culturais e informativos; Promover o potencial económico das
Indústrias Criativas pelo acesso ao financiamento e aos recursos humanos; Promover as cidades criativas em
Portugal.
Por seu lado, a confluência com a oportunidade aberta com o redesenhar dos programas de financiamento
5
estrutural da economia portuguesa (em particular no âmbito do QREN vem abrir possibilidade de explorar alguns
instrumentos (e criar outros) que permitam a implementação concreta de acções que visem o desenvolvimento
destas actividades. Seja no campo da valorização dos factores de competitividade (onde há margem aberta para o

5
E isto não obstante as fracas condições de acesso e elegibilidade da região de Lisboa.
apoio à formulação de clusters, à inovação, à I&D e à criatividade), seja na capacitação do potencial humano
(onde a componente criativa poderá ter um papel muito valorizado, a diversos níveis), seja ainda na vertente de
valorização do território (por exemplo, assumindo o funcionamento em redes ou a actuação em politicas concretas
com a de cidades), existem claras oportunidades de esboçar actuações que permitam promover o
desenvolvimento do cluster criativo, havendo o dinamismo necessário por parte dos agentes respectivos, a nível
local, regional e nacional.
Será portanto fundamental uma cada vez maior articulação entre Estado e Sociedade Civil. A um Estado que
tem vindo a assumir cada vez mais um papel regulador e incentivador junta-se uma Sociedade Civil, à qual tem
vindo a ser solicitado progressivamente um papel mais activo e dinamizador. Ou seja, o Estado tem a
possibilidade e o dever de regular e incentivar o comportamento da Sociedade Civil, que se quer mais activa na
busca de sinergias e efeitos multiplicadores através do desenvolvimento de parcerias, no seio de realidades e
formas de governança concretas, que possam, por exemplo, configurar situações como distritos industriais ou
clusters, possíveis (e frequentes) no domínio das indústrias criativas. O caminho operacional para isto, na senda
de múltiplos exemplos recentes, um pouco por todo o mundo, sugere a hipótese de criação das mais diversas
formas de actuação e de instrumentos de política (cultural, económica, de desenvolvimento urbano, …), que
poderão passar, entre muitos outros, por Agências de Desenvolvimento Local, Business Inovation Centres,
Centros de Incubação, Ninho de Empresas, Centros de Apoio à Criação de Empresas, Centros de Inovação e
Transferência de Tecnologia, Centros Tecnológicos, Parques Tecnológicos e muitos outros tipos de agentes de
dinamização, públicos e/ou privados.
No caso concreto da região de Lisboa, mais evidente se torna esta oportunidade, e isto não obstante as
inevitáveis restrições financeiras e limitações associadas ao quadro financeiro do novo QREN para a região.
Sendo esta região necessariamente uma referência ao desenvolvimento das indústrias criativas no país (com um
peso de mais de 50% em relação no total nacional na esmagadora maioria dos indicadores que possam ser
esboçados sobre o peso das actividades culturais e criativas – cf., p.e., Costa, 2007), é a única com uma massa
crítica suficiente para gerar dinâmicas economicamente sustentáveis na maior parte dos sectores de actividade do
cluster. As referências existentes nos documentos preparatórios ao novo Programa Operacional Regional ao
sector (2007, CCDR-LVT), embora bem menos explícitas (e consagrando muito menos fundos disponíveis) do que
no PO da região Norte, são de qualquer forma um sinal político positivo, embora claramente as fontes de
financiamento fulcrais para o desenvolvimento destas actividades na região, neste quadro, tenham de passar
claramente para além dos fundos estruturais comunitários.
A um nível infra-regional, e não obstante o potencial criativo da região poder estar naturalmente centrado no
núcleo da área metropolitana, nomeadamente na cidade de Lisboa (e, cada vez mais, também em pólos como os
existentes em Oeiras…), o próprio concelho de Cascais apresenta condições importantes para dinamizar e
aproveitar estas oportunidades de desenvolvimento das indústrias criativas, não só pela existência de alguma
massa crítica e competências acumuladas neste domínio ou pelo grau de diversidade cultural e de
“cosmopolitanismo” que regista a nível regional, como igualmente pela concentração de actores-chave
fundamentais para este desiderato (note-se só, a título de exemplo, o peso empregador de um agente como a
Estoril-Sol, para o sector), ou ainda pela oportunidade assumida pela vontade política de aposta nesta área (de
que este documento será mais um exemplo, na sequencia de outros estudos realizados para mapear o sector
cultural ou de uma aposta estratégica em agências para actuar em áreas fulcrais para o desenvolvimento
concelhio…), bem como ainda pelas diversas propostas ou intenções de investimento no sector registadas no
concelho nos anos mais recentes…
Constata-se portanto neste contexto que muitos dos conceitos associados às indústrias criativas, embora por
vezes não directamente explicitados ou não dessa forma formulados, estão já ou começam já a ser desenvolvidos
e de alguma forma inseridos nos vocabulários dos actores relevantes: Estado, Sociedade Civil e Terceiro Sector.
Decorre daqui que existe uma intenção manifesta que visa o desenvolvimento das indústrias criativas no
concelho. Será importante constatar que esta intenção expressa a nível local é parcialmente coincidente com
algumas das linhas de orientação ao nível das políticas nacionais e regionais, o que sugere uma preocupação
unânime e justificada com o desenvolvimento de uma sociedade do conhecimento e de uma economia
competitiva, em que a criatividade é um input essencial, que poderá e deverá ser plenamente aproveitada pelos
actores locais. Haverá portanto que trabalhar na concertação inter-institucional, de forma a potenciar o trabalho
conjunto em torno de objectivos estratégicos assumidos como comuns a todos estes níveis de intervenção.
2.2. Delimitação do quadro teórico e conceptual usado na análise6

2.2.1. Actividades criativas, clusters e desenvolvimento territorial

O conceito de indústrias criativas inclui, no seu significado mais generalizado, um vasto conjunto de sectores
onde o talento e a criação individual são o principal factor de produção e onde a ideia de negócio (ou pelo menos
de actividade económica) assume uma considerável relevância. As actividades destas indústrias, que aliam
criadores, gestores e profissionais de áreas tecnológicas, dão origem a produtos e serviços comercializáveis cujo
valor reside essencialmente nos seus atributos criativos, inovadores e artísticos.
Este conceito, que tem vindo a ser desenvolvido desde a década de 90 e hoje é de utilização generalizada,
revela-se mais abrangente do que o de indústrias culturais, na medida em que engloba não só conteúdos criativos
de natureza cultural e intangível, mas também outros produtos ou serviços que contenham elementos criativos
substanciais, abrangendo sectores que vão desde as tecnologias da informação ao design, vídeo, fotografia,
moda, produção artística, cinema, arquitectura, mercados de arte e produção de conteúdos, entre muitos outros.
Na prática, o que distingue as indústrias criativas das restantes é o facto de a criatividade ser um elemento
crucial para a produção destes bens e serviços. No entanto, e à semelhança de outras indústrias (nas quais a
criatividade também poderá existir, embora de forma menos determinante), a articulação com a noção de
inovação e com a ideia de negócio são elementos fundamentais, para além de se registar uma crucial importância
da implantação territorial e do papel das dinâmicas territoriais locais ou regionais no seu desenvolvimento.
É neste quadro que importa atentar na articulação entre as lógicas de organização sectoriais e territoriais
destas actividades, onde a noção de cluster pode assumir um papel fundamental. Um cluster de indústrias
criativas, entendido como uma concentração geográfica de organizações que têm na sua função “produção” a
criatividade como input nuclear e que têm ainda a particularidade de estar fortemente ligadas entre si tanto em
relações verticais como horizontais, será uma unidade de análise eventualmente interessante para entender as
dinâmicas de desenvolvimento das actividades associadas às indústrias criativas. Esta importância será ainda
maior ao consideramos, no âmbito do mesmo cluster, diversos outros agentes não directamente “criativos” que
mantêm uma forte ligação com aquelas entidades e são fundamentais para a estruturação destes mercados (em
campos como a formação, a articulação institucional, a I&D, a difusão de informação, etc.).
O objectivo da análise a que nos propomos associa-se portanto a estudar o potencial de desenvolvimento de
um cluster de indústrias criativas ancorado nas actividades culturais e criativas no concelho de Cascais, tendo em
conta as noções genéricas aqui enunciadas.
No entanto, apesar da ampla disseminação e da extrema visibilidade mediática e política do conceito de
indústrias criativas nos anos mais recentes, esta não é de todo uma definição consensual e pacífica, sendo

6
Uma parte substancial do texto desta secção sobre o quadro teórico e conceptual das indústrias criativas apoia-se (e reproduz
integralmente alguns excertos) num texto anteriormente produzido por alguns dos membros da equipa responsável por este
estudo. Este texto foi originalmente apresentado na XVI Conferência da RESER (The European Association for Research on
Services), subordinada ao tema “Services Governance and Public Policies” e realizada no Instituto Superior de Ciências do
Trabalho e da Empresa (ISCTE), em Lisboa, em 28-30 de Setembro de 2006, tendo sido posteriormente publicado, em língua
inglesa, na série de working papers do Dinâmia/ISCTE (Costa, P; M. Magalhães, B. Vasconcelos e G. Sugahara, 2006, On
‘Creative Cities’ governance models: a comparative approach, Dinâmia WP nº2006/54). Uma versão revista desse texto
encontra-se em actualmente em publicação no Services Industries Journal (vol 28, nº3, April 2008)
frequentemente alvo das mais variadas e discordantes interpretações, as quais revelam frequentemente os seus
ainda relativamente incertos contornos (justificados face às profundas transformações económicas das sociedades
contemporâneas, à desadequação e desactualização dos instrumentos tradicionais para a sua conceptualização e
contabilização, à própria natureza destas actividades, etc.) e a sua difícil operacionalização prática.
Com efeito, ao olharmos para estes conceitos, verificamos facilmente que ao longo dos últimos anos têm
ganho influência e popularidade, tanto no discurso académico, como no âmbito político e do policy-making, novos
conceitos como “cidades criativas” e “indústrias criativas”, sobrepondo-se aqueles que eram conceitos mais
tradicionais e convencionalmente legitimados como os de indústrias culturais, actividades culturais ou actividades
artísticas (no campo cultural) ou mesmo a conceitos como “actividades inovadoras” ou outros, numa perspectiva
mais ampla. Contributos fundamentais, quer de autores como Charles Landry (Landry, 2000), Richard Florida
(Florida, 2002) ou Richard Caves (Caves, 2002) entre muito outros académicos e policy-advisers, quer de
agências e instituições públicas (como o Department of Culture, Media and Sport – DCMS - ligado ao governo do
Reino Unido, entre muitos outros exemplos em diversos países), têm progressivamente marcado o polícy-making
e o debate científico com estas noções, desde os anos 90 à actualidade.
De igual forma, um número significativo de instituições públicas, quer a nível nacional quer a nível local/regional
(muitas vezes no âmbito de parcerias mais amplas, associando-se a outros actores culturais e urbanos privados),
tem posto em prática estas ideias em todo o mundo, dando grande visibilidade (mas também considerável
diversidade) a estes conceitos. Quer no Reino Unido, onde se encontra o berço de muitas destas ideias, quer em
países como a Austrália, a Nova Zelândia, o Canadá ou muitas outras zonas na Europa Continental e na Ásia
Oriental, têm sido recorrentemente analisados e divulgados estudos de caso de sucesso, associados a operações
de âmbito urbano e/ou cultural, relacionados com esta “euforia criativa”. Mesmo no universo das grandes
instituições internacionais, estes conceitos têm sido progressivamente introduzidos e são actualmente usados e
destacados quotidianamente (p.e., pela Comissão Europeia, OCDE, UNESCO...), destacando-se em particular o
grande impacto do estudo efectuado pela KEA para a Comissão Europeia em 2006 (CE/KEA, 2006).
No entanto, estas noções de “cidades criativas” ou de “actividades criativas” não deixam ainda de ser
relativamente ambíguas e estão como acima referimos longe de ser consensuais. Estamos perante conceitos
multifacetados, que reflectem as mais variadas e difusas concepções seguidas pelos seus utilizadores. Podemos
efectivamente encontrar estas ou expressões semelhantes empregues como referência a uma grande variedade
de conceitos teóricos, reflectindo as mais variadas abordagens e perspectivas sobre as mesmas questões
culturais ou urbanas, ou mesmo, sendo o resultado de uma ampla diversidade de percursos evolutivos nas várias
áreas disciplinares da produção de conhecimento científico e actuação pública (nos campos de economia cultural,
do planeamento urbano, dos estudos de inovação, dos estudos culturais, da geografia, etc.).
Em paralelo, vários outros conceitos têm sido desenvolvidos para explicar a dinâmicas destes espaços criativos
(experience economy, buzz economy, etc.), resultado da articulação feita com a produção teórica em campos
paralelos (sistemas produtivos locais, meios inovadores, sistemas regionais de inovação, clusters, pólos
tecnológicos, cidades inteligentes, etc.), numa multiplicidade de abordagens a estas experiências e dinâmicas
centradas na “criatividade” que traduzem, na prática, em grande parte, a progressiva confluência de três grandes
perspectivas de pesquisa: (i) as actividades da cultura e a criação artística; (ii) o desenvolvimento regional e o
planeamento territorial; e (iii) a inovação e o desenvolvimento económico numa perspectiva sectorial.
Como resultado de toda esta diversidade conceptual, as formas de operacionalização (e quantificação) destes
conceitos têm-se traduzido numa ainda maior dificuldade em estabelecer consensos e bases comuns de
investigação, que bem patente tem ficado na necessidade recorrente de efectuar “Creative industries mapping
documents” que permitam identificar e sistematizar as actividades criativas, os quais se têm multiplicado em
muitos países (Inglaterra, Canadá, países nórdicos, países do sudeste asiático, etc…), por iniciativa de instituições
locais ou mesmo de organizações supranacionais.
Um bom retrato de toda esta diversidade é fornecido por Klaus Kunzmann (2006), ao explicitar os múltiplos
campos de análise da criatividade numa região urbana:

Figura 2.2: Campos de análise da criatividade no espaço urbano

In Kunzmann, K. (2005) Creativity in Planning: a Fuzzy Concept? DISP, 162 (3)

Da mesma forma, o próprio sector criativo, de fronteiras muito difusas, pode ser questionado e analisado (e
tem-no sido…) das mais múltiplas perspectivas. A sua grande diversidade (mesmo cingindo-nos apenas a um
sector “criativo” centrado nas actividades mais “culturais” ou “artísticas”), pode ser apreendida pela figura seguinte,
representando um esforço de síntese, da European Cultural Foundation, com base em outros modelos
conceptuais de diversas instituições e fóruns de discussão internacionais (Wiesand e Sondermann, 2005, p.7):
Figura 2.3 - O Sector Criativo – Arte, Media e Património numa Perspectiva Europeia

Tendo em conta toda esta diversidade iremos focar a nossa discussão conceptual nas duas expressões mais
comuns usadas no discurso académico e político nesta área: as noções de “indústrias criativas” (e o seu confronto
com a mais tradicional noção de indústrias culturais”) e de “cidades criativas” (sem ter portanto a pretensão de que
qualquer destas abordagens, na sua multiplicidade, cubram todas as recentes perspectivas sobre as actividades
económicas “criativas”).
2.2.2. As origens do interesse pela criatividade e da sua associação às dinâmicas territoriais
locais/regionais

Na realidade, estes conceitos têm sido profusamente usados na acção política, particularmente em estratégias
de desenvolvimento urbano. Com o intuito de promover o crescimento e a vitalidade das cidades, múltiplas
iniciativas suportadas na ideia de “criatividade” têm vindo a ser planeadas e desenvolvidas, por exemplo, no
âmbito de estratégias de desenvolvimento local, de operações de renovação e requalificação urbana ou de acções
de desenvolvimento regional centradas em sectores mais inovadores ou menos convencionais. O reconhecimento
de que o conhecimento e a inovação são matérias fundamentais para manter o potencial competitivo e atractivo
nas sociedades contemporâneas mudou radicalmente a forma de pensar e de agir dos actores económicos e
institucionais.
Na busca permanente por “experiências” e “fórmulas” de gestão urbana de sucesso foi encontrando terreno
comum em torno da ideia de criatividade, ainda que nalguns casos o ambiente onde essa criatividade possa
emergir e desenvolver-se, ou os aspectos associados aos mecanismos de regulação e às suas formas de
governança, possam ser eles próprios o foco primacial dessas intervenções e o factor decisivo para o seu
sucesso. As actividades culturais, criativas por natureza, tendem a ser um dos pilares destas concepções e a
assumir um papel crucial nas estratégias de desenvolvimento, embora seja importante salientar que a criatividade
pode obviamente emergir de outros campos e pode estar presente nas mais diversas actividades.
Não obstante este cenário relativamente confuso e pouco claro em torno dos conceitos (claramente
correlacionados…) de “cidades criativas” e de “actividades criativas”, é claro para nós que, por detrás desta
diversidade conceptual, existem noções comuns de conhecimento e inovação associados a novos produtos ou
actividades, novos actores ou instituições e novas formas de organização ou governança.
A centralidade destes conceitos na análise académica e no policy-making, um pouco por todo o mundo, nos
anos mais recentes, tem origens variadas (veja-se a Caixa 2.1 para uma sistematização destas origens).
Caixa 2.1:Esquematização das origens para o recente interesse na
criatividade

Uma organização possível para esquematizar a crescente discussão acerca do papel


central das actividades e cidades criativas no desenvolvimento territorial, é a defendida
por Costa (2005), sugerindo cinco grandes origens para o recente desenvolvimento deste
interesse pela criatividade, no que concerne à preocupação com a promoção da vitalidade
e competitividade urbanas:

a) A ideia de “Cidade Criativa”, tal como foi desenvolvida por autores como Charles
Landry (2000), Peter Hall (1998), Ralph Ebert et al. (1994), entre muitos outros, e a
progressiva articulação com a análise das Indústrias Criativas (através do estudo das
indústrias culturais) e com múltiplas aplicações práticas ao nível do policy-making (ex.
DCMS, no Reino Unido). Esta noção foi, adoptada, tanto por académicos como por
planeadores urbanos e formuladores de políticas, em vários contextos, sendo usada, não
só como grelha analítica, mas igualmente como referência estratégica e ferramenta de
intervenção no desenvolvimento urbano. É frequentemente suportada na lógica de
valorizar “boas práticas”, quer em casos directamente relacionados com actividades
culturais criativas, quer em casos de soluções “criativas” de pontos de vista mais
institucionais ou organizacionais. Tem sido progressivamente incorporada na agenda
política em vários países (regeneração urbana, políticas de desenvolvimento local, etc.),
como o Reino Unido, a Alemanha ou o Canadá, bem como ao nível das instituições
europeias, conciliando campos disciplinares como o planeamento urbano, as políticas de
desenvolvimento local, o urbanismo e a arquitectura, a gestão urbana ou a sociologia.

b) A noção de uma “Europa Criativa”, assumida por instituições de investigação


internacionais (p. e. European Research Institute for Comparative Cultural Policy and the
Arts – ERICArts, 2002; Council of Europe; etc), ou mesmo posições similares por
instituições internacionais, assumindo “politicamente”, por exemplo, o lançamento de uma
“Rede de Cidades Criativas” (UNESCO), adoptando uma noção alargada de actividades
criativas, e dando particular atenção às especificidades das formas de governança.
Conciliando algumas das preocupações precedentes com a obtenção de diversidade
cultural (UNESCO, Conselho da Europa, etc.) e acrescentando outras perspectivas
disciplinares (psicologia, gestão, etc.), assume abordagens ainda mais interdisciplinares
que a noção anterior. O foco é aqui colocado nas ideias de governança e de gestão da
criatividade artística, suportando-se numa abordagem empírica baseada em estudos de
caso que configuram um conjunto de exemplos de relações bem sucedidas entre
criatividade artística, governança cultural, gestão inovadora e desenvolvimento urbano. É
prestada particular atenção à actividade cultural associada a mecanismos de regeneração
urbana, sustentada em condições especiais no que respeita à criatividade e resultante de
“meios” e de formas de governança específicas.

c) A ideia da existência de uma “Classe Criativa” (Florida, 2002; Florida e Trinagli,


2004), assumida como um recurso determinante para a competitividade territorial,
considerando o seu papel crucial nos processos de desenvolvimento e regeneração
urbana em muitas cidades. Esta perspectiva, ligando a criatividade das cidades à
capacidade de atracção da “classe criativa” (com capacidade para dominar tecnologia,
talentosa, e propensa à tolerância), distingue, com base empírica, as cidades “bem
sucedidas”, tendencialmente cidades mais “abertas”, receptivas à diferença e
solidariedade. Este polémico contributo, que tem sido muito criticado no que concerne a
alguns dos seus aspectos metodológicos e conclusões secundárias, tem a importância
fundamental de alertar para algumas importantes e significativas questões teóricas, em
particular, para o ponto-chave da articulação da criatividade com as questões das
competências e do capital humano.
Caixa 2.1 – (cont.) Esquematização das origens para o recente
interesse na criatividade (cont.)

d) A consciência da especificidade das “Indústrias Criativas”, no âmbito da análise


económica, particularmente através do contributo de Richard Caves (Caves, 2001) sobre
as particularidades do funcionamento real destas actividades, entendido na amplitude do
seu contexto institucional. Esta abordagem, originária do campo da economia (embora
mais da economia industrial do que da tradição da economia cultural) e conciliável com
outras abordagens, como a da “Economia Criativa” (mais relacionada com a importância
dos direitos de propriedade – ex. Howking, 2001), baseia-se no desenvolvimento do
conceito de “indústrias criativas”, enquadrando a análise da organização das indústrias
culturais num contexto institucional mais alargado. As actividades culturais são
analisadas em termos económicos, mas com um foco na componente criativa e nas
especificidades dos bens e instituições culturais, tendo em particular atenção as relações
(contratos) estabelecidas entre actores.

e) A valorização dos aspectos associados à criação e à criatividade no campo da


análise das actividades artísticas, mesmo no corpo conceptual “mainstream” da
economia cultural (ex: Throbsy, 2001; Towse, 2004; Handke, 2004), com o
reconhecimento da importância do estudo da criatividade artística e da sua incorporação
nos produtos culturais. Esta mudança (ou, no mínimo, este crescente interesse) da
economia da cultura pelos mecanismos de criação, recupera a herança da economia da
cultura e articula-a com a análise da inovação, suscitando um novo interesse pelo estudo
do valor criativo não apenas do lado da procura, mas igualmente do da oferta (sendo a
provisão vista ao nível da produção de ideias e não apenas da produção física dos
suportes e sua distribuição…).

A estas 5 grandes linhas poderíamos decerto adicionar ainda outras, nomeadamente ao


entrar em consideração com outras áreas do saber que tradicionalmente têm lidado com
a questão da criatividade (como por exemplo, a psicologia ou a inteligência artificial) e
com quem o diálogo interdisciplinar se tem aprofundado nos anos mais recentes e de
onde começam a surgir novos caminhos a explorar para entender o funcionamento das
indústrias criativas.

No entanto, o que é indiscutível é que, apesar de toda esta diversidade de origens para o recente crescente
interesse pela criatividade, e não obstante toda a variedade de opiniões sobre a amplitude de tais conceitos, é um
facto que esta se transformou numa questão fundamental nas sociedades contemporâneas. O impacto de todo
este interesse revela-se na acção política, sendo bastante significativo em várias áreas, e tendo conduzido, nos
anos mais recentes, as políticas mais tradicionais sobre as actividades culturais (e criativas) a novas arenas,
incluindo, entre outros aspectos (Costa, 2005):
 um claro desvio para além das clássicas abordagens disciplinares (combinando cultura, território,
inovação, etc.);
 um maior foco da atenção para as questões da criatividade e da criação (claramente centradas na
tradicionalmente mais esquecida primeira fase das cadeias de valor destes produtos), aquando do estudo e
da actuação sobre as actividades culturais;
 uma crescente atenção dada às lógicas do comportamento das “pessoas”, do lado da oferta, e não
apenas como “espectadores”, na perspectiva da procura (assumindo que as instituições não são “caixas
pretas” e que o seu funcionamento necessita de ser mais estudado);
 uma focagem clara no enraizamento territorial das actividades culturais e criativas, nomeadamente nos
sistemas de produção territorializados onde a produção e o consumo culturais se tendem a desenvolver
mais, com os seus actores específicos e formas de governança particulares; e,
 a assunção da relevância fundamental dos aspectos imateriais e intangíveis (como as competências dos
trabalhadores, a inovação, a articulação inter-institucional) como áreas fundamentais de intervenção.
Curiosa e coincidentemente (ou talvez não), todos estes aspectos reflectem uma clara aproximação às políticas
e estratégias de desenvolvimento regional/local e uma grande similaridade com as questões que tem sido também
centrais no campo da promoção do desenvolvimento urbano. Isto poderá portanto ajudar a explicar todo este
interesse pelas políticas de desenvolvimento urbano baseadas na criatividade…
Em todo o caso e apesar de todas estas origens, estes conceitos foram-se desenvolvendo e tornaram-se
progressivamente centrais na acção política nas áreas de promoção urbana e económica. Importa aprofundar a
base conceptual para o nosso debate e assim, neste amplo e desordenado espectro, optamos por nos concentrar
na discussão dos dois conceitos mais recorrentes, Indústrias Criativas e Cidades Criativas, de forma a ilustrar esta
diversidade e a enquadrar a nossa própria concepção.
2.2.3. Indústrias criativas, indústrias culturais e cidades criativas: aspectos conceptuais

Como pode ser visto na caixa 2.2, o debate conceptual sobre as indústrias criativas tem estado frequentemente
ligado à sua relação com a noção de indústrias culturais, numa lógica que tem tornado muitas vezes bastante
dúbia ou incerta a noção de indústrias criativas (ou pelo menos gerando-lhe contornos não muito claramente
definidos).
Perante toda a diversidade e complexidade subjacente a esta discussão, chegar a uma definição final e
satisfatória para uma noção de “indústrias criativas” está longe de ser uma tarefa fácil. No entanto, em paralelo
com definições mais generalistas e pragmáticas como “a convergência das artes, negócios e tecnologia”, uma
definição simbólica que pode ser encontrada frequentemente sobre esta questão e que podemos assumir como a
principal base conceptual para a discussão mantida neste estudo é a seguinte: “aquelas indústrias que têm a
sua origem na criatividade competências e talento individuais e que têm um potencial para criação de
bem-estar e emprego através da geração e exploração da propriedade intelectual” (UK Creative Industries
Task Force, 1997). De certa forma, a combinação destas duas definições desenha um panorama que parece
suficientemente abrangente para representar a diversidade de abordagens apresentadas.
Segundo este organismo, os sectores da economia que cumprem os requisitos desta definição são os
seguintes:
- Publicidade
- Arquitectura
- Mercado de arte e antiguidades
- Design
- Moda
- Cinema, vídeo ou outras produções audiovisuais
- Design gráfico
- Software educacional e de lazer
- Música ao vivo e gravada
- Artes performativas e entretenimento
- Difusão através da televisão, rádio e internet
- Escrita e edição/publicação
Podem ainda ser consideradas áreas de fronteira, nos campos da economia, ciências, engenharia e indústrias
de base tecnológica, por se incluírem no grupo de indústrias nas quais a criatividade é eventualmente nuclear para
o negócio.
Caixa 2.2: Indústrias criativas e indústrias culturais

O conceito de “indústrias criativas” tem sido usualmente entendido como similar (ou por
vezes como algo um pouco mais abrangente do que) à noção anglo-saxónica de
“indústrias culturais”, isto é, as actividades culturais, entendidas numa perspectiva mais
ampla do que tradição latina, incluindo as indústrias culturais mais estruturadas
(coincidentes com esta última) e outras, desde as actividades artísticas mais
convencionais e tradicionais ao design, ao artesanato ou ao património. Mas por vezes é
também interpretado numa versão ainda mais ampla, incluindo actividades tão díspares
como a programação de software ou a investigação científica, também indubitavelmente
criativas, embora geralmente despojadas de sentido estético.
Este problema da definição conceptual tem focado o debate nos limites entre “indústrias
culturais” e “indústrias criativas”, bem como nas actividades que devem ser consideradas
como criativas. Este último aspecto assume particular relevância, à medida que estas
actividades se afirmam como preponderantes no desenvolvimento económico.
Justin O’Connor define Indústrias Culturais como “as actividades que lidam
essencialmente com bens simbólicos (...). Tal definição inclui, portanto, aquilo a que se
tem chamado “indústrias culturais clássicas” – rádio e teledifusão, imprensa, cinema,
publicidade, estúdios de música, design, arquitectura, novos media – e as artes
“tradicionais” – artes visuais, artesanato, teatro, teatro musical, concertos e espectáculos,
literatura, museus e galerias” (O’Connor, 1999). Esta é aliás uma definição recorrente nas
análises produzidas sobre este tema, que parte de uma diferenciação entre as actividades
culturais, tendo em conta os seus modelos de financiamento: por um lado, as “indústrias
culturais clássicas” são essencialmente financiadas via mercado; por outro lado, as artes
“tradicionais” são financiadas pelo valor estabelecido num sistema institucional mais
amplo; mas, em última análise, em ambos os casos, todas elas dependem de um
processo de valorização simbólica da arte. Throsby (2001), por seu lado, apresenta um
modelo bastante abrangente de “indústrias culturais”, assumindo a centralidade das
actividades criativas e culturais tradicionais as quais, misturadas com diversos estímulos e
inputs, produzem um larga gama de novos produtos. Aqui podemos incluir várias
indústrias que, em paralelo com a produção de bens culturais, criam também outros bens
e serviços não-culturais (impressão/tiragem, TV e rádio, imprensa, audiovisual,
multimédia). É também nos limites das indústrias culturais que se encontram ramos que
operam fora da esfera cultural, embora ofereçam conteúdos culturais (turismo,
publicidade, arquitectura, etc.). Assim, com as atenções centradas no desenvolvimento
comercial e económico, as actividades culturais foram deslizando para a periferia deste
modelo e o sector das indústrias criativas afirma-se agora como o centro das dinâmicas.
Autores como O’Regan (2001) ou Cunningham (2001) trabalham também neste modelo
conceptual, considerando as indústrias culturais como subsecção das indústrias criativas.
A esfera das actividades criativas representa um centro de recursos (pessoas, talentos,
ideias) reassumidos nos mais diversos usos e aplicações, envolvendo a criatividade em
diferentes actividades que podem ser completamente distintas das actividades culturais.
O’Regan (2001) considera as indústrias culturais no âmbito de grelha de serviços
destinados às indústrias criativas. A cultura é portanto aqui uma “indústria de serviços” e a
“criatividade uma aplicação”.
Em muitas outras análises, as indústrias “culturais” e “criativas” são distinguidas pelo facto
de as primeiras representarem um ramo com pouco peso económico e relativamente
dependente do apoio público e de subsídios. Este aspecto ao nível das “representações”
foi decisivo no aumento da popularidade junto dos diversos governos do modelo das
indústrias criativas como factor-chave para o desenvolvimento económico.
Caixa 2.2 (cont.) Indústrias criativas e indústrias culturais

Outro foco de intensa discussão tem sido a necessidade de um levantamento


minimamente consensual e de uma definição rigorosa das actividades a incluir no sector
criativo. Este debate, que tem sido conduzido principalmente nos países pioneiros na
aplicação destes modelos, como o Reino Unido, cobre diversos argumentos e
perspectivas. Os sistemas de classificação foram sendo desenvolvidos em vários
estudos de caso, aumentando os benefícios inerentes a um levantamento e mapeamento
rigoroso do sector: aumento da legitimação social do sector das indústrias criativas,
disponibilização de dados rigorosos sobre o sector, criação de condições para um melhor
uso de todas as suas potencialidades. Contudo, o(s) âmbito(s) usado(s) na classificação
das actividades como criativas (ou não criativas) tem-se revelado como um grande
obstáculo a esta reflexão, constituindo a ausência de uma delimitação clara entre
“indústrias culturais” e “indústrias criativas” uma dificuldade adicional a considerar.
Por exemplo, o DCMS do Reino Unido apresenta uma classificação que identifica um
grupo concreto de actividades no sector das indústrias criativas: arquitectura, mercado
de arte e de antiguidades, artesanato, design, design de moda, cinema e vídeo, música,
software de entretenimento, publicidade, televisão e rádio (usando uma definição que
assume a relação entre recursos, competências e criatividade e imaginação dos
indivíduos como factores comuns entre todas estas actividades, a qual gera crescimento,
emprego e estimula a criação de conteúdos e a propriedade intelectual).
Um outro exemplo que mostra a diversidade de entendimentos sobre as indústrias
criativas e realça a necessidade de adaptar o mapeamento das actividades criativas de
acordo com o seu contexto territorial é o levantamento preliminar das indústrias criativas
de Hong Kong (Centre for Cultural Policy Research, The University of Hong Kong, 2006),
o qual inclui 11 grandes categorias sectoriais, que diferem dependendo das actividades e
características sectoriais de cada território (tendo sido consideradas as actividades
económicas que de alguma forma geram e exploram criatividade, talento e propriedade
intelectual) .
Stuart Cunningham (2001) apresenta uma interessante grelha de análise, bastante
distinta das anteriores, para definir categorias de indústrias criativas. Segundo esta
análise, podemos encontrar cinco subsecções no sector das indústrias criativas:
indústrias criativas (creative industries), indústrias dos direitos do autor (copyright
industries), indústrias de conteúdos (content industries), indústrias culturais (cultural
industries) e conteúdos digitais (digital contents). Cada uma representa diferentes
actividades ou diferentes partes partilhadas de uma mesma actividade. Por exemplo, a
música pode aparecer nas subsecções da indústria de conteúdos ou da indústria de
direitos de autor, enquanto a consideramos uma actividade económica importante
desenvolvida pelas editoras e pelos estúdios, ao mesmo tempo que constitui uma
importante fonte de criação de valor na perspectiva das instituições dos direitos de autor.
O recente relatório do National Endowment for Science, Technology and the Arts
(NESTA) sobre “crescimento criativo”, sugestivamente intitulado “Creating growth: How
the UK can develop world class creative business” (NESTA, 2006) assume o importante
papel das indústrias criativas no desenvolvimento económico, ligando-o à inovação, a
qual representa o factor-chave e uma ferramenta essencial para o novo desafio do
acesso aos mercados mundiais. As indústrias criativas representam diversos dos
sectores de maior crescimento da economia global, bem como uma fonte fundamental de
competitividade. A inovação (nas suas diversas vertentes: criando novos mercados;
renovando as cadeias de valor através das tecnologias digitais, explorando a
diversificação, promovendo a rentabilização de propriedade intelectual, colaborando e
explorando redes e novas formas de organização,…) será, portanto, vital no processo de
exploração de mercados progressivamente globais para os negócios na área criativa.
Se deslocarmos o objecto da nossa análise para o campo do conceito de “cidade criativa”, os mesmos
problemas e a mesma diversidade ocorrem novamente. Na última década a noção de cidade criativa tem estado
particularmente no centro das atenções, mas no entanto não é fácil identificar um campo conceptual comum que
cubra toda a diversidade de interpretações e práticas que lhe estão subjacentes.
Na verdade, como Hansen (2001: pp. 853) refere, o conceito de cidade criativa pode ser visto como o mais
recente produto de marketing territorial, empregue na luta entre cidades para atrair investidores e promover a
competitividade. Face ao seu uso generalizado, para alguns autores, a ideia de Cidades Criativas acaba até por
perder a sua consistência e torna-se numa mera “marca”, mais do que numa efectiva “atitude”.
De modo a resumir as múltiplas abordagens ao conceito de “cidade criativa” que se têm desenvolvido, seja no
campo da acção política, seja em análises mais académicas, sugerimos a seguinte tipologia, identificando três
eixos de base que suportam cada construção conceptual (veja-se a Caixa 2.3) :
(i) uma centrando a noção de cidade criativa na ideia de criatividade como um instrumento ou como
ferramenta para o desenvolvimento urbano;
(ii) uma segunda baseando a noção de cidade criativa na utilização de actividades/indústrias criativas
(alargando as perspectivas centradas nas actividades culturais);
(iii) uma terceira baseando o conceito de cidade criativa na capacidade de atrair competências criativas, isto é,
recursos humanos criativos.

Não obstante esta diversidade de perspectivas, a relação entre indústrias criativas e o desenvolvimento urbano
e regional, através destas noções de cidade criativa, tem sido clara e profícua ao longo dos últimos anos,
desenvolvendo-se em campos tão diversos como a análise da génese dos mecanismos da criatividade e, por
exemplo, a sua relação com a aglomeração (meios criativos, bairros culturais, complexos de produção
territorializados, etc… - cf., p.e., Scott 2000, 2006; Hall, 2000; Mustard, 2006; Costa et al, 2007;…), a relação com
a governança urbana (p.e., Healey,…; Costa et al, 2006) ou a avaliação da relação com as políticas culturais
locais (p.e., Markusen, 2006).
Caixa 2.3: Tipologia-síntese dos diversos contributos para a
análise das cidades criativas

Um primeiro conjunto de contributos, no qual o conceito de cidade criativa


é usado numa perspectiva ampla de planeamento da cidade, tem a sua
principal referência no já referido livro de Charles Landry (2000) intitulado “The
Creative City: a Toolkit For Urban Innovators”. A procura de intervenções que
possam instigar um “ambiente” criativo, num sentido lato, é o foco desta
abordagem, a qual vai muito para além das actividades culturais, embora
claramente associada ao enraizamento nas culturas e identidades locais das
cidades. Por exemplo, soluções imaginativas para o sistema educativo local,
para a mobilidade urbana ou mesmo para a recolha de resíduos podem ser
incluídas nesta perspectiva de “cidade criativa”. Gerar um ambiente criativo e
descobrir e manter processos criativos de gestão urbana será a chave para o
sucesso, numa perspectiva centrada na criatividade como conjunto de
ferramentas para planear e inovar nas cidades.

Um segundo conjunto de contributos centra-se nos produtos culturais.


Para autores como Pratt (2004) e instituições como o DCMS, entre muitos
outros, as “cidades criativas” são aquelas que se associam a um certo
dinamismo no sector da produção criativa. Esta é eventualmente a noção mais
comum de cidade criativa, intimamente ligada ao conceito de indústrias criativas.
Neste caso, a produção de bens e serviços culturais e de actividades
relacionadas são os centros da criatividade. O recente sucesso destes espaços
urbanos é considerado como um resultado de dinâmicas territoriais específicas
ou de políticas que se basearam no crescimento de actividades culturais (ou
outras actividades criativas), que reverteram em acréscimos da qualidade de
vida, permitiram a regeneração ou a vitalização urbana e promoveram a
competitividade.

Finalmente, outra importante grelha de análise que suporta a actual retórica


das “cidades criativas” relaciona-se com a capacidade de atrair talento e
desenvolver competências inventivas. O trabalho de Richard Florida (2002),
sugestivamente intitulado “The Rise of the Creative Class”, marcou esta
abordagem, criando o rótulo de “classe criativa” para referenciar os recursos
humanos altamente qualificados e inovadores, que estão na base da
competitividade e vitalidade das mais dinâmicas áreas urbanas da actualidade.
Efectivamente, a capacidade de uma cidade ser criativa e inovadora está
decisivamente relacionada com a habilidade para preparar, manter e atrair esta
nova “classe” social que domina os conhecimentos e as competências
necessárias aos sectores mais avançados, criatividade-intensivos, que criam
mais valor e mais promovem a competitividade nas economias contemporâneas.
2.2.4 Um conceito operativo para a análise do cluster das indústrias criativas no concelho de Cascais

Independentemente de todas estas complexas questões conceptuais, necessitamos de lidar com a questão
das actividades criativas e do seu papel no desenvolvimento regional e urbano a partir de uma perspectiva
pragmática e de assumir um conceito que possa reflectir, de uma forma operativa, esta questão.
Neste sentido, consideramos a previamente mencionada definição do UK Creative Industry Task Force, de
1997, que está relativamente estabilizada e é geralmente aceite: “aquelas indústrias que têm a sua origem na
criatividade, competências e talento individual e que apresentam um potencial para a criação de bem-estar e
emprego através da geração e exploração da propriedade intelectual” (Marcus, 2005).
Esta assunção é feita por nós independentemente das grelhas e modelos de operacionalização quantitativa e
estatística deste conceito poderem ser diversificadas e assumirem diferentes lógicas de estruturação de um
cluster em torno de um núcleo de actividades indubitavelmente criativas, a partir do qual possam ser definidos
diversos círculos de actividades, progressivamente menos directamente ligados à criatividade, mas integrados no
cluster criativo. A este propósito, e não obstante reflexão posterior a ter em conta adiante no âmbito do diagnóstico
efectuado, a sugestão de modelo conceptual sugerida pela KEA (CE/KEA, 2006) parece-nos uma boa base de
trabalho.
Paralelamente a esta noção, defendemos uma abordagem ampla na análise e acção sobre as actividades
criativas considerando as especificidades das dinâmicas existentes. É imperativo que esta análise represente uma
abordagem mais complexa e multidimensional a estas actividades e ao estabelecimento de políticas nesta área.
Neste sentido, a abordagem esquemática sugerida pela British National Endowment for Science, Technology and
the Arts (NESTA) pode ser bastante útil. De facto, um importante resultado do recente relatório acima mencionado
(NESTA, 2006), foi a apresentação de um novo modelo “refinado” para as indústrias criativas, com o intuito de
ajudar a desenvolver novas lógicas de actuação em termos de políticas. Este novo modelo articula as actividades
económicas criativas considerando 4 dimensões (ver fig. 2.4): Fornecedores de serviços criativos, Produtores de
conteúdos criativos, Fornecedores de experiências criativas, Produtores de originais criativos. Esta torna-se uma
ferramenta útil pois incorpora uma maior percepção das diferenças entre e dentro dos sectores e permite analisar
as formas como o valor comercial é criado, como se localiza, ou como pode ser promovido. Combinada com o
previamente apresentado conceito de actividades criativas, esta pode ser uma ferramenta poderosa para estudar
e actuar nesta área tão difusa, já que de certa forma, este modelo acaba por sobrepor e integrar várias das
definições discutidas.
Figura 2.4 - Modelo refinado das indústrias criativas (NESTA, 2006)

Fonte: reproduzido de NESTA (2006)


2.3. A aplicabilidade a um concelho com as características de Cascais

Toda esta discussão acerca do papel das indústrias criativas no desenvolvimento e na competitividade
territorial tem obviamente de ser enquadrada face àquilo que são as especificidades de um concelho como
Cascais, com alguma dimensão económica e demográfica, mas claramente inserido numa área metropolitana
funcionalmente muito polarizada pela cidade de Lisboa.
Cascais é, como adiante se pode verificar, um destino turístico e residencial com alguma autonomia, no seio
de uma área metropolitana que está em profunda reestruturação económica e recomposição espacial. A chave
para o seu desenvolvimento não poderá ser dissociada de uma certa autonomia económica que permita (à
semelhança do que outros já fizeram, em particular o vizinho concelho de Oeiras) uma aposta de desenvolvimento
assente em áreas de actividade e em recursos diferenciadores e possibilite a inserção competitiva dos agentes
locais numa realidade não só mais global, mas também, e sobretudo, cada vez mais centrada nos domínios da
informação e do conhecimento.
As actividades criativas são uma área com particular vocação para este fim, e a presença numa área
metropolitana com alguma dimensão internacional e um grande peso na economia nacional (com um potencial de
mercado significativo para estas actividades e massas críticas, em termos dos recursos necessários, muito
interessantes), bem como a concentração vizinha de condições tecnológicas e humanas fulcrais para o
desenvolvimento do cluster criativo, são uma oportunidade muito importante que Cascais poderá explorar para
desenvolver o sector. Isto deverá obviamente ser feito, tendo em conta o potencial e as vantagens que alguns dos
concelhos vizinhos apresentam em muitos destes domínios, através de uma estratégia diferenciadora e coerente
que aposte nos recursos e nas actividades nas quais possa apresentar vantagens competitivas importantes.
As especificidades do concelho de Cascais terão de ser identificadas e valorizadas, de forma a conseguir,
como muitos outros já o fizeram, em vários pontos do mundo, mobilizar as actuais dinâmicas e o potencial de
crescimento das actividades criativas para responder aos problemas específicos do desenvolvimento
local/regional (nas suas diversas vertentes: eficiência económica; qualidade social; qualidade ambiental;
participação cívica) e promover a competitividade territorial.
Não obstante a multiplicidade de experiências de sucesso registadas nos últimos anos um pouco por todo o
mundo, tem portanto de se ter em conta a situação particular de Cascais, e em particular o seu contexto territorial
e a sua inserção na AML, tanto no diagnóstico como na definição de uma estratégia para o desenvolvimento
concelhio com base nestas actividades.
Com efeito, tem sido registada uma enorme diversidade de experiências de sucesso analisadas nos últimos
anos e referenciadas como paradigmas do papel das actividades criativas no desenvolvimento territorial e na
vitalização urbana.
Desde a realização de grandes eventos (capitais da cultura, exposições internacionais, jogos olímpicos ou
outras competições desportivas, etc.) à construção de equipamentos emblemáticos (como o museu Guggenheim
em Bilbao, por exemplo) e à reconversão de zonas abandonadas ou degradadas (industriais, portuárias, centros
históricos desvitalizados); desde a aposta em complexos baseados nas novas tecnologias, mais ou menos
associados às actividades criativas (parques tecnológicos, complexos territorializados de produção de símbolos e
valor estético, como Hollywood ou outros), à (re-)dinamização dos bairros culturais nos centros das grandes (e
pequenas…) cidades; desde apostas transversais em todo o cluster das indústrias culturais e criativas (e da
exploração da sua ligação com as TIC ou com outros sectores), até à promoção da especialização em sub-
sectores concretos (como a música, o audiovisual ou o multimédia, p.e.), entre muitos outros exemplos, a
diversidade é a regra.
Umas experiências resultam de actuações públicas concretas no campo das políticas culturais, de promoção
económica ou da inovação (a várias escalas, desde o nível local ao nacional); outras resultam de uma actuação
pública deliberada, conduzida expressamente com o objectivo de promover o desenvolvimento urbano ou a
competitividade territorial (a nível local ou regional); outras combinam preocupações diversas em termos das
políticas públicas, a escalas e âmbitos muito diversos, em torno de operações e projectos concretos, mais ou
menos integrados (combinado inclusão social ou requalificação e revitalização urbana, com formação de públicos
ou criação de emprego, por exemplo); outras ainda resultam essencialmente de dinâmicas “espontâneas”, mais ou
menos sustentadas, existentes em determinados territórios, dispensando a intervenção e suporte públicos.
Com formas de governança muito diversificadas (assentes em formas de regulação muito variadas, desde o
mercado à intervenção pública directa, passando pela acção do mais amplo leque de entidades, empresariais ou
outras, como as famosas Agências de Desenvolvimento Local que no Reino Unido muito têm marcado estas
intervenções), registam-se casos de sucesso com características muito distintas, e que vão muito para além
daquilo que são os diversos tipos de intervenção normalmente associados ao conceito de “cidades criativas”.
Basta pensarmos em alguns dos casos mais mediatizados para ter uma noção desta variedade: zonas
industriais e portuárias reconvertidas em espaços que cruzam novas tecnologias, actividades criativas, lazer, ou
cultura (22@ em Barcelona, Arabiaranta em Helsinquia, One Mile em Singapura, Temple Bar em Dublin - mesmo
a outra escala o Parque das Nações em Lisboa,…); equipamentos e zonas industriais transformados em novos
espaços de cultura ou escritórios para actividades criativas (Guggenheim em Bilbau, Espanha; Finlaysson em
Tampere, Finlândia,…); áreas da cidade assumidas e “etiquetadas” como bairros associados a certas actividades
criativas (p.e., “Helsinki Design District”, ou, em Portugal, o “Santos Design District”); cidades inteiras “vendidas”
como pólos culturais e criativos mais ou menos especializados (Amesterdão, Barcelona, Nova Iorque, Londres,
Seattle, Austin, Berlim,…) com uma capacidade de polarização que atravessa sectores e cria emprego
transversalmente; cidades que apostam desenvolvimento de recursos e capacidades culturais específicas (os
museus em Viena, a arte e o património em Florença, a pintura ou a moda em Paris, o cinema em Hollywood, a
moda em Milão,…); bairros culturais e zonas específicas dentro das cidades onde a criatividade emerge e se
desenvolve rapidamente (que vão mudando e afirmando-se por zonas diversas das cidades, em casos como Nova
Iorque, Londres ou Berlim – pense-se em Williamsburg, Hoxton Square, Mitte ou Kreuzberg – ou mantendo-se
mais imutáveis – como o Bairro Alto – Chiado em Lisboa); bairros com características particulares que influenciam
e determinam a produção cultural local (a Rive Gauche, Montmartre ou o Marais, em Paris; Greenwich Village,
Tribeca ou East Village em Nova Iorque, o Castro em S. Francisco, a Chueca em Madrid, etc.).
Será portanto importante fazer um benchmarking a partir de alguns destes casos, de modo a tirar
ensinamentos de experiências de sucesso que, não sendo obviamente, reproduzíveis, podem gerar alguns
ensinamentos a ter em conta para a nossa análise. É o que se faz no ponto seguinte deste relatório, partindo de
um conjunto de situações tipo que foram identificadas como sendo potencialmente importantes para extrair
ensinamentos e lições para o caso de Cascais.
Apresentação de estudos de caso
benchmarking
3.1. Introdução

Neste ponto pretende-se fazer uma breve apresentação de “casos de sucesso” de operações de
desenvolvimento territorial assentes nas actividades criativas (conduzidas por políticas públicas ou resultantes de
dinâmicas territoriais “espontâneas”). Embora cada caso seja um caso único, é possível tirar conclusões ou
ensinamentos que sejam úteis para o caso de Cascais, nomeadamente testando e/ou aprofundando as nossas
ideias de projectos e de acções. Os projectos aqui apresentados não excluem, no entanto, outras iniciativas
pertinentes referidas ao longo do texto. Não obstante, ganham relevo, primeiro, pelo seu grau de consolidação,
apresentando mesmo nalguns casos resultados concretos; segundo, pela disponibilidade de informação na maior
parte dos campos, aspecto em muitas outras experiências condicionante de uma análise mais global. Apresenta-
se de seguida um conjunto de nove experiências de cidades ou de bairros criativos. Procurou-se não apenas
identificar e listar os objectivos e as acções associadas, mas também as componentes institucional, financeira e,
finalmente, os resultados já obtidos. Cada caso é apresentado através de uma “ficha-síntese” (em formato quadro)
com a descrição dos factores-chave que poderão ser associados a essa experiência e de seguida são extraídos
alguns ensinamentos e ideias a partir de cada caso, eventualmente úteis para o estudo do concelho de Cascais.
Na identificação dos estudos de caso de criação e/ou de consolidação de dinâmicas associadas às “cidades
criativas” evitou-se seleccionar, logo à partida, apenas os que pudessem ser mais adaptáveis ao contexto
específico e às ambições de Cascais, o que poderia levar a menosprezar experiências aparentemente menos
relevantes, mas que, no decorrer do estudo, se viessem a tornar pertinentes.
A selecção de estudos de caso norteou-se, assim, pela ideia de apresentar um conjunto de experiências, o
mais ambivalente possível, que possa servir de inspiração a uma estratégia futura para o desenvolvimento destas
actividades em Cascais. Neste sentido, consideraram-se os seguintes critérios:
 Uma cobertura territorial diferenciada: Procurou-se identificar projectos na América do Norte, na Europa,
na Ásia e na Austrália, em países onde estas abordagens têm sido particularmente fomentadas e
divulgadas;
 Diferentes níveis de aprofundamento da intervenção: Teve-se em atenção analisar, por um lado, exemplos
de intervenções onde o sector cultural e as actividades criativas representam uma componente importante
do tecido socioeconómico, encontrando consubstanciação em planos de acção que cobrem diversas
vertentes de intervenção (p.e., Toronto, Sheffield), mas também, por outro lado, explorando outros
projectos de menor envergadura, com uma actuação mais concentrada em certos aspectos/sub-ramos
(p.e., Glasgow e o cluster do cinema, Singapura e os clusters Design e Média, Amesterdão e a
intervenção circunscrita à zona portuária);
 Intervenções promovidas por diferentes tipos de actores: A maior parte das intervenções são da
responsabilidade dos poderes públicos, a diferentes escalas, no entanto é interessante observar que,
embora raras, existem também intervenções iniciadas por grupos de actores não públicos
(p.e.,Amesterdão);
 Nível de diferenciação dos objectivos da intervenção: Embora a maior parte dos programas de acção
procure cobrir todas as vertentes possíveis de intervenção (domínio cultural tout-court, domínio
económico, regeneração urbana, entre outros), nalguns casos o plano de acção inclina-se mais para um
ou outro domínio. No caso de Barcelona e, em menor grau, de Manchester, a motivação económica
parece sobressair; em Amesterdão, trata-se sobretudo de um apoio ao desenvolvimento do sector artístico
e, em Christchurch e, em menor grau, em Liverpool, as actuações estão mais orientadas para o
envolvimento da comunidade e/ou para a integração de grupos étnicos minoritários.
Neste contexto, os estudos de caso apresentados devem ser considerados como casos individuais, não se
pretendendo com este exercício proceder a análises comparativas, sobretudo no que respeita ao conceito de
cluster ou de “fileira da cultura” ou ao nível de financiamento disponível. Esta limitação decorre em grande medida
do facto de a definição de actividades da fileira da cultura e os indicadores correspondentes variarem
significativamente ou não estarem sequer disponíveis nas fontes de informação utilizadas.
Os estudos de caso considerados, descritos nas “fichas” que se apresentam de seguida, são os seguintes:
1. A convergência de fundos de entidades nacionais e locais para uma estratégia holística de fomento da
cidade criativa a nível local - Canadá: Toronto - Plano da cultura para a cidade criativa;
2. A iniciativa “Capital da Cultura” como fomento da cidade criativa - Reino Unido: Liverpool – Capital da
Cultura 2008;
3. A cidade criativa com base em projectos combinados de regeneração urbana e de fomento do cluster dos
media - Reino Unido: Manchester - cidade da cultura e dos media;
4. A reconversão de cidades industriais em declínio através da dinamização do sector da cultura - Reino
Unido: Sheffield – Plano de Acção para o Cluster das Indústrias Criativas e Digitais e o Cultural Industries
Quarter;
5. A cidade criativa como forma de motivação da população para as artes e como factor integrador de grupos
étnicos minoritários - Nova Zelândia: Christchurch City;
6. A cidade criativa assente em grandes projectos de renovação urbana, associados ao desenvolvimento de
clusters económicos - Espanha: Barcelona - 22@Barcelona;
7. Uma estratégia de intervenção clara e coesa centrada sobretudo em dois sub-ramos: o design e os média
- Singapura – a aposta integrada nos media e no design;
8. A cidade criativa promovida pelos grupos artísticos: uma iniciativa bottom-up - Países Baixos: Amesterdão
– o grupo Kinetisch Noord e a regeneração da doca NDSM;
9. O desenvolvimento da cidade criativa com base num ramo-principal: a indústria cinematográfica - Reino
Unido: Glasgow – a capital do cinema da Escócia;
Note-se ainda que, naturalmente, uma análise mais detalhada e aprofundada de alguns destes casos poderá
ainda ser feita, no âmbito da segunda fase deste estudo, se for considerada a sua pertinência para a formulação
da estratégia específica a definir para o desenvolvimento de Cascais.
3.2. A convergência de fundos de entidades nacionais e locais para uma estratégia holística de fomento da
cidade criativa a nível local

Canadá: Toronto - Plano da cultura para a cidade criativa

A. Contexto Elaboração de um Plano, em 2001, para a cultura, incluindo indústrias


da cultura, actividades artísticas e património.
B. Cidade de Toronto: População: 2.607.637; Área (km2) 630.
Enquadramento População empregada: 1.425.330.
socioeconómico Área metropolitana de Toronto: População: 5,304,090; Área (km2)
5,903.
População empregada 2,970,630. População emigrante: 43%. (vs.
Nova York (24%), São Francisco (27%) e Londres (27%). População
com um nível de habilitações superior ao secundário (52%).
C. A fileira das As indústrias criativas empregam cerca de 133.000 pessoas - 6% do
actividades emprego da Área Metropolitana de Toronto, tendo crescido acima da
criativas média da região (3,1% vs. 2,3%, entre 1991 e 2004). Os ramos mais
dinâmicos foram a indústria cinematográfica, videográfica e de registo
de som (5,4%) e as artes performativas (7,1%).
Os clusters de maior relevo a nível nacional e internacional são: os
novos média (empresas/profissionais independentes que oferecem
serviços e produtos tecnológicos aos média, p.e., animação, pós-
produção, efeitos especiais, a criação de sitios web, o design gráfico e
a produção de CD/DVD), os média, o cinema/televisão (em terceiro
lugar na América do Norte), a música, o design (cerca de 25.000
designers – incluindo arquitectos e paisagistas, terceiro lugar no
ranking da América do Norte), a gravação de som e de música, as
artes performativas e a publicidade.
D. Áreas de Construção/renovação de equipamentos-chave através do Programa
intervenção de infraestruturação Canadá-Ontário: Museu Royal Ontário, Galeria de
Arte de Ontario, Companhia de Ópera, Conservatório, Escola National
de Ballet, Museu da Arte Cerâmica, Roy Thomson Hall – Sala de
Espectáculos.

Investimentos da Província de Ontário:


Estabelecimento de um Fundo para o Cluster Entretenimento e
Criatividade, tendo em vista promover a cooperação entre as firmas do
cluster.
Áreas de intervenção: promoção do empreendedorismo,
desenvolvimento de competências, marketing nacional e internacional,
novos produtos.
Apoio à empresa para o desenvolvimento dos média em Ontário, tendo
em vista o apoio à actividade de suporte às indústrias dos média.
Festival Internacional das Artes de Toronto.

Investimentos da Cidade de Toronto:


Elaboração de um Plano da Cultura para a Cidade Criativa com um
horizonte a 10 anos, aprovado em 2003, que traça a estratégia de
desenvolvimento da cultura da cidade de Toronto.

Principais propostas:
- Desenvolver um corredor cultural, “Avenida das Artes”;
- Construir um equipamento cultural estruturante que conte a história
de Toronto;
- Tornar a cidade mais atraente, através do investimento em arte
pública;
- Desenvolver um Plano Director para a Arte Pública;
- Preservar e promover o património construído;
- Promover bolsas para jovens criadores no país e no estrangeiro;
- Rever o financiamento a organizações prestadoras de serviços no
domínio das artes;
- Designar 2006 como ano da Criatividade;
- Estabelecer um fundo especial para promover Toronto.

Outras iniciativas:
a) Campanha “Viver com a Cultura” – promoção durante 16 meses do
sector criativo, coincidindo com a construção ou reabertura de
equipamentos-chave (consistiu em 18 eventos); P.ex., projecto
Humanitas – museu interactivo que conta a história de Toronto como
um espaço diversificado, vibrante e socialmente harmonioso; projecto
“Enfrenta as artes” – campanha para promover o dinamismo de
Toronto em vários domínios artísticos.

b) Estratégia de desenvolvimento económico de Toronto – que entre


vertentes de carácter mais geral, inclui o apoio ao Gabinete do Cinema
e de Televisão de Toronto. Este Gabinete oferece diversos apoios à
indústria de produção cinematográfica: pesquisa de espaços para
filmagens, segurança, parqueamento, serviços de pós-produção e
promoção das produções.

c) Revitalização da frente de Água/Marítima de Toronto – recuperação


de uma frente de 46 km, incluindo instalação de equipamentos
desportivos, culturais e de recreio.

d) Filmport (projecto das instituições City of Toronto Economic


Development Corporation, Estúdios de filmagens de Toronto e a
Corporação Rose), representa um equipamento de apoio à produção
de filmes, com um orçamento de 100 milhões dólares canadianos.

e) Festivais – Festival de Cinema de Toronto, Festival de fotografia,


Festival de documentários, Festival do Caribe, Feira do Livro, entre
outros.

f) Estudo de Branding/Marketing de Toronto – para elaborar uma


pesquisa de mercado, desenvolvimento de marcas e estratégia de
marketing, incluindo um inquérito a 4.500 pessoas, mais de 230
entrevistas e mesas redondas e 14 focus groups, conduzidos no
Canadá, USA e Reino Unido.

Fundação da Comunidade de Toronto (Toronto Community


Foundation):

1. Programa para a Comunidade (projectos de “abertura” das


artes à comunidade, p.e., educação musical, apoio ao fomento
da criatividade dos jovens.
2. Disponibilização de espaços a preços moderados para a
instalação de criadores (entre 1991 e 2003, mais de 200
unidades, incluindo espaço para habitação e atelier).
3. Preservação do património construído e distritos criativos
(recuperação de edifícios históricos para actividades
culturais/acolhimento de artistas).
4. Apoio a empresas – empresa de “working capital”, que tem
como objectivo contribuir para assegurar o futuro das
companhias de arte de média dimensão e deste modo reforçar
o sector. Exemplos de apoios: desenvolvimento de
competências financeiras e de planeamento, orientação para o
alcance de equilíbrios orçamentais e organizacionais.
5. Serviços especializados de apoio às empresas – p.e., projecto
“incubadora de moda” (fashion incubator), projecto piloto no
mundo, que serviu de exemplo a projectos semelhantes em
NY, Los Angeles e Dublin. Estaa incubadora pode albergar 7 a
10 projectos, mas também dá apoio a outros projectos
exteriores. Serviços disponíveis: mentores (p.e., anteriores
residentes da incubadora, designers de sucesso), workshops
sobre questões económicas, informação sobre a indústria e o
comércio de moda no Canadá, espaço para a venda de
colecções ou encontrar parceiros comerciais, passagem de
modelos e competição de design de moda.
6. Promoção do sector – Grupo do Festival internacional de
cinema de Toronto, que inclui além do festival, um festival de
cinema para crianças, cinemateca, etc.
7. Convergência criativa de vários sectores – criação de um
espaço de diálogo (Mars Center) entre todas as partes
envolvidas no sector cultural e económico: investidores,
investigação, financiamento.
8. Investimento em áreas que afectam a qualidade de vida na
cidade, p.e., projecto “Arts on Track”, tendo em vista a
renovação de 3 estações do metro para o fomento do turismo
cultural e do trânsito de pessoas.

E. Recursos Existência de 78 espaços culturais na Cidade de Toronto.


culturais Diversos festivais, nomeadamente de nível internacional - p.e., Festival
de Cinema de Toronto.
F. Actores chave Governo Federal - Programa de infrastruturação Canadá-Ontário
envolvidos (recuperação e construção de equipamentos).
Governo da Provincia de Ontário – parceria com o Governo Federal
para a renovação/construção de equipamentos. Ministérios: Cultura,
Inovação e investigação, Turismo e recreio, Desenvolvimento
económico e comércio: diversas políticas e programas de fomento da
cultura e do desenvolvimento económico.
Corporação para o desenvolvimento dos media em Ontário -
agência do Ministério da Cultura: apoio e promoção da publicação de
livros e de revistas, filmes e programas televisivos e indústria da
música.
Cidade de Toronto, entidades/divisões que apoiam as indústrias
criativas: Divisão Desenvolvimento económico, Cultura e Turismo
(gestão corrente de equipamentos e património, financiamento de
actividades), Corporação para o desenvolvimento económico de
Toronto, Corporação para a revitalização da Frente de Água de
Toronto.
G. Financiamento Governo Federal - Programa de infraestruturação Canadá-Ontário
de projectos com (233 milhões de dólares canadianos, e cerca de 600 milhões de
impacto na dólares de outros apoios, desde 2002).
capacidade Investimentos da Província de Ontário:
criativa Estabelecimento de um Fundo para o Cluster Recreio e Criatividade
(7,5 milhões de dólares canadianos entre 2006 e 2009).
Apoio à Corporação para o desenvolvimento dos média em Ontário
(CD23 milhões)
Festival Internacional das Artes de Toronto (1 milhão).
Conselho das Artes de Toronto (Toronto Arts Council - TAC): Fundo
de apoio a artistas individuais e organizações em todos os sectores
artísticos (em 2004, o TAC distribui mais de 9 milhões de dólares
canadianos).
Fundação da Comunidade de Toronto - Gere um fundo de mais de
144 milhões de dólares canadianos.
Informação sobre financiamento de projectos (a nível local e nacional):
Secção Servico das Artes do Departamento da Cultura (Toronto
Culture), através de workshops.
Domínios artísticos apoiados: Arte da comunidade (apoio a
associações profissionais e a grupos comunitários), dança, literatura,
música, teatro, artes visuais e dos media.
H. Resultados e Resultados do Plano da Cidade de Toronto (Novembro de 2005):
lições - Aumento em 11% dos orçamentos das principais organizações
culturais;
- Apoio a 11 pequenas/médias instituições do domínio das artes para a
renovação de equipamentos;
- aumento das despesas per capita com a cultura de $1.90 em 2003
para $15.71 em 2005. (Objectivo em 2010= $25).

Informação suplementar:
www.toronto.ca/culture/creativecity.htm
http://www.toronto.ca/culture/cultureplan.htm

Outras experiências com características semelhantes:


Viena: http://www.departure.at/
Londres: http://www.london.gov.uk/mayor/creativeindustries.jsp
Tampere (Finlândia) : http://www.luovatampere.fi/index.php?lang=en&id=31

Principais ideias a reter para o caso de Cascais:


 A importância de intervenções globais, envolvendo deste reestruturações físicas, até ao fomento da
participação da população, dando uma clara indicação de que algo está a mudar;
 Identificação de potenciais apoios públicos para a promoção de um cluster multimédia/cinema (tendo em
atenção o interesse demonstrado por algumas instituições deste sector em se instalarem no concelho);
 Identificação de algumas ideias de projecto eventualmente transferíveis para Cascais, p.e., “agarrando” a
dinâmica de se realizar o evento ModaLisboa em Cascais, por que não pensar em projectos
complementares que possam atrair criadores para o Concelho? É o caso do projecto de Incubadora de
Moda, desenvolvido por Toronto e, desde então, já aplicado em outras cidades;
 Ideia da importância de projectos de arte pública, como forma de chamar a atenção para a arte;
 Modelos de organização de fundos para apoio a projectos diversos do sector cultural.
3.3. A iniciativa “Capital da Cultura” como fomento da cidade criativa

Reino Unido: Liverpool – Capital da Cultura 2008

A. Contexto Em 1980, a cidade de Liverpool encontrava-se numa fase de transição,


enfrentando dificuldades de cariz diverso: clima empresarial pessimista, crise
no sector do comércio, falta de confiança da população e dos empresários. É
neste contexto que a Cidade decide actuar, contrariando estas tendências. A
escolha da cidade como Capital Europeia da Cultura 2008, vem coroar o
sucesso das intervenções dos últimos anos.
B. Enquadramento População residente: 442.000 (2007) Área metropolitana de cerca de 2
socioeconómico milhões. Emprego: 217.000.
C. A fileira das 13 sub-sectores, 4 particularmente importantes: design, conteúdos digitais,
actividades filme/TV, música.
criativas Emprega mais de 20.000 pessoas. Estimativa de 310 milhões de libras de
despesas com o turismo em 2012.
D. Áreas de “Visão” para Liverpool (2008): Colocar as artes e a cultura no centro da
intervenção regeneração; revigorar o tecido económico, físico e social.
Projectos emblemáticos:
- Paradise St. Development
- Estatuto de património mundial da frente fluvial
- Terminal de cruseiros
- Kings dock
- Museus nacionais
- St. Georges Hall
- Novas escolas
- Parque de ciência
Objectivo de criar o maior evento cultural de todos os tempos com base na
comunidade local. Objectivo para 2008: envolver 400.000 participantes em
actividades culturais de elevada qualidade (indicadores para 2005: 100.127
participantes activos, audiências de 451.197 e 1.288 performances).
E. Recursos Principais eventos/festivais: Biennal de Liverpool e Matthew St. Festival (ambos
culturais atraem cerca de 350.000 visitantes).
F. Actores chave Coordenação: Liverpool City Council/Liverpool Culture Company
envolvidos Em parceria com “Creative Communities Programme Team” - envolvimento de
diversos actores locais do sector cultural: desporto, artes, património,
educação, ambiente, etc.
G. Financiamento Custo estimado dos projectos emblemáticos da capital da cultura: 1.488
de projectos com milhões de libras.
impacto na
capacidade
criativa

H. Resultados e (Esperados)
lições Marketing da cidade – desenvolvimento do perfil nacional e internacional.
Aumento do interesse e da confiança dos investidores.
14.000 novos postos de trabalho em 2012 decorrentes da programação cultural
e investimento em infraestruturas.
Mais de 2 biliões de libras de investimento na cidade.
Pelo menos 1.7 milhões de visitantes extras em 2008.
Fonte: Creativity Strategies in Liverpool, The Art of Inclusion, Sir David Henshaw, Chief Executive, Liverpool City
Council, Liverpool Culture Company

Informação suplementar:
http://www.liverpool08.com/
http://www.liv.ac.uk/impacts08/
Outras experiências com características semelhantes:
Com abordagens, objectivos e graus de actuação muito diferencidos, todas as cidades que têm sido
Capitais Europeias da Cultura.

Principais ideias a reter para o caso de Cascais:


 A ideia do envolvimento da população como objectivo principal é extremamente interessante, como forma
de fomento de sentimentos de pertença, evitando situações de exclusão social e eventuais conflitos;
 Importância da criação de novos postos de trabalho associados à cultura;
 Importância da cultura (e dos grandes eventos culturais) como forma de marketing e de reforço da imagem
de uma cidade, com resultados positivos na atracção de novos investimentos.
3.4. A cidade criativa com base em projectos combinados de regeneração urbana e de fomento do cluster
dos media

Reino Unido: Manchester - cidade da cultura e dos media

A. Contexto Manchester foi uma das principais cidades da Revolução industrial no Reino
Unido. Este facto teve sérias repercussões no espaço da cidade, marcado pela
existência de inúmeros estabelecimentos e áreas industriais. A partir dos anos
60 e 70 a maior parte destas unidades viria a encerrar, dando origem a
espaços devolutos e/ou em avançado estado de degradação. Na década de
oitenta, começa o processo de renovação urbana, com várias intervenções
estruturantes, associadas a uma política de desenvolvimento do sector cultural
em sentido lato.
B. Enquadramento População: 2,6 milhões (Area Metropolitana - Greater Manchester), Cidade -
socioeconómico 422.300 (2003); População empregada: 255.050 (Census de 1991)
População emigrante: 12,6% na Cidade. Área: 115 km2 (cidade e área
envolvente)
C. A fileira das Manchester é a segunda cidade do Reino Unido com a maior concentração de
actividades empresas do sector da cultura e do turismo. É também considerada a segunda
criativas no ranking das cidades criativas do Reino Unido (a seguir a Londres). A fileira
cultural encontra-se em plena expansão.
Indicadores:
22.585 empregados no sector cultural e 60.000 em indústrias criativas. (2006)
63,3% dos residentes utilizam equipamentos culturais ou recreativos.
É a cidade do Reino Unido com o maior número de patentes produzidas por
indústrias criativas.
D. Áreas de Estratégia cultural do Manchester City Council. Principais objectivos:
intervenção
- assegurar o reconhecimento e o apoio para a regeneração da cidade
como uma capital cultural “vibrante”.
- encorajar uma maior participação dos residentes nas actividades
culturais.

5 temas de intervenção:
1) Capital cultural – utilizar e valorizar os investimentos, através de uma oferta
diversificada e de qualidade de eventos, competições, performances, concertos
ao nível de outras cidades europeias. O objectivo é sair do nível regional e
ganhar dimensão nacional.
2) Cultura e aprendizagem – reconhecimento do contributo das actividades
culturais e desportivas para o talento, identidade e habilitações dos jovens e da
comunidade. Reconhecimento das oportunidades da criatividade nos planos de
educação e de formação. Cidade de Manchester como caso piloto do
Programa Nacional para Parcerias Criativas.
3) Cultura para todos – garantir que a população tem a oportunidade de
participar em actividades criativas.
4) Economia da cultura - apoiar as empresas do sector da cultura.
5) Marketing das actividades culturais – reforçar a promoção das actividades
culturais, visando o incremento do número de visitantes da região e de fora.
Encorajamento dos indivíduos e das organizações a trabalharem juntos tendo
em vista uma visão global.

Projectos-chave:
a) Continuação do projecto de regeneração da frente ribeirinha de Salford
(Salford Quay´s Waterfront) com a criação da futura Cidade dos Média.

b) Construção da Cidade dos Media :


200 acres de espaço destinados aos novos estúdios da BBC, equipamentos de
pós-produção, Academia de investigação para os média (colaboração entre 15
universidades do Norte do Reino Unido), Instituto de Formação para os média,
liderado por profissionais do sector, Centro de empresas dos média (apoio ao
sector independente), espaços flexíveis a preços razoáveis para instalação de
produtores independentes de pequena e grande dimensão.
- espaços para teatros e concertos, etc.
- expectativa de atracção de todo o tipo de actividades e de profissionais
ligados aos média: publicidade, design, jogos de vídeo, música, etc.
Resultados esperados: emprego – 15.500 pessoas, 1.500 formandos por ano,
espaços para 1150 actividades criativas, 1,5 biliões de Libras para a economia
local.
E. Recursos A Frente Ribeirinha de Manchester – principal atracção turística de Manchester
culturais com espaços diversos de lazer, arquitectura de elevada qualidade (incluindo
dois dos principais ícones arquitecturais do Noroeste do Reino Unido).
Albergava, em 2006, 150 empresas ligadas aos média e empregava cerca de
13.000 pessoas.

Inúmeras galerias de arte, museus e espaços culturais, muitos dos quais com
carácter inovador. Treze teatros. Sala de Espectáculos que alberga a
Orquestra Filarmónica da BBC. Vários cinemas. Importante centro para
emissões de rádio, televisão e outros média. Importantes estúdios da BBC e da
Granada (relocalização de várias actividades da BBC para Manchester).
Festivais internacionais: Futuresonic, Manchester Festival.
Faculdade de Arte e Design da Universidade Metropolitana de Manchester.
Centre for Engagement through Art & Design – serviços de apoio à fileira
criativa.
F. Actores chave Manchester City Council (Câmara Municipal)
envolvidos Cidade dos Media: Parceria Público-Privado entre Salford Central Urban
Regeneration Company (Coordenação), Cidade de Salford, Peel Holdings
(promotor imobiliário). Consultoria do grupo de Cambridge do MIT
(Massachussets Institute of Technology).
G. Financiamento Investimento de 395 milhões de libras em equipamentos desportivos, museus,
de projectos com galerias de arte, teatros, parques e praças.
impacto na Fundos da Lotaria para 966 projectos: 96,3 milhões de Libras.
capacidade Financiamentos do Manchester City Council: 3,1 milhões de Libras.
criativa
H. Resultados e Manchester escolhida como a cidade piloto do Programa Nacional para
lições Parcerias Criativas (National Creative Partnerships Scheme) e premiada com o
título – 1ª Zona de Acção Desportiva.

Informação suplementar:
- www.manchester.gov.uk
- www.mediacityuk.co.uk/pr_futurerevealed.html
- www.artdes.mmu.ac.uk/about/manchester

Principais ideias a reter para o caso de Cascais:


 O reforço de um cluster do multimédia, tendo por base a oferta de espaços para a instalação de
actividades;
 A importância da colaboração entre o sector público e privado para a realização de investimentos
estruturantes, sobretudo da colaboração entre a autarquia e um grande promotor imobiliário;
 A ideia de as faculdades/instituições de formação do domínio das artes criativas prestarem também
serviços às empresas do sector;
 A relevância de articular o trabalho entre o sector da cultura e o sector educativo, com vantagens para
ambas as partes.
3.5. A reconversão de cidades industriais em declínio através da dinamização do sector da cultura

Reino Unido: Sheffield – Plano de Acção para o cluster das indústrias criativas e digitais e do
Cultural Industries Quarter

A. Contexto Sheffield foi durante vários séculos um importante pólo industrial, marcado
sobretudo pela indústria do aço. Na década de 70, o sector industrial entra em
declínio, verificando-se o encerramento de várias unidades, não só em
Sheffield como em concelhos vizinhos. A região enfrentou então um período
complicado com elevados níveis de desemprego e de pobreza. Hoje em dia, a
crise industrial encontra-se ultrapassada, novas actividades surgiram,
nomeadamente na esfera das indústrias da cultura. Sheffield pretende reforçar
esta componente, através da sua afirmação como uma cidade criativa e
inovadora, aliando importantes projectos de regeneração urbana, a uma
política cultural diversificada.
B. Enquadramento População: 525,800 (Cidade e área envolvente) (2006); Área (km2): 367.94
socioeconómico km2 (Cidade e área envolvente); População empregada: 255.700 (2005).
População emigrante: 6,4%. Quinta maior cidade inglesa.
C. A fileira das Sheffield situa-se no nono lugar no ranking das cidades mais criativas do Reino
actividades Unido. Cerca de 20% da população empregada na zona de Yorkshire trabalha
criativas no cluster das indústrias criativas e digitais.
As principais fileiras existentes em Sheffield são o e-learning (mais de 600
pessoas trabalham no sector, albergando a cidade dois dos principais serviços
a nível mundial), software para jogos/entretenimento (a concentração de
algumas firmas de renome a nível internacional tem funcionado como magneto
para a atracção de novos talentos), Design/Novos média (localização de
algumas das mais conhecidas empresas do Reino Unido deste ramo),
sistemas/infraestrutura (localização de várias empresas desde a concepção de
sistemas até operadores globais de IT).
D. Áreas de As principais áreas de intervenção para o desenvolvimento do cluster das
intervenção indústrias criativas e digitais da Câmara de Sheffield são (Plano de Acção para
o Cluster das Indústrias Criativas e Digitais):
1) Infra-estruturas
a) Investimento em equipamentos e actividades de educação/aprendizagem
- estratégia de educação para as artes criativas - sobretudo através do
fomento das visitas a museus, bibliotecas e galerias de arte;
- desenvolvimento de parcerias entre instituições culturais e instituições
de ensino;
- promoção nas escolas da cultura como instrumento de aprendizagem
(programa Creative partnerships);
- promoção da cultura no currículo das escolas (p.e., visita a museus)
- Investimento em espaços residenciais mistos (trabalho e residência)
- Equipamentos culturais de apoio à produção
- Espaços para instalação de actividades económicas
2) Centros de excelência, nomeadamente na área do design
3) Apoio especializado às empresas
4) Aumento das qualificações, através de programas educacionais e
vocacionais
5) Investimento local
6) Estabelecimento de redes de promoção de clusters
O Quarteirão das indústrias da cultura (CIQ – Cultural Industries Quarter),
criado nos anos 80, é um dos projectos mais emblemáticos de apoio às
indústrias da cultura de Sheffield.
Os elementos-chave do CIQ são o parque de ciência de Sheffield, a Escola de
Artes Dramáticas e Tecnologia da Música (que inclui uma sala para concertos e
teatro, vocacionada para a mostra de novos talentos), os estúdios Red Tape, a
Workstation (centro de negócios/ateliers para empresas do sector da
cultura/média), o Showroom (4 salas de cinema independente) e um complexo
residencial para pessoas ligadas ao sector (The Cube).
Entre os vários projectos promovidos pela Agência são de salientar: um fundo
para a restauração de edifícios antigos, eventos para o estabelecimento de
redes entre agentes do sector, um projecto europeu para os media digitais,
iniciativas de fomento da experimentação das indústrias criativas pelos jovens,
um esquema de colaboração com proprietários para facilitar rendas mais
baratas, uma plataforma internet para a troca de notícias e de experiências
entre actores.
E. Recursos Diversos equipamentos desportivos de nível internacional (incluindo o Instituto
culturais Inglês do Desporto), tornam Sheffield um centro de excelência neste domínio;
Maior complexo de cinema independente e de média a nível europeu -
Showroom Cinema; Complexo de teatros; Cluster de estúdios de gravação e
salas de concertos de nível internacional.
Diversos eventos culturais de âmbito nacional e internacional, e.g., International
Documentary Film Festival, Media Festival, Art Sheffield, Lovebytes, entre
outros.
Localização da BBC radio Sheffield, da Universidade de Sheffield Hallam.
Existência de vários espaços do tipo residência/atelier para a instalação de
criativos.
F. Actores chave CIQ – Cultural Industries Quarter Agency. Esta agência, criada em 2000, pelo
envolvidos Sheffield Citz Council, tem por objectivos maximizar o potencial de regeneração
do CIQ e, por outro lado, promover o crescimento das indústrias criativas em
Sheffield e arredores.
A CIQ tem um conjunto de parcerias com a agência INSPIRAL (agência de
apoio no domínio dos negócios a empresas e organizações), o Sheffield City
Council, Sheffield One, Sheffield First for Investment, Yorkshire Forward,
Heritage Lottery Fund, Objective One, a SRB6 e a Yorkshire ArtSpace Society,
tendo em vista apoios específicos aos vários actores.
A partir de 2007, a Agência CIQ juntamente com outras instituições
vocacionadas para o desenvolvimento económico em geral (a Sheffield One e
a Sheffield First for Investment), constituíram uma entidade única para o
fomento económico: a Creative Sheffield.
G. Financiamento Financiamento da Agência CIQ: combinação de financiamento público,
de projectos com incluindo apoios do FEDER, do Single Regeneration Budget, da Câmara
impacto na Municipal de Sheffield, da Agência de Desenvolvimento Regional do Yorkshire
capacidade (Yorkshire Forward), e financiamento através de receitas próprias.
criativa
H. Resultados e Os resultados mais palpáveis da intervenção em Sheffield estão sobretudo
lições ligados ao projecto do CIQ e da sua Agência, em traços gerais refira-se:
- o reconhecimento da Agência por políticos e planeadores do sucesso do
modelo de regeneração de espaço urbano com base nas indústrias criativas;
- o reconhecimento dos impactos do projecto em termos económicos:
crescimento de 16% do emprego desde 2000, criação prevista de mais 2.500
postos de trabalho nos próximos 10 anos, expansão significativa e continuada
da área dedicada a escritórios, envolvendo parceiros públicos e privados.
- contributo da Agência para o reconhecimento de Sheffield como uma cidade
criativa de relevo;
- impacto no reforço da cooperação entre agentes públicos e privados.
Lições/recomendações para projectos similares:
- garantir a existência de uma estratégia clara e de apoio político;
- garantir recursos adequados para manter uma equipa pequena e dedicada e
um orçamento suficiente para motivar a participação do sector privado no
projecto;
- maturidade temporal de 3 anos para começar a obter resultados;
- recrutar/mobilizar uma administração competente com representantes das
artes, das empresas, do sector público e das instituições privadas sem fins
lucrativos/voluntários;
- encorajar uma visão empresarial no enquadramento estratégico;
- promover ligações a nível nacional, internacional e regional para aumentar as
ambições e aspirações;
- Não assumir que um agente sem orçamento pode trazer mudanças
significativas.
Informação suplementar:
http://www.sheffieldfirst.com/our-partnerships/culture-and-sport
http://www.creativesheffield.co.uk/
http://www.creativesheffield.co.uk/InvestInSheffield/KeyBusinessSectors/CreativeandDigital/
http://www.liveworknet.com/uploads/motley.pdf
http://www.showroom.org.uk/
http://www.ciq.org.uk (The Cube)
http://www.artspace.org.uk/

Outras experiências com características semelhantes:


Newcastle – the CultureLab www.ncl.ac.uk/culturelab/about
Arabianta (Finlândia) - http://www.helsinkivirtualvillage.fi
Temple Bar (Dublin - Irlanda) - http://www.templebar.ie/home.php

Principais ideias a reter para o caso de Cascais:


 A ideia de que a concentração de actividades criativas e de equipamentos complementares numa
determinada zona implica importantes sinergias;
 A utilização de estruturas institucionais específicas, de âmbito local (para a zona de intervenção), como é
o caso da referida ou, genericamente das Cultural Industries Development Agencies, muito difundidas no
Reino Unido.
 A noção de que os actores de apoio às empresas devem trabalhar com os actores responsáveis pelo
desenvolvimento do cluster da cultura, adaptando instrumentos de apoio às especificidades das empresas
deste último;
 A importância da articulação entre o sector educacional e as artes;
 Vários ensinamentos da experiência de Sheffield: fundamental uma boa equipa e um orçamento suficiente
face aos objectivos;
 Serviços oferecidos por uma instituição de promoção das actividades criativas.
3.6. A cidade criativa como forma de motivação da população para as artes e como factor integrador
de grupos étnicos minoritários

Nova Zelândia: Christchurch City - política e estratégia para as artes

A. Contexto Reconhecimento da importância das artes no desenvolvimento


económico, social e cultural da cidade, bem como veículo para a
renovação urbana e o marketing da cidade.
B. População: 365.700 (2007); Área (km2): 1.607 (km2). População
Enquadramento empregada: 186.570 (66% da população em idade de trabalhar). Taxa
socioeconómico de desemprego: inferior a 5%. População de origem étnica não
europeia: 13% (2001). População com um nível de habilitações
superior ao secundário: 43.284 (2006).
C. A fileira das 2-6% do PIB (2000), dependendo da definição de indústrias criativas.
actividades A região de Canterbury em Christchurch representa 15% do total
criativas nacional da população empregada no sector da cultura. A nível
nacional o sector representa cerca de 51.000 postos de trabalho, o
equivalente a 3,8% do emprego. Principais indústrias criativas a nível
nacional: literatura, design e indústria cinematográfica e videográfica,
respectivamente 15.000, 12.210 e 5.000 profissionais
D. Áreas de Eixos e objectivos da intervenção:
intervenção 1) Fomento da participação e do acesso a eventos culturais;
- Apoio a iniciativas e projectos da comunidade;
- Incentivo ao acesso às artes através de marketing e de informação;
- Identificação de oportunidades para a participação e actividades
artísticas.
2) Promoção das artes de mana whenua me nga iwi o nga hau e wha
de acordo com o tratado de relacionamento entre diferentes grupos
étnicos;
- Desenvolvimento de protocolos que fortaleçam o relacionamento do
poder local com as comunidades Ngai Tahu e Taura locais.
3) Criar um ambiente cultural propício à emergência de artistas e
organizações artísticas
- Apoiar, encorajar, manter e desenvolver das artes nga toi Maori e te
reo Maori;
- Inclusão das artes nga toi Maori e te reo Maori em eventos realizados
pelo poder local;
- Assegurar que os projectos de índole cultural/ artísticos realizados
pelo poder local, incluam a perspectiva Maori.
4) Promoção e apoio às artes das várias culturas em Christchurch
- Apoiar actividades artísticas e culturais que celebrem a diversidade
cultural;
- Desenvolvimento de trabalho com grupos étnicos incluindo refugiados
e comunidades de novos imigrantes com o objectivo de aumentar a
expressão artística e identitária.
5) Criar um ambiente cultural propício à emergência de artistas e
organizações artísticas
- Apoiar o desenvolvimento de organizações artísticas para apoiar e
educar artistas;
- Continuar com o apoio a organizações que vão de encontro aos
objectivos de desenvolvimento do poder local;
- Incentivar, informar e dar oportunidades aos artistas para melhorarem
as suas capacidades de gestão;
- Aumentar o número de infraestruturas e eventos para apoiar o sector
artístico;
- Preservação do património histórico e hereditário das galerias de arte,
museus, bibliotecas;
- Facilitar o trabalho em rede e troca de informação entre agentes e
com outros poderes locais;
- Localização e atracção de fundos para o desenvolvimento das artes.
6) Salvaguardar e valorizar sítios históricos e espaços públicos de valor
histórico
- Salvaguarda do património edificado e natural;
- Incentivar os privados na salvaguarda do património estético;
- Valorização dos espaços históricos, utilização dos espaços;
- Encorajar ao uso da arquitectura conjugada com o contexto;
7) Garantir o reconhecimento internacional, atracção de visitantes e
valorização económica através das actividades culturais
- Trabalhar com agências de desenvolvimento na identificação de
potencial e gerar sustentabilidade, desenvolver estratégias para melhor
o negocio das artes;
- Identificar oportunidades e aumentar o investimento;
- Encorajar a relação entre o sector das artes e dos negócios;
- Uso das artes para captar públicos e projecção de uma imagem
positiva.
E. Recursos Artes específicas às várias culturas de Christchurch.
culturais Galeria de arte Robert Mc Doughall. Bibliotecas. Diversos parques de
lazer. Museus. Várias infraestruturas desportivas. Festival de Artes de
Christchurch. Festival SummerTimes.
F. Actores chave
Câmara Municipal de Christchurch.
envolvidos
G. Financiamento
Despesas em arte da Câmara de Christchurch (orçamento 1999/2000):
de projectos com
10,5 milhões de dólares neozelandeses;
impacto na
Principais áreas de intervenção: Museus (25%), Galerias (25%),
capacidade
Eventos/subsídios/programas (22%).
criativa
H. Resultados e
-
lições

Informação suplementar:
http://www.ccc.govt.nz/
Arts policy and strategy, Christchurch council (http://www.ccc.govt.nz/consultation/artsstrategy/)

Principais ideias a reter para o caso de Cascais:


Importância da cultura para o fomento da participação, identidade e inclusão social dos diversos grupos étnicos,
ou de grupos populacionais específicos.
3.7. A cidade criativa assente em grandes projectos de renovação urbana, associados ao desenvolvimento
de clusters económicos

Espanha: Barcelona - 22@Barcelona


A. Contexto No início do século a zona de intervenção era a principal área industrial
da Catalunha, mas, por motivos diversos, a maior parte das fábricas foi
sendo encerrada, ficando os edifícios abandonados. Na década de 80,
a zona caracterizava-se pelo estado geral de degradação do espaço
urbano e do património construído, bem como pela existência de
vastas áreas por urbanizar. Os terrenos e edifícios eram todos de
propriedade privada.
Em 1986, surge a decisão de iniciar um processo faseado de
renovação urbana. O início do projecto urbano seria em 2000.
B. População: 1.605.602 (2006); Área (km2): 100,4 km2; População
Enquadramento activa: 813.500 (2007)
socioeconómico
C. A fileira das O sector criativo é considerado de forma integrada no sector quinário
actividades (quinary sector, sector que inclui a saúde, a investigação, a educação
criativas ou a cultura). O sector quinário representa na Área Metropolitana de
Barcelona 20% do PIB e 60% dos novos postos de trabalho. Nos
últimos 10 anos, a sua taxa de crescimento anual foi de 3,3%, o que
determina um aumento aproximado de 33% dos postos de trabalho
deste sector, bastante superior ao crescimento global do emprego.
D. Áreas de Intervenções físicas:
intervenção Primeira intervenção: renovação da frente marítima entre 1986 e 1992.
Segunda intervenção (1996-1999): concretização da Avenida Diagonal.
Estratégia de renovação urbana: um novo modelo de fazer cidade com
base na economia do conhecimento: 22@BARCELONA: Distrito
inovador

O projecto urbano: Área - 198,26 Ha. Área disponível: 4.000.000 m²,


dos quais 80% para actividades produtivas e 20% para alojamento e
equipamentos.

O projecto económico - fomento de 4 clusters, com vários apoios


específicos a diversos clusters:
a) Media - Barcelona Media Park
Instalação de diversas empresas do sector.
Instituições: Televisão de Barcelona, etc.
Universidades e faculdades ligadas aos média.
Centro de inovação para os média de Barcelona.
Incubadora.
Espaço residencial.
Disseminação: “Fábrica dos média”.

b) Tecnologias da informação e da comunicação (TIC) – Rede de


centros de investigação ligados às telecomunicações
Empresas-âncora: p.e., Telefónica
Instituições de apoio. Universidades. Centro tecnológico TCI
Incubadora para os Media e TIC
Disseminação: Casa das TIC

c) Energia - Campo interuniversitário de Besos


Empresas-âncora: Endesa, Ecotècnia
Instituições: Câmara do comércio e outras.
Universidades.
Centros tecnológicos: RC Energia, TC energia.
Incubadora: b_TEC
Disseminação: serviços do Campus universitário
d) Bio empresas - tecnologias da medicina
Instalação de diversas empresas, instituições, universidades do sector,
centro tecnológico, incubadora.
Criação de um parque para a instalação de empresas do sector da
biotecnologia.
E. Recursos Inúmeros equipamentos, eventos e património arquitectónico que
culturais atraem públicos do mundo inteiro. Eventos importantes: Jogos
Olímpicos em 1992. Fórum das Culturas em 2004.
F. Actores chave Câmara Municipal de Barcelona.(Ajuntament de Barcelona)
envolvidos Sociedade 22@Barcelona - sociedade municipal criada pelo
Ajuntament de Barcelona tendo em vista promover e gerir o projecto
22@Barcelona.
G. Financiamento Investimento previsto em infraestruturas: 180 milhões €.
de projectos com
impacto na
capacidade
criativa
H. Resultados e Resultados em 2006: renovação de 53% do território; 811.500 m² de
lições espaços para actividades económicas; 300 empresas e instituições
instaladas. Investimento concretizado 80 milhões de euros.
Postos de trabalho criados na área de intervenção e área envolvente:
cerca de 18.000 (31.12.2006)

Informação suplementar:
http://www.22barcelona.com/

Principais ideias a reter para o caso de Cascais:


 Os impactos significativos da oferta de condições para a instalação de actividades económicas de alta
tecnologia, não apenas em termos de espaço para escritórios, mas, sobretudo, da criação de uma
envolvente de grande qualidade;
 A importância e o papael fundamental de um conjunto de instituições/empresas âncora.
3.8. Uma estratégia de intervenção clara e coesa centrada sobretudo em dois sub-ramos: o design e os
média

Singapura – a aposta integrada nos média e no design


A. Contexto A importância das indústrias culturais e a sua expansão contínua determinaram
a ideia de promover uma estratégia concertada de desenvolvimento do sector.
B. Enquadramento População: 4,7 milhões (estimativa para 2007); Área (km2): 704 km2.
socioeconómico
C. A fileira das Indústrias criativas representam 3,2% do PIB de Singapura (Arte e cultura –
actividades 0,2%, Design – 1,4%, Media – 1,6%) e 3,8% do emprego. Crescimento médio
criativas anual de 14% entre 1986 e 2000 (vs. crescimento global da economia de
10,5%).
Emprego 72.000 postos de trabalho em 8.000 empresas.
D. Áreas de Existência de uma estratégia de desenvolvimento das indústrias criativas.
intervenção Visão: Tornar Singapura num novo centro criativo e vibrante da Ásia,
duplicando o contributo do cluster das actividades criativas de 3,2% do PIB
para 6% em 2012.

Estratégia assente em três pilares:

01: Renascimento da cidade - Investimento nos recursos artísticos e culturais.


Prioridades – Fomentar parcerias entre o sector artístico e o sector
empresarial; Expandir a base de talentos criativos; integrar artes existentes e
novas.

02: DesignSingapore – iniciativa nacional controlada por um Conselho


envolvendo o sector corporativo, governamental e actores do sector do design.
Enfoque:
a) Centro internacional de design (ancorar actividades internacionais de
7
design, Design Killer Apps );
b) Excelência no design: fomentar know-how de design de nível mundial;
valorizar/apoiar empresas com potencial na área do design; fomentar
uma cultura de design;
c) Cluster integrado de design: estabelecer um Conselho
“DesignSingapura”; fortalecer normativos profissionais;
03: Media 21- iniciativa estratégica liderada pela Autoridade para o
Desenvolvimento dos Média:
a) Estabelecer Singapura como centro de trocas financeiras e comerciais
no domínio dos média (p.e.: atracção de profissionais, compradores e
vendedores do domínio dos média, através, p.e., do evento Media
Awards; formação e consultoria na área dos direitos de propriedade e
dos programas de gestão de direitos de propriedade);
b) Exportar o conteúdo Made-by-Singapore (p.e.: esquema de
desenvolvimento de conteúdos para a TV; fomento de acordos
bilaterais de co-produção);
c) Fomentar os média digitais (p.e., promover os conteúdos digitais,
expandir a I&D nas tecnologias dos média digitais);
d) Internacionalizar as empresas dos média;
e) Aumentar o talento nos média (p.e., fomento da formação universitária
e técnica, competição nacional de guiões para filmes);
f) Fomentar uma empresarialidade e assegurar que as políticas e
procedimentos estão de acordo com as melhores práticas
internacionais (p.e., criação da Fusionpolis – cluster dos média).

Outros exemplos concretos de acções:


Festival de Design de Singapura, com início em 2005, o Festival é uma
plataforma bienal para promover o design e a indústria do design em
Singapura, criando oportunidades para o estabelecimento de redes, troca de

7
"Killer Apps" - "Killer Applications" - aspectos sem os quais não é possível viver ou sem os quais não se quer viver.
ideias e para promover Singapura como uma Cidade do Design, vibrante e
criativa, a nível internacional.

E. Recursos Cerca de 40 equipamentos culturais, incluindo diversos museus, centros de


culturais interpretação, monumentos, etc. Mais de 47 galerias de arte. 8 salas de teatro,
música e concertos destinados também ao público internacional.
F. Actores chave Media Development Authority (MDA) – constituída para promover o cluster dos
envolvidos média, inclui representantes do Economic Development Board de Singapura,
Infocomm Development Authority of singapure, Jurong Town Corporation;
Ministério para a Informação, comunicações e artes.
G. Financiamento Esquemas de apoio da MDA:
de projectos com - Desenvolvimento de competências;
impacto na - Desenvolvimento de conteúdos (incluindo um apoio específico para o
capacidade desenvolvimento de conteúdos digitais e outro para o co-investimento em
criativa conteúdos exportáveis);
- Desenvolvimento de tecnologias digitais
- Programas de apoio à produção cinematográfica;
- Desenvolvimento de mercados (incluindo acordos de co-produção).
H. Resultados e
lições

Informação suplementar:
www.mita.gov.sg
http://app.singaporedesignfestival.com/aboutus.asp
http://www.mda.gov.sg/ (Media Development Authority)
http://singapore.angloinfo.com/

Outras experiências com características semelhantes:


Creative City Yokohama – www.city.yokohama.jp

Principais ideias a reter para o caso de Cascais:


 A concentração da acção em dois domínios-chave, os media e o design, à partida também pertinentes em
Cascais, e a listagem de vários tipos de acções a combinar para o desenvolvimento dos mesmos;
 As actividades a serem desenvolvidas por uma Agência de promoção dos produtos e actividades
multimédia.
3.9. A cidade criativa promovida pelos grupos artísticos: uma iniciativa Bottom-up

Países Baixos: Amesterdão – o grupo Kinetisch Noord e a regeneração da doca


NDSM
A. Contexto Em 1999, um grupo de artistas, pessoas do teatro, skaters e
arquitectos, designados de Kinetisch Noord contactaram a câmara de
Amesterdão com um plano de intervenção para a zona dos antigos
estaleiros de Amesterdão.
Em Junho de 2002, iniciou-se o processo de reconversão desta área,
transformando-a, a pouco e pouco, numa das principais áreas de
criação e promoção de talentos artísticos dos Países Baixos.
B. Enquadramento População: 735,328 (2002); Área (km2): 130 km2. População de
socioeconómico origem holandesa: 53% (2001).
C. A fileira das Média/Recreio – 1412 postos de trabalho/mais de 800 empresas
actividades (2004).
criativas Actividades artísticas - 1206 postos de trabalho/ 655 empresas (2004).
Prestação de serviços - 1638 postos de trabalho/ 1076 empresas
(2004)
D. Áreas de O espaço de intervenção foi num estaleiro naval com uma área
intervenção equivalente a 10 ha. A principal estrutura desta área é o pavilhão
NDSM com 20.000m2 e 20 metros de altura.
Os vários espaços disponíveis foram destinados aos seguintes fins:
1. Workshops temporários de pintura
2. Estúdios de teatro e áreas para performances;
3. Cidade da Arte (Kunststad) – workshops e espaços livres para
acolhimento de artistas;
4. Section 4, uma área para os jovens, incluindo um parque para
skate, estúdios de música, espaços multi-funcionais para projectos e
uma escola de hip-hop.
5. O Noordstrook, áreas para estúdios e/ou residências de artistas,
cafés, restaurantes, áreas de exibição e espaços para programação
experimental;
6. Estúdios tradicionais e uma cantina subterrânea para os ocupantes
das docas.
E. Recursos Inúmeros museus de nível internacional (p.e., Museu Van Gogh,
culturais Museu Rembrandt). Várias salas de concertos. Galerias de Arte.
Centro da cidade do século XVII. Uma das mais importantes cidades
dos grafitti.
F. Actores chave
O município e o grupo Kinetisch Noord.
envolvidos
G. Financiamento
de projectos com
Subsídio de 200.000Euro.
impacto na
capacidade criativa
H. Resultados e
-
lições

Informação suplementar:
http://www.kreativwirtschaft.nrw.de/kongress2007/Marijnissen.pdf
http://www.ndsm.nl/
Principais ideias a reter para o caso de Cascais:
 A possibilidade de fomentar intervenções de sucesso com origem na iniciativa da população local ou na
pequena iniciativa, com um carácter bottom-up;
 A hipótese de mobilizar os jovens para a participação em projectos conjuntos de fomento das artes e do
desporto.
3.10. O desenvolvimento da cidade criativa com base num ramo-principal: a indústria cinematográfica

Reino Unido: Glasgow – a capital do cinema da Escócia

A. Contexto A cidade de Glasgow é marcada por uma longa história de mudanças de


actividade económica. No século XIX, Glasgow era uma das principais cidades
da revolução industrial do Reino Unido, com uma indústria têxtil (algodão) em
forte crescimento. Em meados do século XIX e até aos anos 60 as indústrias
pesadas como a indústria de construção naval e de equipamento ferroviário
seriam os principais motores do crescimento. A viragem para indústrias mais
ligeiras dar-se-ia a partir da década de 70 com a expansão das indústrias
electroctécnicas, chegando Glasgow a produzir 30% dos computadores
europeus. Na última década, Glasgow tem vindo a assistir ao declínio do sector
industrial e, em contrapartida, à expansão dos serviços, nomeadamente
financeiros, comércio, lazer e média. Em 1990, Glasgow foi capital europeia da
cultura, facto que contribuiria também para o reforço do sector cultural.
B. Enquadramento População residente: 580.690 (2007) Área Metropolitana: 1,750,000.
socioeconómico Emprego: 407.900 (2002).
C. A fileira das Glasgow é o centro dos média escoceses – acolhe a sede da BBC da Escócia,
actividades o Channel 4, o Digital Design Studio da Escola de Arte da Escócia, o Scottish
criativas Screen (agência nacional da Escócia para o desenvolvimento das indústrias
cinematográficas/videográficas), um grande conglomerado dos média com
interesses na televisão, rádio e publicações assim como uma parte significativa
da imprensa escocesa
4.200 postos de trabalho (definição restrita). Forte crescimento nos últimos
anos, com expectativas de continuação da tendência.
D. Áreas de Film City Glasgow: Recuperação do antigo edifício da Câmara de Govan para a
intervenção instalação de empresas da indústria cinematográfica e dos media, a custos
controlados. O objectivo é transformar a área no principal campus escocês
dedicado aos média. Nas duas primeiras fases foi criado um escritório, sala de
conferências e um equipamento de produção de som. Na última fase, será
criado o espaço para instalação de pequenas firmas.
E. Recursos A cidade oferece inúmeros equipamentos culturais, concentrando alguns dos
culturais principais equipamentos da Escócia, como a Ópera da Escócia, o Ballet da
Escócia, a Orquestra nacional da Escócia, a Orquestra sinfónica da BBC
escocesa ou o Teatro Nacional. A cidade alberga ainda uma das maiores
bibliotecas a nível europeu a biblioteca Mitchell. De relevo são ainda de
mencionar três grandes salas/espaços para espectáculos: Glasgow Royal
Concert Hall, Glasgow City Halls e Old Fruit Market.
Festivais de nível internacional (a título exemplificativo): Celtic Connections,
Glasgow Film Festival ou o Glasgow Jazz Festival.
No que respeita a museus, são de salientar o Kelvingrove Art Gallery and
Museum (um dos mais visitados fora de Londres) e o GoMa (Gallery of Modern
Art).
Importante instituição de formação artística (Escola de Arte de Glasgow).
A cidade foi em 1999 a Cidade da Arquitectura do Reino Unido, em 1990
Capital Europeia da Cultura e em 2003 a Capital Europeia do Desporto. Em
2014 será a cidade anfitriã dos jogos da Commonwealth
F. Actores chave Glasgow Empresas da Cultura (Glasgow Cultural Enterprises - GCE) é uma
envolvidos das mais importantes organizações de eventos artísticos de Glasgow, é
responsável pela gestão de três espaços para espectáculos: sala de concertos
Glasgow Royal Concert Hall, Glasgow City Halls e old Fruit Market e pela
organização do Festival Celtic Connections.

Conselho das Artes da Escócia (Scottish Arts Council) - principal instituição


responsável pelo financiamento, desenvolvimento e promoção das artes na
Escócia.

Scottish Screen – agência nacional da Escócia para o desenvolvimento das


indústrias cinematográficas/videográficas (screen industries).
G. Financiamento Artes:
de projectos com O orçamento do Conselho das Artes para 2007/08 é de £59.9 milhões de libras,
impacto na incluindo 44 milhões de Libras do Governo da Escócia, 15 milhões de Libras da
capacidade Lotaria Nacional e £1.2 milhões de outras fontes de rendimento.
criativa Film City Glasgow: £3.5 milhões.

H. Resultados e -
lições

Informação suplementar:
http://www.glasgowculturalenterprises.com/gce/index.cfm
http://www.scottisharts.org.uk/
http://www.scottishscreen.com/
http://www.clydewaterfront.com/film_city_glasgow.aspx
http://www.glasgow.gov.uk/
http://www.glasgoweconomicfacts.com/

Principais ideias a reter para o caso de Cascais:


 Criação num edifício de dimensão comparativamente reduzida (sem a necessidade de uma utilização
espaço-intensiva) de um equipamento para albergar actividades económicas do ramo cinematográfico,
oferecendo serviços de apoio.
O sector cultural e criativo em
Cascais
4. O Sector cultural e criativo em Cascais

Neste capítulo, e ainda que este seja o ponto com o carácter mais descritivo deste relatório, não se pretende
uma nova caracterização do concelho a nível cultural (já existem diversos documentes, recentes e de qualidade
que o fazem – vejam-se em particular os relatórios do OAC- Santos et al, 2005; Gomes, 2005; Lima e Neves,
2005; Martinho e Gomes, 2005; Nunes e Neves, 2005; Pinheiro e Gomes, 2005; Santos e Neves, 2005), mas sim
sintetizar (de forma ainda descritiva) os principais recursos e dinâmicas criativas e culturais do concelho, numa
perspectiva de diagnóstico.
Neste sentido, pretende-se neste capítulo apenas analisar brevemente a evolução de alguns dos principais
indicadores disponíveis relativos à dinâmica do sector cultural e criativo de Cascais. Para tal, baseamo-nos
sobretudo nos dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística e nos referidos estudos realizados pelo
Observatório das Actividades Culturais (em particular Santos et al., 2005) sobre o sector cultural deste concelho.
Como vimos no capítulo 2, o sector criativo transborda as fronteiras do que é comummente associado ao
sector cultural, mas reconhecemos que o mesmo é um dos pilares do desenvolvimento das dinâmicas criativas. É
neste sentido que as fontes de informação quantitativas sobre o sector cultural no concelho consubstanciam a
matéria fundamental no diagnóstico do sector cultural / criativo.
Reconhecendo que a noção de cultura (bem como a de actividades criativas) pode ser apreendida e definida
de múltiplas formas, como atrás se defende (cf. Santos et al, 2005: 24; Costa et al, 2007), neste ponto do trabalho
(e em particular na secção 4.1) partimos de forma operativa da noção de sector cultural assumida pelo INE, isto é
essencialmente dos indicadores assumidos pelo INE como referentes àquilo que esta instituição inclui na
categoria de “cultura”. Tomámos igualmente atenção ao Regulamento de Organização dos Serviços Municipais de
8
Cascais (ROSM), que formaliza as competências orgânicas do Departamento de Cultura (DEC) e ainda
complementámos esses dados com o recurso pontual a outras fontes, nomeadamente as páginas amarelas ou
programações e guias culturais.
Salienta-se que as informações e a análise apresentadas neste ponto têm subjacentes duas questões. A
primeira é a complementaridade e interdependência, ou seja, as ilações retiradas e, consequentemente, a
concretização em medidas de política devem ser feitas com base no conjunto total das informações e numa
estratégia comum. Em segundo lugar, tendo em vista a identificação e a promoção de dinâmicas criativas, a
observação dos indicadores culturais/criativos do concelho deve, sempre que possível, procurar identificar as
9
dinâmicas territoriais, fundamentalmente, a sua localização e a relação com os indivíduos . É neste sentido que
este diagnóstico encara como fontes de informação fundamentais o estudo do Observatório das Actividades
Culturais, OAC, denominado “Cartografia Cultural do Concelho de Cascais” (Santos et al, 2005), e o instrumental
de informação geográfica que Câmara Municipal de Cascais dispõe.
Ainda levando em conta a perspectiva da inserção territorial e a influência do contexto no qual o concelho se
insere, procurámos não só reunir indicadores para Cascais como também para os concelhos limítrofes (Oeiras,
Sintra e também Lisboa, pólo central da área metropolitana), e para os espaços de referência de inserção

8
Artigo 62º (Do Departamento de Cultura); Artigo 63º (Da Divisão de Promoção e Animação Cultural); Artigo 64º (Da
Divisão de Património Histórico Cultural); Artigo 65º (Da Divisão de Bibliotecas e Arquivo Histórico).
9
As dinâmicas em torno dos indivíduos devem levar em conta tanto a população residente, quanto os potenciais “utentes” ou
frequentadores dos espaços, seja numa perspectiva de trânsito (ver movimentos pendulares, por exemplo), seja nas
perspectivas de inserção internacional e de intercâmbio.
concelhia: a Área Metropolitana de Lisboa (GAML), a NUT III Grande Lisboa, e o nível nacional (Portugal). Estas
informações fornecem-nos os instrumentos para a identificação de possíveis oportunidades, pontos fracos,
vantagens e riscos, bem como possibilidade de desenvolvimento de sinergias e complementaridades entre as
actuações dos diversos agentes.
Assim sendo, neste capítulo faz-se, num primeiro momento, uma breve caracterização dos recursos e
equipamentos culturais em Cascais e da utilização que deles é efectuada, bem como, de forma um pouco mais
abrangente, de alguns outros indicadores sobre a actividade criativa no concelho. De seguida, procede-se a uma
tentativa de estimação do peso económico destas actividades no concelho, com base nos (relativamente débeis)
dados existentes, confrontando-o com a sua envolvente próxima. As restantes secções do capítulo lidam, de
forma um pouco mais sintética, com três questões particulares consideradas como relevantes para a análise do
sector no concelho: uma breve caracterização dos públicos da cultura em Cascais; uma sistematização das
principais instituições e eventos realizados no concelho; em uma pequena reflexão sobre as políticas culturais e a
sua relação com o financiamento do sector cultural e criativo no concelho.

4.1. A actividade cultural e criativa em Cascais

Neste ponto pretende-se dar uma breve panorâmica empírica sobre a oferta e os consumos culturais no
concelho de Cascais, partindo dos dados estatísticos disponíveis. Como acima se referiu, não se pretende apostar
na exaustividade, mas efectuar uma reflexão de síntese com base no diagnóstico recentemente efectuado pelo
OAC sobre o concelho, actualizando-o e complementando-o nalguns pontos (mais associados às indústrias
10
criativas), mas sem ambicionar refazer todo esse valioso património de conhecimento já acumulado .
Como acima se refere, a análise é efectuada predominantemente ao nível concelhio, com comparação com a
situação na AML em que Cascais se insere, e com o padrão médio do país, bem como, com os concelhos mais
“próximos”: Oeiras, Sintra e Lisboa, centro da área metropolitana. Nalguns casos pontuais em que isso faça mais
sentido, a análise é levada ao nível intra-concelhio, mas quanto a isso, no essencial remete-se essa análise no
essencial para a cartografia das actividades Culturais no concelho efectuada pelo OAC, para a análise da qual se
remete o leitor neste relatório em diversos pontos.
Num primeiro momento, apresentamos informações sobre os equipamentos culturais numa perspectiva
generalista, para depois focarmos a análise nos equipamentos mais comummente associados ao sector cultural,
tais como museus, bibliotecas, cinemas, e galerias de arte.
De seguida, apresentamos alguns indicadores das despesas com cultura no município, e sua evolução ao
longo dos últimos anos numa perspectiva comparada com os espaços de referência.
Finalmente, um último conjunto de indicadores pretende apresentar informações sobre os agentes culturais e
criativos do concelho de forma mais ampla, recorrendo complementarmente a algumas fontes de informação
alternativas que nos dêem indicações preliminares sobre o seu peso real.

10
Note-se aliás o imenso potencial que a CMC tem para explorar em termos de instrumentos de recolha, tratamento e análise
da informação sobre estas actividades no concelho a partir do sistema de informação montado pelo OAC, com um potencial de
monitorização e avalização permanente destas actividades, se efectivamente explorado, de forma quotidiana e regular. Para
além disso, diversas fontes alternativas poderão ainda ser exploradas e rentabilizadas para mapear as actividades culturais e
criativas do concelho (com as páginas amarelas, que adiante utilizamos, ou outras), fazendo sentido que possam ser associadas
a essa base e a esse sistema de monitorização de informação.
4.1.1. Os equipamentos culturais e a sua utilização

- Recintos com valências culturais

Em relação aos equipamentos culturais, analisa-se um primeiro conjunto de indicadores “gerais”, como recintos
culturais, número total de cinemas, museus e galerias (de forma agregada) e valências culturais por equipamento.
11
A análise do indicador da evolução de Recintos Culturais entre 1999 e 2002 (tabela 4.4) revela-nos que, com a
excepção de Lisboa, Cascais apresenta um número significativamente maior de Recintos Culturais do que o de
seus concelhos limítrofes, tendo ainda observado um aumento no número de recintos no período observado.
Por seu lado, o número agregado de Cinemas, Museus e Galerias, para o período 2000-2003 revela que
Cascais teve o menor incremento de entre as diversas realidades observadas, não obstante a sua posição relativa
intermédia neste indicador (tabela 4.5).

Tabela 4.4: Número de Recintos Culturais – 1999-2002

1999 2000 2001 2002


GAML 61 67 72 88
Grande Lisboa 50 55 56 71
Lisboa 35 40 42 51
Cascais 4 4 4 6
Oeiras 3 3 2 2
Sintra 1 1 1 3
Portugal 667 747 997 1.104

Fonte: INE

Tabela 4.5: Número de Cinemas, Museus e Galerias – 2000-2003

2000 2001 2002 2003 TCAM


GAML 247 289 323 358 13,0%
Grande Lisboa 206 240 266 304 13,5%
Lisboa 145 177 189 227 15,1%
Cascais 13 12 15 13 2,3%
Oeiras 9 9 11 11 8,4%
Sintra 14 16 18 17 7,3%
Portugal 7.020 7.983 9.015 9.205 9,8%

Fonte: INE

11
Entende-se como “recinto cultural” aquele que tem a cultura como principal utilização. Por exemplo, a principal utilização
dos museus é cultural, não sendo verdade em relação aos ginásios desportivos (OAC, 2005: 123-127).
O concelho de Cascais apresenta grande concentração de equipamentos e diversidade dos mesmos. Os
estudos do OAC destacam neste campo ainda algumas políticas orientadas para desconcentração, como é o caso
das bibliotecas. Sobre o sector económico das actividades culturias o estudo destaca a concentração da oferta
pública nas localidades de Cascais e Estoril. Em relação aos equipamentos não culturais destacam-se as
presenças de jardins, praças e espaços verdes bem como estabelecimentos de ensino. O estudo sublinha a
grande presença de centros comerciais e evidencia a polivalência destes equipamentos, incluindo diversas
valências como cinemas, livrarias, discotecas, vídeo clubes (OAC, 2005: 133-148).
Como aponta o estudo Cartografia Cultural do Concelho de Cascais (OAC, 2005: 133), há uma tendência
crescente de criação de equipamentos culturais de múltiplas valências. Destaca-se ainda que este processo se
consubstancia na criação de uma valência dominante e outras secundárias (ver exemplo na tabela 4.6). Cascais e
Estoril novamente apresentam maior diversidade do que o resto do concelho. Nos equipamentos mais
disseminados pelo concelho a combinatória mais comum (havendo mais de uma valência) é espaço/sala
polivalente e espaço de exposições (OAC, 2005: 133-148).

Tabela 4.6: Concelho de Cascais - Valências Culturais de Equipamentos não culturais por Situação

Valências Culturais de Situação em 2002


Projecção para 2007
Equipamentos não culturais Existentes Em projecto
Biblioteca 20 0 20
Jardim, espaços verdes 18 4 22
Sala de cinema/ecrã 14 0 14
Espaço/sala polivalente 13 1 14
Espaço de Exposições 9 2 11
Auditório 8 1 9
Arquivo ou espaço de arquivo 1 1 2
Auditório ao ar livre 1 0 1
Outros 0 2 2
Total 84 11 95

Fonte: Base de dados de Equipamentos e Valências (extraído de Santos, 2005: 144)

De entre estes, dois “equipamentos” com valências múltiplas têm assumido destacado protagonismo numa
dinamização cultural transversal do concelho, para além de todos os mais “especializados” (como bibliotecas,
arquivos ou espaços para exposição): o Centro Cultural de Cascais e a Cidadela de Cascais.
No caso do Centro Cultural, gerido pela Fundação D. Luis I, a actividade tem sido diversificada, sobretudo no
campo das artes visuais e performativas, com uma programação regular de exposições e eventos e uma
progressiva fidelização de públicos, maioritariamente locais, mas que em muitos eventos, conseguem obter áreas
de influência supra-locais.
No caso da Cidadela, cujo espaço também se encontra sob gestão de uma empresa municipal, e para a qual
se perspectiva um programa de reconversão e reabilitação ao longo dos próximos anos, tem sido promovida
crescentemente a sua utilização para eventos culturais e criativos diversos como concertos, festivais, ou eventos
como a Moda Lisboa ou o MundoMix, por exemplo.
- Museus

Como vimos anteriormente, equipamentos como os museus podem e devem exercer um papel fundamental na
promoção do ambiente criativo pois são cruciais na consolidação das representações simbólicas e do
reconhecimento da identidade cultural local, para além de promoverem e permitirem a partilha de conteúdos,
técnicas, conceitos, etc., associados ao espólio por eles preservado.
Apesar de estarem registados apenas três museus, segundo o critério específico do INE, Cascais possui sob a
12
tutela da Divisão de Património Histórico-Cultural (DPAT) , uma rede de museus municipais com as seguintes
unidades museológicas: (i) Museu Conde de Castro Guimarães (até 2000 funcionou também como biblioteca); (ii)
Museu do Mar - Rei D. Carlos; (iii) Museu da Música Portuguesa - Casa Verdades de Faria, e mais (a) o Forte de
S. Jorge de Oitavos e o (b) Gabinete de Arqueologia. Para além destes, existem ainda outras estruturas
museológicas / expositivas: Espaço Memória dos Exílios, Farol-Museu de Santa Marta, Casa de Santa Maria,
Moinho de Armação Tipo Americano – Alcabideche.
Cascais apresenta ainda uma forte aposta em novos equipamentos, com destaque para os localizados na
freguesia de Cascais (em particular no centro histórico), sendo três dos cinco projectos para o centro histórico,
localizados na cidadela de Cascais e sua envolvente. De entre estes destaca-se o futuro Museu Paula Rêgo,
actualmente em fase de concretização (a par da Casa Civil da Presidência da República e de uma outra estrutura
Municipal).
Em relação ao pessoal em serviço nas unidades do DPAT destaca-se a presença das mulheres entre 35-44
anos, a maioria com qualificação superior ou secundário; o estudo do OAC destaca a presença de apenas 1
conservador de museus nas carreiras de pessoal específicas da área de museologia e 4 técnicos profissionais de
museologia (OAC, 2005: 136).
No que respeita às despesas do município com o subdomínio museus, ficou evidente uma redução no nível de
despesas entre 2000 e 2003, passando de 898 mil euros, para 677 mil euros (sobre despesas com o subdomínio
museus, ver: OAC, 2005: 36-37).
Sobre as valências existentes nas unidades museológicas da autarquia foram considerados oito tipos de
espaços destinados ao público e dois de espaços técnicos, sendo as valências mais comuns as salas de
exposição permanentes e as salas polivalentes estas com dimensões bastante variadas (OAC, 137). Os
equipamentos que apresentaram maior número de espaços destinados ao público foram o Museu da Música
Portuguesa e o Museu do Mar. Nos espaços técnicos destacou-se a valência “reservas”, espaço utilizado para
armazenar e conservas as colecções que não se encontram em exposição…
Destacam-se ainda as visitas guiadas e as publicações/edições como principais actividades desenvolvidas nas
entidades analisadas sendo os serviços educacionais o destaque negativo estando presente em apenas três.
Sobre o funcionamento e frequentadores, observou-se que os quatro museus apresentam funcionamento
permanente, 3ª-dom em horário determinado. Dois deles, o Museu Conde de Castro Guimarães e o Museu do
Mar, não têm acesso gratuito. Segundo o estudo do OAC, o número total de frequentadores aumentou de 30,7 mil
em 2000 para 38,9 mil em 2003 sendo o valor máximo atingido em 2001 com 41,6 mil – para uma análise mais

12
ROSM Regulamento de Organização dos Serviços Municipais, aprovado em Dezembro de 2004 – Para Museus, altera a
orgânica da Divisão de Patrmónio Histórico-Cultural (DPAT) dividindo-a em 3: Divisão dos Museus Municipais de Cascais
(DMUS), Gabinete de Arqueologia (GARQ) e Gabinete de Património Histórico-Cultural (GPAT) (fonte: OAC, Os Museus
Municipais de Cascais, pp. 135).
pormenorizada dos frequentadores ver ponto 4.4. Durante as entrevistas foi possível observar algumas situações
que merecem maior atenção, como é o caso do “Museu da Música Portuguesa”. Localizado na região norte do
concelho o equipamento apresentou grande potencial de dinamização da região. Destaca-se, no entanto, a
dificuldade na acessibilidade e a ausência de “serviços de apoio e associados” (p.e. um café), que permitam a
frequência do espaço, principalmente o jardim, por um período mais longo. Reconhecendo que a abertura ao
público obriga a uma programação mais complexa, envolvendo recursos para manutenção e rotinas de segurança
(que inclusive devem ter em conta as especificidades de uma unidade museológica), acreditamos que o
equipamento possui forte potencial para o desenvolvimento de dinâmicas criativas associadas a sua actividade
principal, a música.
Partindo do conceito de “funções museológicas”, trabalhado na Cartografia Cultural (OAC, 139), que refere
como exemplo as acções educativas inerentes às unidades museológicas, podemos conceber uma divisão
funcional de cada museu: Museu do Mar – promoção da consciência ambiental; Museu da Música –
desenvolvimento da formação musical; Museu Condes Castro Guimarães – promoção das artes decorativas.
Contudo, é flagrante a necessidade de articular tais actividades numa perspectiva mais ampla e interdisciplinar,
com o foco centrado nas especificidades dos frequentadores e público-alvo e nas actividades que ali podem ser
promovidas.

- Bibliotecas

As bibliotecas têm cada vez mais observado uma mudança importante na função que têm na comunidade onde
se inserem. O acelerado avanço tecnológico e a difusão das chamadas TIC tiveram um forte impacto sobre este
tipo de equipamento e sobre os anseios de seus utilizadores. No total, o Concelho de Cascais tinha 17 bibliotecas
em 2000 e 19 em 2003; ao termos em conta como referências a Grande Área Metropolitana de Lisboa e a Grande
Lisboa, observamos que Cascais registou no período um crescimento acima do observado nestas áreas, mas
similar ao observado nos concelhos limítrofes, com excepção a Lisboa.
Também devemos referir que em relação a proporção de residentes por biblioteca observadas no período
(tabela 4.8) melhorou na generalidade dos concelhos seleccionados. O concelho de Cascais destacou-se obtendo
a melhor performance entre os pares neste indicador. Em 2001 cada biblioteca servia 10819 residentes e em 2003
servia 9420 residentes. Houve um decréscimo médio anual de quase 7%, o que se traduz numa melhoria no
serviço.
Tabela 4.7: Número de Bibliotecas – 2000-2003

2000 2001 2002 2003 TCAM


GAML 577 565 593 603 15%
Grande Lisboa 493 482 505 517 16%
Lisboa 349 339 346 356 7%
Cascais 17 16 19 19 38%
Oeiras 25 25 27 28 38%
Sintra 24 27 29 29 65%
Portugal 1.911 1.912 1.917 1.960 8%

Fonte: INE

Tabela 4.8: População Residente por Biblioteca – 2001-2003

2001 2002 2003 TCAM


GAML 4.756 4.578 4.544 -2,2%
Grande Lisboa 4.072 3.918 3.855 -2,7%
Lisboa 1.649 1.589 1.517 -4,1%
Cascais 10.819 9.269 9.420 -6,7%
Oeiras 6.549 6.128 5.968 -4,5%
Sintra 13.909 13.361 13.758 -0,5%
Portugal 5.152 5.179 5.098 -0,5%

Fonte: INE

Levando em conta a diversidade de características destes equipamentos, como valências, dimensão, acervo,
etc., outro indicador importante é do número de documentos existente e adquiridos pelas bibliotecas (tabela 4.9).
Mesmo tendo reduzido significativamente o número de documentos adquiridos, Cascais teve, no período
considerado, a maior taxa de crescimento anual médio entre 2001 e 2003 em Documentos Existentes,
apresentando ainda, no entanto, o menor número de documentos existentes em valores absolutos.
Em Cascais, a consulta de documentos nas Bibliotecas diminui no período 2001-2003, apesar de terem
aumentado os empréstimos. Assiste-se também a um movimento inverso nos utilizadores, isto é, aumentaram os
utilizadores para consulta (que são aliás bastante acima dos concelhos limítrofes) e diminuíram os utilizadores
para empréstimo. Vale a pena referir que a consulta e empréstimo de documentos e os utilizadores para
empréstimo e consulta tem aumentado em Portugal.
Tabela 4.9: Documentos (milhares) Existentes e Adquiridos pelas bibliotecas – 2001- 2003

2001 2002 2003 TCAM

Docs. Docs. Docs. Docs. Docs. Docs. Docs. Docs.


Existentes Adquiridos Existentes Adquiridos Existentes Adquiridos Existentes Adquiridos

GAML 16.253 570 17.075 609 18.004 664 35% 52%


Grande Lisboa 14.699 478 15.332 514 16.199 581 33% 68%
Lisboa 12.651 390 12.956 396 13.772 468 29% 63%
Cascais 122 13 141 11 145 6 58% -237%
Oeiras 430 14 493 22 504 22 55% 165%
Sintra 274 16 308 22 320 31 53% 244%
Portugal 40.441 2.140 41.687 2.000 44.300 1.914 31% -37%

Fonte: INE

Tabela 4.10: Documentos (milhares) consultados e emprestados nas bibliotecas 2001-2003

2001 2002 2003 TCAM

Docs. Docs. Docs. Docs. Docs. Docs. Docs. Docs.


Consultados Emprestados Consultados Emprestados Consultados Emprestados Consultados Emprestados

GAML 4402 1506 4151 1597 4128 1482 -2.1% -0.5%

Grande Lisboa 3430 1019 3237 1097 3319 1088 -1.1% 2.2%

Lisboa 2821 657 2561 650 2657 660 -2.0% 0.2%


Cascais 60 36 41 43 45 53 -9.3% 14.0%
Oeiras 87 127 78 158 86 161 -0.3% 8.1%

Sintra 202 48 238 46 198 29 -0.7% -15.3%

Portugal 16473 6049 16290 6396 17879 6586 2.8% 2.9%

Fonte: INE

Tabela 4.11: Utilizadores (milhares) para consulta e empréstimo nas bibliotecas 2001-2003

2001 2002 2003 TCAM

Utilizadores Utilizadores Utilizadores Utilizadores Utilizadores Utilizadores Utilizadores Utilizadores


Consulta Empréstimo Consulta Empréstimo Consulta Empréstimo Consulta Empréstimo

GAML 3576 720 3448 832 3653 750 0.7% 1.4%

Grande Lisboa 2432 466 2550 524 2759 478 4.3% 0.8%

Lisboa 155 25 311 36 317 44 26.8% 20.6%


Cascais 1414 260 1469 275 1615 228 4.5% -4.3%
Oeiras 355 29 142 37 191 36 -18.6% 7.3%
Sintra 128 20 186 20 156 14 6.8% -12.4%
Portugal 12096 3157 11893 3325 12794 3395 1.9% 2.4%

Fonte: INE
Gráfico 4.1: Utilizadores para consulta e empréstimo nas bibliotecas, por mil residentes – 2003

10
9
8
7
6
5 Consulta
4 Empréstimo
3
2
1
0
GAML Grande Lisboa Cascais Oeiras Sintra Portugal
Lisboa

- Cinemas

Cascais apresenta, segundo o INE, um número praticamente constante de salas de cinema entre 2000 e 2003
(tabela 4.13). O número de salas permanece estável, possuindo Cascais 14 ecrãs, concentrados maioritariamente
nos dois principais centros comerciais, e dedicados essencialmente apenas ao cinema comercial, e uma outra
sala, com dois ecrãs em Carcavelos. Para além destas, a sala do Casino Estoril começou recentemente a exibir,
também numa base regular. A Tabela 4.12 apresenta a localização e o número de ecrãs no concelho e nas
regiões próximas.

Tabela 4.12: Localização e número de Ecrãs (Abril 2008)

Local Salas
Linha de Cascais: 30
CASCAIS
Carcavelos Atlântida Cine 2
Castello Lopes - Cascais Vila 5
Cascais
Lusomundo Cascais Shopping 7
Estoril Cinema Casino Estoril 1
OEIRAS
Linda-a-Velha Centro Comercial Tropical 1
Miraflores Lusomundo Dolce Vita 5
Lusomundo - Oeiras Parque 7
Oeiras
Palmeiras Shopping - Cinemas 2
Linha de Sintra: 18
SINTRA
Mem Martins / Castello Lopes - Feira Nova 6
Quinta da Beloura Cinema City – Beloura 8
Tapada das Mercês Floresta Center 2
TOTAL 48
Fonte: Cine Cartaz / Público Abr/2008
Tabela 4.13: Número de Salas de Cinema – 2000-2003

2000 2001 2002 2003 TCAM


GAML 52 49 53 57 36%
Grande Lisboa 40 35 37 41 13%
Lisboa 22 19 23 24 46%
Cascais 2 2 3 3 176%
Oeiras 3 3 3 4 90%
Sintra 4 4 3 3 -109%
Portugal 1.745 1.840 1.899 1.806 14%

Fonte: INE

Tabela 4.14: Número de Ecrãs – 2000-2003

2000 2001 2002 2003 TCAM


GAML 136 127 158 195 139%
Grande Lisboa 118 107 128 157 109%
Lisboa 76 67 88 104 129%
Cascais - - 14 14 -
Oeiras 10 10 10 14 106%
Sintra 13 13 10 10 -100%
Portugal 3.066 3.271 3.539 4.068 97%
Fonte: INE

Ainda no campo do cinema, o ano de 2007 foi o ano de estreia do European Film Festival, que decorreu entre 8
e 17 de Novembro no Casino do Estoril (Estoril) e nas salas de cinema do centro comercial Cascais Villa
(Cascais). Este evento, muito mediatizado e apoiado financeiramente pela autarquia e Junta de Turismo, ente
outras entidades, pretende afirmar-se como um marco da imagem do Concelho e da região e com o uma mais
valia para o desenvolvimento gradual de uma fileira de produção e distribuição de produtos audiovisuais no
concelho.
- Galerias de Arte

O número de galerias de arte presentes no concelho de Cascais também apresenta alguma regularidade,
embora a estatística do INE para esta informação não apresente a possibilidade de identificar a criação e
desaparecimento deste tipo de estabelecimento Cascais.
Não sendo o conceito de galeria de arte normalmente consensual nem perfeitamente definido, assumimos nas
tabelas seguintes duas contabilizações diferentes, provenientes de origens distintas e com critérios também
diversos. Como se pode ver, de qualquer forma, o número de galerias (ou estabelecimentos, equiparados,
nalgumas concepções mais latas) é significativo no concelho.

Tabela 4.15 - Galeriias de arte (I)


Galerias
Ceramicarte - Galeria de Arte, Cascais
Galeria de Arte do Casino Estoril
Galeria De Arte Fundação Marquês De Pombal
Esfinge - Galeria de Arte e Decoração
Galeria da Junta de Freguesia de Cascais
Galeria Artespaço
Arte Antiga

Fonte: Pesquisa Google


Tabela 4.16 - Galerias de arte (II)
Galerias
Actecas-Promoção de Comércio Artístico Lda
Ceramicarte - Cerâmica Artística de Cascais
D`Arthouse Galeria
David Levy Lima
Francisco Afonso Vilar
Galeria Cómicos - Editores Lda.
Jorge A S Gouveia Portela
José A Ribeiro Rodrigues
José M Mira Frazão
Maria H T A F L Pereira Coutinho
Projecto Art For All
Publicosmos-Publicações Internacionais Lda
Suporgest Lda
Teatro Experimental de Cascais
Tons da Baía
Viquadro
Fonte: Páginas Amarelas e guia Life Cooler: http://www.lifecooler.com/
Tabela 4.14: Número de Galerias de Arte – 2000-2003

2000 2001 2002 2003 TCAM


GAML 138 178 203 234 187%
Grande Lisboa 115 152 172 204 202%
Lisboa 89 124 130 164 207%
Cascais 8 7 9 7 -15%
Oeiras 4 4 6 5 113%
Sintra 5 5 8 8 207%
Portugal 3.724 4.340 5.214 5.473 143%

Fonte: INE
4.1.2. A actuação municipal na cultura

Na nossa análise sobre a actividade cultural e criativa no concelho de Cascais enquadra-se igualmente um
breve exercício comparativo sobre a evolução das despesas com actividades culturais registados pelo INE. Não
obstante as debilidades deste indicador (por diversos motivos, entre eles o facto de que o que é contabilizado
como “cultural” diferir muito de município para município, ou o facto de muita actividade cultural nos municípios ser
progressivamente executada por outros pelouros que não o da Cultura ou por entidades externas, como empresas
municipais, etc.), importa olhar para estes dados, tendo em conta essas limitações, e percebermos as dinâmicas
dos gastos municipais com a Cultura.
Na tabela 4.15 apresenta-se o valor de despesa do Município de Cascais por nível de despesa, com especial
enfoque para o sector cultural. Destaca-se o decréscimo do peso da cultura no total das despesas, devendo-se
isto principalmente à rubrica dos museus, apesar de nominalmente essa diminuição não ter sido muito acentuada.

13
Tabela 4.15: Valor da despesa de Cascais por Nível de Despesa – 2000-2003 (milhares de euros)

Nível de despesa 2000 2001 2002 2003


Despesa total da autarquia 94704 114086 111229 132350
Cultura 5748 5948 4877 5444
% da Cultura na Despesa total da autarquia 6,1% 5,2% 4,4% 4,1%
Património Cultural 1228 1465 1185 1249
% do Património cultural na Cultura 21,4% 24,6% 24,3% 22,9%
Museus 898 1098 750 677
% Museus na Cultura 15,6% 18,5% 15,4% 12,4%

Fonte: INE, "Inquérito ao financiamento público das actividades culturais das câmaras municipais".
(Extraído de OAC, 2005).

Gráfico 4.2: Valor da despesa em Cultura (%) em Cascais por Nível de Despesa – 2000-2003

25%

% da Cultura na
20% Despesa total da
autarquia

15% % do Património
cultural na Cultura

10%
% Museus na Cultura

5%

0%
2000 2001 2002 2003

13
Neste quadro e em todos os seguintes, salvo indicação expressa em contrário, os valores são apresentados a preços correntes.
No entanto, o concelho de Cascais, tal como os vizinhos apresentam um peso da despesa em actividades
culturais no total das despesas municipais maior que a média metropolitana (cf Tabela 4.16), e particularmente
neste ano, muito acima do concelho de Lisboa (embora isto se verifique num ano em que estas foram reduzidas
muito excepcionalmente, como pode ser visto nos quadros seguintes). Note-se, no entanto, que é o único em que
as despesas de capital têm um peso mais relevante que as despesas correntes…

Tabela 4.16 – Despesas das Câmaras Municipais em Actividades Culturais, 2004

Despesas de Despesas
Despesa total
capital em correntes em Despesa em
em actividades
actividades actividades cultura no total
culturais por
culturais por culturais por de despesas
habitante
habitante habitante

€ € € %
GAML 19.8 28.6 48.4 8.2
Grande Lisboa 19.5 24.5 44.0 7.3
Lisboa 17.9 14.3 32.2 3.3
Cascais 46.7 26.4 73.1 10.3
Oeiras 35.0 47.8 82.8 11.2
Sintra 10.3 22.5 32.8 10.9
Portugal 37.3 38.5 75.8 11.6

Fonte: INE

Com o pode ser observado nas tabelas 4.17 e 4.18 e no gráfico 4.3, o contexto de instabilidade nos montantes
de despesas municipais em cultura é a regra, tanto no contexto nacional como metropolitano, e tanto em nível das
despesas totais como ao nível per capita. As flutuações, tanto crescentes como decrescentes, são elevadas o
que pode por um lado ser explicado pelas limitações destes dados, anteriormente apontadas, mas também por
variações conjunturais em termos das opções políticas dos respectivos executivos e preocupações na gestão dos
ciclos eleitorais.
Note-se no entanto que Cascais apresenta uma taxa de crescimento anual médio bastante positiva no período
2002-2006 (muito à custa do último ano, após um período de contenção orçamental anterior associado à política
de saneamento financeiro prosseguida pela autarquia), muito superior a todos os espaços de referência
considerados (cerca de 19%, enquanto que o único outro concelho com um crescimento relevente, Oeiras, se
ficou pelos cerca de 6%). Lisboa e Sintra, pelo contrário apresentam evoluções calaramente negativas.
Com esta evolução, Cascais no período de referência quase duplica o montante da sua despesa municipal em
cultura (embora a preços correntes…), aproximando-se bastante mais do nível de despesa de um município como
Lisboa e garantindo níveis de despesa per capita em 2006 superiores a Lisboa ou a Oeiras. Note-se no entanto a
grande variabilidade anual deste último indicador (tabela 4.18), sendo de qualquer maneira de destacar o facto de
Cascais, consistentemente e ao longo de todo o período conseguir assegurar níveis superiores às médias
metropolitanas.
Tabela 4.17- Despesa (milhares de euros) dos Municípios com cultura – 2002-2006

2002 2003 2004 2005 2006 TCAM


GAML 137.790 126.341 133.180 167.848 130.282 -1,39%
Grande Lisboa 92.526 88.097 87.903 114.089 92.682 0,04%
Lisboa 43.730 30.662 17.235 44.830 30.684 -8,48%
Cascais 8.026 9.403 13.183 10.631 16.191 19,18%
Oeiras 8.020 10.427 13.890 12.490 10.462 6,87%
Sintra 12.402 10.399 13.253 15.101 11.630 -1,59%
Portugal 766.137 776.920 795.736 913.810 802.857 1,18%
Fonte: INE

Tabela 4.18 - Despesa (euros) per capita dos Municípios com cultura – 2002-2006

2002 2003 2004 2005 2006 TCAM


GAML 50,76 46,11 48,24 60,4 46,63 -2,10%
Grande Lisboa 46,76 44,2 43,87 56,68 45,89 -0,47%
Lisboa 79,54 56,78 32,55 86,25 60,19 -6,73%
Cascais 45,58 52,54 72,66 57,91 87,39 17,67%
Oeiras 48,47 62,4 82,45 73,62 61,30 6,05%
Sintra 32,01 26,06 32,37 36,01 27,14 -4,04%
Portugal 77,17 77,76 79,23 90,64 75,75 -0,46%
Fonte: INE

Gráfico 4.3 - Despesa (euros) per capita dos Municípios com cultura – 2002-2006

100

90

80

70 Cascais
Grande Lisboa
60 Portugal

50

40

30
2002 2003 2004 2005 2006
4.1.3. Outros indicadores sobre a actividade criativa no concelho

Nesta secção, face às limitações dos dados estatísticos oficiais existentes, por demais conhecidas (cf., por
exemplo, Santos et al, 2005, Costa, 2007) procura-se fazer uma breve demonstração e estimação da importância
e representatividade das actividades culturais e criativas no concelho, recorrendo a indicadores alternativos em
relação às estatísticas oficiais, nomeadamente às listagens de agentes nas Páginas Amarelas.
Em todo um conjunto de sectores, da fotografia às artes performativas, da produção audiovisual a aluguer de
equipamentos, da formação e ensino artístico à comercialização de inputs e bens de consumo paralelos aos
outputs artísticos (material de pintura, molduras, suportes digitais ou outros, hardware e equipamentos,…), da
arquitectura à moda ou ao design, muitas são as áreas onde a produção cultural e criativa do concelho existe e é
crescentemente notada, embora, por diversas razões não seja facilmente acessível e mapeável através das
estatísticas e dos dados oficiais. Da mesma forma, um conjunto e agentes e eventos fundamentais que mostram e
marcam dinamismo cultural no concelho, muitas vezes não vêem o seu peso e influência repercutido nesses
mesmos dados, e a eles nos dedicaremos mais em pormenor numa das secções seguintes (secção 4.4).
Não é nosso objectivo aqui fazer este mapeamento exaustivo, mas tão só salientar a sua importância, bem
como o crescimento verificado nos anos mais recentes, na generalidade destes campos. Para além daquilo que
será evidente ao folhearmos por exemplo, a agenda cultural do concelho de Cascais, cuja densidade tem
aumentado ao longo dos anos, remetemos neste ponto o leitor no essencial para o diagnóstico efectuado pelo
OAC, que, embora focado essencialmente nas actividades culturais, não deixou de foram muitas destas
actividades, bem como a preocupação de delas efectuar uma mínima cartografia intra-concelhia. Vejam-se a este
propósito, a título exemplificativo, as figuras apresentadas no Anexo C.
Embora o referido estudo realizado pelo OAC tenha representado um ganho muito significativo no que diz
respeito ao conhecimento sector cultural do concelho, ainda observamos, no entanto, uma grande dificuldade em
obter e conseguir sistematizar informações mais detalhadas e consistentes para o médio/longo prazo, seja ao
nível do concelho (e intra-concelhio), seja no que concerne à sua comparação com a situação nacional, e os
concelhos envolventes.
Estas dificuldades agravam-se naturalmente na tentativa de refinar o nosso diagnóstico para as dinâmicas dos
agentes criativos, entendidos num sentido mais amplo do que os agentes culturais. Será aqui de relembrar
novamente a importância da CMC conseguir manter e actualizar permanente ma base de informação fiável sobre
estas actividades, pois a monitorização e avaliação permanente da actuação dos agentes e da própria actuação
municipal será um aspecto fundamental para a sua dinamização, como aliás, já se refere no diagnóstico do OAC.
As bases fundamentais para a implementação de um sistema de monitorização e avaliação municipal estão aí
lançadas.
Tendo estas reflexões em conta, apresentamos aqui apenas uma breve síntese de uma recolha efectuada
numa das fontes utilizáveis (as bases de dados da Páginas Amarelas), que nos permitem ter uma ideia da ordem
de grandeza genérica actual de um conjunto de áreas das actividades culturais e criativas não completamente
cobertos pelas estatísticas e dados mais “oficiais” e “institucionais”.
O recurso aos dados oferecidos pelas páginas amarelas deverá ser entendido como um exercício algo frágil,
mas que serve como um elemento complementar de diagnóstico ao sector criativo no Concelho de Cascais. Esta
ferramenta beneficia da constante actualização da base de dados. Convém referir que o acesso a esta base foi
feito através do motor de busca das Páginas Amarelas disponível no site www.pai.pt. Não obstante, seria de
considerar fazer uma abordagem mais plena, recorrendo à base que pode ser adquirida na mesma empresa e,
assim, ter acesso a uma informação mais verosímil dos agentes existentes e registados neste serviço. Convém
pois alertar para algumas lacunas que devem ser tomadas em consideração na leitura dos resultados:
 Os dados oferecidos pelas Páginas Amarelas referem-se a empresas e não a trabalhadores, pelo que será
impossível por este meio perceber o número de indivíduos que cada empresa comporta e compará-los com
os outros instrumentos de análise utilizados neste relatório;
 Uma vez que se trata de um motor de busca das actividades, funcionando por palavras-chave, corremos o
risco de desenvolver uma sobreavaliação dos resultados, dado que existe sempre a possibilidade de uma
só empresa estar associada a mais do que uma actividade.
Ainda assim, foi possível tirar algumas conclusões que vão de encontro às retiradas com a observação dos
dados dos Quadros de Pessoal para a CAE e CNP, bem como outras conclusões um pouco mais inesperadas.
Assim, é possível constatar no Tabela 4.19, que se confirma o elevado número de actividades relacionadas com a
arquitectura, bem como o elevado número das actividades de Design e Publicidade, revelando-se mais
significativas do que os dados anteriores indicavam.

Tabela 4.19 – Estabelecimentos Criativos em Cascais – 2008 (Páginas Amarelas )


N.º de
Actividades
Empresas
Artes Visuais 41
Artes Performativas 11
Património 19
Cinema, Vídeo e fotografia 19
Televisão e Rádio 1
Livros e Imprensa 21
Design 70
Arquitectura 99
Publicidade 45
Artesanato 5

Fonte: Páginas Amarelas


4.2. Uma tentativa de estimação do peso do sector cultural-criativo em Cascais

Após a breve caracterização dos principais agentes, recursos e eventos culturais e criativos do concelho de
Cascais, efectuada no ponto anterior, e no sentido de aprofundar a análise das actividades culturais e criativas no
concelho de Cascais, importa sistematizar e avaliar (ainda de que forma limitada e preliminar, face à qualidade de
informação disponível) a relevância do sector para o concelho, isto é o peso do sector cultural e criativo no
concelho de Cascais e confrontá-lo com os concelhos vizinhos e o contexto nacional e metropolitano.
Neste sentido, efectua-se nesta secção uma tentativa de estimação do peso do sector criativo em Cascais,
14
essencialmente com base na variável emprego , partindo da análise dos sectores da Classificação das
Actividades Económicas (CAE) e da Classificação Nacional de Profissões (CNP) e de uma definição do sector
cultural/criativo que nos permita estimar esse valor.
Após uma contextualização e enquadramento deste tipo de análises e de uma referência às suas principais
limitações e a alguns aspectos metodológicos, efectua-se uma análise dupla do peso destas actividades e dos
seus diversos subsectores, recorrendo a duas fontes distintas, ambas com limitações, mas pertinentes para os
nossos objectivos: por um lado a base de dados dos Quadros de Pessoal do Departamento de Estatística do
Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social; e por outro lado, os dados do último CENSO (2001).

4.2.1. O mapeamento das actividades culturais e criativas e as suas limitações

Introdução ao mapeamento e à definição de um sector criativo

O exercício feito para o mapeamento do sector criativo tem vindo a ser protagonizado em vários países, no âmbito
de projectos cujo objectivo é desenvolver o sector cultural e criativo nas cidades. Este exercício traduz-se, em
última análise, na possibilidade não só de perceber os limites deste sector como também na medição efectiva do
seu peso nas economias nacionais considerando vários indicadores. Contudo, o que caracteriza todos os
exercícios até agora realizados é o seu carácter experimental de agregação de actividades, na tentativa de
organizar as diversas vertentes que este sector pode desenvolver.

Existem alguns factores que é necessário tomar em conta quando o objecto de análise é o peso do sector cultural
e criativo e o indicador utilizado, o número de trabalhadores existentes em cada um dos ramos de actividade.
Esses factores devem ser tomados em consideração pois facilmente conduzem a uma leitura errónea. Devem ser
tomados em conta os seguintes aspectos:

 A existência de um grande número agentes culturais que não é contabilizada nas estatísticas nacionais
que revelam o carácter não profissionalizado do sector;

14
Seria interessante fazê-lo também para uma variável associada ao produto ou ao valor criado, como o VAB (Valor Acrescentado Bruto),
mas essa tarefa é impossível com a informação disponível actualmente ao nível concelhio. Para além disso, seria igualmente interessante ir
para além do peso “económico” do sector, assumindo, como acima foi referido, que o papel destas actividades no desenvolvimento concelhio
passa por muito mais do que a criação de riqueza e de postos de trabalho, isto é, assumindo-as como um fim e como um meio de um processo
de desenvolvimento sustentável, nas suas diversas dimensões. Neste quadro, e tendo em conta a impossibilidade de fazer esta análise no
quadro das limitações deste estudo, importará no entanto atentar nas conclusões da análise adiante efectuada em termos do diagnóstico dos
recursos criativos do concelho (no capítulo 5).
 O mesmo acontece relativamente às receitas adquiridas através de serviços no sector da cultura que
não são contabilizados;

 O facto do sector cultural ser bastante heterogéneo, faz com que existam várias actividades alocadas
em pequenos grupos que acabam por revelar uma expressão estatística muito pouco significante,
sendo que a possibilidade de agregação pode trazer leituras inadequadas e não verosímeis.

 Por fim, a existência cada vez mais recorrente de agregação de actividades culturais e criativas em
grupos que têm como actividade principal, outro tipo de actividade.
Neste estudo do Concelho de Cascais, na tentativa de contornar estas limitações, é exigida tarefa semelhante,
recorrendo aos exemplos e boas práticas desenvolvidos noutros projectos internacionais. É aqui inquestionável a
presença do modelo apresentado pelo Department of Culture, Media and Sport (DCMS) do Governo do Reino
Unido, como modelo paradigmático para outros estudos.
De salientar também, o carácter pioneiro que este trabalho tem na realidade portuguesa, dado nunca ter sido
experimentado um modelo de mapeamento para o sistema nacional (ainda por cima tendo em conta as limitações
da informação estatística existente) – seja através da Classificação das Actividades Económicas (CAE), seja
através da Classificação Nacional de Profissões (CNP) – e com uma aplicação tão pragmática como a que este
projecto pretende realizar.

Metodologia do mapeamento

De uma forma objectiva, importa descrever e argumentar a metodologia utilizada para desenvolver, numa
primeira fase, o nosso mapa de actividades, sectores e sub sectores culturais e criativos, bem como das
actividades de fronteira.
Numa primeira fase, foi realizado algum trabalho de análise de experiencias feitas em estudos internacionais e
em diversas propostas de mapeamento do sector cultural e criativo. Uma síntese das principais conclusões de
alguns dos principais trabalhos analisados, com relevância para o nosso estudo, encontra-se na tabela 4.20:
Tabela 4.20
Relatório Breve descrição
Este relatório faz uma análise comercial acerca do posicionamento das
indústrias culturais e criativos no contexto do desenvolvimento dos mercados
NESTA, 2006, Creating Growth- globais. São questionadas as oportunidades e ameaças a serem
How the UK can develop world consideradas num sector que tem vindo a revelar um imenso potencial
class creative business, London, económico e de progressivo crescimento. Este relatório tem ainda o grande
NESTA Research Report. objectivo de auxiliar o Departamento da Cultura Inglês na percepção do
sector das indústrias culturais e criativas e a formular linhas estratégicas
adequadas às particularidades destas actividades.

Este relatório tem como objectivo avaliar o impacto económico do sector


cultural e criativo na Europa e ilustrar de que forma é que a cultura pode ter
uma função de alavanca no desenvolvimento social bem como na inovação e
KEA Report – The Economy of coesão social. Alerta para o dinamismo que este sector está a ganhar no
Culture in Europe panorama das económicas nacionais como um factor de oportunidades ao
nível do emprego qualificado, mas também como sector que estimula outras
actividades associadas. Este relatório ilustra também a forma como a cultura
promove a integração Europeia na sua diversidade.

Este relatório tem a preocupação de rever os sistemas de classificação das


actividades culturais e criativas, utilizados ao nível internacional. O exercício
comparativo de esquemas de mapeamento, alerta para algumas lacunas
John C. Gordon and Helen Beilby- existentes neste exercício essencial de localização e definição das
Orrin, International Measurement actividades incluídas no sector cultural e criativo. Este relatório alerta para
of the Economic and Social ausência de um sistema estandardizado de classificação deste sector bem
Importance of Culture, OCDE, 2006 como para importância de uma ferramenta deste tipo para perceber o
potencial da economia das indústrias culturais e criativas. Alerta ainda para
ausência para a falta de detalhe dos sistemas de classificação nacionais que
não estão preparados para lidar com este sector.
O trabalho desenvolvido pelo NESTA (National Endowment for Science, Technology and the Arts), bem como
pelo Departamento da Cultura, Media e Desporto, revela-se de toda a importância para os desenvolvimentos na
área da economia criativa. Este relatório teve um papel fulcral pela sua exposição de um mapeamento coerente do
território das indústrias culturais e criativas na Inglaterra, tendo-se tornado como um exemplo paradigmático para
outros projectos internacionais. Para o projecto Cascais foi considerada apenas o contributo teórico e da
experiência adquirida ao nível das lógicas de organização das diferentes actividades. Convém notar, contudo, que
o sistema de classificação de actividades económicas e de profissões do Reino Unido (SIC e o SOC)15 conseguem
ser bastante diferentes da Portuguesa, inviabilizando uma comparação mais próxima. Os dois últimos relatórios
(KEA/EU e OCDE) foram bastante úteis na medida em que utilizam um sistema de classificação de actividades
económicas normalizado ao nível europeu (NACE), igual à CAE, e avançam uma proposta de organização das
actividades culturais e criativas16. Ainda assim, convém fazer duas ressalvas relativamente à metodologia utilizada
por estes dois relatórios:
 A forma como estão organizados os sectores culturais e criativos nem sempre é satisfatória, considerando
os objectivos para este projecto, no que se refere ao tipo actividades incluídos em cada sub-sector
 Apesar de haver uma utilização dos códigos do NACE, o nível de desagregação das categorias contidas
em cada não é suficiente para perceber que actividades estão incluídas, correndo o risco de associar a
determinados sub-sectores tipos de actividade que não só não são pertinentes, como também será
metodologicamente incorrecto contabiliza-las.
Assim, o exercício feito para a construção de uma proposta de matriz das actividades culturais e criativas, teve
que seguir um percurso ligeiramente distinto, mas sempre com os estudos internacionais como ponto de partida.
Nesta decisão está o facto de ambos os sistemas de classificação nacionais não estarem preparados para uma
análise vocacionada para o sector cultural e criativo. Dado isto, foi necessário analisar de uma forma intensiva e
pormenorizada ambas CNP e CAE nas suas definições e trabalhando sempre a um nível de desagregação
máximo.
Assim sendo, apresentamos a tabela da CNP e da CAE vocacionadas para o sector cultural e criativo:

15
Ver Figura 1 e Figura 2 em anexo.
16
Ver Figura 3 em anexo sobre o trabalho realizado pela OCDE.
Tabela 4.21 - Classificação Nacional das Profissões - Cultura e Criatividade
Classificações
Sectores Sub-Sectores
CNP (alguns exemplos)
Artesanato (Crafts) 2.4.5.2.05 - Escultor
Pintura 2.4.5.2.10 - Pintor de Arte
Artes visuais
Núcleo Actividades Culturais

Escultura 2.4.5.2.15 - Desenhador Humorístico (Caricaturista)


Fotografia
1.2.1.0.30 - Produtor Teatral
Artes Teatro – Dança – Arte 2.4.5.4.05 - Coreógrafo
Performativas Circense – Festivais - Música 2.4.5.4.10 - Bailarino
2.4.5.4.90 - Outros Coreógrafos e Bailarinos
2.4.3.1.05 – Arquivista (Verificar se actividades 4.1.4.1 também
são de considerar)
Museus – Bibliotecas – Zonas
Património 2.4.3.1.10 - Conservador de Museus
arqueológicas - Arquivos
2.4.3.1.90 - Outros Arquivistas e Conservadores de Museus
2.4.3.2.05 - Bibliotecário - Documentalista
Ensino 2.3.5.9.10- Professor do Ensino Vocacional Artístico?
Artístico
1.2.1.0.15 - Director de Produção Cinematográfica
Filmes e vídeo 1.2.1.0.35 – Produtor Cinematográfico
2.4.5.2.20 - Animador - Cinema de Animação
1.2.1.0.20 - Director de Estação de Radiotelevisão
Televisão e
Indústrias Culturais

1.2.1.0.25 - Director de Estação de Radiodifusão


Rádio
1.2.1.0.40 - Produtor de Televisão
Círculo 1

3.1.2.1.05* - Programador – Informática


Vídeo Jogos 3.1.2.1.90* - Outros Programadores de Informática e
Trabalhadores Similares
Mercado Discográfico – 2.4.5.3.05 - Compositor Musical
Música Concertos – Direitos de 2.4.5.3.15 - Regente de Coro
Autor do Mercado da Música 2.4.5.3.20 – Instrumentista
2.4.5.1.05 – Escritor
Livros e Edição de Livros – Revistas
2.4.5.1.10 - Crítico
Imprensa e Jornais
2.4.5.1.15 - Chefe de Redacção
Design de moda – design 3.4.7.1.05 - Desenhador Modelista Industrial
actividades criativas

gráfico – design de 3.4.7.1.10 - Estilista


Design
interiores – Design de
Industrias e

produtos
Círculo 2

2.1.4.1.05 - Arquitecto
Arquitectura
2.1.4.1.10 - Urbanista
1.2.3.4.05 - Director de Publicidade
1.2.3.4.10 - Director Artístico e Criativo
Publicidade
2.4.5.2.25 - Visualizador - Publicidade
3.4.2.9.05 - Agente Publicitário
Grupo Base 7.3.1.2
Relacionada

7.3.1.2.05 - Afinador-Reparador de Órgãos e Acordeões


Circulo 3
Industria

Indústria de 7.3.1.2.10 - Reparador de Instrumentos Musicais de Sopro em


Manufactura Metal
7.3.1.2.15 - Reparador de Instrumentos Musicais de Sopro em
Madeira ou Massa

Para a definição das actividades a incluir neste mapeamento, foi necessário organizar por círculos que, ora
contêm actividades nucleares de cariz artístico e cultural numa perspectiva mais tradicional, ora actividades mais
relacionadas com a noção da criatividade e no limite, actividades que de uma forma periférica estão relacionadas
com as actividades culturais e criativas e acabam por servir de suporte.Assim sendo, definimos os seguintes
círculos:

 Núcleo – Actividades Culturais


Neste círculo estão incluídas as actividades tradicionalmente descritas como actividades culturais e de
produção artística. Pode associar-se a este círculo a não reprodutibilidade das obras de arte.

 Círculo 1 – Indústrias Culturais


Neste círculo estão incluídas actividades associadas a uma indústria com uma maior capacidade de gerar
riqueza económica, lidando com o factor reprodutibilidade dos conteúdos. Trata-se de um círculo com
grande capacidade de gerar riqueza através da propriedade intelectual.

 Círculo 2 – Indústrias e Actividades Criativas


Neste círculo foram incluídas actividades com elevada componente criativa associadas à indústria, logo,
com uma componente económica bem mais acentuada. Actividades que acabam por desenvolver a
criatividade num âmbito mais industrial.

 Círculo 3 – Indústrias Relacionadas


Neste círculo foram incluídas todas as actividades que estão relacionadas seja com a reprodução dos
conteúdos, ou com a fabricação de suportes e todo o trabalho que é realizado de forma mecânica e que
não têm qualquer componente criativa. Servem, no entanto, os círculos anteriores.

À medida que foram associadas as actividades a cada um dos círculos, foi tomado em consideração que
existem actividades que podem ser multifacetadas e daí ponderar uma percentagem de actividades que devem
ser ou não incluídas.
Á semelhança do que iremos ver na Classificação das Actividades Económicas, a CNP apesar de uma
descrição bastante pormenorizada das actividades, carece de uma actualização para os novos sectores
económicos bem como da terminologia utilizada.

Classificação das Actividades Económicas

A mesma tarefa foi feita para a CAE nacional. Como foi mencionado anteriormente, apesar do contributo dado
pelos relatórios analisados, utilizando a classificação NACE, foi necessário chegar a um nível mais específico de
actividades, desagregando aos 5 dígitos. Como trabalhamos aqui com actividades económicas importa reduzir o
mais possível o leque das actividades o consideradas. No entanto, a lógica de organização desta classificação
representou um obstáculo para a construção dos círculos já que a definição das actividades são ambíguas.
Mesmo recorrendo ao nível máximo de desagregação, muitas das actividades consideradas na classificação CAE
agrupam actividades criativas ou relacionadas e actividades sem qualquer ponto de contacto com o grupo em
estudo. Como forma de contornar este obstáculo adoptou-se assim um conjunto variável de percentagens em
classificações onde as actividades criativas ou relacionadas são só parte do seu significado.
O exercício de mapeamento aqui conduzido difere significativamente do anterior. Ao investigar actividades
económicas, o nosso estudo ganha profundidade já que podemos avaliar qual o peso de actividades não criativas
que estão directamente dependentes, a montante e a jusante, destas actividades. Assim, cruzámos diferentes
círculos apresentados para a CNP com outros três círculos – eixo horizontal da tabela para a classificação das
actividades económicas - referentes à cadeia de valor das actividades criativas:

1- Núcleo criativo - Neste círculo estão incluídas as actividades descritas como actividades culturais, de
produção artística e de indústrias relacionadas.
2- Incorporação de conteúdos nos suportes (e suportes para experienciação de conteúdos) – Neste círculo
estão incluídos dois tipos de actividades associadas às indústrias criativas: produção de suportes que
incorporem conteúdos criativos; produção de suportes para experienciação de conteúdos. Em comum,
estas duas são actividades normalmente relacionadas com a fabricação.

3- Distribuição de produtos reprodutíveis - Neste círculo foram incluídas todas as actividades que estão
relacionadas com a distribuição bens ou suportes de conteúdos criativos produzidos em série.
Tabela 4.22 – Actividades Culturais e Criativas - CNP
Sectores Sub Sectores Núcleo criativo Incorporação de conteúdos nos suportes (e Distribuição de produtos reprodutiveis
(Alguns Exemplos) suportes para experienciação de conteúdos)
Pintura
Escultura 9231 - Actividades de teatro, música e outras actividades artísticas 3630 - Fabricação de instrumentos musicais 5212 - Comércio a retalho em estabelecimentos não
Artes visuais Fotografia de autor/instalação/video e literárias  36300 - Fabricação de instrumentos musicais especializados, sem predominância de produtos
(inclui galerias, comércio de arte e 92312 - Outras actividades artísticas e literárias alimentares, bebidas ou tabaco (10%)
restauro) 5245 - Comércio a retalho de electrodomésticos,
Teatro 92311 - Actividades de teatro e musicais 71400 – Aluguer de bens de uso pessoal e aparelhos de rádio e televisão, instrumentos musicais,
Núcleo Dança 9232 - Gestão de salas de espectáculo e actividades conexas doméstico ne (25%) discos e produtos similares (%)
Actividades Culturais Artes Performativas Arte Circense 9234 - Outras actividades de espectáculo, n.e. 52452 - Comércio a retalho de instrumentos
Festivais 92342 Outras actividades de diversão e espectáculo diversas, musicais, discos, cassetes e produtos similares
Música ao vivo n.e. (10%)
Museus 52488 - Comércio a retalho de outros produtos novos
9251 - Actividades das bibliotecas e arquivos
Bibliotecas em estabelecimentos especializados (15%)
Património 9252 - Actividades dos museus e conservação de locais e de
Zonas arqueológicas 5250 - Comércio a retalho de artigos em segunda mão
monumentos históricos.
Arquivos - (inclui antiquários) em estabelecimentos (100%)
Outras actividades de apoio e 75123 - Administração pública - actividades da cultura, desporto, 5263 - Comércio a retalho por outros métodos, não
agenciamento... às artes e recreação, ambiente, habitação e de outras actividades sociais, efectuado em estabelecimentos (10%)
artistas (transversal) excepto segurança social “obrigatória” (20%)
2232 - Reprodução de gravações de vídeo
9210 - Actividades cinematográficas e de vídeo 33403 – Fabricação de material fotográfico e 5143 - Comércio por grosso de electrodomésticos,
Cinema, vídeo e fotografia 9211 - Produção de filmes e de vídeos e actividades técnicas de cinematográfico aparelhos de rádio e de televisão (%)
pós-produção 3220 - Fabricação de aparelhos emissores de  51430 - Comércio por grosso de
74810 – Actividades fotográficas rádio e de televisão e aparelhos de telefonia e electrodomésticos, aparelhos de rádio e de
Televisão e Rádio 92200 - Actividades de rádio e de televisão telegrafia por fios televisão (25%)
72210 – Edição de programas informáticos (20%)  32200 - Fabricação de aparelhos emissores 51472 – Comércio por grosso de livros, revistas e
Vídeo Jogos (software criativo) 2233 - Reprodução de suportes informáticos de rádio e de televisão e aparelhos de jornais
Círculo 1
22330 - Reprodução de suportes informáticos (20%) telefonia e telegrafia por fios (30%) 52111 – Comércio a retalho em supermercados e
Indústrias Culturais
Mercado Discográfico 2214 - Edição de gravações de som 3230 - Fabricação de aparelhos receptores e hipermercados (10%)
Direitos de Autor do Mercado da Música 22140 - Edição de gravações de som material de rádio e de televisão, aparelhos de de produtos alimentares, bebidas ou tabaco (10%)
Música Gravada
2231 - Reprodução de gravações de som gravação ou de reprodução de som e imagens e 52452 - Comércio a retalho de instrumentos musicais,
22310 - Reprodução de gravações de som de material associado discos, cassetes e produtos similares (90%)
2211 - Edição de livros  32300 - Fabricação de aparelhos receptores  52471 - Comércio a retalho de livros
2212 - Edição de jornais e material de rádio e de televisão, aparelhos  52472 - Comércio a retalho de artigos de
Livros e Imprensa
2213 - Edição de revistas e de outras publicações periódicas de gravação ou de reprodução de som e papelaria, jornais e revista
2215 - Edição, n.e. imagens e de material associado (30%)
Design de moda 74872 - Outras actividades de serviços prestados principalmente às
Design gráfico empresas diversas, n.e. (25%)
Círculo 2 Design
Design de interiores 72220 – Outras actividades de consultoria em programação
Indústrias e Design de produtos informática (25%)
Actividades Criativas
Arquitectura 74201 - Actividades de arquitectura
Publicidade 74401 - Agências de publicidade
26211 - Olaria de barro (25%)
Artesanato 20521 - Fabricação de obras de cestaria e de espartaria (25%)
3622 - Fabricação de joalharia, ourivesaria e artigos similares, n.e.
75122 - Administração pública - actividades de educação (15%)
8010 - Educação pré-escolar e ensino básico (1º ciclo) (15%)
Ensino Artístico 80102 - Ensino básico (1º ciclo) (15%)
8021 - Ensino básico (2º e 3º ciclos) e secundário geral (%)
80211 - Ensino básico (2º e 3º ciclos) (15%)
Indústrias
9271 - Lotarias e outros jogos de aposta
Relacionadas
Jogo, entretenimento e  92710 - Lotarias e outros jogos de aposta (30%)
parques de diversão e 92330 - Parques de Diversão
entretenimento 9234 - Outras actividades de espectáculo, n.e.
9272 - Outras actividades recreativas, n.e. (50%)
55 (todo) – Alojamento e restauração (restaurantes e similares)
Turismo
(10%)
4.2.2. Avaliação do peso das actividades culturais e criativas no concelho de Cascais

Como foi referido anteriormente, nesta fase do trabalho é importante testar um esquema de mapeamento do
sector cultural e criativo. Depois de desenvolvida a nossa grelha de análise, procedemos à avaliação do peso
destas actividades no Concelho de Cascais, recorrendo ainda assim a título comparativo, aos concelhos vizinhos
de Sintra, Oeiras e Lisboa bem como da Área Metropolitana de Lisboa, Grande Área Metropolitana de Lisboa e
Portugal Continental. Apesar de nesta fase ser utilizada a base dos Quadros de Pessoal, é objectivo deste
trabalho apresentar, numa fase ulterior, o mesmo exercício de avaliação de acordo com os Censos que por ainda
serem dados que não foram disponibilizados no nível de desagregação pretendido, terá que ser apresentado no
relatório final. Os Censos têm a grande vantagem de se tratar de uma base de dados, por se tratar de um
recenseamento, acaba por ser bastante mais abrangente e exaustivo do que os quadros de pessoal. Por outro
lado, carecem de actualização e não são comparáveis com os Quadros de Pessoal uma vez que correspondem a
uma óptica de residentes e contabilizam por isso, os residentes em Cascais e respectivos empregos
independentemente se o trabalho dos habitantes é no Concelho ou fora.
Com estes dados será possível aplicar a metodologia “tridente” proposta pelo relatório da agência
governamental britânica NESTA (2008). Esta metodologia propõe a análise cruzada dos diferentes dados de
forma a se conseguir a distinção entre três tipos de trabalhador do sector criativo: “especializado” – trabalhadores
com funções criativas; “suporte”- trabalhadores com funções de suporte às actividades criativas; “encrostado” –
trabalhadores sem funções criativas, mas que trabalham em indústrias criativas. Este método permitirá assim um
exame mais fino da realidade da classe criativo, dando conta das dinâmicas existentes entre os três grupos de
trabalhadores aqui considerado.

A) A análise dos dados dos quadros de pessoal

A metodologia aqui utilizada teve como fonte primário de dados estatísticos os Quadros de Pessoal. Esta é a
melhor fonte de informação estatística em Portugal, com carácter regular, sobre empresas e emprego, sendo hoje
o principal instrumento de estudo da evolução quantitativa e qualitativa do emprego, e tendo granjeado o
reconhecimento da comunidade técnico-científica. A base de dados resultante do projecto anual de Quadros de
Pessoal tem uma representatividade que resulta da cobertura quase total do tecido de empresas,
estabelecimentos e trabalhadores do território nacional, proporcionando fluxos regulares de informação que
permitem comparações espaciais e temporais do emprego em Portugal. Estes dados resultam do preenchimento
directo e obrigatório das empresas dos seus dados de emprego, segundo a Classificação de Actividades
Económicas (CAE) no seu conjunto agregado, e segundo a Classificação Nacional de Profissões (CNP) para cada
um dos seus trabalhadores.
Apesar de se tratar de um ferramenta crucial para uma primeira abordagem ao peso do sector cultural e
criativo, é importante referir que a base de dados proporcionada pelos Quadros Pessoal apresenta algumas
lacunas que devem ser tomadas em conta aquando da leitura dos resultados. Um dos pontos a ter em conta é o
facto de assentar numa contabilização do emprego formal, excluindo desta forma uma grande parte do emprego
nos serviços (bem como actividades como a agricultura) e assim, deixando de lado muito do emprego criativo com
carácter intermitente ou mesmo, grande peso do trabalho por conta própria (por projecto, por exemplo) ou
efectuado atrás da prestação de serviços (recibos verdes), que por questões formais não são contabilizados na
base de dados.
Embora teoricamente exaustivos, estes dados revelaram-se no nosso estudo escassos. A evolução dos dados
no período considerado, 1995-2005, mostra um crescimento irrealista do emprego geral e criativo na região de
Lisboa, o que pode traduzir não um aumento do emprego, mas um maior cuidado na recolha da informação
estatística. Acresce a este problema, a quase inexistência de dados para algumas das categorias consideradas no
enquadramento teórico da nossa metodologia – por exemplo, os dados são inexistentes ou com um número
absoluto muito baixo para categorias como as artes visuais e performativas ou para a administração pública,
tomada nos seus diferentes níveis (local e central). Finalmente, convém vincar a necessidade de uma análise
separada dos dados CNP e CAE, já que não são coincidentes (por lapso, ou desleixe, as empresas muitas vezes
não preenchem de forma coincidente as duas partes dos inquéritos a elas feito).
Não invalidando a pertinência desta base de dados, que nos mostra sobretudo tendências e pesos relativos do
emprego robustos para a nossa análise, os números absolutos e a dimensão de algumas das suas tendências
devem por isso ser tomadas com precaução. É por isso desejável que o nosso trabalho estatístico possa ser
cruzado com outras fontes primárias sobre o emprego, como são os dados dos Censos (o que será feito, como
acima se refere, no relatório final).

Resultados do mapeamento CNP

Embora os dados sejam exíguos, o mapeamento da classe criativa de Cascais e da região de Lisboa, através
da classificação nacional de profissões (CNP), dá-nos importante informação não só sobre o tecido criativo do
concelho, mas também uma comparação com a região e concelhos limítrofes, possibilitando assim uma análise
bastante fina das potencialidades e problemas do capital humano do concelho. Antes de proceder à análise dos
resultados, convém alertar que os dados disponibilizados pelos Quadros de Pessoal, funcionam numa lógica de
emprego e não dos residentes do Concelho de Cascais, ao contrário dos proporcionados pelos CENSOS.
Como seria de esperar, as actividades de criação cultural menos associadas ao tecido empresarial mostram
um peso bastante pequeno – artes performativas; artes visuais; música. Embora o concelho de Lisboa concentre
em número absoluto uma grande parte da classe criativa da região, parece existir alguma concentração sócio-
profissional nos concelhos limítrofes ao de Cascais - Manufactura em Sintra; Publicações em Oeiras – o que
indicia algum tipo de especialização nas diferentes actividades. Cascais confirma esta leitura: o concelho mostra
um maior peso dos arquitectos no concelho, quando comparado com a restante região. Todavia, o concelho
manifesta uma proporção de actividades associadas ao design e às publicações – teoricamente profissões com
potenciais ligações à arquitectura - inferior aos restantes concelhos, o que pode ser uma fragilidade no
desenvolvimento desta última classe no concelho, mas que ao mesmo tempo se apresenta como uma
oportunidade de intervenção pública que a pode e deve promover.
Da evolução temporal da classe criativa de 1995 a 2005, destaca-se o grande crescimento deste tipo de classe
na composição sócio-profissional no concelho – acima da progressão total do emprego no concelho nas
categorias de Filmes, Publicações, Património, Design e Arquitectura. Uma realidade bem alinhada com a
tendência nacional da importância crescente da classe criativa no tecido produtivo português. Destas categorias
destaca-se, novamente, no seu número absoluto, mas sobretudo na sua progressão, o número de arquitectos que
exercem a sua actividade no concelho de Cascais (a sua progressão esta bastante acima de qualquer outro
concelho da região).
No entanto, a comparação da classe criativa do concelho de Cascais com a região de Lisboa e com os
restantes concelhos considerados (Oeiras, Sintra, Lisboa) mostra um peso diminuto desta classe no emprego
total, consistentemente abaixo dos 2% entre 1995 e 2005, ao contrário dos restantes, chegando o concelho de
Oeiras aos 3,5%. Contudo, se tivermos em conta outro tipo de medida, como o quociente de localização - peso
relativo de um determinado sector no concelho dividido pelo peso desse mesmo sector num espaço padrão, aqui
assumido como o todo do território continental; quando superior a 1, o sector terá um peso maior no concelho em
causa) – o concelho de Cascais aparece com um peso superior à média nacional no conjunto do emprego criativo
e em alguns dos sectores considerados (Artes Performativas, Tv e Rádio; Filmes e Vídeo, Arquitectura e
Publicidade).
Tabela 4.23 – Portugal Continental
1995 2000 2005 Taxas de
Crescimento
N % N % N %
1995-2005
Emprego Total 2035613 2414463 2888711 41,91%
Emprego Criativo 26869 1,32% 33684 1,40% 39241 1,36% 46,05%
Artes Visuais 642 0,03% 622 0,03% 1762 0,06% 174,45%
Artes Performativas 254 0,01% 284 0,01% 491 0,02% 93,31%
Património 450 0,02% 614 0,03% 713 0,02% 58,44%
Filmes Video 867 0,04% 1202 0,05% 1305 0,05% 50,61%
TV Rádio 1156 0,06% 1431 0,06% 1708 0,06% 47,81%
Musica 126 0,01% 300 0,01% 390 0,01% 209,52%
Publicações 2412 0,12% 3937 0,16% 5006 0,17% 107,55%
Design 1706 0,08% 1997 0,08% 2509 0,09% 47,07%
Arquitectura 8489 0,42% 11003 0,46% 12807 0,44% 50,87%
Publicidade 861 0,04% 1080 0,04% 1110 0,04% 28,92%
Manufactura 9676 0,48% 10956 0,45% 10737 0,37% 10,97%
Ensino Artístico 231 0,01% 259 0,01% 703 0,02% 0,00%

Tabela 4.24 – Área Metropolitana de Lisboa


1995 2000 2005 Taxa de
N % N % N % crescimento
1995-2005
Emprego Total 324475 473405 875417 169.79%
Emprego Criativo 8150 2.51% 11585 2.45% 21172 2.42% 159.78%
Artes Visuais 233 0.07% 307 0.06% 949 0.11% 307.30%
Artes Performativas 322 0.10% 472 0.10% 875 0.10% 171.74%
Património 153 0.05% 278 0.06% 368 0.04% 140.52%
Filmes 1098 0.34% 1297 0.27% 3265 0.37% 197.36%
TV 1378 0.42% 1593 0.34% 3708 0.42% 169.09%
Musica 58 0.02% 209 0.04% 283 0.03% 387.93%
Publicações 859 0.26% 1655 0.35% 2970 0.34% 245.75%
Design 113 0.03% 203 0.04% 456 0.05% 303.54%
Arquitectura 2452 0.76% 3521 0.74% 5267 0.60% 114.80%
Publicidade 341 0.11% 505 0.11% 889 0.10% 160.70%
Manufactura 1143 0.35% 1493 0.32% 2142 0.24% 87.40%
Ensino Artístico 0 0.00% 52 0.01% 0 0.00% -

Tabela 4.25 – Cascais


1995 2000 2005 Taxas de
Crescimento (1995-
N % N % N %
2005)
Emprego Total 14832 21836 42254 184.88%
Emprego Criativo 292 1.97% 387 1.77% 817 1.93% 179.79%
Artes Visuais 8 0.05% 12 0.05% 21 0.05% 162.50%
Artes Performativas 15 0.10% 17 0.08% 26 0.06% 73.33%
Património 1 0.01% 6 0.03% 3 0.01% 200.00%
Filmes 43 0.29% 49 0.22% 139 0.33% 223.26%
TV 52 0.35% 51 0.23% 144 0.34% 176.92%
Musica 0 0.00% 1 0.00% 1 0.00% -
Publicações 8 0.05% 21 0.10% 39 0.09% 387.50%
Design 5 0.03% 13 0.06% 16 0.04% 220.00%
Arquitectura 107 0.72% 160 0.73% 330 0.78% 208.41%
Publicidade 12 0.08% 16 0.07% 27 0.06% 125.00%
Manufactura 41 0.28% 41 0.19% 71 0.17% 73.17%
Ensino Artístico 0 0.00% 2 0.01% 0 0.00%
Tabela 4.26 – Quocientes de localização CNP
CASCAIS OEIRAS SINTRA LISBOA AML GAML
Emprego Criativo 1,42 2,65 1,91 1,76 1,51 1,27
Artes Visuais 0,81 2,26 1,61 2,06 1,10 1,46
Artes Performativas 3,62 3,72 2,52 7,47 0,50 5,06
Património 0,29 2,52 0,79 2,20 1,14 0,69
Filmes 7,28 11,95 8,10 8,07 1,48 5,47
TV 5,76 10,93 6,52 7,18 1,52 4,28
Musica 0,18 0,33 0,00 4,01 0,08 0,00
Publicações 0,53 4,17 1,58 2,27 1,84 0,86
Design 0,44 0,22 0,42 0,71 0,30 1,39
Arquitectura 1,76 2,10 1,63 1,20 1,75 0,93
Publicidade 1,66 3,41 1,43 3,20 1,07 1,34
Manufactura 0,45 0,91 1,60 0,34 2,68 0,60
Ensino Artístico - - - - - -

Tabela 4.27 – Os resultados através da classificação CAE


Emprego Criativo
1995 2000 2005
N % sobre o N % sobre o Emprego N % sobre o
Emprego Total Total Emprego Total
GAML 8662 2,42% 12230 2,31% 22770 2,29%
AML 8150 2,51% 11585 2,45% 21172 2.42%
Lisboa 5200 2,64% 7278 2,56% 13883 2,38%
Sintra 627 2,14% 954 2,18% 2122 2,60%
Oeiras 1108 3,42% 1783 3,61% 3236 3,59%
Cascais 292 1,97% 387 1,77% 817 1,93%

A análise dos quadros de pessoal através da classificação das actividades económicas permite-nos uma
abordagem mais abrangente do que a feita através do CNP. Aqui não são só consideradas as profissões criativas,
mas sim as empresas e serviços públicos identificados com estas actividades e similares.
No que se refere ao concelho de Cascais os dados confirmam algumas das tendências e concentração de
actividades distinguíveis através da análise do CNP. As actividades do núcleo criativo têm uma evolução positiva
do horizonte temporal entre 1995-2005, no entanto, tal como já foi referido acima para a classificação CNP, este
aumento do emprego é inferior ao aumento geral do emprego verificado no concelho. A excepção verifica-se no
círculo da distribuição de produtos reprodutíveis. Aí, seguindo a tendência da região metropolitana, o crescimento
das actividades é bastante superior. Este crescimento, se bem que deva ser “temperado” pela terciarização das
actividades económicas da região, onde o comércio (sobretudo as grandes superfícies) tem ganho peso no
emprego geral, mostra a grande robustez do sector distributivo dos produtos culturais. Podemos assim concluir
que embora haja procura de bens criativos e os canais de distribuição no concelho estejam bem implantados,
faltam os “inputs” criativos do concelho que reflictam uma cadeia de valor integrada ao nível local.
Esta análise mostra também a crescente importância das actividades de design e arquitectura no concelho,
com taxas de crescimento, no período 1995-2005, seis vezes superiores à média do concelho e duas vezes
superiores à média da região. O desfasamento identificado na análise CNP nas áreas relacionadas com
arquitectura, nomeadamente do design, pode assim estar a ser estreitado. Algo confirmado pelo peso das
actividades de “Livros e Imprensa” no emprego do concelho, que supera todas as outras actividades criativas. Na
análise dos dados da CAE conseguimos também identificar actividades não cobertas pela CNP que se mostram
valiosas na análise do potencial criativo do concelho. Por exemplo, Cascais confirma o seu perfil turístico face à
restante região e emerge como um dos concelhos onde o jogo (incluído na categoria “Jogo, entretenimento e
parques de diversão”) tem maior peso (só atrás de Lisboa) o que se explica em grande parte com o Casino do
Estoril.
A análise dos concelhos de Oeiras, Lisboa e Sintra mostra igualmente alguns dados relevantes. De todos,
Oeiras mostra a maior incidência de actividades criativas no emprego, sobretudo no círculo criativo, nas
actividades de “Livros e Imprensa”. Lisboa, como se esperaria, domina os números absolutos de actividades da
região. Este domínio parece estar a acentuar-se, com as actividades do núcleo criativo a registarem o maior
crescimento da região, ao mesmo tempo que as actividades de Incorporação de suportes registam um forte
decréscimo – reflectindo assim a desindustrialização do concelho. O concelho de Sintra acompanha a tendência
de crescimento da região, embora este se encontre concentrado nas áreas da distribuição.
Os dados da classificação de actividades económicas fornecem-nos também a possibilidade de cálculo do
quociente de localização. Aqui, Cascais apresenta uma concentração bastante acima da média nacional de
actividades criativas, embora inferior à registada na região. Na análise sectorial, sublinha-se a importância das
Artes Performativas, Cinema Vídeo e Fotografia, Publicidade, Arquitectura, Ensino Artístico, Turismo e, sobretudo
no Jogo, entretenimento e parques de diversão. Finalmente, convém assinalar que este quociente é, no caso do
Turismo, superior ao de qualquer concelho da Grande Área Metropolitana de Lisboa.
Tabela 4.28 – Portugal Continental
1995
Incorporação Distribuição de
Núcleo criativo de Conteúdos produtos
nos Suportes reprodutíveis
N % N % N %
Emprego Total 2035613
Emprego criativo 62589 3,07% 2984 0,15% 18596 0,91%
Artes visuais 295 0,01%
Artes Performativas 502 0,02%
Núcleo Actividades
Culturais Património 156 0,01% 164 0,01% 1052 0,05%
Outras actividades de apoio e
agenciamento... às artes e artistas 7 0,00%
(transversal)
Cinema, vídeo e fotografia 3465 0,17%
Televisão e Rádio 4584 0,23%
Círculo 1 Indústrias Vídeo Jogos (software criativo) 0 0,00% 2820 0,14% 17544 0,86%
Culturais Música Gravada 111 0,01%
Livros e Imprensa 27356 1,34%
Círculo 2 Indústrias Design 0 0,00%
e Actividades Arquitectura 1802 0,09%
Criativas Publicidade 3681 0,18%
Artesanato 4008 0,20%
Ensino Artístico 2572 0,13%
Indústrias
Jogo, entretenimento e parques de
Relacionadas 1438 0,07%
diversão e entretenimento
Turismo 12612 0,62%

2000
Incorporação de Distribuição de
Núcleo criativo Conteúdos nos produtos
Suportes reprodutíveis
N % N % N %
Emprego Total 2414463
2160
Emprego criativo 72888 3,02% 2587 0,107% 0,895%
4
Artes visuais 290 0,01%
Artes Performativas 959 0,04%
Núcleo Actividades
Culturais Património 301 0,01%
Outras actividades de 161 0,007% 1805 0,075%
apoio e agenciamento...
99 0,00%
às artes e artistas
(transversal)
Cinema, vídeo e
4425 0,18%
fotografia
Televisão e Rádio 5099 0,21%
Círculo 1 Indústrias 1979
Vídeo Jogos (software 2426 0,100% 0,820%
Culturais 3 0,00% 8
criativo)
Música Gravada 198 0,01%
Livros e Imprensa 28775 1,19%
Design 0 0,00%
Círculo 2 Indústrias e
Arquitectura 2943 0,12%
Actividades Criativas
Publicidade 6969 0,29%
Artesanato 1037 0,04%
Ensino Artístico 3587 0,15%
Jogo, entretenimento e
Indústrias Relacionadas
parques de diversão e 2149 0,09%
entretenimento
Turismo 16054 0,66%
2005
Incorporação de Distribuição de
Núcleo criativo Conteúdos nos produtos
Suportes reprodutíveis
N % N % N %
Emprego Total 2888711
Emprego criativo 101812 3,52% 2299 0,080% 39814 1,378%
Artes visuais 361 0,01%
Artes Performativas 2372 0,08%
Núcleo Actividades Património 627 0,02%
Culturais Outras actividades 208 0,007% 5358 0,185%
de apoio e
agenciamento... às 7053 0,24%
artes e artistas
(transversal)
Cinema, vídeo e
4883 0,17%
fotografia
Televisão e Rádio 1493 0,05%
Círculo 1 Indústrias
Vídeo Jogos 2090 0,072% 34456 1,193%
Culturais 435 0,02%
(software criativo)
Música Gravada 181 0,01%
Livros e Imprensa 30723 1,06%
Círculo 2 Indústrias Design 9119 0,32%
e Actividades Arquitectura 4250 0,15%
Criativas Publicidade 7165 0,25%
Artesanato 3214 0,11%
Ensino Artístico 7130 0,25%
Jogo,
Indústrias
entretenimento e
Relacionadas 2415 0,08%
parques de diversão
e entretenimento
Turismo 20391 0,71%

Tabela 4.29 – Cascais

1995
Incorporação de Distribuição de
Núcleo criativo Conteúdos nos produtos
Suportes reprodutíveis
N % N % N %
Emprego total 15248
Emprego criativo 1337 8.766% 58 0.383% 135 0.886%
Artes visuais 0 0.000%
Artes Performativas 8 0.052%
Núcleo
Património 1 0.007%
Actividades
Outras actividades de 54 0.353% 21 0.134%
Culturais
apoio e agenciamento... às
0 0.000%
artes e artistas
(transversal)
Cinema, vídeo e fotografia 26 0.171%
Televisão e Rádio 8 0.052%
Círculo 1
Vídeo Jogos (software
Indústrias 0.000% 5 0.030% 115 0.752%
criativo)
Culturais
Música Gravada 0 0.000%
Livros e Imprensa 209 1.371%
Círculo 2 Design 40 0.262%
Indústrias e Arquitectura 25 0.164%
Actividades
Publicidade 52 0.341%
Criativas
Artesanato 7 0.046%
Ensino Artístico 31 0.205%
Indústrias Jogo, entretenimento e
Relacionadas parques de diversão e 719 4.716%
entretenimento
Turismo 10% 210 1.380%
2000
Incorporação de Distribuição de
Núcleo criativo Conteúdos nos produtos
Suportes reprodutíveis
N % N % N %
Emprego total 22393
Emprego criativo 1152 5.143% 92 0.410% 345 1.540%
Artes visuais 0 0.000%
Artes Performativas 12 0.054%
Núcleo
Actividades Património 5 0.022%
Outras actividades de 3 0.013% 27 0.119%
Culturais
apoio e agenciamento... às
0 0.000%
artes e artistas
(transversal)
Cinema, vídeo e fotografia 42 0.188%
Televisão e Rádio 10 0.045%
Círculo 1
Vídeo Jogos (software
Indústrias 0 0.001% 89 0.396% 318 1.421%
criativo)
Culturais
Música Gravada 1 0.004%
Livros e Imprensa 298 1.331%
Círculo 2 Design 0.000%
Indústrias e Arquitectura 43 0.192%
Actividades
Publicidade 120 0.536%
Criativas
Artesanato 7 0.029%
Ensino Artístico 41 0.182%
Indústrias Jogo, entretenimento e
Relacionadas parques de diversão e 203 0.908%
entretenimento
Turismo 10% 370 1.651%

2005
Incorporação de Distribuição de
Núcleo criativo Conteúdos nos produtos
Suportes reprodutíveis
N % N % N %
Emprego total 42254
Emprego criativo 2789 6.600% 16 0.037% 531 1.256%
Artes visuais 5 0.012%
Artes Performativas 75 0.177%
Núcleo
Património 8 0.019%
Actividades
Outras actividades de 5 0.012% 73 0.172%
Culturais
apoio e agenciamento... às
258 0.611%
artes e artistas
(transversal)
Cinema, vídeo e fotografia 92 0.218%
Círculo 1 Televisão e Rádio 3 0.007%
Vídeo Jogos (software 11 0.025% 458 1.084%
Indústrias 0 0.000%
Culturais criativo)
Música Gravada 3 0.007%
Livros e Imprensa 419 0.992%
Círculo 2 Design 298 0.705%
Indústrias e Arquitectura 180 0.426%
Actividades
Publicidade 175 0.414%
Criativas
Artesanato 1 0.001%
Ensino Artístico 328 0.777%
Indústrias Jogo, entretenimento e
Relacionadas parques de diversão e 247 0.585%
entretenimento
Turismo 10% 697 1.650%
TAXAS DE CRESCIMENTO 1995-2005
Distribuição de
Núcleo Incorporação
produtos
criativo de Suportes
reprodutíveis
Emprego total 177%
Emprego criativo 109% -73% 293%
Artes visuais -
Núcleo Artes Performativas 838%
Actividades Património 700%
Culturais Outras actividades de 136% 255%
apoio e agenciamento...
-
às artes e artistas
(transversal)
Cinema, vídeo e
254%
fotografia
Círculo 1 Televisão e Rádio -63%
Indústrias Vídeo Jogos (software 28% 299%
-
Culturais criativo)
Música Gravada -
Livros e Imprensa 100%
Círculo 2 Design 645%
Indústrias e Arquitectura 620%
Actividades
Publicidade 237%
Criativas
Artesanato -93%
Ensino Artístico 952%
Indústrias
Jogo, entretenimento e
Relacionada
parques de diversão e -66%
s
entretenimento
Turismo 10% 231%

Tabela 4.30 – Área Metropolitana de Lisboa

1995
Incorporação de Distribuição de
Núcleo criativo Conteúdos nos produtos
Suportes reprodutíveis
N % N % N %
Emprego total 652958
Emprego criativo 18034 2,762% 380 0,058% 5123 0,785%
Artes visuais 184 0,028%
Artes Performativas 121 0,019%
Núcleo Actividades
Culturais Património 21 0,003% 34 0,005% 288 0,044%
Outras actividades de apoio e
agenciamento... às artes e 0 0,000%
artistas (transversal)
Cinema, vídeo e fotografia 883 0,135%
Televisão e Rádio 1859 0,285%
Círculo 1 Indústrias
Vídeo Jogos (software criativo) 0 0,000% 346 0,053% 4835 0,740%
Culturais
Música Gravada 33 0,005%
Livros e Imprensa 6874 1,053%
Círculo 2 Indústrias Design 1996 0,306%
e Actividades Arquitectura 437 0,067%
Criativas Publicidade 1134 0,174%
Artesanato 178 0,027%
Ensino Artístico 602 0,092%
Indústrias
Jogo, entretenimento e parques
Relacionadas 1204 0,184%
de diversão e entretenimento
Turismo 2508 0,384%
2000
Incorporação de Distribuição de
Núcleo criativo Conteúdos nos Produtos
Suportes reprodutíveis
N % N % N %
Emprego total 738937
Emprego criativo 25486 3,449% 265 0,036% 8219 1,112%
Artes visuais 188 0,025% 0,074%
Artes Performativas 364 0,049% 0,000%
Núcleo Actividades Património 80 0,011% 0,000%
28 0,004% 549
Culturais Outras actividades de apoio e
agenciamento... às artes e 0,000% 0,000%
artistas (transversal)
Cinema, vídeo e fotografia 1323 0,179% 1,038%
Televisão e Rádio 2836 0,384% 0,000%
Círculo 1 Indústrias
Vídeo Jogos (software criativo) 1 0,000% 237 0,032% 7670 0,000%
Culturais
Música Gravada 88 0,012% 0,000%
Livros e Imprensa 9254 1,252% 0,000%
Círculo 2 Indústrias Design 0,000%
e Actividades Arquitectura 2777 0,376%
Criativas Publicidade 2460 0,333%
Artesanato 175 0,024%
Ensino Artístico 1001 0,135%
Indústrias
Jogo, entretenimento e parques
Relacionadas 488 0,066%
de diversão e entretenimento
Turismo 4451 0,602%

2005
Incorporação de Distribuição de
Núcleo criativo Conteúdos nos produtos
Suportes reprodutíveis
N % N % N %
Emprego total 875417
Emprego criativo 53485 6,110% 223 0,025% 12953 1,480%
Artes visuais 258 0,029%
Artes Performativas 1280 0,146%
Núcleo Actividades
Culturais Património 362 0,041% 39 0,004% 1365 0,156%
Outras actividades de apoio e
agenciamento... às artes e 5918 0,676%
artistas (transversal)
Cinema, vídeo e fotografia 2674 0,305%
Televisão e Rádio 4148 0,474%
Círculo 1 Indústrias
Vídeo Jogos (software criativo) 250 0,029% 184 0,021% 11588 1,324%
Culturais
Música Gravada 134 0,015%
Livros e Imprensa 14274 1,631%
Círculo 2 Indústrias Design 7769 0,887%
e Actividades Arquitectura 1757 0,201%
Criativas Publicidade 4385 0,501%
Artesanato 156 0,018%
Ensino Artístico 2026 0,231%
Indústrias
Jogo, entretenimento e parques
Relacionadas 1224 0,140%
de diversão e entretenimento
Turismo 6871 0,785%
TAXAS DE CRESCIMENTO 1995-2005
Distribuição de
Incorporação
Núcleo criativo produtos
de Suportes
reprodutíveis
Emprego total 34%
Emprego criativo 197% -41% 152,84%
Artes visuais 40%
Núcleo
Artes Performativas 958%
Actividades
Património 1624% 15% 373%
Culturais
Outras actividades de apoio e agenciamento...
-
às artes e artistas (transversal)
Cinema, vídeo e fotografia 203%
Círculo 1 Televisão e Rádio 123%
Indústrias Vídeo Jogos (software criativo) - -47% 140%
Culturais Música Gravada 306%
Livros e Imprensa 108%
Círculo 2 Design 289%
Indústrias e Arquitectura 302%
Actividades
Publicidade 287%
Criativas
Artesanato -12%
Ensino Artístico 236%
Indústrias
Jogo, entretenimento e parques de diversão e
Relacionadas 2%
entretenimento
Turismo 174%
Tabela 4.31 - Quocientes de Localização - CAE

Cascais Oeiras Lisboa Sintra AML GAML

NC* ICS* DPR* NC ICS DPR NC ICS DPR NC ICS DPR NC ICS DPR NC ICS DPR

Emprego criativo 1.87 2.15 3.82 0.12 1,5 1.73 1.64


Artes visuais 0.95 0.53 0.30 0.00 2.36 2.14

Actividades
Artes Performativas 2.16 0.46 2.34 - 1.61 1.78 1.71

Culturais
Núcleo
Património 0.87 0.05 3.13 - 0.00 1.91 1.69
Outras actividades de 1.64 0.93 0.42 0.42 0.78 0.72 0.95 O,571 0,843 0.71 0.83
apoio e agenciamento...
2.50 4.68 3.06 - 1.01 2.77 2.61
às artes e artistas
(transversal)
Cinema, vídeo e
1.29 3.06 2.05 0.77 1.81 1.69
fotografia
Indústrias
Culturais
Círculo 1

Televisão e Rádio 0.14 23.38 11.29 0.52 9.17 8.76


Vídeo Jogos (software 0.35 0.91 0.49 1.05 0.10 1.04 0.50 2.07 0,292 0,922 1.17 1.10
0.00 0.80 2.77 0.57 1.90 1.69
criativo)
Música Gravada 1.13 4.43 2.24 0.20 2.44 2.47
Livros e Imprensa 0.93 1.86 1.17 3.08 1.53 1.43
Design 2.23 2.73 2.92 1.01 2.81 2.64
Indústrias e
Actividades
Círculo 2

Criativas

Arquitectura 2.90 1.06 1.39 0.82 1.36 1.27

Publicidade 1.67 3.19 2.30 1.09 2.02 1.89


Artesanato 0.01 0.00 0.25 0.17 0.16 0.24
Relacionadas

Ensino Artístico 3.15 0.25 1.08 0.74 0.94 0.93


Indústrias

Jogo, entretenimento e
parques de diversão e 6.99 0.28 14.75 0.21 1.67 1.56
entretenimento

Turismo 2.34 1.07 1.11 0.78 1.11 1.09

Legenda*
NC - Núcleo Criativo
ICS - Incorporação de Conteúdos nos Suportes
DPR - Distribuição de produtos reprodutíveis
B) A análise dos dados do CENSOS 2001

Como atrás se refere, face à indisponibilidade actual dos dados do CENSOS 2001, com a
desagregação pretendida, esta secção será apresentada apenas no relatório final. Também
nessa fase será aplicada a já referida metodologia do «tridente» (NESTA, 2008).
4.3. Os públicos da cultura em Cascais

Com o objectivo de alcançar uma visão mais completa tanto quanto possível, é
necessário perceber não só a oferta actual do Concelhos de Cascais, mas é igualmente
fundamental perceber como se movimentam os públicos, possibilitando-nos fazer uma
leitura geral dos vários sectores culturais e das suas procuras, bem como avaliar a
adaptabilidade das ofertas culturais do território.
Os estudos realizados pelo Observatório das Actividades Culturais (OAC) permitem-nos
ter uma visão introdutória bastante ampla sobre a realidade dos públicos de cultura no
Concelho de Cascais relativamente a alguns dos equipamentos e eventos mais
emblemáticos neste Concelho. Neste ponto, interessa tirar algumas conclusões sobre cada
um dos relatórios elaborados pelo OAC sobre o estudo realizado para Cascais.
A caracterização das procuras culturais no Concelho de Cascais foi realizada pelo OAC,
recorrendo a duas fontes secundárias:
1. Os dados estatísticos do INE: Onde o Concelho de Cascais foi enquadrado nos dados
referentes à Grande Área Metropolitana de Lisboa (GAML).
2. Informação da Câmara Municipal de Cascais: Proveniente de actos administrativos,
nomeadamente no âmbito do ICES (Cursos Internacionais de Verão e o Mestrado
em Cultura e Formação Autárquica).
Foram ainda retiradas algumas conclusões dos dados produzidos através dos inquéritos
protagonizados pelo OAC no âmbito dos estudos de caso sobre algumas dimensões
culturais do Concelho de Cascais. Assim, é possível tirar algumas conclusões gerais no que
toca, por exemplo, aos espectadores, utilizadores e visitantes de equipamentos e de
eventos culturais. O primeiro dado retirado é a natural representatividade dos equipamentos
mais numerosos, como as galerias de arte e as bibliotecas. Relativamente à segunda fonte
secundária de dados, as conclusões mais expressivas que são possíveis de retirar é a
feminização dos participantes e a elevada incidência de participantes residentes fora do
concelho e mesmo da região de Lisboa e Vale do Tejo, no Curso de Mestrado em Cultura e
Formação Autárquica.
Relativamente aos dados recolhidos nos inquéritos realizados nos estudos de caso no
âmbito do Programa Cascais - Cultura, identificam-se aspectos comuns como a elevada
escolaridade e ocupação sócio profissional, bem como a presença de estrangeiros,
enfatizando a questão da relação oferta cultural e da procura turística de actividades
culturais no Concelho. Uma das conclusões alcançadas pelo estudo do OAC, refere-se à
incidência por parte do grupo dos reformados, de uma maior procura de actividades mais
relacionadas com o património e artes visuais (exposições), bem como uma tentativa de
sensibilização dos jovens. O estudo conclui ainda que existe uma tentativa de alargamento
dos públicos da cultura no Concelho sempre com a ressalva que os dados recolhidos,
apesar de terem sido exaustivos nas respectivas fontes, são ainda falíveis já que é
sublinhada a necessidade de um aprofundamento das técnicas de recolha de dados para o
sector cultural e criativo.
A análise dos estudos do OAC relativos a algumas das actividades culturais
desenvolvidas no concelho permite-nos traçar perfis mais restritos da procura cultural no
concelho. Assim, recorrendo à análise do OAC de Santos e Neves (2005) dos museus
municipais - Museu Condes de Castro Guimarães, Museu do Mar – Rei D. Carlos, Forte de
São Jorge de Oitavos e o Museu da Música Portuguesa (Estoril)., relativa ao período 2000-
2003, identificamos o lugar cimeiro ocupado por estes museus na procura cultural no
concelho de Cascais - média de visitantes anual ultrapassa os trinta e cinco mil no período
de 2000-2003. O número de visitantes cresceu no período em causa, embora de forma
descontinuada, passando de 30,659 visitantes em 2000 para 38 886 visitantes em 2003. O
Museu do Mar destaca-se como o museu mais visitado, contabilizando entre 40% e 55%
das visitas totais dos museus do concelho. Para este resultado, parece ser da maior
importância o número de acções de animação aqui promovidas, sendo mais de metade das
visitas o resultado da acção educativa. No entanto, a importância das actividades de
animação parece ser apanágio de todos os museus, tendo o seu número aumentado de 302
em 2000 para 491 em 2003 com um correspondente aumento de participantes de 11, 4 mil
para 14,5 mil. O aumento da oferta de actividades desenvolvidas nos museus conduz assim
a um correspondente aumento da procura deste tipo de equipamento. Quanto ao motivo da
frequência, a visita ao equipamento e suas colecções foi o motivo que apresentou maior
peso no Forte de São Jorge de Oitavos (87%) e no Museu Condes (71%), já a acção
educativa foi o principal motivo da visita aos Museus do Mar e da Música Portuguesa. O
Museu Conde de Castro Guimarães destacou-se por receber percentualmente o maior
número de visitantes estrangeiros. A maior parte dos frequentadores destas acções nos
equipamentos provém da própria região de Cascais (principalmente no Museu da Música
Portuguesa), com excepção do Museu do Mar onde a maioria dos participantes é
proveniente da GAML. Verifica-se ainda uma tendência de correspondência entre a
proximidade do local de origem do grupo e o equipamento, sendo os participantes vindos da
freguesia de Cascais em maior percentagem.
Através do inquérito aos utentes conduzido pelo OAC, que exclui os grupos escolares, o
perfil do utente médio deste tipo de equipamentos pode ser traçado como um individuo de
sexo feminino, estrangeiro, idade superior a 35 anos, com um grau de escolaridade de nível
superior. Contudo, vale a pena salientar que a diversidade de conteúdos dos equipamentos
em causa resulta em perfis diferentes. Assim, no Museu do Mar e no Forte de São Jorge
existe uma predominância de utentes do sexo masculino. No último caso, os visitantes são
consideravelmente mais jovens do que a média. Finalmente, a proporção de utentes
estrangeiros é maior nos Museus do Mar e Condes de Castro Guimarães, os dois mais
visitados do concelho.
Intimamente relacionada com a actividade museológica municipal, está a aposta na
programação cultural de todo um conjunto de actividades diversificadas em torno do tema
“Memória dos Exílios”. Os dados sobre os participantes são neste caso escassos. Os
inquéritos promovidos pelo OAC (Lima e Neves, 2005) debruçam-se unicamente sobre as
visitas aos espaços “Memória dos Exílios”. A proporção de estrangeiros é neste caso
menor, totalizando cerca de um terço dos visitantes contra mais de metade nos museus
municipais. O interesse demonstrado pelo público está homogeneamente distribuído pelas
diferentes faixas etárias. Contudo, deve-se sublinhar o elevado nível de escolaridade dos
visitantes (aproximadamente dois terços têm o ensino superior).
O festival Estoril Jazz é outra das referências culturais do concelho Cascais, com uma
história que recua ao festival de jazz de Cascais dos anos setenta. A Câmara Municipal tem
sido nos últimos anos imprescindível para a manutenção do festival, sendo o maior
financiador da iniciativa. A procura deste festival depende, naturalmente, do número de
espectáculos de cada edição. Segundo os dados de 2004, o número de espectadores fixou-
se em 3 738, representando uma taxa de ocupação média próxima dos oitenta por cento.
Três características do público merecem ser realçadas. A primeira é a distribuição etária dos
públicos, onde os jovens têm um elevado peso, ao contrário do que acontece nos dois
exemplos atrás mencionados – 26,3% tem entre 25-34, e mais metade tem menos de 44
anos. A segunda característica relevante da análise dos públicos, é a elevada escolaridade
do público, mais de 80% dos inquiridos tem, pelo menos, ensino superior, o que se reflecte
necessariamente na sua condição profissional - 46,9% são profissionais intelectuais e/ou
científicos. Finalmente, tal como nas restantes actividades culturais analisadas, o festival
apela a um público não circunscrito ao conselho de Cascais, mas sim à região metropolitana
(33% dos espectadores são oriundos do concelho de Lisboa).
Os estudos do OAC, quer nos seus dados agregados (Cartografia Cultural do Concelho
de Cascais) quer dos estudos de caso, conduzem-nos à conclusão que os perfis de procura
cultural no concelho são sobretudo reflexo da oferta disponível. A uma oferta diversificada
correspondem diferentes tipos de procura. Há, no entanto, um traço comum a todas as
actividades: o elevado nível escolar e consequente posição socioprofissional dos utentes e
espectadores. No entanto, este dado deve ser tomado com cautela, pois tal pode ser o
reflexo de uma oferta destinada a esta parte da população, confirmando assim a nossa
conclusão.
Podemos concluir que o concelho de Cascais não parece ser prejudicado pelo seu
carácter suburbano na atracção de públicos. Dependendo dos eventos, eles não só são
oriundos do concelho, como da AML e mesmo fora dela (turistas). Se esta apetência existe,
ela tem, no entanto, que ser dinamizada, de forma a se criarem públicos fiéis que rivalizem
com o concelho de Lisboa. Para isso, serão necessárias dinâmicas que integrem os
diferentes eventos e lhes retirem o seu carácter pontual e isolado. Esta integração
beneficiará sem dúvida a fidelização e diversificação dos públicos oriundos do concelho.
4.4. Principais instituições e eventos

Nesta secção procura-se elencar os principais agentes – instituições públicas e privadas,


organizações, empresas e eventos - no sector das actividades culturais e criativas do
17
Concelho de Cascais . Esta secção pretende ser apenas uma amostragem,
essencialmente empírica, desses agentes já que o exercício de mapeamento e
quantificação é feito na secção 4.2. Procura-se igualmente evitar repetições temáticas em
relação aos documentos produzidos recentemente pelo Observatório das Actividades
Culturais. Procuramos, por isso, encontrar uma abordagem que contribua para uma
explicação das dinâmicas organizacionais e económicas do sector das actividades culturais
e criativas no Concelho de Cascais.
Os poucos dados que existem em relação às características das actividades criativas em
Portugal e nas suas cidades são aqueles que nos indicam que a grande maioria dessas
actividades podem ser encontradas, fundamentalmente, na área dos serviços prestados às
empresas, e que estão precisamente concentradas nos principais centros urbanos. Assim,
nas cidades portuguesas encontraremos tendencialmente actividades como a arquitectura,
o design de comunicação, webdesign sendo que à medida que as cidades vão aumentando
de dimensão também a diversidade de actividades de que dispõe aumenta.
Em relação a Cascais há, desde logo, dois factores, ou melhor um factor e um subfactor,
que explicam alguns dos principais traços do sector nesta área territorial. O facto de Cascais
ser um concelho em que o turismo tem um peso importante, crucial mesmo, explica uma
tendência para que a maioria e os principais agentes e eventos estejam relacionados com
este sector. Esta relação coloca-se a dois níveis, ao nível do património e o dos eventos
artístico-culturais. Não sendo esta a secção mais indicada para fazer uma análise do sector
em Cascais, ficaremos por aqui no que diz respeito à abordagem analítica. Procurar-se-á,
por isso, tentar elencar os principais agentes do concelho.
Com o intuito de evitar a mera listagem de empresas ou instituições obedece-se, dentro
do possível, ao critério proporcionado pelo esquema do “Modelo NESTA” em que se
distinguem 4 dimensões de existência das actividades criativas (Criação de originais,
Produção de Conteúdos, Experiências e Serviços). Como veremos abaixo, num quadro que
não se pretende exaustivo, as dimensões Experiências e Serviços têm uma preponderância
significativa no número de total de agentes e eventos no Concelho.
Mas antes de passarmos a uma leitura dos principais agentes, e instituições eventos
concelhios com base na aplicação desse modelo, iniciamos a análise pelo elencar dos
principais agentes actualmente registados como activos no concelho pelas seguintes
categorias:

17
Excluindo os reguladores públicos e agentes protagonistas de políticas destinadas ao sector cultural
e criativo, de quem se falará adiante.
A. Instituições Públicas e Equipamentos Municipais

O património do Concelho de Cascais é rico e diversificado. Não nos alongamos nesta


secção sobre os equipamentos e organizações da autarquia, já tratados mais em pormenor.
Aos equipamentos actualmente existentes virão juntar-se em breve alguns projectos
fundamentais para a afirmação do Concelho no contexto da Grande Lisboa: o Museu Paula
Rêgo e o Teatro Municipal da Quinta da Alagoa. O Museu Paula Rêgo irá albergar um
conjunto muito significativo de obras da mais conhecida artista portuguesa a nível
internacional. A associação simbólica e física do concelho de Cascais a Paula Rêgo ficará
assim firmada para o futuro. Já o Teatro Municipal da Quinta da Alagoa, que virá substituir o
velhinho Teatro Mirita Casimiro, dotará o concelho dos requisitos técnicos para receber
espectáculos com um grau de exigência que até agora apenas o palco do Casino do Estoril
(Salão Preto e Prata) dispunha. Em seguida, na tabela 4.4.1, elencam-se as principais
instituições e equipamentos detidas pela autarquia de Cascais:

Tabela 4.32 - Principais instituições e equipamentos ligados à CMC


Principais instituições e equipamentos ligados à CMC
Auditório Fernando Lopes Graça – Parque Palmela
Biblioteca Municipal da Casa da Horta da Qta. de Sta. Clara
Biblioteca Municipal S. Domingos de Rana
Biblioteca Municipal Infantil e Juvenil – Parque Marechal Carmona
Centro de Congressos do Estoril
Centro Cultural de Cascais
Conservatório de Música de Cascais
Espaço Memória dos Exílios
Espaço Memoria TEC
Farol Museu de Santa Marta
Fundação D. Luís I
Forte de S. João de Oitavos
Instituto de Cultura e Estudos Sociais
Livraria Municipal de Cascais
Marégrafo de Cascais
Museu Conde de Castro Guimarães
Museu do Mar – Rei D. Carlos
Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades de Faria
Palácio Nacional Cidadela de Cascais (Empresa Municipal Fortaleza de Cascais)
Teatro Gil Vicente
Teatro Municipal Mirita Casimiro
Em projecto
Casa de Histórias e Desenhos Paula Rêgo (Museu PR - a abrir em 2008)
Museu da Arqueologia (a edificar)
Casa Sommer (para instalação do Arquivo Histórico Municipal/Centro de História Local)
Museu da Vinha e do Vinho (Adega da Quinta do Barão)
Auditório Municipal da Quinta da Alagoa

Para além de todos estes equipamentos, vários outros têm sido utilizados para fins
culturais, como atrás se refere (veja-se o caso da Cidadela, por exemplo, acolhendo
espectáculos diversosou eventos como a ModaLisboa, ou a Feira Mundo Mix,…), e outros
podem ser igualmente aproveitados para fins culturais, como por exemplo:
- equipamentos culturais e desportivos com valências múltiplas;
- património histórico/cultural concelhio – p.e., diversos fortes ao longo da costa;
- espaços públicos do concelho (praças, praia, paredão,…);
De igual modo existem diversos espaços privados (centros comerciais, Casa da Guia,
etc.) que poderão ser explorados nesta vertente, onde alguma actividade pode (e tem vindo
a) ser desenvolvida.

B. Organizações Privadas e Empresas

O Concelho de Cascais dispõe, ao nível das actividades criativas e culturais, e em traços


gerais, da oferta fundamental que um centro urbano com as características de Cascais
deverá ter. Ou seja, dispõe de 15 salas de cinema, de oferta livreira, uma companhia de
Teatro, entre outro tipo de ofertas que se pode encontrar nas principais cidades do país.
Tem no entanto algumas empresas/agentes que as distinguem. O maior Casino da Europa
– o Casino do Estoril – encontra-se no concelho com a actividade que lhe é conhecida.
Pelos seus palcos passam dezenas de artistas diariamente, todos os dias do ano, não
sendo um exagero afirmar que o Casino do Estoril é o principal empregador de artistas do
país, em regime contínuo. Destacaríamos igualmente a Ellipse Foundation, uma colecção
de arte contemporânea com características únicas no país. A colecção, que é excelente, é
composta por muitos dos mais fundamentais artistas das artes visuais dos últimos 30 anos a
nível mundial. Esta colecção é privada e pertence a um fundo de investimento ligado ao
banqueiro João Rendeiro. Albergada num armazém em Alcoitão está aberta ao público, nos
mesmos moldes que um comum museu. Em Portugal só poderá ser equiparada, em termos
não rigorosamente semelhantes, à colecção Berardo e à colecção do Museu de Serralves.
Finalmente, no sector do retalho de produtos culturais destaca-se a loja FNAC, localizada
no centro comercial Cascais Shopping, não só pelo seu volume de negócios e emprego,
mas também pela programação cultural contínua que promove no seu espaço.
No âmbito do sector cultural e criativo destacaríamos a título exemplificativo empresa de
jogos electrónicos Move Interactive. Empresa criada originalmente na Madeira, e
deslocalizada pelos seus sócios fundadores para o Estoril, constitui um exemplo singular de
uma actividade com pouquíssima expressão em Portugal, mas que envolve meios e
recursos financeiros significativos. A ultimar neste momento o jogo Ugo Volt para consolas
de jogos electrónicos deverá ser lançado no mercado internacional ainda em 2008.
Segundo notícias veiculadas na imprensa especializada, o investimento em causa é de 10
milhões de euros (suportados pelas empresas de private equity PME Investimentos e Fundo
Madeira Capital). É um exemplo interessantíssimo de criatividade associada ao negócio,
exemplo único de um empreendimento com estas características e não associado a
nenhum cluster de conhecimento, à semelhança do que acontece a tantas empresas que
resultam das universidades ou localizadas em parques tecnológicos. Destacamos de
seguida as principais empresas, organizações privadas do sector:

Tabela 4.33 - Principais empresas culturais/criativas privadas no concelho – alguns


exemplos
Principais empresas culturais/criativas privadas no concelho – alguns exemplos
ACTECAS – Promoção de Comercio Artístico
Atlântida Cine
Casino Estoril (Galeria de Arte, Du Arte Garden, Salão Preto e Prata, Auditório)
Ceramicarte – Cerâmica Artística de Cascais
Cinemas Warner Lusmoundo Cascais Shopping
Cinemas Castello Lopes Cascaisvilla Shopping
D’Arthouse Galeria
Ellipse Foundation
Fnac Cascais Shopping
Fundação Diogo D’Ávila
Galeria Art for All
Galeria Trassovivo
Marques & Albuquerque, Sociedade Leiloeira, Lda.
Move Interactive
Projazz
Quinta da Encosta
Teatro Experimental de Cascais
Viquadro

C. Ensino

Fundamental para todo e qualquer cidade é o ensino e a formação artística e criativa. À


primeira vista afigura-se que o concelho está bem apetrechado de escolas e organizações
de formação, como o elenco de seguida exposto, indicia. No entanto, estas instituições são
fundamentalmente, escolas de formação e ensino artístico generalista e, na sua maioria,
orientado para a formação inicial. Há uma quase total ausência de formação avançada ou
universitária, com excepção da Escola Superior de Teatro de Cascais, no domínio artístico,
cultural e criativo.

Tabela 4.34 - Principais instituições de ensino/formação nas áreas criativas em Cascais


Principais instituições de ensino/formação nas áreas criativas em Cascais
Academia de Artes e Restauro
Atelier HR (Henrique Reis)
Centro Musical D. Bosco (Escola Salesiana de Manique)
Escola de Artes de Cascais/ Casa de Santa Maria
Escola Superior de Teatro de Cascais
Espaço Desenho Habitado
Interartes – Escola de Música e Tecnologia
Margarida’s School
No Mundo da Lua – Centro de Artes
Oficina de Cerâmica
Oficina do Desenho
Tons da Baía
Way of Arts
D. Eventos

Cascais é o concelho onde alguns dos principais eventos de cariz cultural e criativo do
país, se realizam. O investimento sólido e contínuo na vocação turística de qualidade do
concelho, aliado a uma capacidade financeira correspondente, por parte da Junta de
Turismo do Estoril, e fruto das verbas das contrapartidas da concessão de jogo, tem-se
manifestado num conjunto de eventos de elevado perfil mediático. Estes eventos dividem-se
fundamentalmente em dois grupos. Um grupo composto pelo Estoril Jazz/Jazz num Dia de
Verão – festival organizado pela empresa Projazz – DM Produções e com um historial
fundamental na história do jazz português, pelo Festival Internacional de Música do Estoril e
pela Feira Internacional de Artesanato do Estoril, que têm uma existência longa e de
créditos firmados nos respectivos circuitos de legitimação. O outro grupo de eventos, ambos
muito recentes, é composto pela Moda Lisboa - Estoril e pelo Festival Europeu de Cinema.
A Moda Lisboa - Estoril, proveniente do Concelho de Lisboa, encontrou no concelho de
Cascais os apoios que a cidade de Lisboa já não proporcionava. O primeiro evento teve
lugar em 2007 e deverá fixar residência – duas vezes por ano – em Cascais até 2011. O
Festival Europeu de Cinema teve também a sua primeira edição em 2007, no Estoril e em
Cascais, e é organizado pelo produtor Paulo Branco. Pretendendo ser uma festa do cinema
europeu, mas não só, terá de encontrar o seu lugar no circuito já sobrelotado de festivais.

Tabela 4.35 - Principais eventos culturais e criativos regulares no concelho de Cascais


Principais eventos culturais e criativos regulares no concelho de Cascais
Estoril Jazz/Jazz num Dia de Verão
Festival Europeu de Cinema
Feira Internacional de Artesanato do Estoril
Festival Internacional de Música do Estoril
Moda Lisboa
Cursos Internacionais de Verão de Cascais

Para além destes, a fronteira com eventos desportivos e recreativos de âmbito


internacional realizados em Cascais (em campos como o golfe, o ténis, o automobilismo, o
motociclismo, a vela, etc) poderá calaramente explorada com benefícios mútuos e com uma
evidente mais valia para a imagem concelhia.

E. Associações

O associativismo é ainda uma forma fundamental de organização em qualquer


sociedade e elemento contributivo para a solidificação da democracia e expressão saudável
de cidadania. Em Cascais há algumas associações que prosseguem fins de carácter
artístico-cultural e criativo, sendo que umas assumem um pendor mais lúdico e outras uma
vocação de protecção de grupos de profissionais.
Como pode ser visto no estudo Associativismo Cultural em Cascais (Pinheiro e Gomes,
2005), o movimento associativo é bastante significativo no que concerne às actividades
culturais. Paar além disso, diversas outras instituições do 3º sector com actividade no
concelho tem um actividade fundamental no suporte ao desenvolvimento da actividade
criativa local. Desde as diversas instituições de solidariedade social às entidades
responsáveis por grande parte do apoio a segmentos populacionais desfavorecidos e à
inclusão social (centros sociais, paróquias, santa casa da misericórdia, etc.), muitas destsa
instituições têm desenvolvidoum papel fundamental na promoção de condições que podem
potenciar o desenvolvimento das actividades criativas no concelho, e desenvolvido projectos
que podem aliar a componente da inclusão social e da expressão da cidadania com a
promoção da criatividade.
Não sendo possível enumerá-las a todas, apresentam-se apenas na figura XXX,
algumas das principais associações mais directamente associadas à actividade cultural e
criativa.

Tabela 4.36 - Principais associações de âmbito cultural e criativo no concelho


Principais associações de âmbito cultural e criativo no concelho
Associação Cultural de Cascais
Associação de Artistas Plásticos de Carcavelos
Associação dos Artesãos da Costa do Estoril
Sociedade Musical União Paredense
Sociedade Recreativa e Musical de Carcavelos

As principais instituições e eventos do concelho de Cascais segundo o modelo


NESTA

O NESTA (National Endowment for Science, Technology and the Arts), organização
governamental britânica desenvolveu recentemente um modelo sistematizador das
actividades criativas e que pretende resolver – de uma forma menos linear do que a que
cadeia de produção/valor propõe – as diversas dimensões em que estas se colocam. Assim
criou um modelo que cria quatro níveis onde as actividades criativas actuam: um primeiro
nível designado “Originais” refere-se àquelas actividades que criam ou lidam, de forma
genérica, com bens culturais e criativos originais e não com reproduções (ainda que essas
criações sejam susceptíveis de serem reproduzidas). O segundo nível é denominado
“Conteúdos”, ou seja, aquelas actividades que lidam com conteúdos, designação utilizada
para as criações imateriais; o terceiro nível dirá respeito às “Experiências”, isto é, aquelas
actividades que, como o próprio nome indica, estão associadas a experiências, tais como
aquelas relacionadas com o turismo ou espectáculos. Por fim, o último nível diz respeito aos
“Serviços”, que engloba aquelas actividades criativas que prestam fundamentalmente
serviços às empresas.
Tabela 4.37 – Alguns exemplos de actividades no Concelho de Cascais

Actividades Agentes no concelho (alguns exemplos)

Originais  Antiguidades
 Design  Ceramicarte
 Artesanato  Marques & Albuquerque, Sociedade Leiloeira
 Artes Visuais
Conteúdos  Edição
 TV e Rádio
 Software de Entretenimento  Move Interactive
 Cinema
 Música
 Merchandising
 Design de Moda
Experiências  Casino Estoril
 Ellipse Foundation
 Fnac Cascais Shopping
 Teatro Experimental de Cascais
 Cinemas Warner Lusmoundo Cascais Shopping
 Cinemas Castello Lopes Cascaisvilla Shopping
 Estoril Jazz/Jazz num Dia de Verão
 Moda Lisboa/Cascais
 Festival Europeu de Cinema
 Património e Turismo  Feira Internacional de Artesanato do Estoril
 Cinema (exibição)  Festival Internacional de Música do Estoril
 Música ao vivo  Museu Paula Rêgo
 Artes Performativas  Fundação D. Luís
 Museus, Galerias, Atracções  Centro Cultural de Cascais
 Desportos  Museu do Mar – Rei D. Carlos
 Forte de S. João de Oitavos
 Biblioteca Municipal da Casa da Horta
 Biblioteca Municipal – S. Domingos de Rana
 Biblioteca Municipal Infantil e Juvenil/Parque
Marechal Carmona
 Museu da Música Portuguesa
 Espaço Memória dos Exílios
 Museu Conde Castro Guimarães
 Pátio das Artes/Margarida’s School
Serviços  RP e Marketing
 Arquitectura
 Design
 Publicidade  Projazz/DM Produções
 Serviços de Pós-produção e  Move Interactive
audiovisual
 Fotografia
 Agentes (representantes)
 Desenvolvimento de jogos

Se sistematizarmos aqueles agentes que elencamos acima, de acordo com estes quatro
níveis de actividades (sistema este que aceita duplicações, já que determinadas
empresas/instituições actuam em mais de que um nível de actividade), ficaremos com uma
visão que permite compreender melhor a estrutura do sector das indústrias culturais e
criativas. Esta tabela, numa rápida análise, indica-nos que há um desequilíbrio significativo
no sentido do terceiro agrupamento, o que se refere às “Experiências”. No seguimento do
referido no início desta secção, a vocação do concelho para o Turismo está bem plasmado
nesta abordagem. Ou seja, aquelas actividades que estão associadas às atracções, seja
entretenimento puro ou de carácter patrimonial ou cultural estão em clara evidência,
principalmente quando comparadas com os outros agrupamentos possíveis de actividade.
É manifesto o desiquilibrio entre os quatro níveis de actividade aqui considerados. O
nível “experiência” apresenta um grupo de actividades bastante mais numeroso do que as
restantes. Este desiquilibrio pode ser entendido como um enviesamento das actividades
criativas. No entanto, esta concentração, ao manifestar-se num nível mais próximo das
procuras culturais locais, deve ser percebida como uma oportunidade para o
desenvolvimento dos restantes níveis de actividade (a montante e a jusante). Existindo uma
forte procura local, falta articulação / integração que alavanque todo o sector criativo.
4.5. Políticas culturais e financiamento do sector cultural e criativo no concelho

A actividade cultural e criativa no concelho é claramente marcada pela actuação pública


e pela intervenção institucional que, a vários níveis, sobre ela impende, seja a de âmbito
local, seja a de carácter mais nacional. Para além da própria política cultural, as actuações
sobre outras áreas como a da promoção económica e do empreendedorismo, o urbanismo
e a requalificação urbana, a inclusão social, a formação ou a juventude, por exemplo, tanto
à escala de actuação municipal, como no que concerne aos impactos da acção de âmbito
nacional ou regional, todas elas têm um papel fundamental no desenvolvimento das
actividades criativas no concelho. Estas actividades são cada vez mais marcadas (e a sua
análise, bem como a actuação política que sobre elas seja necessária terão também de ser
cada vez mais marcadas…) por questões transversais como a sua promoção externa e a
sua internacionalização, a formação de capital humano, a regulação dos mercados, a
protecção de direitos de propriedade intelectual, ou a promoção da imagem local e da
marca de origem territorial desses produtos, entre muitos outros exemplos.
Nesta secção sintetizam-se algumas questões centrais numa reflexão sobre o contexto
que afecta o sector cultural e criativo no concelho de Cascais, do ponto de vista particular
das dinâmicas das políticas (culturais e outras) que enformam a actuação sobre o sector
cultural e criativo local.
Em primeiro lugar, a política cultural municipal é obviamente um vector fulcral na
actuação de promoção do desenvolvimento das actividades culturais e criativas no
concelho. Neste quadro, conforme já ficou claro anteriormente (veja-se a análise da
evolução das despesas municipais em cultura, no capítulo 4.1.2), a actuação conducente ao
saneamento financeiro da autarquia nos anos mais recentes teve claros impactos em
termos daquilo que foi a evolução do orçamento a gerir e das possibilidades de despesa
disponível por parte do pelouro cultural da CMC. Esta opção política de fundo,
explicitamente assumida pelo executivo municipal no seu conjunto, implicou severos cortes
financeiros em algumas áreas, sendo uma das mais atingidas por esse esforço a área da
cultura, facto que teve, portanto, alguns impactos claros na vivência quotidiana cultural do
município ao longo dos últimos anos e que teve inevitavelmente reflexo nas opções políticas
respectivas (com uma concentração em algumas áreas e sectores definidos, bem como
uma definição de prioridades claras em relação ao tipo de despesas e apoios
contratualizados com o exterior – e um foco claro no assegurar dos compromissos em
termos das despesas correntes da estrutura cultural municipal, com uma dimensão
considerável, e necessidades quotidianas consideráveis – p.e., nos equipamentos e
estruturas culturais municipais). No entanto, estas restrições orçamentais que tiveram o seu
pico durante o ano de 2005, com a melhoria da situação financeira e o saneamento gradual
das contas da autarquia tiveram progressivamente o seu refluxo e permitem nos dias de
hoje ter uma maior folga e uma maior dotação orçamental absoluta e relativa para o sector.
No entanto, mais do que estas dificuldades conjunturais, importa talvez destacar a ideia de
que actuação pública neste domínio, como se viu bem durante este período de maior
contenção, não pode estar centrada (nem pode nunca passar só por…) no mero apoio aos
artistas e agentes culturais concelhios, nem pode estar sujeita a ciclos eleitorais ou outros,
tendo de ser objectivada em termos de longo prazo e da programação de um conjunto de
actividades e estruturas tendencialmente mais auto-sustentáveis, que para além da natural
gestão corrente dos equipamentos e estruturas locais municipais, se envolva com a
sociedade civil e os agentes culturais do concelho (e envolvente) de forma articulada e
sustentada em torno de programas e lógicas de actuação plurianuais, tendo em vista a
prossecução de objectivos comuns, previamente fixados e eventualmente contratualizados
entre as diversas partes envolvidas. Independentemente dos dilemas que inevitavelmente
afectam os decisores políticos nestas funções (entre uma actuação que privilegie mais o
imaterial ou o físico; os eventos ou o apoio à actividade mais quotidiana dos agentes
culturais; o apoio e subcontratação a entidades existentes no mercado ou a realização dos
próprios serviços e actividades culturais pelas estruturas municipais, etc.) é fulcral, numa
perspectiva de médio e longo prazo, garantir uma certa autonomia face às oscilações mais
conjunturais em termos das dotações orçamentais para o sector, procurando formas de
complementar estas receitas, por exemplo, através da articulação da actuação com outras
agentes culturais externos à autarquia, obviamente sem descurar nem sacrificar o papel
fundamental do município enquanto prestador de serviço público (fornecimento de bens
públicos cuja provisão pelo mercado se torna impossível ou é claramente ineficiente) e sem
esquecer a importância fundamental da actuação municipal em áreas como a formação de
públicos a preservação e divulgação da memória, por exemplo, onde a autarquia (como
bem se notou neste período de contracção orçamental) não poderá deixar de ter um papel
fundamental na actuação.
Para além da intervenção explícita na área cultural, diversas outras áreas no âmbito de
actuação municipal são fulcrais para as indústrias criativas locais, desde a juventude, às
actividades económicas, à educação, ao urbanismo e planeamento, entre outros exemplos.
De facto, cada vez mais estes múltiplos campos têm vindo a desenvolver um trabalho que
desempenha um papel importante no fomento destas actividades, obviamente numa
perspectiva que não se substitui, mas antes complementa a actuação efectuada na óptica
da política cultural. Neste quadro, diversas acções e medidas têm sido levadas a cabo,
nestas diversas áreas, desde o apoio ao empreendedorismo à formação de públicos, desde
o apoio ao desenvolvimento das associações juvenis à educação artística e técnica, por
exemplo, sendo desde já importante fomentar a articulação e a promoção e
consensualização de objectivos e instrumentos comuns entre os diversos intervenientes. De
qualquer forma, os resultados têm mostrado que uma actuação com este enfoque múltiplo
será essencial para o desenvolvimento de atitudes e de actividades no âmbito das indústrias
criativas que assentem no mercado ou em formas de governança que passem para além do
suporte público.
São igualmente de referir outras actuações em parceria ou colaboração dos órgãos
municipais com outros agentes locais e o estabelecimento de estruturas ou soluções
institucionais que configurem uma extensão da actividade municipal, ultrapassando
eventuais dificuldades de acção de estruturas mais rígidas e convencionais e de lógicas
mais “sedimentadas” de actuação dos agentes e dos serviços. O dinamismo verificado a
este nível é notório, destacando-se não só as colaborações verificadas nas diversas áreas
de interface em termos de competências e atribuições, com as quatro agências municipais
(DNA-Empreendedorismo, Cascais Natura, Cascais Atlântico, Cascais Energia), como
igualmente a actuação através de instrumentos que permitam o estabelecimento de
parcerias e lógicas de actuação mais flexível, como será o caso da Fundação D. Luis I,
entidade actualmente responsável pela gestão do Centro Cultural de Cascais, ou da
Empresa Municipal Fortaleza de Cascais, responsável pela gestão da Cidadela.
Para além disso, um outro conjunto de colaborações com outras entidades públicas,
articulando os interesses locais de municípios com problemas semelhantes e a actuação e o
apoio públicos centrais ao nível de subsectores específicos, nomeadamente no campo das
artes performativas, são igualmente de destacar, nomeadamente a existência (desde 1998)
da Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras (com o Instituto das Artes do MC e a
autarquia de Oeiras) e, desde 1999, da Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo
(com a autarquia de Lisboa, para além do Ministério da Cultura). A organização de
conferências, de cursos de verão e de mestrado e o apoio à investigação efectuados pelo
Instituto de Cultura e Estudos Sociais, entidade também associada à autarquia, são alguns
exemplos de outras actividades que configuram igualmente uma lógica de actuação
multipolar e multi-institucional que garante alguma diversidade em termos das lógicas e
programa de acção desenvolvidos. Esta dimensão pode ser igualmente constatada através
da actividade de instituições como a AIMCE (Associação Internacional de Música da Costa
do Estoril, já em actividade desde 1981), para além de muitas outras, cuja continuidade da
actividade no concelho tem permitido uma relação de cooperação e de mútuo benefício com
a autarquia que importa registar (a titulo de mero exemplo, pense-se na Projazz, com o
festival Estoril Jazz / Jazz num dia de Verão).
Um outro vector, específico ao concelho, que tem desempenhado um papel importante
na dinamização das actividades culturais e criativas em Cascais, tanto de forma directa com
indirecta, tem sido a actuação do Turismo de Portugal, e em particular da Junta de Turismo
da Costa do Estoril. Por um lado pelo seu papel fundamental na promoção do concelho e da
sua actividade turística (e, em paralelo, de toda a animação, cultural, social, desportiva, etc.,
que nele se desenvolve); por outro lado, pela questão concreta da regulação da actividade
do jogo, e do impacto que esta instituição tem na gestão dos fundos provenientes da receita
do jogo, nomeadamente através dos contratos de concessão do Casino do Estoril. A receita
proveniente desta concessão, e em particular as contrapartidas estipuladas que têm como
destinatária a autarquia da Cascais, tem sido fundamental para desenvolver um conjunto de
projectos estruturantes no município, muitos deles, no campo específico das actividades
culturais e criativas, seja em termos dos eventos realizados como, particularmente, dos
equipamentos e infra-estruturas.
Aqui destaca-se não só apoio contratualizado regular, traduzido anualmente numa verba
financeira que é transferida para a Junta de Turismo da Costa do Estoril, mas também o
apoio obtido como contrapartida da concessão e abertura do novo casino de Lisboa. A
Junta de Turismo transfere, por sua vez, fundos para projectos geridos e executados pela
CMC (que tem ascendido em média a um valor de cerca de 11 milhões de euros em 2007 e
12,5 milhões de euros em 2008 (Orçamento 2008, Câmara de Cascais), permitindo ao longo
dos últimos anos vultuosos investimentos nos equipamentos culturais e no património
concelhio, como por exemplo, a requalificação do Farol de Sta Marta, do centro histórico da
Vila de Cascais ou do Teatro Municipal Alagoa.
Toda esta actividade se desenrola num quadro de evolução das políticas culturais em
Portugal que é marcado por um contexto de profunda transformação e readaptação a novos
contextos de actuação. Para além de variações conjunturais cíclicas associadas às naturais
cambiantes na formulação de estratégicas políticas para o sector, por parte dos seus
diversos responsáveis, numa lógica de mais longo prazo é possível salientar um conjunto de
tendências de transformação que passam, entre outros aspectos por uma maior acepção da
diversidade e multiplicidade de lógicas de actuação pública no sector (para além das
convencionais intervenções directas, regulação dos mercados e apoio via subsidiação), bem
como por uma assunção mais diversa dos alvos e dos instrumentos das políticas (maior
abertura à multiculturalidade, mais abertura a novas áreas culturais, maior articulação com
áreas paralelas como a afirmação externa, a economia, a educação ou o desenvolvimento
urbano, p.e.) e uma crescente diversificação e complexificação das estruturas, regras e
instituições associadas à intervenção. Três ideias de fundo se podem destacar: claramente
uma maior descentralização (com um crescente peso da actuação pública a ser
desempenhada a nível local – e mesmo regional – face ao nacional), uma maior
desestatização (com a abertura crescente à articulação e colaboração com privados e com
o 3º sector, e à realização de parcerias, bem como com uma maior abertura ao mercado e
uma progressiva comodificação de várias actividades e serviços culturais), e também uma
crescente dessacralização da cultura (com uma maior assunção da diversidade de
actividades culturais que necessitam de ser alvo de actuação e regulação, muito para além
da cultura mais “elitista”, “legitimada” e “cultivada” e do património, entrando em novos
campos como as novas culturas urbanas ou as actividades criativas claramente providas
pelo mercado – p.e., arquitectura, design, etc.).
Independentemente da cultura continuar a ser um “fim” fundamental da intervenção
pública (cada vez mais a diferentes níveis e aos mais diversos âmbitos de actuação),
progressivamente tem vindo também a ser encarada e assumida como um “meio”
fundamental para auxiliar a actuação política noutras áreas, em campos tão diversos como
a requalificação urbana, a reconversão económica, a criação do emprego ou a inclusão
social. Estas vertentes, claras quando pensamos em toda a retórica mais recente em torno
das indústrias e cidades criativas, são fundamentais numa perspectiva de promoção de um
desenvolvimento local integrado e sustentável, e deverão obviamente ser prosseguidas com
determinação, mas isso não pode de todo obviar a que a cultura por si só seja consagrada
como um objectivo fundamental de política e uma linha prioritária de actuação, por todos os
fins específicos que proporciona ao nível da expressão cultural e identitárias das
populações e da sua possibilidade de participação cívica e de assunção plena da cidadania,
como tem sido aliás muito notado por diversos debates e relatórios internacionais – vejam-
se, por exemplo, as conclusões do recente Fórum Cultural para a Europa, realizado no
âmbito da última presidência portuguesa da UE (CCE, 2007).
Neste quadro, as autarquias locais em Portugal têm sido chamadas nos anos mais
recentes a desempenhar um papel crescente, nestas diversas áreas, e têm conseguido
dotar-se progressivamente quer de infra-estruturas e equipamentos (muito com base no
apoio de fundos comunitários e no lançamento de um conjunto de redes fundamentais,
apoiadas pelo Ministério da Cultura), quer de uma capacidade técnica e humana e de
competências que permitem entrar em novos desafios, e cada vez mais se afastam do seu
papel “tradicional” de meros apoiantes e financiadores das instituições cultuais e recreativas
dos respectivos concelhos ou de fomentadores indirectos da sua actividade pela via da
procura (como clientes de espectáculos, etc.).
Neste contexto geral, tal como atrás já se referiu neste relatório, o novo Quadro de
Referência Estratégico Nacional poderá (embora com muitas limitações na região de Lisboa
onde se encontra o concelho de Cascais), ser encarado também como uma nova
oportunidade e um quadro de actuação que permita desenvolver alguns projectos
inovadores e vocacionados, de forma transversal, para o desenvolvimento das actividades
criativas no município. Na sequência do POC (Programa Operacional da Cultura) do Quadro
Comunitário anterior (QCA III), importa a autarquia e os agentes locais estarem atentos às
oportunidades de enquadramento financeiro e institucional de projectos que possam
desenvolver nestas áreas. Não obstante a lógica deste QREN, organizado em Programas
Operacionais (PO’s) temáticos e regionais, não ser a das actuações temáticas (por
exemplo, actuações para a cultura), isso será ainda mais interessante na perspectiva de
esboçar linhas de acção com um carácter mais inovador, que cruzem as diversas áreas de
actuação convencionais (economia, cultura, requalificação urbana, promoção de emprego,
qualificação da população, inclusão social, por exemplo), em torno de projectos sustentáveis
e eles próprios “criativos”, como será o caso das acções desejadas para uma área como a
das indústrias culturais e criativas, como temos visto até aqui.

Neste quadro, um conjunto de conclusões fundamentais se afiguram como elementos a


destacar e a ter em conta na síntese deste diagnóstico sobre as actividades criativas em
Cascais e na definição de uma estratégia de actuação coerente e consistente:
a) a importância das restrições financeiras que afectaram a actuação municipal
durante um certo período de tempo, de saneamento financeiro, mas que agora,
após um período em que os cortes orçamentais na área da cultura foram
significativos, parecem estar em condições de ser ultrapassadas; isto não obsta
claro a que uma situação semelhante se possa vir a verificar no futuro e aponta
para a necessidade de (e a possibilidade de explorar a) diversificação de receitas e
de fontes de financiamento por parte dos actores culturais locais, bem como da
assunção de parcerias e outras formas de governança que permitam soluções
inovadoras e criativas para o desenvolvimento dos seus projectos artísticos e
culturais;
b) a importância de políticas transversais e cada vez menos sectorializadas, e de uma
actuação baseada em objectivos e programas de actuação que contem com a
colaboração e o empenho das diferentes áreas (e instituições) de actuação
convencionais, cruzando a vertente da promoção, preservação e desenvolvimento
cultural, com objectivos múltiplos nos campos da promoção económica e do
emprego, do empreendedorismo, da formação e educação, da inclusão e do
fomento da cidadania, do urbanismo e da requalificação dos espaços do concelho,
etc.;
c) o crescimento (e o potencial ainda a explorar) das articulações e colaborações entre
os agentes responsáveis pela actuação nestes domínios e outros que tenham
objectivos comuns, paralelos e simultâneos (e que possam ser envolvidos e estar
interessados na prossecução desses mesmos objectivos colectivos), seja, por um
lado, internamente à instituição CMC e ao universo de instituições paralelas
(associações e empresas com participação municipal, agências, serviços
camarários, etc.), seja, por outro lado, com o envolvimento de parceiros privados
ou instituições públicas, que permitam articular objectivos e formas de acção,
ganhar escala e criar sinergias para obtenção de resultados mutuamente
vantajosos;
d) a necessidade de aprofundamento da colaboração inter-institucional através da
mobilização dos actores numa lógica de planeamento estratégico, pela
consensualização de um diagnóstico dos problemas existentes e das frentes de
actuação e interesses comuns que possam consubstanciar lógicas de partilha de
objectivos que se traduzam numa programação conjunta de actividades e acções
(bem como na partilha de recursos e esforços financeiros), de forma a atingir com
mais celeridade e eficiência esses mesmos objectivos partilhados, e a ultrapassar
lógicas paroquialistas e de protagonismos individuais e institucionais que
usualmente se revelam extremamente redutores e ineficientes.
Os “recursos criativos” em Cascais
5. Os “recursos criativos” em Cascais

Neste capítulo efectua-se uma análise mais geral dos recursos criativos disponíveis no
concelho de Cascais, na perspectiva da sua mobilização para a promoção de um sector
cultural e criativo mais competitivo e economicamente sustentável. Pretende-se aqui uma
visão mais ampla sobre a realidade do concelho e uma identificação dos recursos criativos
que possam proporcionar o seu desenvolvimento, em áreas como as instituições existentes,
a qualificação dos recursos humanos locais, os hábitos culturais da população, o ambiente e
a qualidade de vida, a diversidade e tolerância, a receptividade à inovação; etc.
Isto é feito através de duas vias, distintas, mas complementares (uma mais qualitativa,
outra mais quantitativa): Por um lado (no capítulo 5.1), uma breve síntese da situação do
concelho de Cascais, cruzando um conjunto de aspectos fundamentais para a sustentação
das dinâmicas criativas:
a) A situação do tecido socioeconómico do concelho (principais aspectos em
relação às tendências demográficas; à qualificação da população; à evolução da
actividade/sectores económicos);
b) A situação ao nível do tecido institucional (principais agentes e políticas
mobilizáveis e oportunidades que representam);
c) A caracterização da situação “geoestratégica” (inserção no âmbito da AML e
caracterização das dinâmicas locais no âmbito de uma realidade mais ampla – por
exemplo, movimentos pendulares quotidianos, etc.).
Por outro lado, esta visão mais ampla sobre os recursos criativos de Cascais é
complementada (no capítulo 5.2) com a tentativa de elaboração de um índice de
“criatividade”, que permita avaliar e comparar a situação do concelho com a da sua
envolvente (concelhos limítrofes; AML; país). Isto é feito com base na recolha, tratamento e
análise de um conjunto de indicadores que cubram um conjunto diverso de domínios
considerados fundamentais em termos da capacidade criativa de cada território
(qualificações, tolerância, inovação, etc.), aí explicitados e desenvolvidos.
5.1. Cascais: um concelho com algumas especificidades no quadro de uma região
metropolitana em evolução

Nesta secção efectua-se, como acima se refere, uma breve síntese da situação do
concelho de Cascais em relação a um conjunto de aspectos fundamentais para a existência
e a sustentação de dinâmicas criativas, cobrindo de forma panorâmica a situação do
concelho, e tendo em conta um conjunto de aspectos associados à caracterização do tecido
demográfico e socioeconómico do concelho, à apreciação do seu tecido institucional e à
caracterização da sua situação geoestratégica no âmbito da AML em que está inserido.
Mais uma vez nesta secção se remete o leitor para um amplo conjunto de
caracterizações e de estudos já efectuados e disponíveis previamente sobre a situação
geral do concelho de Cascais e sua evolução genérica (onde esta poderá ser analisada e
problematizada de forma bem mais detalhada), apresentando-se aqui apenas alguma
informação estatística que consideramos fundamental para ilustrar alguns aspectos
particulares, de forma comparativa com os diversos espaços de referência considerados na
nossa análise (a AML, os concelhos limítrofes, Lisboa, e o espaço nacional).
A Grande Área Metropolitana de Lisboa (GAML), onde se insere o Concelho de Cascais,
dispõe de características excepcionais que lhe conferem “significativas vantagens
competitivas no panorama internacional: a orla costeira e as frentes ribeirinhas – espaços
de lazer e recreio ligados ao mar (recurso estratégico) e aos estuários (do Sado e do Tejo),
geográfica, histórica, económica e ambientalmente importantes – e o espaço rural e os
recursos naturais (serras de Sintra e da Arrábida)” (CCDLVT, 2007). Este enquadramento
poderá potenciar a estratégia e as políticas a adoptar no concelho.
A Região de Lisboa, “potente a nível nacional mas ainda frágil – desafio a superar nesta
próxima década – na cena europeia”, é vista como a “região mais competitiva e coesa do
país – embora ‘condenada’ a ficar para trás no terreno da coesão social relativa – tem que
eleger como prioridade quase absoluta a promoção da competitividade, num esforço claro
de convergência para os modelos europeus mais exigentes da ‘economia baseada no
conhecimento’” (CCDLVT, 2007). O próprio QREN (Observatório do QCA III, 2007) identifica
a região como “ganhadora” em termos de competitividade mas “perdedora” na coesão,
dentro do quadro da convergência nacional.
O Concelho de Cascais, embora apresente algumas características próprias em relação
aos demais concelhos da região, enfrenta contudo alguns desafios semelhantes. As regiões
não são herméticas, nem as políticas adoptadas nas diversas áreas dessas regiões vêem
os seus efeitos confinados apenas onde foram aplicados. As políticas municipais seguidas
num concelho produzem, em alguma medida, externalidades nos seus vizinhos. Acrescem
ainda os efeitos das políticas supra-municipais, sejam regionais, nacionais ou europeias. É
com este espírito que resumimos neste capítulo algumas das características gerais sobre o
Concelho de Cascais, enquadrando-o tanto quanto possível na região onde se insere.
Geograficamente, o Concelho de Cascais tem fronteiras a este com Oeiras e a norte
com Sintra; a oeste e a sul apenas se vislumbra o Oceano Atlântico. Com tradições de
ligação ao mar, Cascais é um destino turístico muito apreciado por nacionais e estrangeiros,
devido ao clima ameno, praias, paisagens (marítima, montanha – proximidade à Serra de
Sintra, e Parque Natural de Sintra-Cascais), património, oferta hoteleira, gastronomia
variada e animação diurna e nocturna.
O Concelho de Cascais tinha 185 mil residentes em 2006 (tabela 5.1). Comparando com
o Censos 2001, o Concelho cresceu a uma média de 1.6% ao ano, acima do total de
Portugal, de Lisboa (que decresce) e de Oeiras. O Concelho de Sintra (tal como aliás outros
concelhos da “2ª coroa” de expansão em torno do núcleo metropolitano) teve um
crescimento bastante mais acentuado, 2.9% – quase o dobro de Cascais.
Em relação à GAML e ao ano de 2006, Cascais responde somente por cerca de 6,7% da
população, o que não denota um peso muito elevado. Dos concelhos em análise, Oeiras
tem uma preponderância semelhante, embora ligeiramente inferior, e Sintra e Lisboa com
as percentagens mais elevadas – cerca de 15 e 19%, respectivamente. O conjunto destes
quatro concelhos pesa 47% na GAML e esta 26% do total do país. Porventura, a ideia forte
a reter aqui é que as estratégias municipais de Cascais não poderão passar por uma aposta
na sua dimensão populacional de forma isolada (já bastante relevante, mas diminuta no
quadro metropolitano), mas na sua compatibilização e enquadramento numa mais ampla
base demográfica que consubstancia a região nacional com mais população (a par da
Cidade do Porto e sua envolvente difusa em todo o Norte litoral).

Tabela 5.1: População residente (milhares) por município – 2001-2006

2001 2002 2003 2004 2005 2006 TC TCAM


GAML 2616 2715 2740 2761 2779 2794 106,8% 1,3%
Grande 2020 106,5% 1,3%
1897 1979 1993 2004 2013
Lisboa
Lisboa 559 550 540 529 520 510 91,2% -1,8%
Cascais 172 176 179 181 184 185 108,0% 1,6%
Oeiras 162 165 167 168 170 171 105,0% 1,0%
Sintra 371 387 399 409 419 428 115,5% 2,9%
Portugal 10336 10407 10475 10529 10570 10599 102.5% 0.5%

Fonte: INE

Como se pode observar na figura 5.1, a população do Concelho de Cascais concentra-


se, sobretudo no “eixo” entre a Vila de Cascais e a fronteira a este, em Carcavelos, isto é,
perto do Rio Tejo e do Oceano Atlântico, ao longo da Estrada Marginal e a sul da auto-
estrada que liga Cascais a Lisboa. Para além de gozar de um enquadramento marítimo
apetecível, esta zona beneficia de bons acessos rodoviários e de transportes, de serviços e
de comércio. As condições habitacionais nesta zona são também comummente vistas como
atractivas. Por outro lado, devido à concentração a sul do concelho, ou seja, a área mais
procurada e com solo mais ocupado, o investimento em equipamentos novos ou a
constituição de áreas com alguma dimensão reservadas a actividades empresariais,
culturais ou outras, parece mais dificultado. O norte do concelho tem tido menor capacidade
de atracção, proporcionando assim mais áreas disponíveis. Existe ainda o Parque Natural
Sintra-Cascais, uma enorme mais-valia ambiental, mas que tem fortes restrições à
construção.

Figura 5.1: Densidade populacional por Subsecção estatística – Concelho de Cascais,


Censo 2001

Fonte: OAC (2005)

Em termos dos grupos etários, os perfis dos vários concelhos em análise não variam
muito entre si (tabela 5.2). É igualmente observável um quadro nacional que não difere
muito quando comparado com os destes municípios. Ao nível concelhio, onde se verificam
as maiores diferenças é entre Lisboa e Sintra. O primeiro tem menor proporção de jovens e
maior proporção de pessoas idosos em oposição ao segundo, ou seja, verifica-se aqui um
“duplo envelhecimento”.
De resto, a GAML tinha 15.7% de crianças dos 0 aos 14 anos, com Cascais um pouco
mais jovem; a GAML tinha 10.7% de jovens dos 15 aos 24 anos, com Cascais com um valor
sensivelmente idêntico; a GAML tinha 57% de população activa potencial (dos 25 aos 64
anos), com Cascais praticamente igual, mas abaixo; a GAML tinha 16.7% de população
idosa (com 65 ou mais anos), com Cascais também ligeiramente abaixo.

Tabela 5.2: População Residente (milhares) por município, segundo os grandes grupos
etários e o sexo, 31/12/2006
65 e
0 a 14 15 a 24 25-64
Total % % % mais %
anos anos anos
anos
GAML 2.794 439 15,7 298 10,7 1.592 57,0 466 16,7
Grande Lisboa 2.020 316 15,6 212 10,5 1.147 56,8 345 17,1
Lisboa 510 68 13,4 46 9,1 272 53,3 123 24,2
Cascais 185 31 16,5 20 10,6 105 56,5 30 16,4
Oeiras 171 26 15,1 17 10,1 99 58,0 29 16,9
Sintra 428 78 18,3 47 10,9 249 58,0 55 12,8
Portugal 10.599 1.638 15,5 1.266 11,9 5.867 55,4 1.829 17,3

Fonte: INE

Gráfico 5.1: População Residente (milhares) por município, segundo os grandes grupos
etários e o sexo, 31/12/2006

100%
90%
80%
70%
65 e mais anos
60%
25-64 anos
50%
15 a 24 anos
40%
0 a 14 anos
30%
20%
10%
0%
GAML Grande Lisboa Cascais Oeiras Sintra Portugal
Lisboa

As questões demográficas, ou assuntos com elas relacionadas, têm estado na ordem do


dia. Recentemente, temos assistido a muitas notícias e reflexões sobre discussões como,
por exemplo, a do aumento da idade da reforma ou do encerramento de equipamentos
escolares e de saúde. Em relação à Região de Lisboa, um estudo da CCDLVT (2007)
salienta que “apesar do crescimento positivo, as novas projecções demográficas para a
região apontam para uma ligeira tendência de envelhecimento da população” e que ”o
envelhecimento da população poderá ter implicações sérias no futuro da região, quer ao
nível social, quer ao nível económico, sendo necessário rejuvenescer a população e
contrariar essa tendência que se vem verificando”.
O próprio QREN (Observatório do QCA III, 2007) identifica o “aumento da esperança de
vida e, consequentemente, de acentuado envelhecimento, pelo aumento da taxa de
actividade feminina e pela alteração dos padrões de ocupação do território (associados à
concentração urbana, ao crescimento das principais metrópoles e ao despovoamento do
interior)”, como a tendência observável em termos demográficos. Isto terá obviamente
impactos no sistema de segurança social, na prestação de cuidados de saúde e no apoio
social às crianças e idosos.
Não se pretende minorar ou ignorar potenciais efeitos adversos oriundos desta mudança
demográfica. Contudo, como vimos anteriormente, advogamos que as questões
relacionadas com o envelhecimento não têm leituras únicas, apesar de se assistir amiúde a
esse estreitamento das análises. Do ponto de vista da cultura, seja em termos da produção,
como da fruição, existem potencialidades interessantes que podem ser exploradas. Para
além do maior poder de compra médio associado a classes com mais idade, do ponto de
vista da criatividade sentimo-nos tentados a refutar a ideia feita de uma decrescente
criatividade com o avanço da idade (como exemplos “extremos” temos o centenário
arquitecto brasileiro Óscar Niemeyer e o quase centenário cineasta português Manoel de
Oliveira; ou podemos também ver os exemplos mais “jovens” do escritor José Saramago,
com 85 anos, e da pintora Paula Rego, com mais de 70 anos, entre muitos outros).
Relativamente ao nível de instrução atingido, os concelhos Lisboa, Cascais e Oeiras
exibem perfis mais qualificados que a média do país, com 26.7%, 23.4% e 28.5% de
população com ensino médio ou superior para estes concelhos, respectivamente, enquanto
que a média de Portugal se situa em 11.5% (tabela 5.3). A própria Grande Lisboa e a GAML
têm valores abaixo de 20%. Com cerca de 14%, também Sintra está um pouco acima da
média.
Se juntarmos o ensino secundário aos ensinos médio e superior, a mesma tendência
mantém-se, embora Lisboa e Cascais mudem de posição (nomeadamente, 44% e 45%).
Oeiras apresenta igualmente os valores mais elevados – 50%, enquanto que o país se situa
em 27%.

Tabela 5.3: População Residente segundo o Nível de Instrução atingido, 2001

Ensino Pré-
Sem Ensino Básico
-Escolar - Ensino Ensino Ensino
Total Nível de
A 2º 3º Secundário Médio Superior
Ensino
Frequentar 1º Ciclo Ciclo Ciclo

GAML 2662 265 43 758 253 302 571 36 434


Grande Lisboa 1947 183 33 542 183 217 410 29 350
Lisboa 565 49 9 156 46 54 100 12 139
Cascais 171 15 4 42 15 18 37 3 37
Oeiras 162 12 3 36 13 16 35 4 43
Sintra 364 37 7 94 37 45 92 4 47
Portugal 10356 1291 184 3639 1300 1127 1621 80 1113

Fonte: INE
Gráfico 5.2: População Residente segundo o Nível de Instrução atingido, 2001

100%
90%
80%
Ensinos Médio e Superior
70% Ensino Secundário
60% Ensinos Pré-Escolar e Básico

50% Sem Nível de Ensino

40%
30%
20%
10%
0%
GAML Grande Lisboa Cascais Oeiras Sintra Portugal
Lisboa

A aposta nas qualificações, dos pontos de vista escolar e de atracção de pessoas com
instrução mais elevada, é amplamente referida como motor do desenvolvimento das regiões
e países. Reconhece a CCDLVT (2007) que “a obtenção de patamares regionais de massa
crítica ao nível da educação e qualificação dos recursos humanos, em estreita articulação
com a aceleração da entrada consistente na utilização intensiva e generalizada das
tecnologias de informação, e com a adopção de modelos de especialização suficientemente
enraizados nos factores avançados de competitividade, surge como uma alavanca fulcral
para a obtenção de uma eficácia acrescida no desenvolvimento económico e social da
região.”
Na mesma linha de pensamento, para o QREN (2007) “a economia e a sociedade
portuguesa encontram nas reduzidas qualificações da população activa umas das suas
principais vulnerabilidades. O nível médio de habilitações da população portuguesa constitui
um dos mais sérios impedimentos ao desenvolvimento do país e uma das razões
determinantes do baixo e não convergente nível de produtividade e da trajectória de
divergência que Portugal regista face aos padrões europeus.”
Em Cascais a questão das qualificações, strictu senso, não é tão premente mas, como
veremos adiante, o nível relativamente elevado das qualificações não se traduz
directamente na actividade económica do concelho, já que boa parte dos quadros
superiores migram quotidianamente para outros concelhos para desenvolverem as suas
actividades profissionais. Portanto, retém-se que se deverá continuar a investir em
educação e formação, mas também na fixação dessas pessoas no concelho em termos
profissionais. O maior nível educacional poderá igualmente permitir alargar tanto a oferta,
como a procura de produtos culturais, obviamente não pela via do “elitismo”cultural, mas
pelo aumento da diversidade de interesses.
Relativamente à actividade económica, o Concelho de Cascais está sobretudo centrado
no sector terciário, com 17002 das 22451 empresas sedeadas no concelho neste sector, ou
seja, um pouco mais de 76%. Segue-se o sector secundário com 5103 empresas (22.73%)
e, por último, o primário com apenas 346 (1.54%) (tabela 5.4). O volume de negócios das
sociedades por sector de actividade (tabela 5.5) confirma a conclusão anterior, com
pequenas variações nos números: o sector primário é quase nulo (0.27%), o sector
secundário responde por cerca de um quarto (25.2%) e o sector terciário é responsável por
quase três quartos (75.7%).
De resto, como será natural face a esta grelha de classificação de actividades, tanto
Portugal, como os municípios e as regiões consideradas neste estudo, especializam-se
maioritariamente no sector terciário, embora com diferenças de intensidade. O país tem
comparativamente maior peso no sector secundário (27.5% e 35.7% no número de
empresas e volume de negócios, respectivamente) e menor no terciário (66.5% e 63.4%,
nos mesmos indicadores). Em termos do número de empresas Lisboa é o concelho que
exibe maior peso do sector terciário (82.8%), embora com menor peso no volume de
negócios das sociedades (72.4%). O concelho Oeiras apresenta valores de especialização
terciária superiores a Cascais em ambos os indicadores, enquanto Sintra se encontra
abaixo.

Tabela 5.4: Empresas por município da sede, segundo a CAE-Rev.2.1, 31 Dez. 2005

Primário Secundário Terciário


Total % % %
CAE: A - B CAE: C - F CAE: G – Q

GAML 333092 7044 2.11 81839 24.6 244209 73.3


Grande Lisboa 249063 4146 1.66 58308 23.4 186609 74.9
Lisboa 89703 1424 1.59 13998 15.6 74281 82.8
Cascais 22451 346 1.54 5103 22.7 17002 75.7
Oeiras 18005 241 1.34 3597 20.0 14167 78.7
Sintra 39626 586 1.48 12255 30.9 26785 67.6
Portugal 1190032 71229 5.99 327012 27.5 791791 66.5

Fonte: INE
Tabela 5.5: Volume de negócios (milhões de euros) das sociedades por município da
sede, segundo a CAE-Rev.2.1, 31 Dez. 2004

Primário Secundário Terciário


Total % % %
CAE: A - B CAE: C - F CAE: G – Q

GAML 149641 439 0.29 45686 30.5 103516 69.2


Grande Lisboa 135086 256 0.19 38297 28.4 96532 71.5
Lisboa 81026 134 0.17 22225 27.4 58667 72.4
Cascais 4776 13 0.27 1203 25.2 3561 74.6
Oeiras 20080 21 0.10 4429 22.1 15630 77.8
Sintra 10924 30 0.27 3779 34.6 7115 65.1
Portugal 309671 2722 0.88 110575 35.7 196374 63.4

Fonte: INE

Gráfico 5.3: Volume de negócios (milhões de euros) das sociedades por município da
sede, segundo a CAE-Rev.2.1, 31 Dez. 2004

100%

80%

60% Terciário

Secundário

40% Primário

20%

0%
GAML Grande Lisboa Cascais Oeiras Sintra Portugal
Lisboa

A GAML encontra-se actualmente em regime de phasing-out e entrada para o grupo das


regiões do Objectivo 2 – “Competitividade Regional e Emprego”, para efeitos do Quadro de
Referência Estratégico Nacional (QREN), o novo ciclo de programação financeira da União
Europeia para o período 2007-2013. Este facto traduz-se no decréscimo acentuado dos
fundos estruturais, “situação que constitui um desafio para a região e para o país”
(CCDLVT, 2007). A perda significativa dos apoios financeiros provenientes da União
Europeia é, de facto, uma realidade a ter em conta na região e no país. Por outro lado,
estas mudanças traduzem o reconhecimento de que a região tem, neste momento,
capacidades e obrigações acrescidas em termos do investimento em inovação,
conhecimento e cultura, ou seja, subir “degraus” na ambição do que pretende ser
futuramente.
A análise do perfil dos Trabalhadores por conta de outrem segundo o sector de
actividade (tabela 5.6) confirma as afirmações anteriores, embora o sector secundário surja
um pouco mais valorizado (23.1%), em detrimento do terciário (76.2%); e o sector primário
tenha um peso no emprego ainda menor (0.66%). De referir ainda que a terciarização, em
detrimento do sector secundário, se aprofundou comparando com dados de 2003.

Tabela 5.6 - Trabalhadores por conta de outrem nos estabelecimentos por município,
segundo o sector de actividade e o sexo, 2005

Primário Secundário Terciário


Total % % %
CAE: A - B CAE: C - F CAE: G – Q

GAML (2003) 630494 3960 0.6 156964 24.9 469570 74.5


Grande Lisboa 552.087 1.985 0,4 119.262 21,6 430.840 78,0
Lisboa 277.998 540 0,2 31.870 11,5 245.588 88,3
Cascais 34.425 233 0,7 7.964 23,1 26.228 76,2
Oeiras 59.298 170 0,3 12.763 21,5 46.365 78,2
Sintra 59.838 328 0,6 24.433 40,8 35.077 58,6
Portugal 2.173.144 38.238 1,76 828.379 38,1 1.306.527 60,1

Fonte: INE

O emprego demonstra também que as empresas de Cascais não têm grande dimensão
(tabela 5.7): 9193 dos 34425 trabalham em microempresas (ou seja, 26,7%); as PME
(menos de 250 efectivos) respondem por 26558 trabalhadores (ou seja, 77,1%). Neste
aspecto, Cascais segue a tendência média do país, na qual se destacam os Concelhos de
Lisboa e Oeiras, com maior peso de grandes empresas (mais de 250 efectivos), ambos com
um pouco mais de 39%.

Tabela 5.7: Trabalhadores por conta de outrem nos estabelecimentos por município,
segundo o escalão de pessoal da empresa, 2005
Escalão de pessoal
Total
1-9 10 - 19 20 - 49 50 - 99 100 - 249 250 - 499 500 e mais
GAML 662.171 140.483 71.461 89.773 61.388 78.677 56.769 163.620
Grande Lisboa 552.087 111.290 57.203 74.024 51.203 66.437 47.820 144.110
Lisboa 277.998 47.069 25.774 33.682 24.950 32.491 22.268 91.764
Cascais 34.425 9.193 4.458 5.435 3.544 3.928 2.350 5.517
Oeiras 59.298 7.870 4.524 6.968 5.594 10.250 8.318 15.774
Sintra 59.838 16.087 7.868 9.395 5.952 7.163 4.525 8.848
Portugal 2.173.144 555.191 278.223 351.342 229.354 245.057 142.486 371.491

Fonte: INE
Gráfico 5.4: Trabalhadores por conta de outrem nos estabelecimentos por município,
segundo o escalão de pessoal da empresa, 2005

100%

80%

60% 1-9
1-249

40% 1-499

20%

0%
GAML Grande Lisboa Cascais Oeiras Sintra Portugal
Lisboa

As duas tabelas reproduzidas abaixo (tabelas 5.8 e 5.9) fornecem-nos informações


preciosas sobre o perfil económico do município Cascais. Por um lado, verifica-se que em
termos de ganho médio mensal dos trabalhadores no concelho, Cascais e Sintra têm perfis
muito semelhantes e se encontram abaixo tanto de Oeiras (o mais elevado), como de
Lisboa. Em Cascais, é no sector secundário que se auferem salários mais elevados;
seguido, por ordem decrescente, do terciário e o do primário. De resto, também em Oeiras e
Sintra se constata a mesma ordenação. Já em Lisboa é o sector terciário que paga
melhores salários médios, seguido do secundário e, por último, o primário. Um facto curioso
é que em Sintra se recebe ligeiramente menos no sector terciário do que na média do País,
algo que acontecia igualmente em Cascais em 2003 (o que pode indiciar uma forte
polarização das actividades terciárias mais qualificadas no centro da AML, nomeadamente
em Lisboa, e crescentemente também em Oeiras, suscitando movimentos pendulares
quotidianos dos concelhos envolventes, e deixando apenas o emprego menos qualificado e
mais mal remunerado, associado a funções de proximidade).
18
Por outro lado, o Indicador de Poder de Compra fornece uma visão totalmente
diferente. Cascais, Lisboa e Oeiras (bem como também o Porto) encontram-se no percentil
100 do Indicador de Poder de Compra, isto é, na posição mais elevada. Havendo, assim, a
indicação de que os residentes de Cascais obtêm uma substancial parte dos seus

18
O INE define o Indicador per Capita como “um número índice com o valor 100 na média do País,
que compara o poder de compra manifestado quotidianamente, em termos per capita, nos diferentes
concelhos e regiões, com esse valor de referência nacional”.
A Percentagem do Poder de Compra reflecte o “peso do poder de compra de cada concelho e região
(que transparece do Indicador per Capita) no total do país, que assume o valor 100%.“
O Factor Dinamismo Relativo “reflecte o poder de compra, de manifestação geralmente sazonal,
associado aos fluxos populacionais de raiz turística, constituindo a tendência de dinâmica comercial,
ainda detectada na informação de base, para além da reflectida nos dois indicadores anteriores [...],
este último indicador vem expresso em proporção dos residentes nos concelhos, pelo que tende a
tomar valores mais baixos nos grandes aglomerados populacionais.”
rendimentos noutros concelhos. Um facto a salientar é a grande concentração do poder de
compra na região de GAML, com 36%, ou seja, mais de um terço do poder de compra
nacional encontra-se concentrado ao redor de Lisboa (o que poderá ser obviamente um
factor a explorar pelas actividades criativas de Cascais).
Com se verá mais à frente, através da análise mais detalhada dos movimentos
pendulares, Cascais é simultaneamente “exportador” e “importador” de mão-de-obra. Pela
qualificação da população, ganhos mensais, poder de compra e movimentos pendulares,
dir-se-á que o Concelho de Cascais “exporta” trabalhadores mais qualificados para os
Concelhos vizinhos, sobretudo Oeiras e Lisboa, onde auferem rendimentos mais elevados,
e “importa” trabalhadores menos qualificados, principalmente de Sintra, pagando
rendimentos mais baixos.

Tabela 5.8: Ganho médio mensal (euros) dos trabalhadores por conta de outrem nos
estabelecimentos por município, segundo o sector de actividade, 2005
Primário Secundário Terciário
Total CAE: A - B CAE: C - F CAE: G – Q

GAML 1.174 726 1.136 1.189


Grande Lisboa 1.228 758 1.170 1.247
Lisboa 1.363 977 1.294 1.373
Cascais 994 544 1.059 978
Oeiras 1.523 967 1.583 1.508
Sintra 998 773 1.050 964
Portugal 907 629 827 966

Fonte: INE

Tabela 5.9: Indicador do Poder de Compra, Percentagem do Poder de Compra e Factor


Dinamismo Relativo, 2005

Percentagem Factor
Indicador
de Poder de Dinamismo
per capita
Compra Relativo

GAML 137.32 36.1054 -1.1854


Grande Lisboa 145.56 27.7209 -1.2997
Lisboa 216.04 10.6244 -1.6069
Cascais 157.12 2.7288 -1.2195
Oeiras 173.33 2.7820 -2.3504
Sintra 104.13 4.1316 -1.0270
Portugal 100.00 100.000 -0.3983

Fonte: INE
Gráfico 5.5: Ganho médio mensal (euros) dos trabalhadores por conta de outrem nos
estabelecimentos e Indicador do Poder de Compra, 2005

Ganho
Médio IpC

1600 400

1200 300

800 200

400 100

0 0
GAML Grande Lisboa Cascais Oeiras Sintra Portugal
Lisboa

Ganho Médio IpC per capita

Em síntese, o Concelho de Cascais é bastante especializado no sector dos serviços,


embora em menor escala do que Lisboa e Oeiras, e com empresas de dimensão
relativamente pequena. Observam-se também perfis semelhantes no País, mas com um
menor peso do emprego no sector terciário e maior no secundário.
Uma análise mais fina por ramos de actividade permite-nos confirmar esta análise e
sugerir ainda, dento dos serviços, uma deficiente especialização do concelho em
actividades tecnologicamente intensivas e associadas à I&D (quando confrontado com
Lisboa ou Oeiras, particularmente), bem como um potencial muito grande de exploração de
actividades associadas ao turismo e lazer (com um peso já muito elevado de actividades
como a hotelaria e restauração, a actividade imobiliária ou o jogo, por exemplo. Veja-se a
este propósito Santos et al, 2005, bem como a informação apresentada a este respeito
noutros pontos deste relatório. Uma análise mais detalhada das oportunidades associadas
especificamente ao sector do Turismo é apresentada no final desta secção.
No que concerne às deslocações pendulares, intimamente associadas a esta estrutura
da actividade económica concelhia, os movimentos estudados pelo INE (2003) (tabela 5.10)
mostram que, em 2001, 35.1% da população empregada e 40.1% dos estudantes,
residentes em Cascais, “saem” do concelho para trabalhar e estudar, respectivamente. Se,
no caso da população empregada, este valor até diminuiu ligeiramente de 1991 para 2001,
no caso dos estudantes aumentou bastante.
Tabela 5.10: Movimentos Pendulares dos residentes em Cascais, 1991 e 2001

Empregados Estudantes
Movimentos Pendulares 1991 2001 1991 2001
N° % N° % N° % N° %
Movimentos intraconcelhios 39336 49.7 43731 47.0 8102 63.3 5981 50.6
"Entradas" no concelho 11019 13.9 16685 17.9 634 5.0 1091 9.2

origem: outros concelhos da AML 10449 13.2 16095 17.3 623 4.9 1060 9.0

origem: outros exteriores à AML 570 0.7 590 0.6 11 0.1 31 0.3

"Saídas" do concelho 28821 36.4 32604 35.1 4055 31.7 4740 40.1

destino: outros concelhos da AML 28426 35.9 31634 34.0 3980 31.1 4658 39.4

destino: outros exteriores à AML 395 0.5 970 1.0 75 0.6 82 0.7

Total 79176 100 93020 100 12791 100 11812 100

Fonte: INE

19
No global, o Concelho de Cascais apresentava Taxas Brutas de Atracção Totais de
20
19.72% em 1991 e 26.34% em 2001 e Taxas Brutas de Repulsa Totais de 40.93% em
1991 e 42.90% em 2001 (tabela 5.11), ou seja, em 2001 quase 43% das populações
“activas” (empregada e estudante) migram diariamente para fora do Concelho) e quase 27%
são atraídas pelo Concelho. Apesar de se aproximarem, este números mantiveram-se muito
distantes. Quer isto dizer que Cascais mantém o seu perfil de “exportador” líquido de mão-
de-obra diária.
Num olhar mais de perto, aqueles números significam ainda que Cascais encontra-se
mais “integrado” com os seus concelhos vizinhos pois ambos os movimentos cresceram.
Observa-se também que as realidades subjacentes às evoluções da “Repulsa” e da
“Atracção” têm naturezas diferentes. A “Atracção” da população empregada aumentou
consideravelmente de 1991 para 2001 (de 22% para 28%), enquanto a “Repulsa” se
manteve sensivelmente idêntica (42%). Do lado dos estudantes, tanto a “Atracção”, como a
“Repulsa” aumentaram, mas esta teve um aumento superior. Assim, Cascais ganhou
“Atracção” “líquida” na população empregada, mas perdeu na população estudantil.

19
O INE define Taxa bruta de atracção concelhia de empregados como a “relação entre o número
de activos empregados não residentes mas que se deslocam para o concelho a fim de exercerem
profissão e o total de indivíduos que nele exerce a sua actividade económica (independentemente do
local de residência)” e Taxa bruta de atracção concelhia de estudantes como a “relação entre o
número de estudantes não residentes mas que se deslocam para o concelho a fim de estudar e o total
de indivíduos que nele estuda (independentemente do local de residência)”.
20
O INE define Taxa bruta de repulsa concelhia de empregados como a “relação entre o número
de activos empregados residentes que se deslocam para outro concelho a fim de exercerem profissão e
o total de indivíduos empregados que reside no concelho” e Taxa bruta de repulsa concelhia de
estudantes como a “relação entre o número de estudantes residentes que se deslocam para outro
concelho a fim de estudar e o total de indivíduos estudantes que reside no concelho”.
Tabela 5.11: Taxas Brutas de Atracção e de Repulsa em 1991 e 2001

TB Atracção TB Repulsa
1991 2001 1991 2001
Total 19.72 26.34 40.93 42.90
Empregados 21.88 27.62 42.29 42.71
Estudantes 7.26 15.43 33.36 44.21

Fonte: INE

Os movimentos de entrada e saída de Cascais com os concelhos próximos (tabela 5.12)


manifestam-se de forma distinta. Lisboa é o concelho que mais “absorve” os residentes de
Cascais, com cerca de 62% do total dos migrantes, seguido de Oeiras, com pouco mais de
18%. Ao nível das entradas o perfil é distinto: é de Sintra a principal origem dos residentes
com actividades em Cascais – 40%. Neste movimento, segue-se Oeiras com 24%. Assim,
genericamente, Cascais “exporta” para Lisboa e “importa” de Sintra.

Tabela 5.12: Movimentos de entrada e saída em 2001

Entrada Saída
N° % N° %
Amadora 1157 6.5 914 2.4
Lisboa 2038 11.5 23099 61.9
Oeiras 4197 23.6 6823 18.3
Sintra 7102 40.0 3330 8.9
Outros 3282 18.5 3178 8.5
Total 17776 100.0 37344 100.0

Fonte: INE

Se passarmos para o campo da análise das migrações de longa duração, o concelho de


Cascais assume uma posição de destaque a nível nacional e regional. Com efeito, do ponto
de vista das migrações populacionais, foi criado um efeito de aumento da presença
multicultural na Região de Lisboa pela via da entrada líquida de estrangeiros. Esta
multiculturalidade, “entre o risco de segregação e a riqueza da diversidade” (CCDLVT,
2007), são proporcionadoras de “uma sociabilidade de proximidade, um valor de vizinhança
nas relações com todos, incluindo visitantes”. Em relação a Cascais, o mesmo relatório situa
o concelho numa posição cimeira ao afirmar que em destaque estão “os concelhos da
Amadora, Loures, Sintra e Cascais, com uma maioria de residentes estrangeiros de
nacionalidade dos PALOP”. Um estudo recente sobre a diversidade multicultural em
Portugal, partindo do estudo da origem geográfica dos residentes estrangeiros nos diversos
concelhos do país, afirma que o concelho de Cascais é o concelho dos pais com uma maior
diversidade de origens dos seus imigrantes. Esta situação deve-se ao facto de Cascais ter
elevados contingentes migratórios das diversas fontes geográficas de imigrantes que o país
e a AML têm acolhido, nas diversas épocas (dos PALOP, do Brasil, dos países do Leste
Europeu,…), mas para além disso ter igualmente um contingente (aqui bastante superior à
média) de residentes estrangeiros de outras proveniências (em particular europeus), muitos
deles a residir temporariamente em Portugal por motivos profissionais (em embaixadas,
empresas multinacionais, etc.). Um outro factor ainda apontado para esta multiculturalidade
e abertura à diversidade cultural será o facto de o concelho de Cascais ter sido, no final da
década de 70, um dos concelhos mais afectado pelo afluxo ou o regresso de população até
então residente das ex-colónias, na sequência dos processos de independência desses
países. Note-se que culturalmente, a diversidade, aliada à tolerância é referida como um
factor preponderante para o desenvolvimento de indústrias criativas: (…) regional economic
growth is powered by Creative people, who prefer places that are diverse, tolerant and open
to new ideas. (Florida; 249, 2002)
Para finalizar esta breve panorâmica sobre as características e especificidades do
concelho de Cascais no contexto em que está inserido, importa destacar ainda a situação
particular associada ao tradicional peso do turismo na realidade económica e social do
município, o qual configura igualmente um papel importante a desempenhar no quadro dos
recursos criativos do concelho.
Com efeito, o turismo é visto como um dos sectores mais importantes no tecido
económico do Concelho de Cascais, com uma influência directa e recíproca com a cultura.
Apesar de normalmente ser visto como parte integrante da Região de Lisboa, o município
de Cascais pode e deve ter uma visão e estratégia próprias para este sector, tendo
obviamente em conta a realidade da região onde se insere. A este propósito a CCDLVT
(2007) considera que “fora da Cidade de Lisboa existem três macro-centralidades –
Estoril/Cascais, Setúbal/Tróia e Sintra, todas elas fundamentais para a proposta de valor da
Região”. Contudo, acrescenta que “a macro-centralidade Estoril/Cascais é a mais relevante
por corresponder a uma marca turística internacional – a marca Estoril – e está
desenvolvida e amplamente consolidada como um destino turístico completo e relevante”.
De resto, é afirmado que “o Estoril, uma das marcas turísticas mais antigas da Europa, é
expressiva em produtos como os Short Breaks, o Golfe, o produto Turismo de Negócios”.
Os dados das tabelas 5.14, 5.15 e 5.16 atestam bem a importância do turismo do município
de Cascais.
Tabela 5.14: Estabelecimentos e capacidade de alojamento em 31.7.2006

Estabelecimentos Capacidade de alojamento


Total Hotéis Pensões Outros Total Hotéis Pensões Outros

GAML 304 135 133 36 47.986 35.358 7.539 5.089


Grande Lisboa 264 120 116 28 43.426 32.400 6.684 4.342
Lisboa 188 82 99 7 31.991 24.741 5.904 1.346
Cascais 40 21 6 13 7.393 4.717 218 2.458
Oeiras 7 4 1 2 1.250 777 124 349
Sintra 18 7 5 6 1.561 1.158 214 189
Portugal 2.028 622 877 529 264.037 127.423 42.159 94.455

Fonte: INE

Tabela 5.13: Indicadores de hotelaria por município, 2006

Capacidade Dormidas em
Estada Proporção de Proveitos de
de Hóspedes Proporção de estab.
média de dormidas aposento por
alojamento por hóspedes hoteleiros por
hóspedes entre Julho- capacidade de
por 1000 habitante estrangeiros 100
estrangeiros Setembro alojamento
habitantes habitantes

N.º de N.º N.º % % N.º Milhares


noites euros
GAML 2,6 17,2 1,3 61,9 31,6 292,1 7,1
Grande Lisboa 2,6 21,5 1,6 63,8 31,2 371,8 x
Lisboa 2,4 62,8 5,1 65,9 29,6 1.129,1 x
Cascais 3,7 39,9 2,1 68,3 37,5 652,1 x
Oeiras 2,1 7,3 0,6 32,4 29,3 99,8 x
Sintra 2,4 3,6 0,2 58,7 39,4 46,8 x
Portugal 3,9 24,9 1,2 52,6 36,8 354,4 4,4

Fonte: INE
Tabela 5.14: Dormidas (x1000) nos estabelecimentos hoteleiros por município, segundo o
país de residência habitual, 2006

União Europeia (15) - dos quais (…)


Total Total
Países Reino EUA
Geral UE25 Total Portugal Alemanha Espanha França
Baixos Unido
GAML 8.163 6.656 6.534 2.381 553 1.338 442 221 479 348
Grande Lisboa 7.510 6.052 5.951 2.087 514 1.238 424 203 458 341
Lisboa 5.755 4.523 4.449 1.568 407 882 348 130 303 274
Cascais 1.208 1.047 1.025 251 75 284 57 64 112 44
Oeiras 170 153 152 100 4 23 6 2 7 3
Sintra 201 163 161 67 10 34 8 4 22 19
Portugal 37.566 34.393 34.016 12.350 3.863 3.195 1.241 1.795 7.258 624

Fonte: INE

A vontade institucional e a visão estratégica da autarquia ficam expressas ao afirmar-se


que “os responsáveis devem procurar requalificar o concelho ao nível das infra-estruturas e
relançar a imagem de Cascais como zona de excelência” (OAC, 2007) e ao perceber-se a
tendência actual de passagem dos destinos turísticos de “turismo de férias” para turismos
de negócios e de trabalho, desportivo, cultural e ecológico (idem).
O estudo da CCDLVT (2007) preconiza apostas turísticas para Cascais que podem ser
bem integradas com as áreas da cultura e das indústrias criativas. Nesse estudo defende-se
que se deve “fazer da Cidadela de Cascais o núcleo central de uma atracção que integre os
oito fortes na costa da nossa Região”, “enriquecer a oferta turística internacional da Região
potenciando a integração no produto Turismo da Natureza dos seus parques naturais” e
criar “uma Escola de Turismo e Inovação, que se venha a constituir em referência
internacional, seguindo um modelo moderno que integre valências de divulgação do
Turismo e constitua um centro de aplicação das novas tecnologias às actividades turísticas”.
Alguma margem de manobra existe ainda para a actuação nestes campos: no caso da
Escola Superior de Turismo do Estoril, esta ainda não poderá ser considerada uma
referência internacional, nem se poderá dizer que possa consubstanciar actualmente o tal
centro de inovação; quanto aos restantes dois eixos de actuação, também muito ainda há a
fazer, e serão abordados projectos afins um pouco mais adiante, embora em moldes
relativamente diferentes, mais associados às valências culturais e criativas.
5.2. A avaliação do potencial criativo do concelho

5.2.1. A importância da medição da capacidade criativa e cultural das cidades e o


papel dos indicadores enquanto ferramentas metodológicas

O discurso sobre a criatividade e a importância da cultura para a vida das cidades não é
novo. Desde as primeiras sociedades civilizadas da história da humanidade que está bem
presente, ainda que nem sempre muito debatida, a questão da importância da cidade como
palco de dinâmicas culturais e criativas entre agentes culturais, bem como da importância
desse ambiente para o desenvolvimento da cidade.

No contexto europeu, a cultura tem sido encarada mais como o fim a alcançar do que um
meio para alcançar um fim. Contudo, o discurso académico e as tendências do discurso
político começam a situar o sector da cultura noutro lugar, nomeadamente com crescente
reconhecimento do seu potencial económico e alavanca para o desenvolvimento urbano
(nas suas diversas dimensões), a cultura e a criatividade são agora encarados como motor
das cidades e do desenvolvimento das regiões e do território.

Apesar de todo o optimismo, à medida que são aprofundadas as investigações e


desenhadas as primeiras estratégias, as questões começam emergir sobre uma dimensão
que carece de algumas definições conceptuais de base, como por exemplo: o que é
cultura? O que é criatividade?

Contudo, em paralelo ao desenvolvimento de um campo conceptual balizado necessário


ao debate sobre a cultura e as suas possibilidades para as sociedades, emerge igualmente
o debate sobre a cidade como espaço de excelência para sinergias entre agentes e a
construção de baterias de indicadores que permitam avaliar o potencial criativo das cidades.

É neste sentido que importa caminhar para estabelecer alguns indicadores que devem
ser utilizados para avaliar o nível de vitalidade e de viabilidade de uma cidade, como base
para o desenvolvimento de estratégia no sentido de estimular o seu potencial.

Para tal vamo-nos basear em quatro abordagens previamente ensaiadas por outros
tantos autores e instituições, que considerámos adequadas para levar em conta neste
nosso estudo: as análises de Matarasso e de Landry e Bianchini (no seio da Comedia,
entidade que há vários anos analisa o papel das actividades criativas no desenvolvimento
urbano, no Reino Unido e outros países), o muito popularizado quadro de análise de
Richard Florida, e um estudo mais recente sobre as indústrias criativas em Singapura.
Qualquer destas abordagens permitiu a construção de um quadro de trabalho que
estabelece um certo número de indicadores com o propósito de diagnosticar o potencial
criativo de uma cidade.
a) O “Local Culture Index”, de Matarasso (F. Matarasso, 1999, “Towards a Local
Culture Index – Measuring the cultural vitality of communities”, Comedia)
Matarasso define o Local Culture Índex com base em três linhas de análise:
 Inputs – condições e recursos que a cidade tem para enraizar e nutrir as
actividades e o dinamismo culturais;
 Outputs – resultados directos da utilização desses recursos em actividades
criativas, consubstanciados na concretização de actividades e no dinamismo
cultural:
 Outcomes – impactos que os resultados destas actividades têm directamente na
vida da cidade a das suas comunidades.
Uma síntese dos indicadores que este autor sugere para a monitorização destas três
linhas de análise apresenta-se na tabela seguinte:

Tabela 5.15 – Indicadores de Cultura e Criatividade na Cidade

Indicadores de Input
 N.º de equipamentos dedicados às artes/cultura;
 N.º de organizações artísticas, de todos os géneros;
 N.º de outros equipamentos usados para actividades artísticas;
 N.º de organizações de apoio às artes, de artistas e de serviços;
 Valor dispendido com a arte/cultura pelas autoridades locais;
Instituições, infra-  Valor dispendido com a arte/cultura na zona em análise, investido
estruturas e ao nível nacional e regional;
investimento  Valor dos gastos provenientes de donativos, patrocínios e outras
despesas;
 N.º de profissionais das artes e trabalhadores em actividades de
suporte;
 Existência e âmbito de uma política cultural desenvolvida por uma
entidade local;
 N.º de equipamentos a uma proximidade razoável (até 30 min. De
viagem);
Acesso e distribuição  Acessibilidade física dos equipamentos culturais e artísticos;
 Politicas de preços, acesso e divulgação das organizações artísticas
e culturais;
Indicadores de Output
 N.º de performances, eventos, dias de exibição, workshops, etc.;
 N.º de novas comissões, produções e trabalhos de arte pública;
 N.º de visitantes nestes eventos;
 Capacidade média para os diferentes tipos de actividade;
Actividades e
participação  Proporção das actividades que é independente de subsídios;
 N.º de membros de grupos artísticos comunitários ou voluntários, e
o n.º de grupos iniciados ou extintos em cada ano;
 Extensão da participação individual em actividades culturais (p.e.,
em aulas ou grupos);
 Diferentes tipos de tradições culturais localmente activas;
 Extensão do apoio público às diferentes formas e expressões
culturais;
Diversidade
 Composição dos públicos, para diferentes actividades;
 Extensão das ligações e cooperação entre diferentes tradições
culturais;
 N.º de professores, formadores e profissionais de educação
artística;
 Quantidade de actividades artísticas apoiadas através das escolas
(em regime curricular ou extra curricular);
Educação e Formação
 A natureza e extensão das actividades artísticas de nível terciário,
incluindo o n.º de pessoas a estudar para qualificações artísticas;
 Envolvimento na educação pelas organizações artísticas do sector
público;
 N.º de artistas e “artesãos” residentes;
Actividade criativa  N.º e tipos de indústrias criativas locais;
comercial  N.º de recintos e equipamentos de arte comercializável;
 Rendimento e emprego combinados do sector cultural local;
Indicadores de Outcomes
 Reforço dos níveis de auto confiança;
 Vida social mais activa;
 Maior envolvimento nas actividades da comunidade;
 Aproveitamento da formação na comunidade;
Desenvolvimento
 Aproveitamento da formação vocacional e da educação;
Pessoal
 Valorização da auto-imagem e auto-representações;
 Reforço do entendimento dos direitos e das responsabilidades;
 Identificação de novas capacidades;
 Criação de emprego e auto-emprego;
 Contacto inter-geracional;
 Cooperação intra-comunitária;
 Aumento da utilização do centro da cidade;
 Aumento da sensação de segurança;
 Empowerment e capacitação da comunidade;
 N.º de pessoas envolvidas em actividades da comunidade;
 Desenvolvimento de capacidades e competências organizativas;
Desenvolvimento da
 Desenvolvimento de novos projectos comunitários;
comunidade
 Participação da população nas consultas locais;
 Melhoria na imagem dos bairros;
 Melhorias ambientais;
 Audiência das actividades artísticas;
 Reforço da sensação de bem-estar pessoal;
 Apoio a grupos vulneráveis;
 Valorização do trabalho voluntário;

b) A viabilidade e vitalidade criativa da cidade segundo Landry e Bianchini


(Landry, C. e Bianchini, F. (1994) The Creative City – Working Paper 3: Indicators of
a Creative City. A methodology for assessing Urban Viability and Vitality, Comedia,
Gloucestershire.)

Ainda no âmbito da análise de autores ligados à britânica Comedia, Landry e Bianchini


estabelecem critérios para medir a viabilidade e a vitalidade cultural e criativa da cidade,
estabelecendo indicadores que passam por uma definição prévia do que são os recursos
culturais e criativos de uma cidade. Se por um lado, os recursos culturais de uma cidade se
associam a elementos como a população local e a sua capacidade criativa, património,
identidade, gama de produtos produzidos ao nível local, património edificado, atractividade,
etc., os recursos criativos caracterizam-se igualmente pelo seu carácter experimentalista e
inovador, pela sua originalidade, pela capacidade de reorganizar regras, gerar
comportamentos alternativos, etc.
No entanto, para além da discussão sobre cultura e criatividade e a sua distinção, revela-
se importante perceber o que caracteriza as noções de vitalidade e viabilidade das cidades,
bem como perceber a relação destas noções com a sua capacidade criativa e cultural. Isto
porque a noção de viabilidade nos remete para as ideias da sustentabilidade,
adaptabilidade, flexibilidade, capacidade auto regenerativa, responsabilidade e segurança
das cidades. Estes aspectos estão fundamentalmente relacionados com o carácter cultural
e criativo das comunidades, seja do ponto vista da população, seja da massa crítica, seja da
postura política do poder local. As cidades são comparáveis a organismos vivos, com
períodos de crescimento, estabilização e declínio. A capacidade de resposta das cidades
para os novos desafios, passa fundamentalmente pela sua capacidade de sustentabilidade
e de renovação de paradigmas que permitam o rejuvenescimento da vida da cidade. Por
isso, uma cidade que reconheça a importância das noções de viabilidade e vitalidade,
reconhece em si quais os factores capazes de potenciar o seu carácter cultural e criativo,
como ferramentas de sustentabilidade, de valorização e competitividade do território. Dado
isto, é possível atribuir alguns critérios que permitem medir a viabilidade e vitalidade das
cidades, expressos na tabela seguinte:

Tabela 5.16 – Indicadores de Viabilidade e Vitalidade das Cidades


Critérios Níveis
a. Ao nível económico: Passa pela ideia da existência de um aglomerado
de agentes que facilitem a emergência de economias de escala,
cooperação e sinergias entre agentes, a existência de um distrito
financeiro no centro da cidade, a existência de bairros artísticos dentro
da cidade, um parque tecnológico fora da cidade. Representa ainda a
existência de organizações com iniciativas económicas como feiras de
negócios, missões de trocas externas, etc…
b. Ao nível social: Pode entender-se pela densidade de relações sociais em
determinadas zonas da cidade, em diferentes momentos cronológicos
(hora dia, dias da semana, meses, etc…)
c. Ao nível do ambiente e envolvente: Numa cidade atractiva, deve
Massa Crítica existir mais do que um ponto atractivo no que concerne à massa crítica
(museus, restaurantes, espaços verdes qualificados). Pode existir em
diferentes localizações da cidade: centro, perto do centro ou subúrbios,
uma massa crítica sob a forma de edifícios históricos em número
suficiente para constituir de zonas históricas, o mesmo é aplicado a
espaços verdes, existência de rios nas zonas periféricas, etc…
d. Ao nível cultural: Engloba história, imagem (representações e
identidade), redes de espaços públicos. Existência de participação da
comunidade nos debates e discussões na definição de uma agenda de
eventos coerente. A massa crítica cultural é também a existência de
soluções diferentes e grande diversidade de oferta cultural.
e. Ao nível económico: Diversidade de economias, considerando as
economias especializadas existentes, que necessitam ser encorajadas.
Neste caso, o planeamento tem um papel crucial para desenvolver a
diversidade económica e aumentar a capacidade de adaptação da
Diversidade cidade.
(A ideia da diversidade vai f. Ao nível social: Cosmopolitismo e vivacidade da sociedade civil e
aumentar o leque de existência de um grande sector voluntário; existência de organizações
possibilidades de uma com grande nível de confiança capazes de gerir situações de mudança;
cidade. Quanto maior o
número de possibilidades,
utilização do multiculturalismo como elemento fulcral para a renovação
mais facilidade a cidade das ideias e da criatividade.
poderá ter em adaptar-se) g. Ao nível cultural: Implica o estímulo para oportunidades de produção,
consumo e distribuição. Promover a ideia do que é a cultura local.
h. Ao nível ambiente e envolvente: Passa pela diversidade dos espaços
naturais que a cidade oferece bem como dos espaços construídos,
constituindo uma heterogeneidade de comunidades.
i. Ao nível económico: Oportunidade de participação na vida económica
através da existência serviços de aconselhamento, tecnologia, fontes de
informação, formação e capital de risco. Ter acesso à economia ajuda na
renovação da cidade.
j. Ao nível social: Fazer parte, ter acesso à vida da cidade. Fazer de todos
Acessibilidade os cidadãos, grupos sociais, elementos activos na vida da cidade, seja na
(A acessibilidade permite a participação directa na tomada de decisões, seja pelo uso dos
identificação e exploração
de recursos criativos)
equipamentos existentes.
k. Ao nível ambiente e envolvente: Passa pela existência de uma rede de
transportes públicos inclusiva para as diferentes áreas geográficas da
cidade, a existência de parques de estacionamento eficientes, acessos
de carro e segurança. Existência de WCs, creches, nos espaços públicos,
existência de pontos informativos sobre a cidade em lugares de entrada.
l. Ao nível económico: Estabilidade da base económica local, do ponto de
vista das empresas e dos trabalhadores. Compromisso das empresas com
o território, investimento visível das empresas confere segurança.
m. Ao nível social: Inexistência de ameaças para pessoas e propriedades,
sentimento de confiança e união entre os cidadãos, existência, apoio e
Segurança solidariedade de redes como centros de aconselhamento, policiamento
(Apesar de ao processo comunitário… A mistura de utilizações em termos de idades, hora do dia
criativo estar associado aumentam o negócio na cidade e contribui para o sentimento de
ambientes depressivos, um segurança.
clima criativo só consegue n. Ao nível ambiente e envolvente: Limpeza da cidade, policiamento,
florescer num ambiente espaços cuidados e não esquecidos.
seguro e calmo). o. Ao nível cultural: Implica a aceitação de toda a diversidade cultural. A
existência de festivais e celebrações culturais diversas, reafirmando e
reinventando a identidade da cidade, ou de um bairro, enquanto um
todo confere sensação de segurança. A segurança é garantida se houver
liberdade de expressão, ter acesso a espaços de eventos, financiamentos
e informação.
p. Ao nível económico: A expansão dos efeitos da globalização e da
tendência para a homogeneização das cidades sugere a potencialização
das características próprias de um território que são valorizadas por não
existirem noutras cidades. Isto pode ser estimulado, incentivando as
empresas locais a estamparem a sua identidade na cidade.
Identidade e q. Ao nível social: Estas dimensões facilitam a existência de um orgulho
distinção cívico, espírito de comunidade e preocupação com o ambiente urbano.
(Permitem perceber quais Por outro lado, a existência de várias identidades culturais exige que
são os pontos fortes de
exista um ambiente inclusivo dessa diversidade para que a cidade
uma comunidade que
podem e devem ser funcione de uma forma una e não desfragmentada.
potenciados. É na r. Ao nível cultural: Encorajamento para a manutenção e demonstração
diversidade das diferentes das identidades culturais locais (gastronomia, música, dialectos,
culturas e comunidades da artesanato, outras tradições, …). Igualmente importante, a criação de
cidade, que se pode novas tradições e imagens e evitar a cristalização da identidade da
encontrar o ponto comum cidade.
para a cooperação no s. Ao nível ambiente e envolvente: As cidades históricas têm a vantagem
sentido de apoiar o bem
de terem adquirido vários elementos físicos, edifícios, monumentos,
comum que é a cidade.)
etc., que relatam a identidade e história da cidade. Por outro lado, as
novas cidades devem recorrer ao envolvimento de artistas para o
desenvolvimento de trabalho criativo à volta da história da comunidade,
sobre o passado, presente ou futuro, criando ambientes paisagísticos
urbanos com identidade e distintos.
t. Ao nível económico: A existência de um ambiente criativo inovador é a
chave para tornar uma cidade economicamente viável. A cidade deve
promover a especialização, I&D, promover o aparecimento de empresas
inovadoras. A cidade deve favorecer a emergência de ideias e
investimentos inovadores, criando oportunidades para todos.
u. Ao nível social: Consulta da arena social relativamente às decisões
tomadas pelo poder local. Transparência nos procedimentos e
estratégias. Permitir o debate público das decisões. Ambiente sócio
político que viabilize as opiniões das maiorias, bem como das minorias.
v. Ao nível cultural: Políticas que apoiem actividades artísticas
Capacidade experimentais e pioneiras. Apoio a projectos que liguem o passado da
Inovadora cidade com o futuro. Envolvimento das comunidades artísticas na
imagem que cidade dá ao mundo exterior. Cooperação entre diferentes
sectores criativos (sector dos media e tecnologia, e estúdios de
gravação, por exemplo). Ambiente inovadora que permita aos artistas
expandirem as suas actividades para ambientes que permitam reduzir o
stress social (prisões, instituições para os sem abrigo).
w. Ao nível ambiente e envolvente: Existência de projectos que prevejam
a organização física da cidade e dos bairros. Existência de projectos que
envolvam artistas/ designers e planeadores/ engenheiros. Existência de
projectos ambientais com soluções ao nível dos transportes, reciclagem
e de espaços verdes.
Cooperação e x. Ao nível económico: É desejado um elevado nível de cooperação dentro
sinergias do território. O papel das empresas no desenvolvimento do território e
(A abertura da cidade ao das diferentes zonas da cidade. O centro da cidade é muitas vezes a
mundo exterior é um ligação entre a economia local e o mundo exterior. A capacidade de
ponto crucial para alcançar estabelecer relações é importante para o crescimento de economias
um bom fluxo de ideias e internacionais e das economias urbanas considerando a importância
de informação. Por outro crescente das políticas da EU para as cidades na competitividade inter-
lado, é importante que a
urbanas. Ter uma raiz local, mas um papel internacional é um factor
cidade tenha uma boa
relação com a sua chave para a vitalidade urbana e a existências de redes inter-regionais
identidade para não ser são uma condição para o sucesso das redes internacionais urbanas.
colonizada por culturas Quanto mais cooperação existir numa cidade maior o compromisso
exteriores em detrimento existente das empresas com o seu território e aumenta o investimento
da sua própria cultura.) das empresas.
y. Ao nível social: A cidade também beneficia das redes sociais. O centro
funciona como o ponto de contacto de contacto e comunicação entre
diferentes grupos sociais representando a imagem do todo da cidade. A
existência de estratégias de internacionalização destas relações sociais é
um ponto favorável.
z. Ao nível cultural: O centro da cidade não deve ser o único ponto de
infra-estruturas culturais, mas deve haver uma dispersão por todas a
zonas da cidade. O centro deve funcionar como o espaço de exposição
do que melhor se faz na cidade. O centro da cidade é também o espaço
onde é possível encontrar os serviços de mercado e de distribuição de
produtos, performances e artefactos. Por fim, é também no centro que é
possível encontrar elementos exteriores como jornais estrangeiros e
livros, bem como o espaço onde se realizam as celebrações de toda a
cidade.
aa. Ao nível ambiente e envolvente: É importante destacar a ligação do
centro às diversas zonas da cidade, havendo dessa forma uma relação
física. Evitar barreiras físicas que não permitam a fluidez de
comunicação entre diferentes zonas da cidade
bb.Ao nível económico: Nível de lucro, investimento, inovação tecnológica
e acesso a capital de risco por empresas a funcionar dentro da cidade.
Nível de qualificações dos trabalhadores bem como ao nível da
Competitividade comunicação, qualidade das infra-estruturas de comunicação. Status das
(Um dos papeis do empresas ao nível nacional e internacional.
pensamento criativo é cc. Ao nível social: Qualidade das relações sociais (inter-racial, por
potenciar a cidade nas suas exemplo) bem como do sector voluntário.
características e torna-la dd.Ao nível ambiente e envolvente: Está relacionado com a singularidade
competitiva) e atractividade da paisagem da cidade (natural, urbana) bem como da
sua localização e ligações existentes.
ee. Ao nível cultural: Posição e status das instituições e actividades
educativas e culturais e como são vistos por outros parceiros.
ff. A todos os níveis: Capacidade para o poder local, nas suas diversas
vertentes de desenvolver a capacidade de implementar ideias e
iniciativas criativas. A capacidade de organizar é um ponto fundamental
para viabilizar uma cidade. Capacidade de liderar, ser tecnicamente
Capacidade
competente e estar actualizado, identificar estratégias e prioridades, ter
organizacional uma visão a longo prazo, ouvir e consultar outros, ganhar a lealdade,
confiança, inspirar e entusiasmar outros agentes com poder de decisão.
É importante a existência de uma equipa com uma identidade de
cooperação forte.
c) A abordagem aos índices de criatividade segundo o modelo de Florida

A análise de Richard Florida tem sido muito utilizada, e o seu contributo muito citado,
quando se fala de tentar medir a criatividade das cidades e regiões e tentar encontrar
índices que permitam estudos comparativos. O seu modelo e análise empírica,
originalmente aplicado aos EUA (Florida, 2002), foi posteriormente adaptado ao estudo da
Europa em geral (Tinagli e Florida, 2004), ou em diversos outros países, em análise mais
detalhadas. Um desses exemplos, que assumimos como ilustrativo destas abordagens é o
do estudo realizado na Suécia pela School of Business, Economics and Law, da
Universidade de Göteborg (em conjunto com o Creativity Group Europe, de Florida),
denominado “Sweden in the Creative Age”, essencialmente recorrendo ao índice proposto
por este autor, para “medir” o nível criativo de diversas cidades Suecas. Florida define o
modelo dos “três T’s”: Tecnologia, Talento e Tolerância, os quais representam as
dimensões consideradas como fulcrais para explicar a criatividade de certas cidades. Cada
uma destas dimensões é analisada por uma bateria de indicadores e de uma forma inter-
relacionada, acabam por revelar a capacidade criativa de uma cidade: ou seja, para estes
autores, de gerar ou de atrair a criatividade (e os recursos humanos, tecnológicos e
organizacionais criativos). Esta abordagem acaba por se basear, num cenário de grande
mobilidade residencial como o dos EUA, essencialmente na averiguação da presença de
classes criativas na cidade e na capacidade que estas mostram de atracção de classes
criativas.
Na tabela seguinte apresentam-se os indicadores utilizados para esta medição neste
ilustrativo estudo sueco, que assumimos como paradigmático deste tipo de abordagens.

Tabela 5.17 – Indicadores para Medição das Dimensões “3 T’s”

Dimensão Talento, em que foram utilizados três indicadores para a sua medição:
- Classe Criativa: descrita como o número de trabalhadores em actividades criativas
como cientistas, artistas, agentes artísticos, etc…
- Capital Humano: existência de uma população com um grau universitário;
- Indicador de investigação: número de pessoas a trabalhar em I&D.
Dimensão Tecnologia, analisada também através de 3 indicadores, sendo que o
último se desdobra em sub-indicadores:
- Inovação: descrito como o número de patentes por cada 10.000 Habitantes:
- Inovação em Alta Tecnologia: descrito como o número de patentes em Alta
Tecnologia por cada 10.000 Habitantes;
- Indústria de Alta Tecnologia: avalia a relevância desta indústria para a economia
local:
- Hardware e produtos físicos;
- Software e serviços;
- Telecomunicações e produção áudio visual.
Dimensão Tolerância, composta pelo estudo de 4 indicadores:
- Peso de indivíduos de origem estrangeira;
- Grau de diversidade das nacionalidades dos estrangeiros;
- População boémia (calculado pelo peso de população “artística”)
- Atitudes sociais e institucionais pró grupos lésbico, gay, bissexual e transexual.
d) Singapura

Para além destes três abordagens, mais teóricas, muitas outras têm sido ensaiadas, nos
últimos anos como objectivo de sugerir indicadores que permitam testar em termos práticos
a capacidade criativa das cidades, regiões e países, e analisar comparativamente as suas
vantagens e desvantagens competitivas em relação a outros espaços. Nessa lógica,
assumimos como exemplo um recente relatório efectuado para o governo de Singapura,
considerando dimensões que em muito se cruzam com algumas das preocupações das
abordagens anteriores, mas que aqui se focam em particular no capital humano e na
existência de mercado e de condições institucionais adequadas ao florescimento das
indústrias criativas, assentes na exploração de propriedade intelectual.
O relatório “Economic Contributions of Singapore’s Creative Industries”, da
responsabilidade de Heng, Choo e Ho, da Economics Division of Ministry of Trade and
Industry de Singapura, aponta assim para a seguinte grelha de análise, com três dimensões
e 9 indicadores:

Tabela 5.18 – Indicadores propostos pelo relatório Economic Contributions of Singapore’s


Creative Industries
Indicador Proxy Aspectos medidos pelo indicador
- Capacidade de gerar e atrair mais talento
Força de trabalho criativa criativo
(capital humano criativo) - Capacidade actual em termos de trabalho
- Diversidade social humano criativo
- Dimensão da força de trabalho - Qualidade da força de trabalho criativa,
criativa medida pela sua capacidade e sucesso na
- Capacidade de inovação aplicação das suas competências à actividade
económica
Mercados - Penetração nos mercados externos
- Exportações das indústrias - Capacidade dos consumidores internos na
copyright aquisição de bens e serviços criativos
- PIB per capita (em PPC – - Procura das indústrias locais para bens e
Paridade de Poder de Compra) serviços criativos (em que indústrias
- Valor acrescentado das indústrias tecnologia e conhecimento intensivas têm
conhecimento intensivas maior procura)
- Capacidade de proteger e distribuir
Infra-estrutura
propriedade criativa
- Quadro institucional
- Efeito de clustering das indústrias de
- Dimensão das indústrias de
copyright, incluindo tantos as indústrias
copyright
criativas como as da distribuição a elas
- Gastos públicos em média, arte e
associadas
cultura
- Qualidade das infra-estruturas, como
auditórios, redes digitais, museus,…
5.2.2. Uma proposta de dimensões de análise e indicadores para o estudo do
concelho de Cascais

Como foi possível ver anteriormente, os indicadores são ferramentas úteis para uma
melhor compreensão das características do território. Apesar de tipologias diferentes, as
propostas anteriormente apresentadas acabam por explorar as mesmas dimensões que,
apesar de algumas diferenças, conseguem ser bastante semelhantes.
Esta mostra de indicadores ajuda-nos a perceber quais as opções mais pertinentes para
a realidade do Concelho de Cascais, tomando em consideração restrições pragmáticas no
que toca à existência ou não de fontes de base estatística e de informação qualitativa que
nos permita o preenchimento dos requisitos para uma boa contemplação de cada um dos
indicadores.
Se por um lado, as abordagens propostas por Landry e Matarasso enfatizam um
diagnóstico mais voltado para as actividades culturais e a existência de massa crítica, e de
condições do território ao nível de instalações e espaço público que favoreçam o
florescimento de um ambiente vibrante e criativo na cidade, por outro lado, Florida ou o
estudo de Singapura exploram outras componentes que são igualmente de considerar de
forma séria para o Concelho de Cascais, tendo em conta a abordagem que propomos,
enfatizando não só as actividades culturais, mas também as outras indústrias criativas,
transbordando assim as atenções para actividades que englobam tecnologia (multimédia,
informática) e para a exploração da propriedade intelectual.
Neste quadro, a nossa proposta de indicadores apresenta-se na tabela seguinte, com (a)
uma proposta directa de um conjunto de dimensões e indicadores de Inputs que depois de
testados e discutidos com os agentes locais, de forma participada, na sequência deste
relatório intermédio, serão recolhidos e tratados no sentido de termos um índice
comparativo dos recursos criativos do concelho com os restantes espaços de referência
utilizados, no relatório final; e (b) uma proposta de dimensões e indicadores de Outputs e
Outcomes, também sugeridos para discussão, mas cuja ideia será serem posteriormente
desenvolvidos e implementados, no âmbito de um sistema de monitorização a desenvolver
pela(s) entidade(s) futuramente responsáveis pela promoção e avaliação do sector criativo
no concelho de Cascais.
Tabela 5.19 – Dimensões e indicadores sugeridos para discussão
Dimensões Descrição Indicadores (alguns exemplos possíveis)
Inputs, recursos e amenidades
Tipos de indicadores a considerar:
Nesta dimensão importa • N.º de Equipamentos existentes dedicados às Artes;
incluir uma contabilização • N.º de outros equipamentos usados para actividades artísticas;
Equipamentos e no número que • N.º de recintos/estabelecimentos de comércio de arte e equipamentos (inputs)
infra-estruturas equipamentos e infra- utilizados para as actividades criativas;
culturais estruturas disponíveis e Indicadores possíveis (em concreto):
(hardware) utilizados para actividades - Nº de bibliotecas / 1000 habitantes
associadas à cultura e - Nº de obras existentes nas bibliotecas / 1000 habitantes
criatividade (numa - Nº de museus / 1000 habitantes
perspectiva material, do - Nº salas de espectáculos por 1000
hardware) - Nº de galerias por 1000
- Nº auditórios com capacidade maior q 1000 lugares
Tipos de indicadores a considerar:
• N.º de equipamentos a uma proximidade razoável (30 min. de viagem);
• Acesso físico aos equipamentos culturais e artísticos (acessibilidade de
Nesta dimensão importa população desfavorecida como deficientes, etc.);
perceber a fluidez e • Políticas de preços, ao nível da acessibilidade de entrada nos equipamentos
Grau de
facilidade de circulação dos artísticos e culturais (dias gratuitos, etc.);
acessibilidade e
habitantes e a sua Indicadores possíveis (em concreto):
distribuição
capacidade efectiva de - % de freguesias servida por recintos culturais (p.e., bibliotecas)
espacial
acesso à programação - % de equipamentos/edifícios públicos com acessibilidade para deficientes
cultural no concelho motores
- % de museus com acessos gratuitos para a
- nº de utentes de visitas organizadas por serviços educativos de equipamentos do
concelho / 1000 habitantes
Nesta dimensão espera-se Tipos de indicadores a considerar:
perceber o nível e - Dimensão da força de trabalho criativa: descrita como o nº de trabalhadores em
composição da massa actividades criativas como cientistas, artistas, agentes artísticos, etc…
crítica existente no - Qualidade do capital Humano: existência de uma população com um grau
concelho, ao nível dos universitário;
Talento, recursos humanos (e suas - Indicador de capacidade de inovação e investigação: p.e., número de pessoas a
competências e competências) trabalhar em I&D.
capital humano nomeadamente, agentes, Indicadores possíveis (em concreto):
profissionais ou qualquer - % de população residente criativa (a trabalhar em actividades criativas e
tipo de indivíduos que actividades de suporte) em relação ao total
desenvolvam actividades - % de população residente com qualificações específicas nas áreas criativas
culturais ou criativas, seja - % de população com ensino universitário
de cariz formal ou informal - % de população a trabalhar em I&D
Tipos de indicadores a considerar:
- Grau de inovação em geral: descrito como o número de patentes por cada
10.000 Habitantes:
Com estes indicadores
- Grau de inovação em Alta Tecnologia: descrito como o número de patentes em
espera-se perceber a
Alta Tecnologia por cada 10.000 Habitantes;
presença de agentes
- Indústria de Alta Tecnologia: avaliação da relevância desta indústria para a
Inovação e criativos e dos outputs da
economia local: Hardware e produtos físicos; Software e serviços;
tecnologia sua actividade, em
Telecomunicações e produção audiovisual.
particular os mais
Indicadores possíveis (em concreto):
associados às novas
- Número de empresas especializadas que envolvam actividades criativas
tecnologias
(sectores de hardware e software, audiovisual e media, etc,)
- Nº de patentes registadas no concelho
- % de empresas de alta tecnologia apoiadas nos sistemas de incentivo públicos.
Tipos de indicadores a considerar:
- Quadro institucional do sector (agentes, parcerias, etc.)
- Capacidade organizacional e de articulação entre actores
- Existência de sectores e clusters com peso significativo na promoção e
desenvolvimento das actividades culturais e criativas (como o turismo, p.e.)
Com estes indicadores
- Dimensão e institucionalização das indústrias de copyright
pretende-se analisar a
- Investimento (em equipamentos, etc.) e apoio público às actividades criativas
Estrutura e solidez da estrutura
(p.e., através do nível de gastos públicos em media, arte e cultura)
articulação inter- institucional e organizativa
- condições de contexto ao nível de política fiscal para o sector cultural, sistemas
institucional e que enquadra o sector
de apoio ao sector, ou esquemas particulares de financiamento
condições de criativo, a capacidade de
- condições ao nível do licenciamento das actividades
contexto articulação entre os seus
Indicadores possíveis (em concreto):
actores e algumas
- nº de associações culturais e recreativas por habitante
condições de contexto que
- nº de associações e parcerias culturais com envolvimento do município
enquadram a sua actuação.
- peso do sector da hotelaria e restauração na economia local
- nº de autores registados na SPA/ nº de autores totais
- Gastos públicos em media, arte e cultura por habitante
- montante de apoio canalizado para o sector por habitante com origem noutros
sectores, por via fiscal (mecenato, jogo,…)
- nº médio de dias para concessão de uma licença de actividade
Tipos de indicadores a considerar:
 Grau de diversidade do capital humano (multiculturalidade – multietnicidade)
 Nº de indivíduos com origem estrangeira
Nesta dimensão pretende-  Grau de diversidade das nacionalidades dos estrangeiros;
se analisar o grau de  População boémia (calculado pelo peso de população “artística”)
diversidade e  Atitudes sociais e institucionais pró grupos lésbico, gay, bissexual e transexual.
multiculturalidade da Indicadores possíveis (em concreto):
Diversidade,
população local, bem como - % de indivíduos residentes com origem estrangeira
abertura e
a sua abertura e tolerância - % de Indivíduos locais nascidos de 2ª Geração com famílias de origem
tolerância
a novas práticas e estrangeira;
representações (avaliando - Índice associado ao grau de diversidade das nacionalidades dos estrangeiros
indirectamente o nível de residentes;
controlo social). - Índice associado ao nível de diversidade étnica da população local (proxy com
análise de x turmas de alunos das escolas do concelho)
- Peso de população “artística” no total;
- Nº de estabelecimentos / habitante em recomendados em guia LGBT
Nesta dimensão espera-se Tipos de indicadores a considerar:
perceber a composição da  Nível de produto per capita e rendimento disponível da população local;
massa crítica existente no  Valor acrescentado gerado pelas actividades criativas
concelho em termos de  Nível de crescimento das actividades criativas/conhecimento intensivas;
públicos e de actividades  Exportações das indústrias criativas / de copyright
que tenham como inputs  Potencial crescimento de públicos para as actividades criativas (com particular
Mercado produtos e serviços destaque para segmentos jovens, qualificados, etc.)
(existência de criativos de cariz formal ou  Nível de investimento público em actividades culturais
massa critica) informal, bem como a  Nível de investimento em arte, patrocínio e doações
existência de mercado Indicadores possíveis (em concreto):
decorrente do investimento
 PIB per capita (em PPP) do concelho
público e privado em
 Índice do Poder de Compra Concelhio
actividades e bens
 VAB das actividades conhecimento intensivas (ou actividades criativas)
culturais.
 Tx de crescimento das actividades criativas / conhecimento intensivas
 Exportação de indústrias copyright (p.e. direitos vendidos) ;
 % de habitantes com idade inferior a 35 anos
 Crescimento da % de habitantes com qualificações superiores
• Valor investido em arte e cultura pelas autoridades locais / por habitante
(despesas municipais em cultura / habitante);
• Valor investido em arte e cultura no concelho ao nível nacional e regional (p.e
pelo MC ou QREN);
• Valor investido no concelho a título de donativos/mecenato, patrocínios, etc.
Tipos de indicadores a considerar:
 Nível de visibilidade do concelho em relação às actividades culturais
 Nível de notoriedade das actividades culturais do concelho e dos seus agentes
Esta dimensão visa revelar
 Auto-representação e auto-identificação da população local com o concelho;
o sentimento de identidade
ou identidades do  Existência de histórias, lendas, mitos, sobre a Concelho;
Capital concelho, seja a ideia que  Existência de músicas, poemas, filmes, documentários, registos fotográficos
Simbólico os habitantes têm sobre a sobre o Concelho;
imagem do Concelho, seja Indicadores possíveis (em concreto):
a ideia que os de fora têm - Nº de referências ao concelho em jornais no último mês
sobre o Concelho. - Nº de referências em guias e programações culturais
- Nº de obras com referências ao concelho (em livros de ficção e/ou obras
cinematográficas) editadas no último ano
- Nível de identificação com o concelho e sua imagem (inquérito)
Outputs
(Nesta área sugerem-se alguns tipos de indicadores e possíveis fontes a serem explorados e afinados pela entidade responsável pela
monitorização dos resultados)
 Nº de espectáculos / 1000 habit.
 Nº de exposições realizadas /1000 habit.
Com esta dimensão  % de população “criativa” em relação ao total residente
pretende-se perceber o  % de despesa em cultura nos orçamentos familiares (inquéritos às famílias);
dinamismo cultural e  % de despesa pública em cultura a nível local em relação ao orçamento total
criativo no concelho, e  N.º de performances, eventos, dias de exibição, workshops, etc. realizados,
Grau de actividade averiguar a existência ou em termos absolutos;
/ Dinamismo não de um ambiente que  N.º de novas comissões, produções e trabalhos de arte pública;
Cultural e Criativo permita gerar dinâmicas  N.º de visitantes nestes eventos;
criativas materializadas em  Capacidade média para os diferentes tipos de actividade;
eventos e produtos  Proporção das actividades que é independente de subsídios;
concretos  N.º de membros de grupos artísticos comunitários ou voluntários, e o n.º de
grupos iniciados ou extintos em cada ano;
 Extensão da participação individual em actividades culturais (p.e., em aulas
ou grupos);
 Nº de visitantes a museus concelhios
Grau de Com esta dimensão  Nº de livros requisitados nas bibliotecas do município/habitante
participação nas pretende-se analisar o nível  Nº de espectadores total /1000 habitantes
actividades de envolvimento da  Nº de pessoas que frequentaram iniciativas culturais municipais
concelhios população nas actividades  Taxa de ocupação média de equipamentos culturais
culturais e criativas  Tempo dispendido pela população em actividades culturais
 Nº de membros de associações culturais e recreativas / 1000 habit.
Com esta dimensão  Diferentes tipos de tradições culturais localmente activas (análise
pretende-se analisar o nível documental e de programações);
Grau de de diversidade e  A extensão do apoio público às diferentes formas e expressões culturais
diversidade dos heterogeneidade cultural (índice com base na análise de planos de actividades e e orçamentos);
produtos e da subjacente aos produtos e  A composição dos públicos, para diferentes actividades (índice com base em
Actividade cultural actividades culturais e inquéritos);
criativas existentes no  Extensão das ligações e cooperações entre diferentes tradições culturais
concelho. (p.e., nº de eventos ou projectos conjuntos);
Com esta dimensão
pretende-se analisar o grau  % de estudantes concelhios inscritos em áreas artísticas/criativas
de envolvimento da  N.º de professores, formadores e profissionais de educação artística;
população em formação no  Quantidade de actividades artísticas apoiadas através das escolas (em regime
campo artístico e a curricular ou extra curricular);
Educação e capacidade de o sector  Natureza e extensão das actividades artísticas de nível terciário, incluindo o
formação artística gerar dinâmicas em termos n.º de pessoas a estudar para qualificações artísticas;
e cultural de qualificação e  Nº (per capita) de cursos livres e não conferentes de grau (públicos/privados)
competências que realizados anualmente no concelho em áreas culturais e criativas;
permitam um futuro  Envolvimento na educação pelas organizações artísticas do sector público (%
desenvolvimento do população coberta por serviços educativos de museus);
cluster, pela via da dotação
em capital humano.
 N.º de artistas e “artesãos” activos no concelho (páginas amarelas e guiões
Com esta dimensão profissionais do sector);
pretende-se analisar o nível  N.º e diversidade de tipologia das indústrias criativas locais;
Grau de de profissionalização e  Taxas de mortalidade e natalidade das empresas do sector criativo (quadros
mercantilização, organização das actividades de pessoal);
profissionalização, e instituições do sector
 N.º de recintos e equipamentos de arte “comercializável”;
organização e cultural e criativo bem  Grau de rotatividade no emprego do sector cultural local;
empreendedorismo como a propensão para o
(nas entidades  Relação entre percentagem de emprego em primeira actividade e em
empreendedorismo e a segunda actividade ou tempo parcial
criativas) exploração do potencial de  Grau de empreendedorismo no sector – relação entre a taxa de crescimento
mercado destas actividades de criação de empresas neste sector e a do resto da economia
 % de projectos apoiados por capital de risco neste sector
 N.º de Organizações de Artes de todos os géneros / por habitante;
 N.º de Organizações de Apoio às Artes, Artistas e Serviços / por habitante;
 A existência de uma política cultural local (apoio financeiro concedido às
Desenvolvimento Com esta dimensão actividades culturais e criativas)
da infra-estrutura pretende-se perceber a
 A existência de uma política cultural local (nº de instituições / projectos
organizacional e existência de instituições
apoiados de actividades culturais e criativas)
institucional de de promoção das práticas
 Nº de instituições / artistas do concelho registados na SPA
apoio ao sector e culturais e criativas e de
das condições de regulação dos seus direitos  Nº de instituições (bares, restaurantes, rádios, etc.) que pagaram direitos de
contexto de propriedade bem com a propriedade no concelho no ultimo ano.
capacidade de articulação  Montante de direitos de propriedade intelectual cobrado para artistas
inter-institucional no sector residentes no concelho
 Edição/tiragem anual de agenda cultural local (e outros documentos de
ampla divulgação cultural do concelho)
 Nº visitas a sites com divulgação da actividade cultural e criativa no concelho
Outcomes
(Nesta área sugerem-se como base para reflexão os tipos de indicadores sugeridos pela Comedia para discussão entre os stakeholders
locais e pela entidade responsável pela monitorização dos resultados)
Com esta dimensão  Reforço dos níveis de auto confiança;
pretende-se avaliar os  Vida social mais activa;
impactos na qualidade de  Maior envolvimento nas actividades da comunidade;
vida individual dos  Aproveitamento da formação na comunidade;
Desenvolvimento munícipes de Cascais do  Aproveitamento da formação vocacional e da educação;
individual desenvolvimento do  Valorização da auto-imagem e auto-representações;
potencial associado aos  Reforço do entendimento dos direitos e das responsabilidades;
recursos criativos
 Identificação de novas capacidades;
 Criação de emprego e auto-emprego;
Com esta dimensão  Contacto inter-geracional;
pretende-se avaliar os  Cooperação intra-comunitária;
Desenvolvimento impactos na qualidade de  Aumento da utilização do centro da cidade;
da comunidade vida geral da comunidade  Aumento da sensação de segurança;
local, resultantes do  Empowerment e capacitação da comunidade;
desenvolvimento do  N.º de pessoas envolvidas em actividades da comunidade;
potencial associado aos  Desenvolvimento de capacidades e competências organizativas;
recursos criativos  Desenvolvimento de novos projectos comunitários;
 Participação da população nas consultas locais;
 Melhoria na imagem dos bairros;
 Melhorias ambientais;
 Audiência das actividades artísticas;
 Reforço da sensação de bem-estar pessoal;
 Apoio a grupos vulneráveis;
 Valorização do trabalho voluntário;
5.2.3. Formulação e análise de um índice de criatividade local

Este momento, com a informação disponível, ainda não foi possível à equipa recolher e
compilar toda a informação necessária à execução deste índice. Para além disso, conforme
indicado na secção anterior, pretende-se uma discussão ampla e participada dos diversos
indicadores e dimensões de análise, de forma a poder proporcionar um futuro sistema de
monitorização e avaliação dos recursos criativos do concelho abrangente e que possa ser o
mais consensualmente possível reconhecido e legitimado.
Assim, no âmbito do relatório final, será apresentado este índice, cobrindo as diversas
dimensões acima elencadas, através dos indicadores propostos e comparando a situação
do concelho de Cascais em relação aos diversos espaços de referência considerados nas
outras vertentes da nossa análise (Outros concelhos da AML, GAML, e Portugal).
Obviamente que durante este período, estas dimensões e estes indicadores estão abertos à
discussão e a equipa acolherá de boa vontade todas as sugestões e contactos ao longo do
período de discussão associado à pré-definição e definição de estratégia.
Como foi referido, este índice incidirá apenas sobre a componente dos “Inputs, recursos
e amenidades”, numa tentativa de identificar a situação no concelho em termos dos seus
recursos criativos potenciais. Como acima se refere, em relação às segunda (outputs) e
terceira componentes (outcomes) é expectável que a futura estrutura de monitorização (a
constituir, ou na falta de ela, a CMC) tenha a seu cargo a sua definitiva discussão, e a
definição de indicadores e dimensões de análise, bem como a recolha, tratamento e análise
futura dessa informação, constituindo esta quanto a nós uma preciosa base de informação
21
para a análise da actividade criativa e seus resultados no concelho de Cascais .

21
E podendo aqui beneficiar ainda que parcialmente da base de trabalho já iniciada pelos trabalhos do
OAC e a sistematização de procedimentos de recolha e tratamento de informação empírica sobre as
actividades culturais do concelho.
Diagnóstico do potencial das
actividades criativas no Fórum
concelho – visão síntese
6.1. Síntese dos recursos criativos para o desenvolvimento de Cascais

Nesta secção pretende-se contribuir para uma visão de síntese, com um carácter mais
qualitativo, do potencial “criativo” do concelho de Cascais, através de uma leitura dos
elementos de caracterização e diagnóstico apresentados anteriormente, mas com base num
conjunto de dimensões de análise transversais às usadas nos pontos precedentes.
São consideradas 6 dimensões estratégicas de análise e acção, definidas em termos
dos elementos que poderão consubstanciar recursos criativos (e determinar linhas de
actuação), para o concelho de Cascais:

a) As pessoas
b) Os espaços
c) O empreendedorismo
d) As instituições
e) Os mercados
f) As representações

A junção destes elementos a partir de uma estratégia coerente e de uma visão para o
desenvolvimento das indústrias criativas em Cascais poderá mobilizar recursos criativos
existentes e latentes e traduzir-se na estruturação de linhas estratégicas de
desenvolvimento, sendo a base para a formulação de projectos concretos.
6.1.1. As pessoas

As pessoas são a base da criatividade e da economia criativa. Os seus


conhecimentos, as suas competências, a sua criatividade, o seu
inconformismo, as suas vontades e expectativas são essenciais para o
desenvolvimento das actividades criativas. Seja como públicos e como
mercado para as actividades culturais e criativas, seja como capital humano
e como factor de produção imprescindível para o desenvolvimento destas
actividades, as pessoas qualificadas e capazes de enfrentarem os desafios
das novas sociedades são um recurso chave essencial para criar e para
poder beneficiar de todas as vantagens económicas e sociais que a cidade
criativa tem para oferecer.

O concelho de Cascais apresenta um relativamente elevado grau de qualificação relativo


do seu capital humano, no âmbito nacional e no da própria AML. Este facto é uma vantagem
significativa, na mobilização de públicos e mercados para as actividades criativas, bem
como, simultaneamente, na promoção da criatividade e do espírito empreendedor, do lado
da oferta. No entanto, a participação “criativa” afigura-se relativamente reduzida no contexto
metropolitano (embora crescente), o que poderá parcialmente explicado pela polarização
exercida pela cidade de Lisboa na actividade cultural e criativa metropolitana.
Face ao elevado grau relativo de qualificações e competências apresentado pela
população local, parece haver alguma correspondência ao nível dos resultados registados
em termos de mobilização de públicos (muito no exterior do concelho), mas problemas bem
maiores ao nível da expressão criativa, cujos indicadores concelhios ficam geralmente bem
abaixo de concelhos como Lisboa ou Oeiras. É significativo o peso e importância dos
trabalhadores criativos no concelho, embora muitas vezes a sua actividade esteja também
marcada pela deslocação quotidiana para o exterior ou pela actuação focalizada para um
mercado externo.
Apesar de alguma iniciativa, registam-se problemas com a participação das pessoas em
actividades culturais e criativas, havendo uma margem de manobra significativa para um
crescimento dos públicos, em vários segmentos, mas em particular em toda a faixa
populacional que embora resida no concelho, “vive” efectivamente o quotidiano noutros
pontos da metrópole.
A diversidade populacional e a sua multiculturalidade dos residentes são outra
característica a explorar, sendo Cascais um dos concelhos com maior diversidade de
origens em termos de residentes (tanto temporários como permanentes, com uma grande
variedade de origens migratórias) bem como com um poder elevado de captação de turistas
estrangeiros. As iniciativas focadas numa expressão multicultural diversificada são ainda
muito pouco exploradas, apresentando as actividades criativas um papel importante como
forma de possibilitação da inclusão social e económica, bem como de expressão cultural e
identitária, de populações com origens externas.
Destaca-se a inexistência de instituições de formação especializadas nestas áreas (em
particular, de ensino superior), sendo fulcral a necessidade de uma aposta séria neste
domínio criativo e artístico, bem como na exploração das fronteiras e dos interfaces com as
dimensões da multiculturalidade e da inclusão social.
Finalmente é de destacar a falta daquilo que é uma das características essenciais para o
desenvolvimento de núcleos de actividades criativas sólidos e sustentáveis, e que é uma
vertente fundamental na afirmação destes clusters: a falta de embeddedness e de raízes
para actividade criativa, em particular pela falta de espaços de convivialidade e socialização,
reconhecidos e legitimados pelas comunidades artísticas e criativas, que permitam o
encontro, a partilha de informação, valores e know-how e o seu próprio reconhecimento
social (muitas vezes associados a espaços culturais ou espaços de animação nocturna
específicos, etc.) que consubstanciem um “ambiente”, um espírito, um mood (e uma
imagem), propensos ao encontro e interacção entre criadores, artistas, mediadores culturais
e outros agentes fundamentais nestes mercados culturais (críticos de arte, coleccionadores,
investidores, formadores, entre outros).

Algumas áreas de actuação:


- Desenvolvimento da formação no campo das competências específicas, associadas ao
ensino cultural e criativo, mas também ao nível das áreas técnicas e da organização/gestão
de projectos;
- Aposta transversal nas competências criativas, nos currículos escolares generalistas
(pré escolar, 1º e 2º ciclos);
- Formação e fixação de públicos, em diversos segmentos (para além das escolas e das
formas mais convencionais);
- Atracção de público residente que se desloca quotidianamente para o exterior (bem
como de públicos externos ao concelho), através de iniciativas que concorram directamente
e dêem visibilidade aos equipamentos, eventos e infra-estruturas concelhias;
- Valorização da multiculturalidade e do diálogo intercultural;
- Valorização da expressão artística como fonte de inclusão social, expressão identitária
e participação cívica;
- Desenvolvimento de espaços e meios de convivialidade e interacção entre os agentes
dos diversos “mundos da arte” e da criação, tornando-os “nós” fulcrais na sociabilidade dos
criadores (espaços e instituições culturais, movimentos sociais, animação nocturna, etc.);
6.1.2. Os espaços

A criatividade precisa de espaços para se expressar, para incubar, para


interagir, para se desenvolver, para se dar a conhecer, para ser reconhecida.
As actividades criativas necessitam de espaço físico (em quantidade e em
condições competitivas) para germinarem, incubarem e crescerem e os seus
resultados muitas vezes dependem e articulam-se com o território e os
espaços onde ocorrem (os quais, por exemplo, podem proporcionar práticas
e experiências mais ou menos criativas, possibilitar contactos, condicionar a
criação, gerar bem estar e inspiração, …).

O concelho de Cascais apresenta uma significativa disponibilidade de equipamentos


culturais e de infra-estruturas de suporte à criação e expressão artística (e para além disso,
com um grande crescimento nos últimos anos, em algumas áreas), tanto públicos como
privados. O seu grau de utilização é relativamente elevado, mas pode claramente ainda ser
maior, em particular no caso de alguns equipamentos públicos, onde poderá ser explorada
não só a sua valência principal, mas também a articulação com outras práticas, expressões
ou usos.
Para além disso, apresenta recursos muito significativos ao nível do património histórico
e cultural, bem como condições naturais muito propícias ao desenvolvimento de muitas
actividades culturais e criativas, bem como à fixação das “classes criativas” (com um mix de
variados aspectos, em termos de amenidades e factores de atractividade, desde o sol, às
áreas naturais, ao mar, ao espaço urbano, etc., ou mesmo à proximidade com uma grande
cidade como Lisboa), garantindo condições ímpares para determinadas actividades (pense-
se, a mero título de exemplo, nas condições como set de filmagens).
No entanto, a nível da oferta de espaços para a localização e implementação de
actividades criativas, dois problemas cruciais se colocam: por um lado, a questão do
elevado custo do solo concelhio (particularmente em algumas zonas, e com particular
impacto para estas actividades no centro histórico de Cascais e no Estoril) nada competitivo
em relação aos concelhos limítrofes; por outro lado, a própria questão das limitações físicas
à expansão de actividades económicas no concelho, em particular a actividades que
necessitem de maior extensão territorial de implantação, face à pouca margem de
crescimento possível face às necessidades de preservação ambiental e ordenamento do
território previstas e assumidas nos instrumentos de planeamento respectivos.
Para além destas questões destaca-se ainda uma deficiente utilização e apropriação dos
espaços públicos por parte dos cidadãos (mesmo após investimentos vultuosos na área),
em particular nocturna, e nos centros históricos tradicionais, bem como um potencial
importante de exploração dos activos concelhios neste campo (nomeadamente, a
arquitectura e o design dos espaços construídos), num cenário de crescente importância da
aposta no simbólico e da relação com a imagem na afirmação competitiva dos diversos
territórios - Cascais apresenta aqui um grande potencial, face ao espaço natural e
construído do concelho, bem como à sua História, de se afirmar distintivamente no espaço
metropolitano polarizado por Lisboa.

Algumas áreas de actuação:

- Valorização dos equipamentos e infra-estruturas culturais existentes, numa perspectiva


de abrangência a todo o concelho, de exploração integrada de complementaridades entre
estruturas, da sua crescente articulação e de uma utilização multifuncional, aberta a novos
públicos;
- Conclusão dos investimentos previstos em termos de equipamentos culturais
municipais e aposta na sua programação e articulação, numa perspectiva de rede
concelhia, articulada com as redes (e lógicas de programação) externas ao concelho;
- Política activa de promoção da atractividade do concelho através da redução do custo
do solo para actividades criativas e culturais (pela via fiscal e as lógicas de incentivos, pela
infra-estruturação, pela cedência temporária de espaços, ou por outras formas);
- Aposta na reconversão ou aproveitamento de um espaço abandonado, devoluto ou
subutilizado do concelho, e na criação sistemática de condições para a sua utilização (ainda
que temporária, numa fase de incubação ou crescimento) por pequenas empresas e
entidades associadas a actividades económicas criativas;
- Consideração da possibilidade de equacionar a utilização e articulação destas
actividades com espaços associados a outros usos (por exemplo, zonas de protecção
natural), ou mesmo de reservar, em termos dos PMOT’s (e em particular do PDM), espaços
destinados preferencialmente a actividades criativas, de carácter mais extensivo, ou
autónomas ou em articulação com os espaços actualmente existentes destinados a outras
actividades económicas;
- Aposta nas mais diversas amenidades e factores de promoção de qualidade de vida e
urbanidade como forma de incentivar a fixação de pessoas e actividades criativas;
- Prosseguimento da qualificação e animação dos espaços públicos e valorização da sua
imagem, incluindo organização de eventos que permitam uma apropriação gradual por parte
da população e actividades criativas;
- Valorização da arquitectura e design dos espaços construídos concelhios, numa
estratégia integrada com a promoção da imagem concelhia;
6.1.3. O empreendedorismo

A criatividade está naturalmente associada a um espírito inovador, a um


carácter empreendedor e à assunção do risco por parte dos criadores ou de
alguém que acredite e esteja disposto a arriscar nos seus projectos. A
aposta em novos campos e o sucesso económico e sustentabilidade dos
projectos criativos implica a capacidade de aproveitar a iniciativa e o talento
criativo canalizando-o para os seus mercados e gerando soluções
institucionais e de financiamento (através do mercado propriamente dito ou
gerando alternativas sustentadas) que permitam explorar plenamente as
potencialidades desses projectos criativos e as oportunidades de negócio a
eles associadas.

Num contexto nacional de falta de espírito empreendedor e de relativamente grande


aversão ao risco (pelo menos comparativamente com outros países europeus), o concelho
de Cascais, em termos relativos, tradicionalmente não apresenta um panorama tão
desolador como a generalidade do país.
No entanto, tal como no acontece em geral neste sector, nomeadamente nas actividades
mais artísticas ou culturais, a tradição empreendedora é relativamente reduzida (o que será
um relativo contra-senso em actividades caracterizadas por um elevado grau de
criatividade), e neste campo Cascais não é excepção.
O escasso aproveitamento das potencialidades económicas destas actividades e das
oportunidades de negócio associadas à criatividade é claramente um obstáculo a
ultrapassar num sector que, pelo menos, em determinados tipos de actividades, está muitas
vezes ainda preso ao apoio financeiro externo e ao subsídio público (indispensável e
claramente justificável para determinado tipo de serviços e actividades, mas não uma
fatalidade para todas elas).
A aposta num maior grau de profissionalização e sofisticação técnica dos projectos e
instituições promotoras, um maior apoio à incubação, à difusão de know-how e inovação, à
assunção do risco financeiro, a par do fomento de um espírito de iniciativa mais aguçado,
entre outros aspectos, são questões fulcrais para suportar uma atitude mais empreendedora
por parte dos agentes económicos locais e fomentar a sua criatividade.
Neste quadro, um factor de grande importância para o desenvolvimento das indústrias
criativas no concelho é a existência das diversas agências municipais associadas à
inovação num conjunto de áreas estratégicas para o desenvolvimento de Cascais. Em
particular, destaca-se neste campo a DNA, directamente focada para a questão do
empreendedorismo e a promoção da empresarialidade. Embora naturalmente a actuação
desta agência não esteja especificamente centrada na área das actividades criativas, a sua
actividade é fulcral também para o desenvolvimento deste cluster.
Importa aqui igualmente pensar na capacidade de atrair iniciativas de investimento
externo/exógeno (e na sua promoção integrada), sendo de registar num passado recente
existência de algumas hipóteses potenciais de se realizarem alguns investimentos de
grande dimensão no sector (com contactos nesse sentido junto da Câmara Municipal), em
cujas condições de atractividade importa reflectir. Da mesma forma, a potencial colaboração
com outros agentes externos e com um tecido empresarial dinâmico, em alguns
subsectores do cluster, em municípios vizinhos, como Oeiras, Sintra ou Lisboa, pode ser
extremamente importante como fonte de desenvolvimento de novas iniciativas e projectos,
bem com o de eventuais parcerias estratégicas.

Algumas áreas de actuação:


- Adaptação e criação de formas específicas de apoio e incentivo ao empreendedorismo
e à empresarialidade dedicadas ao sector cultural e criativo (ainda que eventualmente no
âmbito de uma actuação mais ampla, para toda a economia, como a actualmente
desempenhada no quadro da DNA, por exemplo), cobrindo campos como a incubação, o
capital de risco, os business angels, etc. (mas adaptadas a modelos de negócio menos
convencionais como são os das indústrias criativas);
- Difusão de informação e promoção das virtualidades da atitude empreendedora, junto
dos agentes do sector, em particular dos jovens e recém-formados, bem como de
população desempregada ou em segmentos específicos em transição no mercado de
trabalho;
- Articulação com as escolas e instituições de formação concelhias (em particular nas
áreas criativas), de forma a incentivar o empreendedorismo (concursos, prémios, etc.);
- Apoio à estruturação de projectos e à profissionalização e qualificação das estruturas
técnicas de suporte à actividade criativa (formação, desenvolvimento empresarial, etc);
- Fomento da articulação dos agentes culturais e criativos (públicos e privados)
existentes no concelho com o tecido económico emergente no sector, bem como agentes
fundamentais em sectores como as novas tecnologias de informação e comunicação, em
concelhos vizinhos;
6.1.4. As instituições

Para ser criativo importa ter soluções organizativas e institucionais


adequadas, seja dentro do próprio agente, seja naquelas que são as suas
formas de articulação e interacção com o exterior, soluções essas que
permitam ou fomentem essa criatividade. A criatividade passa portanto
também pela infra-estrutura organizacional e pela articulação institucional
entre os diferentes agentes. Boas condições de conectividade que ajudem o
tecido criativo do concelho a interagir, a colaborar, a difundir informação e
inovação, ou a acumular colectivamente know-how, são um factor essencial
para o seu desenvolvimento sustentado. Só com instituições e organizações
bem estruturadas e bem articuladas, e com uma clara intervenção na
conectividade, aos mais variados níveis, entre os actores locais e entre
estes e o exterior é possível solidificar um efectivo cluster criativo. E
soluções criativas a este nível também são possíveis.

Cascais, como foi visto na secção respectiva, tem um conjunto muito significativo e
relevante de entidades dedicadas às actividades culturais e criativas, públicas, privadas e
no terceiro sector. Para além de um conjunto muito importante de estruturas e
equipamentos municipais ou ligados ao universo municipal (incluindo diversos museus,
bibliotecas, centro cultural,…), destaca-se um conjunto significativo de agentes privados de
destaque a nível nacional, nos respectivos sectores (pense-se a título de exemplo na
Fundação Ellipse, ou em empresas como a Move Interactive), ou, por exemplo, o maior
empregador artístico do país, o casino do Estoril, através da Estoril Sol.
No entanto, tal como a generalidade do sector, o tecido empresarial (grande parte micro
empresas, associações ou mesmo indivíduos) é muito frágil, pouco profissionalizado e
muitas vezes com actividade intermitente, podendo beneficiar claramente de uma maior
articulação e de uma colaboração interinstitucional, seja na realização de projectos comuns,
seja na partilha de custos e acesso a financiamentos, seja na distribuição e acesso aos
mercados, por exemplo.
Da mesma forma, Cascais tem diversas instituições de enquadramento e apoio, que
podem ter um papel fulcral no desenvolvimento do sector e da sua “empresarialidade” ou na
promoção do seu financiamento, desde a própria CMC às diversas agências municipais (a
DNA, a Cascais Natura, a Cascais Atlântico, a Cascais Energia,), à Junta de Turismo da
Costa do Estoril, etc. Verifica-se também a existência de agentes culturais fulcrais como o
TEC, Fundação D. Luis I, ProJazz, Associação Internacional de Música da Costa do Estoril
Jazz, European Film Festival, Moda Lisboa, com actividade consolidada, bem como
experiências bem sucedidas de colaboração inter-institucional (Orquestra de Câmara de
Cascais e Oeiras, Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo).
No entanto, verificam-se algumas dificuldades de colaboração e diálogo, e alguma
ausência de exploração de um potencial de colaboração que podia ser maior – note-se por
exemplo, o aparente alheamento da Fundação Ellipse em relação ao concelho ou as ainda
não muito significativas colaborações dos agentes locais com o Casino do Estoril, em torno
de interesses mútuos. Da mesma forma, existe a possibilidade de maior articulação intra-
municipal entre departamentos, bem como entre estes e respectivas estruturas paralelas
(agências, fundação D. Luís, etc.), não obstantes os esforços verificados.
De destacar ainda o elevado dinamismo municipal e potencial de colaboração
intermunicipal, bem como o potencial de envolvimento de agentes de fora do sector, abertos
a uma colaboração em torno de projectos criativos (por exemplo, instituições com um peso
muito significativo no concelho, como a Santa Casa da Misericórdia, escolas, associações,
clubes desportivos, etc.).
É pois claramente importante a existência de visão e estratégia política, mas também é
essencial o envolvimento dos agentes e a sua mobilização em torno de objectivos
estratégicos comuns.

Algumas áreas de actuação:


- Desenvolver uma infra-estrutura institucional dedicada a desenvolver a conectividade e
a promover as actividades e indústrias criativas do concelho, interna e externamente;
- Aproveitar essa estrutura como plataforma de troca e difusão de informação útil às
actividades criativas e culturais (não só programações e roteiros, mas também recursos
técnicos, organizativos, contactos, informações úteis sobre procedimentos, simplificação
dos processos administrativos, etc.) ;
- Promoção do diálogo e incentivo à colaboração interdepartamental dentro das
estruturas municipais, supra-municipais e para-municipais (agências, fundações, empresas
municipais) em torno de projectos comuns;
- Fomentar a ligação de pessoas e instituições de forma criativa, em torno de projectos
criativos;
- Tentar integrar alguns agentes mais isolados ou externos na vida quotidiana do
concelho (p.e., Ellipse, empresas e técnicos audiovisuais e multimédia) e aproveitar as suas
ligações para aprofundar a conectividade com o exterior e a inserção competitiva dos
criativos locais nos mercados externos (p.e., Casino, FNAC);
- Actuar ao nível do financiamento e sistemas de incentivo, de forma a criar grelhas
estáveis de apoio e incentivo à colaboração interinstitucional e a projectos assentes na
articulação inter-instituições e na conectividade;
- Criar fóruns de discussão abertos onde possam ser trocadas ideias e experiências
sobre as actividades criativas e que funcionem como ponto de encontro e discussão
estratégica e como mobilizadores em torno de ideias de projectos comuns;
6.1.5. Os mercados

As actividades criativas, seja de que tipos forem, destinam-se aos seus


mercados, são consumidas e utilizadas pelos seus públicos concretos.
Independentemente da sua provisão passar ou não directamente pelo
mercado (ou por mecanismos alternativos, financiados de outra forma, que o
substituam), é fulcral ter em conta os seus destinatários, onde se
encontram, como se organizam e como a eles se pode chegar. Daí não se
poder desligar a análise da criatividade da das dinâmicas empresariais e dos
mercados, e dos mecanismos que estruturam a produção, distribuição e
consumo destas actividades. A estruturação das relações e das forças que
se estabelecem entre os diversos agentes destes mercados é fulcral na sua
afirmação competitiva.

No caso de Cascais uma questão fundamental é que os mercados das diversas


actividades culturais e criativas não podem nunca ser vistos de forma isolada, alheia à área
metropolitana onde o concelho está funcionalmente integrado. Independentemente da
questão da exportação para mercados externos, e da própria noção de hierarquia de
funções centrais (que faz com que, pela sua própria natureza, algumas actividades culturais
e criativas tenham um mero mercado local, enquanto outras tenham expressão regional,
nacional ou mesmo internacional, com alcances e limiares de procura muito distintas),
sendo qualquer uma normal na análise de qualquer território, no caso de Cascais temos
uma situação mais complicada e difusa. Dentro da AML muitas funções de base mais local
ou regional são facilmente polarizadas por outros concelhos (Lisboa, na sua maioria, mas
vários outros, com destaque para o vizinho Oeiras, em muitas funções centrais específicas),
que aproveitam vantagens competitivas nesses domínios, e graças à proximidade e às
acessibilidades conseguem alargar os seus próprios mercados a zonas mais vastas e em
muitas funções polarizar os consumidores de Cascais para essas funções.
Obviamente que o raciocínio inverso também é válido, e Cascais tem a hipótese (mas
não tem tido muito a efectiva concretização, senão para algumas actividades e eventos
pontuais…) de explorar as suas vantagens competitivas especificas em determinadas
funções e explorar um mercado bem maior do que o concelho, correspondente a quase 3
milhões de habitantes a grande proximidade.
Neste quadro, as actividades (criativas ou outras) a desenvolver em Cascais estarão
sempre perante o desafio de, simultaneamente, poder apostar num mercado potencial muito
maior do que o do seu concelho ou de cada uma das localidades que o compõem (por
exemplo, para rentabilizar um espectáculo, um evento, a comercialização de um bem
material ou de uma experiência), mas também de facilmente perderem a massa crítica
autónoma de mais de cem mil habitantes que muito facilmente é atraída pelos concelhos
vizinhos, como bem se vê pela situação verificada em relação à generalidade dos consumos
culturais ou ao mercado de emprego nas indústrias criativas.
De qualquer maneira, independentemente deste contexto particular. É um facto que, em
termos genéricos, uma tendência de fundo favorável se pode destacar em relação aos
mercados das indústrias criativas em geral. Existe uma tendência favorável (relativa) em
termos de públicos culturais e mercados para actividades criativas em geral, e Cascais
nisso não será excepção à regra, tendo um grande potencial a explorar em termos destes
mercados, não obstante as restrições apontadas acima.
Por outro lado, mais especificamente, regista-se também um potencial de aumento de
mercados e oportunidades de negócio nestas actividades com o aumento recente de
equipamentos e infraestruturas disponíveis registado, bem como com a externalização de
algumas funções importantes nestas áreas, seja por parte de grandes empresas e agentes
económicos do sector, seja na administração pública, central ou local. Por exemplo, funções
de intermediação como actividades de programaçaõ ou de agência.
Finalmente, destaque-se ainda aqui também a necessidade de aumentar o grau de
estruturação económica e empresarial do sector, como vimos, ainda incipiente, e de
fomentar a profissionalização das actividades culturais e artísticas, questão também ela
essencial para não só gerar novos mercados, mas também melhorar a sua capacidade de
exploração dos mercados existentes nestas actividades.

Algumas áreas de actuação:


- Criação de condições competitivas e condições de contexto para localização e
solidificação de agentes no concelho;
- Acções e divulgação nos mercados externos e divulgação de informação,
- Fomento da estruturação e incentivo à empresarialidade nas actividades criativas
(formação, difusão de informação, apoio técnico, articulação com esquemas de incentivos
financeiros,…);
- Apoio à profissionalização dos agentes do sector;
- Sensibilização para novas áreas de negócio.
6.1.6. As representações

A imagem e o campo do simbólico são fundamentais na actividade criativa.


Não só a afirmação e a criação de valor de muitos destes bens culturais e
criativos se faz maioritariamente no campo do estético e simbólico, como
estes são determinantes para a própria existência e vivência dos mundos
dos criativos e dos artistas. As arenas da produção e consumo das
actividades criativas são particularmente sensíveis a estes aspectos, cada
vez mais fulcrais nas actuais sociedades do conhecimento e da informação,
e nas novas formas de organização económica, em questões como as
representações sociais (dos produtos, dos artistas, dos locais,…), ou o
poder da imagem e do simbólico. A estratégias de comunicação assumem
aqui um papel cada vez mais determinante, em mundos em que tão
importante como ser criativo é ser reconhecido e legitimado como criativo, é
saber onde estão e dar-se com os outros criativos, é conseguir ver a criação
chegar a um potencial público.

Sendo a questão das representações sociais tão importante para as actividades


criativas, para a sua capacidade de criarem valor, e para a capacidade de permitirem a
maior ou e menor legitimação do seu criador, o concelho de Cascais tem necessariamente
de aproveitar todo o enorme potencial que apresenta este campo.
O concelho de Cascais tem uma imagem forte e um poder simbólico distintivo bastante
intenso, e, para além disso, tem conduzido campanhas e desenvolvido acções que
permitiram reforçar algum desse capital simbólico e criar valor económico, com base nessas
representações e identificações (com particular ênfase nos activos patrimonializáveis,
visitáveis ou mais turísticos.). Pode até haver um excesso de apostas num conjunto muito
diverso de imagens, com um certo risco de se anularem e combaterem umas em relação às
outras: o cascais dos exílios, a Costa do Estoril como “Côte d’Azur” nacional, a estância de
veraneio tradicional, o mar, o jogo, a natureza, o desporto, etc
Por outro lado, o concelho manifesta um outro conjunto de representações socais, de
carácter mais difuso, identificando por vezes o concelho (ou partes dele) como um território
elitista são também normalmente apontadas pelos agentes e invocadas nas entrevistas,
embora aqui claramente com padrões muito distintos: para uns como uma característica
positiva, glamourosa, a explorar para certos mercados, embora eventualmente com
potencial nalgumas zonas do concelho; para outros como uma imagem esgotada e artificial,
sem correspondência real com o quotidiano da grande maioria da população e da actividade
económica e social do concelho de Cascais.
Em qualquer caso, note-se que a imagem e as representações associadas ao concelho
de Cascais, malgrado todo o potencial associados às indústrias culturais e criativas e ao seu
potencial nas sociedades do conhecimento actuais, não estão em geral associadas
directamente a estas actividades, pelo menos em graus tão elevados como em outros
concelhos limítrofes. Não obstante alguns eventos e agentes que remetem (embora
pontualmente) para certas áreas culturais específicas (jazz, memória histórica associada
aos exílio, alguma actividade teatral e performativa e artes visuais), é convicção
generalizada que os concelhos limítrofes têm um papel muito mais marcante em termos da
sua associação às actividades culturais e criativas nas representações das pessoas: não só
naturalmente, Lisboa, mas também Sintra (património, edição e impressão, artes
performativas, Oeiras (novas tecnologias, media, audiovisual e multimédia, edição), ou
mesmo Almada (teatro) apresentam uma imagética eventualmente mais sólida, enquanto
Cascais aparece muito mais conotado, por exemplo, ao lazer, desporto ou jogo.
Note-se, no entanto, o papel fundamental não só de um conjunto de eventos mais ou
menos regulares que têm colocado Cascais persistentemente nos mapas mentais dos
consumidores culturais, de âmbito bem supra local (Estoril Jazz, Festival de cinema, Moda
Lisboa), bem como instituições (TEC, casino, galerias, centro cultural, Fundação Ellipse,….)
Neste quadro genérico, poderá ser muito interessante para Cascais a exploração da
inserção na AML, e o aproveitamento das vantagens em termos de massa crítica e
internacionalização, mas com a manutenção de uma “marca”, imagem, identidade
diferenciadora (a nível nacional, internacional, e regional).

Algumas áreas de actuação:


- Associação da imagem de Cascais aos clusters das indústrias criativas;
- Valorizar socialmente as próprias actividades culturais e criativas como um todo e
como sector económico fundamental;
- Explorar a articulação e complementaridades com os municípios da AML e a
exploração turística dos activos neste campo (património, jogo, eventos, etc.), numa
estratégia de promoção integrada;
- Valorização dos eventos com impacto mediático (Estoril Jazz, Moda Lisboa, Festival
de Cinema);
- Articulação estratégica de comunicação entre agentes actores (câmara, turismo,
promotores variados, etc.). em torno de uma ideia, ou pequeno conjunto de ideias
coerentes e consistentes;
6.2 Análise SWOT

PONTOS FORTES / POTENCIALIDADES PONTOS FRACOS / DEBILIDADES

Pessoas Pessoas
- Elevada qualificação da população concelhia - Deslocação das classes criativas (ou da sua
(p.e., 22% com ensino superior); actividade) para Lisboa;
- Existência de muitos trabalhadores em - Movimentos pendulares líquidos negativos
actividades criativas com residência em (sobretudo entre estudantes), com pouca
Cascais; capacidade de atrair trabalho criativo para o
- Poder de compra acima da média nacional e concelho;
da AML; - Inexistência de capacidade de formação
- Mobilidade da População dentro e para fora específica especializada na área criativa e
do Concelho; artística no concelho;
- Relativo elevado grau de consumos - Ausência de uma “atmosfera” ou mood criativo;
artísticos mas realizados em grande parte fora - Grande assimetria espacial na distribuição
do concelho; socioeconómica da população concelhia, com
- Existência de uma população multicultural áreas mais afastadas das práticas criativas;
(existência de uma grande variedade de - Falta de participação e pouca propensão à
nacionalidades e expressões identitárias); expressão criativa (p.e, movimento associativo);
- Sector terciário relativamente desqualificado
(p.e, perfil salarial abaixo da média nacional).
- Multiculturalidade – fraco aproveitamento de
residentes estrangeiros e imigrantes;

Espaços Espaços
- Múltiplos e variados equipamento e infra- - Elevado custo do metro quadrado de solo (em
estruturas culturais. termos relativos em todo o concelho, face à
- Existência de um vasto e rico património, AML) e em particular no centro histórico e zonas
muito dele classificado; nobres (sobretudo de Cascais e Estoril);
- Condições naturais propícias à localização - Limitações físicas à expansão e implementação
de agentes e actividades criativas (mix de sol- de actividades mais “extensivas” - novas Áreas
mar, serra, espaços urbano, condições de expansão limitadas (para actividades espaço-
naturais, património histórico, p.e –set de intensivas);
filmagens) e qualidade ambiental - Concentração da maioria das infra-estruturas
- Grande proximidade à AML, com um no litoral-Sul em contraponto com crescimento
conjunto de equipamentos, espaços e demográfico e económico do interior; (assimetria
instituições com as quias podem ser grande, não obstante melhorias)
exploradas complementaridades e geradas - Ausência de espaços de sociabilidade
sinergias marcantes e com carácter (animação nocturna,
- Bons acessos rodoviários, ferroviários e convívio artístico, falta de “zonas criativas”);
marítimos - Muito fraca apropriação dos espaços públicos,
mesmo após melhorias e requalificação;
- Insuficiente visibilidade e frágil sinalização e
localização dos “Espaços Culturais”;

Empreendedorismo Empreendedorismo
- Existência de estruturas institucionais e - Tecido empresarial frágil quando comparado
projectos concretos já em curso na promoção com a AML;
do empreendedorismo e apoio à dinâmica - Relativa debilidade de iniciativa, seja por parte
empresarial (DNA e outras agências) da população, seja das associações culturais
- Existência de vontade política para atracção para a criação e concretização de projectos;
de investimentos empresariais na área do - Fraca tradição de espírito empreendedor nas
cluster criativo; actividades culturais (e criativas) no concelho
- Dinâmica institucional favorável à promoção - Falta de densidade / Ausência de clusters de
do espírito empreendedor e à dinâmica dinamização sectorial
empresarial;
PONTOS FORTES / POTENCIALIDADES PONTOS FRACOS / DEBILIDADES

Instituições Instituições
- Existência de Instituições de Ensino Artístico - Ausência de Instituições de Ensino na área do
no âmbito das actividades culturais sector criativo (com excepção de parcerias e
tradicionais; cursos breves);
- Usufrui do maior Casino da Europa e - Débil/Falta de articulação interinstitucional,
principal empregador de artistas do País; sobretudo no sector público/privado;
- Elevado número de associações culturais; - Um certo distancimento de alguns actores
- Existência de instituições responsáveis por fulcrais (p.ex, Casino) na vida do Concelho;
grandes eventos culturais com impacto - Total isolamento de alguns actores (p.ex.
nacional e internacional; Fundação Ellipse)
- Eventos de âmbito nacional ou extra
concelhia, de elevado perfil mediático (p. ex.
Festival Eurpoeu de Cinema, Moda Lisboa) ou
de elevada carga histórica (Estoril Jazz, p. ex.)
- Existência de inúmeras agências e
instituições municipais e participada com
intervenção activa na vida cultural do concelho
(p. ex Fundação D. Luís)

Mercados Mercados
- Integração numa área metropolitana muito - Exiguidade do mercado local, para áreas
acessível, com cerca de 2,5 milhões de especializadas e necessidade de explorar
habitantes, que criam limiares de mercado mercados mais amplos (AML, nacional,
para muitas actividades e massas criticas de internacional);
recursos utilizáveis na produção criativa - Falta de estruturação económica e empresarial
- Existência de eventos (e equipamentos) de do sector;
âmbito supra-local, bem como de empresas - Falta de profissionalização das actividades
criativas com capacidade de explorar culturais e artísticas e escasso aproveitamento
mercados externos de forma competitiva; do mercado;
- Existência de novos espaços e - Escassez de instrumentos de política
infraestruturas culturais, com necessidades de vocacionados para as especificidades do sector
programação, e potencial de utilização cultural e criativo, para além do apoio cultural
alternativa; mais convencional (política de subvenções);
- capacidade de atracção turística, embora de - Inexistência de um cluster ou embrião (fraca
curta permanência; interelação entre agentes)
- Despesa municipal com cultura per capita
inferior a Lisboa, AML; Oeiras e país.

Representações Representações
- Forte poder icónico do concelho (embora em - Fraca centralidade do cluster das indústrias
eixos muito distintos): passado que envolve criativas nas imagens do concelho…
imagens de glamour, aristocracia, espiões, - Imagens múltiplas e paradoxais (linha/ balnear /
etc. exílios, etc.);
- Imagem de Cascais – atracção de - Falta de centralidade das indústrias criativas
visitantes/turistas; em si mesmas e como actividades económica
- Importancia do sector turístico, - Associação a elitismo / identificação como zona
nomeadamente de turistas com maior poder cara, podendo levar à auto-exclusão de certos
de compra; espaços
- Ligação ao lazer, entretenimento, etc.
- Ligação a elitismo;
- Identificação como zona nobre;
- Ligação ao espaço físico e natural do
concelho, e em particular ligação ao mar;
- Ligação à imagem histórica e património;
- Articulação com AML, Lisboa, Sintra;
OPORTUNIDADES AMEAÇAS

Pessoas Pessoas
- 2,8 milhões de pessoas na AML; - Cooptação da classe criativa do concelho (pelo
- Multiculturalidade – existência de uma menos enquanto trabalhadores) pelos concelhos
grande variedade e diversidade de culturas; vizinhos;
- Atractividade do concelho na captação dos - Diversidade social e económica: possibilidade
trabalhadores criativos (qualidade de vida) no de tensões sociais;
contexto de crescimento destas actividades;
- Potencial demográfico: taxas médias de
crescimento efectivo da população muito
acima das médias nacional e da AML;
- Existência de uma população sénior com
rendimentos acima da média, disponibilidade
e hábitos de consumo cultural;
- Captação de turistas, como públicos, e de
artistas estrangeiros;
- Possibilidade de obtenção de financiamentos
comunitários na área da formação;

Espaços Espaços
- Aumento do número de equipamentos, - Algum desordenamento do território e falta de
muitos deles com grande potencial de qualidade de espaços públicos, fora da sede de
crescimento ao nível da sua utilização; concelho;
- Envolvente geográfica apelativa para o – Falta de apropriação dos espaços públicos –
desenvolvimento de actividades criativas e a subutilização de espaços públicos;
atracção de classes criativas (praias, parque - Concentração espacial e temática das
natural, etc), podendo ser fomentada a sua actividades culturais - muito homogéneas e
atractibilidade externa; pouco diversificadas (fine arts e património);
- Inserção numa região com elevada - Proximidade com Lisboa (pólo aglutinador das
densidade populacional (AML) – actividades criativas e do consumo cultural da
Complementaridade e diversidade; região);
-Existência de novos equipamentos
disponíveis para a localização de actividades
criativas;
- Possibilidade de aproveitar o potencial do
espaço construído (arquitectura, design, valor
histórico) e natural para a necessária aposta
no simbólico e na valorização da imagem do
concelho

Empreendedorismo Empreendedorismo
- Existência da agência DNA e projectos de - Falta de actuação específica orientada para o
apoio ao empreendorismo local (bem como de sector cultural e criativo, com grandes
outras agências) que poderão articular-se com especificidades face a outros sectores
actuação específica para este cluster de económicos;
actividades; - Grande capacidade (e estruturas) de captação
- Procura potencial como elevado poder de de actuação e agentes empreendedores por
compra, que poderá afirmar o concelho como parte de outros concelhos da AML (em particular
espaço propício para a experimentação e o Oeiras e Lisboa);
desenvolvimento de projectos piloto. - Existência de cluster mais estruturados no
- Capacidade de explorar as especificidades e concelho vizinho, em particular nas áreas das
a imagem do concelho para a atracção de novas tecnologias;
grandes investimentos exógenos no sector (já
há alguma procura latente)
OPORTUNIDADES AMEAÇAS

Instituições Instituições
- Existências de instituições mobilizáveis para - Falta de articulação e colaboração
o fomento da cooperação entre actores generalizada interinstitucional entre os agentes
privados e públicos (agências, departamentos concelhios (municipais, públicos, empresariais,
municipais); associativos, etc) em torno de objectivos comuns
- Potencial papel do Casino, grande para o desenvolvimento do concelho
empregador artístico e criativo concelhio (mais - Algumas dificuldades e falta de historial de
de uma centena de artistas e técnicos por colaboração/articulação entre actuação dos
dia); diversos departamentos e divisões municipais e
- Potencial de colaboração intermunicipal, seja entre estes e as diversas agências municipais.
de instituições públicas ou paralelas, seja de - Falta de espírito de colaboração generalizado
outros agentes; com instituições de municípios vizinhos (embora
- Potencial de envolvimento de grandes (e haja excepções, por exemplo em instituições
pequenos) agentes com tradição e peso no culturais) de forma gerar sinergias, criar massas
concelho, em projectos criativos diversos, ou críticas,…
que tenham objectivos comuns (como a
inclusão ou outros) – p. ex. Santa Casa da
Misericórdia, Junta do Turismo, entre outros;
- Tradição de eventos e colaboração com
instituições (p. ex., Moda Lisboa, Mundomix,
Estoril open, Festivais de jazz, etc.).

Mercados Mercados
- Mercado potencial da AML, em muitos - Inserção na AML – possibilidade de existência
segmentos; de eventos, instituições e actividades
- Existência de novos mercados, associados À concorrentes;
expansão de actividades criativas nas - Sobreposição com actividades já presentes nos
sociedades actuais, mas também à concelhos limítrofes, e dificuldades competitivas
externalização de funções por parte de em sectores já muito desenvolvidos e explorados
poderes públicos (funções de intermediação, (p. ex. TICs e sector audiovisual em Oeiras);
como programação ou agenciamento, por - Fraca aposta em termos de políticas públicas
exemplo,); de âmbito nacional à expansão e
- Possibilidade de explorar desenvolvimento de mercados nas indústrias
complementaridades e articulações com criativas (e concentração de investimentos do
agentes existentes nos concelhos limítrofes e QREN para o sector no norte do país);
gerar mercados próprios (p. ex, Microsoft,
Oracle, canais de televisão, empresas de
comunicações, etc, em Oeiras ou Lisboa)
- Grande potencial de crescimento de
actividades culturais e de alargamentos de
públicos (sobretudo em zonas em crescimento
populacional do interior), com o aumento de
equipamentos culturas e infraestruturas
municipais verificado nos últimos anos
- tendência favorável em termos de públicos
culturais e de mercados para actividades
criativas em geral;

Representações Representações
- Ligação ao “mar” – Da tecnologia às artes; - Problema da inserção na AML – distinção da
- Potencial de aproveitamento da inserção na imagem;
AML, mas com marca diferenciadora;
- Exploração das diferentes imagens do
concelho e articulação coerente;
- Ligação aos recursos do jogo e exploração
da Junta de Turismo do Estoril
- Potencial de articulação- diferenciação com
Sintra e Lisboa
Apoio à
Princípios gerais e linhas implementação
de
estratégicas de actuação estrutura
Definição
institucional de
7.1. Dos estrangulamentos fundamentais à identificação de uma visão estratégica
para o desenvolvimento das indústrias criativas no concelho

Face ao diagnóstico efectuado é possível identificar um conjunto de problemas


estruturantes a ultrapassar que configuram obstáculos fundamentais ao desenvolvimento de
um cluster de indústrias criativas no concelho, económica e socialmente sustentável. Estas
questões, com um carácter transversal às diversas dimensões de análise anteriormente
identificadas, poderão ser agregadas em torno de um conjunto de 5 “estrangulamentos
fundamentais”, que se apresentam de seguida, e sobre os quais será determinante actuar
em termos da estratégia que se define nos pontos posteriores para o desenvolvimento das
indústrias criativas no concelho de Cascais.

Problema /estrangulamento fundamental nº 1:


AUSENCIA DE MASSA CRÌTICA NO CONCELHO

O concelho de Cascais insere-se numa área metropolitana que, sendo a maior do


país, apresenta por um lado um potencial enorme em termos de mercado e diversidade
de oferta e de práticas, mas por outro lado também uma ameaça clara para o
desenvolvimento de actividades num concelho mais periférico como Cascais. Com
efeito, um grande número da sua população desloca-se a Lisboa para participar nos
mais diversos eventos, desloca-se para Lisboa para ir trabalhar, etc.
Este facto implica a necessidade de trabalhar na polarização de funções centrais no
concelho, de fixar actividades e pessoas a “viverem O concelho” e não a “viverem NO
concelho”. A criatividade é particularmente sensível à questão da massa crítica e seus
efeitos, seja a aglomeração, seja a densidade e heterogeneidade das práticas sociais.
A importância da existência desta massa crítica pode ser entendida considerando
várias perspectivas. A existência de agentes culturais e criativos no território é uma
alavanca essencial para o desenvolvimento de dinâmicas e vida criativa no concelho.
Na esfera económica, pode ser entendida como a existência de aglomerados de
actividades em número suficiente que conduzam à emergência de economias de
escala, cooperação e sinergias entre empresas. Por outro lado, pode traduzir-se na
organização de eventos comerciais internacionais e todo o tipo de iniciativas
empresariais que atraiam investimento. Já ao nível social, a existência ou não de
massa crítica traduz-se na densidade das interacções sociais no espaço e no tempo da
vida da cidade. Por exemplo, a utilização do espaço público em zonas centrais da
cidade.
Do ponto de vista cultural e criativo, a existência de massa crítica traduz-se na
existência de agentes com capacidade de dinamizar actividades culturais e criativas na
cidade. Capacidade de engendrar iniciativas, sinergias entre diferentes artes, atrair
outros agentes e animar a vida social da cidade. A existência de massa crítica não só
promove a existência de interacção de agentes como estimula a criatividade e a
inovação.
Esta presença de massa crítica é fulcral para a existência de condições para:
- A emergência de um pólo atractivo para artistas e criativos;
- Condições para o florescimento de actividades na cidade;
- Condições para atrair interesse sobre as actividades desenvolvidas na cidade;
É importante considerar linhas estratégicas que estimulem a capacidade não só de
dinamização da massa crítica existente no sector criativo do concelho, mas também a
capacidade de estabelecer novos agentes. Isto pode ser promovido com o
estabelecimento de projectos que visem a cooperação entre actores do concelho, na
promoção de actividades que destaquem o concelho no sector cultural e criativo com
impacto nacional e internacional, integração em redes internacionais relacionadas com
as actividades culturais e criativas, entre outras possibilidades.
A superação deste conjunto de estrangulamentos sociais, institucionais e territoriais
é fulcral para o florescimento de massa crítica no concelho.

.
Problema / estrangulamento fundamental nº2
INSUFICIENTE APOSTA NA EXCELÊNCIA,
NA QUALIDADE E NA DIFERENCIAÇÃO

Tal como acontece genericamente no país, e na generalidade das sectores da


economia portuguesa, o sector criativo em Cascais debate-se com uma falta de aposta
na excelência, na qualidade e mesmo na diferenciação, que se reflecte num sector
criativo frágil, e na ausência de uma atmosfera criativa e um espírito partilhado de
incentivo à criação e inovação.
São várias as inter-relações que este estrangulamento suscita, nomeadamente na
ligação íntima que tem com a assunção do risco e promoção da inovação. Está ainda
associado a uma débil posição en termos de formação e qualificação. Todos este
factores, todas estas fragilidades, estão intimamente ligadas também a um escasso
espírito de empreendedorismo – ainda que, insiste-se, Cascais não seja uma excepção
a nível nacional. Ou seja, a urgência na promoção da excelência e da qualidade
resultam de complexos problemas estruturais, e que têm de ser solucionados. A
promoção destes factores é fundamental para assegurar a sustentabilidade de
projectos empresariais no sector da criatividade e almejar a diferenciação, factor crucial
neste sector.
A presença de um meio inovador, criativo, no concelho é hoje essencial para a sua
viabilidade económica. Só a aposta na excelência e qualidade empresarial podem hoje
ser vantagens comparativas sustentáveis num contexto de forte concorrência nacional
e internacional. Para que o empreendedorismo seja uma realidade efectiva, a
informação sobre as oportunidades deve ser partilhada entre os diversos agentes da
cidade: criativos, decisores políticos, académicos, artistas, empresários. A fraca
participação da população na vida do concelho traduz-se também num débil presença
de espírito empreendedor do concelho. A pouca vivência colectiva do município conduz
à natural ausência de oportunidades de novas actividades a desenvolver no concelho.
São, por isso, necessários arranjos institucionais que envolvam as forças vivas do
concelho.

r de risco económico elevado, pouco propício a financiamneto que valorize…


Problema /estrangulamento fundamental nº3
ASSIMETRIA TERRITORIAL NO CONCELHO

Como é patente na análise efectuada e em muitas das entrevistas e contactos


realizados, não estamos perante um concelho de Cascais uniforme, mas claramente
perante diversos “Cascais” diferentes, qualquer que seja o nível de análise assumido:
seja a nível físico-natural, seja demográfico, seja económico e social (há, por exemplo,
uma clara diferenciação territorial nos 2 ou 3 Cascais diferentes (litoral interior;
residentes tradicionais / novos residentes; vida local ou deslocação pendular para
Lisboa). Estas idiossincrasias podem ser entendidas como uma óbvia limitação, mas
também como potencialidade.
O município de Cascais regista múltiplas assimetrias territoriais, quer no contexto do
concelho em si, quer na sua posição na área da Grande Lisboa. O concelho sofre de
uma forte concentração da sua população no eixo Vila de Cascais- Carcavelos, face ao
norte e oeste do concelho. Esta concentração pode ser entendida como uma
vantagem, já que aglomeração facilita a mobilidade, o acesso a equipamentos e
mesmo a promoção de sinergias entre públicos e equipamentos. No entanto,
conquanto todo este eixo geográfico seja muito atractivo, esta concentração, aliada aos
limites de construção impostos pelo parque natural Sintra-Cascais, coloca dificuldades
quanto à possibilidade de instalação de novas actividades empresariais e culturais. Por
outro lado, a um litoral com uma população qualificada de classe média/média alta,
corresponde um interior deprimido e isolado do resto do concelho, com uma população
com um perfil social radicalmente diferente. Torna-se por isso pertinente a intervenção
pública na dinamização social e cultural de actividades que estabeleçam pontes entre
as geograficamente heterogéneas populações do concelho.
À assimetria dentro do concelho alia-se a assimetria regional em que o concelho de
Cascais se insere. Embora com uma população cosmopolita e com elevado nível
educacional, a concentração das actividades económicas e culturais nos concelhos
vizinhos (Oeiras e Lisboa) conduz a fortes movimentos pendulares da população do
concelho. Cascais evidência assim uma dinâmica preocupante de transformação de
estância balnear para dormitório das classes mais abonadas da Grande Lisboa. Esta
realidade pode, contudo, ser transformada numa vantagem comparativa do concelho
se houver um verdadeiro envolvimento das populações na vida concelhia.
Problema /estrangulamento fundamental nº4
FALTA DE PARTICIPAÇÂO E FRACA MOBILIZAÇÂO DOS ACTORES LOCAIS

Vítima do seu carácter periférico, dos fortes movimentos pendulares para fora e
dentro do concelho e das assimetrias sociais e territoriais acima identificadas, Cascais
sofre de uma fraca participação da sua população residente nas actividades culturais,
criativas, económicas do concelho. Bem sintomático deste alheamento é o sofrível
usufruto dos espaços públicos do concelho.
Assim, no sector cultural, o concelho mostra públicos culturais robustos, mas
demasiado pontuais, concentrados particularmente em dois ou três eventos e num
pequeno conjunto de equipamentos. Não existe uma dinâmica comum às numerosas
iniciativas que ocorrem no concelho, conducentes a uma procura contínua e
consistentes deste tipo de consumo. Um problema cuja quase inexistência de diálogo
institucional do concelho agrava. Do que se trata, no fundo, é de essencialmente de os
agentes reconhecerem os benefícios de actuação conjunta e partilharem objectivos
comuns, o que não se verificará em grande escala.
A solução para esta questão deverá passar, por isso, por uma contínua e insistente
formação de públicos, pela promoção de competências específicas, numa tentativa de
robustecer o perfil do público-cliente deste tipo de eventos e instituições, ao mesmo
tempo que tenta criar novos públicos, entre as diversas faixas etárias da população. À
semelhança de outros problemas, vistos anteriormente, a existência de instituições de
formação artística, teórica ou técnica, na área da criatividade, é também crucial para a
multiplicação de públicos e para a promoção da participação da população do
concelho.
Problema /estrangulamento fundamental nº 5:
FRACO RECONHECIMENTO SOCIAL DAS ACTIVIDADES CRIATIVAS E
CULTURAIS, NAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

A noção de cidade criativa desenvolve-se igualmente no ambiente empreendedor os


agentes culturais e criativos existentes no concelho. Esse ambiente empreendedor
acaba por traduzir-se não só no número de eventos, mas também se manifesta no
tecido empresarial e comercial. A profissionalização do sector deve ser visto como um
indicador positivo e o número de actividades económicas associadas à cultura e
criatividade. No que toca a este ponto, é fulcral que seja tomada em consideração uma
estratégia que estimule a profissionalização do sector aumentando o número de
artistas residentes, o número de actividades económicas no sector criativo existentes
na dimensão local, número de instalações.
É, pois, grave a permanência a de uma perspectiva integrada que continua a
identificar este tipo de actividades no concelho como mero lazer e formação da
população, com o turismo enquanto único spill-over no tecido económico do concelho.
Também aqui Cascais não é caso único, já que as actividades criativas padecem do
mesmo mal à escala nacional. O pouco peso simbólico, o não reconhecimento do valor
intrínseco económico das actividades culturais e criativas (para além dos óbvios efeitos
multiplicadores) é um obstáculo ao florescimento do sector. Deve-se pois passar a uma
perspectiva mais ampla da cultura e do sector criativo no concelho de forma a envolver
novos agentes e criar não só novas oportunidades de valorização das actividades
existentes e futuras nesta área, como entender todo este sector.
Tendo em conta estes estrangulamentos fundamentais, e de forma a ultrapassar as
limitações que eles colocam a um desenvolvimento do potencial criativo latente no concelho
de Cascais, defende-se uma actuação específica e explícita no campo das indústrias
criativas, que corresponda a uma visão estratégica clara para o concelho, amplamente
compreendida e partilhada pelos seus diversos agentes económicos e sociais:

Corresponder às necessidades do tecido criativo de Cascais, promovendo o seu


crescimento sustentado e fomentando os recursos criativos de forma a gerar novas
oportunidade económicas e sociais para a população concelhia

Para isto, pretende-se a mobilização e uma articulação frutuosa dos diferentes tipos de
recursos disponíveis e que podem ser potenciados para o desenvolvimento de actuações
concretas neste campo:
a) As pessoas
b) Os espaços
c) O empreendedorismo
d) As instituições
e) Os mercados
f) As representações
numa lógica que permita a definição de linhas estratégicas relativamente consensuais e
partilhadas, as quais se sugerem, numa versão preliminar, de base para discussão pelos
agentes locais, na secção seguinte deste relatório.
7.2. Identificação preliminar de linhas estratégicas de desenvolvimento

Numa tentativa de dar resposta aos principais problemas e estrangulamentos


identificados no concelho de Cascais, e elencados anteriormente, e tendo em conta a visão
estratégica também já, enunciada, foram apurados quatro eixos estratégicos de actuação.
Estes eixos estratégicos ou grandes linhas de actuação procuram ser respostas concretas a
problemas concretos, e servem de enquadramento às sugestões de projectos estruturantes
que são efectuadas na secção seguinte:
Para uma visão genérica da inter-relação entre estes diversos aspectos, consulte-se o
esquema da figura 7.1.
Note-se que estes eixos estratégicos são, como já foi referido, linhas estratégicas de
actuação preliminares, definidos pela equipa com base no diagnóstico efectuado, mas
criados exactamente para serem abertos nesta fase à discussão com os stakeholders locais
e para serem questionados e avaliados como sendo ou não eixos suficientemente
genéricos, mas simultaneamente partilhados de forma clara por todos, de forma a
enquadrarem as diversas acções, medidas e projectos que forem assumidos na sequência
deste estudo e da reflexão local que lhe segue, bem como, obviamente, das opções
políticas que então forem assumidas pelos diversos decisores, nos vários âmbitos de
actuação em causa. Suscitamos portanto que estas quatro linhas estratégicas sejam
discutidas e sufragadas pela comunidade local de forma a poderem dar lugar a um conjunto
de eixos de actuação com que os diversos actores se identifiquem e que, sendo assim
claramente partilhados, possam ser mobilizadores de vontades e enquadrarem acções
concretas, exequíveis e bem sucedidas.
Figura 7.1 Inter-relação dos constrangimentos, linhas
estratégicas e projectos estruturantes

Estrangulamentos Alguns projectos


Uma visão Linhas Estratégicas
Fundamentais estruturantes
Corresponder às necessidades
do tecido criativo de Cascais,  ESTRUTURAÇÃO DE UM
promovendo o seu crescimento CLUSTER EM TORNO DO
Ausência de massa crítica sustentado e fomentando os AUDIOVISUAL/MULTIMÉDIA
no concelho recursos criativos de forma a
gerar novas oportunidade
económicas e sociais  DESENVOLVIMENTO DE UM
PÓLO CRIATIVO NO CENTRO
Promoção da criação em HISTÓRICO DE CASCAIS
As Pessoas Cascais
Insuficiente aposta na
excelência, na qualidade  ESCOLA DE FORMAÇÃO
e na diferenciação AVANÇADA
Os Espaços Atracção de actividades
económicas criativas e
fixação da população criativa  AGÊNCIA PARA A PROMOÇÃO
DA CRIATIVIDADE DO
CONCELHO DE CASCAIS
Assimetria territorial no O Empreededorismo
concelho Promoção do envolvimento da
população nas práticas
culturais e criativas  ARTES VISUAIS CRIATIVAS

As Instituições

Reforço da articulação  ARTICULAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS


Falta de participação e institucional e da CULTURAIS CONCELHIOS E DA SUA
fraca mobilização dos colaboração UTILIZAÇÃO
actores locais Os Mercados interinstitucional

 INCLUSÃO SOCIAL PELA


ARTE
As Representações
Fraco reconhecimento social
das actividades criativas e
culturais  INTERFACE MAR-
AMBIENTE-NATUREZA-

 (…)
LINHAS ESTRATÈGICAS DE DESENVOLVIMENTO

A. Promoção da criação em Cascais


Embora seja difícil hierarquizar os estrangulamentos ao sector das indústrias culturais e
criativos identificados, há um factor que deve ser colocado antes de todos os outros: a falta
de dinâmica criativa, resultante em grande parte da falta de aposta na excelência, na
qualidade, na diferenciação e na inovação, que levariam a uma maior busca da criatividade.
Nos diversos exercícios de mapeamento feitos sobre o sector, seja globalmente, seja sub-
sectorialmente emerge um padrão claro que traduz uma lacuna concreta ao nível da criação
propriamente dita, em oposição, por exemplo, à distribuição de produtos culturais e
criativos, que apresenta um padrão relativamente bem mais satisfatório. Esta linha de acção
deverá, por isso, corresponder à promoção concreta da criação, ou seja, criar as condições
para que dinâmicas criativas surjam, e se desenvolvam ambientes propícios à criação,
densificando e equilibrando assim a cadeia de valor, ao nível local.

B. Atracção de actividades económicas criativas e fixação da população criativa


Umbilicalmente ligado ao ponto anterior está a captação de actividades criativas e a
fixação da classe criativa no concelho. Este eixo procura responder a um estrangulamento
que se coloca a dois níveis: a falta de massa crítica no que diz respeito às actividades
económicas criativas no concelho, e o facto de um segmento grande da classe criativa que
habita no concelho deslocar-se para outros concelhos (Lisboa, Oeiras, Sintra) para exercer
a sua actividade profissional. Para isso acontecer há que trabalhar o “ambiente criativo”,
quase inexistente, e criar as condições para que o tecido criativo, composto por artistas, em
formação e profissionais, assim como empresas criativas, possa crescer.

C. Promoção do envolvimento da população nas práticas culturais e criativas


O diagnóstico efectuado às práticas culturais e criativas no concelho de Cascais indica
que – à semelhança do que o estudo do Observatório das Actividades Culturais tinha
demonstrado – a população não tem um elevado grau de envolvimento com as instituições
e propostas culturais e criativas locais. Esta questão, uma crítica recorrente de muitos dos
agentes culturais e criativos contactados, obriga a que, ao mesmo tempo que se identifica
as causas, seja promovido um esforço no sentido de envolver a população. A não
centralidade das actividades culturais e criativas, seja a nível institucional, político ou
mesmo económico é um problema comum a todos os concelhos portugueses. A resolução
destas questões poderá, por isso, passar pela formação de públicos, pela promoção do
empreendedorismo, a promoção de novas competências, entre outras vertentes. Este
objectivo de aumento da participação, visando um maior envolvimento da generalidade da

178
população, nas diversas práticas e mercados, não dispensa ainda outras actuações mais
focalizadas, centradas na inclusão social, na formação de públicos específicos, ou no
fomento de uma maior mobilidade social e territorial.

D. Reforço da articulação institucional e da colaboração interinstitucional


A última linha de acção proposta vai no sentido de promover o reforço da articulação
institucional. Este ponto procura uma maior articulação entre os agentes privados e públicos
do concelho com o intuito de estimular as mais importantes dinâmicas económico-sociais
que o concelho contém. A falta de conectividade entre esforços e lógicas de actuação
paralelos, mas que muitas vezes partilham dos mesmos objectivos e duplicam esforços para
a obtenção de recursos e meios por si já escassos, poderá e deverá ser ultrapassada numa
lógica de mobilização estratégica dos actores em torno de um processo participado de
desenvolvimento concelhio, baseado na densificação deste cluster de actividades.

179
7.3 Identificação preliminar de alguns projectos estruturantes

Os projectos estruturantes identificados de seguida procuram dar resposta, por um lado,


às fragilidades encontradas no Concelho no domínio do sector da cultura, mas procuram
também explorar oportunidades de desenvolvimento do sector, aliando objectivos como o
reforço da atractividade e da imagem de Cascais, a criação de novas dinâmicas económicas
em áreas de reconhecida expansão a nível europeu e mundial e, finalmente, o reforço da
identidade e do sentimento de pertença da população concelhia, contribuindo-se assim
também para a prevenção de situações de exclusão social.
Embora apareçam denominados no seu conjunto com projectos estruturantes têm entre
si uma natureza diversa, sendo alguns deles efectivamente projectos fundamentais por si
só, mas alguns outros mais propriamente “cachos” de projectos ou quase “eixos de
actuação”, incluindo vários projectos ou acções agrupadas em torno de um tema ou ideia, e
fortemente complementares entre si.
As ideias de seguida apresentadas resultam da conjugação dos resultados das
entrevistas aos agentes do sector da cultura e da reflexão da equipa, nomeadamente à luz
de estudos de caso de origem nacional e internacional.
Este esboço de (alguns exemplos de) projectos pretende apenas servir como uma
primeira base de discussão com a Câmara Municipal e, posteriormente, com outros agentes
do Concelho, tendo em vista testar a pertinência e a execuibilidade das ideias de projecto.
Numa fase seguinte, após confirmação da validade das propostas, avançar-se-á então com
uma descrição pormenorizada dos projectos estruturantes, dos cachos de acção que lhes
estão subjacentes e de potenciais fontes de financiamento.
De notar ainda, que os projectos não são estanques e que em diversos casos existe uma
forte complementaridade e interligação entre os mesmos, contribuindo assim para o reforço
da integração da estratégia.

180
PROJECTO ESTRUTURANTE 1
ESTRUTURAÇÃO DE UM CLUSTER EM TORNO DO AUDIOVISUAL/MULTIMÉDIA

Um dos resultados do diagnóstico efectuado aponta para a oportunidade do


desenvolvimento de um cluster específico associado a um (ou mais) subsector(es)
criativo(s) em particular, nomeadamente no campo da produção audiovisual ou de
conteúdos multimédia. Para além das condições (naturais, socais e económicas) propícias
no concelho à localização destes investimentos e do grande conjunto de agentes existentes
ou latentes no sector (mas actualmente com mercado de trabalho focado essencialmente
noutros pontos da AML), seria crucial um grande investimento (eventualmente exógeno)
num destes campos (o audiovisual ou o multimédia afiguram-se face à caracterização e
diagnóstico efectuados como os mais adequados). Este teria efeitos multiplicadores muito
significativos, a vários níveis, tanto directos, como indirectos, como induzidos, o que
permitiria o desenvolvimento de um cluster de pequenas empresas associadas a esse
grande empreendimento (cf. o exemplo de outros projectos de localização de empresas ou
de instituições-âncora no domínio dos multimédia, p.e., Glasgow, Manchester, Sheffield,
Toronto), particularmente importante no quadro de uma especialização sectorial no âmbito
22
metropolitano .
Este projecto estruturante, poderia desenvolver-se seja no campo da produção de
cinema seja de outros produtos audiovisuais (“cidade do cinema” funcionando
essencialmente como set de filmagens, centro de produção local de conteúdos audiovisuais
nacionais (telenovelas, séries televisivas, etc.); articulação com a existência de uma film
comission local, etc…), seja ainda, embora haja de momento menos recursos locais neste
campo, no âmbito da produção de conteúdos multimédia.
Têm aliás existido algumas manifestações de interesse e potenciais intenções de
investimento, que têm sido dadas a conhecer aos órgãos municipais (em particular no
campo do audiovisual, seja por investidores nacionais, seja estrangeiros). Estas
manifestações têm tido dificuldade em se concretizar, entre outros factores, pelas grandes
necessidades de espaço verificadas (sendo actividades muito exigentes neste domínio),
face aos constrangimentos existentes no concelho, sem grandes solos disponíveis para
expansão deste tipo de actividades económicas. Uma actuação (necessariamente articulada
com o planeamento e ordenamento do território) será fundamental neste campo por parte
da autarquia e demais instituições públicas nacionais responsáveis pela regulamentação do
uso dos solos, no sentido de permitir a disponibilização de solo – o que implicaria uma
articulação com o processo do revisão do PDM concelhio. Uma hipótese interessante de
localização, a testar com a Câmara, é a zona de actividades económicas localizada entre o
Bairro Social próximo da rotunda de Manique e a estrada de acesso ao Cascais Shopping.

22
Pense-se, também a título de exemplo ( num outro sector de actividade mas segundo uma lógica
semelhante), no peso do empreendimento AutoEuropa e nos seus efeitos de arrasto no
desenvolvimento de um cluster automóvel na Península de Setúbal.

181
Uma intervenção nesta zona poderia combinar a localização de actividades económicas
mais estratégicas (vs. as actualmente existentes) e o ordenamento e a qualificação territorial
desta zona.
Este eixo estruturante de actuação beneficiaria ainda em ser ancorado naquilo que é a
posição de Cascais no âmbito regional. Tendo em conta que Cascais não é um concelho
isolado e que pode beneficiar da proximidade com os concelhos limítrofes, podendo
explorar um grande potencial de articulação com o tecido empresarial existente no sector
tanto em Lisboa como em Oeiras. Exemplo desta potencial articulação para o
desenvolvimento de um cluster na área norte da AML é a localização em Oeiras das duas
estações de televisão privadas, da PT-Sistemas de Informação, ou do grupo Impresa.
Em paralelo a esta actuação, e sem a necessidade de libertação de grande espaço para
equipamentos de maior dimensão, uma alternativa complementar seria a elaboração de
projecto(s) de menor escala, paralelos, no campo do audiovisual ou do multimédia
relacionado(s) com o desenvolvimento de conteúdos associados às tecnologias do mar ou a
formas e conteúdos de arte associados do mar, aproveitando a especialização local no
sector e o reforço de factores de atracção de profissionais e centros de investigação e
pesquisa destes sectores (alguns deles de topo a nível mundial).

Algumas acções complementares:

- Criação de um espaço para acolhimento de agentes criativos multimédia, de maior ou


menor dimensão - projecto âncora - , consoante as disponibilidades espaciais;
- Elaboração de um plano de marketing, incluindo um folheto de divulgação do Concelho
de Cascais como Concelho Criativo e a inserção do mesmo no site da CMC (com a
identificação das vantagens de Cascais para a instalação de actores desta área - espaços
existentes, actores já localizados, apoios da CMC, etc.), bem como lançamento de uma
campanha de comunicação associada;
- Progressiva articulação da estratégia da DNA com a estratégia de fomento de Cascais
como concelho criativo, com particular foco em instrumentos específicos para a atracção de
agentes externos e o fomento de iniciativas endógenas nos campos do audiovisual e do
multimédia);
- Utilização de novos (e menos novos...) eventos ligados ao domínio da cultura, como
forma de potenciação do audiovisual/multimédia, p.e., o European Film Festival.
-...

182
PROJECTO ESTRUTURANTE 2
DESENVOLVIMENTO DE UM PÓLO CRIATIVO NO CENTRO HISTÓRICO DE CASCAIS
(POTENCIALMENTE LIGADO A RECONVERSÃO URBANA)

Um vector crucial para a densificação da base criativa de um território passa


inquestionavelmente pela - criação de dinâmicas sustentáveis com base na aglomeração
dos agentes e na sua interacção, em particular nos centros urbanos tradicionais mais
consolidados.
A generalidade das experiências de sucesso relatadas nos anos mais recentes assenta
neste princípio da aglomeração e da revitalização de zonas urbanas específicas, onde se
geram dinâmicas (sociais, económicas, ao nível das representações e do simbólico, etc)
que levam a dinamização dos processos criativos, à colaboração e interacção entre
agentes, ao desenvolvimento de processos específicos de socialização, a uma valorização
simbólica e alterações nas representações e à atracção e fixação de criativos. Em particular,
estão muitas vezes ligadas à requalificação ou regeneração urbana, em particular em
centros históricos abandonados ou zonas industriais ou portuárias abandonadas e em
reconversão.
Não sendo este ultimo caso a situação de Cascais, parece no entanto inequívoco que a
zona ideal para um projecto deste tipo seria o centro histórico de Cascais (ou,
eventualmente, como alternativa, o do Estoril, junto ao Casino). Em particular, face a todos
os investimentos efectuados e previsos em todo o perímetro do Jardim da Parada com
diversos equipamentos e infra-estruturas culturais, bem como a proximidade da Marina, do
centro histórico, administrativo e comercial da vila, das principais zonas de restauração, e as
boas condições em termos de acessibilidades, esta parece-nos a zona privilegiada para o
efeito, nomedamente a área da Cidadela.
Com efeito, a Cidadela de Cascais, actualmente passando por um processo de
reestruturação e requalificação e com um peso simbólico e uma posição geográfica
especiais seria o espaço ideal para ser a base da criação de um embrião de distrito cultural,
com potencial de arrasto para a generalziação de actividades na envolvente (malgrado o
problema fulcral do elevado custo do solo na zona). Para além de uma componente
maioritária, cujo processo de requalificação passa por uma abertura de concurso a
propostas de promotores no mercado (o qual poderá ser alvo de especificicações especiais
que garantam uma afectação parcial do projecto a certos usos), estão já em curso projectos
de investimento da Câmara Municipal e do Museu da Presidência da República, no campo
cultural, para a restante área do conjunto arquitectónico da Cidadela.
Para além disto, e para além das qualidades concretas do espaço físico para este tipo de
projecto, destaca-se ainda a crescente centralidade que este equipamento tem vindo a

183
assumir nos últimos anos no campo simbólico associado à vida cultural de Cascais, com a
realização de numerosos concertos e eventos como a Moda Lisboa ou a Feira Mundo-Mix.
Face às características da zona e ao perfil do tecido de agentes culturais e criativos no
concelho, a actuação teria de passar necessariamente por um processo directa ou
indirectamente conduzido pelas autoridades públicas, em particular municipais (já que não
parece existir massa crítica para uma agência autónoma ou para uma solução pura e
simplesmente no mercado, como aconteceu em outros espaços noutras cidades). Assim
sendo, seja a questão da geração de uma solução para a obtenção e disponibilização de
espaços, seja a sua gestão e a articulação dos agentes envolvidos, teria de passar por uma
instituição fortemernte participada ou regulada pelos poderes públicos, nomeadamente
23
municipais .
Isto poderá por exemplo passar pela criação de regras (no programa do concurso
associado à requalificação deste espaço) que garantam áreas disponibilizadas para estas
actividades culturais e criativas e uma gestão desses mesmos espaços, de forma integrada,
por uma entidade na qual a Câmara Municipal tenha papel determinante (como a sugerida
no projecto estruturante 4).
Poderá associar-se igualmente à criação de uma marca identitária mais forte, de uma
sinalética que gere alguma identidade, e de um sistema de incentivos e apoio ao risco
específico, ou tratado de forma específica, por exemplo. Se possível, será igualmente
desejável uma estreita articulação (ou pelo menos, uma grande proximidade física) com o
projecto estruturante 3 (formação avançada no campo específico das actividades culturais e
criativas).

23
Outras hipóteses de espaços poderiam ser exploradas, na impossibilidade deste. Os diversos fortes
ao longo da Costa (alguns em reabilitação ou com projectos nesse sentido) ou um espaço com as
características do actual complexo comercial e de restauração “casa da Guia”, por exemplo seriam
possibilidades, embora com a desvantagem do isolamento e ghettização da área, o que poderia
igualmente acontecer numa localização mais descentralizada, por exemplo numa área industrial ou
numa zona residencial mais suburbana.

184
PROJECTO ESTRUTURANTE 3
ESCOLA DE FORMAÇÃO AVANÇADA

No sentido de colmatar algumas das lacunas evidenciadas pelo diagnóstico


apresentado, nomeadamente no que diz respeito ao défice de criadores e produtores de
bens culturais e criativos propõe-se a criação de uma Escola de formação avançada
especificamente dirigida a estes campos artísticos: Criação, Artes, Tecnologias Digitais e
Estudos Visuais e Culturais.
Esta escola deverá abraçar as áreas artísticas, a tecnologia digital e as ciências
humanas e sociais. Os programas deverão incluir pós-graduações, mestrados,
doutoramento e pós-doutoramento em áreas tão distintas como artes visuais, new media e
artes digitais, videojogos, estudos visuais, estudos culturais, filosofia e antropologia, entre
outras.
Idealmente esta escola será um “posto avançado” de uma das universidades de Lisboa,
à semelhança dos campus da Universidade Técnica de Lisboa (IST e ISEG) no TagusPark
ou da Universidade Nova na Costa da Caparica (Faculdade de Ciências e Tecnologia). Esta
escola visará fundamentalmente a formação avançada, seja no aprofundamento das
valências técnicas dos alunos como na formação de uma voz autoral, inovadora e original, e
capaz de pugnar por um lugar nos mercados internacionais.
Alguns exemplos de projectos semelhantes noutros países têm mostrado a importância
destes centros para a estruturação de um cluster criativo, não só pelo know-how e inter-
relaçãoes que permitem aos seus frequentadores e formadores, mas igualmente por todos
os efeitos indirectos e induzidos que geram no cluster, nomeadamente em termos das
sociabilidades e vivências culturais na população urbana adjacente. Entre outros exemplos,
poderão referir-se casos como o da New School of Social Sciences
(http://www.newschool.edu/about.aspx), ou da The Cooper Union for the Advancement of
Science and Art (http://www.cooper.edu/administration/about/Welcome.html).
Destaque-se ainda a importância fulcral da articulação deste projecto estruturante com o
do fomento do cluster audiovisual (no vector de produção artística – audiovisual), com a
potencial interligação deste centro de formação avançada com o tecido empresarial
existente no concelho ou nos concelhos limítrofes (Oeiras tem duas TV’s privadas, por
exemplo), e incluindo-o ou articulando-o com outros projectos ao nível da universidade,
pública ou privada, ou de centros de formação ou escolas profissionais de nível 3.
Da mesma forma, faz sentido aque este pólo de formação não possa estar desligado da
actuação preconizada noutros projectos estruturantes de apoio ao empreendedorismo,
nomedamente, do papel em termos de incubação de novas actividades e projectos, ou de
apoio a estágios e inserção profissional (articulando-se com a actuação ad DNA, por
exemplo).

185
PROJECTO ESTRUTURANTE 4
ESTRUTURA INSTITUCIONAL “AGÊNCIA PARA A PROMOÇÃO DA CRIATIVIDADE DO
CONCELHO DE CASCAIS”

Para a prossecução da estratégia proposta é crucial a implementação de uma estrutura


institucional que, em articulação com os diversos departamentos e estruturas actualmente
existentes e com responsabilidades sobre estas áreas de actuação, coordene e agilize a
implementação da estratégia definida, bem como a sua monitorização e avaliação. Face à
análise da realidade institucional actualmente existente, sugere-se para discussão alargada
nesta fase dos trabalhos a proposta da criação de uma “Agência para a Promoção da
Criatividade do Concelho de Cascais”.
Esta será uma estrutura minimal, com atribuições transversais às competências dos
pelouros da cultura, actividades económicas, do ambiente e turismo, sob a tutela do
Presidente ou do Vice-Presidente (à semelhança das 4 agências já existentes no
município), que concentre em si as seguintes atribuições de carácter geral:
 Promoção do sector das indústrias culturais e criativas, a nível local, e no exterior,
aos níveis da área metropolitana, nacional e internacional;
 Monitorização do sector nas suas dimensões económicas (emprego, contribuição
para o produto da região, etc.);
 Promoção e dinamização dos projectos estruturantes propostos por este estudo e
eventualmente aprovados em sede própria;
 Apoio e representação do sector do concelho em eventos nacionais e
internacionais;
Para além destas, assume as seguintes atribuições orientadas para o apoio às
instituições e organizações do sector (em articulação com a DNA, ou os pelouros da Cultura
e das actividades económicas), tendo em vista o estabelecimento de pontes entre o mundo
das artes e o mundo empresarial:
 Serviço de informação sobre o sector (p.e., portal-directório do Concelho Criativo on
line, para profissionais e para o público em geral, com links com instituições
relevantes, informação sobre eventos, informação sobre formação profissional,
estudos, etc.);
 Gestão e promoção da marca associada a Cascais Criativo, em vários meios,
incluído a net (YouTube, SecondLife, etc.) para além dos mais convencionais;
 Apoio geral através de mentores e tutores (p.e., discussão de ideias, desenho de
um plano de acção, definição de objectivos);
 Apoio específico (p.e., finanças, fiscalidade, recursos humanos, aspectos legais,
direitos de propriedade);

186
 organização de eventos/formações, nomeadamente organização anual de um
Colóquio envolvendo as forcas vivas do sector cultural de Cascais.
 Articulação e envolvimento externo com mediadores culturais relevantes para a
promoção das actividades (críticos, programadores, etc.), e lobbying das indústrias
criativas locais;
 Apoio, agilização e facilitação da realização de acordos e consórcios entre
instituições e agentes locais e actores e potenciais investidores exógenos;
Algumas destas funções existem em muitas operações deste tipo e estão patentes em
experiências de instituições com as indicadas de seguida, a título meramente
exemplificativo: www.terminalb.org/ (Barcelona Creative Database);
http://www.culturalenterpriseoffice.co.uk/website/.
Note-se aqui que esta agência poderia depois evoluir para um modelo mais ambicioso
(como o existente em muitas cidades inglesas com as CIDA’s - Cultural Industries
Development Agencies), com a possibilidade de entrar por outros campos de actuação
(nomeadamente a reabilitação urbana), mas num patamar que exigiria uma estrutura e um
conjunto de recursos bem mais vultuoso (onde por exemplo, à semelhança do caso inglês,
se poderia equacionar um afectação das receitas do jogo ao funcionamento de uma
instituição deste tipo, por exemplo).
Note-se finalmente a importância da articulação com as agências já existentes no
município, e m particular a DNA; o que poderia passar não por uma duplicação de
estruturas, mas por lógicas de colaboração com definição e partilha de responsabilidades
(por exemplo, com a criação na DNA, no campo do fomento ao empeendedorismo, de uma
área específica, com regras e dotação específica, para o sector cultural e criativo).

187
PROJECTO ESTRUTURANTE 5
ARTES VISUAIS CRIATIVAS – ARQUITECTURA, DESIGN, DESENHO E ARTES
VISUAIS

Os arquitectos são uma importante parte da classe criativa de Cascais (mais de 40%). O
seu ritmo de crescimento nos últimos dez anos, 220%, ultrapassa o dos outros concelhos da
Grande Lisboa. Este crescimento tem tido correspondência em algumas actividades e
eventos que tomaram lugar no concelho (pólo da Trienal de arquitectura, exposições
Nyemeyer, Aires Mateus). Partindo dessa vantagem comparativa, apresentamos algumas
ideias que visam não só a dinamização desta classe per se, mas sobretudo a possibilidade
de nos alavancarmos nesta classe para dinamizar todo o conjunto de actividades criativas
focadas no desenho e nas artes visuais do concelho. Este “cacho de propostas” visa criar
condições dinamizadoras quer a montante (o lado da oferta), quer a jusante (o lado da
procura).
1- Criação de espaços para arquitectos, designers e outros artistas visuais. Estes
espaços, fornecendo condições favoráveis (fiscais, arrendatárias, etc) e
acompanhadas por estuturas de gestão próprias que proporcionassem uma agenda
(workshops, acções de formação, exposições), permitiriam a interacção entre os
diferentes agentes. Alguns exemplos existentes já em Lisboa são o seguintes:
- http://www.ateliersdesantacatarina.org/
- http://arqcoop.no.sapo.pt/
- http://www.lxfactory.com/lxfactory.swf
A criação destes espaços podia ser feita de duas formas alternativas: através da
reabilitação de edifícios degradados no centro de Cascais; através da recuperação
de um qualquer armazém. Este espaço podia também servir de ninho de empresas
na área (envolvendo-se aqui a agência DNA). A iniciativa de base pode ser
essencialmente privada, embora possa de ter de ser incentivada (ou pelo menos
facilitada e orientada) pelos poderes públicos.
2- Criação de concursos de ideias para arquitectos. Com uma periodicidade bienal e
com eventual limite de idade (35 anos?), este tipo de concurso proporciona uma
imagem de marca ao concelho na área de arquitectura, além de ser uma forma
relativamente pouco dispendiosa para pensar em intervenções mais ou menos
pontuais no espaço público (praias, praças, etc). Uma outra condição poderia ser a
necessidade de serem equipas multidisciplinares (arquitectos, designers,
escultores) a apresentarem os projectos, promovendo as sinergias entre eles. Uma
condição que poderia também ser utilizada em concursos de arte pública.
Seria aqui interessante uma eventual articulação com o Centro Cultural de
Cascais ou a colaboração de outros agentes já presentes no Concelho.

188
3- Criação de bolsas municipais para estudantes, no ensino superior, na área das
artes visuais, com a condição de estes desenvolverem a sua posterior actividade no
município.
4- Organização de um concurso de ideias para pintar os paredões da Marina de
Cascais. Este projecto emblemático poderia fazer parte das primeiras intervenções
tendo em vista a promoção de Cascais como concelho criativo.
5- Fomento da Arte Publica pelos promotores imobiliários (utilização do sistema de
contrapartidas nos novos projectos imobiliários?; estabelecimento de regras nesse
sentido em programas em obras de concurso público?, etc.).

189
PROJECTO ESTRUTURANTE 6
ARTICULAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS CULTURAIS CONCELHIOS E DA SUA
UTILIZAÇÃO (COM EXPANSÃO AO RESTO DO CONCELHO)

Os vários estudos, estatísticas e publicações aqui analisados dão-nos uma ideia clara do
dinamismo e esforço que as entidades públicas, entre elas a Câmara Municipal, e as forças
vivas do Concelho têm aplicado no desenvolvimento cultural do município. De resto, a
considerável dimensão da bem organizada Agenda Cultural mensal é reflexo disso mesmo.
Parece-nos assim indiscutível que Cascais tem investido progressivamente em actividades
culturais e criativos, como aliás atestam os muitos equipamentos construídos nos anos mas
recentes..
Este “bom” diagnóstico inicial afigura-se como um excelente ponto de partida para, por
um lado, se manter o empenho em se ultrapassar a “clivagem litoral-interior” (OAC, 2005) e
fazer com que a “particular relevância da freguesia de Cascais, avultando, no que se refere
à oferta/procura cultural, a concentração de equipamentos, serviços, eventos,
visitantes/públicos, sobretudo no espaço correspondente ao centro histórico da vila” (idem)
contagie o restante espaço do Concelho (ainda relativamente muito subestimado), e, por
outro lado, para ajudar a promover as (outras) actividades criativas, tal como definidas neste
documento.
Com este eixo estruturante em termos de projectos pretende-se aprofundar a utilização
e, se possível, expandir o uso dos equipamentos culturais concelhios. Não se tem como
objectivo substituir o papel das actuais estruturas organizativas, camarárias e outras, mas
sim sublinhar a importância que o investimento continuado nestas áreas tem no
desenvolvimento cultural e criativo do município. Mais especificamente, este eixo orienta-se
para o investimento em equipamentos em zonas mais carentes e na promoção da utilização
e fruição do património e dos equipamentos existentes.
Com os objectivos anteriores em mente, o presente eixo poderia ter como vectores de
intervenção:
 Articulação dos museus existentes e património (oferta de visitas integradas, ou seja,
criação de circuitos com visita a mais do que um espaço em vez de visitas isoladas;
aumentar a visibilidade dos serviços educativos, principalmente junto das escolas
do concelho, mas não só; integração em redes internacionais).
 Aumento da integração e multifuncionalidade da programação dos diversos
equipamentos, com uma maior organização em rede da programação, criando
economias de escala, e alargando a democratização dos públicos (alargando, por
exemplo, a itinerância de certos espectáculos ou exposições, ciclos de debates,
etc., a outros espaços, mesmo de pequena dimensão, como bibliotecas ou museus
municipais, por exemplo), seja internamente ao município de Cascais (com

190
particular foco nas novas zonas residenciais), seja, a outra escala, no âmbito de
redes de carácter regional, nacional ou internacional;
 Investimento num equipamento cultural, do tipo Centro Cultural polivalente e de média
dimensão, com sala(s) de espectáculo, exposição e espaços para actividades
artísticas e projectos - para servir as populações de São Pedro (oriental), Parede,
Carcavelos e São Domingos de Rana, com especial atenção para a proximidade a
Oeiras e Lisboa (atracção de pessoas).
 Aumentar a aposta no binómio turismo / cultura, oferecendo “pacotes” culturais em
parceria com os agentes turísticos do concelho e da região de Lisboa;
 Utilização de equipamentos existentes (por exemplo, património, mas não só), para se
realizarem eventos, residências artísticas, cursos;
 Aposta no conceito “Arte Sénior”, com projectos concretos junto desta população.
 Criação de uma rede descentralizada de agentes culturais, em parceria com
associações de moradores, clubes recreativos, etc., com actuação ao nível do
bairro para se desenvolverem projectos artísticos e criativos apoiados pela Câmara.
 Criação de um museu iteractivo da História de Cascais (p.e. Toronto), como nasceu
como se desenvolveu, quem foram e quem são os seus habitantes, ,..
 Dinamização de pequenos eventos especiais a nível local, com impacto e visibilidade
e captação de novos públicos (por exemplo, noite dos antiquários, dia dos museus,
etc – com iniciativas como o fechamento de transito; as alterações de horários, a
entrada gratuita, - cf o exemplo da “Virada cultural”, em S. Paulo, no Brasil);

191
PROJECTO ESTRUTURANTE 7
INCLUSÃO SOCIAL PELA ARTE E A CRIAÇÃO

As iniciativas de fomento da participação comunitária e de inclusão social através das


actividades criativas pretendem estimular a participação das populações nas actividades
culturais e, ao mesmo tempo, em certos casos actuar para prevenir ou atenuar
comportamentos anti-sociais ou fenómenos de exclusão social. De forma integrada visa-se
uma maior proximidade à dimensão do indivíduo e ao desenvolvimento do orgulho de
pertencer a uma certa comunidade.
As actividades criativas, principalmente “culturais e artísticas”, têm sido utilizadas como
principal estratégia de inclusão e/ou de fomento da participação da população (ou de
segmentos específicos) na actividade da comunidade em diversas cidades. Os casos mais
famosos remetem a projectos desenvolvidos para crianças, idosos e comunidades
imigrantes com origens étnicas e culturais distintas.
A possibilidade de partilhar experiências e apresentar, sob diferentes formas de
linguagem, seus universos particulares, possibilita que, crianças, jovens, idosos, imigrantes,
etc., tenham um novo fórum para se conhecer, comunicar e desenvolver projectos em
parcerias, para além de se expressarem civicamente e valorizarem as suas próprias
culturas e identidades.
Neste sentido sugerimos o desenvolvimento de projectos de cariz local que fomentem a
“cultura de bairro” ou a cultura de específica (ou de origem) de certos extractos
populacionais. Tais projectos devem levar em conta as especificidades da exclusão ou de
falta de identidade comunitária que incide sob a população da localidade em questão.
2425
O Arts Council England, sobretudo através do Creative Learning Programme , já
apoiou em todo o Reino unido mais de 2000 projectos, orientados para o desenvolvimento
das capacidades dos jovens, aumentando as suas aspirações e oportunidades. Estas
iniciativas têm por base uma parceria entre as escolas e o meio criativo em sentido lato
(desde a colaboração com arquitectos, até ao trabalho com cientistas).
As diversas formas de manifestação artísticas são exploradas de forma a se adaptarem
às especificidades da manifestação de exclusão e da população envolvida. As actividades,
que vão desde de grupos de leitura, teatro e pintura, a oficinas de “moda”, rádio e “DJ”,
também buscam valorizar o saber específico das comunidades.
26
A cidade de Glasgow também possui projectos neste sentido , os cerca de 10 projectos
implementados visam actuar sobre as diversas manifestações de exclusão fazendo uso das
potencialidades artísticas locais e focando as actividades nos interesses dos grupos a
serem envolvidos.

24
http://www.takingpartinthearts.com/listing.php?listing=case_studies_of_current_practice
25
http://www.creative-partnerships.com/projects/
26
http://www.csglasgow.org/services/ArtsDevelopment/ArtDevProjects/artsandsocialinclusion.htm

192
Na cidade de São Paulo, Brasil, muitas escolas de zonas problemáticas têm-se vindo a
transformar no pólo agregador destas comunidades. Exemplos interessantes são as
iniciativas de estímulo a que os próprios alunos e a comunidade desenvolvam projectos de
reabilitação das escolas - em muitos casos os próprios “infractores” passaram a colaborar,
desde que reconhecessem na iniciativa um porta legítima e democrática de expressão.
No caso português, a experiência da Associação Moinho da Juventude no Bairro da
Cova da Moura, em Lisboa, tem também sido muito referenciada como um interessante
caso de envolvimento da comunidade local, através da cultura e criatividade, em projectos
que aumentam a inclusão e o desenvolvimento socioeconómico da população envolvida
(desde visitas guiadas e valorização da gastronomia, até À expressão musical ou corporal,
por exemplo).
Algumas ideias de acção (exemplos):
- Continuação do projecto de fomento das visitas às bibliotecas municipais, através da
organização de eventos; Reforço da inserção dos museus de Cascais em redes
internacionais de troca de experiências (Programas de Cooperação Transregional e
transfronteiriça no âmbito do QREN, p.e.);
- Promoção das visitas dos alunos das escolas aos espaços culturais do concelho (além
das habituais, como os museus, visitas, p.e., a galerias de arte, ao teatro, etc.)
- Fomento de um concurso ao nível das escolas concelhias para a promoção de ideias
inovadoras envolvendo a criatividade;
- Programa mecenato de empresas nas Escolas Secundárias (oferta de bolsas,
instrumentos musicais, equipamento artístico, etc…)
- Mobilização das associações de moradores ou do seu apoio para projectos de cariz
criativo (realização de workshops de actividades culturais nos bairros, p.e., de pintura,
sessões de leitura para crianças, teatro, marionetes, exposições sobre os países de origem
de grupos étnicos dominantes, "festivais" de gastronomia étnica, ensino de língua
estrangeira,,...);
- Disponibilização de espaços para grafittis;

193
PROJECTO ESTRUTURANTE 8
INTERFACE MAR-AMBIENTE-NATUREZA-CULTURA

O concelho tem investido fortemente nos projectos vinculado ao meio-ambiente e à


natureza. Com parte significativa de seu território sob área de preservação ambiental e uma
presença marcante das actividades vinculadas ao mar, o concelho tem perseguido adequar
as suas iniciativas de forma a torna-las não só sustentáveis e socialmente responsáveis,
mas como elemento de vantagem competitiva territorial.
Com três agências criadas (Cascais Energia, Cascais Atlântico, Cascais Natura) em
torno de temas ligados ao meio-ambiente e recursos naturais, consideramos fundamental a
construção de “pontes” entre estes projectos de forma a possibilitar uma experiência
integrada da diversidade de valências ambientais do concelho e sua potencialização
criativa.
A verificada existência de projectos de investigação, como o Lineu, da Cascais Natura, o
EnerMar, da Cascais Atlântico, e o Cascais Solar, da Cascais Energia, consubstanciam
iniciativas importantes na promoção da criatividade. A sua articulação, para além dos limites
das agências, e com soluções empresariais, onde a Cascais ADN deve ter papel
fundamental, constituem um importante recurso do concelho.
No entanto tais iniciativas ainda carecem de maior articulação com o centro artístico. A
promoção da interligação entre as artes e os projectos destas agências devem ter reflexos
significativos na promoção de sua actividade e da criatividade.
Algumas ideias de acção (exemplos):
 Em articulação com o projecto 7 - envolvimento das escolas, nomeadamente dos
alunos ligados às áreas das artes e das ciências, tendo por objectivo o
desenvolvimento de ideias que articulem estes diversos domínios (Concurso de
ideias)
 Continuação das actividades da CMC em matéria de visitas ao património ambiental
em modelos mais comuns como caminhadas, BTT, etc., mas aposta também em
actividades logisticamente mais complexas (mas também potencialmente mais
rentáveis e sobretudo com um papel não desprezível em matéria de promoção da
imagem do concelho, como espaço de qualidade mar-ambiente), como a
organização de visitas ao património submarino… (incluindo a vertente histórico-
arqueológica, para além da mais “natural”);
27
 Fomento de projectos de promoção da chamada land art , a expressão mais
flagrante de possibilidades de interligação entre as actividades criativas e ambientais

27
Da Wikipedia: “A Land Art, também conhecida como Earth Art ou Earthwork é o tipo de arte em
que o terreno natural, em vez de prover o ambiente para uma obra de arte, é ele próprio trabalhado de
modo a integrar-se à obra. A Land Art surgiu em finais da década de 1960, em parte como
consequência de uma insatisfação crescente em face da deliberada monotonia cultural pelas formas

194
(incluindo também a promoção do uso de material reciclado e a valorização da
natureza como espaço privilegiado para o desenvolvimento de actividades culturais e
artísticas).
 Criação de uma Bienal/Trienal artística sujeita às temáticas centrais da imagem do
concelho, - mar, ambiente, cultura (a ser patrocinada pelo sector hoteleiro do
Concelho).
 Fomento de um cluster de investigação ligado ao mar ou à energia, com o estudo
da possibilidade de atracção de alguma instituição nacional para o Concelho;

simples do minimalismo, em parte como expressão de um desencanto relativo à sofisticada tecnologia


da cultura industrial, bem como ao aumento do interesse às questões ligadas à ecologia. O conceito
estabeleceu-se numa exposição organizada na Dwan Gallery, Nova York, em 1968, e na exposição
Earth Art, promovida pela Universidade de Cornell, em 1969. É um tipo de arte que, por suas
características, não é possível expor em museus ou galerias (a não ser por meio de fotografias).
Devido às muitas dificuldades de colocar-se em prática os esquemas de land art, suas obras muitas
vezes não vão além do estágio de projecto. Assim, a afinidade com a arte conceitual é mais do que
apenas aparente. Dentre as obras de land art que foram efetivamente realizadas, a mais conhecida
talvez seja a Plataforma Espiral (Spiral Jetty), de Robert Smithson (1970), construída no Grande Lago
Salgado, em Utah, nos Estados Unidos da América”.

195
OUTRAS POSSIBILIDADES DE PROJECTOS A CONSIDERAR / QUESTÔES A
DISCUTIR

- Que articulação com a colecção e actividade da Ellipse Foundation?

- Que articulação com as empresas de Multilédia e os media, com um peso forte nos
concelhos de Lisboa, e Oeiras e Sintra?

- Que papel para o Autódromo do Estoril?

- Como aumentar a ligação do tecido institucional cultural e criativo ao Casino?

- Que envolvimento da Fundação D. LuisI?

- Que articulação com o projecto Museu Paula Rego?

196
Nota conclusiva:
Sequência dos Trabalhos

197
8.1. Nota Conclusiva

Este estudo pretende analisar o potencial de desenvolvimento do concelho de Cascais


com base nas indústrias criativas, partindo da avaliação dos recursos criativos existentes e
latentes no concelho.
O presente relatório, de carácter intermédio, pode ser dividido em três grandes partes.
Nos capítulos 2 e 3 procurámos circunscrever o nosso campo de análise das indústrias
criativas para o concelho de Cascais e apresentámos variados exemplos internacionais de
intervenção pública bem sucedida no campo das cidades criativas. Este trabalho de
refinamento teórico e de benchmarking internacional (à falta de grandes exemplos
nacionais) permitiu-nos desenvolver um conjunto de ferramentas que nos guiaram no
desenvolvimento do nosso trabalho no concelho de Cascais. A avaliação do concelho ateve-
se em dois aspectos fundamentais (capítulos 4 e 5): por um lado, o mapeamento e
diagnóstico dos sectores cultural e criativo do concelho e sua comparação com os
concelhos vizinhos; por outro lado, a avaliação qualitativa do potencial criativo do concelho,
tendo em conta os recursos existentes. Esta avaliação foi depois sistematizada no capítulo
6 através de uma análise SWOT (evidenciando Potencialidades; Fraquezas; Oportunidades
e Ameaças). Partindo deste quadro, desenvolveu-se por fim no capítulo 7 um conjunto de
oito propostas exploratórias de intervenção no concelho de Cascais que contribuirão para a
afirmação do concelho como “cidade criativa”.
Como já salvaguardámos, estas propostas são preliminares e têm um carácter
exploratório. Só através do diálogo com os principais actores do concelho podem estas
propostas ser pormenorizadas e articuladas de forma a se conseguir desenvolver e
implementar intervenções maximizadoras do potencial criativo latene no concelho, numa
persectiva territorializada. Sublinhamos aliás que do sucesso da fase que se avizinha do
nosso trabalho, é condição fundamental o envolvimento das forças vivas do concelho. O
relatório final procurará assim, não só absorver as reacções e contributos dos diversos
agentes, mas também incorporar nova informação empírica (do Censos e de outras fontes
estatísticas) ainda a explorar nalgumas vertentes do diagnóstico. Estes novos inputs
permitir-nos-ão concretizar ainda o índice de criatividade e a “abordagem tridente” do
mapeamento das actividades criativas, já modelizados neste relatório, bem como apresentar
as nossas propostas para as intervenções já como um plano integrado de políticas públicas
traduzido num plano de acção concreto e amplamente discutido e participado.

198
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Lima, M. J. e Neves, J. S., 2005, Cascais e a 'Memória dos Exílios', Lisboa: OAC,

Documentos de Trabalho.

Matarrasso, F., 1999, Towards a local Culture Índex: Measuring the Cultural Vitality of

Communities, London, Comedia.

Martinho, T. D. e Gomes, R. T. 2005. O Centro Cultural de Cascais: Estudo de um

Equipamento Municipal, Lisboa: OAC, Documentos de Trabalho.

Marcus, C. 2005. Future of Creative Industries: Implications for Research Policy, European

Commission, Brussels.

NESTA, 2006, Creating Growth-How the UK can develop world class creative business,

London, NESTA Research Report.

NESTA, 2008, Beyond the creative industries, London, NESTA Techincal Report.

Nunes, J. S. e Neves, J. S. 2005. As Bibliotecas Municipais de Cascais, Lisboa: OAC,

Documentos de Trabalho.

Observatório do QCA III, 2007, “Quadro de Referência Estratégico Nacional – Portugal

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O’Connor J., 1999, The Definition of ‘Cultural Industries’, Manchester Institute For Popular

Culture, Manchester Metropolitan University.

Pinheiro, J. e Gomes, R. T. 2005, Associativismo Cultural em Cascais, Lisboa: OAC,

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Pratt A., 1999, The Creative Industries in the UK: national, regional and local dimensions,

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The Culture Industries in Europe. International Success through Regional Strengths? A

Comparison of Development Concepts, Essen, 20th May 1999.

Pratt, A., 2003, Defining, Measuring and Benchmarking the Creative Industries: the cultural

industries production web approach, Presented at, Hong Kong SAR Government special

202
conference on the creative industries, Central Policy Unit, Hong Kong, 24th September

2003.

Pratt, A., 2004, Mapping the Cultural Industries: Regionalisation; The Example of South East

England, in Scott, A. J., Power, D., The Cultural Industries and the Production of Culture,

London, Routledge.

Ruiz, J. P. , Dragojevic, S. , 2007, Guide to Citizen Participation in Local Cultural Policy

Development for European Cities, Brussels, European Cultural Foundation, Interarts

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Santos, M. L., 1998, As Políticas Culturais em Portugal, Observatório das Actividades

Culturais, Lisboa.

Santos, M. L. (coordenação) e Neves, J. S., 2005, Cartografia Cultural do Concelho de

Cascais, Lisboa: OAC, Documentos de Trabalho.

Santos, J. A. e Neves, J. S. 2005, Os Museus Municipais de Cascais, Lisboa: OAC,

Documentos de Trabalho.

UNITED NATIONS, 2008, Creative Economy – The Challenge of Assessing the Creative

Economy; Towards Informed Policy - Making, UNCTAD, Geneva.

203
Anexos

204
ANEXO - A

Tabela 1.1 – Classificação DCMS por Indústria Criativa (SIC)

SIC Descrição da Indústria


221 Publishing
2211 Publishing of books
2212 Publishing of newspapers
2213 Publishing of journals and periodicals
2214 Publishing of sound recordings
2215 Other publishing
362 Manufacture of jewellery and related articles
3622 Manufacture of jewellery and related articles not elsewhere classified
72 Computer activities (but subject to disaggregation into 7220 and 7260)
7220 Computer software consultancy
742 Architectural and engineering activities and related technical
74201 Architectural and engineering activities and related technical consultancy
744 Advertising
7440 Advertising
7481 Photographic activities
920 Recreational, cultural and sporting activities n.o.s.
921 Motion picture and video activities
9211 Motion picture and video production
922 Radio and television activities
9220 Radio and television activities
923 Other entertainment activities
9231 Artistic and literary creation and interpretation
9232 Operation of arts facilities
9234 Other entertainment activities not elsewhere classified
924 News agency activities
9240 News agency activities
925 Library, archives, museums and other cultural activities
9251 Library and archive activities
9252 Museum activities and preservation of historical sites and buildings

Fonte: Beyond Creative Industries - report by NESTA

205
Tabela 1.2 - Classificação DCMS por Ocupação Criativa (SOC)

SOC Descrição da Ocupação

1134 Advertising and public relations managers

2131 IT strategy and planning professionals

2132 Software professionals

2431 Architects

2432 Town Planners

2451 Librarians

2452 Archivists and curators

3121 Architectural technologists and Town Planning technicians

3122 Draughtspersons

3411 Artists

3412 Authors, writers

3413 Actors, entertainers

3414 Dancers and choreographers

3415 Musicians

3416 Arts officers, producers and directors

3421 Graphic designers

3422 Product, clothing and related designers

3431 Journalists, newspaper and periodical editors

3432 Broadcasting associate professionals

3434 Photographers and audio-visual equipment operators

3543 Marketing associate professionals

4135 Library assistants/clerks

5421 Originators, compositors and print preparers

5491 Glass and ceramics makers, decorators and finishers

5492 Furniture makers, other craft woodworkers

5495 Goldsmiths, silversmiths, precious stone workers

Fonte: Beyond Creative Industries - report by NESTA

206
Tabela 1.3 – Classificação KEA das actividades Culturais e Criativas

NACE 1.1
Culture / Creative Industry (1)
(EU)
Advertising 74.40

Architecture 74.20 x

22.32 x
Video, film and photography 92.10

92.72 x
(of which: Photography) 74.87 x
74.81 x

22.14
Music and the visual and performing arts 22.31 x

Sound recording and music publishing 92.31


92.32
Visual and Performing arts
(including Festivals) 92.34 x
92.72 x

Publishing / Written media 22.11


22.12
22.13
22.15 x

74.87 x
92.40
Printing 22.2

92.20
Radio and TV (Broadcasting)
92.72 x

52.12 x
52.48 x
Art and antiques trade
52.63 x
52.50 x

Design (including Designer Fashion) 74.87 x

(very small proportion of these codes) 17.00 x


“ 18.00 x

“ 19.30 x

Crafts

Libraries (includes archives) 92.5

Museums 92.5 x

Historic and heritage sites 92.5 x

Other heritage institutions 92.5 x

22.33 x
Included in UK Creative industries list:
Computer games, Software, Electronic publishing
72.2 x

Fonte: International Measurement of the Economic and Social Importance of Culture - OECD

207
ANEXO - B

Mapeamento das actividades criativas pela Classificação CAE

Tabela 2.1: Oeiras

1995
Incorporação de Distribuição de
Núcleo criativo Conteúdos nos produtos
Suportes reprodutíveis
N % N % N %
Emprego criativo 2843 8,533% 68 0,203% 658 1,976%
Artes visuais 0 0,000%
Artes Performativas 1 0,003%
Núcleo Património 0,000%
Actividades
Outras actividades de 4 0,011% 19 0,058%
Culturais
apoio e agenciamento...
0,000%
às artes e artistas
(transversal)
Cinema, vídeo e
229 0,687%
fotografia
Círculo 1 Televisão e Rádio 316 0,948%
Indústrias Vídeo Jogos (software 64 0,193% 639 1,918%
0,000%
Culturais criativo)
Música Gravada 5 0,015%
Livros e Imprensa 837 2,512%
Círculo 2 Design 775 2,327%
Indústrias e Arquitectura 46 0,138%
Actividades
Publicidade 160 0,480%
Criativas
Artesanato 14 0,042%
Ensino Artístico 229 0,687%
Indústrias Jogo, entretenimento e
Relacionadas parques de diversão e 22 0,065%
entretenimento
Turismo 209 0,628%

2000
Incorporação de Distribuição de
Núcleo criativo Conteúdos nos produtos
Suportes reprodutíveis
N % N % N %
Emprego criativo 2987 5,901% 26 0,051% 871 1,721%
Artes visuais 2 0,004%
Artes Performativas 16 0,032%
Núcleo
Actividades Património 2 0,004%
Outras actividades de 1 0,002% 41 0,081%
Culturais
apoio e agenciamento...
0,000%
às artes e artistas
(transversal)
Cinema, vídeo e
161 0,318%
fotografia
Círculo 1 Televisão e Rádio 560 1,106%
Indústrias Vídeo Jogos (software 24 0,048% 830 1,640%
0,000%
Culturais criativo)
Música Gravada 33 0,065%
Livros e Imprensa 1300 2,568%
Círculo 2 Design 0,000%
Indústrias e Arquitectura 65 0,128%
Actividades
Publicidade 342 0,676%
Criativas
Artesanato 10 0,019%
Ensino Artístico 56 0,111%
Indústrias Jogo, entretenimento e
Relacionadas parques de diversão e 23 0,046%
entretenimento
Turismo 416 0,822%

208
2005
Incorporação de Distribuição de
Núcleo criativo Conteúdos nos produtos
Suportes reprodutíveis
N % N % N %
Emprego Total 90048
Emprego criativo 6825 7,579% 35 0,038% 1196 1,328%
Artes visuais 6 0,007%
Artes Performativas 34 0,038%
Núcleo
Actividades Património 1 0,001%
Outras actividades de 3 0,003% 70 0,078%
Culturais
apoio e agenciamento...
1030 1,144%
às artes e artistas
(transversal)
Cinema, vídeo e
466 0,518%
fotografia
Círculo 1 Televisão e Rádio 1088 1,208%
Indústrias Vídeo Jogos (software 32 0,035% 1126 1,250%
11 0,012%
Culturais criativo)
Música Gravada 25 0,028%
Livros e Imprensa 1782 1,979%
Círculo 2 Design 775 0,861%
Indústrias e Arquitectura 140 0,155%
Actividades
Publicidade 712 0,791%
Criativas
Artesanato 0 0,000%
Ensino Artístico 56 0,062%
Indústrias Jogo, entretenimento e
Relacionadas parques de diversão e 21 0,024%
entretenimento
Turismo 678 0,0075315

TAXAS DE CRESCIMENTO 1995-2005


Distribuição de
Incorporação de
Núcleo criativo produtos
Suportes
reprodutíveis
Emprego Total 170%
Núcleo Emprego criativo 140% 81,69%
Actividades Artes visuais -
Culturais Artes Performativas 3300%
Património - -21% 265%
Outras actividades de apoio e
agenciamento... às artes e -
Círculo 1 artistas (transversal)
Indústrias Cinema, vídeo e fotografia 103%
Culturais Televisão e Rádio 244%
Vídeo Jogos (software criativo) - -51% 76%
Música Gravada 400%
Círculo 2 Livros e Imprensa 113%
Indústrias e Design 0%
Actividades
Arquitectura 204%
Criativas
Publicidade 345%
Artesanato -100%
Indústrias Ensino Artístico -76%
Relacionadas Jogo, entretenimento e parques
-2%
de diversão e entretenimento
Turismo 224%

209
Tabela 2.2: Lisboa

1995
Incorporação de Distribuição de
Núcleo criativo Conteúdos nos produtos
Suportes reprodutíveis
N % N % N %
Emprego Total 445958
Emprego criativo 9941 2,229% 120 0,027% 1284 0,288%
Artes visuais 133 0,030%
Artes Performativas 99 0,022%
Núcleo Actividades Património 13 0,003%
Culturais Outras actividades de 17 0,004% 131 0,029%
apoio e agenciamento...
0 0,000%
às artes e artistas
(transversal)
Cinema, vídeo e
466 0,104%
fotografia
Televisão e Rádio 1493 0,335%
Círculo 1 Indústrias
Vídeo Jogos (software 103 0,023% 1153 0,259%
Culturais 0 0,000%
criativo)
Música Gravada 19 0,004%
Livros e Imprensa 3384 0,759%
Design 895 0,201%
Círculo 2 Indústrias e
Arquitectura 259 0,058%
Actividades Criativas
Publicidade 749 0,168%
Artesanato 101 0,023%
Ensino Artístico 418 0,094%
Indústrias Jogo, entretenimento e
Relacionadas parques de diversão e 359 0,080%
entretenimento
Turismo 1553 0,348%

2000
Incorporação de Distribuição de
Núcleo criativo Conteúdos nos produtos
Suportes reprodutíveis
N % N % N %
Emprego Total 461316
Emprego criativo 14015 3,038% 77 0,017% 4479 0,971%
Artes visuais 182 0,039%
Artes Performativas 311 0,067%
Núcleo Actividades Património 67 0,015%
Culturais Outras actividades de 10 0,002% 340 0,074%
apoio e agenciamento...
0,000%
às artes e artistas
(transversal)
Cinema, vídeo e fotografia 887 0,192%
Televisão e Rádio 2229 0,483%
Círculo 1 Indústrias Vídeo Jogos (software
1 0,000% 68 0,015% 4140 0,897%
Culturais criativo)
Música Gravada 42 0,009%
Livros e Imprensa 4514 0,979%
Design 0,000%
Círculo 2 Indústrias e
Arquitectura 437 0,095%
Actividades Criativas
Publicidade 1613 0,350%
Artesanato 114 0,025%
Ensino Artístico 738 0,160%
Indústrias Jogo, entretenimento e
Relacionadas parques de diversão e 196 0,042%
entretenimento
Turismo 2685 0,582%

210
2005
Incorporação de Distribuição de
Núcleo criativo Conteúdos nos produtos
Suportes reprodutíveis
N % N % N %
Emprego Total 513500
Emprego criativo 37434 7,290% 50 0,010% 7086 1,380%
Artes visuais 245 0,048%
Artes Performativas 986 0,192%
Núcleo Actividades Património 349 0,068%
Culturais Outras actividades de 11 0,002% 746 0,145%
apoio e agenciamento...
3836 0,747%
às artes e artistas
(transversal)
Cinema, vídeo e fotografia 1776 0,346%
Televisão e Rádio 2996 0,583%
Círculo 1 Vídeo Jogos (software
214 0,042% 38 0,007% 6340 1,235%
Indústrias Culturais criativo)
Música Gravada 72 0,014%
Livros e Imprensa 6398 1,246%
Círculo 2 Design 4731 0,921%
Indústrias e Arquitectura 1053 0,205%
Actividades
Publicidade 2926 0,570%
Criativas
Artesanato 142 0,028%
Ensino Artístico 1365 0,266%
Indústrias Jogo, entretenimento e
Relacionadas parques de diversão e 6335 1,234%
entretenimento
Turismo 4012 0,781%

TAXAS DE CRESCIMENTO 1995-2005


Distribuição de
Incorporação
Núcleo criativo produtos
de Suportes
reprodutíveis
Emprego Total 15%
Emprego criativo 277% -0,640496586
Artes visuais 84%
Artes Performativas 896%
Património 2585%
Núcleo Actividades
Culturais Outras actividades -32% 472%
de apoio e
agenciamento... às -
artes e artistas
(transversal)
Cinema, vídeo e
281%
fotografia
Televisão e Rádio 101%
Círculo 1 Indústrias
Vídeo Jogos -63% 450%
Culturais -
(software criativo)
Música Gravada 279%
Livros e Imprensa 89%
Círculo 2 Indústrias Design 428%
e Actividades Arquitectura 307%
Criativas Publicidade 291%
Artesanato 40%
Ensino Artístico 227%
Jogo,
Indústrias
entretenimento e
Relacionadas 1666%
parques de diversão
e entretenimento
Turismo 158%

211
Tabela 2.3: Sintra

1995
Incorporação de Distribuição de
Núcleo criativo Conteúdos nos produtos
Suportes reprodutíveis
N % N % N %
Emprego Total 46783
Emprego criativo 1532 3,275% 43 0,091% 163 0,349%
Artes visuais 1 0,002% 0,011% 0,045%
Núcleo Artes Performativas 1 0,002% 0,000% 0,000%
Actividades Património 1 0,002% 0,000% 0,000%
5 21
Culturais Outras actividades de apoio e
agenciamento... às artes e 0 0,000% 0,000% 0,000%
artistas (transversal)
Cinema, vídeo e fotografia 49 0,105% 0,081% 0,303%
Círculo 1 Televisão e Rádio 17 0,036% 0,000% 0,000%
Indústrias Vídeo Jogos (software criativo) 0 0,000% 38 0,000% 142 0,000%
Culturais Música Gravada 3 0,006% 0,000% 0,000%
Livros e Imprensa 1062 2,270% 0,000% 0,000%
Círculo 2 Design 61 0,129%
Indústrias e Arquitectura 32 0,068%
Actividades
Publicidade 70 0,150%
Criativas
Artesanato 12 0,026%
Ensino Artístico 42 0,091%
Indústrias Jogo, entretenimento e
Relacionadas parques de diversão e 28 0,060%
entretenimento
Turismo 153 0,327%

2000
Incorporação de Distribuição de
Núcleo criativo Conteúdos nos produtos
Suportes reprodutíveis
N % N % N %
Emprego Total 64939
Emprego criativo 2208 3,400% 33 0,051% 935 1,440%
Artes visuais 0 0,000%
Núcleo Artes Performativas 9 0,014%
Actividades Património 1 0,002%
8 0,012% 45 0,069%
Culturais Outras actividades de apoio e
agenciamento... às artes e 0 0,000%
artistas (transversal)
Cinema, vídeo e fotografia 68 0,105%
Círculo 1 Televisão e Rádio 15 0,023%
Indústrias Vídeo Jogos (software criativo) 0 0,000% 25 0,039% 890 1,371%
Culturais Música Gravada 4 0,006%
Livros e Imprensa 1467 2,259%
Círculo 2 Design 0 0,000%
Indústrias e Arquitectura 66 0,102%
Actividades
Publicidade 194 0,299%
Criativas
Artesanato 7 0,011%
Ensino Artístico 64 0,098%
Indústrias Jogo, entretenimento e
Relacionadas parques de diversão e 21 0,032%
entretenimento
Turismo 292 0,450%

212
2005
Incorporação de Distribuição de
Núcleo criativo Conteúdos nos produtos
Suportes reprodutíveis
N % N % N %
Emprego Total 81670
Emprego criativo 4326 5,296% 34 0,042% 2157 2,641%
Artes visuais 0 0,000%
Núcleo Artes Performativas 108 0,132%
Actividades Património 0 0,000% 4 0,005% 145 0,177%
Culturais Outras actividades de apoio e
agenciamento... às artes e 201 0,246%
artistas (transversal)
Cinema, vídeo e fotografia 106 0,130%
Círculo 1 Televisão e Rádio 22 0,027%
Indústrias Vídeo Jogos (software criativo) 7 0,009% 30 0,036% 2012 2,464%
Culturais Música Gravada 1 0,001%
Livros e Imprensa 2671 3,270%
Círculo 2 Design 260 0,318%
Indústrias e Arquitectura 99 0,121%
Actividades
Publicidade 221 0,271%
Criativas
Artesanato 15 0,018%
Ensino Artístico 149 0,182%
Indústrias
Jogo, entretenimento e parques
Relacionadas 14 0,017%
de diversão e entretenimento
Turismo 452 0,554%

2005
Incorporação de Distribuição de
Núcleo criativo Conteúdos nos produtos
Suportes reprodutíveis

N % N % N %
Emprego Total 81670
Emprego criativo 4326 5,296% 34 0,042% 2157 2,641%
Artes visuais 0 0,000% 4 0,005% 145 0,177%
Núcleo Artes Performativas 108 0,132%
Actividades Património 0 0,000%
Culturais Outras actividades de apoio e
agenciamento... às artes e 201 0,246%
artistas (transversal)
Cinema, vídeo e fotografia 106 0,130%
Televisão e Rádio 22 0,027%
Círculo 1
Vídeo Jogos (software
Indústrias 7 0,009% 30 0,036% 2012 2,464%
criativo)
Culturais
Música Gravada 1 0,001%
Livros e Imprensa 2671 3,270%
Círculo 2 Design 260 0,318%
Indústrias e Arquitectura 99 0,121%
Actividades
Publicidade 221 0,271%
Criativas
Artesanato 15 0,018%
Ensino Artístico 149 0,182%
Indústrias Jogo, entretenimento e
Relacionadas parques de diversão e 14 0,017%
entretenimento
Turismo 452 0,554%

213
TAXAS DE CRESCIMENTO 1995-2005
Distribuição de
Incorporação de
Núcleo criativo produtos
Suportes
reprodutíveis
Emprego Total
Emprego criativo 182% -20% -54,428%
Artes visuais -100%
Núcleo Artes Performativas 10700%
Actividades Património -100% -15% 580%
Culturais Outras actividades de apoio e
agenciamento... às artes e -
artistas (transversal)
Cinema, vídeo e fotografia 116%
Círculo 1 Televisão e Rádio 29%
Indústrias Vídeo Jogos (software criativo) - -21% 1318%
Culturais Música Gravada -67%
Livros e Imprensa 152%
Círculo 2 Design 329%
Indústrias e Arquitectura 209%
Actividades
Publicidade 216%
Criativas
Artesanato 22%
Ensino Artístico 251%
Indústrias Jogo, entretenimento e
Relacionadas parques de diversão e -50%
entretenimento
Turismo 196%

Tabela 2.4: Grande Área Metropolitana de Lisboa

1995
Incorporação de Distribuição de
Núcleo criativo Conteúdos nos produtos
Suportes reprodutíveis
N % N % N %
Emprego Total 376464
Emprego criativo 19179 5,09% 1114 0,30% 5776 1,53%
Artes visuais 184 0,05%
Artes Performativas 144 0,04%
Núcleo Actividades Património 22 0,01%
Culturais Outras actividades de 38 0,01% 323 0,09%
apoio e
agenciamento... às 0 0,00%
artes e artistas
(transversal)
Cinema, vídeo e
936 0,25%
fotografia
Televisão e Rádio 1880 0,50%
Círculo 1 Indústrias
Vídeo Jogos 1076 0,29% 5453 1%
Culturais 0 0,00%
(software criativo)
Música Gravada 43 0,01%
Livros e Imprensa 7324 1,95%
Design 2113 0,56%
Círculo 2 Indústrias e
Arquitectura 467 0,12%
Actividades Criativas
Publicidade 1207 0,32%
Artesanato 216 0,06%
Ensino Artístico 635 0,17%
Indústrias Jogo, entretenimento
Relacionadas e parques de diversão 1251 0,33%
e entretenimento
Turismo 2758 0,73%

214
2000
Incorporação de Distribuição de
Núcleo criativo Conteúdos nos produtos
Suportes reprodutíveis
N % N % N %
Emprego Total 546773
Emprego criativo 25123 4,59% 850 0,156% 9155 1,674%
Artes visuais 189 0,03%
Artes Performativas 406 0,07%
Núcleo Actividades Património 82 0,01%
Culturais Outras actividades de 33 0,006% 608 0,111%
apoio e agenciamento…
2 0,00%
às artes e artistas
(transversal)
Cinema, vídeo e
1429 0,26%
fotografia
Televisão e Rádio 2873 0,53%
Círculo 1 Indústrias
Vídeo Jogos (software 817 0,149% 8547 1,563%
Culturais 1 0,00%
criativo)
Música Gravada 88 0,02%
Livros e Imprensa 9791 1,79%
Círculo 2 Indústrias Design 0 0,00%
e Actividades Arquitectura 826 0,15%
Criativas Publicidade 2645 0,48%
Artesanato 234 0,04%
Ensino Artístico 1084 0,20%
Indústrias Jogo, entretenimento e
Relacionadas parques de diversão e 521 0,10%
entretenimento
Turismo 4952 0,91%

2005
Incorporação de Distribuição de
Núcleo criativo Conteúdos nos produtos
Suportes reprodutíveis
N % N % N %
Emprego Total 996426
Emprego criativo 57649 5,786% 896 0,090% 14569 1,462%
Artes visuais 266 0,027%
Artes Performativas 1397 0,140%
Património 365 0,037%
Outras actividades de 51 0,005% 1541 0,155%
Núcleo Actividades
Culturais apoio e agenciamento...
6355 0,638%
às artes e artistas
(transversal)
Cinema, vídeo e
2851 0,286%
fotografia
Televisão e Rádio 4510 0,453%
Vídeo Jogos (software 846 0,085% 13028 1,307%
253 0,025%
Círculo 1 Indústrias criativo)
Culturais Música Gravada 154 0,015%
Livros e Imprensa 15147 1,520%
Design 8294 0,832%
Círculo 2 Indústrias Arquitectura 1867 0,187%
e Actividades Publicidade 4664 0,468%
Criativas Artesanato 263 0,026%
Ensino Artístico 2278 0,229%
Jogo, entretenimento e
Indústrias
parques de diversão e 1302 0,131%
Relacionadas
entretenimento
Turismo 7682 0,771%

215
TAXAS DE CRESCIMENTO 1995-2005
Incorporação de Distribuição de
Núcleo criativo
Suportes produtos reprodutíveis
Emprego Total 165%
Emprego criativo 201% -20% 152,247%
Artes visuais 45%
Artes
870%
Performativas
Núcleo Actividades Património 1559%
Culturais Outras actividades 34% 377%
de apoio e
agenciamento... às -
artes e artistas
(transversal)
Cinema, vídeo e
205%
fotografia
Televisão e Rádio 140%
Círculo 1 Indústrias
Vídeo Jogos -21% 139%
Culturais -
(software criativo)
Música Gravada 258%
Livros e Imprensa 107%
Círculo 2 Indústrias Design 293%
e Actividades Arquitectura 300%
Criativas Publicidade 286%
Artesanato 22%
Ensino Artístico 259%
Jogo,
Indústrias entretenimento e
Relacionadas parques de 4%
diversão e
entretenimento
Turismo 179%

216
ANEXO - C

Mapeamento das actividades criativas através da Classificação Nacional de


Profissões (CNP)

Tabela 3.1 - Oeiras


1995 2000 2005 Taxas de crescimento
N % N % N % (1995-2005)
Emprego Total 32425 49369 90048 177.71%
Emprego Criativo 1108 3.42% 1783 3.61% 3236 3.59% 192.06%
Artes Visuais 14 0.04% 23 0.05% 124 0.14% 785.71%
Artes Performativas 18 0.06% 28 0.06% 57 0.06% 216.67%
Património 23 0.07% 20 0.04% 56 0.06% 143.48%
Filmes 148 0.46% 223 0.45% 486 0.54% 228.38%
TV 184 0.57% 256 0.52% 582 0.65% 216.30%
Musica 5 0.02% 1 0.00% 4 0.00% -20.00%
Publicações 162 0.50% 339 0.69% 650 0.72% 301.23%
Design 8 0.02% 9 0.02% 17 0.02% 112.50%
Arquitectura 311 0.96% 531 1.08% 839 0.93% 169.77%
Publicidade 62 0.19% 90 0.18% 118 0.13% 90.32%
Manufactura 171 0.53% 263 0.53% 303 0.34% 77.19%
Ensino Artístico 2 0.01% 0 0.00% 0 0.00% -

Tabela 3.2 - Sintra


1995 2000 2005 Taxas de Crescimento
N % N % N % (1995-2005)
Emprego Total 29357 43850 81670 178.20%
Emprego Criativo 627 2.14% 954 2.18% 2122 2.60% 238.44%
Artes Visuais 7 0.02% 24 0.05% 80 0.10% 1042.86%
Artes Performativas 8 0.03% 10 0.02% 35 0.04% 337.50%
Património 6 0.02% 8 0.02% 16 0.02% 166.67%
Filmes 67 0.23% 78 0.18% 299 0.37% 346.27%
TV 71 0.24% 77 0.18% 315 0.39% 343.66%
Musica 0 0.00% 1 0.00% 0 0.00% -
Publicações 35 0.12% 94 0.21% 224 0.27% 540.00%
Design 7 0.02% 10 0.02% 30 0.04% 328.57%
Arquitectura 231 0.79% 389 0.89% 591 0.72% 155.84%
Publicidade 13 0.04% 32 0.07% 45 0.06% 246.15%
Manufactura 180 0.61% 231 0.53% 487 0.60% 170.56%
Ensino Artístico 2 0.01% 0 0.00% 0 0.00% -100.00%

217
Tabela 3.3 – Grande Área Metropolitana de Lisboa

1995 2000 2005 Taxas de Crescimento


N % N % N % (1995-2000)
Emprego Total 358001 529252 996426 178.33%
Emprego Criativo 8662 2.42% 12230 2.31% 22770 2.29% 162.87%
Artes Visuais 246 0.07% 321 0.06% 994 0.10% 304.07%
Artes Performativas 339 0.09% 491 0.09% 932 0.09% 174.93%
Património 156 0.04% 285 0.05% 372 0.04% 138.46%
Filmes 1158 0.32% 1353 0.26% 3577 0.36% 208.89%
TV 1441 0.40% 1661 0.31% 4051 0.41% 181.12%
Musica 59 0.02% 212 0.04% 295 0.03% 400.00%
Publicações 867 0.24% 1675 0.32% 3010 0.30% 247.17%
Design 128 0.04% 221 0.04% 485 0.05% 278.91%
Arquitectura 2615 0.73% 3787 0.72% 5736 0.58% 119.35%
Publicidade 354 0.10% 531 0.10% 914 0.09% 158.19%
Manufactura 1243 0.35% 1693 0.32% 2404 0.24% 93.40%
Ensino Artístico 56 0.02% 0 0.00% 0 0.00% -100.00%

Tabela 3.4 - Lisboa


1995 2000 2005 Taxa de crescimento
N % N % N % (1995-2005)
Emprego Total 196836 283946 513500 160.88%
Emprego Criativo 5200 2.64% 7278 2.56% 12244 2.38% 135.46%
Artes Visuais 194 0.10% 228 0.08% 644 0.13% 231.96%
Artes Performativas 260 0.13% 384 0.14% 652 0.13% 150.77%
Património 117 0.06% 235 0.08% 279 0.05% 138.46%
Filmes 719 0.37% 833 0.29% 1871 0.36% 160.22%
TV 946 0.48% 1086 0.38% 2180 0.42% 130.44%
Musica 48 0.02% 201 0.07% 278 0.05% 479.17%
Publicações 641 0.33% 1184 0.42% 2016 0.39% 214.51%
Design 73 0.04% 140 0.05% 318 0.06% 335.62%
Arquitectura 1493 0.76% 1982 0.70% 2731 0.53% 82.92%
Publicidade 237 0.12% 339 0.12% 631 0.12% 166.24%
Manufactura 472 0.24% 571 0.20% 644 0.13% 36.44%
Ensino Artístico 0 0.00% 95 0.03% 0 0.00% 0.00%

218
ANEXO - D
Tabela 1

219
Gráfico 1

Gráfico 2

220
ANEXO - E

Entrevistas
Lista de entidades consultadas até ao momento
(fase de diagnóstico)

Para além de reuniões diversas de acompanhamento do trabalho tidas com o gabinete


da presidência da CMC, em particular nas pessoas do Vereador Dr. Carlos Carreiras
(Vice – Presidente) e do Eng.º Miguel Luz, foi possível realizar até ao momento consultas
às seguintes entidades:

a) Na CMC
• Vereadora Dra. Ana Clara Justino (Vereadora Cultura e Educação)
• Vereador Dr. Pedro Caldeira Santos (Vereador Finanças e Recursos Humanos)
• Dr. António Carvalho (Director do Departamento Cultura)
• Dra. Catarina Coelho (Agenda Cultural)

b) Nas agências municipais (apresentação conjunta, com a Agenda Local XXI)


• Cascais Natura (Arq. João Cardoso de Melo / Eng.º Luís Capão)
• DNA (Dr. Marco Fernandes / Dr. Gonçalo Lage)
• Cascais Atlântico (Dra. Ana Margarida Ferreira / Dra. Mª João Faria)
• Cascais Energia (Dr. Rogério Ivan Rodrigues)
• Agenda Local Cascais XXI (Dra. Rita Herédia / Dr. João Diniz / Dra. Joana Correia
da Silva)

c) Outras entidades externas ou participadas pela CMC


• Estoril Sol – Casino do Estoril – Dr. Assis Ferreira
• Ellipse Foundation - Dra. Filipa Sanchez
• Santa Casa da Misericórdia - Eng. Joaquim Elias Gonçalves / Dra. Isabel Migueis
• Associação Internacional de Música da Costa do Estoril – Prof. Pinheiro Nagy
• Orquestra da Câmara de Cascais e Oeiras - Maestro Nikolay Lalov
• Teatro Experimental de Cascais - Carlos Avillez
• Fundação D. Luís I - Prof. Telles de Menezes
• Museu da Música – Mª Conceição Almeida

221

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