You are on page 1of 16

s í s i f o / r e v i s t a d e c i ê n c i a s d a e d u c a ç ã o · n .

º 2 · j a n / a b r 0 7 issn 1649 ‑4990

A educação de jovens e adultos


trabalhadores brasileiros no século XXI.
O “novo” que reitera antiga destituição de direitos

Sonia Maria Rummert


Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense
rummert@uol.com.br

Resumo:
Tratamos, neste texto, de iniciativas empreendidas pelo Governo Federal, no âmbito da
Educação de Jovens e Adultos trabalhadores, no Brasil, no período de 2003 a 2006. São
abordados: o Projeto Escola de Fábrica, o Programa Nacional de Inclusão de Jovens: Edu‑
cação, Qualificação e Ação Comunitária — PROJOVEM, o Programa Nacional de Inte‑
gração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de
Jovens e Adultos — PROEJA e o Exame Nacional de Certificações de Competências em
Educação de Jovens e Adultos — ENCCEJA. A análise efetuada parte do pressuposto de
que o campo da educação é fortemente marcado por condicionantes estruturais e que as
ações de governo constituem expressão dos processos de correlações de forças. Procura­‑se
evidenciar, a partir de documentos oficiais, o fato de que essa modalidade de ensino cons‑
titui uma das mais claras expressões da dualidade característica do sistema educacional
do país que, até os dias atuais, distribui de forma profundamente desigual as condições de
acesso às bases do conhecimento.1

Palavras­‑chave:
Educação de jovens e adultos trabalhadores, políticas educacionais, educação e condicio‑
nantes estruturais, educação da classe trabalhadora.

Rummert, Sonia Maria (2007). A Educação de Jovens e Adultos Trabalhadores brasileiros no


Século XXI. O “novo” que reitera antiga destituição de direitos. Sísifo. Revista de Ciências da
Educação, 2, pp. 35‑50
Consultado em [mês, ano] em http://sisifo.fpce.ul.pt

35
As atuais iniciativas referentes à Educação de Jovens anos, a freqüência à escola era ainda mais reduzida,
e Adultos trabalhadores, no Brasil, adotadas pelo um privilégio para 31,6% das pessoas nessa faixa
Governo Federal, são marcadas por duas ordens de etária” (itálico meu). Especificamente no que diz
questões, de caráter socioeconômico, que se com‑ respeito ao Ensino Médio, verificamos, na mesma
plementam. A primeira constitui expressão histó‑ Síntese, que somente 45,3% dos jovens entre 15 e 18
rica do quadro de distribuição profundamente desi‑ anos o cursavam no ano de 2005.
gual dos bens materiais e simbólicos, bem como da Ao chamar a atenção para o fato de que “no con‑
negação dos direitos fundamentais — entre os quais texto latino­‑americano, países como Argentina e
se destaca o direito pleno à educação — para a maio‑ Chile apresentam apenas taxas residuais de analfa‑
ria da classe trabalhadora. A segunda, de origem betismo (em torno de 3%)”, em oposição ao percen‑
recente, resulta das repercussões internas da rees‑ tual de 11,7% registrado no Brasil, o documento evi‑
truturação produtiva, do aprofundamento do pro‑ dencia o fato de que nos encontramos ainda muito
cesso de internacionalização do capital e da redefini‑ distantes da universalização da educação básica.
ção das condições de inserção dependente e subor‑ Tal distância, que não pode ser explicada por qual‑
dinada do país no capitalismo internacional, a par‑ quer argumento de caráter determinista, decorre de
tir do final dos anos de 1980. Esse quadro repercu‑ opções de ordem política e econômica que marcam
tiu no campo educacional com a retomada da Teo‑ a história do país e que repercutem de forma deci‑
ria do Capital Humano, reapropriada, de modos siva no plano educacional. Nesse quadro, não pode‑
similares, pelo Estado, pelo Capital e pelo Trabalho mos ignorar o fato de que a classe trabalhadora bra‑
(Rummert, 2000, 2005a). sileira não vem constituindo, nas últimas décadas,
O país chega, assim, a meados da primeira década força social suficientemente expressiva na luta pelo
do século XXI, enfrentando a baixa escolaridade da direito ao acesso e à permanência em todo o percurso
população, cujos índices se mantêm elevados, como formativo referente à Educação Básica pública e gra‑
demonstrado na mais recente Síntese de Indicado‑ tuita, em tempo regular, cuja conclusão continua,
res Sociais divulgada pelo Instituto Brasileiro de assim, a constituir um privilégio, conforme assina‑
Geografia e Estatística (IBGE, 2006). Nela afirma­ lado pelo próprio órgão governamental2.
‑se que, em 2005, o país “contava com cerca de 14,9 O país encontra­‑se, portanto, numa situação
milhões de pessoas de 15 anos ou mais analfabetas”. aparentemente paradoxal. Por um lado, convive
É informado, também, que “apenas 53,5% dos alu‑ com elevados índices de analfabetismo absoluto e
nos concluíam a última série do ensino fundamen‑ funcional, com baixas taxas de terminalidade do
tal”. No que se refere especificamente à juventude, Ensino Fundamental e com possibilidades ainda
o documento destaca que para os “jovens de 18 a 24 menores de acesso ao Ensino Médio, atingindo

36 sísifo 2 | sonia maria rummert | a educação de jovens e adultos tr abalhadores br asileiros…


particularmente a juventude. Tal quadro, entretan‑ ção dos processos produtivos e a educação escolar
to, não desencadeou, até hoje, por parte do Estado, no país. O autor chama a atenção para o fato de que
efetivas medidas de universalização da Educação nosso sistema produtivo se configura como “uma
Básica. Por outro lado, seguindo a tendência forte‑ mistura inorgânica de formas escravocratas e de for‑
mente hegemônica em âmbito mundial, os discursos mas industriais” (1993, p. 161), que impede a cons‑
dominantes atribuem à educação o ônus de colocar trução de uma sociedade organicamente moderna
o país em lugar de destaque no quadro econômico e desenvolvida. Convive­‑se, assim, com arroubos
internacional. A educação é, assim, (re)apresentada de modernidade, que se manifestam concomitan‑
como a via de superação das assimetrias de poder temente a diversas formas de expressão “de um sis‑
entre os países centrais e aqueles que aspiram ao tema produtivo desorgânico, estigmatizado pelo
ingresso no bloco hegemônico, bem como entre trabalho escravo, logo pelo não­‑trabalho moderno”
classes, frações de classe e indivíduos. (Idem, p. 160). Nesse tecido cultural particular,
Retoma­‑se, assim, em novas bases coaduna‑ em que arcaico e moderno convivem, se mesclam e
das com a atual fase de expansão e consolidação mesmo, muitas vezes, se desfiguram, produz­‑se um
do capital, matrizes ideológicas que atravessam as quadro desequilibrado e contraditório que imprime
últimas seis décadas e que foram alvo de clássico “uma profunda ruptura histórica, que atinge o nível
estudo de Anísio Teixeira (1962) ao analisar o que dos valores, da fantasia, da organicidade ético­‑moral
definia como conceitos falsos, por ele qualificados nacional” (Ibidem, p. 160).
como míticos ou mágicos, que já marcavam, à épo‑ Essas reflexões remetem à centralidade da cate‑
ca, o pensamento sobre a educação no país. Tratava­ goria hegemonia (Gramsci, 1978,1980) que confere
‑se, na visão do autor, de atribuir à escola um valor contornos claros e específicos à temática educacio‑
absoluto e de tomar a educação formal como meio nal. Por um lado, as forças dominantes e as carac‑
automático de ascensão social. Teixeira sublinhava, terísticas do atual estágio da produção capitalista
assim, a grande distância entre o que denominou não requerem, efetivamente, que a totalidade da
como valores proclamados, em oposição aos valo‑ população tenha assegurado o direito a toda a es‑
res reais norteadores das políticas educacionais. colaridade básica de qualidade (Rummert, 1995,
2000). Por outro, a difusão massiva da crença de
que a educação constitui a chave de ingresso exi‑
Condicionantes políticos e ­econômicos toso na esfera do “télos da economia competitiva”
das atuais ações de governo para a (Rodrigues, 1998) requer a oferta de simulacros de
Educação de Jovens e Adultos processos educacionais que propiciem à maioria da
população a crença de estar recebendo, do Esta‑
Particularmente a partir da segunda metade dos do, as oportunidades de superação individual das
anos de 1990, vivencia­‑se no país as conseqüências marcas do modelo socioeconômico. Introjetado no
das políticas de ajuste e de estabilização macroeco‑ tecido social o projeto identificatório dominante
nômica. Tais políticas geraram a elevação das taxas (Rummert, 2000, 2004), faz­‑se necessário imple‑
de desemprego, derivada da redução de postos for‑ mentar ações que, ao distribuir certificados de con‑
mais de trabalho que atingiu, até mesmo, os setores clusão de cursos de nível fundamental e médio e de
mais dinâmicos da indústria. Concomitantemente, formação profissional, concorrem, de modo signi‑
foram geradas e (ou) agudizadas várias condições ficativo, para construir o “consentimento ativo dos
favoráveis ao crescimento de trabalho precário, in‑ governados” (Gramsci, 1978).
formal, sazonal ou terceirizado, para os quais acor‑ Se, por um lado, a crença no sentido mítico ou
reram novos contingentes trabalhadores expulsos mágico da educação se aprofunda nos dias atuais,
do mercado formal e que se somaram àqueles já vi‑ não podemos ignorar o fato de que esta não consti‑
timados por nossa herança histórica de acumulação tui característica única de nosso tempo ou do Bra‑
capitalista subordinada e dependente. sil. Em seu clássico trabalho sobre a classe operária
Agrava­‑se, assim, um quadro já delineado por inglesa, Thompson (1987) evidencia que os traba‑
Nosella ao analisar as relações entre a moderniza‑ lhadores, de há muito, buscam na educação a via

sísifo 2 | sonia maria rummert | a educação de jovens e adultos tr abalhadores br asileiros… 37


supostamente mais factível para alterar suas condi‑ Lapedusa, em O Leopardo: “É preciso mudar para
ções de vida. Como exemplo, destaca registros, da‑ que tudo permaneça como está”.
tados do final do século XVIII, de reivindicações
voltadas ao “direito à educação, pela qual o filho do
trabalhador poderia ascender ‘ao nível mais elevado A Educação de Jovens e Adultos
da sociedade’” conforme documentos da época (p. ­t rabalhadores no Brasil atual
176) (itálico meu).
Em recente e detido estudo sobre as representa‑ O acompanhamento das ações relativas à educação
ções dos jovens portugueses quanto à relação entre dos jovens e adultos trabalhadores, no período de
escola e a suposta inserção exitosa no sistema pro‑ 2003 a 2006, durante o qual exerceu seu primeiro
dutivo, Alves (2006) afirma, ao analisar os dados mandato o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, evi‑
obtidos junto a alunos do 9º ano, que esses aderem, dencia o fato de que pouco foi efetivamente realizado
de forma expressiva, ao “mito do progresso indivi‑ no sentido de universalizar a educação básica no
dual — expresso na afirmação ‘vale a pena estudar Brasil. Tal constatação sublinha, particularmente,
para ter sucesso na vida’” (Idem, p. 30). Na conclu‑ o que diz respeito à permanência no Ensino Fun‑
são de seu trabalho, a autora destaca a “fé, que de damental e ao acesso ao Ensino Médio que, como
um modo geral, os jovens depositam na educação e é afirmado no documento do IBGE, ainda constitui
na forma como, acriticamente, aderem às premissas um privilégio.
que estruturam os discursos sobre a Educação e o Entretanto, várias iniciativas focais foram imple‑
Trabalho”. Assinala, ainda, que as opiniões colhi‑ mentadas, atendendo a pequenos contingentes
das junto aos jovens “não podem deixar de ser en‑ populacionais, aos quais, dadas as suas fragilida‑
tendidas como o reflexo do triunfo da visão técnico­ des como atores políticos, são oferecidas possibili‑
‑instrumental da educação e do lugar secundário a dades de elevação de escolaridade com caráter pre‑
que tem vindo a ser confinada a reflexão crítica e cário e aligeirado, porém anunciadas como porta‑
política sobre o papel da educação na sociedade” doras potenciais de inclusão. Trata­‑se, assim, sobre‑
(Ibidem, p. 74). tudo, de atuar de forma urgente para controlar dis‑
O caso brasileiro não é distinto e, nele, se eviden‑ funções de um sistema que, por sua origem estrutu‑
cia que as estratégias das forças dominantes para a ral, continuará a gerar, cada vez mais, demandantes
permanente construção e manutenção da hegemo‑ de novas medidas de caráter emergencial.
nia, as quais transferem para os indivíduos a respon‑ De acordo com essa perspectiva, o Governo
sabilidade pelo maior ou menor êxito nas disputas Federal, particularmente por meio do Ministério
por condições básicas de existência são, também, da Educação (MEC), do Ministério do Trabalho
acolhidas de forma acrítica. Num intrincado pro‑ e Emprego (MTE) e da Secretaria­‑Geral da Presi‑
cesso de distribuição de ilusões, os governos, suces‑ dência da República, vem, nos últimos quatro anos,
sivamente, procuram fazer frente à complexidade definindo políticas e adotando diversas medidas que
da estrutura social, a qual requer ações que contem‑ visam a ajustar a educação ao projeto de reestrutura‑
plem diferentes frações de classe segundo seu poder ção produtiva subordinada no plano da hegemonia
de reivindicação e organização. As frações mais frá‑ internacional. É nesse quadro que se destacam as
geis e vulneráveis da classe trabalhadora são alvo de iniciativas destinadas à educação básica e profissio‑
políticas focais do mesmo modo frágeis e passíveis nal dos jovens e adultos das frações mais desfavore‑
de rápida descontinuidade. Às frações de classe que cidas da classe trabalhadora.
podem exercer grau mais significativo, potencial ou A Educação de Jovens e Adultos (EJA), regu‑
real, de pressão no jogo das correlações de forças, lamentada como modalidade de ensino, é, sem
são dirigidas medidas de caráter mais complexo dúvida, uma educação de classe. Assim, se confi‑
que, entretanto, permanecem, sob novas roupagens, gura, no Brasil, como oferta de possibilidades de
circunscritas aos limites de um mesmo que não se elevação da escolaridade para aqueles aos quais foi
pretende, efetivamente, transformar. Retoma­‑se, negado o direito à educação na fase da vida histo‑
assim, permanentemente, a máxima de Tomaso di ricamente considerada adequada. É, mais precisa‑

38 sísifo 2 | sonia maria rummert | a educação de jovens e adultos tr abalhadores br asileiros…


mente, uma educação para as frações da classe tra‑ e privadas a partir dos mecanismos centrados nas
balhadora cujos papéis a serem desempenhados no práticas de parceria e/ou de filantropia, com ênfa‑
cenário produtivo não requerem maiores investi‑ se nas Organizações não Governamentais, sempre
mentos do Estado, enquanto representante priori‑ marcadas pelo caráter compensatório.
tário dos interesses dos proprietários dos meios de O destaque dado aqui aos instrumentos legais
produção. Tal marca dessa modalidade de ensino decorre do entendimento de que representam ex‑
não é assumida no Parecer nº 11 do ano de 2000, pressão do grau de poder das forças sociais que
do Conselho Nacional de Educação, que trata das disputam hegemonia num determinado momento
Diretrizes Curriculares para a Educação de Jovens histórico, posto que a legislação é expressão de
e Adultos. Entretanto, o mesmo Parecer, ao atribuir correlações de forças. Representam, portanto, fun‑
à EJA a função reparadora de uma dívida social, evi‑ damental instrumento de formulação e execução
dencia tal destinação de classe. de políticas públicas, as quais, conforme assinala
O caráter de educação com “status” inferior no Rua (1998), constituem o “conjunto de decisões e
mercado de bens culturais, conferido à Educação ações destinadas à resolução de problemas políti‑
de Jovens e Adultos, está também evidenciado na cos”. Essa perspectiva nos obriga a constatar o fato
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº de que nem a juventude brasileira, em particular,
9.394 de 1996. Contemplando a EJA com apenas nem o conjunto da sociedade assumiram para si,
dois artigos, o texto refere à necessidade de que se‑ de forma plena, a tarefa de lutar pelo direito à edu‑
jam oferecidas aos jovens e adultos, “oportunidades cação, deixando assim de criar, para as forças do‑
educacionais apropriadas, consideradas as caracte‑ minantes, problemas políticos que as constranges‑
rísticas do aluno, seus interesses, condições de vida sem a assegurar a universalização das condições,
e de trabalho” (LDB 9.394/96, Art. 37). Entretanto, não só do acesso, mas da permanência na escola,
os jovens das frações mais desfavorecidas da classe assegurando o direito à educação básica de quali‑
trabalhadora foram duramente atingidos pela redu‑ dade para todos.
ção das idades para a prestação dos chamados exa‑
mes supletivos3. No Ensino Fundamental, a idade
mínima para a prestação do exames passou de 18 Ações focais para minimizar efeitos da desigualdade
para 15 anos e, no Ensino Médio, de 21 anos para 18 estrutural
(Idem, Art. 38). Tal dispositivo legal, que expulsou Como educação de classe, a EJA, enquanto possibi‑
da escola regular diurna, do Ensino Fundamental, lidade de elevação de escolaridade e de qualificação
os jovens a partir dos 14 anos de idade, evidencia dos trabalhadores, é apresentada como geradora de
a ênfase atribuída à certificação, em detrimento da oportunidades diferenciadas de trabalho. Como as‑
vivência plena dos processos pedagógicos necessá‑ sinalou Marx (1984), iniciativas como essas derivam
rios ao efetivo domínio das bases do conhecimento do entendimento de que a força de trabalho, tomada
científico e tecnológico. como mercadoria, é capaz, ela própria, de ampliar
A legislação ratificou, assim, tanto a subordina‑ suas possibilidades de exploração pelo capital.
ção da educação dos trabalhadores aos interesses Em virtude dessa perspectiva, na busca de respon‑
do capital em sua atual fase de acumulação, quanto der a problemas concretos como o da desigualdade
a valorização de medidas que alteram os indicado‑ socioeconômica, que é inerente ao sistema­‑capital,
res estatísticos de baixa escolaridade da população, o conhecimento produzido nos limites da lógica
sem que se verifique efetivo compromisso com a conservadora ou, mesmo, da reformista os percebe
oferta de educação de qualidade para a maioria da como meras disfunções do sistema, do que resul‑
classe trabalhadora. Destaca­‑se, ainda, outro as‑ ta um conjunto de medidas que permanentemente
pecto fundamental, que consiste na transferência buscam minorar conseqüências mas não eliminam
da responsabilidade em relação ao direito público suas determinações estruturais.
subjetivo à educação — do qual são portadores os É inegável que, desde 2003, a EJA tornou­‑se
trabalhadores — do Estado para diferentes inicia‑ objeto de um número bem mais significativo de ini‑
tivas tomadas pelas esferas públicas não­‑estatais ciativas do que nos períodos governamentais ante‑

sísifo 2 | sonia maria rummert | a educação de jovens e adultos tr abalhadores br asileiros… 39


riores. Entretanto, tais iniciativas se apresentam no valor mensal de meio salário mínimo, financiada,
como claras explicitações do quadro já delineado. nos dois primeiros anos de implantação do Projeto,
A centralidade de tais ações reside na ampliação de pelo MEC, com o intuito de estimular as empresas
mecanismos de certificação, relativos à conclusão a participarem.
do Ensino Fundamental, à formação profissional — A iniciativa, no âmbito do MEC, é de responsa‑
particularmente a de caráter inicial, que não exige bilidade direta da Secretaria de Educação Profissio‑
níveis de escolaridade mínimos, conforme previsto nal e Tecnológica. Além do Ministério, são respon‑
na legislação atual — e, com menor ênfase, ao tér‑ sáveis pelo Escola de Fábrica as Unidades ou Ins‑
mino do Ensino Médio. As ações governamentais tituições Gestoras, às quais compete a implantação
restringem­‑se, ainda, a metas quantitativas modes‑ do Projeto nas empresas. Tal responsabilidade con‑
tas, que não fazem frente ao grande contingente siste em gerir os recursos a serem repassados, formu‑
populacional sem escolaridade completa. Soma­ lar a concepção pedagógica do Projeto, implementá­
‑se a isso a clara ausência de uma política unitária ‑lo e acompanhá­‑lo, elaborar e distribuir material
e fecunda que aponte, de forma segura, para a efe‑ didático, treinar os instrutores, proceder à sensi‑
tiva democratização do acesso às bases dos conheci‑ bilização em relação à proposta e selecionar os can‑
mentos científicos e tecnológicos e não para a mera didatos, certificar os alunos, acompanhá­‑los poste‑
ampliação de indicadores de elevação de escolari‑ riormente na condição de egressos e avaliar o pro‑
dade da classe trabalhadora destituída do direito à cesso. São consideradas potenciais Unidades Ges‑
educação. toras órgãos públicos ou privados, Organizações
Entre essas iniciativas, podem ser destacados Não­‑Governamentais (ONGs), Organizações da
o Projeto Escola de Fábrica, o Programa Nacional Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPES)
de Inclusão de Jovens — PROJOVEM, o Programa ou outras instituições formalmente sem fins lucrati‑
de Integração da Educação Profissional ao Ensino vos, que comprovem experiência na gestão de proje‑
Médio para Jovens e Adultos — PROEJA e o Exame tos educacionais ou sociais.
Nacional de Certificações de Competências de As Unidades Formadoras são as empresas de
Jovens e Adultos — ENCCEJA, que abordaremos grande, médio ou pequeno porte, de qualquer natu‑
brevemente, a seguir, tomando por base os docu‑ reza, incluindo­‑se as prestadoras de serviço, as res‑
mentos oficiais que os instituíram. ponsáveis por empreendimentos agro­‑industriais
e rurais. Segundo o Projeto, as empresas são as
Projeto Escola de Fábrica detentoras do ambiente educativo necessário à for‑
O Projeto Escola de Fábrica4 propõe oferecer cursos mação dos jovens participantes. A elas cabe custear
de formação profissional inicial, com duração míni‑ o “ambiente escolar” (sala de aula com os equipa‑
ma de 600 horas, para 10.000 jovens por ano, em 500 mentos necessários) montado em suas dependên‑
Unidades Formadoras, criadas nas empresas, cada cias, os uniformes, alimentação e transporte dos
uma atendendo 20 alunos. Pretende­‑se com isso alunos, ceder os funcionários que serão instrutores
possibilitar que jovens, com idade de 15 a 21 anos, e, ainda, indicar suas necessidades de formação
pertencentes a famílias com renda “per capita” me‑ profissional sobre as quais estarão assentados os
nor ou igual a um salário mínimo, sejam incluídos projetos pedagógicos.
socialmente, por meio da formação profissional. São explicitamente mencionadas, ainda, as Ins‑
O atendimento dos jovens está, inicialmente, tituições de Educação Profissional e Tecnológica
condicionado à matrícula no ensino público regu‑ chamadas a oferecer apoio às Instituições Gestoras
lar, nas etapas finais do ensino fundamental ou no (ou mesmo a atuarem nessa condição), auxiliando na
ensino médio (para os de idade entre 15 a 18 anos), criação dos cursos, na concepção metodológica, na
bem como à conclusão da alfabetização no Pro‑ formação de instrutores, na elaboração de material
grama Brasil Alfabetizado ou à matrícula na Edu‑ pedagógico, bem como na avaliação e certificação.
cação de Jovens e Adultos, para aqueles com até 21 Coloca­‑se, assim, no Projeto, instituições de ensino
anos. Esses jovens receberão, ao longo de seis meses federais a serviço do empresariado, procedendo a
— tempo de duração do curso — uma Bolsa Auxílio trabalhos pedagógios diretamente direcionados a

40 sísifo 2 | sonia maria rummert | a educação de jovens e adultos tr abalhadores br asileiros…


seus interesses, expressos na organização curricular, res públicos não passam, na melhor das hipóteses,
cujos conteúdos são por eles definidos. de terceirizadores da empresa. O mercado governa.
Destaca­‑se, ainda, que o documento referente ao O governo gere” (1998, p. 60).
Projeto Escola de Fábrica anuncia que se pretende,
com sua realização, provocar os seguintes impactos PROJOVEM
na sociedade: a) “inclusão social de jovens de 16 a 21 O Programa Nacional de Inclusão de Jovens: Edu‑
anos de baixa renda, por meio de formação profis‑ cação, Qualificação e Ação Comunitária — PRO‑
sional e ampliação das possibilidades de inserção no JOVEM5, implantado no Brasil a partir de 2005,
mundo do trabalho”; b) “reconhecimento do princí‑ está diretamente vinculado à Secretaria­‑Geral da
pio educativo dos espaços produtivos”; c) “amplia‑ Presidência da República, que o implementou em
ção da responsabilidade social do empresariado parceria com o MEC, o TEM e o Ministério do De‑
brasileiro” (MEC/SETEC, 2005, p. 3). senvolvimento Social e Combate à Fome.
A suposta perspectiva “romântica” expressa Segundo o documento­‑base que o apresenta, o
pelo documento do MEC, ao referir à responsabi‑ PROJOVEM é “voltado para o segmento juvenil
lidade social do empresariado brasileiro, está cen‑ mais vulnerável e menos contemplado por políti‑
trada nas teses que afirmam estarem superados os cas públicas vigentes” (Presidência da República,
antagonismos de classe e anunciam a humanização 2005). São seus destinatários jovens de 18 a 24 anos,
do capital em favor da classe trabalhadora. Assim, as com escolaridade superior à 4ª série, mas que não
relações entre o capital e o trabalho possuem hoje, concluíram as oito séries do Ensino Fundamental,
supostamente, um caráter marcadamente coopera‑ que não possuam vínculos formais de trabalho.
tivo e solidário, expressão da consciência social do Aos participantes, o PROJOVEM pretende ofe‑
empresariado, que não deixa lugar às disputas por recer, de forma integrada, a conclusão do Ensino
poder ou a antagonismos. Fundamental, qualificação profissional e capacita‑
O real sentido de tal perspectiva é desvelado pela ção para a execução de ações comunitárias visando
presidente da Fundação Iochpe, que desenvolve ao “engajamento cívico” (Idem). Atribui­‑se, ainda,
projeto cuja estrutura foi inteiramente reprodu‑ ao Programa a possibilidade de contribuir, especifi‑
zida pelo Escola de Fábrica. Declara Evelyn Iochpe camente, para a re­‑inserção do jovem na escola, cur‑
sobre a necessidade de que o empresariado desen‑ sando o Ensino Médio, embora as vagas nas redes
volva ações de caráter social: “Cai­‑se, portanto, na públicas de ensino não sejam objeto da ampliação
lei de fogo da responsabilidade social montada por necessária para atender às demandas presumivel‑
Keith Davis: ‘a longo prazo, quem não usa o poder de mente geradas pelo Programa. Anuncia­‑se, ainda,
uma maneira que a sociedade considera responsá‑ a intenção de propiciar a inclusão digital como ins‑
vel, tenderá a perder este poder’” (Iochpe, 1998) (itá‑ trumento de inserção produtiva e de comunicação,
licos meus). ignorando­‑se o fato de que somente 15% do total de
Tal quadro evidencia que o MEC, coadunado jovens brasileiros têm acesso a microcomputadores
com os parâmetros da atual ordem estabelecida pelo (IPEA, 2006), percentual que não inclui a popu‑
sistema capital, executa um duplo movimento de lação de baixa renda, à qual se destina o PROJO‑
terceirização: por um lado, terceiriza instituições VEM. Esse conjunto de metas deverá ser atingido
de diferentes tipos, transferindo recursos públicos num curso de 5 horas diárias por um período de
para que executem trabalho educativo (que deveria 12 meses ininterruptos. Aos alunos matriculados é
ser de responsabilidade estrita do Ministério) junto concedida uma bolsa mensal no valor de R$ 100,00
aos jovens da classe trabalhadora; por outro, é tercei‑ (correspondente a aproximadamente 35 euros).
rizado pelo empresariado para gerenciar uma ação É importante assinalar, ainda, que o Programa
educativa que atende a seus interesses imediatos em atende às capitais dos 26 estados brasileiros, a 34
relação à força de trabalho e mediatos no que diz res‑ outros municípios das regiões metropolitanas e à
peito a iniciativas que concorram para a manutenção capital do país. A justificativa oficial para tal de‑
da hegemonia do capital. Estamos, portanto, diante limitação geográfica reside na alta concentração
de um exemplo do que afirmou Ramonet: “Os pode‑ de jovens destituídos dos direitos fundamentais

sísifo 2 | sonia maria rummert | a educação de jovens e adultos tr abalhadores br asileiros… 41


nas regiões metropolitanas e, também, decorre da Outro aspecto a ser destacado no documento
“conjugação entre carências econômicas, presença é a forma como aborda o perfil dos jovens que têm
do narcotráfico e certas práticas de corrupção poli‑ “acesso restrito à educação de qualidade e frágeis
cial” (Idem) nessas mesmas regiões. condições para a permanência nos sistemas escola‑
Tais argumentos estão fortemente marcados pela res”, além de “baixo acesso às atividades de esporte,
associação, no imaginário social, da juventude “po‑ lazer e cultura” (Presidência da República, 2005), o
bre” com as chamadas “classes” perigosas. Para as que é corroborado com a apresentação posterior de
camadas mais favorecidas da sociedade, os jovens dados estatísticos sobre a escolaridade dos jovens.
oriundos da base da classe trabalhadora são poten‑ Tais constatações são tratadas no documento como
ciais delinquentes, constituindo, portanto, grave caraterísticas inerentes de parcela expressiva da
ameaça à ordem social. A concepção de que o jovem população e não como explicitação do quadro de
das frações mais pauperizadas da classe trabalhado‑ injustiça social do país e da ausência de efetivas polí‑
ra é alvo fácil do mundo do crime é explicitada cor‑ ticas de promoção, por parte dos poderes públicos,
rentemente, mesmo pelos profissionais envolvidos da igualdade de direitos.
com o Programa. Como exemplo, podemos citar Ao longo do texto, assim como nas muitas apre‑
o coordenador geral do PROJOVEM da cidade do sentações oficiais do Programa, são feitas referên‑
Rio de Janeiro, Pedro Veiga, que afirma em entre‑ cias recorrentes ao protagonismo juvenil. É de supor­
vista concedida ao Observatório Jovem: “R$ 100,00 ‑se, assim, que os jovens, ao passar a exercer plena‑
não mantêm jovem em programa nenhum, princi‑ mente sua cidadania, se reconheçam como porta‑
palmente nesta idade. O tráfico, a informalidade, dores de direitos públicos subjetivos, entre os quais
a ilegalidade em qualquer sentido paga muito mais o direito à educação básica de qualidade, indepen‑
do que isso. Os R$100 são, literalmente, uma bolsa dentemente de sua origem de classe. Não é outra a
para que o cara possa se deslocar, fazer um lanche expectativa gerada por afirmações como “assumir
— apesar de já ter lanche no projeto — é uma ajuda.” responsabilidades frente aos problemas que afetam
(Disponível em: www.uff.br/obsjovem). o país” ou “identificar problemas e necessidades de
Como já mencionado, o PROJOVEM objeti‑ sua comunidade, planejar e participar de iniciativas
va oferecer, em apenas um ano, os conhecimentos concretas, visando à sua superação”, já citadas.
necessários à conclusão do Ensino Fundamental Como a superação de problemas como os acima
e formação profissional. Pretende­‑se, como anun‑ mencionados exige ampla mobilização da sociedade
ciado no documento­‑base, propiciar as condições contra as opções político­‑econômicas que orientam
para que o jovem possa “compreender os proces‑ as políticas implementadas pelo Governo Federal, é
sos sociais e os princípios científicos e tecnológicos lícito indagar quais as características e os limites da
que sustentam a produção da vida na atualidade” ação comunitária prevista para os jovens atendidos
(Presidência da República, 2005). Embora não pelo Programa e tutelados por agências executoras
possamos, aqui, analisar a real viabilidade peda‑ do Estado.
gógica dessas intenções, não é difícil perceber que Essa questão encontra claros indícios de respos‑
tais objetivos não podem ser alcançados de modo a ta em outra afirmação de Pedro Veiga, na entrevista
assegurar, a todos os que participam do Programa, já citada:
efetivo acesso às bases do conhecimento científico
e tecnológico, em tão curto espaço de tempo, so‑ “O projeto tem, então, a proposta de que o jovem
bretudo se considerarmos que a organização curri‑ leve uma carga de atividades para dentro da comuni‑
cular do Programa prevê apenas duas horas de aula dade, isso representa um ganho primeiro individual,
semanais para o estudo da língua portuguesa, duas a partir do momento que ele começa a se relacionar
para língua estrangeira e, ainda, a mesma carga ho‑ de uma forma diferente com a comunidade dele e pra
rária para matemática, ciências humanas e ciências comunidade, obviamente. Haverá, portanto, [por
da natureza. As outras três horas de cada dia são exemplo] 1.200 jovens num final de semana por mês,
ocupadas com a formação profissional, noções de pelo menos, fazendo uma atividade grande na comu‑
informática e ação comunitária. nidade: recreação com as crianças, esclarecimento na

42 sísifo 2 | sonia maria rummert | a educação de jovens e adultos tr abalhadores br asileiros…


questão das drogas, esclarecimento na questão da ati‑ Outro aspecto a ser, ainda, registrado refere­‑se
vidade sexual, ou efetivamente fazendo alguma coi‑ ao retrocesso que a implementação do PROJOVEM
sa. Se [a meta é] a questão da construção civil, será representou em relação à conquista duramente obti‑
possível ter, depois de 3 meses, 1200 jovens pintando a da pelos profissionais da educação, no que se refere
escola, fazendo uma calçada. O projeto tem a propos‑ à transferência de ações de caráter educacional das
ta de interligar o plano de qualificação, de formação agências de assistência social para as efetivamente
e de ação comunitária de forma integrada” (Dispo‑ envolvidas com a educação. Retrocede­‑se, assim, a
nível em: www.uff.br/obsjovem). práticas de transferência de recursos e de responsa‑
bilidades para esfera da assistência social, corrobo‑
Trata­‑se, portanto, no caso do PROJOVEM, de rando um processo que já vinha sendo identificado
um tipo de ação comunitária restrita ao atendimen‑ em diferentes estudos, entre os quais se destaca o
to de demandas pontuais, exercida pelos jovens de Pochmann (2006).
num tempo tutelado e que pouco ou nada acrescen‑ Nesse sentido, o PROJOVEM representa uma
tará à sua formação integral, ao contrário do anun‑ perda sensível para a educação pois que, além de
ciado no documento da Presidência da República. seu caráter assistencialista, representa uma inicia‑
Espera­‑se, portanto, que os jovens atuem pintando tiva que não oferece à juventude efetivo acesso à
prédios públicos, construindo habitações precárias educação mas, apenas, à certificação de conclusão
ou calçadas, ocupando­‑se como recreadores nas do Ensino Fundamental de discutível qualidade. O
chamadas “comunidades carentes”. Ou seja, a ação PROJOVEM constitui mais um exemplo de ação
comunitária esperada situa­‑se no vácuo deixado política que, sob a aparência da inovação, gera a
pelo próprio poder público, limitada pela ordem continuidade da submissão ao instituído. E o ins‑
social já estabelecida, consistindo numa contrapar‑ tituído, em nosso país, é gerador de diferenças de
tida ao ínfimo valor da bolsa mensalmente recebida caráter sócio­‑econômico cada vez mais extensas e
a título de auxílio. Não é demais assinalar o fato de profundas. Ao analisar o Programa, apresentado
que, também para a “comunidade” em que será de‑ pelo Governo Federal como elemento­‑chave de sua
senvolvida a ação, os resultados de caráter pontual política nacional para a juventude brasileira, pode‑
não significarão alterações qualitativas e duradou‑ mos perceber que esta não se apresenta como efetiva
ras em suas precárias condições de vida. expressão de compromisso com a democratização
Evidencia­‑se, também, a fragilidade da argumen‑ e universalização da educação que envolva, numa
tação que apresenta como um dos aspectos positivos direção comum e orgânica, a totalidade social. Ao
do Programa o acesso às bases do conhecimento contrário, sublinha, uma vez mais, o caráter dual
científico e tecnológico. Tal acesso deveria ocorrer a do sistema educacional brasileiro, como expressão
partir de uma ação pedagógica que integrasse as três da estrutura socieconômica do país.
vertentes do Programa: elevação da escolaridade,
formação profissional e ação comunitária. Na reali‑ PROEJA
dade, o leque estreito de possibilidades de atuação, Outra iniciativa a ser destacada é o Programa Na‑
circunscrito a limites já demarcados e pontuais, res‑ cional de Integração da Educação Profissional com
tritos a minimizar algumas das muitas expressões a Educação Básica na Modalidade de Educação de
da “pobreza”, frustra as expectativas criadas em re‑ Jovens e Adultos — PROEJA, sobre o qual apresen‑
lação à ação comunitária. A análise da proposta e de tamos, ainda, análise preliminar. O PROEJA foi ins‑
sua implementação revela que o PROJOVEM convi‑ tituído pelo Decreto 5.478 de 2005, posteriormente
da os jovens ao engajamento em um projeto que lhes reformulado pelo Decreto 5.840 de 2006. Segundo
pré­‑determina o futuro nos marcos já estabelecidos esse último Decreto, o PROEJA abrange os seguin‑
para as frações mais exploradas da classe trabalha‑ tes cursos e programas de educação profissional: a)
dora. Do mesmo modo, as poucas horas destinadas formação inicial e continuada, cuja oferta pode ser
à formação geral e profissional, evidenciam que, articulada com a elevação de escolaridade em nível
para a grande maioria dos atendidos, a experiência de Ensino Fundamental; b) educação profissional
propiciada pelo projeto será pouco fecunda. técnica de nível médio, que poderá ocorrer de for‑

sísifo 2 | sonia maria rummert | a educação de jovens e adultos tr abalhadores br asileiros… 43


ma integrada ou concomitante à elevação de escola‑ lativo ao PROEJA, divulgado em 2006. Nesse do‑
ridade em nível de Ensino Médio. cumento, merecem comentários alguns pontos que
Pelo primeiro documento legal, ficavam obriga‑ explicitam o caráter ambivalente da proposta.
dos a oferecer o PROEJA todos os Centros Fede‑ O primeiro é a ampliação do espectro de ins‑
rais de Educação Tecnológica — CEFETs, as Es‑ tituições que passaram a poder oferecer o PROE‑
colas Técnicas e Agrotécnicas Federais e as Escolas JA, para além das definidas no primeiro Decreto,
Técnicas vinculadas às Universidades Federais. nomeadas como em Instituições Proponentes (de
Estabelecia­‑se, também, que do total de vagas ofe‑ âmbito público: Instituições de Ensino Federais,
recidas em todos os cursos de cada unidade edu‑ Estaduais e Municipais de Educação, bem como
cacional, no ano de 2005, 10% deveriam ser desti‑ Secretarias de Educação) e Instituições Parceiras,
nados ao referido Projeto, reservando­‑se o MEC referidas como “quaisquer organizações da socie‑
a atribuição de definir, nos anos subseqüentes, os dade civil que não visem lucro pecuniário na oferta
novos quantitativos. A criação do Programa, assim, de curso no âmbito desse Programa”. O documento
não concorreu para a ampliação do acesso, mas destaca, entretanto, como “parceiras preferenciais
provocou o deslocamento de vagas já existentes, instituições pertencentes ao Sistema S”6 (Proeja,
em todos os níveis de cada unidade, para o atendi‑ Documento Base, p. 55. Itálico meu), num claro
mento da nova ação, posto que sua oferta se dá em movimento de oposição em relação aos pressupos‑
detrimento da criação de outras turmas de alunos. tos anunciados nas partes introdutórias do mesmo
Outro aspecto do Decreto 5.478/2005 a ser men‑ documento e evidenciando a forte capacidade de
cionado evidencia a concepção de EJA corrente no intervenção do Capital nas propostas de educação
âmbito do próprio MEC e refere­‑se ao estabeleci‑ da classe trabalhadora apresentadas pelo Governo
mento de uma carga horária máxima, de 1.600 ho‑ Federal.
ras para os cursos de formação inicial e continuada Outro aspecto explicita o caráter híbrido da fun‑
e de 2.400 horas para os cursos de educação profis‑ damentação teórico­‑política do Documento Base.
sional técnica de nível médio. A limitação do má‑ Seus autores, ao apresentarem os princípios que
ximo de horas, bem como sua redução em relação devem nortear o PROEJA, afirmam que o “quarto
aos cursos regularmente oferecidos, foram assim princípio compreende o trabalho como princípio
avaliadas por Frigotto et al.: educativo” (Ibidem, p. 35), compreendido não em
sua perspectiva de emprego, mas como forma de
“Observamos algumas incoerências na disposição constituição da própria humanidade. Tal princípio,
sobre as cargas horárias que, ao nosso ver, incorrem entretanto, conflitua diretamente com a concepção
em deslizes éticos, políticos e pedagógicos. Primeira‑ de trabalho como princípio educativo, tal como o
mente, não há porque defini­‑las como máximas. A é concebido pelos “parceiros preferenciais” eleitos
redução da carga horária de cursos nas modalidade pelo próprio MEC: os empresários que regulam a
EJA com relação aos mínimos estabelecidos em lei formação dos trabalhadores segundo as necessida‑
para a educação regular não deve ser uma imposi‑ des imediatas postas pelo mercado.
ção, mas sim uma possibilidade (...) Limitar a carga Não pode deixar, ainda, de ser destacado que o
horária dos cursos a um ‘máximo’ é, na verdade, ad‑ documento incorpora, simultaneamente, referên‑
mitir que aos jovens e adultos trabalhadores se pode cias a críticas radicais ao atual estágio do modo de
oferecer uma formação mínima”(Frigotto et al., produção e teses e conceitos inteiramente confor‑
2005a, pp. 318­‑9) mados à ordem. Exemplo expressivo diz respeito
à recorrente referência à “educação ao longo da
Entre outros aspectos bastante problemáticos, vida”. Aqui verifica­‑se a ausência da percepção de
destaca­‑se, também, o fato de o Programa ter sido seu caráter conservador e subordinado à lógica do
implementado sem as necessárias medidas de su‑ mercado, conforme evidencia Canário quando, em
porte compatíveis com uma política pública. So‑ rica discussão sobre o tema, destaca nessa proposta
mente ao final de 2005 foi constituído Grupo de a fundamentação da “lógica argumentativa: a su‑
Trabalho para elaboração de Documento Base re‑ bordinação funcional das políticas de educação e

44 sísifo 2 | sonia maria rummert | a educação de jovens e adultos tr abalhadores br asileiros…


de formação à racionalidade económica dominante, que atenda às necessidades e ao perfil dessa popula‑
baseada na produção e acumulação de riqueza sob ção que não teve oportunidade de acesso à escola‑
a forma de uma tendência inquieta e insaciável para ridade regular na idade própria” (INEP, 2005) (Itá‑
acumular capital” (Canário, 2003, p. 195). lico meu).
Como vemos, o PROEJA surge, reformula­‑se e Assim, o ENCCEJA apresenta, como função
amplia­‑se em meio a um conjunto de contradições principal, certificar jovens e adultos que não fre‑
que demandam aprofundamento para a sua plena qüentaram a escola regular básica, mas necessi‑
compreensão. De todo modo, é necessário regis‑ tam comprovar serem portadores dos conhecimen‑
trar que, em que pesem os muitos limites deriva‑ tos equivalentes aos níveis de ensino da Educação
dos do projeto societário de caráter subordinado e Básica. O conteúdo de tal necessidade, tal como
dependente em que se inscreve e que o conforma, o é abordada nos documentos aqui referidos, vai ao
Programa constitui uma iniciativa que, a ser levada encontro da valoração do “diploma” em detrimento
adiante, pode possibilitar alguns avanços no âmbito do valor do conhecimento. Isso pode ser confir‑
da Educação de Jovens e Adultos trabalhadores, em mado ao cotejar o grau de complexidade e a ampli‑
particular por iniciativas que venham a ser tomadas tude dos conhecimentos avaliados pelo ENCCEJA
no âmbito dos CEFETs e demais escolas públicas e pelo Exame Nacional do Ensino Médio — ENEM.
federais, como previsto no Decreto original. Este último, em vigor desde o ano de 1998, destina­
‑se àqueles que cursam a escola regular. Embora os
ENCCEJA documentos relativos ao ENCCEJA afirmem serem
Concluímos esta abordagem sobre ações do ambos os exames estruturados a partir da mesma
Governo Federal relativas à Educação de Jovens e “matriz de competências”, o que se evidencia pela
Adultos trabalhadores com uma breve referência ao comparação é o fato de que o ENCCEJA, em detri‑
Exame Nacional de Certificações de Competências mento da efetiva aprendizagem, reforça o significado
em Educação de Jovens e Adultos — ENCCEJA, o simbólico do certificado, concorrendo para ampliar
qual constitui “instrumento de avaliação para aferi‑ seu “valor­‑de­‑troca”. Sua finalidade é, assim, pos‑
ção de competências e habilidades de jovens e adul‑ sibilitar a obtenção de certificados de conclusão de
tos” (INEP, 2005). Sua primeira versão foi apresen‑ cursos e não propiciar as condições de acesso ao
tada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas conhecimento.
Educacionais — INEP, vinculado ao Ministério da A comparação entre os objetivos atribuídos ao
Educação, ao final do ano 2002, ainda no governo ENCCEJA e ao ENEM permite também reconhecer
de Fernando Henrique Cardoso. Em outubro de a dualidade do sistema educacional. Segundo a Por‑
2004, o novo governo, seguindo a opção de imple‑ taria 06, de fevereiro de 2005, o INEP define, como
mentar ações apenas aparentemente renovadas, ins‑ um dos objetivos do ENEM, “oferecer uma referên‑
titui o Exame Nacional de Avaliação da modali‑ cia para que cada cidadão possa proceder à sua auto­
dade de Educação de Jovens e Adultos, pela Porta‑ ‑avaliação com vistas às suas escolhas futuras, tanto
ria nº 3.415. Em março de 2005, após reformulações em relação ao mercado de trabalho quanto em rela‑
pouco significativas em seu conteúdo, o Exame é ção à continuidade de estudos” (INEP, Portaria 06,
implementado pela Portaria nº 44, do mesmo órgão, Artigo 2º, Inciso I) (itálicos meus). Para o público a
passando a integrar o conjunto de instrumentos de que se destina, ao ENCCEJA é atribuído o objetivo de
avaliação da Educação Básica no país. “constituir uma referência nacional de auto­‑avaliação
Um primeiro aspecto a destacar é o fato de que para jovens e adultos por meio de avaliação de compe‑
esse exame nacional, ao contrário dos demais, é o tências e habilidades, adquiridas no processo esco‑
único ao qual é conferida a possibilidade de certi‑ lar ou nos processos formativos que se desenvolvem
ficar, em nível do Ensino Fundamental ou Médio, na vida familiar, na convivência humana, no trabalho,
os jovens e adultos sem os referidos graus de esco‑ nos movimentos sociais e organizações da sociedade
laridade. Pretende­‑se, assim, “possibilitar uma ava‑ civil” (INEP, Portaria 44, Art. 2º, Inciso I).
liação de competências e habilidades básicas de A comparação entre os dois objetivos nos per‑
jovens e adultos de acordo com os preceitos legais, mite perceber as diferenças que caracterizam o pre‑

sísifo 2 | sonia maria rummert | a educação de jovens e adultos tr abalhadores br asileiros… 45


tendido pelos dois exames, que se destinam a públi‑ A história da educação brasileira demonstra
cos marcados por distinções de caráter socioeconô‑ que tais medidas não oferecem respostas concre‑
mico. Para aqueles a quem o Estado não assegurou o tas e de longo prazo para a imposição ético­‑política
direito à Educação Básica, isto é, os pertencentes às de universalização do acesso e das condições ob‑
frações mais pauperizadas da classe trabalhadora, jetivas de permanência numa escola de qualidade
não são cogitadas nem as “possibilidades de esco‑ para todos, independentemente de sua origem de
lha”, nem “a continuidade dos estudos”. classe. Insistir no uso da categoria classe trabalha‑
Ainda segundo documentos do INEP, as com‑ dora ao nos referirmos àqueles que não têm asse‑
petências a serem aferidas correspondem aos “eixos gurado o direito à educação constitui uma opção
cognitivos básicos, a ações e operações mentais que teórico­‑metodológica que não abdica de sublinhar
os jovens e adultos devem desenvolver como recur‑ o fato, hoje negado, de que a distribuição desigual
sos mínimos que os habilitem a enfrentar melhor o de oportunidades educacionais continua a ser uma
mundo que os cerca” (Documento Básico, Livro questão derivada da origem socioeconômica e das
Introdutório, 2003, p. 15) (itálico meu). Mais uma assimetrias de poder daí advindas.
vez legitima­‑se, em documentos oficiais, a lógica do O teor das ações aqui tratadas explicita o fato
mínimo para as frações da classe trabalhadora às de que tratamos de propostas destinadas a jovens
quais foi negado o direito de acesso à escola, como pobres que se encontram supostamente na cha‑
em outras iniciativas anteriormente mencionadas. mada “situação de risco social”, para que eles, per‑
manecendo na base da pirâmide socioeconômica,
recebam uma formação que lhes pré­‑determina um
Conclusão futuro conformado à ordem societária que não se
intenciona transformar.
Com a preocupação de não promover mudanças A perspectiva geradora de tais medidas estrutura­
estruturais na ordem societária, são implementadas ‑se a partir de falsas premissas, entre as quais se des‑
medidas que visam a minimizar, de forma superficial, tacam a naturalização da pobreza e a relação linear
as consequências das opções político­‑econômicas entre escolaridade e superação individual das desi‑
das forças dominantes, condicionadas por interesses gualdades. Essas grandes máximas míticas ou mági‑
corporativos do capital e pelo alinhamento subordi‑ cas, que as forças dominantes difundem em larga
nado do país ao quadro hegemônico internacional. escala, valendo­‑se dos meios de comunicação de
Assim, o Governo Federal adota procedimentos de massa como aliados preferenciais, constituem, nos
democracia filantrópica, de caráter demonstrativo, processos de correlações de forças, mais do que a
em que proliferam as políticas focais, de que emer‑ quimera da inclusão anunciada. Configuram­‑se —
gem programas que oferecem bolsas ou diferentes apesar das concretas evidências em contrário apre‑
tipos de auxílio e requerem contrapartidas simbóli‑ sentadas pela vida cotidiana — como recursos de
cas, no mais claro modelo neoliberal. controle social, concorrendo de forma decisiva para
Ademais, cabe ressaltar que, ao contrário do a adesão acrítica ao projeto de sociedade que cada
difundido pelo discurso oficial, as iniciativas re‑ vez mais favorece àqueles que detêm o poder, ou que
feridas não constituem a novidade anunciada. Ao nas palavras de Forrester (1997), alimentam o (e se
contrário, à semelhança de práticas em uso recor‑ alimentam do) “horror econômico”.
rente pelas esferas de poder, se apresentam, por ve‑ Qualquer iniciativa que se pretenda construtora
zes sob nova roupagem, como ações de caráter de de concretas possibilidades de superação ou, mes‑
emergência, que vêm preencher as enormes lacunas mo, de redução sensível de desigualdades, ainda
deixadas pela ausência de políticas de universaliza‑ que, como destaca Oliveira (1998), nos marcos e li‑
ção de direitos. Além disso, evidenciam que o atual mites do capitalismo, não poderá advir de propos‑
governo não optou, até o momento, por promover tas que se afastam, de forma tão clara, da universa‑
políticas que causem impactos duradouros no sen‑ lização da educação.
tido de superar as desigualdades estruturais que Não podemos nutrir a ilusão de que medidas res‑
caracterizam o país e, por decorrência, a educação. tritas e “focalizadas” irão alterar, minimamente, o

46 sísifo 2 | sonia maria rummert | a educação de jovens e adultos tr abalhadores br asileiros…


quadro de dualidade que marca a educação brasi‑ pela própria classe trabalhadora. Do mesmo modo,
leira, como expressão cruzada de nossas históri‑ entendemos não constituir prática fecunda o mero
cas contradições internas e da globalização do capi‑ “espetáculo da denúncia”.
tal. É, também, evidente que não há espaço, na for‑ Entretanto, como sublinha Brunhoff, “embora
mação proposta pelas iniciativas analisadas, para o tenhamos pouca audiência no momento atual, a análise
pensamento rebelde que concorra para fragilizar as crítica dos dogmas liberais deve continuar, tentando­
bases do “capitalismo auto­‑reformador” (Mészáros, ‑se situá­‑la em relação àquilo que o autor percebe hoje
2002, p. 38). das práticas sociais” (1991, p. 9). Se vivemos hoje, tem‑
Ao finalizar, entendemos ser importante des‑ pos denominados neoliberais ou pós­‑modernos, isso
tacar que as considerações aqui apresentadas não não torna menos concreta, embora metamorfoseada,
derivam da ingenuidade epistemológica que leva‑ a máxima de Adam Smith (1983): “instrução para os
ria a supor que o sistema­‑capital venha a promover a trabalhadores, porém em doses homeopáticas”. Con‑
educação que efetivamente interessa aos trabalhado‑ sideramos, assim, que trazer à luz os simulacros que
res e possa, assim, concorrer voluntariamente para dão sustentação a esta realidade pode contribuir para
a corrosão de suas próprias bases (Rummert, 1995). um processo de construção de mudanças substanti‑
Conquistar essa educação é tarefa a ser enfrentada vas na vida da classe trabalhadora.

sísifo 2 | sonia maria rummert | a educação de jovens e adultos tr abalhadores br asileiros… 47


Notas cio (SESC), o Serviço Nacional de Aprendizagem
Rural (SENAR), o Serviço Nacional de Aprendiza‑
1. Este texto apresenta resultados parciais da pes‑ gem em Transportes (SENAT), o Serviço Social de
quisa Educação básica e profissional de trabalhado‑ Transportes (SEST), o Serviço Brasileiro de Apoio
res. Políticas públicas e ações do Estado, do Trabalho às Pequenas e Médias Empresas (SEBRAE) e o Ser‑
e do Capital, empreendida com o apoio do CNPq. viço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo
2. No Brasil, a Educação Básica, conforme os ins‑ (SESCOOP). É fundamental assinalar que o Sis‑
trumentos legais, é constituída pelo Ensino Fun‑ tema S é financiado com recursos chamados “para‑
damental, com duração de oito anos e pelo Ensino fiscais”, recolhidos pela Previdência Social e devol‑
Médio, com duração de três anos. Cumpre assinalar vidos às diferentes Confederações. Tais recursos
que, até hoje, a frequência ao Ensino Médio não é obri‑ são considerados públicos, uma vez que as empresas
gatória e que o número de vagas nas redes públicas de o tratam como mais uma contribuição e, em decor‑
ensino é substantivamente inferior à demanda. rência, seu valor seja computado no preço final dos
3. São denominadas como Exames Supletivos as produtos e serviços. Tal procedimento faz com que
provas aplicadas por Secretaria de Educação Muni‑ o ônus pela manutenção do Sistema S recaia sobre a
cipais ou Estaduais com o objetivo de proporcionar população brasileira. Detido estudo sobre suas ori‑
aos jovens e adultos que não concluíram o Ensino gens, vinculadas à Confederação Nacional da Indús‑
Fundamental ou Médio, a certificação equivalente tria e sobre o que efetivamente representam como
4. Os documentos que serviram de base à aná‑ difusores da ideologia necessária ao capital, pode
lise estão disponíveis em: http://portal.mec.gov.br/ ser encontrado em Rodrigues (1998).
setec/index.php?option=content&task=view&id
=479&Itemid=602 (01­‑2007). Também para maior
conhecimento acerca do Projeto Escola de Fábrica, Fontes e referências bibliográficas
pode ser consultado: ver Rummert (2005b), tra‑
balho em que as considerações aqui apresentadas Alves, Natália (2006). Socialização escolar e profis‑
foram detidamente desenvolvidas sional dos jovens: projectos, estratégias e repre‑
5. O PROJOVEM foi analisado no trabalho de sentações. Cadernos Sísifo I. Lisboa: Educa/Uni­
Rummert (2007), Intervenções comunitárias como dade de I&D de Ciências da Educação.
controle social na sociedade brasileira: o caso do Brasil. Conselho Nacional de Educação/Câmara de
PROJOVEM, apresentado no Congresso Interna‑ Educação Básica (2000). Parecer 11/2000. Diretrizes
cional Intervenção com Crianças, Jovens e Famílias. curriculares para a Educação de Jovens e Adultos.
Braga, Universidade do Minho. 08 a 10 de fevereiro Brasil. Governo Federal/MEC (1996). Lei de Di‑
de 2007. Nessa apresentação foi dado destaque às retrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº
questões relativas à intervenção comunitária, con‑ 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
forme prevista no Projeto. Brasil. IBGE (2006). Síntese de Indicadores So‑
6. O chamado “Sistema S” tem sua origem na dita‑ ciais 2006. Consultado em Janeiro de 2007, em
dura de Getúlio Vargas, quando foi criado o Serviço http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noti‑
Nacional de Aprendizagem Industrial — SENAI. cias/noticia_visualiza.php?id_noticia=774
É constituído, hoje, por entidades vinculadas às Brasil. MEC/INEP (2004). Portaria 3.415, de 21
Confederações que representam o empresariado dos de outubro de 2004. Consultado em Janeiro de
diferentes setores produtivos (indústria, comércio, 2007, em http://www.inep.gov.br/basica/encce‑
agricultura, transportes entre outros) com a finali‑ ja/legislacao/
dade de qualificar e propiciar atividades de cultura Brasil. MEC/INEP (2005). Portaria 44, de 10 de mar‑
e lazer aos trabalhadores. As organizações do Sis‑ ço de 2005. Consultado em Janeiro de 2007, em
tema “S” são: o Serviço Nacional de Aprendiza‑ http://www.inep.gov.br/basica/encceja/legislacao/
gem Industrial (SENAI), o Serviço Social da Indús‑ Brasil. MEC/INEP (2006). Consultado em Janei‑
tria (SESI), o Serviço Nacional de Aprendizagem ro de 2007, em http://www.inep.gov.br/basica/
Comercial (SENAC), o Serviço Social do Comér‑ encceja/

48 sísifo 2 | sonia maria rummert | a educação de jovens e adultos tr abalhadores br asileiros…


Brasil. MEC/SETEC (2005). Projeto Escola de Iochpe, Evelyn (1998). Terceiro setor: o desafio da
Fábrica. Consultado em Janeiro de 2007, em conceituação. Consultado em Abril de 2005, em
http://portal.mec.gov.br/setec/index.php?optio http://www.fIochpe.org.br.
n=content&task=view&id=479&Itemid=602 Marx, Karl (1984). O Capital. vol.1 Tomo II. São
Brasil. MEC/SETEC/PROEJA (2005). Documen‑ Paulo: Abril Cultural.
to Base. Consultado em Janeiro de 2007, em Mézsáros, István (2002). Para além do capital:
http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/acs_doc‑ rumo a uma teoria da transição. São Paulo: Boi‑
baseproeja.pdf tempo; Campinas: UNICAMP.
Brasil. Ministério do Planejamento Orçamento e Nosella, Paolo (1993). A modernização da produ‑
Gestão/Instituto de Pesquisa Econômica Apli‑ ção e a escola no Brasil — o estigma da relação
cada (IPEA) (2006). Brasil — o estado de uma escravocrata. Porto Alegre. Cadernos ANPED,
nação. Rio de Janeiro: IPEA. Consultado em 5, pp. 157­‑186.
Janeiro de 2007, em http://www.ciee.org.br/por‑ Oliveira, F. A. (1998). A vanguarda do atraso e o
tal/apoio/eventos/documentos/paulo_tafner.swf atraso da vanguarda. In F. A. Oliveira, Os direi‑
Brasil. Presidência da República (2005a). Decre‑ tos do antivalor: A economia política da hegemo‑
to 5.840, de 13 de junho de 2005. Consultado nia imperfeita. Petrópolis: Vozes, pp. 205­‑221.
em Janeiro de 2007, em http://www.planalto. Pochmann, Márcio (2006). Economia brasileira
gov.br/ccivil_03/_Ato2004­‑2006/2006/Decreto/ hoje: seus principais problemas. In J. C. F. Lima
D5840.htm & L. M. W. Neves (orgs.), Fundamentos da
Brasil. Presidência da República (2005b). Decreto Educação escolar do Brasil contemporâneo. Rio
5.478, de 24 de junho de 2005. Consultado em de Janeiro: FIOCRUZ/EPSJV, pp. 109­‑132.
Janeiro de 2007, em http://www.planalto.gov. Ramonet, Ignacio (1998). O pensamento único e os
br/CCIVIL_03/_Ato2004­‑2006/2005/Decreto/ regimes globalitários. In J. L. Fiori; M. S. Lou‑
D5478.htm renço & J. C. Noronha, Globalização: o fato e o
Brasil. Presidência da República/Secretaria Ge‑ mito. Rio de Janeiro: EDUERJ, pp. 55­‑75.
ral da Presidência da República/Coordenação Rodrigues, José (1998). O moderno príncipe indus‑
Geral do PROJOVEM (2005). PROJOVEM trial: o pensamento pedagógico da Confederação
— Programa de Inclusão de Jovens: Educação, Nacional da Indústria. Campinas: Editora Au‑
qualificação e ação comunitária. Brasília. Con‑ tores Associados.
sultado em Janeiro de 2007, em http://www.pro‑ Rua, Maria das Graças (1998). As políticas públicas
jovem.gov.br/docs/ppi.pdf e a juventude dos anos 90. In M. G. Rua, Jovens
Brunhoff, Suzanne de (1991). A hora do mercado. acontecendo na trilha das políticas públicas. 2v.
Crítica do liberalismo. São Paulo: UNESP. Brasília: CNPD, pp. 731­‑752.
Canário, Rui (2003). A aprendizagem ao longo da Rummert, Sonia Maria (1995). Educação de Adul‑
vida. Análise crítica de um conceito e de uma tos, Trabalho e Processos de Globalização. Con‑
política. In R. Canário (org.), Formação e si‑ texto e Educação, Ijuí / RS, 9, 39, pp. 89­‑111.
tuações de trabalho. Porto: Porto Editora, pp. Rummert, Sonia Maria (2000). Educação e identi‑
189­‑207. dade dos trabalhadores. As concepções do Ca‑
Forrester, Viviane (1997). O horror econômico. pital e do Trabalho. São Paulo: Xamã; Niterói:
São Paulo, Editora da Unesp. Intertexto.
Frigotto, Gaudêncio et al. (2005). A política de Rummert, Sonia Maria (2004). Aspirações, inte‑
educação profissional do governo Lula: um per‑ resses e necessidades dos trabalhadores. Ele‑
curso histórico controvertido. Revista Educação mentos essenciais À construção da hegemonia.
e Sociedade, 26, 92. Campinas, pp. 213­‑224. Trabalho necessário. 2, 2. Consultado em Janeiro
Gramsci, Antonio (1978). Concepção dialética da de 2007, em http://www.uff.br/trabalhonecessa‑
história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. rio/indice%20geral%20TN4.htm#TN2
Gramsci, Antonio (1980). Maquiavel, a política e o esta‑ Rummert, Sonia Maria (2004). Programa Integração:
do moderno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. avanços e contradições de uma proposta de educa‑

sísifo 2 | sonia maria rummert | a educação de jovens e adultos tr abalhadores br asileiros… 49


ção formulada por trabalhadores. Revista Brasilei‑ Smith, Adam (1983). A riqueza das nações: investi‑
ra de Educação. ANPEd, 27 (set/dez), pp. 138­‑153. gação sobre sua natureza e suas causas. São Pau‑
Rummert, Sonia Maria (2005a). Entidades repre‑ lo: Abril Cultural.
sentativas dos interesses do Trabalho: expres‑ Teixeira, Anísio (1962). Valores proclamados e va‑
são da hegemonia do Capital? In S. R. Mendon‑ lores reais nas instituições escolares brasileiras.
ça (org.), Estado brasileiro: agências e agentes. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Bra‑
Niterói: EdUFF/Vício de Leitura, pp. 127­‑140. sília, 37, 86 (abr./jun), pp. 59­‑79.
Rummert, Sonia Maria (2005b). Projeto Escola de Thompson, E. P. (1987). A Formação da classe ope‑
Fábrica. Atendendo a pobres e desvalidos da rária. A árvore da liberdade. Rio de Janeiro: Paz
sorte do Século XXI. Perspectiva. Revista do e Terra.
Centro de Ciências da Educação. Universidade Veiga, Pedro (2006). Entrevista concedida ao Ob‑
Federal de Santa Catarina. 23, 2 (jul/dez.). Flo‑ servatório Jovem. Consultado em Janeiro de
rianópolis, pp. 303­‑322. 2007, em www.uff.br/obsjovem

50 sísifo 2 | sonia maria rummert | a educação de jovens e adultos tr abalhadores br asileiros…

You might also like