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OS CINCO PILARES DA REFORMA

Michael Horton

Sola Scriptura: Nosso Único Fundamento

Muitos críticos da Reforma tentaram retratar este item [Sola Scriptura] como o convite ao
individualismo, uma vez que as pessoas descobrem por si mesmas, na Bíblia, aquilo em que irá ou
não acreditar. "A Igreja não tem importância. Fora os credos e a função de ensino da Igreja! Nós
temos a Bíblia e isso é o suficiente . Mas esta não foi a doutrina dos reformadores no Sola Scriptura
- Somente a Escritura. Com relação à abordagens individualista para com a Bíblia, Lutero disse "que
isso significaria que cada homem iria para o inferno por conta própria."

De um lado, os Reformadores enfrentaram a Igreja Romana, que considerava a autoridade dos


seus ensinamentos como definitiva e absoluta. Os Católicos Romanos diziam que a tradição pode
ser uma forma de revelação infalível, mesmo na igreja contemporânea; é preciso uma Bíblia infalível
e um intérprete infalível daquele livro sagrado. Do outro lado estavam os anabatistas radicais que
não apenas acreditavam que não precisavam da função do ensino da Igreja, mas pareciam
realmente não necessitar da Bíblia também, uma vez que o Espírito Santo falava com eles ou, pelo
menos, com seus líderes - diretamente. Em vez de um Papa, o Anabatismo produziu vários
mensageiros "infalíveis", que ouviam a voz de Deus. Contra ambas as posições, a Reforma insistiu
que a Bíblia era a única autoridade final na determinação da doutrina e da vida. Na sua
interpretação, toda a igreja deve ser incluída, inclusive os leigos, e devem ser orientada pelos
mestres na igreja. Esses mestres, embora não infalíveis, devem possuir considerável autoridade
interpretativa. Os credos eram obrigatórios e as comunidades Protestantes recém-reformadas,
rapidamente elaboraram confissões de fé que receberam a concordância ou aprovação de toda a
Igreja, não apenas dos mestres.

Hoje, somos confrontados com desafios semelhantes mesmo dentro do evangelicalismo. Por
um lado, há a tendência de se dizer, como Lutero caracterizou o problema, "Eu vou à igreja, ouço o
que o meu padre diz, e nele eu acredito . Calvino queixou-se ao Cardeal Sadoleto de que os
sermões anteriores à Reforma eram, em parte, uma atividade trivial, e em parte uma narração de
histórias. Hoje, este mesmo processo de "emburrecimento" significa que somos, nas palavras de
George Gallup, "uma nação de analfabetos bíblicos". Talvez tenhamos uma visão elevada da
inspiração bíblica: 80% dos adultos americanos acreditam que a Bíblia é a Palavra de Deus literal ou
inspirada. Mas 30% dos adolescentes que freqüentam regularmente a igreja, não sabem nem
mesmo por que a Páscoa é celebrada. "O declínio da leitura da Bíblia", diz Gallup, "é em parte
devido à convicção generalizada de que a Bíblia é inacessível, bem como a uma menor ênfase na
formação religiosa nas igrejas". Assim como a infalibilidade de Roma repousava sobre a crença de
que a Bíblia em si mesma era difícil, obscura e confusa, da mesma forma, pessoas hoje querem a
sangria dos profissionais: o que isso significa para mim e como isso me ajudará e como me fará
mais feliz? Mas aqueles que lêem a Bíblia mais do que apenas para meditações devocionais, sabem
quão clara ela é - pelo menos sobre os principais pontos que aborda - e como ela acaba por tornar a
religião menos confusa e obscura. Mais uma vez, hoje, a Bíblia - especialmente em igrejas
protestantes - é um livro misterioso que só pode ser compreendida por um pequeno grupo de
estudiosos bíblicos que estão por dentro do assunto".

Mas também temos o outro lado. Há uma tendência popular em muitas igrejas "evangélicas" de
enfatizar a comunicação direta com o Espírito Santo, à parte da Bíblia. Nesses círculos, a tradição e
o ministério de ensino da Igreja através dos séculos não só são tratados como falíveis (como os
reformadores acreditavam), mas como objeto de escárnio. Os sentimentos de Thomas Müntzer, que
se queixou de que Lutero era "um dos nossos escribas que quer enviar o Espírito Santo para a
faculdade", encontrariam um espaço nobre nas transmissões das principais rádios e televisões
evangélicas desta nação. Calvino disse, a respeito dessas pessoas, "Quando os fanáticos se
vangloriam extravagantemente do Espírito, a tendência é sempre a de enterrar a Palavra de Deus
para que eles possam dar espaço para as suas próprias mentiras."
O Cristianismo não é uma espiritualidade, mas uma religião. Wade Clark Roof e outros
sociólogos têm chamado a atenção para o fato de que os evangélicos de hoje são indistinguíveis das
tendências gerais da cultura, especialmente quanto à preferência por pensar em seu relacionamento
com Deus mais em termos de uma experiência do que em termos de uma relação que é mediada
por palavras. Nossa sociedade é baseada no visual ou na imagem, bem parecida com a da Idade
Média, e o Cristianismo, contudo, só pode florescer através de palavras, idéias, crenças,
proclamação e argumentos. Não pode haver qualquer comunicação com Deus à parte da Palavra
viva e escrita. Tudo na fé cristã depende da Palavra falada e escrita, entregue por Deus a nós
através dos profetas e apóstolos.

Além disso, Sola Scriptura significa que a Palavra de Deus é suficiente. Embora Roma
acreditasse que a Palavra era infalível, a teologia oficial foi moldada muito mais pelas idéias de
Platão e Aristóteles, do que pelas Escrituras. Hoje, de modo similar, a psicologia ameaça reformular
o entendimento do eu , como até mesmo nos púlpitos evangélicos o pecado se torna "vício"; a
queda, como um evento, é substituída por um status de "vítima"; a salvação é cada vez mais
comunicada como saúde mental, paz de espírito e auto-estima, e a minha felicidade pessoal e auto-
realização são o centro do palco, em lugar da santidade e a misericórdia de Deus, sua justiça e
amor, sua glória e compaixão. Será que a Bíblia define o problema humano e sua solução? Ou
quando realmente queremos fatos, nos voltamos para outro lugar, para uma moderna autoridade
secular que vá realmente influenciar o meu sermão? A Bíblia, é claro, será citada para reforçar o
argumento. Ideologia política, Sociologia, Marketing e outras "autoridades" seculares não devem
jamais ter prioridade na respostas de questões abordadas pela Bíblia. Isto é, em parte, o que
significa esta afirmação [Sola Scriptura], e hoje os evangélicos parecem tão confusos quanto a este
ponto quanto a igreja medieval.

Solus Christus: O Nosso Único Mediador


Na Idade Média, o ministro era considerado como tendo uma relação especial com Deus, na
medida em que mediava a graça de Deus e o perdão através dos sacramentos. Mas havia outros
desafios. Muitas vezes pensamos em nossa própria época como única, com o seu pluralismo e o
advento de tantas religiões. Mas não muito tempo antes da Reforma, o pensador renascentista
Petrarca clamava por uma Era do Espírito no qual todas as religiões seriam unidas. Muitas mentes
da Renascença estavam convencidas de que havia uma revelação salvífica de Deus na natureza e
que, portanto, Cristo não era o único caminho. O fascínio pela filosofia pagã incentivou a idéia de
que a religião natural tinha muito a oferecer - na verdade, até mesmo a salvação - para aqueles que
não conheciam a Cristo.

A Reforma foi, mais do que qualquer outra coisa, um assalto à fé na humanidade e uma defesa
da idéia de que só Deus revela a Si mesmo e nos salva. Nós não o encontramos; Ele nos encontra.
Essa ênfase foi a causa do clamor "Somente Cristo!" Jesus era a única maneira de se saber como
Deus realmente é, a única forma de se entrar em um relacionamento com Ele como Pai em vez de
juiz, e a única forma de ser salvo da Sua ira.

Hoje, mais uma vez, esta afirmação está em apuros. Segundo o sociólogo James Hunter, da
Universidade da Virgínia, 35% dos seminaristas evangélicos negam que a fé em Cristo seja
absolutamente necessária. De acordo com George Barna, esse é o mesmo percentual para os
Protestantes evangélicos e conservadores na América: "Deus salvará todas as pessoas boas
quando morrerem, independentemente de terem confiado em Cristo"; e eles concordaram.

Oitenta e cinco por cento dos adultos norte-americanos acreditam que comparecerão perante
Deus para serem julgados. Eles acreditam no inferno, mas apenas 11% acham que podem ir pra lá.
R. C. Sproul observou que na mesma medida em que as pessoas acham que são suficientemente
boas para serem aprovadas na inspeção divina, e se esquecem da santidade de Deus, nessa
mesma medida não vêem Cristo como necessário. É por isso que mais de um quarto dos
evangélicos "nascidos de novo" entrevistados, concordaram com uma declaração que deveria
levantar uma bandeira vermelha, mesmo entre aqueles que poderiam concordar com uma versão
mais sutil desta mesma declaração: "Se uma pessoa é boa ou faz coisas suficientemente boas para
os outros durante a vida, ela irá ganhar um lugar no céu". Além disso, quando perguntados se
concordavam com a afirmação seguinte: "Os cristãos, judeus, muçulmanos, budistas e outros, todos
oram ao mesmo Deus, embora eles usem nomes diferentes para esse Deus", dois terços dos
evangélicos não acharam que essa afirmação fosse questionável. Barna observa "quão pequena é a
diferença entre as respostas das pessoas que freqüentam regularmente os cultos e aquelas que
estão sem igreja". Um entrevistado, um Fundamentalista independente, disse: "O que é importante,
no caso deles, é que eles cumpriram a lei de Deus como eles a conhecem em seus corações."

Mas essa influência cultural para o relativismo não é apenas aparente nas massas; é auto-
conscientemente afirmada por muitos dos próprios mestres do evangelicalismo. Clark Pinnock
declara, "A Bíblia não ensina que se deve confessar o nome de Jesus Cristo para ser salvo. A
questão que Deus leva em conta é direção do coração, não o conteúdo de sua teologia." Para
aqueles de nós que têm alguma noção a respeito da direção do seu coração (cf. Jeremias 17:9), isso
pode não ser tão reconfortante como Pinnock supõe.

Dizer Solus Christus, não significa que não acreditemos no Pai ou no Espírito, mas isto enfatiza
que Cristo é a única auto-revelação encarnada de Deus e redentor da humanidade. O Espírito Santo
não chama a atenção para si mesmo, mas nos leva a Cristo, no qual encontramos a nossa paz com
Deus.

Sola Gratia: Nosso Único Método


A razão pela qual devemos perseverar nas Escrituras é porque ela é o único lugar que nos diz
que somos salvos pela espontânea e imerecida aceitação de Deus. Em "A Noviça Rebelde", Maria
(Julie Andrews), desnorteada pela súbita atração do capitão por ela, se expressa de forma
extravagante "Nada vem do nada, nada poderia. Então, em algum lugar da minha juventude ou
infância, devo ter feito algo de bom . No fundo, a natureza humana está convencida de que existe
uma maneira de nos salvarmos por nós mesmos. Podemos realmente necessitam de assistência
divina. Talvez Deus tenha que nos mostrar o caminho, ou até mesmo enviar um mensageiro para
nos conduzir de volta, mas nós podemos realmente seguir o plano e fazer as coisas acontecerem.

A Lei está em nós por natureza. Nascemos com uma consciência que nos diz que estamos
condenados por essa Lei, mas nossa razão imediatamente conclui que a resposta a esta auto-
condenação é fazer o melhor da próxima vez. Mas o Evangelho não está na natureza. Não está
alojado em algum lugar em nosso coração, na nossa mente, na nossa vontade, ou nas nossas
emoções. É um comunicado que chega até nós como loucura, e nossa primeira resposta, assim
como a de Sarah, é rir. Conta-se a história de um homem que caiu de um penhasco, mas durante
sua queda, conseguiu se agarrar a um galho. Ele interrompeu sua queda e salvou sua vida, mas
logo percebeu que não poderia subir de volta para a borda. Finalmente, ele gritou: "Há alguém aí em
cima que possa me ajudar?" Para sua surpresa, uma voz estrondosamente respondeu, "eu estou
aqui e posso te ajudar, mas primeiro você tem que largar esse galho . Pensando por alguns
momentos em suas opções, o homem olhou para cima e retrucou: "Há mais alguém aí que possa me
ajudar?" Procuramos alguém que nos salve, ajudando-nos a nos salvar a nós mesmos. Mas a Lei
nos diz que mesmo as nossas melhores obras são como trapos de imundície; o Evangelho nos diz
que é algo em Deus e em seu caráter (benignidade, bondade, misericórdia, compaixão) e não em
nós (uma boa vontade, uma decisão, um ato, um coração aberto, etc.) que nos salva.

Muitos na igreja medieval acreditavam que Deus salvasse pela graça, mas também
acreditavam que o seu próprio livre arbítrio e cooperação com a graça era "a sua parte" na salvação.
A frase popular medieval era, "Deus não negará a sua graça àqueles que fazem o aquilo que
podem." A versão atual, claro, é: "Deus ajuda quem se ajuda". Mais da metade dos evangélicos
entrevistados achavam que isso era uma citação bíblica direta e 84% pensavam que era uma idéia
bíblica, e essa porcentagem crescia entre aqueles que freqüentavam Igrejas evangélicas.
Às vésperas da Reforma, um número de líderes da Igreja, inclusive bispos e arcebispos, se
queixavam do crescente Pelagianismo (uma heresia que nega o pecado original e a absoluta
necessidade da graça). Contudo, esta heresia nunca foi tolerada na sua expressão plena. No
entanto, hoje é tolerada e até promovida no protestantismo liberal em geral, e mesmo em muitos
círculos evangélicos.

No Pelagianismo, o pecado de Adão não é imputado a nós, nem a justiça de Cristo. Adão é um
mau exemplo, não o representante em quem nos tornamos culpados. Da mesma forma, Cristo é um
bom exemplo, não o representante em quem nos tornamos justos. Quantas de nossas pregações
estão centradas no seguir a Cristo embora tão importante - e não na Sua pessoa e na Sua obra?
Quantas vezes ouvimos falar sobre a Sua obra em nós comparada com Sua obra por nós?

Charles Finney, o revivalista do século XIX, é um santo padroeiro para a maioria dos
evangélicos. E, no entanto, ele negou o pecado original, a expiação vicária, a justificação, e a
necessidade de regeneração pelo Espírito Santo. Em suma, Finney era um Pelagiano. Essa crença
na natureza humana, tão proeminente no Iluminismo, arruinou a doutrina evangélica da graça entre
as denominações protestantes mais antigas (agora chamadas de "linha dominante"), e podemos ver
onde isso as levou. E, contudo, evangélicos conservadores estão indo pelo mesmo caminho e têm
experimentado essa ênfase centrada no homem, centrada nas obras há algum tempo.
As estatísticas se mostram verdadeiras neste ponto, infelizmente, e mais uma vez, os líderes
ajudam a sintetizar o erro. Norman Geisler escreve, "Deus salvaria todos os homens, se pudesse.
Ele salvará o maior número possível, de fato, sem violar o seu livre arbítrio."

Sola Fide: Nosso Único Recurso

Os reformadores disseram que não é o suficiente dizer que somos salvos somente pela graça,
mesmo porque muitos estudiosos medievais tinham essa opinião, incluindo o mentor do próprio
Lutero. Roma via a graça mais como uma substância do que como uma atitude de favor por parte de
Deus. Em outras palavras, a graça era como água derramada na alma. Ela ajudava crente em seu
crescimento para a salvação. O propósito da graça era transformar um pecador em um santo, uma
má pessoa em uma boa pessoa, um rebelde em um filho ou filha obediente.

Os reformadores procuraram nas Escrituras e perceberam a falta de um ingrediente na noção


medieval da graça. Havia, sem dúvida alguma, muitas passagens que falavam da graça nos
transformando e nos conformando à imagem de Cristo. Mas havia outras passagens, também, que
usavam uma palavra grega que significa "declarar justo", não "tornar justo". O problema era que a
Bíblia em latim, que todos usavam, traduzia o primeiro significado de forma incorreta, combinando as
duas palavras em grego em uma única. Erasmo e outros humanistas da Renascença "puseram o
ovo que Lutero chocou" ao removerem os erros de tradução.

Segundo as Escrituras, Deus declara uma pessoa justa antes que essa pessoa realmente
comece a se tornar justa. Portanto, a declaração não ocorre em resposta a qualquer avanço
espiritual ou moral dentro do indivíduo, mas é uma imputação da justiça perfeita que Deus exige de
imediato de todos aqueles que estão unidos a Cristo pela fé somente. Quando uma pessoa confia
em Cristo, naquele momento ele ou ela é coberto por Sua santidade perfeita, de modo que, mesmo o
crente ainda sendo pecador, ele ou ela é julgado por Deus como irrepreensível.

Esta doutrina apostólica, proclamada a Abraão e à sua prole, tem, mais uma vez, enfrentado
tempos difíceis na história da igreja. A maioria dos cristãos de hoje não apenas não ouvem sobre a
doutrina da justificação somente pela graça, através da fé somente, mas muitos não podem nem
mesmo explicá-la. Embora a justificação seja a doutrina pela qual, de acordo com os reformadores
evangélicos "a igreja permanece de pé ou cai", mesmo assim tem sido desafiada. Finney declarou
abertamente: "A doutrina de uma justiça imputada é um outro evangelho. Pois é impossível e
absurdo que os pecadores sejam judicialmente pronunciados justos. A doutrina de uma justiça
imputada é fundada sobre uma suposição falsa e sem sentido, onde a expiação, ao invés da
obediência do próprio pecador, representa a base de sua justificação, o que tem sido uma triste
razão de tropeço para muitos."

Em nossa própria época, Clark Pinnock pergunta por que nós não podemos mesmo abraçar a
noção do purgatório:

Não posso negar que a maioria dos crentes termina sua vida terrena imperfeitamente
santificada e longe de ser completa. [A maioria? Que tal todos!] Não posso negar a sabedoria na
possibilidade de se concluir o que falta e alcançar a maturidade após a morte. Obviamente, os
evangélicos não pensaram muito bem sobre isso. [Nós pensamos: E isso se chama Reforma.] Me
parece que já temos a possibilidade de uma doutrina do purgatório. Nosso pensamento Wesleyano e
Arminiano precisa ser estendido neste sentido. Não é a doutrina do purgatório exigida por nossa
doutrina da santidade?

Russell Spittler, teólogo pentecostal no Fuller Seminary, reflete sobre frase de Lutero sobre a
justificação: simul iustus et peccator, (simultaneamente justo e pecador): "Mas pode isto realmente
ser verdade justo e pecador simultaneamente? Eu gostaria que fosse assim. Seria isto correto: Eu
não preciso trabalhar para ser. Eu já fui declarado justo . Sem nenhum suor? Isto me parece errado.
Ouço exigências morais nas Escrituras. Simul iustus et peccator? Espero que isto seja verdade! Eu
simplesmente temo que não seja.

A ênfase wesleyana sempre foi um desafio à fé evangélica neste ponto, e mesmo em seus
melhores momentos Wesley insistiu neste foco do Evangelho. Na medida em que os construtores de
consenso institucional e abades dos mosteiros evangélicos tentaram incorporar o Arminianismo sob
o rótulo de "evangélico", nessa mesma medida, me parece, ele deixa de ser evangélico de fato.

Soli Deo Gloria: Nossa Única Ambição


O mundo está cheio de pessoas ambiciosas. Mas Paulo disse: "Tem sido minha ambição, deste
modo, pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado" (Romanos 15:20). Uma vez que Deus
falou de forma tão clara e salvou de forma tão definitiva, o crente é livre para adorar, servir e
glorificar a Deus e gozá-lo para sempre, começando agora. Qual é a ambição do movimento
evangélico? Agradar a Deus ou agradar a homens?

A nossa felicidade e alegria se encontra em Deus ou em alguém ou algo mais? O nosso culto é
entretenimento ou adoração? A meta da nossa vida é a glória de Deus ou a nossa auto-realização?
Vemos a graça de Deus como a única base para a nossa salvação, ou ainda estamos buscando
alguma parte do crédito para nós mesmos? Estas questões revelam uma flagrante centralização no
homem nas igrejas evangélicas e no testemunho geral dos nossos dias.

Robert Schuller diz que a Reforma "cometeu um erro porque estava centrada em Deus, em vez
de centrada no homem", e George Lindbeck, de Yale, observa o quão rapidamente Teologia
Evangélica aceitou este novo evangelho: "Nos anos cinqüenta, foi necessário existir os liberais para
que houvesse aceitação a Norman Vincent Peale, mas como o caso de Robert Schuller indica, hoje
os conservadores professos engolem suas idéias"

Muitos historiadores olham em retrospectiva para a Reforma e admiram suas influências de


longo alcance na transformação da cultura. A ética do trabalho, a educação pública, o
aperfeiçoamento cívico e econômico, um reavivamento da música, das artes, e um sentimento de
que toda a vida, de alguma forma, está relacionada a Deus e à sua glória: Esses efeitos levaram
historiadores a observar com um senso de ironia como uma teologia do pecado e da graça, a
soberania de Deus sobre a impotência dos seres humanos, e uma ênfase na salvação pela graça à
parte das obras, poderia ser o catalisador para uma energética transformação moral. Os
reformadores não se propuseram lançar uma campanha política ou moral, mas eles provaram que,
quando colocamos o Evangelho em primeiro lugar e damos voz à Palavra, os efeitos inevitavelmente
se seguem.

Como podemos esperar que o mundo leve Deus e Sua glória a sério se a Igreja não leva? O
lema da Reforma, Soli Deo Gloria estava esculpido no órgão da igreja de Bach em Leipzig e o
compositor assinava suas obras com as iniciais deste lema. Ele está inscrito sobre tabernas e salões
de dança nas áreas antiga de Heidelberg e de Amsterdã, um duradouro tributo a um tempo em que o
perfume da bondade de Deus parecia encher o ar. Não foi uma idade de ouro, mas um tempo de
espantosa restauração de fé e prática centradas em Deus. Eugene Rice, professor da Universidade
Columbia, oferece uma conclusão adequada:

Muito mais, os pontos de vista da Reforma a respeito de Deus e da humanidade servem de


medida para o abismo existente entre a imaginação secular do século XX e a embriaguez do século
XVI com a majestade de Deus. Podemos exercer apenas uma concessão histórica ao tentarmos
entender como é que as inteligências mais brilhantes de toda uma época encontraram uma suprema
e total liberdade para abandonar a fraqueza humana em favor da onipotência de Deus .

Soli Deo Gloria!

Michael Horton
Reformation Essentials - Five Pillars of the Reformation
Dr. Michael Horton é professor de Teologia e Apologética no Seminário de Westminster Califórnia (Escondido,
California)

© Modern Reformation

Este artigo foi publicado originalmente na edição de março/abril de 1994 da revista Modern Reformation e é
reproduzida com permissão. Para obter mais informações sobre a Modern Reformation, visite
www.modernreformation.org ou ligue para (800) 890-7556. Todos os direitos são reservados.

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