O documento discute a entrada do psicólogo nas instituições públicas de saúde no Brasil no final dos anos 1970 e década de 1980. Fatores como as políticas públicas de saúde da época, a crise econômica, os movimentos da categoria e a psicologização da sociedade contribuíram para a inserção do psicólogo no Sistema Único de Saúde. O modelo médico-assistencialista privado estava em crise e havia demanda por equipes multiprofissionais nos serviços de saúde mental.
O documento discute a entrada do psicólogo nas instituições públicas de saúde no Brasil no final dos anos 1970 e década de 1980. Fatores como as políticas públicas de saúde da época, a crise econômica, os movimentos da categoria e a psicologização da sociedade contribuíram para a inserção do psicólogo no Sistema Único de Saúde. O modelo médico-assistencialista privado estava em crise e havia demanda por equipes multiprofissionais nos serviços de saúde mental.
O documento discute a entrada do psicólogo nas instituições públicas de saúde no Brasil no final dos anos 1970 e década de 1980. Fatores como as políticas públicas de saúde da época, a crise econômica, os movimentos da categoria e a psicologização da sociedade contribuíram para a inserção do psicólogo no Sistema Único de Saúde. O modelo médico-assistencialista privado estava em crise e havia demanda por equipes multiprofissionais nos serviços de saúde mental.
O Psiclogo nas UBS: desafios para a formao e atuao profissionais
Atravs da Federal n 4.119 - que a Psicologia passou a existir como profisso.
No final da dcada de 70- Psicologia passou a adentrar em instituies pblicas no Brasil; antes s haviam algumas experincias isoladas. Nesse contexto, alguns fatores foram decisivos para incrementar a entrada do psiclogo no mbito das instituies pblicas de sade, tais como: 1.O contexto das polticas pblicas de sade do final dos anos 70 e da dcada de 80 no que se refere poltica de recursos humanos; 2.A crise econmica e social no Brasil na dcada de 80 e a retrao do mercado dos atendimentos privados; 3.Os movimentos da categoria na tentativa de redefinio da funo do psiclogo na sociedade; 4.Difuso da psicanlise e psicologizao da sociedade. Item 1- O contexto das polticas pblicas de sade no final dos anos 70 e dcada de 80 Dc. 70- Crescimento da populao de ordem acelerada e as migraes internas para centros urbanos levaram a consequncias catastrficas: expanso desordenada desses centros, endividamento externo, expanso da dvida pblica. A inflao teve seu pice nos anos 80. Assim foi oferecido assistncia populao nos servios de sade que acabou sendo deteriorada, muito embora houvesse avanos tecnolgicos na poca. Cortes progressivos nos programas sociais e de sade afetaram as condies de sade da populao em geral. ANOS 70- modelo mdico assistencialista e privatista- prtica mdica curativa, individual e assistencialista, em detrimento da sade pblica - capitalizao da Medicina e privilgio do produto privado desses servios. Quando o psiclogo entra nesse cenrio o que encontrou? Modelo hospitalocntrico (asilos, colnias) - assistncia privada de hospitais que o Estado financiava e era uma total mercantilizao da loucura. O psiclogo emerge no momento em que o modelo mdico-assistencial privatista estava no pice, porm em ESGOTAMENTO. Esse quadro de falncia do modelo assistencial implicou numa perda gradativa da eficincia e da qualidade dos servios prestados pela Previdncia Social, e teve como resultado a elaborao das primeiras tentativas no sentido de alterar o quadro precrio da sade no Brasil. Na rea da psiquiatria, apareceram inmeras crticas em relao ao modelo asilar e propostas de desospitalizao da assistncia mdico-psiquitrica, devido aos efeitos prejudiciais da permanncia prolongada, pelo questionamento da sua eficcia tcnica e legitimidade tica. Esses movimentos de crtica ao asilo e instituio psiquitrica foram inspirados em outros movimentos reformistas ocorridos nos EUA e Europa desde a dcada de 40, tais como a Psicoterapia Institucional e as Comunidades Teraputicas (formas restritas ao mbito hospitalar); a Psiquiatria de Setor francesa e a Psiquiatria Preventiva norteamericana; a Anti-Psiquiatria e as experincias surgidas a partir de Franco Basaglia ou o movimento chamado de Psiquiatria Democrtica italiana Almejava-se desenvolver redes de servios substitutivos ao hospital, que fossem ao mesmo tempo mais eficazes e de menor custo social. Como o psiquiatra no
poderia desempenhar este papel totalmente sozinho buscou-se as equipes
multiprofissionais: apresentava-se enquanto crtica ao asilo e comosoluo para os problemas e precariedades da assistncia psiquitrica (da a entrada do Psiclogo). Final dos anos 70-o campo da sade mental configurou-se como um grande plo de absoro de psiclogos, insero que se deu em parte devido s crticas quanto predominncia de mdicos nas equipes de sade, e ao investimento que passou a ser efetivado em outras categorias profissionais, na tentativa de mudar o modelo mdico predominante e de formar equipes multiprofissionais. Meados dcada de 70- Movimento Sanitrio- formado basicamente pelos intelectuais progressistas do setor e tinha como objetivos constituir-se enquanto um saber contra-hegemnico, de crtica ao modelo dominante de ateno sade e produzir uma reforma nas polticas e prticas de sade que vigoravam no Brasil, de forma a possibilitar a obteno efetiva da sade por toda a populao.democratizar e instituir um novo sistema nacional de sade; procurava-se enfatizar o vnculo entre sade e sociedade, bem como desenvolver uma conscincia sanitria na populao. Nos anos 80, observa-se em relao s polticas pblicas o surgimento de algumas propostas de mudana no sistema de assistncia sade. 1979: o Ministrio da Sade e Previdncia Social (MSPAS) criou o PREVSADE que previa a regionalizao da assistncia, a hierarquizao dos servios e dos profissionais, a mxima padronizao dos procedimentos, a integrao institucional, definindo inclusive a atuao do setor privado, a simplificao do cuidado mdico e a participao comunitria Entretanto, a dvida previdenciria continuava crescendo e assim foi criado em 1981 o CONASP (Conselho Consultivo da Administrao de Sade Previdenciria), com o objetivo de propor normas mais adequadas para a prestao da assistncia sade da populao, para a alocao de recursos financeiros, como tambm, para propor medidas de avaliao e controle do sistema de assistncia mdica. CONASP buscava, ento, uma melhoria da qualidade assistencial, a humanizao dos atendimentos e um maior acesso das populaes rurais e urbanas aos servios de sade. Como derivao desse plano, foi aprovado em 1982 o Programa de Reorientao Psiquitrica Previdenciria com o objetivo de reforma da assistncia psiquitrica no pas, de melhoria das condies de internao - um padro assistencial mais humanizado -, e principalmente, de desenvolver a rede ambulatorial e incrementar novas formas intermedirias de assistncia psiquitrica (hospital-dia, hospital-noite, penso protegida etc.). Esse plano de reorientao psiquitrica dava um certo lugar de destaque equipe multiprofissional, e entre os atendimentos ambulatoriais prescritos, a Psicologia Clnica configurava-se como um deles-antes atividades meramente restritas ao poder mdico passam a ser realizadas e repensadas pela equipe multiprofissional. Em 1983, como parte da implantao do plano do CONASP, foram implementados dois grandes projetos: o programa de racionalizao das contas hospitalares, com a introduo da AIH (autorizao de internao hospitalar) e o Programa de Aes Integradas de Sade (AIS), que pode ser considerado uma das vias privilegiadas de acesso do psiclogo s instituies pblicas de sadeAs AIS passaram a ser consideradas como o eixo de organizao para uma
ateno integral sade da populao atravs de uma rede de servios
integrados e regionalizados No mesmo ano, na rea da sade mental, essas mesmas diretrizes passaram a nortear a prtica da DINSAM (Diviso Nacional de Sade Mental), rgo do Ministrio da Sade responsvel pela formulao das polticas de sade do subsetor sade mental, no entanto desde 1978: debates entre os profissionais da sade devido as questes da reforma psiquitrica e modo assistencial da populao. Tivemos ento a chamada crise da DINSAM: quando os trabalhadores de sade mental denunciaram a falta de recursos e de profissionais, a precariedade das condies de trabalho e da assistncia prestada, criticaram a cronificao do manicmio e o uso do eletrochoque, e reivindicaram da Dinsam um esforo no sentido de substituio do modelo assistencial-custodial e segregador, por um modelo mais abrangente de recuperao e ressocializao do usurio dos servios de sade mental Ocorreu investimentos e contrataes de profissionais da sade, porm os nmeros foram escassos. 1986: VIII Conferncia Nacional de Sade, evento no qual se definiram as bases do projeto de Reforma Sanitria brasileira, a qual teve seu eixo fixado sobre alguns pontos fundamentais, que serviram para incrementar esse processo de ampliao da diversidade de profissionais no campo da sade: Concepo ampliada de sade, entendida numa perspectiva de articulao de polticas sociais e econmicas; - Sade como direito de cidadania e dever do Estado; Instituio de um Sistema nico de Sade que tem como princpios fundamentais a universalidade, a integralidade das aes, a descentralizao e hierarquizao dos servios de sade; - Participao popular e controle social dos servios pblicos de sade. Mudana de concepo sobre o que sade aps o CNS: deixava de ser concebida como um estado biolgico abstrato de normalidade ou de ausncia de patologias - viso socialmente dominante - e passou a ser percebida como um efeito real de um conjunto de condies coletivas de existncia, como expresso ativa de um direito de cidadania; superando, dessa forma, uma concepo medicalizada da sade; servios descentralizados implicavam a transferncia efetiva de responsabilidade: municpios, estados e distritos com poder de deciso. 1987: I Conferncia Nacional de Sade Mental -busca da concretizao da reforma sanitria e da transformao da realidade da assistncia psiquitrica no pas, tornando-se um momento de crtica ao modelo asilar e denncia da sua ineficincia. Um dos eixos de discusso: questo da poltica de recursos humanos que contemplava, desde a reformulao do currculo mnimo para a formao de profissionais de sade, at concurso pblico para a contratao de novos trabalhadores importante assinalar que no relatrio final da I CNSM, em termos de poltica de Recursos Humanos, a reforma curricular dos cursos de graduao na rea de sade foi considerada imprescindvel para que se formassem profissionais e agentes de sade qualificados para atuar junto s necessidades da rede pblica assistencial em sade mental Nesse mesmo ano de 1987 foi criado o SUDS (Sistema nico e Descentralizado de Sade), tomado como um aperfeioamento das AIS, cujo objetivo foi reafirmar a poltica de descentralizao dos servios de sade, atravs da estadualizao ou municipalizao.
Em 1988, foi aprovado na nova Constituio o SUS (Sistema nico de Sade),
que a forma atualmente proposta de produzir servios de sade para o setor pblico de forma descentralizada, numa rede regionalizada e hierarquizada, priorizando-se o atendimento integral e as atividades preventivas a alterao na composio interna das equipes de sade foi uma consequncia de uma nova orientao dada pelas polticas pblicas de sade e do princpio de integrao. Item 2-A crise econmica e social no Brasil na dcada de 80 e os movimentos de redefinio da categoria O segundo fator que contribuiu para a entrada do psiclogo no campo da sade foi a grave crise econmica e social ocorrida no Brasil na dcada de 80 O mercado dos atendimentos psicolgicos privados mostrava-se cada vez mais limitado com a crise econmica e social que abateu o pas. Alm disso, estava difcil absorver o nmero crescente de profissionais que saa das universidades. Crise econmica: classe mdia deixa os servios psicolgicos de lado- O psiclogo encontra como sada: o servio pblico como um emprego vitalcio, cuja carga horria reduzida permitia outras atividades, alm de possibilitar o exerccio clnico, sem dvida foram alguns dos aspectos que mais atraram o psiclogo em busca da segurana de uma remunerao fixa e garantida, ainda que modesta. Resoluo do CFP n 15, de 13 de dezembro de 1996: instituiu e regulamentou a concesso de atestado psicolgico para tratamento de sade por problemas psicolgicos bem como facultou ao psiclogo o uso do Cdigo Internacional de Doenas (CID) ou outros cdigos de diagnstico. Prticas psicolgicas nas instituies pblicas de sade deu-se, em parte, por uma falta de opo de entrar no mercado dos atendimentos privado a Psicologia vinha sendo alvo de inmeras crticas - por parte no s da categoria - no sentido de que o trabalho clnico do psiclogo no apresentava grande significado social, sendo frequentemente identificado como uma atividade de luxo. Pode-se, ento, dizer que esse movimento de insero no setor sade configurou-se, ou melhor, vem configurando-se ainda como uma estratgia para escapar ao declnio social e reduo dos empregos que os psiclogos vm experimentando desde meados dos anos 80. O segundo ponto diz respeito ao fato de que a Psicologia foi concretizando-se como uma profisso predominantemente feminina, implicando com isso numa perda de prestgio e de valor no mercado das profisses. Em outras palavras, a Psicologia foi ficando marcada como uma profisso de mulheres e isso um dos fatores de grande repercusso em termos do seu valor social e dos espaos ocupados no mercado de trabalho. Item 3- A difuso da psicanlise e a psicologizao da sociedade A produo de uma cultura psicolgica no Brasil, propiciada pela intensa difuso da psicanlise na sociedade brasileira foi, sem dvida, um dos aspectos que contriburam para o boom da procura de faculdades de Psicologia a partir dos anos 70, para o aumento da oferta de servios de Psicologia, para a expanso do campo de atuao do psiclogo e seu mercado de trabalho no Brasil. Figueira (1985), a partir dessa poca, a psicanlise comeou a se difundir maciamente na sociedade brasileira por vrias vias, atingindo um grau de popularizao to alto - o que ele chamou de cultura psicanaltica - que passou a produzir uma viso de mundo e um certo modo de funcionamento dos sujeitos.
Esse processo de difuso da psicanlise teria vindo responder a uma necessidade
social de orientao das pessoas afetadas pela modernizao acelerada experimentada pela sociedade brasileira a partir da dcada de 50. A difuso da psicanlise no Brasil ficou marcada predominantemente nessas classes sociais em funo da existncia de um ethos individualista caracterizado pela centralidade do valor indivduo, na nuclearizao da famlia, na incompatibilidade entre os domnios pblicos e privados da existncia, ou seja, por um determinado modo de pensar e estilo de vida, por certas escolhas ticas e estticas e pela monopolizao de certos bens simblicos Ao longo dos anos 60/70 e at mesmo nos 80, houve um culto da intimidade com nfase na privatizao e nuclearizao da famlia, em contraste com os antigos valores da famlia hierrquica, na responsabilidade individual de cada um de seus membros e uma preocupao com suas particularidades, nos projetos de ascenso social e no mudar de vida, na descoberta de si mesmo na libertao das represses. nfases que foram reforadas pela difuso da psicanlise e dos saberes psi na sociedade brasileira, culminando na promoo de uma psicologizao do cotidiano e da vida social. a expanso de uma viso de mundo psicologizada, a procura de faculdades de Psicologia, o aumento da oferta de servios psicolgicos e o incio dos atendimentos de cunho social (p. 25), pois com a saturao do mercado privado e a abertura dos primeiros servios de atendimento comunitrio, possibilitadas pelas polticas pblicas de sade, aconteceu, de fato, uma abertura de mercado para o psiclogo. Item 4- Unidades Bsicas de Sade (UBS): desafios para a formao e atuao profissional do psiclogo No que tange ao campo da Psicologia, possvel apontar que tais dificuldades encontradas pelos psiclogos para a realizao da Psicologia nas Unidades Bsicas de Sade no pas advm tanto da inadequao da sua formao acadmica para o trabalho no setor, quanto do seu modelo limitado de atuao profissional, bem como da sua dificuldade de adaptar-se s dinmicas condies de perfil profissional exigido pelo Sistema nico de Sade (SUS). A formao do profissional de Psicologia prioriza praticamente um nico modelo de atendimento, o qual direcionado aos padres de classe mdia, sendo ampliado populao que frequenta as unidades de sade equivocadamente. O indivduo tratado como um ser abstrato e a-histrico, desvinculado do seu contexto social, como se todos os membros da espcie humana fossem iguais em qualquer poca, em qualquer lugar. Teorias essencialistas e universais que sobre assuntos como: famlia, casamento, sexualidade e outros-tambm ideia universal do que sade e doena- nem sempre compartilhada pelos pacientes. O problema est: psiclogo acaba por transpor suas tcnicas e teorias psicolgicas para o atendimento da clientela que frequenta as instituies pblicas de sade, geralmente pertencentes s classes populares, partem do pressuposto de que essa populao compartilha da mesma viso de mundo, das mesmas representaes e modelo de subjetividade. Recai na subjetividade prpria de cada um. Noo de operador - Rotelli (1992): um profissional que esteja a servio do paciente e no contra ele e que comece a construir um profissionalismo que no seja mais caricatural e
simplificado, mas um profissionalismo completo, que consiga ser um elemento
de transformao cultural da sociedade. Esse um dos grandes desafios que o psiclogo enfrenta atualmente no campo da assistncia pblica sade, na medida em que implica na substituio do paradigma da clnica pelo da sade pblica, requer um novo modelo de ateno sade e de relao com o usurio, bem como um modo sempre mutante de fazer sade, tal como apontou Campos (1992), com base nas prioridades de sade da populao.