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Tomada de Posição Conjunta dos Municípios do Vale

do Sousa Sobre a Introdução de Portagens na SCUT


do Grande Porto

Desde Outubro de 2006 que o Governo tem vindo a anunciar a introdução de


portagens em algumas das auto-estradas actualmente a funcionar em regime de
SCUT (Sem Custos para o Utilizador). Entre as auto-estradas que receberão a
introdução de portagens encontra-se a SCUT Grande Porto, na qual se inserem a
A42 e a A41.

Para sustentar a decisão de aplicação de portagens e para identificar quais os


troços e/ou SCUT’s onde tal deveria acontecer, o Ministério das Obras Públicas,
Transportes e Comunicações definiu três critérios base, cujo seu cumprimento
cumulativo constituiria condição para a aplicação de portagens. A saber:

1) - Índices de Disparidade do PIB per capita regional;

2) - Índice do Poder de Compra Concelhio;

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3) Tempo de Percurso das Vias Alternativas.

Se algum destes critérios não for cumprido não há


lugar a introdução de portagens.

Os concelhos do Vale do Sousa, bem assim como a região NUT III Tâmega, não
cumprem com nenhum dos três critérios, pelo que se estranha a inclusão dos
troços que servem esta região no conjunto dos que virão a receber a introdução de
portagens.

Analisando critério a critério:

- O PIB per capita da Região do Vale do Sousa, bem como o de toda a NUT
III Tâmega, situa-se abaixo em 49,2% da média nacional; isso mesmo
resulta da análise dos mapas que suportam o próprio estudo do Ministério

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das Obras Públicas, Transportes e Comunicações; não se encontra,
portanto, cumprido este critério;

- O Índice de Poder de Compra Concelhio na Região do vale do Sousa


varia entre de 55% e 70% da média nacional; o da NUT III Tâmega é ainda
mais baixo – 55,78%; isso mesmo se encontra comprovado no estudo do
MOPTC; não se encontra, portanto, cumprido este critério;

- O cálculo do Tempo de Percurso das Vias Alternativas à SCUT do


Grande Porto apresenta condicionantes evidentes: foi calculado o tempo de
percurso que passa por uma estrada que não pertence à rede nacional de
estradas e que não cumpriria o tempo por uns míseros 20 segundos, mesmo
tendo as medições sido feitas no mês de Agosto (e medir no mês de Agosto
no interior norte não dá o mesmo resultado que medir no Algarve –
Lembramos que foi este critério que fez com que a SCUT do Algarve se
mantivesse sem portagens) pelo que entendemos que não se encontra
devidamente provado o cumprimento deste critério;

Após análise exaustiva aos estudos encomendados pelo MOPTC, verifica-se que, no
caso da SCUT do Grande Porto, foram introduzidos mecanismos de correcção e
análise que claramente distorcem os resultados e que apresentam índices
estatísticos claramente artificiais. Basta atentar no seguinte: são apenas 6 os
Concelhos atravessados pela SCUT – Matosinhos, Maia, Valongo, Paredes, Paços de
Ferreira e Lousada; no entanto, para cálculo dos indicadores, considera-se Paredes
como concelho servido e não como atravessado e consideraram-se como também
servidos concelhos como o de Espinho, Póvoa de Varzim, Vila Nova de Gaia,
Amarante, Fafe ou Guimarães.
Ou seja, foram contabilizadas, para efeitos de cálculo dos índices do PIB per capita
e do IPCC regionais, as NUT’s III Grande Porto, Tâmega e Ave.
Alguém acredita que um cidadão de Famalicão para se deslocar ao Porto utiliza um
percurso pela A42 e A41? Ou um de Esposende? Até mesmo de Guimarães para se
deslocarem para o Porto não o farão pela A42 e A41.
Isto demonstra claramente que foram, neste estudo, incluídos concelhos a jeito de
se obter os valores necessários ao cumprimento dos critérios. Por outro lado foram
esquecidos concelhos como o de Felgueiras.

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Lista dos concelhos e das NUT’s III considerados no estudo:

Concelhos IPCC Habitantes


atravessados 2004
Matosinhos 125.9 168.451
Maia 105.8 130.254
Lousada 53.6 46.322
Paços de Ferreira 64.3 54.801
Concelhos Servidos IPCC Habitantes
2004
Espinho 112.2 31.703
Gondomar 79.6 169.239
Porto 198.5 238.954
Póvoa do Varzim 83.6 65.452
Valongo 93.7 91.274
Vila Nova de Gaia 95.1 300.868
Vila do Conde 75.6 75.961
Amarante 58.4 61.029
Marco de Canaveses 57.7 53.961
Paredes 53.3 85.428
Penafiel 59.8 72.095
Fafe 60.8 53.528
Guimarães 72.0 161.876
Santo Tirso 71.2 71.623
Trofa 71.9 39.166
Vila Nova de Famalicão 73.0 131.690
Vizela 70.7 23.528

NUT III PIB per capita Nº habitantes


Grande Porto 102,5% 1.267.000
Tâmega 49,2% 555.000
Ave 76,6% 516.000

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Dos quadros acima infere-se que os concelhos e NUT’s III que melhores IPPC e PIB
per capita têm, são também os que maior número de habitantes possuem pelo que
inflacionam os respectivos índices e acima de tudo e numa análise séria não são na
realidade os que mais utilizam a SCUT do Grande Porto.
Temos de convir, também, que os concelhos do Vale do Sousa e do Tâmega são
aqueles que mais dependem da SCUT do Grande Porto porque são alvo da
influência centrípeta da área metropolitana do Porto, ou seja, necessitam de se
abastecer no litoral e de fazer escoar os seus produtos no litoral, dependem das
infra-estruturas portuárias, aeroportuárias, de logística e de serviços, pelo que a
sua população tem que se socorrer mais destas vias, enquanto a população
metropolitana já lá está, não lhes é exigido tantas deslocações nem com tão
grandes distâncias, pelo que, para além da implementação de portagens ser
injusta, pior ainda, ao aplicar a média ponderada, estão a atribuir um peso inferior
a esta população do Vale do Sousa, já de si fragilizada.
Acresce, ainda, que os valores estatísticos apresentados se reportam aos anos de
2003 e 2004 e que o panorama actual é ainda mais gravoso uma vez que a crise
que hoje vivemos tem afectado particularmente a região aumentando ainda mais a
clivagem entre capitações do PIB da região e a média nacional.

Em síntese:
1- O estudo encomendado pelo Governo não considera a especificidade do Vale
do Sousa. Está integrado numa das regiões mais pobres da Europa.
2- Os indicadores que suportam o Estudo são de data anterior à conclusão da
SCUT, a tal que viria discriminar positivamente este território, mas entendeu
o Governo que mesmo antes de estar concluída já tinha contribuído para o
desenvolvimento sócio-económico da região.
3- Se o Governo pretende introduzir portagens em 2010, tem que realizar
estudos com indicadores actuais, infelizmente bem piores do que os de 2003
e 2004.
4- Para o cálculo do PIB e do IPCC foram somados Municípios que não utilizam
a SCUT. Só serviu para desvirtuar os resultados.
5- A população mais afastada do Porto é a que mais depende da SCUT para se
deslocar aos centros de decisão. Porquê tomar como critério uma média
ponderada, que só vem, mais uma vez, desvirtuar os resultados?

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6- Para o cálculo do PIB e do IPCC não foi considerado o Município de
Felgueiras, mas o mesmo já interessou para calcular a distância-tempo.
7- Em 2004 o governo aprovou e publicou em Diário da República o mapa
“Portugal menos favorecido” onde fez constar a totalidade do vale do Sousa
e Tâmega.
8- O estudo da distância-tempo da alternativa é feito em Agosto (não é igual ao
resto do ano e muito menos comparável com o Algarve) e sobre estradas
municipais. Como é possível definir com rigor uma alternativa cuja gestão e
tutela não depende do Estado?
9- Apesar do descrito no ponto anterior, no entender dos autores do estudo, a
distância-tempo falha por uns míseros 20 segundos (azar!), num percurso
total de 1h02m!!!
10-A Associação de Municípios do Vale do Sousa lamenta que apesar de
solicitada em Dezembro uma audiência a sua Excia o Senhor Ministro das
Obras Públicas, até ao momento desconhecemos o agendamento.
11-A Valsousa e os seus autarcas não esquecem que o Senhor Secretário de
estado das Obras Públicas prometeu em audiência concedida em 29-05-
2008 reunir com os municípios do Vale do Sousa, em momento anterior a
qualquer decisão de introdução de portagens, para se discutirem estes
argumentos.

Considerando o exposto,
a Associação de Municípios do Vale do Sousa - constituída
pelos municípios de Castelo de Paiva, Felgueiras, Lousada,
Paços de Ferreira, Paredes e Penafiel com uma população de
330.000 pessoas - decidiu encomendar um estudo que
fundamentará a adopção das medidas consideradas
convenientes que impeçam a introdução de portagens.

Lousada e sede da Associação de Municípios do Vale do Sousa, 16 de Abril de 2010

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