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Administração de medicamentos:
Adriana Inocenti Miasso
Silvia Helena De B. Cassiani
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Rev Esc Enferm USP Recebido: 03/06/2003
2005; 39(2):136-44. Aprovado: 16/10/2003
INTRODUÇÃO O profissional e o paciente devem constante-
Administração de
mente avaliar seu progresso no que se refere ao medicamentos:
processo ensino-aprendizagem, uma vez que a orientação final de
Erros relacionados à administração de medica- enfermagem para a
mentos podem ocorrer tanto no hospital quanto mudança de comportamento do paciente constitui alta hospitalar
no domicílio, após a alta hospitalar do paciente. um importante fator para a garantia da continuida-
Sabe-se que muitas vezes o paciente recebe alta de de sua assistência no domicílio(4).
hospitalar com a prescrição de um grande número
de medicamentos necessários à continuidade do Quanto às orientações finais estabelecidas no
seu tratamento e em decorrência de vários fatores plano de alta, o paciente deve recebê-las antes do
acaba ocorrendo erros. horário previsto para sua saída formal do hospital,
evitando o acúmulo de informações nesse momen-
A ocorrência de erros de medicação no domicí- to, possibilitando a avaliação de sua compreensão
lio tem relação com o trabalho do enfermeiro, uma quanto às informações fornecidas e o esclareci-
vez que é de competência desse profissional edu- mento de dúvidas.
car o paciente para o uso correto dos medicamen-
tos após a alta hospitalar. Assim sendo, no momento da alta, o enfermei-
ro deve reforçar as orientações sobre o plano a ser
Para tanto o enfermeiro precisa ter conhecimen- seguido e a importância do retorno para controle
to da ação do medicamento no organismo, méto- médico (caso seja solicitado pelo médico). O paci-
dos e vias de administração, eliminação, reações ente deve ser informado que poderá se comunicar
colaterais, dose máxima e terapêutica, efeitos tóxi- com a equipe sempre que tiver alguma dúvida. Um
cos, das técnicas de administração pelas diferen- telefone que possa ser fornecido para contato com
tes vias, bem como, da anatomia e fisiologia huma- a equipe hospitalar é sempre uma alternativa im-
na pois, falhas no conhecimento do enfermeiro re- portante no caso de dúvidas.
fletem diretamente na orientação que é fornecida
ao paciente. Grande parte dos pacientes deixa o hospital
com dúvidas sobre os medicamentos prescritos,
Estudo detectou conhecimento deficiente dos
dieta a ser seguida, retornos para seguimento e
enfermeiros sobre o nome comercial e genérico do
das atividades que poderá realizar e há ainda um
medicamento, propriedades farmacológicas, cál-
número reduzido de informações redigidas pela
culo errado do fluxo de infusão intravascular,
enfermagem e fornecidas aos pacientes. O conhe-
conhecimento insuficiente acerca das indicações
cimento insuficiente e a carência de entendimento
do medicamento e falta de preparo teórico para
podem ocasionar uma administração de medica-
subsidiar a implementação segura da terapia
mentos incorreta e ineficiente(5-6).
medicamentosa(1).
Aliado a este contexto observa-se atualmente Reconhecemos que os pacientes devem ter
que, devido à carência de recursos nas conhecimento de todos os aspectos de seu cuida-
instituições hospitalares, há uma tendência do re- do, incluindo a terapia medicamentosa. Devem tam-
torno mais precoce do paciente ao domicílio, bém assumir papel ativo no uso de seus medica-
diminuindo o período disponível para educação mentos através do questionamento e aprendiza-
do mesmo(2). gem de seu tratamento pois, assim, a ansiedade
relacionada à incerteza do tratamento pode ser ali-
O “plano de alta”, como garantia da continui- viada e erros podem ser prevenidos.
dade da assistência do paciente após sua
hospitalização, pode ser uma saída e deve-se con- OBJETIVO
siderar a importância do envolvimento da família
em todas as etapas do plano, devendo para isso,
Avaliar a orientação final de enfermagem para a
ser orientada e compreender o estado de saúde e
alta hospitalar no que concerne à terapêutica
necessidades do paciente(3).
medicamentosa, em uma clínica de internação de
O enfermeiro deve avaliar as habilidades do um hospital universitário do interior paulista.
paciente para se auto-cuidar e o interesse da famí-
lia em ajudá-lo, visto que o plano de alta tem como METODOLOGIA
finalidade tornar o paciente auto-suficiente para
seu cuidado no domicílio ou para ser cuidado pela
família. Desse modo, o papel do enfermeiro no pro-
cesso de alta é o de proporcionar assistência des-
Tipo de estudo
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etapa foram criados alguns enunciados a partir
das respostas dos pacientes. Tais enunciados se
limitaram a conter as sentenças chaves extraídas
(7,9%) com a televisão ligada. Durante a orienta-
ção de 15 participantes, o telefone tocou. Todas
as orientações de enfermagem foram realizadas
2005; 39(2):136-44. das respostas. em ambientes com pessoas transitando e con-
versando o que poderia dificultar a audição acerca Sabe-se que a receita médica constitui uma fon-
Administração de
da orientação. te de informações a qual o paciente pode recorrer medicamentos:
caso tenha dúvidas sobre a utilização de seus me- orientação final de
Descrevemos os vários fatores que podem con- enfermagem para a
dicamentos. Desse modo os médicos deveriam dis- alta hospitalar
tribuir para o desvio de atenção do enfermeiro/par- pensar atenção especial à elaboração da prescri-
ticipante no momento da orientação tais como ção dos medicamentos para uso após a alta hospi-
ruídos, fluxo de pessoas entre outros. Nesse mo- talar, visando à prevenção de erros de medicação
mento consideraremos desvio de atenção do en- no domicílio.
fermeiro/participante a interrupção da orientação
de enfermagem. A orientação inadequada ao participante so-
bre seus medicamentos durante a internação e o
A esse respeito obtivemos que: 3 enfermeiros fornecimento de uma receita médica parcialmente
foram abordados pelo médico e interromperam a legível e/ou com informações ambíguas no momen-
orientação para fornecer ao mesmo informações to da alta hospitalar constituem fatores potenciais
sobre outro paciente, 3 enfermeiros pararam a ori- para os erros de medicação no domicílio.
entação para atender o telefone, 1 foi abordado
pelo escriturário e o atendeu e 1 enfermeiro foi abor- Passaremos agora à análise do conteúdo da
dado por uma funcionária que o comunicou que a orientação de enfermagem aos participantes do
medicação das oito horas não havia sido adminis- estudo que estavam de alta hospitalar.
trada ao participante receptor da orientação e, em
seguida o enfermeiro preparou e administrou a O Conteúdo da orientação
medicação. Cabe informar que tal orientação foi
realizada às dez horas e quinze minutos e, desse O enfermeiro, por atuar diretamente na admi-
modo, a medicação foi administrada com duas ho- nistração de medicamentos ao paciente, tem papel
ras e quinze minutos de atraso. primordial na orientação do mesmo, no que se refe-
re à terapêutica medicamentosa.
Acreditamos que a interrupção da orientação
ao paciente ocasionou perda de informações im- Nesse estudo verificamos que dos 38 partici-
portantes à continuidade de seu tratamento bem pantes, 36 (94,7%) foram orientados por enfermei-
como, diminuiu sua liberdade para expressar-se e ros e 2 (5.3%) por auxiliares de enfermagem. Estes
questionar. dois últimos participantes recusaram-se a aguar-
dar a orientação do enfermeiro para alta alegando
Desse modo, pode-se considerar que todos os pressa em deixar o hospital. Um dos participantes
locais utilizados para orientação ao paciente foram estava deixando a clínica sem receber as orienta-
inadequados. Para realização desta atividade de- ções finais, sendo abordado e orientado pelo auxi-
veria ser utilizado um local reservado, com ausên- liar de enfermagem em frente ao elevador. Vale res-
cia de ruídos, onde o enfermeiro pudesse realizar a saltar que de acordo com o manual de normas e
orientação ao paciente e familiar sem que ocorres- rotinas da instituição em estudo, constitui função
se interrupções e desvio de atenção dos mesmos. do enfermeiro a orientação de pacientes de alta
hospitalar.
As dificuldades de aprendizagem do participan-
te podem situar-se nos estímulos excessivos do Quanto ao tempo de duração da orientação fi-
local onde ocorre a orientação bem como na falta nal de enfermagem ao paciente de alta hospitalar,
de local apropriado (ruídos, temperatura, ilumina- constatamos que 28 (73,7%) orientações tiveram
ção e privacidade) para realização das mesmas(7). duração de 2 a 5 minutos, 7 (18,4%) duraram de 6 a
10 minutos e 3 (7,9%) orientações tiveram duração
Prescrição médica superior a 10 minutos.
Observando as receitas médicas destinadas aos Cabe ressaltar que o tempo de orientação men-
participantes, identificamos que todas continham a cionado foi utilizado para fornecer informações
dosagem dos medicamentos, a freqüência de utili- gerais ao paciente incluindo àquelas da terapêuti-
zação dos mesmos bem como o uso de abreviaturas. ca medicamentosa prescrita.
Verificamos ainda que 9 receitas apresentavam letra
parcialmente legível, o que dificultava a identificação Não encontramos na literatura estudos que
do nome e dosagem de alguns medicamentos, em estabelecessem um tempo adequado para orienta-
4 não constava o tempo de utilização dos medica-
mentos, em 3 receitas todos os medicamentos foram
prescritos pelo nome comercial e em 11 havia no míni-
ção do paciente de alta hospitalar uma vez que o
tempo utilizado depende de uma série de fatores
inerentes ao paciente e tratamento estabelecido.
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mo um medicamento prescrito pelo nome comercial. Entretanto, partindo-se de nossa experiência e do 2005; 39(2):136-44.
pressuposto de que o paciente tenha sido orien- Para que o paciente reconheça a necessidade
Adriana Inocenti Miasso
Silvia Helena De B. Cassiani tado durante a internação quanto aos aspectos dos medicamentos para manutenção de sua saú-
relevantes para a continuidade de seu tratamen- de e tenha uma participação ativa no tratamento
to, consideramos que um tempo de orientação de sua doença, é necessário que receba uma ori-
inferior a 10 minutos seria insuficiente para refor- entação adequada. Essa orientação deve incluir
çar as orientações referentes ao uso de medica- entre outros aspectos, a finalidade dos medi-
mentos, exames, retornos, cuidados específicos camentos, o modo de utilização, os cuidados
tais como alimentação, atividade física, entre ou- que devem ser tomados com os mesmos e como
tros. Cabe mencionar que para 92,1% dos partici- lidar com possíveis efeitos colaterais. Deve ain-
pantes a orientação final de enfermagem teve da enfatizar a importância da continuidade do
duração igual ou inferior a 10 minutos. tratamento.
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papéis estão sendo preenchidos e a receita médi-
ca está em posse do paciente ou de seus familia-
res, o que também pode ser comprovado nesse
A grande quantidade e diversidade de expe-
riências e conceitos adquiridos previamente e a
atividade educacional podem influenciar positi-
2005; 39(2):136-44. estudo(9). vamente ou não na sua nova aprendizagem(7).
Durante a observação da orientação terapêuti- Em casa eu tenho frasco de 250mg/ml, então
Administração de
ca de enfermagem, no que se refere ao paciente, quantos ml eu tenho que tomar? (p.38). medicamentos:
vários aspectos foram observados e serão discu- orientação final de
O enfermeiro o orientou a tomar 4ml em cada enfermagem para a
tidos a seguir. Pela riqueza das observações e falas alta hospitalar
horário. Fica evidente que o participante apresen-
dos pacientes, decidimos estar incluindo algu-
tou dificuldade em realizar um cálculo de funda-
mas das falas mais significativas para o estudo
mental importância para o uso correto da dose do
dessa temática, como forma de ilustrar o conteúdo
medicamento prescrito. Além de pedir ao paciente
discutido.
que repita as informações fornecidas, o enfermeiro
Durante a orientação na alta hospitalar, dos 38 deve estimulá-lo a expressar suas dúvidas, pergun-
participantes, 11 (28,9%) apresentaram dúvidas tar-lhe se possui em casa algum dos medicamen-
quanto aos medicamentos prescritos para uso no tos prescritos e qual a dosagem do mesmo, tendo
domicílio. Destes, 3 questionaram sobre a dose do em vista a variedade de formas de apresentação
medicamento(a). dos medicamentos e a dificuldade de alguns paci-
entes em realizar os cálculos necessários ao apro-
Eu tenho que tomar 1 comprimido ou meio com- veitamento do medicamento que possui.
primido de clorana? (p.12)
Também identificamos que 3 participantes ques-
Durante a internação este paciente fez uso de tionaram sobre o nome do medicamento. Ao ler a
meio comprimido de clorana por dia e ao ser por receita para o participante “Amitriptilina 25mg, to-
nós questionado, antes da orientação final de en- mar 1 cp 1-2h antes de dormir”, o mesmo pergun-
fermagem, se conhecia os medicamentos utiliza- tou:
dos na internação, não mencionou o nome deste
medicamento, o que demonstra que o participante Essa medicação é nova? (p.1).
não sabia que o estava utilizando durante a
internação. Ao verificarmos a prescrição feita para o parti-
cipante durante a internação constatamos que o
Foi também prescrito para este participante uti- mesmo não estava utilizando este medicamento.
lizar no domicílio: “Meticorten 5mg, tomar 1,5 cp Como o participante não foi informado de que faria
cedo em dias alternados” e o mesmo questionou: uso do medicamento no domicílio, conseqüente-
mente não recebeu informações sobre o mesmo.
O meticorten não é de 20 mg? (p 33).
Cabe informar que o cloridrato de amitriptilina
Observando a prescrição feita para o paciente constitui um antidepressivo que pode ocasionar,
no último dia de internação verificamos que foi no usuário, uma série de efeitos colaterais. Desta-
prescrito para o mesmo: “Prednisona 20mg, 1,5 cp ca-se entre os mais freqüentes: secura na boca,
cedo em dias alternados”. O enfermeiro orientou o hipotensão, turvação visual, constipação, íleo pa-
participante a telefonar para a clínica no dia ralítico, tontura, fraqueza, fadiga, aumento ou per-
seguinte com o objetivo de confirmar a dose do da de peso, sonolência, impotência, entre outros.
medicamento com o médico. Quando questionado Além de fornecer as informações presentes na pres-
no domicílio, o participante informou que houve crição médica, caberia ao enfermeiro orientar o par-
(a)
Algumas falas sele-
cionadas foram
um erro na prescrição e o médico o orientou, por ticipante enfatizando quanto aos possíveis efeitos transcritas para uma
telefone, a utilizar 30 mg por dia do medicamento e colaterais decorrentes da utilização do medicamen-
melhor compreensão
dos problemas. Elas
a comparecer no hospital para realizar a troca da to e os cuidados a serem tomados na presença dos são acompanhadas
receita. mesmos, tendo em vista que a medicação seria ini-
de uma codificação
entre parênteses,
ciada no domicílio, sem uma monitorização próxi- que relaciona a res-
Essa situação denota a importância do conhe- posta ao indivíduo
ma da equipe de saúde. observado. Assim, o
cimento do paciente a respeito do medicamento
código (p.1) corres-
que utiliza, já que lhe fornece subsídios para Foi prescrito para um participante utilizar no ponde ao partici-
questionamentos bem como, para opinar sobre a pante observado
domicílio: “Insulina NPH 12U cedo e Insulina re- que recebeu o
terapêutica medicamentosa empregada. Nesse caso gular 4U cedo” e o mesmo indagou: número de ordem 1.
especificamente, evitou um erro de medicação no
domicílio, assegurando a utilização da dose corre- Tem dois tipos de insulina? (p10).
ta do medicamento.
Durante a internação o participante utilizou In-
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Para outro participante foi prescrito: “L- sulina de ação intermediária 16UI de manhã e 4UI à
Carnitina 500mg/ml, tomar 2 ml de 12/12h (4g/dia)” tarde. Assim, para uso no domicílio, ocorreram
o qual indagou: mudanças no que se refere ao tipo, dosagem e ho-
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rário de administração do medicamento e o pacien- 2005; 39(2):136-44.
te só recebeu essa informação no momento da Temos um participante que questionou por-
Adriana Inocenti Miasso
Silvia Helena De B. Cassiani alta hospitalar. que não poderia deitar-se após uso do medica-
mento prescrito e, nesse caso o enfermeiro soli-
Este paciente solicitou ainda que fosse escri- citou ao médico que explicasse ao paciente. Um
to em sua receita a palavra “humana”, pois em participante perguntou porque utilizou
pós-alta anterior não conseguiu adquirir a insuli- polaramine apenas um dia e o medicamento não
na na Unidade Básica de Saúde devido a ausên- foi prescrito para uso no domicílio e o enfermeiro
cia dessa palavra na prescrição médica. O enfer- disse que não sabia informar, que o participante
meiro orientou o participante que no hospital o deveria perguntar ao médico.
mesmo havia feito uso de insulina suína e não de
insulina humana. Diante de tal informação, o pa- As situações descritas mostram que o enfer-
ciente mostrou-se ansioso, pediu para conversar meiro, embora seja responsável pela administra-
com o médico e questionou: ção de medicamentos bem como, pela orientação
dos pacientes sobre os vários aspectos relativos
Então a insulina que eu tomei em casa tava
à terapêutica medicamentosa, nem sempre pos-
errada e descompensou meu diabetes? (p.10).
sui uma base adequada de conhecimento para
O médico foi comunicado e realizou as orienta- assumir essa responsabilidade.
ções necessárias ao paciente.
Um estudo que investigou falha no conheci-
Todas as informações referentes à insulina: mento de profissionais de enfermagem a respeito
tipos, horários e locais adequados à administra- da administração de medicamentos e suas pro-
ção, entre outras deveriam ter sido fornecidas ao priedades farmacológicas, detectou conhecimen-
participante durante a internação visando to deficiente sobre o nome comercial e farmaco-
prepará-lo para o uso correto do medicamento lógico do medicamento, suas indicações, propri-
após a alta hospitalar. edades farmacológicas, cálculo incorreto do flu-
xo de infusão intravascular e falta de preparo te-
No momento da alta o enfermeiro orientou ao órico para subsidiar a implementação segura da
participante que deveria utilizar “Tiroxina 75mg, terapia medicamentosa(1).
1 comp. cedo” e o mesmo questionou:
Enfocando a família
Esse medicamento é novo?...Eu tomava Puran
antes (p. 16). Sabe-se que cada vez mais a família tem assu-
O enfermeiro respondeu ao paciente: Agora mido a responsabilidade de continuar cuidando
é esse. A resposta emitida pelo enfermeiro deno- da saúde de seus membros, necessitando, por-
ta o seu desconhecimento quanto ao medicamen- tanto, de apoio dos profissionais no que se refe-
to prescrito, uma vez que ambos os nomes refe- re à atenção à saúde, tanto no âmbito hospitalar
rem-se a um mesmo princípio ativo. Assim, o par- quanto domiciliar. Em relação à administração de
ticipante recebeu alta hospitalar com a informa- medicamentos, deve ser orientada tanto quanto
ção de que faria uso de um medicamento que não o paciente para que possa auxiliá-lo nessa tarefa
utilizava anteriormente. caso necessite.
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tionou: esse medicamento é novo? referindo-se a
penicilamina e se eu tomar os medicamentos com
leite faz mal?. O enfermeiro respondeu respecti-
Como faz quando o paciente começa a
melhorar e não quer mais tomar o remédio?
(p 2).
2005; 39(2):136-44. vamente esse é novo e não, pode tomar com leite.
Esse questionamento do familiar nos remete à O enfermeiro anotou para cada medicamento
Administração de
hipótese de que em algum momento do tratamento da receita os horários em que o participante os medicamentos:
o participante deixou de utilizar os medicamentos utilizava durante a internação. Poderia nesse orientação final de
enfermagem para a
prescritos. Cabe então ao enfermeiro, diante do momento questionar ao participante sobre suas ati- alta hospitalar
interesse do familiar por informações, expor ao vidades diárias visando relacionar os horários
mesmo e ao participante os resultados benéficos e de administração dos medicamentos as mesmas
importantes que o tratamento correto proporcio- (uso antes ou após as refeições, antes de deitar-
na, assim como os adversos que comumente pode se, etc.) respeitando as especificidades de cada
experimentar e o que o participante deveria fazer medicamento.
nesse último caso, estimulando-o a desenvolver a
auto-responsabilidade pelo seu tratamento. O en- Observamos assim que embora, no domicílio,
fermeiro orientou o familiar e o paciente que o não algumas vezes os familiares sejam os responsá-
seguimento da terapêutica medicamentosa pode- veis pela administração ao paciente, estes pouco
ria causar uma piora da doença. têm sido orientados a esse respeito no momento
da alta hospitalar do paciente. Verificamos ainda
Quando o nível de informação se amplia, o pa- que mesmo quando questionam sobre o tratamen-
ciente torna-se mais eficiente no sentido de ter uma to do paciente, recebem um número reduzido de
participação mais ativa no tratamento de sua do- informações.
ença e de se auto-cuidar. Uma orientação adequa-
da estimula a motivação do paciente para tomar o O enfermeiro deve considerar que o paciente
medicamento corretamente visando o alcance da não é um ser abstrato e isolado, mas sim que en-
cura ou melhoria de sua condição de saúde(10). contra-se inserido em um contexto social e familiar
e, desse modo, a mesma preocupação dispensada
Quanto aos medicamentos que já utilizava, ob- ao paciente deve ser dispensada à sua família, a
servamos a seguinte questão de 1 participante: qual deve ser compreendida como uma extensão
do paciente(11).
E os remédios que estava tomando? (p. 30)
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Quanto às dúvidas sobre o horário, tivemos a • Onze participantes (33,3%) apresentaram dú-
seguinte questão de 1 familiar: vidas durante a orientação final de enfermagem,
Que horário ele vai tomar as medicações? sendo essas principalmente a respeito da dose e
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(p. 32) do nome dos medicamentos; 2005; 39(2):136-44.
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• Os participantes pouco questionaram a buído para a ocorrência de erros de medicação
Silvia Helena De B. Cassiani respeito da terapia medicamentosa instituída e, no domicílio, após a alta hospitalar.
quando o fizeram, receberam um número reduzi-
A partir dos dados encontrados nessa inves-
do de informações, sendo, essas, algumas vezes
tigação sugerimos que:
incorretas;
• O enfermeiro, juntamente com a equipe de
• Apesar de, em alguns casos, os familiares saúde, elabore um plano de alta individualizado
serem os únicos responsáveis pela administra- para o paciente, a partir de sua admissão na ins-
ção dos medicamentos ao participante, esses tituição, com o objetivo de assegurar a continui-
pouco foram orientados a respeito da terapêuti- dade de seu tratamento no domicílio;
ca medicamentosa instituída para o mesmo.
• A equipe de saúde se mobilize em busca de
Assim, acreditamos que o reduzido número novas estratégias de ensino, que atendam a ne-
de orientações, a respeito da terapêutica medica- cessidade individual do paciente, visando asse-
mentosa, fornecidas ao participante e familiar gurar uma administração de medicamentos segu-
durante a internação hospitalar, pode ter contri- ra no domicílio.
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