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Visão crítica do currículo

Jesus Maria Sousa


Um currículo territorializado

Peter Ramus. (1576). “Professio Regia”


A “metodização”
metodização do conhecimento,
conhecimento segundo uma
determinada ordem taxonómica e hierárquica
“Logical map of knowledge”.

John Dewey. (1900). The absolute curriculum. (1901). The


curriculum in elementary education
education. (1902).
(1902) The child and
the curriculum.

Franklin
F kli Bobbitt.
B bbitt (1918).
(1918) The
Th curriculum.
i l (1924) How
H tto
make a curriculum.
Emergência da sociedade moderna

Quadro de rompimento com o passado, com raízes na


Renascença, alicerçada pela Reforma e mais tarde
assumida como projecto social pela Revolução Francesa,
acentuado ao longo da transição do século XIX para o
século XX, suportado numa crença absoluta na ciência e
na tecnologia, como meios de resolução dos problemas
sociais ou naturais que assolavam a humanidade.

A Escola pública e o currículo tecnológico como produtos


da modernidade.
Caracterização da modernidade

Análise de A. Hargreaves:

Nível económico: passagem do locus de trabalho da


família, para a fábrica: especialização e produção em série
Nível ppolítico: consolidação
ç do Estado Nação,ç , enquanto
q
força militar, e aparecimento do Estado Providência, um
Estado mais forte e intervencionista.
Nível
í organizacional: pesadas máquinas
á burocráticas,
á
fortemente hierarquizadas e segmentadas em divisões de
competência técnica
técnica.
Nível pessoal: sentido de identidade e pertença colectiva,
mas também alienação ç ditada p pela impessoalidade
p racional.
A escola
l como produto
d t dda modernidade
d id d

A aprendizagem deixa de ser natural e passa a fazer-se num


l
local
l próprio,
ó i com especialização
i li ã de
d tarefas
t f e numa lógica
ló i
de produção em série (ensino em massa).

O modelo fabril marca a escola como símbolo da


modernidade,, pois
p “a ideia g
geral de reunir multidões de
estudantes (matéria-prima) destinados a ser processados
por professores (operários) numa escola central (fábrica) foi
uma demonstração
d t ã d de génio
é i industrial
i d t i l.”” (A
(A. Toffler).
T ffl )
Gestão científica do currículo: uma
concepção moderna

Obsessão com produtividade e eficácia, oriundas do mundo industrial.


Influência de Taylor. (1911) The principles of Scientific Management.
Taylor (1911).
Modelo curricular de F. Bobbitt (1918) visa transferir para a escola esta
cultura de eficácia científica: “A educação é um processo de
moldagem,
ld tanto
t t quanto t a manufactura
f t d
de carris
i dde aço.””
Alguns elementos significativos: a campainha, a sincronização, a
concentração num edifício fechado, a estratificação por anos e níveis
de ensino, a divisãoã dos alunos por idades, a assunção ã de duas classes
sociais (professores, por um lado e alunos, por outro) e, acima de
tudo,, a compartimentação
p ç dos saberes.
Territorialização curricular (Tyler, Mager, Bloom, Taxonomia dos
objectivos, PPO).
Transição paradigmática da
contemporaneidade

“A transição paradigmática é […] um ambiente de


incerteza, de complexidade e de caos que se repercute
nas estruturas e nas práticas sociais, nas instituições e
nas ideologias, nas representações sociais e nas
inteligibilidades, na vida vivida e na personalidade.” (B.
Sousa Santos, 2000: 45).
Neste cenário, existe uma consciência crescente da
descontinuidade, da não-linearidade, da diferença, da
necessidade
id d dod diálogo,
diál da
d polifonia,
lif i dad incerteza,
i t da
d
dúvida, da insegurança, do acaso, do desvio e da
desordem.
C
Caracterização
t i ã da
d pós-modernidade
ó d id d

Análise de A. Hargreaves:

Nível económico: declínio do sistema fabril


fabril, localizado na fábrica
fábrica.
Produção de bens mais pequenos, serviços, software, informação e
imagens, mais do que de produtos tangíveis... Necessidades de
mercado em constante mutação.
Nível político: o Estado procura a sua auto-renovação, iniciando um
movimento de privatização de áreas antes impensáveis
impensáveis.
Nível organizacional: maior capacidade de resposta e flexibilidade.
Esbatem-se hierarquias e fronteiras, com tomadas de decisão
d
descentralizadas
li d em estruturas h horizontais.
i i
Nível pessoal: existência de comunidades virtuais; falta de
permanência e estabilidade, crises nas relações interpessoais.
A perspectiva crítica do Currículo
Currículo, como resultado de determinada selecção feita por quem detém o
poder.

“As teorias tradicionais eram teorias de aceitação, ajuste e adaptação. As teorias


críticas são teorias de desconfiança, questionamento e transformação radical.”
T T.
T. T Silva

Teorias: portadoras de uma determinada visão do mundo


Louis Althusser

Idéologie et appareils idéologiques


d’État (1970)
L i Althusser
Louis Alth

Ideologias e ideologia

“Ideologia”
Ideologia actua de forma inconsciente (Freud e Lacan)
Lacan).
Mecanismo de defesa que nos impede de encarar de frente a exploração, a opressão
e a dominação, alienando-nos dessa realidade.

Aparelhos repressivos e ideológicos do Estado

Continuum de práticas em que todos participam, mesmo os dos grupos e das classes
sociais mais desfavorecidas, sendo assim mais complicada a tarefa de reacção contra
a opressão e a dominação.
Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron
Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron

Les Héritiers, les étudiants et la culture (1964)


La réproduction. Éléments pour une théorie du système
d’enseignement (1970)
La distinction. Critique sociale du jugement (1979)

Sistema económico/Sistema cultural ou simbólico


Habitus
Violência simbólica

“All p
pedagogic
g g action is,, objectively,
j y, symbolic
y violence insofar as it is the imposition
p
of a cultural arbitrary by an arbitrary power.”
Christian Baudelot e Roger Establet

L’école capitaliste en France (1971)

Conformidade a papéis de submissão e subordinação, no caso dos filhos das


classes trabalhadoras.
Promoção de atitudes de controlo e liderança, nos filhos das classes detentoras
dos meios de produção.
Samuel Bowles e Herbert Gintis

Schooling in capitalist
America (1976)

“The
The correspondence between the social relation of schooling and work accounts
for the ability of the educational system to produce an amenable and fragmented
labour force. The experience of schooling, and not merely the content of formal
learning,
g, is central to this process.”
p

Currículo oculto
Paulo Freire

Teoria sociológica de Karl Mannheim.


Correntes do ppensamento filosófico contemporâneo:
p
existencialismo, fenomenologia, dialéctica hegeliana
e materialismo histórico.
Filosofia e antropologia cristãs.

Educação como prática da liberdade (1967)


Pedagogy of the Oppressed (1971), traduzido para
Pedagogia do Oprimido (1975)
Paulo Freire
Sujeito que age sobre o mundo, podendo transformá-lo; por mais ignorante que
seja, ou por mais mergulhado que se encontre na “cultura do silêncio”, ele, Sujeito,
tem a capacidade de olhar para o mundo de uma forma crítica, em encontro
“dialógico” com o outro.

As q
questões principais
p p de educação
ç não são pedagógicas,
p g g , mas sim políticas.
p

Educação problematizadora e não bancária (transmissão como depósito):


instrumento de organização política dos oprimidos.
NSE – Michael Young
Knowledge and Control: New Directions in the Sociology of Education
(1971)

Conhecimento e controlo: contra as grandes narrativas.

Relações de poder entre as diversas disciplinas e áreas de saber:


Porquê
q umas com mais prestígio
p g do queq outras?
Porquê umas com maior carga horária do que outras?
Porquê umas com avaliação formal e não outras?
Que interesses de classe,, profissionais
Q p e institucionais,, nesse jogo
j g de poder?
p
Reconceptualização
p ç curricular
– 1ª fase

Willi
William Pinar
Pi

James MacDonald, Dwayne Huebner, Maxine Greene


Michael Apple, Henry Giroux
Criatividade artes e humanidades,
Criatividade, humanidades valores espirituais e estéticos,
estéticos ligados a uma
perspectiva mais de índole pessoal e intersubjectiva do que política.
Concepções fenomenológicas, hermenêuticas, psicanalíticas e autobiográficas.
I Conferência sobre Currículo em Nova Iorque (1973)
Reconceptualização curricular – 2ª fase

Vertente mais política


Michael Apple

Ideology and Curriculum (1979)


Education and Power (1985)
Teachers and Texts (1988)
Official Knowledge (1993)
Democratic Schools (1995)
Cultural Politics and Education (1996)

“The ideals of education, whether men are taught to teach or to plow, to weave or
to write, must not be allowed to sink into sordid utilitarianism. Education must
keep broad ideals before it and never forget that it is dealing with souls and not
with dollars.”
Resistência
Henry Giroux

Debate pós-moderno
Modelo europeu de cultura e de civilização
O “estudos
Os “ t d culturais”:
lt i ” questões
tõ d do
multiculturalismo, da raça, da identidade, do
poder, do conhecimento, da ética e do trabalho

S. Aronowitz, A. Penna, W. Pinar, R. Simon, P. McLaren…

Nova cultura pós-moderna

Cultura popular
Leitmotiv: a visão crítica do Currículo

Numa escola que se pretende democrática e aberta à diversidade social e cultural


como a nossa, considero que é urgente “lermos” o currículo
í já
á não como aquela
área simplesmente técnica, ateórica e apolítica, com a única função de organizar o
conhecimento escolar, nem como aquele instrumento ingenuamente puro e
neutro,
t d
despojado
j d de d intenções
i t õ sociais,
i i que procura estudar
t d os melhores
lh
procedimentos, métodos e técnicas de bem ensinar.

O currículo é um artefacto político que interage com a ideologia, a estrutura


social a cultura e o poder.
social, poder

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