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Inglês no 1.º ciclo só terá


qualidade quando for
obrigatório, pedem pais e
professores
21.05.2008, Natália Faria

Ministério da Educação vai obrigar as escolas a


oferecerem inglês a todas as crianças, mas
associações dizem que o carácter facultativo da
disciplina hipoteca a qualidade do ensino

A Associação Portuguesa de Professores de Inglês (APPI)


está contra a generalização do ensino do inglês no 1.º
ciclo nos moldes propostos pelo Ministério da Educação
(ME). Para a associação, a disciplina devia ser tornada
obrigatória, tal como a Matemática ou o Português. "O
facto de a frequência da disciplina ser facultativa
prejudica a qualidade do ensino", diz Alberto Gaspar,
presidente da APPI.
Desde 2006, as escolas do 1.º ciclo são obrigadas a ter
inglês como actividade de enriquecimento curricular
para os alunos do 3.º e 4.º anos. Dado o sucesso, em
termos quantitativos, da medida - em dois anos, a taxa
de cobertura chegou aos 98,9 por cento -, o Governo
decidiu que, a partir de Setembro, essa obrigatoriedade é
extensível também aos 1.º e 2.º anos. No primeiro caso,
as escolas são obrigadas a oferecer um mínimo de 135
minutos semanais de inglês. No caso dos alunos do 1.º e
2.º anos, bastam 90 minutos por semana. E, até aqui,
todos de acordo.
As divergências começam no facto de continuar a caber
aos pais decidir se querem ou não matricular os filhos no
inglês. "Desligado do currículo, o inglês funciona em
roda livre. As câmaras contratam os professores - até já
existem empresas que fornecem pessoal para trabalhar
em actividades de enriquecimento curricular - e depois
há algumas orientações sobre o que estes devem fazer,
mas nenhum controlo sobre os conteúdos", acusa
Francisco Almeida, da Fenprof, apontando ainda o dedo
à aptidão dos profissionais.
"As autarquias estão, em muitos casos, a contratar
pessoas que não têm formação pedagógica. E, como
sabemos, não basta saber inglês para ser capaz de o
ensinar, sobretudo a crianças com estas idades."
"São pessoas contratadas a recibos verdes e cujo contrato
cessa quando terminadas as funções. Se o inglês fosse
obrigatório, começaria a ser leccionado por professores
dos outros níveis de ensino, nomeadamente do 2.º
ciclo", concorda Alberto Gaspar, da APPI, admitindo que
a manutenção do actual cenário assente em razões de
ordem financeira: "A vinculação existe gastos
suplementares..."
No actual cenário, pergunta-se aos pais e o que se
encontra são queixas. "O ano passado, a minha filha, que
andava no 4.º ano, mudou cinco vezes de professor.
Uma das professoras, e até foi a que ficou mais tempo,
quase chorava nas aulas, porque os miúdos atiravam
papelinhos uns aos outros: aprendiam tudo menos
inglês", lamenta Filipa Guerreiro, mãe de duas crianças
com inglês no 1.º ciclo, dizendo conhecer crianças que
"ficaram tão traumatizadas com a experiência que
passaram a odiar o inglês".
Acresce que quando, no 5.º ano, a disciplina se torna
obrigatória, os professores têm de lidar com crianças em
situação de desigualdade. "Há alunos que já tiveram
inglês e alunos que nunca tiveram" e isso "cria
desigualdades entre os miúdos e dificuldades acrescidas
aos professores", sublinha o responsável da Fenprof.
"Por isso é que apelamos a todos os pais que matriculem
os seus filhos no inglês apesar de não ser obrigatório",
sugere António Amaral, vice-presidente da Confederação
das Associações de Pais, dizendo esperar que "na
próxima legislatura se altere a lei do currículo para
permitir que o inglês se torne disciplina obrigatória no
1.º ciclo".
A APPI mostra-se ainda preocupada com a escassez de
profissionais habilitados para ensinar o inglês. "Em
autarquias mais afastadas, como Trás-os-Montes,
Alentejo e Algarve, há falta de pessoas qualificadas,
numa situação agravada pela precariedade das condições
que lhes são oferecidas", aponta Alberto Gaspar.
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Pequeno destaque em caixa com fundo que tambem
pode servir de legenda para a fotografia do lado
esquerdo

http://jornal.publico.clix.pt/main.asp?dt=20080521&page=6&c=A
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